LOGÍSTICA REVERSA DO ÓLEO DE COZINHA UTILIZADO PARA MINIMIZAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS

índice

Imprimir Texto -A +A
icone de alerta

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

1. RESUMO

Um dos maiores desafios de uma empresa ou indústria é o que fazer com os resíduos produzidos durante o processo de fabricação ou de transformação de matéria prima em um produto final. No caso de uma cozinha industrial, um dos maiores desafios é o que fazer com o óleo de cozinha residual, pois, este resíduo possui um grande potencial poluidor. Este trabalho tem como prioridade o estudo da logística reversa aplicada ao óleo de cozinha residual evitando assim o descarte irregular deste resíduo, uma vez que o óleo de cozinha residual possui grande potencial poluidor.

Palavras-chave: Óleo de cozinha residual. Logística reversa. Logística. Meio ambiente. Impactos ambientais.

ABSTRACT

One of the biggest challenges for a company or industry is what to do with waste produced during the manufacturing process or from transforming raw material into an end product. In the case of an industrial kitchen, one of the biggest challenges is what to do with waste cooking oil, as this waste has a great polluting potential. This work has as a priority the study of reverse logistics applied to waste cooking oil thus avoiding the irregular disposal of this waste, since waste cooking oil has a great polluting potential.

Keywords: Waste cooking oil. Reverse logistic; Logistics. Environment. Environmental impacts.

2. INTRODUÇÃO

A logística reversa (ideia e prática) é um ramo da logística recente, pois as primeiras atividades remontam as décadas de 1970 e 1980. Nesse período, focava-se no retorno de bens com a finalidade de reciclagem dos materiais (HERNÁNDEZ et al., 2012). Todavia, nos últimos anos, essa nova vertente da logística tem atraído a atenção especial da classe empresarial e acadêmica. Este interesse, em parte, pode ser justificado pela crescente preocupação com o meio ambiente e pela competitividade empresarial focada em buscar uma alternativa na elaboração e/ou repatriação de valores, tanto dos retornos pós-venda como dos retornos pós-consumo (LEITE,2012).

Originalmente, o termo logística reversa foi utilizado para referenciar o papel que a logística exerce no reaproveitamento dos bens e produtos usados cujo destino seria a reciclagem, entre outros (MEI et. al., 2011).Para Rogers e Tibben-Lembke (1998), a ideia de logística reversa admite os mesmos conceitos e atividades da tradicional logística, divergindo somente pelo fato de a Logística Reversa operar em sentido contrário ao da Logística convencional.

Nesse contexto, tentativas de reutilização de produtos ao final de seu ciclo de vida útil ou que reinsiram estes produtos na cadeia produtiva é algo relativamente novo. Entretanto, ideias de reaproveitamento do óleo de cozinha residual ainda não são amplamente divulgadas, além de também não possuírem amplo espaço na cadeia de suprimento reverso (ZUCATTO, WELLE E SILVA, 2012).

Nos últimos anos, todavia, veio à tona a necessidade de uso das cadeias de suprimento reverso de bens e consumos no final de seu ciclo de vida útil para recolocar no mercado de consumo estes produtos. A legislação brasileira, em determinadas situações, obriga indústrias e outros setores da cadeia produtiva a dar um destino adequado a determinados produtos após o final de sua vida útil, como, por exemplo, embalagens de agrotóxicos (ZUCATTO, WELLE E SILVA, 2012).

Desse modo, visando a minimização dos impactos ambientas causados pelo descarte irregular dos óleos de cozinha residual, este trabalho tem como objetivo estabelecer uma ligação entre a logística e o reaproveitamento do óleo através da logística reversa, visando o reaproveitamento dos resíduos provenientes de uma cozinha de um restaurante localizado em uma área de preservação ambiental permanente, e, desta forma, promover a proteção do meio ambiente. Para tanto, foi realizada uma pesquisa exploratória com estratégia de estudo de caso, tendo como objeto o canal reverso de óleo usado.

3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo Geral

O objetivo geral deste trabalho foi verificar a aplicabilidade da logística reversa como garantia do retorno do óleo de cozinha usado ao ciclo produtivo.

3.2. Objetivos específicos

  • Os objetivos específicos a serem desenvolvidos neste trabalho são:
  • Coletar informações da quantidade de óleo de cozinha residual produzido pela sua cozinha;
  • Verificar a forma como é feita o armazenamento e descarte deste material;
  • Analisar a viabilidade financeira de utilização do óleo na fabricação de sabão.

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

4.1. CONCEITOS

4.1.1. Logística

De origem grega logistiké, decorrente do latim logisticus, significa racionar, calcular, analisar e pensar. Sempre esteve presente em nossas vidas desde os primórdios da humanidade, utilizada durante os deslocamentos de tribos nômades, quando necessária a realocação por questões climáticas ou devido a guerras, pois os exércitos precisavam deslocar-se entre suas bases carregando suas armas, suprimentos e demais equipamentos (NOVAES, 2007, p. 31).

Segundo BALLOU (2006), os componentes do sistema logístico são:

serviços ao cliente, previsão de demanda, comunicações de distribuição, controle de estoque, manuseio de materiais, processamento de pedidos, peças de reposição e serviços de suporte, escolha de locais para fábrica e armazenagem (análise de localização), embalagem, manuseio de produtos devolvidos, reciclagem de sucata, trafego e transporte, armazenagem e estocagem.”

A logística é normalmente associada ao gerenciamento do fluxo de materiais, fazendo o que se pode dizer viagem, transportando, assim, materiais do ponto de aquisição ao seu ponto de consumo. Assim, encontram-se várias formas de conceituar a logística (BALLOU 2006).

Para BALLOU (1993), é atribuída a logística empresarial as atividades de circulação e armazenagem, de forma que facilitam o fluxo dos produtos, desde a aquisição de insumos até o consumidor final, bem como os fluxos de informações que inserem os produtos no mercado de consumo e tem o objetivo de prover níveis adequados de serviços aos clientes a um custo aceitável.

Em 2001, BALLOU ampliou o conceito de logística e passou a defini-la como um conjunto sistêmico funcional o qual se repete várias vezes ao longo da cadeia de suprimentos de modo que as matérias-primas são transformadas em produtos acabados, e, então, o valor é adicionado aos olhos do consumidor final.

Presente em tudo na sociedade seja através dos bens ou serviços, a logística se faz necessária na melhor execução dos mesmos. Na busca do perfeito esclarecimento e exposição do referido tema, várias definições, conceitos e pensamentos a respeito serão expostos no decorrer deste trabalho. Um deles é apresentado através da Associação Brasileira de Logística, define a mesma da seguinte forma:

O processo de planejamento, implementação e controle do fluxo e armazenagem eficientes e de baixo custo de matérias primas, estoque em processo, produto acabado e informações relacionadas, desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender aos requisitos do cliente.”

Adotando a definição do CSCMP - Council of Supply Chain Management Professionals:

Logística é a parte do Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos que inclui os processos de planejar, implementar e controlar de maneira eficiente e eficaz o fluxo e a armazenagem de produtos, bem como os serviços e informações associados, cobrindo desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender aos requisitos do consumidor.”

4.1.2. Logística Reversa

Para Rogers e Tibben-Lembke (1999) Logística Reversa é:

O processo de planejamento, implementação e controle do fluxo eficiente e de baixo custo de matérias primas, estoque em processo, produto acabado e informações relacionadas, desde o ponto de consumo até o ponto de origem, com o propósito de recuperação de valor ou descarte apropriado para coleta e tratamento de lixo.”

Seguindo o caminho da vantagem competitiva, Stock (1998), diz que a Logística Reversa pode ser vista de dois pontos de vista:

“• Da perspectiva da logística como negócio, se refere ao papel da Logística no retorno de produtos, na redução de uso de matéria-prima virgem, no uso da reciclagem, na substituição de materiais, no reuso de materiais, na disposição de resíduos, no recondicionamento, no reparo e no remanufaturamento de produtos; e

Da perspectiva da logística como engenharia, se refere ao gerenciamento dos processos acima e é como um modelo sistemático de negócios que aplica as melhores metodologias de engenharia e administração conhecidas para fechar, com lucratividade, o ciclo em uma Cadeia de Suprimentos.”

O conceito de reutilização de produtos, ao final de sua vida útil, ou a implementação e uso de cadeias reversas de reintrodução destes produtos em novos ciclos produtivos são conceitos relativamente novos (ZUCATTO, WELLE E SILVA, 2012).

A política nacional de resíduos sólidos (PNR), No Brasil a lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010, Art. 3º, parágrafo XII define a Logística Reversa como:

instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada;”

Para LEITE (2003), logística reversa pode ser apresentada como um ramo da logística empresarial responsável pelo planejamento, operação e controle do retorno do que foi produzido para a cadeia produtiva após o fim de sua vida útil, ou seja, a Logística reversa é responsável pela reinserção do produto à cadeia produtiva, e, para isso, é utilizado canais de distribuição reversa que auxilia no reaproveitamento do produto após o seu uso, e, com isso, agregando valores diversos ao mesmo, como valor econômico, ecológico e legal, dentre outros.

Portanto, atribui-se à logística, na forma da logística reversa, o papel da redução na produção de lixo, a reciclagem, reaproveitamento de materiais, remanufatura de produtos, dentre outros STOCK (1998).

Do ponto de vista da engenharia, conforme STOCK (2001), a logística reversa é um modelo sistemático que utiliza os sofisticados métodos da engenharia e da administração logística, com o intuito de encerrar lucrativamente a cadeia logística do produto. Ainda afirma que a organização que realiza o processo de logística reversa ganha tanto no fornecimento de uma imagem organizacional positiva como também na visão de responsabilidade empresarial – meio ambiente e sociedade.

Nesse sentido, Fleischmann et al. (1997) afirmam que as organizações têm se preocupado mais com o desenvolvimento sustentável, o que demonstra preocupação com a proteção do meio ambiente, motivando, cada vez mais, a ‘reutilização’.

Chaves e Alcântara (2009), descrevem que essa cultural mudança de consumo, juntamente com a conscientização dos consumidores que contribuem com a preservação do meio ambiente, somadas aos órgãos governamentais de fiscalização e proteção do meio ambiente, incentivam o aumento da atuação da logística reversa.

A coleta de produtos usados ou irrecuperáveis para reciclagem vem crescendo bastante nos últimos anos, devido, principalmente, à crescente mudança nos padrões de consumo, com consumidores mais preocupados com os impactos ambientais dos produtos e seus processos produtivos (RAMOS e. al, 2013; MIRANDA et. al, 2018).

O resíduo de óleo de cozinha de residências, comércio e indústria, por exemplo, é um potencial poluente quando descartado incorretamente, pois pode causar um enorme impacto ambiental. Logo, descartar o óleo de cozinha de forma correta, longe dos aterros sanitários, além de prolongar o ciclo de vida do produto, evita a contaminação dos lençóis freáticos com estes resíduos líquidos nocivos (MIRANDA et. al, 2018).

Portanto, requer alternativas que possibilitem sua reciclagem, a fim de promover um equilíbrio entre as necessidades do meio ambiente, economia e sociedade. Entretanto, as iniciativas de reciclagem de óleo de cozinha, assim como outros produtos no final de seu ciclo de vida, ainda estão dispersas e não possuem opções de substituições desses produtos em ciclos produtivos seguintes (MIRANDA et. al, 2018).

4.2. A LOGÍSTICA REVERSA APLICADA NA RECICLAGEM DO ÓLEO DE COZINHA RESIDUAL

Conforme estudo realizado pelo Ministério Público federal, através do Programa de gestão Ambiental (2012), apenas um litro de óleo residual de cozinha é capaz de contaminar um milhão de litros de água, o suficiente para o uso de uma pessoa durante quatorze anos, pois o óleo impede que haja troca de oxigênio, matando seres vivos, plantas e microrganismos.

Além disso, quando derramado no solo, pode provocar a impermeabilização, podendo ocasionar enchentes (ZUCATTO, WELLE E SILVA 2012).

Então, como evitar a contaminação do meio ambiente por descarte irregular do óleo de cozinha residual? A resposta para esta pergunta é simples: ‘aplicando a logística reversa ao óleo de cozinha residual, ou seja, reinserindo-o na cadeia produtiva, utilizando-o na produção de outros produtos como matéria prima principal ou como coadjuvante tais como (ZUCATTO, WELLE E SILVA 2012):

  • Produção de glicerina;

  • Resina para tintas;

  • Fabricação de massa de vidraceiro;

  • Produção de sabão;

  • Utilizado para fabricação de ração animal;

  • Biodiesel;

4.2.1. Ciclo reverso do óleo de cozinha residual

Para atuar na cadeia reversa do óleo de cozinha, não existem um local específico de origem, podendo atuar neste processo pessoas físicas (de origem residencial), pessoas jurídicas (de origem industrial, comercial ou de pequenos ou médios empreendedores), ou, apenas resumidamente, todos os consumidores finais, sendo inexistente a intermediação entre os consumidores finais e os fabricantes, ou até mesmo o governo (CORRÊA, . et al., 2018).

O fluxo de retorno do óleo de cozinha residual, mostrado na figura 1, é composto por quatro níveis mais um ponto de apoio que é a empresa que faz a coleta dos resíduos. O governo apenas observa, pois a sua atuação neste processo impacta diretamente aos demais (CORRÊA,. et al., 2018).

FIGURA 01: Fluxo de retorno a cadeira produtiva do óleo de cozinha residual:

Fonte: Adaptado de CORRÊA, L. P. et al. (2018)

O óleo de cozinha residual, sendo reaproveitado e reinserido na cadeia produtiva, minimiza a degradação do meio ambiente e ajuda a diminuir os custos econômicos, além de ajudar também a diminuir a exigência de utilização da recursos humanos, financeiros e não renováveis, como terra, água, insumos agrícolas, herbicidas, pesticidas, máquinas agrícolas, combustíveis etc. Recursos estes necessários para a produção em geral de grãos utilizados na produção dos óleos vegetais (MEI, L. B., CHRISTIANI, V. S., LEITE, P. R. 2011).

5. METODOLOGIA

5.1. PESQUISA

No desenvolvimento deste estudo optou-se pela pesquisa qualitativa através de levantamentos bibliográficas em livros e publicações científicas os quais citam estudos já realizados anteriormente com abordagem neste mesmo tema, trazendo uma abordagem exploratória a qual nos foi apresentado conceitos de logística e logística reversa.

5.2. ESTUDO DE CASO

O restaurante Karranca’s, localizado na cidade de Canindé de São Francisco, na divisa dos estados de Sergipe e Alagoas, está situado em local de preservação ambiental permanente, às margens do Rio São Francisco, além de ser um restaurante muito popular é também um famoso ponto turístico, de onde partem vários passeios diários em direção aos Cânions de Xingó.

O restaurante, por sua vez, se empenha em preservar o meio ambiente conscientizando e incentivando aos seus clientes a não descartar nenhum tipo de resíduo de forma irregular no local onde situa-se o estabelecimento como também no rio, ao qual o restaurante margeia.

Além disso, o restaurante desenvolve trabalhos que ajudam a preservar o ecossistema local, como, por exemplo, a separação do lixo para coleta seletiva, armazenamento em local apropriado dos resíduos produzidos no local e, em especial, os resíduos produzidos pela cozinha e banheiros (Figura 02). A destinação correta destes resíduos é realizada em parceria com a Companhia de Saneamento de Alagoas (CASAL)em uma estação de tratamento de esgoto localizada na cidade de Piranhas, no estado de Alagoas.

FIGURA 02: Preocupação do restaurante com a possível poluição residual.

Fonte: Autoria própria

Um ponto que muito preocupa os gestores do estabelecimento é a destinação do óleo de cozinha residual, pois o estabelecimento faz a separação do óleo de cozinha residual o qual, esporadicamente, este resíduo é recolhido por uma pequena cooperativa de reciclagem que utiliza os resíduos para confecção de sabão e seus derivados, entretanto, este recolhimento não é frequente e é incerto.Por se tratar de uma pequena cooperativa, não é sempre que os resíduos são recolhidos para fins de reciclagem. Quando os resíduos não são recolhidos por esta cooperativa o descarte é feito pela empresa local de coleta de lixo.

O estabelecimento possui em sua cozinha duas fritadeiras com capacidade de 88 litros de óleo cada (Figura 03). Esses equipamentos são utilizados para fritar alimentos em geral.

A troca do óleo é feita periodicamente e, após a troca do óleo das fritadeiras, o óleo é armazenado em baldes plásticos que são acondicionados em local adequado e, posteriormente, recolhido por um funcionário de uma cooperativa de reciclagem ou recolhido pela empresa local de coleta de lixo, que faz o seu correto descarte.

Quando a troca do óleo das fritadeiras é feita é adicionado uma quantidade de 88 litros de óleo em cada equipamento e, ao final de seu ciclo produtivo, a quantidade retirada dos equipamentos é, em média, 90% do volume que foi adicionado, isso ocorre devido ao fato de que, durante o processo de fritura, ocorre evaporação de parte do óleo devido as altas temperaturas, como também uma parte do óleo fica retido nos alimentos que passaram pelo processo de fritura. Semanalmente é produzido, aproximadamente, 159 litros, enquanto, ao mês este volume pode chegar a 474 litros de óleo de cozinha residual.

FIGURA 03: Equipamento de fritura

Foto: Autoria própria

6. RESULTADOS

Durante o desenvolvimento deste trabalho podemos perceber o quão importante é a logística reversa, pois é a partir dela que muitos produtos ou bens de consumo retornam a cadeia produtiva, sendo reciclado ou reutilizado de outras formas. Neste trabalho abordamos o uso da logística reversa aplicada ao óleo de cozinha residual focado à preservação do meio ambiente.

Um dos métodos utilizados para reciclagem do óleo de cozinha residual é a utilização deste resíduo para produção de sabão e seus derivados.

A produção de sabão é um método muito utilizado devido à sua simplicidade e rapidez na produção, exigindo uma quantidade razoavelmente pequena de recurso financeiro para obtenção de sabão além de trazer benefícios à natureza, pois, desta forma, evita-se o descarte incorreto dos resíduos provenientes de frituras, o que poderia trazer sérias consequências ao meio ambiente (WILDNER).

O óleo de cozinha residual, antes de ser utilizado como matéria prima, deve passar por tratamento para remoção de impurezas. Ou seja, o resíduo deve passar por processos unitários como, peneiramento, filtragem, decantação, dentre outros, para que sejam removidos todo e qualquer impureza presentes no óleo de cozinha residual, fazendo com que esta matéria prima se torne mais pura para ser utilizada na produção de outros produtos.

6.1. FABRICAÇÃO DE SABÃO EM BARRA E EM LÍQUIDO

O sabão feito a partir do óleo de cozinha residual é um poderoso e eficaz agente de limpeza, o que facilita o processo de limpeza, é, também, biodegradável e geralmente é muito menos prejudicial, em comparação aos sabões industrializados (SILVA, 2013)

Um método muito utilizado para reciclagem do óleo de cozinha residual é a fabricação de sabão. Este método, além de ser uma forma simples de aplicação da logística reversa ao óleo de cozinha residual, é um método que traz benefícios econômicos para quem recicla, pois basta um investimento financeiro mínimo para produzir sabão em barra, e o melhor, neste caso, é possível adicionar essências aromatizantes.

Atualmente, um pacote de sabão, contendo 5 barras de sabão, é vendido em supermercados por um valor médio de R$ 5,45. Cada barra de sabão pesa 200g cada um. O restaurante Karranca’s possui uma demanda de 3 kg de sabão em barra por semana, para limpeza em geral, o que gera um custo de R$ 16,35 por semana na compra de sabão em barra, enquanto isso, para a produção de 4kg de sabão em barra utilizando 5 litros de óleo de cozinha residual custará, em média, R$ 9,00.

Para fabricação de sabão em barra são necessários alguns ingredientes básicos, como soda caustica, água e o próprio óleo de cozinha residual, caso queira, pode-se adicionar essências ou aromatizantes à mistura, afim de proporcionar um aroma/perfume ao produto final.

Sabendo que o gasto semanal médio do restaurante Karranca’s com compra de 3Kg de sabão em barra é de R$ 16,35 enquanto o valor médio gasto com a reciclagem do óleo de cozinha residual é de R$ 9,00, podemos notar que haverá uma economia financeira de R$ 7,35 em média, por semana, enquanto esta economia, mensalmente, poderia chegar até R$ 29,40.

Uma outra solução viável que pode ser utilizada pelo restaurante Karranca’s é a fabricação de sabão líquido (detergente). Atualmente, o valor de equivalente a um litro de detergente líquido nos supermercados é de R$ 3,28, em média, enquanto o valor médio para produção de sabão líquido é de R$ 1,00 por litro.

Para a produção de 5,5 litros de sabão líquido são necessários 3 litros de óleo de cozinha residual, meio litro de soda caustica, 1 litro de água e um litro de álcool, caso queira, poderá ser adicionado essência ou aromatizante para dar um aroma ao produto final.

Levando em consideração que o restaurante Karranca’s faz uso de, aproximadamente, 12 litros de detergente por semana, o custo da compra de detergente é, em média, de R$ 39,36 por semana, enquanto o custo de produção de sabão líquido utilizando o óleo de cozinha residual, para a mesma quantidade da demanda deste produto, seria de R$ 12,00, ou seja, caso o restaurante passe a reciclar seu óleo residual, a diferença entre a compra do detergente industrializado e a produção de seu próprio detergente, seria de R$ 27,36 por semana e, em um mês, esta diferença poderia chegar a R$ 109,44.

Partindo do pressuposto que o restaurante passe a fazer a reciclagem de seu óleo de cozinha residual na produção de sabão em barra e a produção de sabão líquido (detergente) para o uso em suas dependências, a economia financeira seria de:

TABELA 01: Custo de compra de babão em barra e detergente

CUSTO DE COMPRA

VALOR POR KG OU LITRO

DEMANDA SEMANAL

VALOR TOTALDE COMPRA POR SEMANA

Sabão em barra

R$ 5,45

3kg

R$ 16,35

Detergente líquido

R$ 3,28

12L

R$ 39,36

Valor total gasto por semana com compra de sabão e detergente:

R$ 55,71

FONTE: elaborado pelo autor.

TABELA 02: Custo de produção de sabão em barra e de sabão em líquido (detergente)

PRODUTOS

VALOR MÉDIO DE PRODUÇÃO POR KG OU LITRO

Sabão em barra (Kg)

R$ 2,25

Sabão líquido (detergente) (Litro)

R$ 1,00

FONTE: elaborado pelo autor.

TABELA 03: Demonstrativo de economia caso o restaurante Karranca’s opte por fazer a reciclagem do óleo de cozinha residual na produção de sabão em barra e sabão líquido (detergente).

PRODUTO

DEMANDA SEMANAL

CUSTO DO PRODUTO INDUSTRIALIZADO

CUSTO DO PRODUTO RECICLADO

VALOR DA ECOMIA EM RELAÇÃO AO PRODUTO RECICLADO

Sabão em barra

3kg

R$ 16,35

R$ 6,75

R$ 9,60

Sabão líquido (detergente)

12L

R$ 39,36

R$ 12,00

R$ 27,36

Total

R$ 55,71

R$ 18,75

R$ 36,96

FONTE: elaborado pelo autor.

Conforme podemos ver na tabela anterior, aplicando a logística reversa ao óleo de cozinha residual utilizando-o na produção de sabão em barra e/ou sabão líquido, o potencial econômico semanal chegará à R$ 36,96, desta forma é evidente que a aplicação da logística reversa é benéfica, não somente para o meio ambiente, mas também para a instituição que faz a reciclagem do óleo de cozinha residual.

Além da economia financeira, caso o restaurante Karranca’s faça a reciclagem de parte do óleo de cozinha residual na produção de sabão em barra e/ou sabão líquido (detergente), o restaurante está ajudando ao meio ambiente por não descartar irregularmente este resíduo no meio ambiente. Uma vez que ao reciclar 8 litros de óleo de cozinha residual na produção de 3 Kg de sabão em barra e 12L de sabão liquido (detergente), o restaurante estaria evitando que, pelo menos, esta quantidade e resíduo, fosse parar em rios, córregos, lagos e outros afluentes, o que poderia causar a contaminação dos mesmos.

Sabendo que 1 litro de óleo de cozinha residual, despejado em algum afluente, tem potencial poluidor de 1 milhão de litros de água, e, ao reciclar 8 litros de óleo, por exemplo, estaríamos evitando a contaminação de, pelo menos, 8 milhões de litros água, o suficiente para 8 pessoas utilizarem por 14 anos.

É evidente que o restaurante Karranca’s preocupa-se com o meio ambiente quando faz a coleta e armazenamento do óleo de cozinha residual proveniente de sua própria cozinha, entretanto a ausência da regularidade de coleta deste resíduo por parte de empresas ou instituições que façam a reciclagem do óleo dificulta ainda mais a reciclagem destes resíduos.

7. CONCLUSÃO

Podemos concluir que a logística reversa é uma grande aliada ao meio ambiente, pois ao evitar o descarte irregular de resíduos no meio ambiente, fazendo com que os produtos no final de sua vida útil retornem ao mercado de consumo, como produtos remanufaturados ou utilizados em processos de reciclagem.

A logística reversa pode ser aplicada através de pequenas, medias ou grandes instituições como também pode ser aplicada também pessoas comuns, em suas residências ou em seus locais de trabalho, pois trata-se de um processo benéfico, produtivo e proveitoso do ponto de vista econômico, social e ambiental.

Apesar de ser muito benéfico, o processo logístico reverso aplicado ao óleo de cozinha residual ainda enfrenta uma grande escassez de instituições dispostas a fazer a remanufatura deste tipo de resíduo. Isso ocorre por falta de incentivos no reaproveitamento e reciclagem do óleo de cozinha residual, como, por exemplo, a falta de divulgação mais abrangente dos impactos ambientais causados pelo descarte irregular do óleo como também os benefícios obtidos com a reciclagem do mesmo.

O governo federal poderia auxiliar melhor na questão da reciclagem do óleo de cozinha residual, através da criação de programas de recolhimento destes resíduos, em colaboração coma estatal brasileira Petrobras, fazendo o recolhimento de óleo de cozinha residual nas empresas produtoras destes resíduos, e, posteriormente, utilizar na produção de biodiesel ou em demais produtos em que este resíduo possa ser utilizado.

A logística reversa é um poderoso aliado do meio ambiente, pois trata de reinserir no mercado de consumo produtos que seriam descartados após o termino de sua vida útil, trazendo uma série de benefícios financeiros ecológico, uma vez que o mercado de consumo cada dia cresce mais e mais, fazendo com as indústrias produzam cada vez mais produtos e bens de consumo, e, em sua grande maioria, as matérias primas são provenientes de fontes não renováveis, e o consumo não consciente destes produtos poderá, futuramente, nos levar a uma escassez de matérias prima, podendo causar um colapso nas industrial e financeiro.

No caso do restaurante Karranca’s, a logística reversa do óleo de cozinha residual está ameaçada pelo fato da não regularidade da coleta seletiva deste resíduo por parte da cooperativa de reciclagem, entretanto, o restaurante poderia reciclar parte do óleo de cozinha residual produzido pela sua cozinha, o que traria benefícios ambientais e financeiros.

8. REFERÊNCIAS

NOVAES, A. G. Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição: estratégia, operação e avaliação. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

BALLOU, Ronald H. Logística Empresarial: Transporte, Administração de Materiais e Distribuição Física / Ronald H. Ballou; tradução Hugo T. Y. Yoshizaki – São Paulo: Atlas, 1993.

BALLOU, Ronald H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos: planejamento, organização e logística empresarial / Ronald H. Ballou; tradução Elias Pereira. – 4 ed. – Porto Alegre: Bookman, 2001.

GUARNIERI, P. et al. Obtendo competitividade através da logística reversa: estudo de caso em uma madeireira. Journal of Technology Management & Innovation, Portland, v. 1, n. 4, p. 121, 2006.

Presidência da República Federativa do Brasil, Casa civil. Política nacional de resíduos sólidos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12305.htm. Acesso realizado em 10 de set. de 2019 às 20:32h.

LEITE, P. R. Logística Reversa: Meio ambiente e competitividade. São Paulo: Prentice Hall, 2003.

STOCK, J. R. Development and Implementation of Reverse Logistics Programs. United States of America: Council of Logistics Manegement, 1998.

STOCK, J. R. The 7 deadly sins of reverse logistics. Material Handling Management. Cleveland, mar, 2001.

HERNáNDEZ, C. T.; MARINS, F. A. S.; CASTRO, R. C. Modelo de gerenciamento da logística reversa. Gestão & Produção, S.o Carlos, v. 19, n. 3, p. 445-456, 2012.

LEITE, P. R. Direcionadores estratégicos em programas de logística reversa no Brasil. Revista Alcance: Eletrônica, v. 19, n. 02, p. 182-201, 2012.

BALLOU, Ronald H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. São Paulo: Bookman, 2006

SILVA, A. A.; LEITE, P. R. Empresas brasileiras adotam políticas de logística reversa relacionadas com o motivo de retorno e os direcionadores estratégicos? Revista de Gestão Social e Ambiental, v. 6, n. 2, p. 79-92, 8 nov. 2012.

FLEISCHMANN, M. et al. Quantitative models for reverse logistics: a review. European Journal of Operational Research, Amsterdam, v. 103, n. 1, p. 1-17, nov. 1997.

CHAVES, G. de L. D.; ALCÂNTARA, R. L. C. Logística reversa: uma análise da evolução do tema através de revisão da literatura. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 29, 2009, Salvador. Anais... Salvador: ENEGEP, 2009. Disponível em: http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2009_tn_sto_091_617_12512.pdf. Acesso realizado em 27 de set. de 2019 às 21:03h.

ZUCATTO, L. C.; WELLE, Iara; SILVA, T. N. Cadeia reversa do óleo de cozinha: coordenação, estrutura e aspectos relacionais. RAE – Revista de administração de Empresas | FGV-EAESP. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75902013000500003. Acesso realizado em 10 de set. de 2019, às 19:33h.

CORRÊA, L. P.; GUIMARÃES, V. N.; HERSPANHOL, L. I.; SILVA, J. V. Impacto ambiental causado pelo descarte de óleo: estudo do destino que é dado para o óleo de cozinha usado pelos moradores de um condomínio residencial em Campos dos Goytacazes- RJ. R. bras. Planej. Desenv., Curitiba, v. 7, n. 3, Edição Especial Fórum Internacional de Resíduos Sólidos, p.341-352, ago. 2018. Disponível em: https://periodicos.utfpr.edu.br/rbpd. Acesso em: 28 de set. de 2019, às 11:45h.

MEI, L. B.; CHRISTIANI, V. S.; LEITE, P. R. A logística reversa no retorno do óleo de cozinha usado. XXXV Encontro da ANPAD, Rio de Janeiro, set. 2011. Disponível em: http://www.anpad.org.br/admin/pdf/GOL1261.pdf. Acesso em: 02 de out. de 2019, às 20:49h.

STOCK, J. R. Development and Implementation of Reverse Logistics Programs. Council of Logistics Management, 1998. 247 p.

ROGERS, D S. e TIBBEN-LEMBKE, R S. 1999, Going Backwards: Reverse Logistics Trends and Practices. University of Nevada, Reno - Center for Logistics Management, in http://equinox.unr.edu/homepage/logis/reverse.pdf, acesso em 15/10/2019

SILVA, A. M. N. Gestão do óleo vegetal residual de fritura visando a sustentabilidade. São Cristóvão, jan. 2013. Disponível em: https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/4069/1/ANGELA_MARIA_NEVES_SILVA.pdf. Acesso realizado em 07 de out. de 2019, às 22:30h.

WILDNER & HILLIG, v (5), n°5, p. 813 - 824, 2012. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental. REGET/UFSM (e-ISSN: 2236-1170). Santa Maria, RS. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/reget/article/download/4243/2811. Acesso realizado em 05 de nov. 2019, às 20:33h.


Publicado por: Rubens Viana de Andrade

icone de alerta

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.