ATUAÇÃO DA EQUOTERAPIA NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

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1. RESUMO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma desordem neurológica que afeta o desenvolvimento neuropsicomotor de crianças. Este trabalho tem como intuito, explanar os benefícios da técnica de Equoterapia para o tratamento do Autismo. Trata-se de um estudo do tipo descritivo, com abordagem qualitativa, através de uma pesquisa bibliográfica, onde foram usados como base de dados, os artigos indexados no Google Acadêmico, Scientific Eletronic Library Online- Biblioteca Cientifica Eletrônica em Linha (SCIELO), Monografias, além de fontes literárias. Os resultados encontrados foram favoráveis, evidenciando que o uso do cavalo junto com os materiais lúdicos e o acompanhamento fisioterapêutico, é eficaz na evolução de crianças com Autismo. Tendo como conclusão, que para os pacientes com TEA, a Equoterapia surge como uma modalidade que permite melhorias nas diversas áreas comprometidas, como na mobilidade, interação social, autoestima, comunicação, entre outras.

Palavras-Chaves: Atividade Equestre. Autismo. Fisioterapia.

ABSTRACT

Autistic Spectrum Disorder (ASD) is a neurological disorder that affects the neuropsychomotor development of children. This paper aims to explain the benefits of the Equine Therapy technique for the treatment of Autism. This is a descriptive study, with a qualitative approach, through a bibliographical research, where the articles indexed in Google Scholar, Electronic Eletronic Library Online (SCIELO), Monographs , as well as literary sources. The results were favorable, evidencing that the use of the horse along with the play materials and the physical therapy accompaniment, are effective in the evolution of children with Autism. As a conclusion, for patients with ASD, Equoterapia emerges as a modality that allows improvements in the various areas involved, such as mobility, social interaction, self-esteem, communication, among others.

Keywords: Equestrian Activity. Autism. Physiotherapy.

2. INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) corresponde a um desenvolvimento anormal da interação social e da comunicação, restringindo atividades interpessoais, abrangendo crianças e adolescentes na faixa etária dos três anos, pois é quando os sinais começam aparecer, até a idade adulta onde tendem a continuar, embora muitas vezes de forma mais moderada (SANTOS et al., 2015).

Esse transtorno é uma desordem que afeta a capacidade da pessoa em se comunicar, estabelecer relacionamentos e de responder apropriadamente ao ambiente que a rodeia. Suas principais características estão relacionadas a comportamentos repetitivos, dificuldades na fala, e na expressão de emoções, ausência de reciprocidade social ou emocional, e na incapacidade de desenvolver e manter vínculos de amizades (SANTOS, 2011).

É uma patologia que acomete mais meninos do que meninas, e suas manifestações vão variar de acordo com a idade cronológica de cada indivíduo, podendo ser classificada como uma síndrome que abarca subtipos variados, caracterizando-se, sobretudo, como um conjunto de sintomas iniciados na infância. Seu diagnóstico é clinico, sendo realizado por uma equipe multidisciplinar (CUNHA, 2009).

Existem diversas modalidades de intervenções que podem auxiliar no desenvolvimento de pessoas com TEA, uma destas opções é a Equoterapia, um método terapêutico que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, desenvolvendo uma melhora biopsicossocial em pessoas portadoras de necessidades especiais (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA, 2012). Com base no exposto supracitado, questiona-se como a Equoterapia irá atuar durante o tratamento dos indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA)?

O Autismo é uma doença que afeta o desenvolvimento neuropsicomotor de crianças, e nos últimos anos o número de pessoas com TEA tem crescido em cerca de dois milhões no Brasil (OLIVEIRA, 2016). Tendo a Equoterapia como um dos tratamentos muito utilizado na atualidade, devido aos estímulos produzidos pelos movimentos do cavalo, pois sua marcha é bem semelhante ao do ser humano. Diante disso o presente estudo torna-se relevante para o ambiente social, acadêmico e profissional, uma vez que levará maiores conhecimentos essenciais sobre o tema abordado.

2.1. OBJETIVOS

2.1.1. Objetivo Geral

Discutir a eficácia da Equoterapia como recurso terapêutico no tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA).

2.1.2. Objetivos Específicos

  • Descrever a utilização da Equoterapia no tratamento do TEA;

  • Abordar os resultados obtidos com os benefícios da Equoterapia;

  • Enfatizar a importância do Fisioterapeuta na realização da Equoterapia nos portadores do TEA

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1. TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)

O TEA é uma das desordens neurológicas mais comuns que afeta o desenvolvimento neuropsicomotor de crianças. Esta condição envolve uma variedade de desordens neurológicas e comportamentais com três fatores mais evidentes: dificuldades de socialização, transtornos na comunicação verbal e não verbal e padrões estereotipados repetitivos de comportamento (MACHADO, 2015).

O termo “autismo” é originado do grego autós, que significa “por si mesmo” ou “de si mesmo”, foi empregado primeiramente pelo psiquiatra Eugen Bleuter em 1911, para caracterizar o retraimento e alienação social dos esquizofrênicos, designando a perda do contato com a realidade, o que acarretava em uma grande dificuldade ou impossibilidade de comunicação, porém suas descrições ocorreram em 1943 pelo médico Leo Kanner e em 1944 por Hans Asperger (CUNHA, 2009).

Ao observar um grupo de onze crianças, Kanner notou a presença de algumas características em comum, ele denominou como “solidão autística extrema” a inabilidade do contato afetivo e interpessoal, além de constatar um atraso na aquisição da fala e linguagem anormal, aspectos físicos aparentemente normais, uma excelente função da memória e um desejo obsessivo pela manutenção da rotina, podendo essa ser rompida, em raras ocasiões somente pela própria pessoa (MATSUKURA et al., 2013).

Após um ano Asperger, realizou uma experiência semelhante com a de Kanner, porém com algumas diferenças. Ele apresentou histórias clínicas de quatro crianças e as nomeou como “psicopatia autista”, caracterizando o comportamento autista como, falta de empatia, pouca habilidade para fazer amigos, comunicação não verbal pobre, linguagem repetitiva, inabilidade motora e má coordenação (UNTOIGLICH, 2013).

O autismo é uma síndrome que apresenta várias denominações, sendo elas: Síndrome de Asperger, Autismo Atípico, Transtorno de Rett, Transtorno Desinterativo da Infância e Transtorno Global do Desenvolvimento (SOUZA et al., 2015). A partir de então vários estudos foram desenvolvidos e após 40 anos passou a ser listado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), partindo de critérios comportamentais destinados a entrar em um consenso, designando que todos os distúrbios do quadro autístico transformassem em um único grupo chamado TEA (CUNHA, 2009).

É uma patologia de etiologia desconhecida, porém estudos atuais demonstram que o autismo é multifatorial e depende de componentes genéticos e ambientais, além de estar relacionado com anormalidades em alguma parte do cérebro ainda não definida de forma conclusiva. Os dados epidemiológicos destacam que esse transtorno acomete cerca de vinte bebes entre dez mil nascidos, sendo quatro vezes mais comum entre meninos do que meninas, com frequente ocorrência entre irmãos (BENDER et al., 2016).

De acordo com Oliveira (2016) em um estudo feito na Universidade de São Paulo (USP), estima-se que existe no Brasil dois milhões de Autistas e nos Estados Unidos, uma em cada 110 crianças nascidas, são afetadas com esse transtorno. Os estudos ainda afirmam que essa doença atinja cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo, afetando a maneira como esses indivíduos se comunicam e interagem.

As manifestações dos sinais ocorrem nos três primeiros anos de vida, ocasionando um desvio em relação ao nível de desenvolvimento esperado para sua idade, podendo estar associado à deficiência intelectual ou outras comorbidades. A criança autista exibe danos significativos nas habilidades de imitação e no uso espontâneo de gestos descritivos que impedem a aquisição de comportamentos complexos e de socialização (MACHADO et al., 2015).

Segundo Sanini et al., (2010) o TEA é caracterizado como uma síndrome comportamental que tem como sintomas básicos dificuldades nas interações sociais, um atraso na aquisição da fala e no uso não comunicativo da mesma, e presença de um repertório restrito de atividades e interesses, com insistência obsessiva na rotina, limitando assim, as atividades espontâneas e imaginativas.

A falta de habilidade social e a reciprocidade também fazem parte das principais características do TEA, causando dificuldades de aprendizagem e na interação social, fazendo com que a criança fique aprisionada a rituais e sintomas, evitando emoções criando um mundo particular, onde a comunicação é um desafio que compromete o desenvolvimento saudável, o transtorno é também acompanhado de outras manifestações inespecíficas, como por exemplo, fobias, perturbações do sono ou da alimentação, crise de birra ou agressividade (ANDRADE, 2012).

Apresenta um quadro clinico, no qual os indivíduos manifestam movimentos repetitivos e complexos, onde os mais típicos envolvem as mãos e os braços, que são constantemente movimentados frente aos olhos com uma frequência idêntica, onde batem palmas ou fazem movimentos oscilatórios e, com frequência, andam na ponta dos pés. Os movimentos envolvem o corpo inteiro e se caracterizam por bruscas fugas para frente, balanceios, e hiperextensão do pescoço. Frequentemente são encontrados também comportamentos automutiladores como arrancar cabelos, se morder ou se bater (LEBOYER, 2007).

Esse transtorno pode ser diagnosticado ainda na infância, de forma clinica baseado na observação dos comportamentos, sendo realizado por uma equipe multidisciplinar. Segundo as normas da Associação Americana de Psiquiatria, na quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) e de acordo com o Código Internacional de Doença (CID-10), para que uma pessoa seja diagnosticada como autista é preciso apresentar seis ou mais dos itens a seguir, com pelo menos dois do grupo 1, um do grupo 2 e um do grupo 3 (MACIEL et al., 2009).

Conforme a autora acima citou, os três grupos formam a chamada “tríade autista”: socialização, comunicação, comportamentos focalizados e repetitivos. E estão descritos da seguinte maneira, como mostra a tabela 01.

Tabela 01: Tríade autista

Grupo 1 – Deficiências na interação social:

Grupo 2 – Deficiências na comunicação:

Grupo 3 - Comportamento focalizado

- dificuldade de se comunicar através de gestos e expressões facial e corporal; não faz amizades facilmente; não tenta compartilhar suas emoções (Ex.: não mostra coisas de que gostou); falta de reciprocidade social ou emocional (não expressa facilmente seus sentimentos, nem percebe os sentimentos alheios).

- atraso ou falta de linguagem falada; nos que falam dificuldade muito grande em iniciar ou manter uma conversa; uso estereotipado e repetitivo da linguagem (usa frases de propagandas, filmes novelas, programas de televisão, trechos ou músicas inteiras); falta de jogos de imitação (Ex: representar o papai, a mamãe, a professora – algo muito comum nas brincadeiras de crianças).

- preocupação insistente com um ou mais padrões estereotipados (Ex.: não misturar alimentos no prato, não ingerir alimentos com determinadas texturas, seguir sempre o mesmo ritual para determinadas tarefas); assumir de forma inflexível rotinas ou rituais (ter “manias” ou focalizar-se em um único assunto de interesse); maneirismos motores estereotipados (agitar ou torcer as mãos, bater a mão uma na outra, ficar olhando fixamente as mãos, ter sempre um objeto de interesse e ficar manipulando este objeto); preocupação insistente com partes de objetos, em vez do todo (fixação na roda de um carrinho ou hélice de ventiladores, por exemplo).

Fonte: Maciel et al., (2009)

Segundo Mello (2007) o TEA pode ocorrer em três níveis de gravidade, são eles: grau um: exige apoio; grau dois exige apoio substancial; e no grau três exige muito apoio substancial. Descritos conforme tabela a seguir:

Tabela 2: Divisão dos níveis de gravidade do Autismo

NÌVEL DE GRAVIDADE

COMUNICAÇÂO SOCIAL

COMPORTAMENTOS REPETITIVOS E RESTRITOS

Nível 3

“exigindo apoio muito substancial”

Déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal causam prejuízos graves de funcionamento, limitação em iniciar interações sociais e resposta mínima a aberturas sociais que partem de outros.

Inflexibilidade de comportamento, extrema dificuldade em lidar com a mudança ou outros comportamentos restritos e repetitivos interferem acentuadamente no funcionamento em todas as esferas. Grande sofrimento/dificuldade para mudar o foco ou as ações.

Nível 2

“exigindo apoio substancial”

Déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal prejuízo social aparente mesmo na presença de apoio, limitação em dar início a interações sociais e resposta reduzida ou anormal a aberturas sociais que partem dos outros.

Inflexibilidade do comportamento, dificuldade de lidar coma mudança ou outros comportamentos restritos e repetitivos aparecem com frequência suficiente para serem óbvios ao observador casual e interferem no funcionamento em uma variedade de contextos. Sofrimento/dificuldade para mudar o foco ou as ações.

Nível 1

“Exigindo apoio”

Na ausência de apoio, déficits na comunicação social causam prejuízos notáveis. Dificuldade para iniciar interações sociais e exemplos claros de respostas atípicas ou sem sucesso a aberturas sociais dos outros. Pode aparentar pouco interesse por interações sociais.

Inflexibilidade de comportamento causa interferência significativa no funcionamento em um ou mais contextos. Dificuldade em trocar de atividade. Problemas para organização e planejamento são obstáculos à independência.

Fonte: American Psychiatric Association (APA)

Nota-se que existem poucos recursos instrumentais para a realização do diagnóstico do indivíduo com suspeita de autismo e, mesmo com muitos estudos na área, não existe nenhum marcador biológico que possibilite um exame preciso para a confirmação ou não desse transtorno. É importante enfatizar a forma como ocorrerá à comunicação do diagnóstico a família (BOSA, 2013).

Após a confirmação do diagnóstico, a família deve recorrer a tratamentos específicos, que irão auxiliar a pessoa e sua rede de apoio, buscando possibilidades que melhorem e proporcionem bem-estar para as crianças e que elas tenham a oportunidade de desenvolver os aspectos motores, sensoriais e de comunicação. Cabendo aos pais compreender a realidade dos filhos e aceitar principalmente as suas diferenças (FONSECA, 2014).

A busca pelo tratamento especifico é constante e a importância de amenizar os déficits apresentados, concentra-se em uma abordagem medicamentosa destinada a redução de sintomas-alvo, representados principalmente por agitação, agressividade e irritabilidade, que geralmente impedem o encaminhamento dos pacientes a programas relacionados à estimulação e educação (HOLANDA, 2013).

O autismo não tem cura, porém são utilizados diferentes métodos e procedimentos de intervenção terapêutica com a intenção de reverter, em parte, as alterações dos quadros, pois nem todos os autistas são iguais e nem todos tem as mesmas características, uns podem ser mais atentos, uns mais intelectuais, outros mais sociáveis e assim por diante. O que vai diferenciar um do outro é o grau que cada um apresenta (ONZI et al., 2015).

3.2. EQUOTERAPIA

3.2.1. Definição

De acordo com a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-Brasil, 2012), essa técnica trata-se de um método terapêutico e educacional, que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, equitação e educação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiência e/ou de necessidades especiais.

Segundo Eckert (2013) a Equoterapia pode ser descrita como um recurso terapêutico relacionado à reabilitação, diferenciando-se do tratamento clínico convencional por ser realizada ao ar livre, gerando um vínculo afetivo entre a equipe terapêutica, os praticantes e o cavalo, sendo considerado um tratamento totalmente diferenciado. Já para Teixeira et al., (2016), a Equoterapia pode ser considerada como um conjunto de técnicas reeducativas que agem para superar danos sensoriais, motores, cognitivos e comportamentais, através de uma atividade lúdico-desportiva, que tem como meio o cavalo.

Entretanto, durante muitos anos existiram inúmeras divergências conceituais a respeito de qual nome seria dado a essa atividade, podendo ser observadas diversas nomenclaturas como: equitação terapêutica, reeducação equestres, equitação para deficientes, hipoterapia e reabilitação equestre (ANDE-Brasil, 2012). Em consequência dessas diferenças, foi criada pela ANDE-Brasil em 1989 a palavra “Equoterapia” para caracterizar todas às atividades que utilizassem o cavalo como técnica de equitação e práticas equestres, visando a reabilitação e/ou educação de pessoas com deficiência ou com necessidades especiais. Essa terminologia foi criada por três motivos:

1. Homenagear o latim, idioma do qual deriva o português, adotando o radical “Equo” que vem de “Equus”, que é a espécie Cabalus, ou seja, cavalo;

2. Homenagear o pai da medicina ocidental, o grego Hipócrates de Loo que aconselhava a prática equestre como forma de renovar a saúde, preservando o corpo. Por esse motivo adotou a palavra Terapia que vem do grego “Therapeia”, para designar a área da medicina que trata da aplicação do conhecimento técnico cientifico no campo da reabilitação e reeducação;

3. E por fim, porque adotar uma palavra não existente no dicionário nacional consolidaria os princípios e normas fundamentais para nortear esta prática no Brasil, o que facilita o reconhecimento do método terapêutico pelos órgãos competentes.

Na Equoterapia, não é usada a palavra “paciente”, termo originário da Medicina, que traz consigo uma denotação pejorativa, ou seja, de que é aquele que tem paciência. O termo considerado mais adequado e utilizado na realidade equoterápica é “praticante”, por assim definir quem pratica uma modalidade terapêutica e educacional dinâmica (RAMOS, 2007).

A prática da terapia acontece no momento em que o praticante entra em contato com o cavalo. Inicialmente é representado como um problema novo no qual o praticante terá que encarar, aprendendo a maneira correta de montar ou descobrindo meios para fazer com que o animal aceite seus comandos. Essa relação contribui para o desenvolvimento da autoconfiança e afetividade, além de trabalhar limites, uma vez que nessa interação existem regras que não poderão ser infringidas (FERLINE, 2010).

3.2.2. Histórico

A prática do exercício equestre com fins terapêuticos vem de longas datas, há relatos que ela existe a mais de dois mil anos. Desde 458 a.C., quando Hipócrates se referiu à equitação terapêutica como um fator regenerador da saúde em seu compendio ``Das Dietas``, sendo essa a primeira referência da Equoterapia na história, obtendo benefícios no campo de atuação que também passou a ser mais explorado (TEIXEIRA et al., 2016).

De acordo com Motti (2007), Asclepíades de Prússia (124-40 a.C) recomendou o movimento do cavalo a pacientes caquéticos, hidrópicos, epiléticos, paralíticos, apopléticos, letárgicos, frenéticos e também para acometidos com febre. E em 1569 o médico Merkurialis mencionou os diferentes tipos de andaduras e que a equitação aumentaria o “calor natural” e remedeia a “escassez de excreções”.

O tempo foi passando e vários estudos foram sendo feitos, até que em 10 de maio de 1989 foi fundada a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-Brasil), instituição de cunho societário civil, de caráter filantrópico, terapêutico, educativo, cultural, desportivo e assistencial, não visando lucros, atuando em todo o país, sediada na cidade de Brasília no Distrito Federal (ANDRADE et al., 2014).

Em 1990, com a disponibilidade de uma infraestrutura básica, proporcionando condições de realizar atendimento e com uma equipe interdisciplinar de profissionais nas áreas da saúde, educação e equitação, foi realizado a 1.ª sessão de Equoterapia com pacientes na sede da ANDE-Brasil, com o apoio da equipe de profissionais de saúde do Hospital Sarah Kubitschek, referência no Brasil no tratamento do aparelho locomotor, tornando possível a execução prática do método terapêutico (SOUZA et al., 2015, p.9).

Segundo Prestes et al., (2010) no ano de 1997, o Conselho Federal de Medicina por meio do parecer n.º 06/97 de 09 de abril de 1997 deu por reconhecida a Equoterapia como método de reabilitação. E em 27 de março de 2008, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO, 2008) reconheceu-a por meio da Resolução Nº 348 como recurso terapêutico da Terapia Ocupacional e da Fisioterapia. A resolução autoriza o terapeuta a aplicar seus princípios profissionais, baseando-se no diagnóstico cinético-funcional de acordo com a Classificação Internacional de Funcionalidade e conforme os objetivos terapêuticos específicos de sua atuação.

3.2.3. Características, movimento tridimensional e uso do cavalo

Não existe uma raça própria para trabalhar na Equoterapia, contudo a ANDE-Brasil (2012) sinaliza que devem ser levadas em considerações algumas características básicas para escolha do cavalo ideal, já que esse animal pode proporcionar muitas alternativas terapêuticas pelo fato de possuírem várias andaduras, de acordo com a raça e a anatomia de cada um. O equino deverá ser treinado para que a montaria ocorra nos lados esquerdo e direito, ser adestrado para o uso de brinquedos e objetos, de modo que não se assuste com eles.

Devem ter os três andamentos regulares: passo, trote e galope; o centro de gravidade abaixo do garrote deve ser equilibrado; ter altura mediana, a cerca de 1,50 m de altura do garrote; possuir um “antemão” com espáduas largas e bem musculadas; o corpo não deve apresentar um garrote muito saliente para não machucar o praticante; seu flanco deverá ter uma circunferência discreta, a fim de evitar uma grande abdução dos membros inferiores do cavaleiro; e o “postmão” (região que inclui a porção dorso-lombar e garupa) deve ser largo, musculado e confortável, propiciando a manutenção da correta postura do cavaleiro (TEIXEIRA et al., 2016).

Dependendo da deficiência que irá ser tratada, o cavalo pode ser selecionado pela angulação da quartela, que proporciona andamentos mais macios e suaves, enquanto os de pouca angulação proporcionam andamentos mais duros e mais difíceis

Figura 1: A- Comprimento, medido da articulação escapulo umeral a ponta da nádega; B – Altura.para o cavaleiro se equilibrar (SILVEIRA, 2010, p.521).

Fonte: ANDE-Brasil (2012).

De acordo com Liporoni et al., (2010) o cavalo movimenta-se de três modos: ao passo, ao trote e ao galope. O passo, por suas características, é a andadura básica da equitação e é com esta andadura que a grande maioria dos trabalhos de equoterapia são executados. É uma andadura simétrica, marchada, ritmada há quarto tempos e basculante. É simétrica porque todos os movimentos produzidos de um lado da coluna vertebral ocorrem de forma igual no outro lado; é marchada pelo fato de não haver suspensão, ou seja, um ou mais membros em contato com o solo; é ritmada há quatro tempos, pois se ouvem quatro batidas distintas que correspondem ao pousar dos membros do animal no solo e é basculante devido aos movimentos cervicais do cavalo. Solicita pouca tensão muscular, mas a quantidade de repetições torna o exercício intenso, dessa forma, não é recomendado que uma sessão dure mais de 30 minutos.

O trote é ritmado há dois tempos, saltado, fixado e simétrico. É ritmado há dois tempos porque se ouvem duas batidas no solo, que correspondem ao pousar de cada diagonal bípede; é saltado pelo fato de cada diagonal bípede composta por um membro anterior e o seu posterior contralateral se elevar e pousar simultaneamente, com um tempo de sustentação; e fixado porque os movimentos cervicais do cavalo são quase imperceptíveis; é simétrico porque o eixo longitudinal do animal são simétricos (ANDE-Brasil, 2012).

E o galope é uma andadura, muito basculada, há três tempos, saltada e assimétrica. Muito basculada em razão dos amplos movimentos do pescoço; há três tempos porque entre um elevar de um membro e os outros membros associados até seu retorno ao solo, ouvem-se três batidas; saltada porque existe um tempo de suspensão; e assimétrica porque os movimentos da coluna vertebral em relação ao eixo longitudinal do cavalo não são simétricos (ECKERT, 2013).

Figura 2: Andaduras do cavalo

Fonte: ANDE-Brasil (2012)

Portanto a característica mais importante para a Equoterapia é o passo, pois ele produz no cavalo e transmite ao cavaleiro um deslocamento da cintura pélvica da pessoa quando ela está sobre o animal, essa adaptação ao seu ritmo de andar é uma das peças mestras dessa técnica. Este movimento é completado com uma pequena torção do quadril do cavaleiro que é provocada pelas inflexões laterais do dorso do cavalo (WICKERT, 2015).

A andadura do passo produz e transmite ao cavaleiro, uma serie de movimentos sequenciados e simultâneos, que gera o movimento tridimensional, traduzido no plano vertical, em um movimento para cima e para baixo; no plano horizontal, em um movimento para a direita e para a esquerda, segundo o eixo transversal do cavalo e um movimento para frente e para trás, segundo o seu eixo longitudinal. (ANDE-Brasil, 2012).

Este movimento tridimensional supracitado foi estudado e descrito pela primeira vez em 1747, pelo médico alemão Samuel Theodor Quelmalz no qual Pousa (2010, p.15) descreve:

O praticante no dorso do cavalo sofre um deslocamento da cintura pélvica da ordem de 5 cm nos planos vertical (para cima e para baixo), horizontal (para os lados) e sagital (para frente e para trás). Soma-se ainda a esses movimentos uma rotação de 8° para um lado e para outro. Esses movimentos associados produzem cerca de um a um e vinte e cinco (1,25) movimentos por segundo. Portanto em trinta minutos de trabalho, o cavaleiro executa de 1.800 a 2.250 ajustes tônicos.

Ao se deslocar ao passo, o cavalo executa um movimento em seu dorso que se assemelha em mais de 95% à marcha humana. O biorritmo do animal também coincide muito ao do ser humano e seu movimento com ritmo e balanço chega a 180 oscilações por minuto que é transmitida ao cérebro do praticante via medula, estimula o metabolismo, regula o tônus e melhora os sistemas cardiovascular e respiratório (HOLANDA et al., 2013).

A marcha humana possui os seguintes movimentos: no plano horizontal ocorrem movimentos rotatórios em torno do eixo vertical, sendo observadas rotações nas vértebras, na pelve e na articulação do quadril. No plano frontal existem as oscilações laterais da cabeça, do tronco e da pelve, além dos movimentos de inversão e eversão das articulações do tarso. No plano sagital ocorrem movimentos nas articulações do quadril, do joelho, do tornozelo e nos metatarso falangeanas, o que promove oscilações verticais. (ECKERT, 2013).

Segundo Motti (2007), assim como o cavalo o ser humano também possui três marchas, que estão basicamente divididas nas seguintes fases: fase de apoio, fase de balanceio e fase de duplo apoio:

- Na fase de apoio, um dos membros se ergue e o outro suporta parte ou todo o peso do corpo; é nesse instante que o centro da gravidade está mais longe do solo.

- Na fase de balanceio, o pé não toca o solo, o peso é suportado pelo membro oposto e o membro em questão é impulsionado e balanceado para frente.

- Na fase de duplo apoio, um dos membros está em fase de impulsão e o outro, com o calcanhar no solo; assim, os dois membros estão em contato com o solo. É nesse ponto que o centro da gravidade esta mais perto do solo.

Portanto a autora acima confirma que fica evidente que o cavalo é o animal cuja marcha mais se assemelha à do ser humano, tanto em deslocamentos relacionados à distância e graus de inclinação, quanto em termos de fases executadas durante a marcha.

Figura 3: Semelhança humana entre homem e cavalo.

Fonte: Scientific Journal of Therapeutic Riding (2007).

De acordo com Silva et al., (2008), quando se está sobre o cavalo, há rotação de 80º da cintura pélvica do praticante, o que é idêntico ao quadril do cavalo; há inclinação de 40º para um lado e para o outro, com deslocamento da cintura pélvica do praticante, a qual realiza 100º de extensão, 30º de flexão, como também o quadril se desloca 5 cm no plano tridimensional. Esses são os mesmos deslocamentos que o ser humano executa normalmente em sua marcha sobre o solo.

3.2.4. Programas Básicos da Equoterapia

A Equoterapia está dividida em quatro momentos, atendendo as particularidades e potencialidades dos praticantes, sendo indicada para pessoas com necessidades de cuidados especiais, aplicada por uma equipe técnica, nas fases de: hipoterapia, educação/reeducação, pré-esportiva e hipismo. Os programas básicos dessa técnica foram criados por Deutsches Kuratorium, e desde então vem sendo aplicados em várias partes do mundo. (ANDE-Brasil, 2012). Descritos da seguinte forma por Teixeira et al., (2016):

- O programa de Hipoterapia é basicamente desenvolvido na área de reabilitação, e é destinado ao praticante que não apresenta condições físicas ou mentais para se manter sozinho sobre o dorso do cavalo, essa etapa é essencialmente direcionada para a área de saúde, utilizando o cavalo como instrumento cinesioterapêutico. Necessita do apoio direto dos profissionais, principalmente dos Fisioterapeutas.

- No caso da Educação/Reeducação, o cavalo é tido como instrumento pedagógico, trazendo benefícios no campo educacional dos praticantes que possuem um mínimo de autonomia durante a montaria, analisa-se que o praticante tem condições de exercer alguma atuação sobre o cavalo e que pode até conduzi-lo, dependendo em menor grau do auxiliar-guia e do auxiliar lateral. E este por sua vez, pode ser aplicado tanto na área da saúde quanto na de educação.

- O pré-esportivo, é um programa caracterizado pelas atividades feitas em grupo onde os praticantes se organizam no espaço e tempo, e preparam-se para sua inserção na sociedade, executando atividades com obstáculos em pistas. Ressalta que o praticante apresenta boas condições para atuar e conduzir o cavalo sozinho, podendo participar de exercícios específicos de hipismo, com isso passa a exercer maior influência sobre o cavalo, que é utilizado como instrumento de inserção social.

- E por fim, o Hipismo adaptado, consiste no programa recomendado pela ANDE-Brasil com finalidade desportiva, terapêuticas e educacionais, administrados principalmente dentro dos programas de equitação básica.

3.2.5. Local, equipamentos utilizados e equipe de Equoterapia

O local deve ser seguro, dispor de instalações físicas e equipamentos adequados, tranquilo, sem barulho, de fácil acesso aos praticantes. A técnica é realizada ao ar livre, uma característica positiva e diferenciada em que o praticante fica ligado à natureza, proporcionando a execução de exercícios psicomotores, de recuperação e integração, diferenciando-se das terapias tradicionais em clínicas e consultórios (SOUZA et al., 2015).

Para realização da Equoterapia são utilizados os materiais de montaria já existentes, descrito por Teixeira et al., (2016), sendo eles:

- Manta grossa de Lã ou de espuma: que traz um maior conforto e proteção ao cavalo e cavaleiro, a sela: assento acolchoado, feito de couro, na qual o cavaleiro se senta para cavalgar, a rédea, usada para direcionar o cavalo, que fica conectada ao cabresto, pode ser feita de lã, algodão ou couro, a embocadura, peça de metal, constituída de duas argolas ligadas entre si por um bocal de metal, articulado no centro ou não, que é colocado na boca do animal, por onde se transmite diretamente o comando para o cavalo, exercido pelas mãos do cavaleiro nas rédeas.

- A cabeçada: peça dos arreios, confeccionada em couro, que se coloca na cabeça do cavalo com uma parte no focinho, onde se prende a embocadura, o cabresto, colocado na cabeça do cavalo ou guia de trabalho para cavalo, que é uma tira longa de couro que fica presa na cabeça do animal, serve para indicar o caminho que será percorrido com o cavalo durante a sessão de tratamento, cilhão, tira larga de couro acolchoada, com duas argolas para se segurar, que é colocada sobre o dorso do cavalo e tem um estribo de cada lado.

Essa técnica deve ser realizada por uma equipe multidisciplinar, composta por fonoaudiólogo, psicólogo, terapeuta ocupacional, médico, fisioterapeuta, educador físico, pedagogo e/ou psicopedagogo e profissionais da área de equitação, como tratador, auxiliar guia, instrutor de equitação e veterinário. A mesma permite que os profissionais atuem em múltiplos sistemas do corpo, oferecendo uma oportunidade ímpar aos portadores de necessidades especiais, tornando-os menos dependentes, trazendo vários benefícios (ANDE-Brasil, 2012).

3.2.6. Fisioterapia aplicada a Equoterapia

O objetivo da Fisioterapia junto á Equoterapia é regularizar o tônus muscular, melhorando o equilíbrio, reeducação postural, estimular a movimentação corporal, desenvolver força muscular, melhorar as percepções motoras e sensoriais, integração social, maior independência do praticante, estimulando sua reabilitação, fazendo com que os resultados sejam positivos (SILVEIRA, 2010).

Nessa modalidade de tratamento a Fisioterapia encara o cavalo como agente promotor de ganhos físicos, pedagógico, psicológico, promovendo a inserção social. Essa técnica exige a participação do corpo inteiro, contribuindo assim para o desenvolvimento da força muscular, relaxamento e conscientização do próprio corpo, aperfeiçoamento da coordenação motora e do equilíbrio, onde o ritmo do animal facilita as informações proprioceptivas (ANDRADE et al., 2014).

Assim como na Fisioterapia convencional nos centros de Equoterapia dependendo da patologia a ser tratada, também podem ser utilizados alguns recursos lúdicos como argolas, cones, bola de tênis, pregadores coloridos, onde o praticante deverá colocar as argolas de diferentes tamanhos, cores e texturas dentro do cone, de ambos os lados laterais do corpo, direito e esquerdo. As sessões podem ser realizadas em grupo, porém os planejamentos e os acompanhamentos devem ser individualizados (OLIVEIRA et al., 2015).

De acordo com Ribeiro (2007) cabe ao Fisioterapeuta interpretar o diagnóstico cinético-funcional do praticante, através de uma anamnese e de uma avaliação ergonômica, compreendendo seus limites e oferecendo condições para que eles possam superar o seu potencial, lembrando que a função do terapeuta durante a sessão é conduzi-la de modo a facilitar a realização dos movimentos. Para acompanhar a evolução do trabalho e avaliar os resultados obtidos, deve haver registros periódicos e sistemáticos das atividades desenvolvidas com os praticantes.

Portanto também é função do Fisioterapeuta fazer avaliação global do praticante; elaboração do plano de tratamento, posicionamento do praticante no cavalo, colaborar na escolha do cavalo e dos equipamentos utilizados, demonstração de técnicas de manuseio e de condução da sessão de acordo com as capacidades funcionais do praticante, execução e orientação, junto aos demais profissionais, dos objetivos priorizados pela equipe, orientar ergonomicamente os profissionais atuantes no centro de Equoterapia, prestar primeiros socorros aos praticantes e equipe de trabalho na ocorrência de acidentes, dar justificativas ao praticante quando possível, aos responsáveis e a equipe, (ANDE-Brasil, 2012).

Para os indivíduos diagnosticados com o TEA, a prática dessa técnica possui os seguintes benefícios: melhora o equilíbrio e a postura, através da estimulação de reações de endireita mento; estimula a sensibilidade tátil, visual, auditiva e olfativa pelo ambiente e pela atividade com o cavalo; desenvolve a modulação do tônus muscular; promove a organização e a consciência corporal; aumenta a autoestima, facilitando a integração social; melhora a memória e concentração; motiva o aprendizado, encorajando o uso da linguagem; ajuda a superar fobias como a de altura e a de animais; ensina a importância de regras como segurança e a disciplina; promove a sensação de bem-estar, motivando a continuidade do tratamento (LIPORONI et al., 2010).

3.2.7. Indicação / Contraindicação

Diversas patologias são indicadas para o atendimento equoterápico, como: Lesões cerebrais (paralisia cerebral, acidente vascular cerebral, traumatismo Crânio encefálico, sequelas de lesões medulares). Síndromes neurológicas (Down, West, etc.), acidente vascular cerebral, traumatismo cranioencefálico, entre outras. Distúrbios psicossociais: transtorno do espectro autista, hiperatividade, deficiência mental, dificuldade do aprendizado, alterações do comportamento, Distúrbios visuais, Distúrbios auditivos (FERLINE, 2010).

As contraindicações encontradas na prática dessa técnica, estão divididas segundo Andrade et al., (2014), em relativas e absolutas:

- Relativas: Alergia ao pelo do cavalo por haver intolerância pela rinite; Hiperlordose, na qual mesmo com uso de coxins de adaptação não se consegue o alinhamento pélvico, Subluxação de quadril, por apresentar dor e/ ou dificuldade na postura, Hipertensão, quando está não estiver controlada, Medo excessivo do animal, Atividade reflexa intensa, dificultando o posicionamento correto sobre o animal, Portadores de síndrome de Down com menos de três anos.

- Absolutas: Instabilidade atlanto axial presente em crianças portadoras de Síndromes de Down, podendo ocasionar lesão medular pela lassidão ligamentar, Escoliose estrutural acima de 40 graus, Osteoporose, pelo risco de micro fraturas, Osteogênese imperfeita, pelo mesmo motivo da osteoporose, Hemofilia, pelos micros traumas vasculares, Hérnia de disco, Doença de Schuerman, pela deformidade vertebral e Cardiopatia grave.

4. METODOLOGIA

O método utilizado nesse estudo é do tipo descritivo, que de acordo com Gil (2008) tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população, fenômeno ou estabelecimento de relações entre as variáveis.

O presente estudo apresenta uma abordagem qualitativa, onde não se preocupa com representatividade numérica, mas busca explicar o porque das coisas, relatando o que convém ser feito, não quantifica os valores e as trocas simbólicas, pois os dados analisados não são numéricos e se valem de diferentes abordagens (GERHARD, 2009).

Dentre os tipos de técnica optou-se pela pesquisa bibliográfica, que de acordo com Severino (2007), é aquela que se realiza a partir dos registros disponíveis, decorrentes de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc. Utilizam-se dados de categorias teóricas já trabalhadas por outros pesquisadores e devidamente registrados, os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados e o pesquisador trabalha a partir de contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos.

Quanto à coleta de dados, os recursos usados foram artigos indexados nas bases eletrônicas: Scientific Electronic Library Online – Biblioteca Cientifica Eletrônica em Linha (Scielo) e Google Acadêmico, Monografias, além de fontes literárias. Os materiais selecionados foram escolhidos entre agosto e outubro de 2017, sendo utilizados os seguintes descritores: autismo, fisioterapia e equoterapia.

Para os critérios de inclusão foram selecionados os artigos publicados entre 2007-2017, escritos na língua portuguesa, alguns de revisão de literatura e outros baseados em pesquisas empíricas (estudo de caso). Já os critérios de exclusão foram os artigos escritos em outras línguas e que não tivessem as informações relacionadas com o tema.

A análise dos dados foi realizada através da organização, descrição analítica, leitura geral, interpretação do referencial, estudo do material a ser utilizado e redação dos resultados (SEVERINO, 2007). Em relação aos aspectos éticos da pesquisa, foi respeitada a autoria dos textos dos autores pesquisados.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os equinos desde os primórdios fazem parte da vida do homem, e a grande relevância de suas convivências ao longo da história ganharam inúmeros benefícios, a partir do momento em que foi possível observar melhoras no quadro clínico de pacientes que mantinham contato com animais durante os processos terapêuticos. Diante disso, os profissionais da área de saúde passaram a dar uma maior atenção a essa prática visando conhecer e compreender de uma melhor maneira os seus efeitos e suas implicações (REGO, 2010).

A equoterapia está baseada na combinação do movimento proporcionado por dois seres vivos: praticante e cavalo. Toda essa interação faz com que o cavalo produza os mais variados efeitos nos praticantes, promovendo sinergias funcionais, as quais melhoram a coordenação motora, autoestima, autoconfiança, e estímulo dos sentidos, melhorando assim a qualidade de vida da pessoa com deficiência (OLIVEIRA, 2015).

Essa modalidade terapêutica utiliza o movimento tridimensional do cavalo, que são únicos, pois nenhum outro equipamento ou aparelho consegue simulá-los, são eles os grandes percussores dos benefícios gerados ao longo dos atendimentos para as crianças com Autismo. É por meio deles que acontecem as melhorias nas funções neuromusculares e psicológicas, além de outras vantagens que são proporcionadas ao praticante (BUENO, 2011).

Por este motivo essa técnica vem sendo adaptada para necessidade de cada paciente, sua prática deve ocorrer em um ambiente diferente do habitual, em contato com a natureza, mostrando que apesar do cavalo ser um animal de grande porte, ter musculatura definida, é dócil, sensível e de olhar expressivo, sendo capaz de trocar afeto com o praticante, completando-se um ao outro, quando se trata de estímulos para a reação do equilíbrio e controle postural (SANTOS, 2011).

O tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é iniciado após ser feito um diagnóstico preciso, depois do paciente passar por uma anamnese, realizada por uma equipe multidisciplinar, pois é ela que garante o programa específico para cada um (MARINHO, 2009). Para realizar o processo terapêutico é importante que a equipe tenha um conhecimento aprofundado sobre os sintomas e as limitações do individuo (FERRARI, 2009).

De acordo com o levantamento bibliográfico, foram encontrados e separados no ano de 2017 cinco artigos relacionados com o tema em questão, indexados entre 2013-2016, como ilustrados na tabela 3.

AUTOR/ANO/LOCAL

TITULO

OBJETIVO

METODOLOGIA

RESULTADOS

Bender et al/2016/São Paulo

Efeitos da equoterapia no desempenho funcional de crianças e adolescentes com autismo.

Identificar o efeito da Equoterapia no desempenho funcional de crianças e adolescentes com autismo, comparando praticantes e não praticantes.

Trata-se de um estudo feito com indivíduos entre 3 e 15 anos de idade, com diagnóstico de Autismo.

Sugere que a equoterapia é eficaz para crianças com autismo, nas tarefas das áreas de mobilidade e autocuidado, sendo uma área inovadora.

Souza et al/2015/São Jerônimo

Equoterapia no tratamento do Transtorno do Espectro Autista: a percepção dos técnicos.

Identificar os aspectos motores, sociais, psicológicos e de linguagem.

Tratou-se de investigar o desenvolvimento de uma criança de 10 anos, com o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista.

A equoterapia é um método fundamental e eficaz para reabilitação dessas crianças, sendo uma prática que proporcionou bem-estar e qualidade de vida.

Oliveira et al/2015/Alagoas

Relato de Experiência: as intervenções terapêuticas da equoterapia em pessoas com deficiência.

O presente estudo tem como objetivo relatar a experiência das intervenções terapêuticas na equoterapia em pessoas com deficiência.

Foi realizado um estudo com uma criança de 07 anos, diagnosticado com Autismo a três anos.

A equoterapia proporciona as pessoas com deficiência várias benefícios como no aspecto motor e cognitivo, devido ao estimulo tridimensional do cavalo.

Felipe et al/2014/João Pessoa

Equoterapia como método coadjuvante na facilitação escolar em autistas: relato de caso.

Tem como finalidade avaliar a evolução de uma criança autista.

Foi feito um estudo com uma criança de nove anos, com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista.

A criança demonstrou ganhos nos padrões motores, cognição e linguagem, assim como também melhora na comunicação social.

Holanda et al/2013/Fortaleza

Equoterapia e cognição em pacientes autistas: um estudo de caso.

Avaliar a intervenção da Equoterapia em pacientes com autismo.

Foi efetuado um estudo com um paciente Autista praticante de Equoterapia.

É relevante a realização da equoterapia em pacientes autistas, melhorando assim sua autoestima.

Tabela 3: Síntese dos artigos pesquisados.

Fonte: Autora (2017).

Diante dos artigos analisados, Bender et al., (2016) fez um estudo em indivíduos com idades entre 3 e 15 anos, de ambos os sexos, com diagnóstico de Autismo, divididos entre praticantes e não praticantes da Equoterapia. Utilizou-se um questionário para avaliar variáveis socioeconômicas e desempenho funcional. Durante as sessões, as crianças e adolescentes alimentavam os cavalos, participavam do banho e da escovação da crina do animal, utilizando pente e escova, materiais didáticos, que ajudam no desenvolvimento dos praticantes.

A autora acima diz que estudos atuais explanam positivamente a Equoterapia e que os melhores resultados encontrados foram com os praticantes da técnica, sendo eles: adequação do humor, linguagem expressiva, autocuidado, mobilidade, interesse por novas tarefas, melhora do contato visual e do comportamento social.

Esse cuidado com o cavalo, também foi descrito por Cazarim (2010) que ressalta a importância dos animais utilizados estarem sempre bem alimentados, com programas de profilaxia em dias, como vacinas, remédios, etc, a fim de evitar doenças tanto para eles, como para quem prática a técnica. Portanto, precisam ser mantidos em boas condições higiênicas, propiciando bem-estar e segurança para as crianças.

Da mesma forma, Dias (2008) explica que para essa modalidade, o temperamento do equino, deve ser a principal característica de busca para sua escolha ideal, destacando que a docialidade é um requisito relevante. Os cavalos devem ser mansos, transmitindo aos praticantes o máximo de sensações e benefícios que precisam, devem aceitar toques leves ou fortes e movimentos bruscos em todo o corpo, bem como tolerar a utilização de matérias de apoio lúdico, ocorrências inusitadas e de desequilíbrio do praticante.

Concomitante com os autores, Souza (2009) destaca que a Equoterapia ajuda na aquisição de padrões fundamentais do desenvolvimento motor, devido ao movimento tridimensional do equino, que transmite ao cérebro do praticante várias terminações nervosas aferentes, fazendo com que novos ajustes motores sejam realizados, preparando a criança para uma atividade motora mais complexa, aumentando sua socialização e fornecendo condições para desenvolver conjuntamente outras habilidades que estão internamente relacionadas com o desenvolvimento da capacidade global do Autista.

Souza et al., (2015) em seu estudo investigou uma criança de 10 anos diagnosticada com TEA, em tratamento há quatro anos. A técnica foi realizada em uma instituição estruturada adequadamente para a execução da terapia, o local contém picadeiro, cavalos, equitadores e uma equipe multidisciplinar especializada. Foi realizada duas entrevistas, a primeira avaliou o cavalo como agente do desenvolvimento da criança autista, movimentos motores, socialização durante a sessão e melhoria na qualidade de vida após o tratamento. A segunda entrevista foi aplicada com profissionais da equipe responsáveis pelo tratamento da criança em questão.

Os resultados obtidos pelo estudo da autora supracitada tiveram melhoria no aspecto da afetividade e socialização, estimulação da linguagem, autonomia, autoestima, tranquilidade e independência. As mudanças citadas pelos profissionais de saúde foram percebidas também pelos familiares da menina, relatado pela mãe, que diz conseguir sair sozinha com a filha sem que ela fique agressiva ou caindo no chão. Ficando claro que os fatores relacionados com o vínculo criado entre animal e equipe, proporcionam alegria ao praticante, qualidade de vida, desenvolvimento motor, social e afetivo, adquirindo bem-estar para vida do Autista.

Segundo o Manual Diagnóstico, umas das maiores dificuldades desse transtorno é o afeto e na execução dessa técnica ele começa a ser demonstrado. Fonseca (2014) confirma que é possível perceber essa característica nos primeiros anos de vida do bebê, devido ao fato deles não olharem diretamente para os pais e não interagirem com os outros, tornando isso uma grande dificuldade de relacionamento.

Em virtude disso Freire et al., (2007) fala em seu estudo que essa técnica traz melhoria para os movimentos motores, flexibilidade e equilíbrio, devido as andaduras do animal, que são capazes de despertar estímulos neuromusculares e sensoriais. Concordando com os autores citados acima, Ferrari (2009) diz que a contribuição desses benefícios estão relacionados com o fato do cavalo ser constituído por mais de 200 ossos diferentes, significando que em movimento este conjunto de ossos estimula uma gama de ações insubstituíveis por qualquer outro recurso mecânico.

Oliveira et al., (2015) realizou um estudo com uma criança de 07 anos, diagnosticado há três anos com Autismo, realizando Equoterapia há cinco meses, uma vez por semana e fazendo complemento do tratamento com outras terapias, frequentou também duas instituições que fazem tratamentos com pessoas deficientes. A técnica foi realizada em um espaço físico amplo, por uma equipe multidisciplinar. As intervenções utilizadas com o paciente Autista possuíram vários objetivos traçados pelo fisioterapeuta que o acompanhou de acordo com a característica clinica da criança, cada sessão durou em torno trinta minutos.

O presente estudo fez a utilização das posturas sobre o cavalo, incentivando a praticante montar de costas, de lado e deitada sobre o animal, melhorando a confiança da mesma com o equino. No decorrer do percurso alguns materiais lúdicos foram associados e utilizados, com o intuito de desenvolver diversas reações, como bastão para melhorar a postura, argolas e cones para o equilíbrio, concentração e atenção.

Os benefícios encontrados nesse estudo estão relacionados tanto ao aspecto motor, cognitivo e psicológico, como na superação de fobias, melhorando a memória, concentração, equilíbrio, postura, aumentando a autoconfiança e autoestima. Demonstraram também que essas atividades lúdicas tornam a Equoterapia diferenciada fazendo com que a criança com esse transtorno melhore sua capacidade de se relacionar com as pessoas e com o meio em que vivem.

Esses benefícios também foram destacados por Newton (2011) que ao realizar um estudo, relatou que a prática da Equoterapia é capaz de desenvolver melhoria na sensibilidade física e psíquica, pois exige uma constante percepção frente a diversas reações e estímulos, resultando em harmonia, equilíbrio físico e psicológico.

De acordo com Liporoni et al., (2010) a melhora na postura está relacionada as três andaduras regulares do equino, pois são elas que transmitem as informações necessárias para o cérebro do praticante, já que mesmo parado, o cavalo raramente esta imóvel, ele troca a pata de apoio, desloca a cabeça para olhar à direita ou à esquerda, abaixa e alonga o pescoço, todas essas modificações produzem no Autista um ajuste muscular.

Sendo assim Vogel (2007) descreve a importância das interações com o animal, o ato de montar e o manuseio final, mostrando que contribuem muito para a melhoria do individuo, pois requer do praticante atenção que é à base do aprendizado e concentração durante o desenvolvimento da sessão, fazendo com que a criança selecione o que aprendeu e guarde na memória para usar em seguida.

Felipe et al., (2014) realizou um estudo com uma criança de 9 anos, diagnosticado com TEA, realizando tratamento há dois anos e cinco meses, com frequência de uma sessão semanal, durante 30 minutos. A terapia foi feita em um espaço contendo picadeiro e pista de areia, foi efetuada uma anamnese por alguns profissionais da equipe multidisciplinar, onde na avaliação fisioterapêutica notou-se: alteração no equilíbrio, na fase de balanço marcha com base de sustentação alargada, coordenação motora fina, discriminação proprioceptiva, força muscular e resistência dinimuida.

Para alcançar os resultados realizou-se a elaboração conjunta de um protocolo de tratamento e orientação aos pais. Uso de matérias didático, como letras do alfabeto, formas geométricas, numerais e brinquedos. Nas primeiras sessões o praticante foi inserido na fase de Hipoterapia, inicialmente as atividades consistiram em aproximar a criança do animal e o mesmo era estimulado a manter contato, alimentar e escovar o cavalo, foi feito também alongamento dos membros superiores e inferiores, tronco, estimulação tátil, olfativa, visual e auditiva do ambiente e do equino, conversas espontâneas e contextualizadas.

Depois de 10 meses de tratamento o praticante passou por uma reavaliação, onde a autora citada acima obteve como resultado na fase de Hipoterapia, uma melhora na linguagem, dicção das palavras e aprendizado, aumento na interação social, habilidade na área cognitiva, compreensão verbal, controle postural, coordenação dos movimentos e da marcha. Essas melhorias fizeram com que a criança evolui-se para outra fase da Equoterapia chamada de Educação/Reeducação, objetivando ganhos nos aspectos cognitivos, neuromotores e emocionais. Após essa fase, foi novamente avaliado, apresentando ganho no desenvolvimento neuropsicomotor, com aprimoramento na motricidade fina e aquisição do equilíbrio. No mesmo período outra avaliação foi executada e a criança passou para fase Pré-esportiva, a qual foi muito importante, pois intensificou a habilidade motora, autoconfiança e independência. Por fim foi encaminhado para fase do Hipismo.

De acordo com Strochein et al., (2016) esses quatro programas básicos são feitos a partir das particularidades de cada individuo, a Hipoterapia é a primeira fase, o animal é usado como meio cinesioterapêutico para melhoria das condições físicas e pessoais, sejam elas psicológicas, psicomotoras, educacional ou da fala. A Educação/Reeducação, o movimento tridimensional do cavalo é usado para proporcionar melhoria no processo de ensino-aprendizagem. No Pré-esportivo, o praticante desempenha grande papel sobre o equino, e este promove uma inserção social. E na última etapa, o Hipismo, consiste em um programa com finalidade esportiva.

Portanto, Espindula (2008) confirma que as práticas equoterapêuticas favorecem a atuação dos estímulos aferentes dando origem as conexões neuromotoras e a modulação das sinapses corticais para o sistema nervoso central, resultando no desenvolvimento da psicomotricidade, fazendo com que a criança demonstre avanço na independência funcional, desempenhando tarefas e comandos com segurança.

Verificando o controle postural, Silveira et al., (2010) diz que a melhoria da postura está relacionada com o andar do cavalo, já que ele serve como meio terapêutico por transmitir ao cavaleiro os movimentos. Na posição sentada, os reflexos posturais são proporcionados ao praticante pelas andaduras do animal, ao andar em linha reta ou curva. Delicadas respostas coordenadas são exigidas, o exercício postural e as reações de equilíbrio acontecem. As estimulações sensório-motoras e proprioceptivas incrementam as atividades posturais, facilitando os sentidos, relaxamentos musculares e melhora nos padrões de movimento de todo o corpo do individuo.

Holanda et al., (2013) diz que seu estudo foi representado por E.C.L, 23 anos, com diagnóstico de Autismo, apresentando funções sensoriais, percepção e memória preservadas. Os dados foram obtidos através da aplicação de um formulário representado pelo primeiro contato com o paciente e explicação dos trabalhos ao responsável, e por um questionário de avaliação cognitiva, desenvolvido como um instrumento breve de rastreio para deficiência cognitiva leve. Foram utilizados diferentes domínios cognitivos: atenção e concentração, função executivas, memória, linguagem, habilidades viso-construtivas, cálculo e orientação, o tempo de aplicação é aproximadamente 10 minutos.

Após a aplicação dos quesitos propostos, a autora teve os seguintes resultados: no item linguagem, atenção e concentração não foram observadas mudanças relevantes, porém houve melhora na orientação, memória, habilidades viso-construtivas e também na autoestima.

Apesar da autora acima não ter descrito como foi feita a aplicação da técnica, a Equoterapia é um método de reabilitação fisioterapêutica que favorece a autoestima dos indivíduos com Autismo, além de outros benefícios que melhoram a convivência com o outro. Por esse motivo foi criada pelo Ministério da Saúde (MS) em parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS) no ano de 2013 uma cartilha denominada “Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA)”, com o objetivo de orientar a família e a equipe multidisciplinar, atribuir atenção e cuidados as pessoas com deficiência (ONZI et al., 2015).

Quanto a não melhoria em algumas áreas supracitadas, Araújo (2011) explica em seu estudo, que as crianças que são encaminhadas mais tarde do que o desejável para a avaliação acabam tendo uma interferência na realização das atividades de Equoterapia, retardando o seu desenvolvimento. Por isso a importância do diagnóstico precoce, é fundamental, pois ele contribui em aproximadamente 80% de melhora nos sinais da patologia, incluindo rapidez na aquisição da linguagem, facilidade nos diferentes processos adaptativos e aumento na interação social.

Relacionado a essa ideia, Whitman (2015) atesta que existem crianças com um alto grau de comprometimento na área da comunicação e no desenvolvimento social, e que uma das alternativas para melhoria desses déficits é a linguagem de sinais, que pode ser feita durante o decorrer da sessão Equoterápica, utilizando objetos lúdicos, palavras impressas, imagens, como placas de comunicação, livreto, símbolos, que facilitam tanto na compreensão como na comunicação, além de melhora na capacidade cognitiva, sensorial e motora.

Durante as sessões de Equoterapia, o papel do fisioterapeuta é compreender os limites do paciente e lhe dar condições para superar o seu grau de incapacidade. Sendo assim, a equoterapia é um estimulador sensorial e motor, onde o fisioterapeuta tem a função de conduzir, facilitar a realização dos movimentos normais e inibir a realização dos anormais. Nessa modalidade, o fisioterapeuta busca estimular o equilíbrio do praticante, melhorando sua integração social e ganhos motores, levando o praticante a ter sua própria independência. E os resultados acabam vindo de acordo com o prazer, vontade e a estimulação do próprio paciente em querer se reabilitar e ter um bom resultado em sua recuperação (MARCONSONI et al., 2012).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Equoterapia vem sendo muito utilizada recentemente pela Fisioterapia, é um método realizado por uma equipe multidisciplinar, que utiliza o cavalo como meio terapêutico, devido ao movimento tridimensional que é causado pelo seu dorso, pois ao se deslocar o animal executa um movimento semelhante com a marcha humana, e isso favorece a técnica, estabelecendo uma relação física e psicológica que acaba sendo fundamental para o resultado que se espera.

É um recurso eficaz para os indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), já que sobre o equino o Autista manifesta-se emocionalmente através do toque e da expressão facial, obtendo-se resultados positivos nas diversas áreas acometidas por essa patologia, como mobilidade, motricidade, comunicação, autoestima, independência, linguagem, interação social, entre outras.

Nessa modalidade de tratamento, a atuação do Fisioterapeuta é de extrema importância, pois é ele o responsável pela admissão dos dados colhidos durante a anamnese, e por grande parte da execução da técnica, que através do cavalo, dos materiais lúdicos utilizados durante as sessões e dos seus programas básicos oferecidos pela terapêutica, que reabilitam de forma global os praticantes.

Apesar da Equoterapia ter um resultado satisfatório, os artigos pesquisados pecam muito no quesito tempo de tratamento, pois não exemplificam aproximadamente quantas sessões são necessárias para se obter uma resposta positiva. Essa omissão de informação pode ser prejudicial, influenciando no rendimento do paciente.

Outro ponto necessário é que seja feito mais estudos com o intuito de ampliar a compreensão da finalidade da técnica, que apesar de ter sido descoberta há muitos anos ainda é pouco divulgada, como também o esclarecimento da patologia, onde foi mostrado pela ciência que muitas crianças são acometidas com a mesma, mas nem todos possuem conhecimento crucial do que seja.

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Publicado por: Caren Tainan da Cruz Cerqueira

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