BIBLIOTERAPIA: UMA EXPERIÊNCIA NA ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DAS CRIANÇAS COM CÂNCER
índice
- 1. Resumo
- 2. INTRODUÇÃO
- 3. BIBLIOTERAPIA CONCEITOS
- 4. BENEFICÍOS DA LEITURA
- 5. CÂNCER INFANTO-JUVENIL
- 6. METODOLOGIA
- 7. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS COLETADOS
- 7.1 APRESENTAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA
- 7.2 ENCONTROS
- 7.2.1 PRIMEIRO ENCONTRO
- 7.2.2 SEGUNDO ENCONTRO
- 7.2.3 TERCEIRO ENCONTRO
- 7.2.4 QUARTO ENCONTRO
- 7.2.5 ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA FINAL
- 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
- 9. REFERÊNCIAS
- 9.1 Notas
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
1. Resumo
O presente trabalho teve como objetivo geral vivenciar a importância da prática da Biblioterapia como auxílio no tratamento de crianças e adolescentes portadores de câncer, da Associação dos Amigos das Crianças com Câncer - AACC/MS, para efeitos de se perceber um possível impacto nas crianças, sujeitos desta pesquisa. Os objetivos específicos foram caracterizar a Biblioterapia enquanto uma habilidade também do Bibliotecário; estruturar um parâmetro metodológico para aplicação da Biblioterapia; aferir o processo biblioterapêutico desenvolvido com os sujeitos da pesquisa. Para entender o tema, procedeu-se, inicialmente, a uma revisão da bibliografia que trata desse assunto. A pesquisa caracteriza-se como experimental, de campo, com observação objetiva e participativa. Como instrumento de coleta dos dados, adotou-se a entrevista semiestruturada realizada com crianças e adolescentes em fase de tratamento de câncer, com idades de 7 a 15 anos, residentes na Casa de Apoio da AACC/MS e com os responsáveis pela instituição, sujeitos da pesquisa. As atividades realizadas durante a pesquisa, os impactos que a Biblioterapia trouxe aos sujeitos da pesquisa e os fatos ocorridos durante os encontros foram registrados e estão descritos neste trabalho. Os resultados mostraram-se positivos, houve participação e envolvimento dos sujeitos da pesquisa, desde seu início, fato que aponta para os benefícios que a leitura pode trazer, como recurso complementar ao tratamento do câncer em crianças e adolescentes.
Palavras-chave: Biblioterapia. Leitura. Crianças, adolescentes com câncer.
Abstract
The mainly goal of the proposed study was to experience the importance of the practice of Bibliotherapy as a help in the treatment of children and adolescents with cancer from the Association of Friends of Children with Cancer - AFCC / MS, for the purpose of realizing a possible impact on children, the subjects in this study. The specific goals were to pattern the Bibliotherapy as a skill also of the Librarian; stablish a methodological parameter to the application of Bibliotherapy; measure the bibliotherapeutical process developed within the subjects of the research. In order to overcome the issue, it was used, firstly, a review of the literature that addresses this theme. The research is characterized as a field and experimental one linked with objective and notified observation. As a tool for data collection, we have adopted a semi-structured interview made with children and adolescents undergoing cancer treatment, aged from 7 to15 years old, living in the Support House of AFCC / MS and with the authorities of the institution, the subject of the research. The activities carried out during the research, the impacts that Bibliotherapy has brought to the subjects of the research and the facts that occurred during the meetings were recorded and are described in this study. The results were positive, there was participation and involvement from the subjects of the research since its beginning, a fact that points to the benefits that the reading skill can bring, as a complementary resource towards the treatment of cancer in children and adolescents.
Keywords: Bibliotherapy. Reading. Children, adolescents with cancer.
2. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa teve como enfoque a biblioterapia, buscando observar e registrar a importância da prática dessa modalidade de auxílio no tratamento de crianças e adolescentes portadores de câncer da Associação dos Amigos das Crianças com Câncer, AACC/MS. Utilizou-se, no decorrer das atividades previstas para a realização da pesquisa, o método clássico da biblioterapia, qual seja a contação de histórias de livros infantis seguida de conversação e outras atividades de desenho, a fim de proporcionar maior interação entre o pesquisador e os sujeitos da pesquisa. Esses sujeitos foram crianças e adolescentes que estão em fase de tratamento do câncer, e residem na Casa de Apoio da AACC/MS. Trabalhar este tema nesse espaço e com esse público alvo foi importante na medida em que proporcionou momentos de interação e de terapia com crianças que estão internadas, passando pela difícil situação que é o tratamento do câncer. Segundo dados informados pela AACC/MS1, mais de 1.000 crianças e/ou adolescentes já foram atendidos pela instituição e a taxa correspondente aos casos de cura, hoje, no Estado, se aproxima a 65%, confirmando que ações desenvolvidas com credibilidade, comprometimento e amor, rendem grandes resultados.
Os profissionais da saúde e de apoio não têm condições de ficar o tempo todo com as crianças, por isso a Associação conta com vários voluntários que se dedicam a doar seu tempo para a realização de atividades com as crianças e adolescentes da Casa de Apoio. O tratamento de câncer constitui um processo longo, e, no caso de crianças, é necessária a participação de voluntários que as acompanhem e ajudem. Bibliotecários, educadores, pessoas que sejam alegres e que possam transmitir alegria, confiança, esperança, que sejam solidárias e consigam desenvolver amor pelo próximo destacam-se para esse trabalho voluntário. O Bibliotecário, por seu perfil de mediador da leitura, de conhecedor de livros de diferentes gêneros, pode desenvolver atividades pertinentes à biblioterapia, individualmente ou em grupo, e com a ajuda de colaboradores em sua unidade de pesquisa, podendo aplicar por meio da leitura, música, teatro, e até com a ajuda de animais, tais como: cães e gatos.
Sabe-se que crianças e adolescentes acometidos de câncer enfrentam momentos e situações de fragilidade, passam por restrições físicas e alimentares; todo o processo pode ser muito desconfortante, além do que, nem sempre é o pai ou a mãe que acompanha a criança em fase de tratamento, e sim outro familiar. O tratamento pode levar anos; algumas crianças ainda têm que passar pela situação difícil, de ter que se transferir para outra cidade, em busca de tratamento mais adequado. Diante de tantas dificuldades, a leitura pode servir de alívio das tensões, assim como outras atividades lúdicas que minimizem, por algum tempo, todos os incômodos causados pela doença. Almeida (2014) diz que “são poucos os que sentam para ouvir histórias, são poucos os que se dedicam a contar histórias, por serem poucos, são raros e necessários”.
Pretendeu-se proporcionar momentos de interação, explorando o lado lúdico, despertando o gosto pela leitura nas crianças e adolescentes portadores de câncer da AACC/MS, por meio da biblioterapia. Foi com essa concepção que se idealizou este trabalho. Complementando Almeida (2014) destaca que “Livros nos fazem livres, pois livros nos transformam em livros, livros nos trazem fluência verbal e nos tornam partícipes da sociedade”.
Iniciou-se a pesquisa com a revisão da literatura que trata do tema, a fim de conhecê-lo e de verificar as possibilidades de aplicação da biblioterapia no contexto hospitalar, e com crianças e adolescentes. A pesquisa incluiu uma compilação de dados obtidos através vídeos, entrevistas, com alguns autores que tratam o tema, além de livros, artigos, teses de mestrado e doutorado. Inicialmente foi construído um modelo para o projeto de pesquisa para efetuar a pesquisa experimental de campo. Além desse conteúdo disponível na internet, esta pesquisa foi se desenvolvendo também a partir da troca de informações entre bibliotecários que já pesquisaram este tema, e que por meio da Rede Social Facebook, estão auxiliando esta pesquisa, a partir de suas experiências.
Desta maneira essa pesquisa teve como problema verificar a importância da prática da biblioterapia como auxiliar no processo do tratamento de crianças e adolescentes portadoras de câncer da AACC/MS, verificando assim se haveria realmente efeitos positivos, mesmo em tão pouco tempo, durante e após sua aplicação. O método de Biblioterapia clássica, método este por meio da contação de histórias através de livros, para efeitos de perceber um possível impacto nas crianças sujeitas da pesquisa. Para isso decidiu-se caracterizar a biblioterapia enquanto um processo bibliotecário; Estruturar um parâmetro metodológico para aplicação da biblioterapia; Registrar o processo biblioterapêutico desenvolvido com os sujeitos da pesquisa.
Esta pesquisa foi desenvolvida com empenho, sensibilidade, e espera-se que venha a contribuir com os profissionais bibliotecários, assim como profissionais da educação, que lidam com crianças em suas instituições. É importante ressaltar que a metodologia sugerida tem por base outros trabalhos e livros que tratam do tema, uma vez que a biblioterapia tem sido bastante utilizada em hospitais, clínicas, asilos, escolas. Por fim, ressalta-se que os livros que foram utilizados durante o processo de leitura, são de literatura infantil e infanto-juvenil.
3. BIBLIOTERAPIA CONCEITOS
No exterior, a abordagem da Biblioterapia é mais frequente. Nos Estados Unidos, por exemplo, há uma quantidade significativa de obras que abordam o assunto. No Brasil, porém, as publicações se restringem a Caldin (2010); SEITZ (2006) e os anteriores ao ano de 2000, sendo: García Pintos (1999); Pereira (1996); Ouaknin (1996).
Segundo Ouaknin (1996, p. 11) “a palavra Biblioterapia é composta por dois termos origem, que significam livro e terapia, sendo assim, a Biblioterapia é terapia por meio dos livros”. Os livros sobre Biblioterapia ainda são poucos, enquanto que a produção de artigos, monografias, dissertações e teses crescem gradativamente.
A leitura, além de agregar conhecimento para o leitor, também abre as portas da imaginação; muitas pessoas utilizam da leitura para fugir, por alguns minutos, da correria do dia a dia, servindo de refúgio. A leitura leva o leitor a se colocar entre as situações vividas pelos personagens dos livros, proporcionando momentos de felicidade ou tristeza, de acordo com o conteúdo da historia. A prática já ganhou até nome: biblioterapia – que busca aliviar o stress, o sofrimento, a angústia pessoal; estimular emoções, promover o diálogo entre quem lê e o ouvinte, tal como o leitor e seu eu interior. O modelo clássico de biblioterapia foi definido da seguinte forma:
A Biblioterapia clássica admite a possibilidade de terapia por meio da leitura de textos literários. Contempla a leitura de histórias e os comentários adicionais a ela. Propõe práticas de leitura que proporcionem a interpretação do texto. O fundamento filosófico essencial da Biblioterapia é a "identidade dinâmica". O processo de identificação do leitor/ouvinte vale-se da introjeção e da projeção. Parte-se do pressuposto que toda experiência poética é catártica e que a liberação da emoção produz uma reação de alívio da tensão e purifica a psique, com valor terapêutico. (CALDIN, 2001, p. 27).
Para essa autora, “a literatura possui a virtude de ser sedativa e curativa”. Nesse sentido, o princípio básico da Biblioterapia pode ser aplicado pelo profissional bibliotecário: ler um livro para apaziguar uma dor, pois ainda segundo a autora, “Biblioterapia pode ser um ramo tanto da biblioteconomia quanto da psicologia”. Caldin, uma das referências sobre o objeto de pesquisa, definiu, em seu livro “Biblioterapia: um cuidado com o ser, o processo da Biblioterapia”, da seguinte forma e prefere fazer uma distinção:
Biblioterapeuta é o psicanalista que se vale da leitura como uma das terapias, pois desenvolve a Biblioterapia clínica com o intuito de cuidar das patologias psíquicas, o Bibliotecário, a seu turno, desenvolve a Biblioterapia de desenvolvimento, quer dizer, cuida do ser na sua totalidade, sem fazer julgamento do que é ou não normal. Costumo chamá-lo de ‘aplicador da Biblioterapia’. Não é um título tão charmoso quanto o primeiro, mas me parece mais justo. (CALDIN, 2010, p.24).
A definição “aplicador da Biblioterapia” vem ao encontro do perfil que o bibliotecário possui, enquanto mediador da informação, por meio de suas atividades de contação de histórias. Torna-se evidente que esse profissional, não sendo um psicanalista, não trabalhará com o desenvolvimento psíquico ou análise de pacientes, sendo assim não praticará nenhum método psicológico. O bibliotecário fará uso, tão somente, de sua habilidade em conduzir a leitura, por meio da contação de histórias, para cativar o leitor, envolvê-lo com o que é lido, com a dinâmica que o levará ao imaginário.
Conforme Seitz (2006), entre 1802 e 1853, foram realizadas as primeiras experiências em Biblioterapia por médicos americanos, os quais indicavam a leitura de livros, previamente selecionados e apropriados às necessidades individuais de seus pacientes, como parte do tratamento. Seitz (2006, p. 19) conceitua Biblioterapia como:
Um programa de atividades selecionadas envolvendo materiais e leituras planejados [sic], conduzidas e controladas como um tratamento, sob a orientação médica para problemas emocionais e de comportamento, devendo ser administrada [sic] por um bibliotecário treinado de acordo com as propostas e finalidades prescritas. Os fatores importantes dessa atividade são: os relacionamentos estabelecidos, as respostas e as reações do paciente, a entrega do relatório ao médico para interpretação, a avaliação e a direção do acompanhamento. (SEITZ, 2006, p.19).
Seitz (2006), em uma experiência realizada com pacientes internados em clínica médica, observou que a prática biblioterapêutica “tornou a hospitalização menos agressiva e dolorosa.” Ela ressalta que, quando o paciente lê, ele viaja em um mundo novo de aventuras e fantasias, desligando-se dos problemas, das angústias, do medo e das incertezas, sentindo-se aliviado das tensões emocionais.
Garcia Pintos (1999, p. 50) justifica, em seu livro que focaliza especialmente o texto, o livro, como um possível recurso terapêutico e apresenta exemplos concretos de prosa e poesia que não esgotam a projeção maravilhosa de todo material que pode ser usado para este fim. O autor define o ser humano da seguinte forma:
O ser humano é sempre incompleto, vive e luta para se completar e vai alcançando o seu objetivo ao longo da vida, de muitas maneiras, especialmente através e a partir dos vínculos que vai constituindo. Assim, as relações familiares, sociais, de trabalho e os suas relações com a cultura o vão integrando como se fossem abraços que, ao apertá-lo, o unem cada vez mais nas suas próprias partes constitutivas. Dentro desta trama de relações, a relação terapêutica adquire uma tonalidade muito especial. Ela se insere no grupo das relações de ajuda, assumindo características próprias. (GARCIA PINTOS, 1999, p, 50).
Tudo quanto foi vivenciado na Casa de Apoio2 da AACC/MS resume-se no que o autor expressa, pois as crianças e adolescentes em fase de tratamento do câncer estão se superando a cada dia que passa, fazendo o tratamento na expectativa de cura, e vivendo da melhor forma possível, mantendo seu espírito infantil, e a interação com voluntários tem tido um efeito muito positivo nesse processo, são pessoas que doam um tempo para contar histórias, trabalhar artesanato ou, simplesmente, conversar com esses doentes.
4. BENEFICÍOS DA LEITURA
O hábito da leitura é de suma importância, pois com ele, testam-se experiências e valores. Pela leitura adquirimos novos conhecimentos, novas ideias e o mundo parece ficar menor e melhor. A leitura de um livro desenvolve a capacidade verbal, aprende-se gramática e vocabulário. Nada é tão importante para o desenvolvimento intelectual quanto uma boa leitura. Ler é sempre muito bom. A vida não é um conto de fadas, paras as crianças e adolescentes da AACC/MS, por isso a Biblioterapia mostra-se um lenitivo diante da dor que sentem, por meio da contação de histórias e dos diálogos entre essas crianças e o contador de histórias, aqui, o próprio pesquisador e autor deste trabalho.
Somente com livros silenciosos e sonolentos, no escuro silencioso dos espaços eventualmente abertos, a leitura não nasce, porque quem a faz nascer e existir são seus leitores com a mediação dos educadores de biblioteca. A leitura de um livro não preexiste ao leitor; é criada por ele. (SOUZA et al, 2009, p. 164).
Segundo Freire (2006), “não se deve exigir um número x para a leitura durante um semestre ou ano, essa insistência é errônea por parte dos professores e professoras”. Percebe-se que Freire defendia a leitura de forma prazerosa, em lugar de ser uma ‘camisa de força’.
5. CÂNCER INFANTO-JUVENIL
Segundo o INCA–Instituto Nacional de Câncer3, o avanço no tratamento do câncer infanto-juvenil foi expressivo, nas últimas quatro décadas: 70% das crianças/adolescentes podem ser curadas, se diagnosticadas precocemente e tratadas em centros especializados. No Brasil, por ano, são estimados mais de 9.000 casos novos de câncer infanto-juvenil, considerada a segunda maior causa de mortalidade proporcional entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos, para todas as regiões. Ficar atento aos primeiros sinais e sintomas do câncer infanto-juvenil é fundamental para um diagnóstico precoce e início imediato do tratamento, o que garante o alto índice de cura e qualidade de vida. Os sintomas mais comuns da doença, geralmente são: perda de peso, palidez inexplicável, manchas roxas, sangramento pelo corpo sem machucado, febre prolongada de causa não identificada, vômitos acompanhados de dor de cabeça, diminuição da visão ou perda de equilíbrio, dores nos ossos ou nas juntas, com ou sem inchaços, existências de caroço em qualquer parte do corpo, principalmente na barriga, crescimento do olho, podendo ser acompanhado de mancha roxa local.
Apesar de o câncer ser raro em crianças, ele é a causa de morte mais frequente nessa idade, ficando abaixo, apenas, de acidentes e de doenças infecciosas. O câncer não é uma doença contagiosa, por isso, na maior parte dos casos, não se sabe por que uma criança desenvolveu um tumor. Sabe-se que, em geral, as crianças não herdam o câncer dos pais e nem nascem com ele.
5.1. ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DAS CRIANÇAS COM CÂNCER – AACC/MS
Segundo o site institucional da Associação dos Amigos das Crianças com Câncer – AACC/MS, a instituição atende crianças e adolescentes de zero a 19 anos, vindos da capital e do interior de Mato Grosso do Sul. Na época de sua fundação, em 29 de março de 1998, havia total falta de condições de atendimento à criança com câncer no Estado; duas grandes metas foram definidas: a providência de um local para abrigar as crianças e de outro, no qual essas mesmas crianças pudessem receber tratamento médico-hospitalar. A instituição tem Sede própria e Casa de Apoio, cuja obra de ampliação terminou em junho de 2011. Existe, ainda, o Centro de Tratamento Onco Hematológico Infantil - CETOHI4, inaugurado em 16 de maio de 2000, localizado no 8º andar do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, fruto de parceria entre Governo do Estado do Mato Grosso do Sul, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Os recursos financeiros arrecadados para a manutenção mensal da instituição e implantação de novos projetos são provenientes de doações, parcerias e captação de recursos por meio de campanhas, projetos e eventos, garantidos pela expressiva participação da comunidade local, colaboradores e voluntários. Mais de 1.000 crianças/adolescentes já foram atendidas pela AACC/MS e a taxa de cura, hoje, no Estado, se aproxima a 65%, confirmando que as ações são desenvolvidas com credibilidade. (AACC/MS, 2014)
Essa entidade oferece, por meio da Casa de Apoio, acolhida, hospedagem com 60 leitos/dia, refeições, cesta básica, apoio psicológico, nutrição e de assistência social; atividades lúdico-pedagógicas que garantem, na Classe Hospitalar, em parceria com o Governo do Estado, a continuidade escolar; brinquedoteca, atividades lúdicas que incluem passeio-terapia, musicalização, expressão corporal através de dança, biodança; estação informática, introdução à linguagem digital para o jovem. O cantinho da beleza - Estação Zion - facilita a aceitação da perda dos cabelos no período da quimioterapia. Trata-se, também, de um auxílio à reconquista da autoestima das mães acompanhantes, que podem, ainda, receber escolarização e realizar atividades artesanais que visam melhor qualidade de vida e fonte de renda.
6. METODOLOGIA
Tudo começou com um encontro amistoso com a Coordenadora da AACC/MS e a Coordenadora Geral do Voluntariado da instituição, em horário marcado por elas, para a apresentação do projeto, detalhamento da pesquisa e sondagem em referente ao local de realização das atividades previstas. Após apresentar o projeto, os métodos, os livros a serem utilizados, a carta de apresentação (APÊNDICE A), foi autorizada a pesquisa com as devidas supervisões dos profissionais que atuam no local. Estipulou-se o período matutino para trabalhar com as crianças e adolescentes da AACC/MS - Casa de Apoio, dependendo das condições de cada sujeito, pois existe acentuada rotatividade no local, em razão de algumas crianças e adolescentes se ausentarem, pela manhã, para fazer tratamento no CETOHI, e outros que, perto dos fins de semana retornam às suas residências.
A fim de se vencer o tema da pesquisa e os objetivos propostos, inicialmente realizou-se a verificação de alguns documentos referentes à AACC/MS, em busca do histórico da instituição e do perfil dos pacientes atendidos no local. A pesquisa caracteriza-se como experimental, de campo, passível de observação objetiva e participativa, instrumentalizada por entrevista individual semiestruturada aplicada aos sujeitos da pesquisa, após cada encontro; neste caso são crianças e adolescentes que estão na Casa de Apoio da AACC/MS. Uma segunda entrevista foi elaborada, a fim de verificar a importância do trabalho realizado, no local, pelo pesquisador, autor deste artigo. Esse instrumento foi aplicado ao final da pesquisa, às responsáveis pela supervisão das atividades realizadas por esse pesquisador. Os dados coletados foram descritos qualitativamente. Em razão das circunstâncias em que a pesquisa foi realizada, houve a necessidade de se elaborar uma carta de apresentação, solicitando autorização da AACC/MS para a realização do estudo no local, com as crianças e adolescentes atendidos na instituição.
Ao apresentar os métodos de pesquisa e todos os procedimentos e materiais de leitura que seriam utilizados, mediante a autorização, o pesquisador foi acompanhado, durante os encontros, da Psicóloga Clínica que atua na instituição, no atendimento psicológico das crianças e adolescentes, a fim de conferir se os procedimentos da pesquisa estavam de acordo com o que foi detalhado na carta de apresentação.
A experimentação, segundo Fonseca (2014), é a parte da pesquisa propriamente dita, é quando o pesquisador vai a campo, e vai testar tudo o foi proposto no início do projeto, etapa em que o pesquisador vai obter a confirmação ou não do problema de pesquisa.
De acordo com Tjora (2006), entrevistas e observação são técnicas interativas, visto que a entrevista conduz o pesquisador para a observação, enquanto que as observações podem sugerir os aprofundamentos necessários para as entrevistas. Através da observação pode-se redefinir o rumo da pesquisa e do diálogo com os sujeitos informantes, sendo assim, a observação atenta dos detalhes coloca o pesquisador dentro do cenário de forma que ele possa compreender a complexidade dos ambientes psicossociais, ao mesmo tempo em que lhe permite uma interlocução mais competente. (ZANELLI, 2002).
A preferência por este tipo de pesquisa decorre do fato de ela proporcionar uma interação maior entre o pesquisador e os sujeitos participantes, o que aumenta as chances de aceitação. No caso desta pesquisa, os sujeitos precisam de apoio, carinho e atenção, em razão de suas condições específicas. Muitas vezes eles querem ouvir histórias e também falar sobre elas, dialogar sobre diversos assuntos. Ressalte-se que, a cada encontro, havia um registro individual com base na observação do pesquisador e na opinião do sujeito da pesquisa com relação a atividade proposta.
6.1. PROCEDIMENTOS E ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS
Como já descrito, para se dar conta do tema, do problema levantado e dos objetivos propostos para esta pesquisa, utilizaram-se quatro instrumentos de coleta de dados: análise documental do local, uma entrevista com perguntas semiestruturadas para cada sujeito, a cada encontro, a observação participante, uma segunda entrevista ao final da pesquisa com as responsáveis da instituição participante que acompanharam todo o processo.
A atividade prevista no projeto foi realizada em grupo, e, às vezes, individualmente, pois cada criança ou adolescente tem sua rotina de tratamento. No primeiro dia de encontro, no entanto, no período matutino havia no local, seis participantes da pesquisa, um bom número, uma vez que se achavam nos preparativos para a festa em comemoração ao dia das crianças. A presente pesquisa foi construída durante quatro encontros, sendo que o último foi realizado a entrega de kits de leitura, contendo: livros novos, figuras para colorir, e um cartão de agradecimento. O total de participantes desta pesquisa foram sete sujeitos.
7. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS COLETADOS
Visando à melhor organização na apresentação dos dados coletados, esta parte do trabalho está sistematizada de acordo com a ordem em que os instrumentos foram utilizados.
7.1. APRESENTAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA
A amostra da pesquisa é de sete sujeitos, sendo crianças e adolescentes acometidos de câncer, com idade de 7 a 15 anos, que estão em fase de tratamento na AACC/MS e que residem na Casa de Apoio da instituição. O grupo era composto de meninos e meninas. A cada encontro o número de participantes era diverso, o que já era esperado, pelo fato de alguns deles receberem tratamento no CETOHI e outros acordarem em horários diferentes. Algumas vezes foram realizadas leituras em grupo, outras vezes, a leitura foi individual. A participação foi voluntária por parte das crianças e adolescentes, com a devida autorização preenchida por seus responsáveis (APÊNDICE B). Nenhuma criança e adolescente teve seu nome revelado durante a pesquisa; a identificação foi feita por meio de letras do alfabeto: sujeito A, sujeito B, e assim sucessivamente. Os gostos das crianças e adolescentes, bem como suas idades, influenciaram na escolha das atividades de leitura, assim como as de conversação.
O sujeito “A” é do sexo feminino e tem 7 anos de idade. A atividade com esta participante foi realizada individualmente, na brinquedoteca da casa de apoio, pois já havia sido feita uma atividade em grupo da qual ela não havia participado por não se achar no local. A primeira atividade de leitura foi com o livro “Não chame mexilhão de peixe”, um livro muito interativo, que proporcionava a colagem dos personagens e itens citados durante a contação de história. Este sujeito estava muito interessado na história, principalmente pela colagem dos adesivos.
O sujeito “B“ é do sexo masculino e tem 13 anos de idade; é torcedor do Corinthians (time de futebol do estado de São Paulo). No começo da atividade não queria participar, porém se sentou junto ao grupo e passou a escutar e acompanhar a contação. Adora jogar vídeo game, atividade que todos os sujeitos da pesquisa do sexo masculino fazem durante o dia; leitura só é feita para passar o tempo enquanto estão no CETOHI.
As crianças e adolescentes portadoras de câncer da AACC/MS são auxiliadas pelos voluntários, porém é necessário que haja uma identificação entre sujeito e voluntários. São poucos os voluntários do sexo masculino, razão por que há boa receptividade da parte dos meninos pelos voluntários do sexo masculino, pois antes mesmo da contação de histórias já se falava sobre futebol e vídeo game.
Nesse sentido, havia uma preocupação em relação à timidez por parte dos sujeitos do sexo feminino, porém aos poucos tiveram o contato com os livros apresentados e dialogando com o pesquisador, inicialmente um contato suave, houve uma interação excelente com todas as participantes. É necessário comprometimento, amor, gosto por estar ali doando tempo para as crianças. Porém, o mais gratificante foi perceber que as crianças abriam mão do seu tempo com vídeo game para ler um livro.
O sujeito “C” é do sexo masculino e tem 13 anos de idade, gosta muito de computador, de acessar a internet, mexer no celular, jogar vídeo game para passar o tempo e ficar junto com seus colegas. Acompanhava a leitura enquanto conferia o celular. Já o sujeito “D” é do sexo feminino e tem 11 anos de idade, gosta muito de ouvir histórias, sempre acompanhou a contação de uma história lendo-a em um volume repetido do livro onde ela estava escrita. O sujeito “E” é do sexo masculino e tem 11 anos de idade, às vezes lê gibi na brinquedoteca da casa de apoio, gosta de jogar vídeo game para ficar com os amigos.
Observou-se que um forte vínculo foi criado entre todos os sujeitos da pesquisa; realmente, ali vive uma família que se une pelos laços da convivência: almoçam, brincam, fazem diversas atividades juntos.
O sujeito “F” é do sexo masculino e tem 13 anos de idade, não gosta de ler livros, porém gosta muito de ouvir histórias, pois, segundo ele, desperta a imaginação. Por fim, o sujeito “G” é do sexo feminino e tem 15 anos de idade, gosta de ouvir histórias, não faz leitura no local e já estava sendo liberada para ficar em casa.
7.1.1. ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA INICIAL
Era o primeiro contato do pesquisador com os sujeitos da pesquisa, um momento importante para garantir a aceitação por parte dos sujeitos a fim de não comprometer a pesquisa. O 1° encontro foi muito importante para o pesquisador, assim como para os sujeitos; cada um se apresentou, disse a idade, o que mais gosta de fazer, e logo após a contação houve uma conversação a respeito da história, um bate papo descontraído.
A primeira pergunta dirigida, individualmente, aos sujeitos da pesquisa, foi: Faz uso de livros, revistas para leitura no local?
Os sujeitos A, C, D, F, G responderam NÃO, contrariamente aos sujeitos B, E, que responderam SIM. Observou-se que mesmo que no local existam livros e gibis para leitura, cinco sujeitos da pesquisa não a praticam como atividade de lazer, preferindo brinquedos e jogos eletrônicos. Esses participantes preferem ouvir histórias, contudo, os voluntários do local não fazem a contação de histórias, que seria uma forma de se criar vínculo entre sujeito e livro.
Ao serem questionados sobre o que mais gostam de fazer na AACC/MS, os participantes responderam da seguinte forma:
Sujeito A: Desenhar, assistir, pintar. Sujeito B: Jogar vídeo game. Sujeito C: Jogar vídeo game. Sujeito D: Brincar e desenhar. Sujeito E: Jogar vídeo game. Sujeito F: Jogar vídeo game. Sujeito G: Brincar, desenhar, assistir.
Durante o período que passam na casa de apoio, uma das atividades que os sujeitos do sexo masculino mais fazem é jogar vídeo game durante o dia, pois, segundo eles, é mais legal, gostam de jogar com os amigos que estão ali em fase de tratamento. Já os sujeitos do sexo feminino gostam de brincar, desenhar e assistir TV. Uma atividade comum a todos é a confecção de alguns trabalhos de artesanato com a voluntária do local.
Durante as atividades de leitura, desenho, conversação, estabelecidas no primeiro encontro, foi-lhes apresentado a figura do Bibliotecário/Contador de Histórias. Ao final das atividades a cada sujeito foi indagado se faria a leitura com auxilio de um contador de histórias bibliotecário, ao que todos responderam “Sim”. Estas respostas demonstraram que há interesse pela leitura, mas esta precisa estar ao alcance dos sujeitos de uma forma que os cative, que os faça interessados e os leve a ler. Na medida em que essas crianças e adolescentes gostam de conversar e de escutar histórias, faz-se necessário a presença de uma pessoa que crie vínculo com elas, assim como foi feito; logo pela manhã iniciava-se a leitura e todos já estavam aguardando para a contação.
7.1.2. OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
Para registro dos dados obtidos por meio da observação participante, utilizou-se uma ficha para registrar (ANEXO A), na qual se descreviam as atividades propostas, o tempo de duração, suporte utilizado, entre outras informações.
A partir da observação participante foi possível perceber algo que uma entrevista convencional não daria a conhecer: durante a aplicação da biblioterapia, através da contação de histórias, ficou evidente que a maioria dos sujeitos da pesquisa acompanhava atenta, o desenrolar da história, já que lhes era oferecido o mesmo livro que o pesquisador/contador utilizava.
7.2. ENCONTROS
7.2.1. PRIMEIRO ENCONTRO
O primeiro encontro ocorreu no dia sete de outubro, no período da manhã, quando se apresentou a pesquisa para os responsáveis pelas crianças e adolescentes, presentes no local, naquele momento. Foi-lhes solicitado que, de forma espontânea, caso concordassem com que seus filhos participassem da pesquisa, assinassem o termo de consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE B). Logo em seguida o pesquisador se deslocou até a brinquedoteca onde foi apresentado, de modo mais formal, aos participantes da pesquisa, pela coordenadora geral de voluntariado da AACC/MS.
Neste dia havia um número maior de crianças no local, devido à festa que aconteceria no período vespertino, em comemoração ao dia das crianças. Os participantes escolheram um livro para iniciar a leitura - havia três livros iguais, justamente para os sujeitos da pesquisa acompanhassem a leitura e manuseassem o livro, identificando as ilustrações, despertando o imaginário através das figuras. Houve a participação de seis sujeitos da pesquisa, que participaram da leitura em grupo, através da contação do livro: O Pequeno Príncipe e a Rainha Jade, atividade teve duração de uma hora, entre a contação e o diálogo entre pesquisador, sujeitos, sobre a história. Relata-se como positivo o primeiro encontro entre o pesquisador, sujeitos da pesquisa e os livros, e pode-se constatar o interesse pela leitura, mesmo que estes não a façam durante suas atividades de lazer no local. A semente foi plantada, pois todos estavam ansiosos em saber quais seriam os livros para o próximo encontro.
7.2.2. SEGUNDO ENCONTRO
O segundo encontro ocorreu no dia oito de outubro, também no período da manhã, todos aguardavam a abertura da brinquedoteca, para suas atividades diárias, realizadas com o auxilio de voluntários do local. Logo receberam o pesquisador, buscando ver quais os livros que foram trazidos, sendo realizada a atividade de leitura do livro: O Pequeno Príncipe e o Planeta do Astrônomo, com a participação de cinco sujeitos, em seguida foi realizado um bate papo sobre a história, e o que cada um gostou do livro. Essa atividade teve a duração de uma hora, os sujeitos, participaram expondo suas opiniões.
7.2.3. TERCEIRO ENCONTRO
O terceiro encontro ocorreu no dia nove de outubro, com a participação de dois sujeitos da pesquisa, neste dia, três sujeitos estavam em tratamento no CETOHI pela manhã, e outros já haviam retornado para suas respectivas cidades, foi proposto o suporte de leitura, por meio de filme, através de dois curta metragem, relacionados a leitura, são eles: A menina que odiava livros; Os fantásticos livros voadores do senhor Lessmore. A atividade durou uma hora, após assistirem os filmes, houve um dialogo entre pesquisador e sujeitos, demonstrado a importância da leitura, e de como ela pode despertar a imaginação de cada um, e lhes perguntando o que imaginavam enquanto assistiam.
7.2.4. QUARTO ENCONTRO
O quarto encontro ocorreu no dia dez de outubro, foi o último dia de contato entre pesquisador e sujeitos, contando com a presença de três sujeitos da pesquisa, além de duas crianças que estavam ali na brinquedoteca, foi um dia de despedida, pois a pesquisa já havia se encerrado no dia anterior, neste momento o pesquisador agradeceu a todos da AACC/MS pelo acolhimento, em especial os sujeitos da pesquisa. Foi entregue kits de livros, desenhos para colorir, cartão de agradecimento, o mesmo para a Coordenadora de voluntários e a Psicóloga Clinica. Houve um bate papo com todos, e deixando expectativas de se fazer um trabalho para o próximo ano, em prol das crianças e adolescentes da AACC/MS.
7.2.5. ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA FINAL
Encerradas as atividades concernentes à pesquisa, elaborou-se um roteiro para a entrevista com duas coordenadoras da AACC/MS, profissionais que acompanharam passa a passo a pesquisa, desde sua preparação até a sua finalização. Foram duas perguntas iguais para cada uma delas. Às perguntas, seguia-se um espaço para que as coordenadoras registrassem um comentário avaliativo da participação do pesquisador.
Devido à rotina de trabalho de cada uma, as questões foram enviadas por correio eletrônico, o que acabou por descaracterizar o método aplicado, que tomou a forma de questionário. Desta vez a proposta é registrar a avaliação que essas coordenadoras fazem em relação à utilização da Biblioterapia com crianças e adolescentes acometidos de câncer, em tratamento na AACC/MS e à forma como o profissional bibliotecário pode contribuir no trabalho dessa instituição.
Apresentam-se, primeiramente, as respostas concedidas pela Coordenadora Geral do Voluntariado da AACC/MS, seguidas da respectiva avaliação.
Pergunta 1 - Em sua opinião, de que forma a leitura, como lazer, pode contribuir ou auxiliar durante o processo de tratamento das crianças e adolescentes em fase de tratamento do câncer, aqui da AACC/MS – Casa de Apoio?
Resposta: “A leitura sempre auxilia em qualquer momento, porque através dela, podemos soltar a imaginação, sonhar, criar, estimular a criatividade, inventar, passar o tempo, interagir com a história. Em especial às nossas crianças que estão hospitalizadas ou em ambiente como o nosso de tratamento de saúde, é muito importante porque distrai o pensamento, interage com os colegas, compartilha as sensações, alivia a dor, a saudade do tempo que estão ausentes da família ou das suas atividades rotineiras, pode encontrar suporte para o enfrentamento dos sintomas de sua doença e suas consequências.”
Pergunta 2: Você acredita que a presença de um profissional Bibliotecário que faça a contação de histórias e outras atividades lúdicas pode contribuir de alguma forma com a AACC/MS – Casa de Apoio e com as crianças e adolescentes atendidos aqui no local?
Resposta: “Com certeza, porque este profissional possui as ferramentas necessárias para indicar a melhor leitura, de acordo com a idade e interesse da criança ou adolescente e também sabe conduzir a história de forma mais prazerosa, que se torna um momento de alegria e satisfação e aprendizado. Gostaríamos muito de ter um profissional voluntário desta área porque temos espaço apropriado e interesse em desenvolver estas atividades com nossas crianças e adolescentes.”
Avaliação: “Muito obrigada pelo carinho que tratou nossa instituição, nossas crianças e adolescentes. As portas estão abertas para você que demonstrou muita sensibilidade, responsabilidade e carisma, além do seu profissionalismo. Desejamos que em breve você possa ser nosso voluntário e trabalhar conosco neste projeto tão legal de biblioterapia. Obrigada pelo presente. Deus te abençoe e te proteja e que você tenha muito sucesso em sua vida. Abraços”.
Em seguida, apresentam-se as resposta da Psicóloga Clínica que atende as crianças e adolescentes, que acompanhou a pesquisa, sempre aberta ao diálogo com o pesquisador e concedendo apoio durante todo o processo.
Pergunta 1 - Em sua opinião, de que forma a leitura como lazer, pode contribuir ou auxiliar durante o processo de tratamento das crianças e adolescentes em fase de tratamento do câncer, aqui da AACC/MS – Casa de Apoio?
Resposta: “Nossas crianças em seu tratamento oncológico passam por muitas restrições, e é fundamental que as estimulemos com uma boa leitura para assim transportá-las para ricas vivências, contribuindo para um bom desenvolvimento da infância”.
Pergunta 2: Você acredita que a presença de um profissional Bibliotecário que faça a contação de histórias e outras atividades lúdicas, pode contribuir de alguma forma com a AACC/MS – Casa de Apoio e com as crianças e adolescentes atendidos aqui no local?
Resposta: “A presença de um Bibliotecário é de grande valia para a instituição, pois tem a formação técnica para exercer a contação de histórias de maneira que a criança sinta motivada, e nos dias difíceis de enfrentamento da doença possa aprender relaxar e fantasiar, levando assim uma vida mais próxima de uma criança normal sem nenhuma enfermidade.”
Avaliação: “Obrigada pelo tempo que passou aqui conosco, esperamos ter contribuído para sua formação e que em breve esteja de volta contribuindo para a cura de nossas crianças com o seu saber! Grata. Bom, quanto, ao seu desempenho só tenho a dizer que ficamos todos muito satisfeitos com seu trabalho, pois encantou as crianças e adolescentes driblando até mesmo o inimigo mais forte da leitura que é o vídeo game (risos), brincadeirinha mais é sério. Sua postura diante de seu trabalho chama a atenção, deixa claro seu comprometimento com o que faz. Sucesso, você merece!”.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aplicação da biblioterapia a partir de atividades de leitura, contação de histórias, desenhos, realizadas com as crianças e os adolescentes da AACC/MS, foi muito positiva. Houve receptividade da parte dos sujeitos da pesquisa em relação ao pesquisador, o material de leitura mostrou-se adequado ao perfil de cada sujeito, notou-se importante interatividade que transformou aquele momento em algo agradável de ser feito, em um elemento de lazer que se acrescenta ao dia a dia dos sujeitos da pesquisa.
Mesmo que os sujeitos não tenham o hábito de ler, nos espaços da instituição, demonstraram interesse pela leitura, pelos livros, pela atividade de conversação ao final de cada leitura, o que leva à inferência de que o gosto pela leitura foi despertado e eles poderão continuar a atividade em outros momentos, ainda que se faça necessário o auxilio de um voluntário, um bibliotecário contador de histórias.
Foi possível observar que as crianças e adolescentes acometidos de câncer, da AACC/MS não são diferentes de outras crianças e adolescentes que não têm o hábito de leitura. O público dessa instituição, que não tem uma rotina de leitura, precisa ser cativado com novas formas de se trabalhar essa atividade, algo que proporcione para eles um momento de lazer, descontraído, que os leve a sentir vontade de ler, de escutar histórias. Foi curioso perceber que embora muitos dos sujeitos da pesquisa preferem jogar vídeo game, quando lhes foi proposta uma forma de leitura que os agradasse, mais dinâmica, que despertasse a imaginação, com oportunidades para que cada um comentasse o que ocorria no conto, todos se envolveram e participaram espontaneamente.
Os resultados observados confirmam que a biblioterapia, como atividade de lazer, pode proporcionar um momento de interação social, momento que desperta o lado lúdico da criança. Cada sujeito da pesquisa tem suas particularidades, portanto o Bibliotecário precisou ter um perfil característico de contador de histórias, utilizando de suas técnicas de pesquisa para identificar o perfil do seu leitor, adaptar-se ao ambiente. É pertinente que se ressalte que desde o início a aceitação do pesquisador pelo grupo foi imediata, houve uma identificação de ambas as partes.
A pesquisa esteve restrita ao estado de saúde dos sujeitos, que, em fase de tratamento, ficam sujeitos deslocamentos e transições de espaços. Pode-se afirmar que a biblioterapia para as crianças e adolescentes da AACC/MS foi positiva como um complemento de suas atividades de lazer. Os sujeitos da pesquisa viram os livros e o contador de histórias – no caso, o pesquisador - como algo interessante; a brinquedoteca se tornou em um lugar ainda mais agradável. Os sujeitos da pesquisa do sexo masculino e feminino não costumam fazer atividades juntos, mas através da leitura oferecida todos participaram atentamente e faziam suas observações.
Pretende-se continuar a pesquisa dentro dessa linha, bem como se pretende manter a atividade de contação de histórias na AACC/MS, visando à criação da biblioteca da Casa de Apoio, contribuindo com toda a equipe com projetos culturais que envolvem a leitura e outras atividades lúdicas.
Esta atividade de biblioterapia pode ser aplicada por bibliotecários que queiram ajudar a sociedade, que tenham amor pela profissão, que se deixam envolver. Grande parte das vezes, o que as pessoas precisam é tão somente de incentivo para começar a ler, precisam de um livro. No caso das crianças e adolescentes da AACC/MS, há necessidade de voluntários.
Aproveita-se este espaço para considerar a relevância de se pensar em incluir, na grade curricular dos cursos de Biblioteconomia e de Pedagogia, a disciplina “Biblioterapia”, a fim de conhecerem este campo de atuação e, também, serem capacitados para o desenvolvimento de atividades cujo objetivo seja trabalhar a leitura também como forma de minimizar situações de adversidade.
9. REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DAS CRIANÇAS COM CÂNCER. Disponível em: <http://www.aacc-ms.org.br/>. Acesso em: 23 jun. 2014.
ALMEIDA, Inajá Martins de. Publicação eletrônica [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <jonispmarques@hotmail.com> em 20 abr. 2014.
CALDIN, Clarice Fortkamp. Biblioterapia: um cuidado com o ser. São Paulo: Porto de Ideias, 2010. 199 p.
CALDIN, Clarice Fortkamp. A poética da voz e da letra na literatura Infantil: (leitura de alguns projetos de contar e ler para crianças). 2001. 261 f. Dissertação (Mestrado em Literatura) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 47 ed. São Paulo: Cortez, 2006. 87p.
FONSECA, Regina. O Método Científico e os Tipos de Pesquisa. (21 min), son., color. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=ey9bTshV308>. Acesso em: 23 jun. 2014.
GARCÍA PINTOS, Claudio. A logoterapia em contos: o livro como recurso terapêutico. Paulus: São Paulo, 1999.
OUAKNIN, Marc-Alain. Biblioterapia. São Paulo: Loyola, 1996.
SEITZ, Eva Maria. Biblioterapia: uma experiência com pacientes internados em clínica médica. Florianópolis: Habitus, 2006.
SOUZA, Renata Junqueira, organizadora. Biblioteca escolar e práticas educativas: o mediador em formação. Campinas – SP: Mercado das Letras, 2009.
TJORA, Aksel. Writing small discoveries: an exploration of fresh observers’ observations. Qualitative Research, London, v. 6, n. 4, p. 429-451, 2006.
ZANELLI, José Carlos. Pesquisa qualitativa em estudos da gestão de pessoas: Estudos de Psicologia, v. 7, p. 79 - 88, 2002.
9.1. Notas
1 Disponível em: http://www.aacc-ms.org.br/aaccms/. Acesso em: 10 set. 2014.
2 Casa de Apoio: local de moradia provisória das crianças, adolescentes, com seus respectivos acompanhantes.
3 Fonte: INCA – Instituto Nacional de Câncer e GRAAC – Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer/SP
4 CETOHI – Centro de Tratamento Onco Hematológico Infantil
Publicado por: Jônis Pereira Marques
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.