INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL NA DEPRESSÃO DA TERCEIRA IDADE

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O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

1. RESUMO

Este é um estudo de caráter bibliográfico, com o tema Intervenção da Terapia Ocupacional na depressão da terceira idade, que tem como objetivo, reunir referencial teórico relacionado ao tema, como o que é, classificação, causas, diagnóstico clínico e tratamento da depressão e comprovar a importância e eficácia do terapeuta ocupacional no tratamento de um idoso com depressão, além disso, demonstrar etapas do desenvolvimento desse tratamento e quais as abordagens mais utilizadas e recomendadas nessa situação, incluindo o poder da atividade como objeto terapêutico, e a importância da família. A Terapia Ocupacional vem contribuindo no tratamento da depressão na Terceira Idade, propiciando atividades ocupacionais que desenvolvem a socialização, elevam a auto-estima, favorecem o relacionamento interfamiliar e a reinserção do idoso à vida funcional. Desta forma, sua finalidade é constatar fenômenos e analisá-los, para o aperfeiçoamento das atividades funcionais e sensoperceptivas do indivíduo. É comum a depressão na Terceira Idade, mas ela pode ser tratada, embora os idosos passem meses e até anos sem ajuda adequada.

Palavras chave: Depressão, Terceira Idade, Terapia Ocupacional

ABSTRACT

This is a bibliographical study, with the theme Occupational Therapy Intervention in depression of the elderly, which aims to gather theoretical framework related to the theme, as it is, classification, causes, clinical diagnosis and treatment of depression and prove The importance and effectiveness of the occupational therapist in the treatment of an elderly person with depression, in addition to demonstrating stages of the development of this treatment and the most used and recommended approaches in this situation, including the power of the activity as a therapeutic object, and the importance of the family. Occupational Therapy has been contributing to the treatment of depression in the Third Age, providing occupational activities that develop socialization, raise self-esteem, favor the inter-family relationship and the reinsertion of the elderly to functional life. Thus, its purpose is to verify phenomena and analyze them, for the improvement of functional and sensory perception activities of the individual. Depression is common in old age, but it can be treated, although older people spend months and even years without proper help.

Keywords: Depression, Seniors, Occupational Therapy.

2. INTRODUÇÃO

Apresentam-se, neste artigo, algumas reflexões sobre um dos campos de atuação da Terapia Ocupacional: depressão na Terceira Idade.

A depressão na terceira idade é um tema que merece atenção e um estudo aprofundado a respeito, pois este é um grupo que necessita de cuidados e ajuda de terceiros. O processo de envelhecimento embora difícil para muitos, é algo que acontece naturalmente, trazendo junto consigo algumas mudanças.

De acordo com MENDES (2005) et al., a Organização Mundial de Saúde – OMS define o indivíduo como idoso a partir dos 65 anos nos países desenvolvidos e dos 60 anos nos países subdesenvolvidos.

Segundo STELLA (2003) et al., junto com o aumento da população idosa, vêm o aumento também de doenças crônico-degenerativas, dentre elas aquelas que comprometem o funcionamento do sistema nervoso central, como as enfermidades neuropsiquiátricas, particularmente a depressão.

Atualmente, tem-se observado a necessidade de trabalhos visando o tratamento e cuidado da população mais velha. Além disso, o bem-estar geral dos idosos depende das oportunidades das atividades do tempo de lazer e de labor construtivo, oportunidades para fazer, realizar, sentir sucesso e dar uma contribuição real à sociedade.

Presume-se que a contribuição da Terapia Ocupacional, por meio de estudos e uma prática com atividades, possa desenvolver a socialização, proporcionar a elevação da autoestima, favorecer o relacionamento interfamiliar e a reinserção à vida funcional na Terceira Idade.

Com o número crescente de pessoas que chegam à Terceira Idade e o número de anos que vivem após a aposentadoria, há novos problemas para as famílias e também para a sociedade. Os idosos precisam ocupar seu tempo com atividades que sejam produtivas e qualificadas para beneficiar sua qualidade de vida.

Neste patamar destaca-se o quadro de depressão na Terceira Idade, na maioria das vezes, como consequência desta realidade. A Terapia Ocupacional no tratamento da depressão na Terceira Idade procura realizar um trabalho visando propiciar melhor qualidade de vida a essas pessoas, ao mesmo tempo em que sensibiliza não só as pessoas idosas, mas também seus familiares e profissionais atuantes, sobre a necessidade de valorização da promoção da saúde nesta faixa etária

A Pesquisa Nacional de Saúde mais recente, de 2013, identificou que 11,2 milhões de brasileiros sofrem dessa doença, chamada depressão, classificada como “crise global” pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Quando agrupados por faixa etária, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram onde ela é mais grave. A faixa dos 60 a 64 anos lidera o ranking, com 11,1% dos indivíduos diagnosticados. De acordo com especialistas, embora comum, porém, a depressão entre idosos está longe de ser “normal”.

Desta forma este estudo tem como objetivo identificar e evidenciar, por meio da pesquisa bibliográfica, quais são os principais fatores que desencadeiam a depressão na terceira idade e a melhor forma de tratamento.

3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1. TERCEIRA IDADE

O envelhecimento é um processo natural e dá-se por mudanças físicas, psicológicas e sociais. É uma fase em que após uma análise, normalmente o indivíduo idoso conclui que alcançou muitos objetivos, mas também sofreu muitas perdas, das quais se destaca a saúde com um dos aspectos mais afetados. (MENDES et al., 2005)

A teoria do desenvolvimento psicossocial desenvolvida por Erik Erikson propõe uma concepção de desenvolvimento em oito estágios psicossociais, perspectivados por sua vez em oito idades que decorrem desde o nascimento até a morte. O último estágio chamado de Integridade X Desesperança, ocorre na velhice e segundo Erikson, se o envelhecimento ocorre com sentimento de produtividade e valorização do que foi vivido, sem arrependimentos e lamentações sobre oportunidades perdidas ou erros cometidos haverá integridade e ganhos, do contrário, um sentimento de tempo perdido e a impossibilidade de começar de novo trará tristeza e desesperança (RABELLO; PASSOS 2007).

A velhice é o último período da evolução da vida. É natural, indiscutível e inevitável. Implica um conjunto de mudanças biológicas, fisiológicas, psicológicas, sociais, econômicas e políticas que compõem o cotidiano das pessoas que vivem nessa fase em que os idosos avaliam como foi sua vida, bem como suas perdas e ganhos. (BEZERRA et al, 2010).

Neste momento da vida o indivíduo começa a rever a sua vida, fazendo uma reflexão de tudo o que fez ou deixou de fazer. Pensa nas suas realizações e seus significados. Cada um vivencia essa fase de forma diferente. Uns podem entrar em desespero, pois pode surgir um sentimento que o tempo acabou, que a morte está se aproximando. Essas pessoas vivem numa tristeza por sua velhice. Por outro lado, existem pessoas que encaram isso da maneira positiva, experimentando a sensação de dever cumprido e gosta de dividir sua experiência e sabedoria com outras pessoas. (RABELLO; PASSOS 2007).

Segundo Morris; Maisto (2004), em um processo que se inicia na metade da idade adulta e continua na terceira idade, a aparência física e o funcionamento de todos os órgãos passam por várias alterações. O cabelo fica mais fino e muda de cor, a pele enruga, os ossos se tornam mais frágeis, os músculos perdem as forças e as juntas ficam enrijecidas ou desgastadas, a circulação se torna mais lenta, a pressão sanguínea se eleva e, pelo fato de os pulmões terem menos oxigênio, o idoso tem menos energia. Dificuldade para dormir e continuar dormindo se tornam mais comuns, e o tempo de reação fica mais lento. Visão, audição e olfato ficam menos apurados. No início, a maioria das pessoas não percebe essas mudanças, uma vez que elas ocorrem de maneira gradual, mas chega o momento em que as alterações provocadas pela degeneração se tornam inegáveis.

O ambiente familiar pode determinar as características e o comportamento do idoso. Na família onde se predomina uma atmosfera saudável e harmoniosa entre as pessoas, todos possuem funções, papéis, lugares e posições e as diferenças de cada um são respeitadas e levadas em consideração e isso ajuda para o bem-estar do idoso. Em famílias onde há desarmonia, o relacionamento é carregado de frustrações, com indivíduos deprimidos e agressivos. O idoso torna-se isolado socialmente e com medo de cometer erros e ser punidos. (MENDES et al., 2005).

Segundo Kübler-Ross (2004, apud MORRIS; MAISTO) ás vezes, os parentes não são capazes de oferecer muito apoio aos idosos à medida que esses envelhecem, seja por viverem muito distantes, por serem incapazes de lidar com a dor de ver outra pessoa querida envelhecer/morrer ou pelo medo que eles próprios têm.

Por isso, é importante a família ter paciência com os idosos e conhecimento sobre as doenças que atingem a terceira idade, bem como a depressão.

3.2. DEPRESSÃO

A depressão tem alto impacto na vida do paciente e de seus familiares, com significativo comprometimento nos aspectos sociais, ocupacionais e em outras áreas de funcionamento. (POWELL, et al 2008).

Enquanto sintoma, a depressão pode surgir nos mais variados quadros clínicos entre os quais: transtorno de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia, alcoolismo, doenças clínicas, pode ainda ocorrer como resposta a situações estressantes, ou a circunstâncias sociais e econômicas adversas.

Enquanto síndrome, a depressão, inclui não apenas alterações de humor (tristeza, irritabilidade, falta da capacidade de sentir prazer, apatia), mas também uma gama de outros aspectos, incluindo alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas (sono, apetite).

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 2009, só no Brasil existem cerca de 13 milhões de depressivos e que em todo o mundo existem cerca de 340 milhões. Por conta da doença 850 mil suicídios são cometidos anualmente em todo o mundo. Atualmente, a depressão é apontada como a quinta maior questão de saúde pública pela OMS, sendo que até 2020 deverá estar em segundo lugar.

Existem estudos que abordam aspectos psicológicos, ambientais e bioquímicos que tentam explicar o número significativo de casos de depressão. Mas ainda não existe um consenso sobre o que realmente causa a depressão. O depressivo não aceita que o mundo e as pessoas a sua volta não sejam como ele quer e por não conseguir mudá-los, adoece. (DEUS, 2011).

A depressão causa a lentificação dos processos psíquicos, humor depressivo e ou irritável, redução da energia (desânimo, cansaço fácil), incapacidade total ou parcial de sentir alegria ou prazer, desinteresse e apatia (RENÉRIO, 2000). Fala-se em Transtorno Afetivo quando um indivíduo se fixa num determinado estado de ânimo, impedindo a realização de outras tarefas. Nestes transtornos incluem-se a depressão e a mania (ESPINOSA, 1998).

Os transtornos afetivos constituem um grupo de condições caracterizadas por perda de senso de controle e uma experiência subjetiva de grande sofrimento, onde se pode observar, em muitos casos, perda de energia e interesse, dificuldades de concentração, perda de apetite, sentimento de culpa, além de pensamentos sobre a morte e o suicídio, comprometendo a vida social, profissional, interpessoal e familiar do indivíduo (KAPLAN & SADOCK, 1993 apud ASSUMPÇÃO, 1996).

A depressão é uma doença complexa, principalmente pela dificuldade do doente em entender e aceitar a enfermidade. Diante dessa complexidade, a melhor forma de não adoecer é a prevenção. (DEUS, 2011).

3.3. DEPRESSÃO NA TERCEIRA IDADE

Segundo Oliveira (2006), é importante destacar a respeito da depressão, que ela tem sido considerada como um dos transtornos que mais afetam o idoso.

Todo ser humano em qualquer fase de sua vida pode experimentar sintomas depressivos. Nos idosos a probabilidade de padecer desta doença é ainda maior, pois apresentam inúmeras limitações e perdas, tendo como consequências sentimentos de autodepreciação (ZIMERMAN, 2000).

Os fatores etiológicos da depressão no idoso podem ser divididos em biológicos e psicossociais. O primeiro refere-se à perda neuronal e diminuição de neurotransmissores; o genético; a doença física e as medicações. Já os fatores psicossociais caracterizam-se pela diminuição de renda, as modificações no papel social, o luto/perdas e a doença física incapacitante e ou/dolorosa.

Frequentemente são atribuídos os acontecimentos estressantes e negativos, como por exemplo, a morte de uma pessoa querida ou doenças e efeitos colaterais de medicações, as principais causas da depressão na velhice. Doenças e efeitos colaterais também podem causar ou exacerbar a depressão. (HAMILTON, 2002).

A depressão ainda não tem uma causa específica. Entretanto, ela pode ser desencadeada em decorrência de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Além da carência afetiva, própria do envelhecimento, as crises depressivas podem surgir a partir de uma série de problemas.

Para a melhor compreensão do tema, confira os mais comuns:

  • Limitações mentais;

  • Incapacidades físicas;

  • Diminuição da autoestima;

  • Afastamento da família e dos amigos;

  • Perda da função social mediante a aposentadoria;

  • Diagnóstico de doenças graves como AVC;

  • Problemas relacionados à vida sexual;

  • Redução da expectativa de vida;

  • Falecimento do cônjuge;

  • Surgimento de câncer.

3.4. SINTOMAS DA DEPRESSÃO

Além do humor triste, a depressão apresenta inúmeros sintomas cognitivos, comportamentais, físicos e emocionais. (GREENBERGER; PADESKY, 1999).

Mckenzie (1999), descreve alguns sintomas psicológicos e físicos mais frequentes em pessoas depressivas, descrevendo os psicológicos em: Baixo-astral, definido como um sentimento persistente de tristeza, vazio, perda e apreensão, acompanhado de uma tendência a chorar mais frequentemente por qualquer aborrecimento ou até mesmo sem se ter um motivo. Na depressão grave ou moderada, muitas vezes é mais acentuado pela manhã, melhorando um pouco ao longo do dia, embora ainda esteja presente, o que é chamado de variação diurna. Nos casos menos graves pode ser pior a noite do que pela manhã, podendo o depressivo passar bem o dia.

Ansiedade, pode tornar-se o maior sintoma da depressão. Nas pessoas deprimidas, essa sensação pode durar meses. Algumas pessoas acordam de manhã num estado de grande ansiedade, porque temem o decorrer do dia.

Embotamento Emocional, este é um dos mais cruciais sintomas da depressão. As pessoas gravemente deprimidas, freqüentemente sentem-se como se tivessem perdido seus sentimentos, não conseguindo nem chorar. Sentem-se às vezes distante e indiferente em relação às pessoas mais próximas.

Pensamento depressivo, a pessoa depressiva enxerga o mundo sempre por um lado negativo. Sente muita culpa por tudo, esquece-se das coisas boas que já fizeram, relembrando e intensificando as coisas más. Estes tipos de pensamentos negativos destroem a pessoa aos poucos, deixando-a mais deprimida ou ansiosa, formando-se um círculo vicioso.

Concentração e problemas de memória, a pessoa sente dificuldade em se concentrar, se consome por preocupações e pensamentos depressivos tornando-se difícil pensar em qualquer outra coisa. Os problemas com a concentração podem levar á indecisão e falta de atenção, deixando a pessoa confusa e desorganizada.

Delírios e alucinações, a pessoa deprimida tem um pensamento distorcido que se perde da realidade. Os delírios ou convicção falsa, considerada inabalável pela pessoa que o tem, podem ocorrer na depressão grave, refletindo e reforçando o humor depressivo.

Ideação suicida: muitas pessoas deprimidas pensam no suicídio, mesmo que seja um pensamento passageiro. Quando a pessoa se encontra num estágio profundo de depressão, o passado lhe parece horrível e cheios de erros, o presente terrível e temem o futuro chega à conclusão de que não vela a pena continuar vivendo, que todos ficariam melhores sem ela, e sendo assim, devem tirar suas próprias vidas.

A pessoa deprimida pode apresentar também alguns sintomas físicos como problemas de sono, lentidão mental e física, perda de apetite. Algumas pessoas no lugar dos sintomas comuns as depressões desenvolvem sintomas físicos reversos como dormirem demais, ter um apetite maior e ganhar peso.

Uma pessoa deprimida tem alterações em cinco aspectos de sua vida, que devem ser avaliados antes de um diagnóstico, são os pensamentos, estados de humor, comportamentos, reações físicas e ambiente. Estas cinco áreas estão interligadas e cada aspecto diferente da vida de uma pessoa influencia todos os outros. (GEENNBERGER; PADESKY, 1999).

Segundo Beck et al (1997) os pacientes depressivos apresentam sintomas afetivos, como tristeza, e alguns experimentam períodos oscilantes de melancolia, enquanto outros são incapacitados pela severidade do afeto, além de raiva, distração, humor deprimido, disforia, crises de choro, sentimento de culpa, vergonha, ansiedade. Sintomas motivacionais como perda de motivação positiva e aumento de desejos de evitação, aumento de dependência. Sintomas cognitivos como a indecisão, visão dos problemas como avassaladores, autocrítica, pensamento absolutista (tudo-ou-nada), dificuldades de concentração e memória. Sintomas comportamentais como passividade, evitação e inércia, déficits em habilidades sociais e sintomas fisiológicos como distúrbio do sono e distúrbios do apetite e sexuais.

3.5. DIAGNÓSTICO CLÍNICO

No diagnóstico da depressão leva-se em conta: sintomas psíquicos, fisiológicos e evidências comportamentais (ASSUMPÇÃO, 1996).

Sintomas psíquicos:

• Humor Depressivo: sensação de tristeza, autodesvalorização e sentimento de culpa.

• Redução da capacidade de experimentar prazer na maior parte das atividades, antes consideradas como agradáveis

. • Fadiga ou sensação de perda de energia • Diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar, ou de tomar decisões.

Sintomas fisiológicos:

• Alterações do sono (mais frequentemente insônia, podendo ocorrer também hipersonolência)

• Alterações do apetite (mais comumente perda do apetite, podendo ocorrer também aumento do apetite)

• Redução do interesse sexual

Evidências comportamentais:

• Retraimento social

• Crises de choro

• Comportamentos suicidas

• Retardo psicomotor e lentificação generalizada, ou agitação psicomotora

3.6. TRATAMENTO

Os doentes com depressão ligeira geralmente recuperam sem tratamento, mas devem ser reavaliados quando não melhoram. Não é recomendada terapêutica farmacológica neste tipo de depressão.

Os doentes com depressão maior devem fazer tratamento farmacológico. Quando se escolhe o antidepressivo, há que ter em consideração a preferência do doente, assim como a experiência em tratamentos anteriores. Guias de autoajuda e programas de exercício estruturado podem ser úteis na depressão ligeira a moderada (BALLONE, 2003).

Na depressão grave ou resistente, a combinação de terapêutica farmacológica com a terapia cognitivo-comportamental pode ser útil.

A pessoa depressiva apresenta uma tríade cognitiva de pensamentos negativos. O primeiro componente da tríade gira em torno da visão negativa que o paciente tem de si mesmo. Ele se vê como defeituoso e inadequado acreditando que devido aos seus supostos defeitos ele é indesejável e sem valor. O segundo componente da tríade cognitiva consiste na tendência da pessoa deprimida interpretar suas experiências atuais de forma negativa. Ele vê o mundo de forma negativa, fazendo exigências exorbitantes sobre ele e apresentando-lhes obstáculos insuperáveis para tingir suas metas. O terceiro componente da tríade cognitiva consiste em uma visão negativa em relação ao futuro. Quando a pessoa deprimida faz projeções a longo prazo, ela antecipa que seu sofrimento ou dificuldades atuais continuarão. (BECK et al. 1997).

Os pensamentos ajudam a definir os estados de humor que experimentamos e influenciam o modo como nos comportamos, o que escolhemos fazer e não fazer e a qualidade de nosso desempenho. Os pensamentos e as crenças afetam nossas respostas biológicas. Enquanto as mudanças no pensamento são, na maioria das vezes fundamentais, muitos problemas também exigem mudanças no comportamento, no funcionamento físico e no meio.

Segundo Powell et al. (2008), Beck, observou que humor e comportamentos negativos eram usualmente resultados de pensamentos e crenças distorcidas.

A Terapia Cognitivo-Comportamental da depressão é um processo de tratamento que ajuda os pacientes a modificarem crenças e comportamentos que produzem certos estados de humor. As estratégias terapêuticas da abordagem cognitivo-comportamental da depressão envolvem trabalhar três fases, a primeira é o foco nos pensamentos automático, a segunda fase é o foco no estilo da pessoa relacionar-se com os outros e a terceira e última fase foca na mudança de comportamentos a fim de obter melhor enfrentamento da situação problema. (POWELL et al. 2008).

Pode-se dizer que no que diz respeito a segunda fase das estratégias terapêuticas citadas por Powell et al. (2008), Greenberger; Padesky (1999), discorre da importância da melhora de relacionamentos íntimos. Pois isso pode ajudar o indivíduo a obter apoio enquanto se recupera da depressão.

Como o alívio dos sintomas é o objetivo inicial do tratamento, o comportamento é importante nesta abordagem. Uma das bases teóricas dos procedimentos do tratamento para a depressão na Terapia Cognitiva vem da teoria de Lewinsohn que afirma que os pacientes sentem depressão porque estão experimentando redução no reforço geral do mundo externo – decorrente da redução do reforço positivo e/ou excesso de experiências aversivas. A depressão é conceituada nesse modelo como um círculo vicioso de retraimento gradual do paciente ante as atividades positivas e a perda do reforçamento. Assim, o terapeuta precisa trabalhar de modo incisivo para aumentar o envolvimento do paciente deprimido em atividades de reforço e interações sociais. (POWELL et al. 2008).

As sessões iniciais são também dirigidas à definição dos problemas dos pacientes, elaborando-se a conceituação cognitiva ou formulação do caso. (POWELL et al. 2008). Segundo Greenberger; Padesky (1999), as pessoas deprimidas tendem a notar e a lembrar os aspectos positivos ou neutros, interpretando suas vidas com uma tendência negativa. Por isso, o objetivo central da terapia cognitiva para a depressão é ensinar às pessoas a como testar os pensamentos negativos através da revisão de todas as informações em suas vidas, tanto as positivas, neutras, e as negativas. Esse processo é chamado de reestruturação cognitiva.

As sessões finais são destinadas à avaliação dos ganhos na terapia e à prevenção de recaída. A melhora do paciente pode ser fornecida como recurso para o enfrentamento de novas situações que incluam perdas e adaptações a novas situações-problema. (POWELL et al. 2008).

Normalmente a terapia prioriza o atendimento em curto-prazo, com um número de sessões variando de 6 a 20. Porém, existem pacientes que necessitam de um número maior de sessões para o tratamento com terapia cognitiva. (POWELL et al. 2008).

Quando o indivíduo apresenta uma depressão intensa ou duradoura, com sintomas fisiológicos, pode ser que seja indicado o uso de medicação, para isso, é necessário que procure um médico psiquiatra. Aproximadamente a cada três pessoas deprimidas, duas podem ser ajudadas, por medicação antidepressiva. (GREENBERGER; PADESKY, 1999).

Uma pessoa depressiva tem a produção cerebral de serotonina e/ou noradrenalina, substâncias químicas naturais do cérebro que afetam o pensamento e o humor, encontram-se diminuídas. As medicações antidepressivas ajudam a aumentar os níveis dessas substâncias, restabelecendo ao cérebro um estado mais saudável, não deprimido, de equilíbrio da serotonina e noradrenalina. (GREENBERGER; PADESKY, 1999).

4. TRATAMENTO E IMPLICAÇÕES PARA A TERAPIA OCUPACIONAL NA DEPRESSÃO DA TERCEIRA IDADE

4.1. TERAPIA OCUPACIONAL

A intervenção da Terapia Ocupacional ajuda na reorganização do cotidiano garantindo o bem-estar, a saúde e a ampliação da rede social.

Na Terapia Ocupacional psiquiátrica, o paciente é estimulado a criar aquelas aptidões e atitudes que lhe permitirão viver a vida mais útil e satisfatória possível (MORRISON, 1978).

O trabalho da Terapia Ocupacional deve necessariamente passar por essas duas instâncias: oferecer recursos para que a vida ganhe sentido e auxiliar na busca de ações que tornem a vida dessas pessoas mais digna de ser vivida (CAVALCANTI, 2007).

Para esta pesquisa, utilizou-se o conceito de Finger (1986) sobre a Terapia Ocupacional: Terapia Ocupacional é a arte e a ciência de orientar a participação de indivíduos em atividades selecionadas para restaurar, fortalecer e desenvolver a capacidade; facilitar a aprendizagem daquelas habilidades e funções essenciais para a adaptação e produtividade; diminuir ou corrigir patologias e promover e manter a saúde.

Desde os anos 60, a Terapia Ocupacional tem sido definida com o objetivo de tratamento para se obter recuperação de paciente acometido por uma doença ou contribuir para o seu ajustamento ou hospitalização. Dentre as desordens afetivas que acometem a Terceira Idade, talvez a depressão seja a mais frequente, desde as formas mais severas, até os quadros mais ligeiros.

Ryfer (2000) assim se refere à depressão na Terceira Idade: O ser humano vai, durante a vida, a cada momento, experimentando as suas possibilidades e às vezes o sentimento do declínio de alguma possibilidade, traduzido como o início do fim, desencadeando uma condição depressiva, impossibilitando a projeção de um futuro feliz.

Trata-se de uma doença com importantes repercussões sociais e individuais devido ao fato de afetar não somente o convívio social do idoso, impossibilitando uma rotina de vida satisfatória, mas também pelo risco inerente de morbidade e cronicidade.

No caso da depressão na Terceira Idade, a Terapia Ocupacional tem muito a contribuir no sentido de propiciar atividades adequadas a cada caso individualmente que venha a facilitar para o idoso a possibilidade de viver de forma sadia seu processo de envelhecimento. Isso significa para o idoso, a realização, de acordo com seu grau de independência, das atividades de vida diária (AVD), atividades da vida prática (AVP), atividades produtivas (remuneradas ou não) e atividades de lazer.

É importante, nesta faixa etária, que haja uma preocupação com a qualidade de vida, principalmente se ela é afetada nas atividades citadas anteriormente, as quais preenchem a maioria do seu tempo. Portanto, outro objetivo da Terapia Ocupacional com a Terceira Idade, é compreender e perceber a dinâmica da ocupação nesse período da vida. Considerando o grau de independência do idoso, sua educação, saúde e renda, o Terapeuta Ocupacional tem condições de intervir no processo adaptativo do envelhecimento, que requer concordância entre valores, capacidades e atividades de uma pessoa.

5. A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE

O terapeuta ocupacional compreende a Atividade Humana como um processo criativo, criador, lúdico, expressivo, evolutivo, produtivo e de automanutenção, e o homem, como um ser práxico interferindo no cotidiano do usuário comprometido em suas funções práxicas objetivando alcançar uma melhor qualidade de vida (CREFITO 12).

Embora o terapeuta esteja tratando um membro da família, está pensando sempre nele em relação aos outros membros de sua família, e a comunidade (MORRISON, 1978).

A Terapia Ocupacional é a arte e a ciência de orientar a participação de indivíduos em atividades selecionadas para restaurar; fortalecer e desenvolver a capacidade; facilitar a aprendizagem daquelas habilidades e funções essenciais para adaptação e produtividade; diminuir ou corrigir patologias e promover e manter a saúde (FINGER, 1986).

A Terapia Ocupacional utiliza a atividade como forma de tratamento, por ser a forma mais natural de alcançar seus objetivos (CARVALHO, 1997).

Por meio das atividades expressivas, o paciente poderá exteriorizar o seu mundo, suas vivências pessoais e seus temores, ajudando-o a reorganizar o seu Ego. São atividades com o intuito de expressar emoções e fantasias e que estes pacientes aceitam muito bem.

Fazem parte destas atividades: colagem, recortes, desenhos, pinturas, a música, dança e ginástica, ou seja, atividades com ritmo também propiciam uma descarga dos impulsos inconscientes (CARVALHO, 1997).

A atividade é básica para a vida, e a ocupação oferece um escape da tensão, ansiedade e pesar. No caso de pacientes psiquiátricos, a Terapia Ocupacional não somente inclui este aspecto normal da vida, mas também pode fortalecer a resistência ao fracasso por meio de um alvo útil e relações pessoais satisfatórias, pelo estímulo a novas habilidades, aperfeiçoando as pouco usadas ou tornando a aprender as esquecidas, resultando em uma autoconfiança restabelecida (MORRISON, 1978).

As atividades escolhidas para tratamento devem ser bastante interessantes para manter a atenção do paciente, embora estando bem dentro de suas capacidades, já que o temor do fracasso pode ser acentuado. Os projetos a curto prazo que mostram rápida melhora ajudarão a aumentar a confiança. As oportunidades para externar sentimento de culpa e obrigação podem ser oferecidas, estimulando-se o serviço a terceiros (MORRISON, 1978).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se constatar a grande relevância e importância do tema estudado, onde todos os objetivos propostos foram alcançados.

Apesar da dificuldade de encontrar bibliografias específicas de Terapia Ocupacional a respeito do assunto, foi possível sustentar teoricamente as etapas do estudo, e demonstrar como pode contribuir no tratamento de idosos com depressão, já que a intervenção da mesma ajuda na reorganização do cotidiano, garantindo o bem-estar, a saúde e a ampliação de laços sociais.

A Terapia Ocupacional, portanto, pode contribuir no tratamento da depressão na Terceira Idade, utilizando-se da capacidade criativa e do potencial existente em idosos, por meio da realização de atividades. Estes passam a valorizar-se ocupando-se de atividades que irão propiciar-lhes uma melhor agilidade, elevar a autoestima e também proporcionar uma atividade lucrativa no seu dia-a-dia.

É fato que o terapeuta ocupacional, tendo a atividade como instrumento, é o profissional capaz de fazer o idoso depressivo, exteriorizar seus sentimentos, seus medos e angustias, minimizando assim os sintomas da doença.

A tendência, atualmente, é rever estereótipos associados ao envelhecimento. Portanto, é preciso olhar a Terceira Idade como período propício para novas conquistas, guiadas pela busca do prazer e da satisfação pessoal. As experiências vividas e os saberes acumulados são ganhos que oferecem oportunidades de realizar projetos abandonados em outras etapas.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MENDES, M.R.S.S.B.et al. A situação social do idoso no Brasil: uma breve consideração. Acta Paul Enferm. v.18, n.4, p.422-426, 2005. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/ape/v18n4/a11v18n4.pdf.

STELLA, F. et al. Depressão no Idoso: Diagnóstico, Tratamento e Benefícios da Atividade Física. Motriz: Rio Claro. V.8, n.3, p.91-98. Disponível em: http://www.rc.unesp.br/ib/efisica/motriz/08n3/Stela.pdf.

RABELLO., E.T.; PASSOS, J. S. Erikson e a teoria psicossocial do desenvolvimento. 2001.

Disponível em: http://www.josesilveira.com/artigos/erikson.pdf.

BECK, Aaron T. Terapia Cognitiva da Depressão. In: BECK Aaron T., RUSH, John, BRIAN F. Shaw e GARY Emery; trad. Sandra Costa. – Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

CARVALHO, Leila Regina. Terapia Ocupacional para Pacientes Psicóticos Internos, 1997. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Saúde Mental) – Setor de Ciências Biológicas e de Saúde, Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 1997.

CAVALCANTI, Alessandra. Terapia Ocupacional: Fundamentação e Prática. In: CAVALCANTI Alessandra; GALVÃO Cláudia. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

CREFITO 12 – Terapia Ocupacional. Disponível em: http://crefito12.l2.net2.com.br/index.php?pg=conteudo_txt&id=23.

ESPINOSA, Ana Fernández. Guias Práticos de Enfermagem – Psiquiatria. 1 Ed: Rio de Janeiro, Editora Mc Graw Hill, 1998.

FINGER, Jorge Augusto Ortiz, Terapia Ocupacional – São Paulo: Sarvier, 1986.

MORRISON, Mac Caul Mirrey. Mac Donald Terapia Ocupacional em Reabilitação. 4ª ed. Santos, 1978.


Publicado por: Camilla da Silva Braúna

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