Demagogia do Sexo na Mídia

A DEMAGOGIA DO SEXO NA MÍDIA


Resumo

Até qual ponto a sociedade age influenciada pela mídia? As teorias do jornalismo, como Agenda Setting, Newsmaking, Gatekeeping e Espiral do Silêncio expõem os meios de comunicação de massa como ordenadores do pensamento dos receptores. Não é simples apontar os reflexos: é a humanidade que impõe seus assuntos na mídia ou são os grandes gatekeepers que ditam a moda?
O fato é que nunca houve tanta exposição, ou superexposição, de sexo na mídia. Existe sexualização em todos os lugares, partindo da novela das oito até os cadernos de política.


Introdução

A relação sexual sempre esteve presente nas sociedades humanas, mas muito além da idéia de utilização para reproduzir, a forma como o Homem encara o sexo muda a cada geração. Assim, além de ser diferente entre a sucessão de gerações, o pensamento sobre sexo também é diverso uma vez analisado em culturas díspares. A verdade é que em cada geração, em um determinado espaço-temporal, existe um conceito sobre as maneiras de encarar a sexualidade. Ainda mais complexo é imaginar que dentro de uma sociedade, numa determinada geração, entre os membros de cada uma das classes econômicas o sexo leva um rótulo diferente.

É justamente a maneira como a relação sexual é encarada que será o estudo desse artigo. O comportamento sexual humano representa um ciclo alternado puritanismo e libertinagem ou é algo derivado de produtos midiáticos? Assim, para considerar a primeira hipótese é necessário um estudo do histórico sexual da humanidade em paralelo ao desenvolvimento da mídia, de forma que seja possível absorver a resposta dos meios de comunicação ao comportamento humano no decorrer do tempo. Já a consideração da segunda proposta leva a um estudo para analisar como a mídia aborda o sexo e como esse excesso de informação pode afetar o pensamento das pessoas.


Desenvolvimento

1. O comportamento humano

Cada ser humano possui um padrão de comportamento e resposta aos estímulos externos, como diz McLuhan. O nível de resposta depende de quais ferramentas sensoriais cada meio de comunicação de massa possui para cativar o receptor. Assim, nessa linha de raciocínio, uma mensagem construída com conteúdo determinado e força de divulgação suficiente com poder sensorial estimulante pode desencadear uma reação por parte dos receptores.

A idéia da mídia poder formular pensamentos ou criar assuntos é parte da teoria chamada Newsmaking. A partir desse pensamento, as respostas humanas podem ser conduzidas por informações divulgadas na mídia. Somado a isso existe a teoria da Espiral do Silêncio, cujo conteúdo prega que as opiniões minoritárias da sociedade são abafadas por grandes grupos, uma vez que, aqueles que possuem pensamentos diversos dos da maioria teriam receio em vociferar suas idéias pois poderiam ser menosprezados pelo grupo dominante.

Além das duas anteriores, existem outras chamadas Agenda Setting e Gatekeeping: as quatro teorias juntas classificam o comportamento jornalístico em construir o desenvolvimento das idéias da sociedade. Portanto, o jornalismo seria responsável em estimular respostas humanas.

Cada assunto encontrado nos meios de comunicação está ali por um motivo. Isso é um ponto de concordância; mas qual o efeito dessa seleção de pautas na humanidade? O objetivo da matéria, se fosse utopicamente correto, deveria limitar-se à informação. Entretanto, cada notícia recebe um peso comercial e, além e acima de tudo, existe o julgamento cultural na escolha dos assuntos.
Cada sociedade comporta-se de maneira diferente, com características auto-construtivas específicas. Assim, o comportamento humano é um vetor variável, pois depende da ponderação cultural de tratamento que a informação recebe antes de ser publicada.


2. A Primeira Hipótese

Segundo o pensamento de Marx, o ser humano repete a sua história. Ou seja, para conhecer o futuro, a melhor escolha seria estudar as ações humanas do passado. Dessa forma, é possível dizer que o comportamento das pessoas repete-se: salvo as condições sociais diferentes, o Homem mantém um padrão de resposta; a economia é um ciclo de altos e baixos, a política altera estados de democracia e ditadura e a população tende a rebelar-se sempre que as condições lhes são negativas.

Se políticos, economistas e povo mantêm certa uniformidade de ação, a forma como as pessoas encaram o mundo também possui um padrão. Desde o apocalipse escrito por Santo Agostinho, o catolicismo adota um ponto de vista sobre sexo relacionado ao pecado. É nesse momento que a população cujos hábitos sexuais – durante o feudalismo, por exemplo – eram liberais, passam a manterem-se castos até o casamento. Antes disso, era comum manter relações sexuais até com membros da própria família. Não existia o verbete “incesto”.

Subseqüente à esse período histórico, as pessoas tornaram-se extremamente puritanas. Dessa maneira, durante a queda do Feudalismo, a reconstrução das cidades e crescimento absurdo da nova classe social conhecida como ‘burguesia’, era comum que os homens burgueses possuíssem amantes, chamadas “meretrizes”, pois as esposas eram contra o sexo porque era considerado pecado.
Com o advir da imprensa de Gutemberg e também a Reforma Protestante, surgiu a noção de vida privada e pública. Os panfletos educativos, lançados por Luthero, inspiraram o surgimento de outros panfletos, cujo conteúdo orbitava a vida pessoal do Rei Francês e da vida na corte. As pessoas passaram a interessar-se por aprender a ler e escrever – capacidade reservada a monges na época. Com a ampla divulgação de impressos, as enciclopédias e livros começaram a infiltrar a Europa. Para a igreja, os que liam os livros presentes no “Index” (lista de livros proibidos pela Inquisição) eram libertinos. O sexo, tão proibido, volta como estigma de ação oposicionista.

Para tanto furor, surgem os livros de conteúdo erótico. Um grande nome desse tipo de literatura, que sofreu barbaridades nas mãos dos inquisidores foi Marques de Sades. O livro intitulado “Os Contos do Marques de Sades” virou peça de teatro e depois, recentemente, filme. Fato interessante que vale ser ressaltado é que a palavra “sadismo” – referindo-se a um comportamento sexual agressivo – advém do nome desse ilustre marques.

Depois vem o período das grandes revoluções. A Revolução Francesa foi um resultado da Reforma Protestante, Contra-Reforma somado às questões estruturais da época. As idéias de liberdade, igualdade e fraternidade tomaram a cabeça das pessoas e, após alguns anos, depois da morte de Napoleão, as pessoas haviam retornado aos seus costumes anteriores, adeptos às suas respectivas religiões. O sexo tomou lugar tranqüilo novamente.

Décadas depois, o desenvolvimento da tecnologia, o período pós-guerras mundiais e necessidade crescente em manter-se atualizado instigou nas pessoas o desejo por sabedoria. Trabalha quem é globalizado, culto e informado. Não basta mais somente o a graduação, hoje o tema é especialização. Dessa maneira, a busca por mais estudo levou os indivíduos a chegarem ao mercado de trabalho mais tarde. Por conseguinte, a capacidade de auto-suficiência econômica também é tardia. Como nenhum homem é uma ilha – de acordo com Fernando Pessoa – as pessoas não pararam de envolver-se, de namorar, manter um relacionamento (estável ou não). Contudo o casamento, assim como a oportunidade de trabalho, retardou-se em alguns anos. Na década de 50, era comum casar-se aos 20, 21 anos. Já a nova geração, do século XXI, casa-se somente cerca dos 27 anos.
Só que o relógio biológico não espera tanto tempo. Manter relações sexuais faz parte das necessidades biológicas e psicológicas humana. É comum, novamente. Nada mais puritano como foi antes, hoje é normal passar por mais de um parceiro, tanto para homens como para mulheres. Além disso, nunca houve tanta discussão sobre a legalização ou não do casamento gay. Passeatas e paradas, tudo para chamar atenção a um novo grupo de relacionamento que quer fazer-se legalizado. Sexo é comum, mesmo que a grande parte das religiões ainda mantenha posição contrária: o problema não é fazer sexo, o problema é o controle de natalidade. Segundo o cristianismo, principalmente o mais ortodoxo, sexo serve para procriação, todo filho deve ser abraçado e bem vindo. Só que os casais não pensam assim: por isso existem camisinhas, anticoncepcional, pílula do dia seguinte e, enfim, o famigerado aborto.


3. A Segunda Hipótese

Da mesma forma que a relação sexual pode ser um reflexo do passado humano, ela também pode representar resultado a força midiática sobre o pensamento da sociedade. A idéia de peso dos antepassados corrobora diversas questões sobre comportamento social, mas nunca sexo esteve tão à venda, tão disponível como atualmente. De acordo com as quatro teorias do jornalismo, todas as informações divulgadas pela mídia passaram por filtros de seleção e ainda estão carregadas de julgamentos culturais. Ou seja, nada é publicado por acaso.

Dentro de uma análise do mercado financeiro, jovens sexualmente ativos necessitam de uma infra-estrutura maior de saúde: os que se cuidam precisam de médicos para aconselhar, sejam os urologistas, ginecologistas e também psicólogos – Psicologia? Claro, a partir do momento em que a nudez não é algo dividido somente com médico e com espelho podem surgir problemas psicológicos, ainda mais frente à cultura de modelos magros e esbeltos num mundo de ligeiramente obesos.

Agora, para os descuidados, a saúde faz-se ainda mais necessária – houve um crescimento enorme em publicidade e campanhas de conscientização sobre doenças sexualmente transmissíveis. O Governo e outras instituições não-governamentais tentam lutar contra uma maré de pessoas cuja preocupação é apenas o prazer, relevando as conseqüências da falta de proteção. E, enfim, para os que já foram atingidos pelas DST’s, existem as indústrias farmacêuticas responsáveis por montar os coquetéis de medicamento. O que não falta é interesse econômico em sexo.

Existem também diversas questões políticas envolvendo sexo. Escândalos sexuais à parte, política é sexo. Como bem disse a Ministra do Turismo brasileira, Marta Suplicy, sobre a questão dos vôos congestionados: “relaxa e goza”. A verdade é que a defesa do casamento gay, por exemplo, já é utilizada em campanhas eleitorais. Os políticos querem atingir cada vez mais uma parte maior da população e os homossexuais constituem-se uma fatia maior da sociedade. Ainda somado às questões de saúde, a divulgação de plataformas políticas com verbas destinadas a promover campanhas de sexo saudável também conquistam eleitorado. Portanto, pode-se dizer que o que não falta é interesse político em sexo.

Depois existe o interesse da própria mídia em sexo. Afinal, sexo vende. Há cinco grandes meios de comunicação de massa, atualmente: o rádio, os impressos, a televisão, o cinema e a internet. Cada um deles necessita de verba e também de merchandising para sobreviver. Portanto, de certa forma, são obrigados a competir entre si pela propaganda.

A Rede Globo de Televisão, por exemplo, pode ser considerada uma emissora de tamanho exponencial, com grande aceitação por parte do público e, suas novelas, sempre possuem trechos de merchandising no meio dos capítulos, e, para chamar atenção, o sexo. Na ultima novela das oito, chamada “Páginas da Vida”, do dramaturgo Manuel Carlos, houve o relacionamento entre uma bailarina bulímica de 15 anos e um músico de 17. No período da novela o casal apaixonou-se profundamente e transaram em pleno horário nobre, a cena foi pico de audiência no decorrer da novela inteira. Claro que, no final da novela, a menina curou-se da disfunção alimentar e ambos abandonaram a vida no Brasil para viajar o mundo juntos. Bastante romântico, mas surreal. As possibilidades de tal casal acontecer na realidade são mínimas, mas os telespectadores compram as idéias e o sexo banaliza-se. Para as grandes mídias o que importa é manter o saldo de propagandas e audiência alto. Não importa as conseqüências que podem advir para a população. O que se pode dizer? O que não falta é interesse da mídia por sexo.


Considerações Finais

O comportamento humano sempre suscitou discussão. Seja no ambiente econômico, social, cultural ou político, a questão do sexo gera polêmica. O grande peso nas escolhas de cada indivíduo acaba sendo a sua carga cultural. Dessa forma, pode-se dizer que o caminho trilhado no decorrer de anos vivendo em determinada situação socioeconômica, num determinado país, sob uma religião (ou não) torna cada decisão única e imbuída de julgamento cultural. O nível educacional de ser humano influencia na sua capacidade de aceitação dos enlatados da mídia e também sobre sua passividade quanto às escolhas de seus antepassados.

Em suma, mesmo que existe toda uma propaganda pró-sexualidade – e isso é um fato – cada um tem de ser responsável por suas ações e isentar-se de culpa ao transferir a responsabilidade para o meio em que vive. Ambas as hipóteses refletem a realidade. Somente através de um histórico sexual inflamado pode-se chegar à conclusão de sexo é uma boa ferramenta comercial.


Bibliografia

MCLUHAN,“O meio é a mensagem”.
BRIGGS E BURKE, “Uma história social da mídia”.

HISTÓRIA – Cultura e Pensamento – O cristianismo e o Sexo
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/religiao_sexo.htm

Kamashasta
http://www.kamashastra.com.br/


Publicado por: Adriana Moutinho

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