A PERSPECTIVA PAULINA DA DOUTRINA DA DEPRAVAÇÃO TOTAL
índice
- 1. RESUMO
- 2. INTRODUÇÃO
- 2.1 Objetivos
- 2.1.1 Objetivo Geral
- 2.1.2 Objetivo Específico
- 2.2 Revisão Bibliográfica
- 3. ASPECTOS TEOLÓGICOS – HISTÓRICOS DA DOUTRINA DA DEPRAVAÇÃO TOTAL
- 3.1 Análise do conceito de Depravação Total
- 3.2 A depravação e a incapacidade de auto-salvação do homem
- 3.3 Concepção histórica
- 3.4 Na teologia dos pais da igreja
- 3.5 Na teologia dos reformadores do século XVI
- 3.6 Nas confissões de fé reformadas
- 4. A DEPRAVAÇÃO E A CULPA
- 4.1 A natureza da culpa
- 4.2 Graus de culpa
- 4.3 A punição
- 4.3.1 O pecado desfigurou a imagem divina no homem
- 4.3.2 O pecado deu origem a um estado pecaminoso que afetou toda a raça humana
- 4.3.3 O pecado acarretou punições naturais e físicas na vida do homem
- 4.3.4 O pecado gerou um contínuo conflito moral e espiritual entre corpo e alma de cada criatura humana
- 4.3.5 O pecado despertou a consciência do homem
- 4.3.6 O pecado trouxe ao homem a punição da morte física
- 4.3.7 Consideramos também o castigo disciplinador
- 4.3.8 O castigo (a pena) final do pecado
- 5. A perspectiva paulina da doutrina da depravação total
- 5.1 O cosmo na visão Paulina
- 5.2 A universalidade do pecado na ótica paulina
- 5.3 As consequências da queda para o homem
- 6. Considerações finais
- 7. Referências bibliográficas
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1. RESUMO
O presente estudo tem por objetivo apresentar as concepções a respeito da perspectiva Paulina da doutrina da depravação total e sua influência no ministério pastoral. Sendo assim, será abordada a concepção do pecado original, trazendo sobre outros aspectos, a sua representação histórica e social. Através da revisão literária serão esboçados os pensamentos tendo os conteúdos pesquisados como base empírica para a construção deste estudo, bem como a exegese de perícopes bíblicas relacionadas ao proposto. A intenção final deste estudo foca em determinar a herança da depravação total, que o homem carrega por todo o período de sua vida na terra.
Palavras-chave: Depravação total. Pecado original. Teologia reformada. História do pecado.
ABSTRACT
The purpose of this study is to present the conceptions regarding the Pauline perspective of the doctrine of total depravity and its influence on the pastoral ministry. Thus, the conception of original sin will be approached, bringing its historical and social representation on other aspects. Through the literary review will be sketched the thoughts having the contents researched as empirical basis for the construction of this study, as well as the exegesis of Biblical pericopes related to the proposed one. The final intent of this study focuses on determining the inheritance of total depravity that man carries throughout his life on earth.
Keywords: Total depravity. Original sin. Reformed theology. History of sin.
2. INTRODUÇÃO
A contemporaneidade tenta a todo modo evidenciar os aspectos representativos pertinentes ao caráter humano, em uma forma genérica atribuída a resultados conflitantes para a sociedade, tende-se a julgar quem é bom ou quem é mau por natureza. Esta subjetividade se relaciona a todo o momento com as religiões, onde de fato, o homem deve inclinar-se para a bondade em seu coração e para os ensinamentos de Deus.
A título de introdução, vale ressaltar também que, na tentativa de agradar ao homem, e não a Deus, muitos pregadores não estão mais preocupados em confrontar o pecado —, o cerne dos problemas da humanidade —, mas, na maioria das vezes, o que vemos e ouvimos são paliativos psicológicos os quais se encarregam de substituir o ensino das Escrituras visando massagear o ego humano. Entrando assim, numa clara contradição com a Palavra de Deus, de tal forma que o homem deixa de ser um pecador para tornar-se uma vítima de Satanás.
Em gênesis 8:21, lê-se: “O Senhor disse em seu coração: Nunca mais amaldiçoarei a terra por causa do homem, pois o seu coração é inteiramente inclinado para o mal desde a infância”. Neste sentido, em um período pós-dilúvio, onde habitavam a terra apenas Noé e sua família salva, Deus já declarava que o mal era essência comportamental do homem desde a sua infância. Esta relação se dá unicamente através do pecado cometido por Adão, que marcou uma herança maldita em todas as gerações futuras.
Em Salmos 51:5, Davi confessa: “Sei que sou pecador desde que nasci, sim, desde que me concebeu minha mãe”, assim como em Romanos 3:10-18 que diz:
“Não há nenhum justo, nem um sequer, não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer. Suas gargantas são um túmulo aberto; com suas línguas enganam. Veneno de serpentes está em seus lábios. Suas bocas estão cheias de maldição e amargura. Seus pés são ágeis para derramar sangue, ruína e desgraça marcam os seus caminhos, e não conhecem o caminho da paz. Aos seus olhos é inútil temer a Deus".
Existem muitas dúvidas a respeito do pecado em relação a salvação eterna, pode-se de certa forma simplificar o tema, dizendo que existem duas formas de pecado, a primeira em que o pecado se perpetua através das gerações como uma maldição iniciada por Adão, ao cometer o pecado original, e a segunda em que o pecado é cometido diretamente pela pessoa durante a sua vida.
Mas o que de fato classifica o pecado original? Quais termos históricos associam-se a esta maligna herança? E quais efeitos para o ministério pastoral podem ser relacionados com a Depravação total do homem?
Posto isso, asseguramos que a finalidade deste estudo é apresentar as características pontuais relacionadas a doutrina da depravação total através da teologia reformada, visando abordar as principais sínteses relacionadas. Bem como, a importância histórica da doutrina da depravação total que pode ser compreendida como uma das maiores formas de esclarecimento a respeito do pecado, evidenciando de fato qual o principal significado desta palavra. Portanto, levando em consideração a urgente necessidade de confrontar o pecado nos dias atuais, torna-se, mais que evidente a importância do estudo aprofundado sobre as bases históricas e bíblicas quanto a formulação da concepção teológica atribuída ao pecado através da doutrina da depravação.
2.1. Objetivos
2.1.1. Objetivo Geral
O objetivo geral deste estudo é apresentar o conceito da doutrina da Depravação Total, baseando seus aspectos históricos e fundamentais para a concepção do tema.
2.1.2. Objetivo Específico
Como forma de atender os requisitos para a estruturação e conclusão do objetivo geral, este estudo irá abordar os aspectos históricos relacionados a doutrina da Depravação Total, utilizando-se da teologia reformada e buscando compreensão através da revisão literária disponível para a elaboração do estudo, sendo estes:
- Revisão da literatura apropriada;
- Apresentação do conceito de pecado original;
- Caracterização da doutrina da Depravação Total através da teologia reformada;
- Pontos do calvinismo associados;
- Conclusão do tema.
2.2. Revisão Bibliográfica
Segundo De Souza (2015), a sociedade atual vive sob a prática da concepção de avaliar o que é certo ou errado a partir das leis criadas pelo homem, porém, o autor completa afirmando que para Deus todos são pecadores, portanto ninguém na terra é de fato justo.
Para Piper (2013), somente a graça de Deus pode salvar o homem de sua natureza corruptível e pecaminosa, seria impossível por si só o homem negar os seus impulsos e se rebelar contra suas vontades.
Já para McDowell (2007), a Depravação Total não significa dizer que o homem irá cometer todos os pecados possíveis, apenas significa que em sua essência tende a prevalecer a herança maligna vinda dos primórdios.
Baren (2012) afirma que “Existe algo de mau no melhor de nós e algo de bom no pior de nós”, ou seja, não significa dizer que se alguém é mau ou bom, todos são maus, mas podem praticar o bem.
3. ASPECTOS TEOLÓGICOS – HISTÓRICOS DA DOUTRINA DA DEPRAVAÇÃO TOTAL
Derivada do conceito Agostiniano a respeito do pecado original, a Depravação Total afirma que o homem é escravo do pecado. Portanto, torna-se impossível a salvação através de méritos humanos ou esforços próprios, pois, a mesma somente se dará através da ajuda e graça de Deus. Por contraste, (OLIVEIRA, 2018), afirma que, sendo um dos cinco pontos do Calvinismo, a Depravação Total dita a doutrina de que nenhum homem é passível de salvação senão pela graça de Deus, pois todo homem está corrompido desde o nascimento. O autor ainda faz uma menção e compara a doutrina da Depravação Total com o monergismo, por enfatizar a mesma ideia referente a salvação do homem.
Para Rocha (2018), a doutrina da Depravação Total aponta para a tese de que somos todos pecadores, através da herança maldita passada por Adão, pois quando a fonte é poluída, toda a corrente também fica poluída. Prova disso é que, como dito na Palavra de Deus em Romanos 3:10-12: “Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer”. Atribuindo o pecado a todas as áreas da vida humana, razão, emoção e vontade. O que significa dizer que os homens estão destituídos da glória de Deus, pois pecaram. Sendo assim, não podem por si mesmos voltarem-se para Deus, se não pela vontade do pai. Logo, a sua salvação é um ato extremamente da vontade de Deus, através da sua graça (JUNIOR, 2018).
Segundo Steele e Thomas (2015), o termo Depravação Total serve para justamente induzir que todos foram afetados pelo pecado, portanto, o homem natural é incapaz de realizar alguma coisa espiritualmente boa. Desse modo, conclui-se que, a corrupção pecaminosa atingiu a natureza humana de forma tão profunda ao ponto de transformar o homem num agente inerte e incapaz de vencer sua própria cegueira e rebelião contra Deus.
3.1. Análise do conceito de Depravação Total
Na teologia reformada, o termo “depravação” se refere à perversidade, corrupção, o mal inato do homem não regenerado. Ou seja, em grego, o termo significa mais que maldade (gr. poneros); “descreve o homem que não só é mau, mas também quer fazer a outros tão mal quanto a ele”. Quando usamos o termo “depravação” queremos dizer a falta que o homem tem de justiça original e afeições santas para com Deus, e também a corrupção de sua natureza moral e sua tendência para o mal. Sobre esse termo, SPROUL, 2009. p, 45) afirma: “Depravação total diz respeito ao efeito do pecado e corrupção sobre a pessoa toda, está totalmente depravado é sofrer da corrupção que permeia toda a pessoa”. Esse é um dos termos mais importantes que os teólogos usam para descrever as profundezas da corrupção moral herdada pelo pecado de Adão, essa palavra deriva-se do prefixo de-, que comunica intensidade, e da palavra em Latim, pravus, que significa torcido ou entortado. Dizer que algo é depravado é dizer que seu estado ou forma original foi completamente pervertido. E afirmar que todo homem é totalmente depravado não significa que ele seja tão mau quanto pode ser ou que toda obra que faça seja inteira e perfeitamente má.
Adicionar a palavra "total", à depravação, é portanto, enfatizar sem nenhuma sombra de dúvida, a verdade de que não há absolutamente nenhuma bondade espiritual no homem natural que é nascido do Adão caído. (BEKEE 2010) diz que:
“...há algo terrivelmente errado naquilo que somos no interior e em cada aspecto do nosso ser em sua “totalidade”, nenhum elemento de nossa personalidade é menos afetado pelo pecado do que qualquer outro elemento. “Nosso intelecto, nossa consciência, nossas emoções. Nossas ambições, nossa vontade, que são fortalezas, nossa alma, estão todos escravizados ao pecado, por natureza” (BEEKE, 2010. p 66).
Com isso, entendemos que todo o nosso ser foi completamente comprometido na queda do primeiro homem, e suas consequências trouxeram à humanidade a morte espiritual e uma inabilidade total à obediência a Deus. Escravizado em seu ser, este homem não pode fazer outra coisa a não ser se sujeitar a sua natureza corrupta, desejando livremente e voluntariamente praticar obras más.
Os delegados do sínodo de “Dort” reconheceram que o ensino da depravação parcial ameaçava dois grandes temas do evangelho: a glória que pertence a Deus em salvar pecadores e a segurança do crente na invencível graça de Deus. Neste sínodo, o principal documento analisado foi a representação de cinco artigos. Mais adiante, o documento final torna-se os Cânones de Dort, formulando assim 59 artigos conhecidos mais tarde e separados por cinco pontos de doutrina, prevalecendo assim a interpretação ortodoxa.
Em termo simples, os cânones propõem “a graça soberana necessitada”. A isso afirmamos de forma clara e precisa aquilo que o calvinismo aponta como resposta a doutrina da depravação parcial que, “O estado natural do homem é de total depravação, havendo total incapacidade do homem para obter ou contribuir a favor de sua própria salvação” (BERKHOF, 1992. p, 661). Esta depravação o torna incapaz, subordinado a sua natureza caída, desprovido de qualquer ação interna para dirigir-se a qualquer bem espiritual, esse homem está totalmente corrompido. A confissão de Fé Congregacional afirma: “Desta corrupção original, pela qual nos tornamos totalmente indispostos, incapazes e antagônicos a todo bem, e totalmente inclinados a todo mal, procedem todas as transgressões atuais”. Portanto, é total essa depravação e precisa de uma interpretação correta, pois há muita desinformação acerca dessa doutrina. (STRONG 2007), na sua teologia sistemática afirma que ela pode ser entendida em dois aspectos, negativamente e positivamente. Ele diz por negativamente:
Não significa que cada pecador é: a) destituído de consciência; pois a existência de fortes impulsos para o certo, e remorso pelo erro mostram que a consciência está com frequência aguda; b) desprovido de todas as qualidades agradáveis ao homem e úteis quando julgadas segundo os padrões humanos; pois a existência de tais qualidade é reconhecida por Cristo; c) inclinação para toda sorte de pecado; pois ceras formas de pecado excluem outras; d) o seu mais intenso egoísmo e oposição a Deus; porque ele se tona pior a cada dia. (STRONG, 2007, pg.1158).
Depravação não significa privação do bem, é mais do que privação, quando o homem é entregue a sua própria vontade ele aprofunda-se completamente em seu pecado, a graça de Deus o restringe e o faz despertar para algumas coisas boas. E esses atos, são sempre assistidos pela graça de Deus. (STRONG 2007) assegura também que ela se manifesta de forma positivamente, quando diz:
cada pecador é: a) totalmente destituído daquele amor a Deus que constitui a exigência fundamental e toda abrangente da lei; b) carregado de sentimento inferior ou um desejo que ultrapassa a consideração por Deus e Sua lei; c) supremamente determinado em sua preferência do eu em relação a Deus, quer na vida interior, quer na exterior; d) cheio de aversão para com Deus a qual, apesar de às vezes latente, torna-se inimizade ativa, tão logo a vontade de Deus entra em conflito com a do próprio pecador; e) desordenada e corrompida em cada faculdade, por intermédio dessa substituição do egoísmo pela afeição suprema para com Deus; f) não credor de nenhum pensamento, emoção ou ato que a santidade divina pode aprovar; g) sujeito a uma lei de progresso constante na depravação e não tem nenhuma energia recuperadora que o capacite a ser bem-sucedido em resistir (STRONG, 2007, p.1164).
Concluímos que ele não pode, até que seja vivificado pelo Espírito de Deus, voltar do pecado a Deus em arrependimento e fé (Jr 13:23; Jo 6:44,65; 12:39,40). A base da depravação e da inabilidade espiritual jaz no coração. Ele é enganoso e irremediavelmente perverso (Jr 17:9). Do coração vêm as saídas da vida (Pv 4:23). Ninguém pode tirar uma coisa limpa de uma contaminada (Jó 14:4). Daí, nem a santidade nem a fé podem proceder do coração natural. O pecado singular de Adão penalizou toda a humanidade e totalmente. Paulo explica aos romanos como isso aconteceu: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram...” (Romanos 5:12). Em outras palavras, nossa condição espiritual não decorre do que fizemos, mas decorre do que somos naturalmente, desde o ventre.
3.2. A depravação e a incapacidade de auto-salvação do homem
As Escrituras mostram a nossa incapacidade de nos salvar. Isso diz respeito a condição humana de depravados, como também a condição de condenados. O homem precisa da ação de Deus em influenciar e transformar o coração, para que assim possa ser vivificado (Ef 2.1). Podemos começar nos fazendo a seguinte pergunta: de que a humanidade precisa se salvar? Como também, podemos perguntar: incapazes de nos salvar de quê?
Primeiro, a humanidade é incapaz de salvar a si mesma da condenação. É dito dentro da teologia reformada, que a condenação imposta por Deus é imutável. Pois os caminhos de Deus são retos, correspondem a Sua perfeição e são igualmente imutáveis, assim como o próprio Deus. (DAGG, 2003) fala sobre a sentença condenatória, dizendo que:
A sentença condenatória foi devidamente pronunciada. Não se tratou de alguma decisão precipitada, com a necessidade de ser revisada. O onisciente Juiz conhecia bem todos os fatos envolvidos, todas as circunstâncias atenuantes, todos os efeitos de Sua decisão sobre nós, e todas as consequências da sentença sobre Seu próprio caráter e governo. Sua determinação em criar o mundo não foi tomada com deliberação maior ou com base mais firme do que a afirmação da sentença. Para Ele revogar a sentença seria tão plausível quanto aniquilar todas as criaturas que formou (DAGG, 2003. p, 139).
Sem sombra de dúvida não há margem, nas Escrituras para imaginarmos um Deus equivocado, ou confuso em suas decisões. De tal forma que tanto a Sua decisão na condenação como a Sua decisão no único caminho para a Salvação são decisões eternas e perfeitas. Nem mesmo na prática obstinada da religião, o homem pode alcançar meritoriamente a salvação. Como mesmo diz (Rm 3.20) que “ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”. O que Paulo quer dizer é que não há possibilidade de cumprirmos perfeitamente as exigências da Lei, necessitando assim, de alguém que o faça.
Segundo, a humanidade é incapaz de libertar a si mesma da depravação. O simples fato de preferirmos as trevas ao invés da luz, como diz (Jo 3.19), já denuncia a nossa propensão a paixão em que vivemos. O homem acha que pode, por suas próprias forças santificar-se e andar retamente, a isso afirma (Dagg, 2003, p.140), “estar livre da depravação é ser santo, e ninguém pode desejar a santidade, ou a perfeita conformidade com a lei de Deus, se não se deleitar nessa lei”. Ou seja, o homem não consegue se libertar da depravação total porque seu prazer está no pecado e não na lei do Senhor. Mas além disso, o homem não tem o poder necessário para tal libertação. Pode até conseguir criar hábitos religiosos, e ser um grande religioso, mas serão meros rituais, como o Salmo 50 alerta. A depravação não está ligada a atos externos, mas ao coração que está obscurecido pelo pecado. O Homem pode até se iludir com a ideia de alcançar a santidade por seus méritos, no final, como (DAGG 2003) mesmo diz, “descobrirá que está totalmente enganado”. A sua inabilidade é a própria depravação, que influencia este homem em todas as faculdades de sua alma, o impedindo de livrar-se por suas próprias forças.
Na conjuntura total, podemos entender que desde a queda até o encontro salvífico com Cristo, o homem é incapaz e não pode modificar sua própria sorte, depende da misericórdia de Deus para que saia do estado de miséria e produza a mudança necessária. É um caminho que somente o evangelho ensina, uma vida que somente Cristo produz e uma transformação que somente o Espirito Santo pode fazer. A doutrina da depravação total vai se desenvolvendo de forma mais clara na história, é isso que veremos no tópico a seguir.
3.3. Concepção histórica
Além de observar a definição dos termos já postos, notamos que a doutrina da “Depravação Total”, está explicitamente presente na Igreja do primeiro século, sendo ensinada através das epístolas escritas pelo Apóstolo Paulo, a qual, será mostrada no capítulo dois deste trabalho de forma mais detalhada. Essa doutrina recebe uma ênfase também no período que chamamos de Patrística, foi um tempo em que a igreja sofreu muitas perseguições, surgindo neste período grandes pensadores dando uma resposta Bíblica as confusões doutrinárias existentes. Quando chegamos no século XVI, conhecido como o período da reforma protestante, neste período aparece o monge Martinho Lutero que acreditava que a depravação total havia tomado o homem totalmente na queda. Na sua antropologia, ele afirmava que nós somos possuidores de corpo e alma vivente, sendo que o pecado afetou tanto um como o outro e, este período é marcado por grandes pensadores.
Através de Calvino, que sistematizou a teologia bíblica do pecado herdado por Adão, tornou-se uma referência para a atualidade. Depois temos uma extensão do período da reforma, o qual chamamos “o puritanismo” que nasce com o propósito de purificar a Igreja que foi fortemente influenciada pelo catolicismo romano. E é neste período que nasce o maior legado do puritanismo, a Confissão de Fé de Westminster, Diretório do Culto Público, Forma de Governo Eclesiástico, Catecismo Maior e Breve Catecismo. Faremos ainda citações sobre a depravação total do homem nas Confissões de Fé após esse período, trataremos da culpa do pecado e por fim, da punição.
3.4. Na teologia dos pais da igreja
Ao longo da história, diferentes teólogos enfatizaram aspectos distintos do pecado, o que levou às diversas doutrinas sobre o assunto. Eles foram os primeiros a discutir a natureza, a transmissão e os resultados do pecado original, contribuindo consideravelmente para uma formulação posterior mais completa da doutrina. Um dos pais da igreja que deu seu posicionamento acerca desta doutrina foi Orígenes (185-254 d.C), teólogo de Alexandria que acreditava na teoria do pré existencialismo. Segundo Hodge (2001), “as almas dos homens pecaram voluntariamente numa existência anterior e, portanto, entraram no mundo numa condição pecaminosa”. Tertuliano (160-230 d.C) tinha um entendimento realista da raça humana. Segundo ele,
“toda a raça humana estava potencial e numericamente em Adão e, portanto, pecou quando ele pecou, e se tornou corrupta quando ele se tornou corrupto. A natureza humana completa pecou em Adão e, daí toda individualização dessa natureza também é pecaminosa” (BERKHOF, 1992. p, 243).
Ele ainda afirmava que o pecado da raça humana é o “mal que emerge da origem corrupta da alma”.
As maiores contribuições para essa doutrina neste período, sem sombra de dúvidas foram as de Agostinho de Hipona, que conhecia a realidade e a malignidade do pecado e, em seu tratado “A cidade de Deus”, já afirmava, com propriedade, o que representa o efeito do pecado no homem. Disse ele:
O pecado [de nossos primeiros pais] foi um desprezo à autoridade de Deus. Deus criou o homem; ele o fez à sua própria imagem; ele o estabeleceu acima dos outros animais; ele o colocou no Paraíso; o enriqueceu com todo o tipo de abundância e segurança; não lhe impôs nem muitos, nem grandes nem difíceis mandamentos, mas, a fim de tornar uma obediência sadia fácil para ele, lhe deu um único pequeno e leve preceito pelo qual lembraria à criatura, cujo serviço deveria ser livre, de que ele era Senhor. Consequentemente, foi justa a condenação que se seguiu e uma condenação tal que o homem, que através da manutenção dos mandamentos deveria ter sido espiritual até mesmo em sua carne, se tornou carnal até mesmo em seu espírito. E assim como em seu orgulho, ele buscou ter sua própria satisfação, Deus, em sua justiça, o abandonou em si mesmo, não para viver na independência absoluta que ansiava mas, no lugar da liberdade que desejava, para viver insatisfeito consigo mesmo em uma sujeição dura e miserável a quem, através do pecado, havia se submetido. Ele foi condenado, a despeito de si mesmo, a morrer em corpo assim como havia se tornado, por vontade própria, morto em espírito, condenado até mesmo à morte eterna (não tivesse a graça de Deus o libertado) porque havia renunciado à vida eterna. Qualquer um que pense que este castigo foi excessivo ou injusto, mostra a sua inabilidade para medir a grande iniquidade de pecar onde o pecado podia tão facilmente ser evitado (AGOSTINHO, 1990. p, 323).
No começo do século V, um enorme desafio às perspectivas que a igreja então desenvolvia foi apresentado por Pelágio, ele ficou perturbado com uma oração que leu nas confissões de Agostinho que dizia: “Dá-me aquilo que ordenas, ordena-me aquilo que queres” (GRUDEM, 1999, p.414). Para Pelágio, a atitude refletida nessa oração estimulava a que se esperasse de Deus coragem, força e capacidade para fazer a vontade divina. Dizia ele: “Os seres humanos já foram projetados por Deus para fazer a vontade dele e, nesse caso, pra que depender de Deus para ter o encorajamento e a capacitação para o fazê-lo”. Para ele, Deus havia dado aos seres humanos a capacidade de cumprir seus mandamentos, por outro lado, tanto a volição como a ação são faculdades estritamente humanas. No pensamento dele, tanto a ação quanto a realização dependem da vontade do homem. Pelágio ainda afirmava que “a queda de Adão prejudicou exclusivamente a ele mesmo, e que não existe transmissão hereditária de natureza pecaminosa ou de culpa”, negando assim a existência do pecado original. Ele ainda dizia que “Pecado, consiste apenas de atos isolados da vontade, se o homem deseja o que é mau, ele peca. Mas nada há para impedi-lo de escolher o que é bom, evitando desta maneira o pecado”. Esta doutrina foi difundida como “pelagianismo”, que negava que as pessoas tenham alguma relação com Adão e o pecado dele; o pecado original, a depravação total e a incapacidade total são todos negados por Pelágio e seu escritos.
Agostinho combate a neutralidade pelagiana e refuta seu pensamento dizendo que “a liberdade ou livre arbítrio do homem fora perdido por causa da queda de Adão” com isso, o ato volitivo do homem lhe causou consequências, tanto que uma delas é que sua tendência é tão somente fazer a vontade do pecado. A isto BERKHOF afirma:
“a natureza do homem, tanto física como moral, é totalmente corrompida pelo pecado de Adão, de modo que ele não pode deixar de pecar. Essa corrupção ou esse pecado original herdado é um castigo moral pelo pecado de Adão. A qualidade da natureza do homem é tal que, em seu estado natural, ele só pode e só quer praticar o mal. Em virtude desse pecado, o homem já está debaixo de condenação. Não é apenas corrupção, mas também culpa” (BERKHOF, 2001. p, 205).
Os ensinos de Pelágio foram rejeitados e tidos como heréticos no ano 431 no Concílio de Éfeso. Após esse período, começa a surgir uma linha intermediária entre pelagianismo e agostinianismo. A esse momento, afirma Berkhof:
O semi-pelagianismo fez a fútil tentativa de evitar todas as dificuldades dando lugar tanto à graça divina como ao livre-arbítrio humano como fatores coordenados da renovação do homem, e alicerçando a predestinação sobre a fé e a obediência previstas. Não negava a corrupção humana, mas considerava que a natureza do homem fora enfraquecida ou enfermada, e não fatalmente prejudicada pela Queda. A natureza humana caída retém certo elemento de liberdade, em virtude do que pode cooperar com a graça divina. A regeneração é o produto conjunto de ambos os fatores, todavia seria realmente o homem, e não Deus, quem dá começo à obra. (BERKHOF, 2001. p, 217).
Nem todos concordaram com a condenação de Pelágio, surgindo daí o semipelagianismo. Consequentemente, outra doutrina que negava a nossa responsabilidade pelo pecado de Adão, mas concordava que as pessoas são corrompidas pelo pedado. O Concílio de Orange tratou com a doutrina Semipelagiana que dizia que a raça humana, embora caída e possuidora de uma natureza pecaminosa, ainda é suficientemente boa para ser capaz de responder à graça de Deus através de um ato da vontade humana não redimida. O Dr. Roger comentando sobre esse momento afirma que:
A controvérsia semipelagiana finalmente terminou em 529, quando houve uma reunião de bispos ocidentais, conhecida como Sínodo de Orange. Às vezes, é chamada de Concílio de Orange, mas não consta dos concílios ecumênicos da igreja, nem pelo Oriente, nem pelo Ocidente. Em Orange, os bispos católicos condenaram os principais aspectos do semipelagianismo, endossaram o conceito que Agostinho tinha da necessidade e total suficiência da graça e condenaram a crença na predestinação divina para o mal ou para a perdição. Como Agostinho nunca chegou a afirmar especificamente que Deus predestina alguém ao pecado ou ao inferno, seus próprios ensinos passaram pelo Sínodo de Orange sem serem em nada criticados, mas também sem serem plenamente confirmados. O sínodo não defendeu a predestinação de nenhuma forma. Entretanto, exigiu a crença que qualquer ato de bondade ou retidão dos seres humanos é resultado da graça de Deus que opera neles. A teologia católica ortodoxa, a partir de então, incluiria as ideias de que a graça de Deus é a única origem e causa de todos os atos de retidão humana e que os homens não são capazes de realizar obras merecedoras da salvação sem a graça auxiliadora. Todavia, como o Sínodo de Orange deixou em aberto a questão da livre cooperação humana com a graça, a Igreja Católica passou a incluir e enfatizar um sistema de obras meritórias que são necessárias como credenciais de graça e isso se reverteu a favor de um tipo de sinergismo no qual o livre-arbítrio precisa cooperar com a graça para que a salvação chegue à consumação perfeita. (ROGER, 2017. p, 121).
A proposta semipelagiana de que Deus dá uma vontade boa a alguns, mas que outros já contam desde o início com essa vontade boa, que o capacita a buscar a salvação também foi condenada. Finalmente, o concílio de Orange propôs uma série de afirmações decisivas sobre a tragédia do pecado na humanidade. Afirmou, por que: “o pecado do primeiro homem danificou e enfraqueceu de tal forma o livre-arbítrio, que, depois dele, ninguém mais é capaz de amar a Deus de maneira certa. Ninguém é capaz, tampouco, de acreditar em Deus, ou de fazer o bem por amor a Deus, a não ser que a graça da misericórdia de Deus vá adiante dele”. Sendo assim, tornando-se essa doutrina a doutrina oficial da igreja do século V em diante. Essa foi a conclusão de Agostinho que, contribuindo para sua posteridade, foi o primeiro a elucidar com clareza e precisão o caráter de culpa inerente ao pecado de Adão, transmitido a todos os homens. Citando Romanos 5:12 ele comprova a depravação humana e sua total incapacidade a qualquer bem espiritual.
3.5. Na teologia dos reformadores do século XVI
O século XVI é completamente impactado pelo texto de Romanos 1:17 onde o apóstolo Paulo afirma que “O justo viverá pela fé”. Neste período, aparece Martinho Lutero que chegava a passar horas no confessionário, e começou a odiar o Deus que lhe parecia ser somente um juiz dos seus tropeços morais quando disse: “Minha situação era tal que, embora monge impecável, eu me encontrava diante de Deus como pecador de consciência atribulada, e não tinha confiança de que meu próprio mérito apaziguaria a ira divina, portanto, eu não amava um Deus justo e irado, mas na verdade o odiava”. No meio desse turbilhão, agonizando em sua alma, ele descobre a doutrina da justificação apenas pela fé. Passando assim a acreditar pela Escritura que a depravação total havia tomado o homem completamente na queda, e que este homem perdeu a liberdade se tornando escravo pelo pecado, tornando-se incapaz de voltar-se para Deus. Ele retrata a vontade fazendo uma analogia como um cavalo que só pode ser montado por um dentre dois cavaleiros, Deus ou o Diabo: “Se Deus cavalga, o cavalo deseja ir e vai onde Deus quer que ele vá, mas, se é satanás quem o cavalga, o cavalo deseja e percorre o caminho de satanás. Tampouco pode o cavalo escolher para quem correrá, ou qual cavaleiro o buscará; mas são os cavaleiros que disputam as rédeas do cavalo” (ALLISON, 2017. p, 424). Martinho Lutero entendia que a situação do homem após a Queda não era apenas ausência de justiça original e nem concupiscência, mas uma tragédia que afetou plenamente esse homem. Com esse ensinamento, Lutero pinta um quando resumindo o que entendeu à luz das Escrituras o seu ensinamento sobre a depravação total, a isto ele diz:
“Entendida a capacidade vinda de Deus para tomar decisões ordinárias, resta evidente que, para cumprirmos as responsabilidades no mundo, o livre-arbítrio permanece. O que ele é incapaz de realizar é fazer com que o homem salve a si mesmo. Nesse sentido, o livre-arbítrio está totalmente corrompido, tornando-se, assim, escravo do pecado e do próprio Satanás. Essa vontade escravizada nos faz desejar o que é mau. Apenas com o auxílio da Graça somos libertos. A tragédia da existência humana se resume no fato de que o homem não regenerado se considera livre, e, deste modo, se entrega cada vez mais àquilo que o aprisiona”. (LUTERO 1992. p, 27)
Com esta afirmação, entendemos que Lutero aniquila completamente a teologia da salvação meritória, passando assim a doutrinar que a justificação se dá somente pela fé. Entendendo que este homem deparado em sua natureza é incapaz de chegar-se a Deus por seus esforços. Um outro reformador chamado de Ulrico Zuínglio, com pouca expressão na tentativa de difundir a reforma protestante na Suíça era contemporâneo de Lutero e acreditava na predestinação, na justificação pela fé, na suficiência das Escrituras e, obviamente, considerava os seres humanos totalmente corrompidos e mergulhados completamente no pecado. Ele dizia que “os pecados dos homens são tão fortes que estes corrompem até a adoração” e afirmava que era impossível confiar em Deus e ao mesmo tempo nos santos. O grande sistematizador da doutrina da depravação total foi o reformador João Calvino, conhecido por sua vasta produção literária, entre elas, “As Institutas da Religião Cristã”, essa obra provou ser o trabalho mais influente da reforma protestante. Protestantes de outros países viram em Calvino e em sua obra, um pilar de grande força, pois que era um teólogo do mais alto grau. Em suas Institutas da Religião Cristã ele traz um conceito brilhante sobre o pecado que se originou no homem e como este lhe afetou, não só a Adão, mas, a sua posteridade. Vejamos o que ele diz:
O pecado original representa, portanto, a depravação e corrupção hereditárias de nossa natureza, difundidas por todas as partes da alma, que, em primeiro lugar, nos fazem condenáveis à ira de Deus; em segundo lugar, também produzem em nós aquelas obras que a Escritura chama de “obras da carne” [Gl 5.19]. E é propriamente isto o que por Paulo, com bastante frequência, designa apenas de pecado. As obras que de fato daí resultam, quais são: adultérios, fornicações, furtos, ódios, homicídios, glutonarias, Paulo chama, segundo esta maneira de ver, “frutos do pecado” [Gl. 5.19-21], ainda que, como a cada passo nas Escrituras, sejam também por ele referidas simplesmente pelo termo “pecados” (CALVINO, 1985. p, 134).
Calvino acreditava que o pecado não é simplesmente o nome para os atos perversos que cometemos; antes, é a direção e a inclinação da própria natureza humana em sua condição decaída. Cometemos pecado porque somos pecadores. O pecado consiste tanto na perda da retidão original (privação) quanto na propensão poderosa de transbordar todo tipo de mal e delito específico (depravação). “A essência do primeiro pecado de Adão, repetido em graus diversos em todos os seus descendentes, é o orgulho, a desobediência, a descrença, todos os quais resultam em ingratidão” (George, 1994. p, 88). A figura que Calvino mais gosta de usar para ilustrar esta alienação é a do labirinto, afirmando que, em razão do pecado, a humanidade encontra-se perdida nesse labirinto. “Embora a imagem de Deus ainda se fizesse presente no ser-humano, ela foi completamente deteriorada/desfigurada. Por causa dessa desfiguração, o homem não é capaz de caminhar na direção da divindade e, por isso, mergulha no erro constante de fabricar ídolos” (DAGG 2003. p, 121). Quando Calvino começa a estudar sobre a depravação total, é levado automaticamente a pesquisar sobre os aspectos da redenção e os motivos pelo qual Cristo precisou habitar neste mundo e morrer na cruz, daí nasce uma preocupação que toma seu coração e o leva a querer saber do que devemos ser salvos.
Assim como Lutero, João Calvino enfatizou uma visão do pecado bastante alinhada com a de Agostinho. Ao tratar da queda de Adão, Calvino adotou a concepção agostiniana do primeiro pecado, ele disse: “O orgulho estava na essência da desobediência de Adão à vontade de Deus, se não se deixasse inflar pela própria ambição, Adão teria vivido para sempre no estado justo em que tinha sido originalmente criado”. (CALVINO 2006. p, 111) Penso que além do orgulho, outro problema na essência da desobediência de nossos primeiros pais foi a infidelidade à Palavra de Deus pois, era tão fácil no estado em que Adão se encontrava não pecar. Essa é a depravação herdada, à qual os pais da igreja chamaram pecado original, referindo-se com a palavra pecado à depravação de uma natureza que antes era boa e pura. Calvino citando Romanos 5:12 e Salmos 51:5 concluiu que “todos os que descendemos da semente impura estamos infectados com o contágio do pecado. Aliás, antes mesmo de vermos a luz desta vida, já estávamos manchados e maculados aos olhos de Deus” Segundo Calvino:
O Senhor confiou a Adão os dons que desejava conferir à natureza humana. Assim, Adão, quando perdeu os dons recebidos, não os perdeu só para sí mesmo, mas para todos nós. Adão os recebera não só para si mesmo, mas também para nós, os dons que perdeu, e estes não foram concedidos a um só homem, mas designados a toda a raça humana. Não há nenhum absurdo, então, em supor que quando Adão foi privado deles, a natureza humana ficou nua e desprovida, ou que, quando ele foi infectado com o pecado, o contágio o transmitiu para dentro da natureza humana. O começo da depravação em Adão foi tal que se transmitiu, num fluxo perpétuo, todos os ancestrais aos descendentes (ALLISON, 2017. p, 426).
Deus criou o homem perfeito e bom, mas, a predisposição de Adão para desobedecer ao Senhor corrompeu as gerações futuras, de tal forma que, do mesmo modo que um feto, ainda que no ventre da mãe, de acordo com nossas leis já é um herdeiro legal dos bens do pai, assim também, antes mesmo de virmos à existência, ali já éramos maculados pelo pecado diante dos olhos de Deus.
3.6. Nas confissões de fé reformadas
Neste tópico, pretendemos apenas citar o artigo em que são enfatizados nas confissões de Fé Reformadas, julgando ser de muita importância para a contribuição deste trabalho. O Dr. Heber Carlos Campos, falando sobre a relevância dos Credos e Confissões, afirma:
Em tempos de tanta confusão teológica por que passa a igreja cristã neste final do século XX, não é aconselhável professar o cristianismo sem afirmar com clareza aquilo em que se crê. A igreja de Cristo sempre foi uma igreja confessante, porque a genuinidade da nossa fé tem que ser evidenciada naquilo em que cremos e confessamos. Temos que ter a ousadia de afirmar clara e abertamente e, de preferência, de forma escrita, as coisas em que cremos. Reconheço que vivemos numa era que rejeita a noção credal ou confessional, mas esta posição tem que ser repensada. Tantas são as heresias e as tentativas de assalto à fé genuína que tornam-se necessárias a formulação e a confissão daquilo em que cremos, para que a igreja, na sua inteireza, não venha a ficar perdida, lançada de um lado para outro por quaisquer ventos de doutrina ( MONERGISMO, 2018)
Mark Noll afirma de forma muito precisa que as confissões de fé têm servido aos protestantes “como pontes entre a revelação bíblica e culturas específicas” (NOLL, 2012. p, 399). Elas responderam a necessidades específicas e concretas de sua época. Algumas perderam influência rapidamente, outras, no entanto, devido à sua sensatez e equilíbrio vem permanecendo como fonte de inspiração e alimento para a fé. E aí, entendemos que somos chamados para expressar nossa fé em nossa época. O Dr. Heber ainda afirma: “importante nos lembrarmos de que não é necessária a adesão a um credo para que uma pessoa se torne cristã, mas, uma vez cristã, a pessoa tem que confessar a sua fé”. Portanto, veja o que algumas Confissões afirmaram sobre o efeito da Queda de Adão à sua posteridade.
Na Confissão Belga, 1561, artigo 14:
Cremos que Deus criou o homem do pó da terra, e o fez e formou conforme sua imagem e semelhança: bom, justo e santo, capaz de concordar, em tudo, com a vontade de Deus. Mas, quando o homem estava naquela posição excelente, ele não a valorizou e não a reconheceu. Dando ouvidos às palavras do diabo, submeteu-se por livre vontade ao pecado e assim à morte e à maldição. Pois transgrediu o mandamento da vida, que tinha recebido e, pelo pecado, separou-se de Deus, que era sua verdadeira vida. Assim ele corrompeu toda a sua natureza e mereceu a morte corporal e espiritual. Tornando-se ímpio, perverso e corrupto em todas as suas práticas, ele perdeu todos os dons excelentes, que tinha recebido de Deus (BRÈS).
Na segunda Confissão Helvética, 1566, artigo 8:
Por pecado entendemos a corrupção inata do homem, que se comunicou ou propagou de nossos primeiros pais, a todos nós, pela qual nós - mergulhados em más concupiscências, avessos a todo o bem, inclinados a todo o mal, cheios de toda impiedade, de descrenças, de desprezo e de ódio a Deus - nada de bom podemos fazer, e, até, nem ao menos podemos pensar por nós mesmos. Além disso, à medida que passam os anos, por pensamentos, palavras e obras más, contrárias à lei de Deus, produzimos frutos corrompidos, dignos de uma árvore má (Mt 12,33). (BULLINGER).
No Cânones de Dort, 1619, Capítulo 1:
Todos os homens pecaram em Adão, estão debaixo da maldição de Deus e são condenados à morte eterna. Por isso Deus não teria feito injustiça a ninguém se Ele tivesse resolvido deixar toda a raça humana no pecado e sob a maldição e condená-la por causa do seu pecado, de acordo com estas palavras do apóstolo: "... para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus... pois todos pecaram e carecem da glória de Deus...", e:"...o salário do pecado é a morte..." (Rom. 3:19,23; 6:23). (DORT, 2016).
Na Confissão de Fé de Westminster, 1647, capítulo 6:
III. Sendo eles o tronco de toda a humanidade, o delito dos seus pecados foi imputado a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foram transmitidas a toda a sua posteridade, que deles procede por geração ordinária. (At. 17:26; Gn. 2:17; Rm. 5:17, 15-19; ICo. 15:21-22,45, 49; Sl.51:5; Gn.5:3; João3:6). (WESTMINSTER, 2001. p, 59 e 60).
NA Confissão de Fé Congregacional, 2015, capítulo 7:
IV. Desta corrupção original, pela qual nos tornamos totalmente indispostos, incapazes e antagônicos a todo bem, e totalmente inclinados a todo mal, procedem todas as transgressões atuais (Gn.6.5; 8.21; Rm. 3. 10-12; 7.18; 8.7-8; Cl. 1.21. Mc. 7.21-23; Ef. 2.1-3; Tg. 1.14-15). (CONGREGACIONAL, 2015. p, 52).
Desse modo, podemos perceber que essas confissões têm grande importância para uma igreja confessional nos dias de hoje. Pois, elas ajudam a dar expressão à unidade da igreja, identifica quem somos e como entendemos as Escrituras. Ademais, tais confissões auxiliam-nos no ensino dos membros em relação aos fundamentos da fé cristã e fortalece o Corpo de Cristo contra os perigos da falsa doutrina. Portanto, caso queiramos uma igreja imunizada contra os arroubos teológicos, nada é mais oportuno do que uso das confissões para ensinar aos cristãos as bases de nossa fé cristã à luz das Santas Escrituras.
4. A DEPRAVAÇÃO E A CULPA
4.1. A natureza da culpa
Culpa significa o merecimento do castigo, ou obrigação de satisfazer a Deus. A santidade de Deus —, como mostram as Escrituras —, reage contra o pecado, e esta é a ira de Deus (Rm 1:18). Mas só se incorre na culpa através de autoescolhida transgressão, ou por parte da humanidade em Adão, ou por parte da pessoa individualmente. Como diz (STRONG, 2007): “Somos culpados apenas daquele pecado que originamos ou em cuja origem tivemos parte”. Ele ainda considera o pecado como poluição, e como tal, dissemelhança ao caráter de Deus; cuja culpa, em seu antagonismo à sua Santa vontade. Esses dois elementos poluição/culpa estão sempre presentes na consciência do pecador. ERICKSON em sua sistemática corrobora afirmando que:
Essa culpa é o merecimento da condenação ou de ser passível de punição pela violação de uma lei ou de uma exigência moral. Ela expressa a relação do pecado com a justiça ou da penalidade com a lei. Mesmo assim, porém, apalavra tem duplo sentido. Pode indicar uma qualidade inerente ao pecador, a saber, o seu demérito, más qualidades ou cumplicidade, que o faz merecedor de castigo. (ERICKSON, 2015, p.585).
Em Romanos 1:18, a Bíblia diz que “a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça”. Desse modo, percebemos que a perspectiva teológica aborda a questão da culpa a partir da indignidade humana diante de Deus. Portanto, a culpa é a— violação da Lei Moral de Deus —, ou seja, tendo em vista que tal culpa seja oriunda da rebeldia e desobediência de Adão, entende-se que a consequência de tal rebelião se estende a todo e qualquer ser humano (Rm 3.23), resultando em condenação.
Outro aspecto interessante é que, à luz das Escrituras “não há justo, nenhum sequer” (Rm 3.10). Por conseguinte, em decorrência disso, também “não há quem busque a Deus” (Rm 3.11). Posto isto, conclui-se que essa é a realidade na qual se encontra todo ser humano, pois, se estamos distantes da vontade de Deus, tal situação nos torna — culpados — e coloca-nos debaixo da ira de Deus. Desse modo, ao falar sobre a culpabilidade do ser humano diante de Deus, Anthony Hoekema diz o seguinte:
A culpa é a condição de se merecer a condenação ou de estar sujeito à punição porque a lei foi violada. Quando dizemos que o pecado original inclui culpa, não queremos dizer com isso que cada um de nós é considerado pessoalmente responsável pelo que Adão fez. Você e eu não podemos ser considerados diretamente responsáveis por algo que uma outra pessoa fez. Mas, pela doutrina do pecado original, entende-se que estamos compreendidos na culpa do pecado de Adão, porque ele agiu como nosso representante quando cometeu o primeiro pecado (HOEKEMA, 2010. p, 167).
Desse modo, embora não sejamos responsáveis pessoalmente pelo pecado, ainda assim, a desobediência de nossos primeiros pais respingou em toda a humanidade de tal forma que somos totalmente culpados pelo primeiro pecado.
4.2. Graus de culpa
As Escrituras reconhecem diferentes graus de culpa que ressaltam de diferentes tipos de pecado. Esse princípio é reconhecido no Antigo Testamento na variedade dos sacrifícios exigidos para as diferentes transgressões sob a lei de Moisés, vemos isso claramente em Levítico 4-7. É também indicado pela variedade de julgamentos, a igreja católica romana ergueu, uma distinção errônea entre pecados veniais e mortais, sendo que pecados veniais são aqueles que podem ser perdoados, e mortais aqueles que são voluntários e deliberados, e que envolvem a morte da alma. Em contraposição, podemos observar as verdadeiras diferenças e culpa conforme resultam das diferenças no pecado.
Vejamos a classificação dos graus da culpa que STRONG (2007) faz. “Primeiro ele fala sobre pecados de natureza e transgressão pessoal. Como pecado de natureza, nos referimos à culpa do pecado inato, mas existe maior culpa quando permitimos que o pecado de natureza nos leve a cometer atos de transgressão pessoal”. As palavras de Cristo: “porque dos tais é o reino dos céus” (Mt 19:14), fala da inocência relativa da infância, enquanto que Suas palavras aos escribas e fariseus: “Enchei-vos, pois, à medida de vossos pais” (Mt 23:32), se refere à transgressão pessoal acrescentada à depravação herdada.
Segundo, STRONG (2007) diz: “pecados de ignorância e pecados de conhecimento. Aqui, a culpa é determinada de acordo com a quantidade de informação que o indivíduo possui. Ou seja, quanto mais conhecimento maior a culpa”. Veja, “Eu lhes digo a verdade: No dia do juízo haverá menor rigor para Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade”. (Mt 10:15) “E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá” (Lc 12:47-48).
Terceiro, STRONG (2007) diz: “pecados de fraqueza e pecados de soberba, a quantidade de força de vontade aqui envolvida indica o grau de culpa. O salmista orou para que fosse guardado dos pecados da soberba (Sl 19:13), e Isaías fala daqueles que “puxam para si iniquidade com cordas de injustiça, e o pecado como com tirantes de carro (Is 5:8), isto é, que conhecimento e determinação cedem ao pecado”. Por outro lado, Pedro ao negar a Cristo demonstrou o pecado da fraqueza. Ele caiu apesar de sua determinação de ficar em pé.
Quarto, STRONG (2007) diz: “pecados de imperfeição e pecados de obstinação final.
O grau até o qual a alma se endureceu e se tornou não receptiva às ofertas multiplicadas da graça de Deus determina aqui o grau de culpa, obstinação final é o pecado contra o Espírito Santo e é imperdoável porque através dele a alma cessou de ser receptiva à influência divina”, em Mateus 12:31-32 está escrito: “Portanto, eu vos digo: todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens. E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro”. Ele acrescenta o texto de Hebreus 10:26 que diz: “Pois se nós, depois de havermos recebido o conhecimento da verdade, persistirmos pecando por vontade própria, já não resta mais sacrifício pelos pecados”.
BERKHOF comentando sobre esse tipo de pecado, o pecado da obstinação final, ele diz:
Esse pecado consiste na rejeição e na calúnia consciente, maliciosas e deliberadas, contra toda advertência e convicção, do testemunho do Espírito Santo a respeito da graça de Deus em Cristo, atribuindo-o, por ódio e inimizade, ao Príncipe das Trevas. Ao cometer esse pecado, o homem voluntária, maliciosa e intencionalmente atribui aquilo que é claramente reconhecido como a obra de Deus à influência e a ação de Satanás. (BERKHOF, 2001. p, 235).
4.3. A punição
Já dissemos que o pecado é tanto um ato como um estado. E um ato porque o próprio homem —, de livre escolha —, preferiu desobedecer à lei de Deus, rebelando-se contra Ele. Porém o pecado implica um estado pecaminoso porque o homem quebrou a comunhão e a relação com seu Criador, separando-se dEle. Inevitavelmente, segue-se à prática do pecado o juízo, ou seja, o castigo positivo (Gn 2:17; Rm 6:23). A partir do capítulo 3 de Gênesis, a Bíblia trata da Queda e dos efeitos imediatos do pecado na vida do homem, assim Adão experimenta de modo imediato, as consequências do seu pecado após ter desobedecido a Deus. Ele foge da presença de Deus no jardim do Éden (Gn 3:8) levando consigo o estigma do pecado e tornando-se culpado aos olhos de Deus.
4.3.1. O pecado desfigurou a imagem divina no homem
Adão não perdeu completamente a imagem divina porque em parte permaneceram nele os elementos de pessoalidade dessa imagem, na sua alma e no seu espírito. Porém, esses elementos da imagem desfigurados pelo pecado. Em que consistia a imagem original de Deus no homem? O texto de Gn 1:26,27 diz que o homem foi criado à imagem de Deus.
BAVINCK (2012, p. 173) define a pessoalidade, “como imagem natural de Deus e a santidade como imagem moral de Deus. Em relação à pessoalidade, o homem foi criado como ser pessoal e isto distingue dos seres irracionais”.
Trata-se da capacidade do homem para pensar, conhecer a si mesmo e relacionar-se com o mundo ao seu redor e determinar o seu “eu’ quanto ao certo e o errado, ao que é justo e o que é injusto (Gn 9:6; I Cr 11:7; Tg 3:9). Em relação à imagem moral, o homem foi dotado de sentimento, inteligência e vontade que o capacita a ter escrúpulos e autodeterminação quanto à justiça e santidade. Esse sentido moral da imagem divina no homem revela-se na finalidade da sua criação que é a retidão. Diz a Bíblia que “Deus fez o homem reto” (Ec 7:9) e a justiça é essencial à sua imagem (Ef 4:24; Cl 3:10). Mas ele a distorceu por seu pecado afetando toda a criação e sua descendência (Rm 5:12).
4.3.2. O pecado deu origem a um estado pecaminoso que afetou toda a raça humana
PEARLMAN (2009) afirmou: “O efeito da Queda arraigou-se tão profundamente na natureza humana, que Adão, como pai da raça humana, transmitiu a seus descendentes e tendência ou inclinação para pecar”. Neste aspecto toda criatura humana é pecadora porque adquiriu a imagem degenerada e decaída de seu pai. Ernesto Naville escreveu: “Não digo que todos sejamos malfeitores manifestos, sim, afirmo que em cada um dos homens existe o princípio do egoísmo que é a natureza do pecado”. Há uma disposição entranhada no interior de cada criatura humana para praticar o pecado (Ef 2:2-3) e Paulo ensina e atribui a universalidade do pecado ao cabeça da raça humana. O apóstolo Paulo tratou profundamente da doutrina do pecado e ensina que os cristãos autênticos, antes de serem alcançados pela graça de Deus, mediante a obra expiatória de Cristo, vivem em ofensas e pecados, fazendo a vontade do Diabo, da carne e dos pensamentos, e por isso eram considerados “filhos da ira divina”.
Mais uma vez PEARLMAN (2009) esclarece esse assunto:
Esta condição moral da alma é descrita de muitas maneiras: todos pecaram (Rm 3:9); todos estão debaixo da maldição (Gl 3:10). O homem natural é estranho às coisas de Deus (I Cr 2:15); o coração natural é enganoso e perverso (Jr 17:9); a natureza mental e moral é corrupta (Gn 6:5,12; 8:21); o pecador é escravo do pecado (Rm 6:17; 7:15); é controlado pelo príncipe das potestades do ar (Ef 2:2); está morto em ofensas e pecados (Ef 2:1); é filho da ira (Ef 2:3). (PEARLMAN, 2009. p, 135).
4.3.3. O pecado acarretou punições naturais e físicas na vida do homem
BERKHOF (2001), diz que são “punições naturais e positivas” em que as leis naturais da vida são violadas. São punições de ordem física que resultam em doenças, dores e sofrimentos ao homem, não se trata de punições imediatas a qualquer prática de pecado, mas se trata daquelas doenças impregnadas na terra, no ar e nas águas. Essas punições naturais resultam da maldição do pecado no planeta. A promessa de cura e redenção da Terra e do homem provém da pessoa de Jesus, o Filho de Deus, que se fez carne, habitou entre nós, para expiar a culpa do pecado dos homens (Gn 3:15; Is 53:4-5; Rm 5:21). Os sofrimentos da vida tornaram-se realidade na vida cotidiana do homem, como resultado da penalidade do pecado.
Seu corpo tornou-se presa de doenças e fraquezas provocando mal-estar e desconforto, sua vida mental e emocional ficou sujeita a angústias, tristezas, paixões sem domínio e desejos conflitantes. Sua vontade perdeu a capacidade de escolha, e conforme disse Paulo, toda a criação ficou sujeita à vaidade e escravidão (Rm 8:20). De certo modo, nosso sofrimento físico nos dá, pela morte física, a esperança de obtermos, um dia, corpos transformados e espirituais.
4.3.4. O pecado gerou um contínuo conflito moral e espiritual entre corpo e alma de cada criatura humana
Tão logo o homem pecou, entranhou-se em seu ser um conflito entre sua natureza superior, expressa por alma e espírito, e sua natureza inferior, e manifesta através do corpo. O homem se encontrou dividido em si mesmo, e sua natureza física e inferior, tornou-se frágil e subjugada aos poderes do pecado (Rm 7:24). O grande pregador Charles H. Spurgeon falou em uma de suas pregações que “o mar todo fora do navio não causa dano enquanto a água não penetra nele e enche-lhe o porão”. Aprendemos com esse ensino de Spurgeon que o perigo está dentro de nós mesmos, é interno e na linguagem metafórica da Bíblia esse perigo chama-se coração, que é, de fato, o nosso maior inimigo, porque nos engana e, a síntese dessa ideia é que devemos ter o coração sob controle para que ele não nos engane. Nesse fato está a questão da tentação, ela em si mesma não se constitui pecado, mas ela pode se tornar em ocasião para o pecado. O Novo Testamento, especialmente, fala constantemente sobre “carne e espírito” como opostos um ao outro (Gl 5:13-14), esse conflito envolve a totalidade da pessoa, porque “carne” induz a volta do domínio do pecado, no caso do cristão. Porém, o cristão fortalece o seu espírito para vencer a carne e estar submisso ao senhorio de Cristo.
4.3.5. O pecado despertou a consciência do homem
Diz o texto literalmente: “Então, foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus, e coseram folhas de figueira, e fizeram para si vestimentas” (G3:7). Na verdade, quando os seus olhos foram abertos, os olhos da alma, os olhos interior, uma forte convicção de que haviam desobedecido a Deus lhes sobreveio. Quando já era demasiado tarde, compreenderam a loucura de haver comido do fruto proibido por Deus. A lei moral de suas consciências deu um sinal quando desobedeceram que estavam nus, esta consciência de nudez os fez perceber que haviam perdido todas as honras e encantos da vida no paraíso que Deus havia feito para eles. Outrossim, ficaram envergonhados, porque se viram frente ao desprezo e à perda da comunhão com o Criador e aí, ficaram totalmente indefesos, porque, a partir da Queda, estavam sós, sem a presença do Criador.
4.3.6. O pecado trouxe ao homem a punição da morte física
Paulo declarou que “por um home entrou o pecado no mundo e pelo pecado, a morte” (Rm 5:12), a palavra morte, “thanatos” (gr.), significa separação das partes física e espiritual do ser humano. Indiscutivelmente, a separação de corpo e alma faz parte da penalidade imediata do pecado, a Bíblia diz que “o salário do pecado é a morte” (Rm 6:23). Pelágio e seus discípulos ensinaram que a morte física fazia parte do primeiro estado do homem antes do pecado e que ele fora criado como um ser mortal. Naturalmente, esse conceito errôneo foi rejeitado através da história. A igreja adotou uma posição definida quanto a questão da morte, a saber, que a morte sempre se constituiu uma penalidade do pecado. Existem aqueles que admitem que os ímpios serão lançados no inferno, mas que insistem que o castigo é corretivo e não retributivo, com isso, se isto não for esclarecido à luz das escrituras, nascerá uma espécie de purgatório protestante cujo o fogo serve para castigar em vez de punir.
PINK (1978) sobre esse assunto afirma:
Se os homens que morreram rejeitando o Salvador depois haverão de ser salvos, se o fogo do inferno tem como objetivo fazer aquilo que o sangue da cruz não pôde fazer, então por que foi necessário o divino sacrifício todos poderiam ser salvos pelos sofrimentos disciplinares do inferno, e assim Deus poderia ter poupado o Seu Filho. Além do mais, se Deus Se compadece tanto de Seus inimigos e não deseja senão um final feliz de infinita compaixão para aqueles que desprezaram e rejeitaram Seu Filho, perguntamos: Por que, então, Ele toma providências tão terríveis para com eles? Se eles não precisam de outra coisa senão de disciplina amorosa, não poderia a sabedoria divina inventar alguma medida mais gentil do que entregá-los ao “tormento” do lago de fogo pelos “séculos dos séculos”? Assim percebemos que o lago de fogo é o lugar do castigo, e não da disciplina, e que é a ira de Deus e não o Seu amor que lança ali os réprobos, desaparece toda e qualquer dificuldade sobre o assunto. (A. W. PINK, 1978. p, 134).
4.3.7. Consideramos também o castigo disciplinador
Alguns teólogos procuram fazer distinção entre castigo, punição e pena e, sem dúvida, há certa distinção que deve merecer a nossa apreciação. Entretanto, preferimos usar o termo castigo com abrangência ao modo de tratamento de Deus quanto aos pecados cotidianos dos cristãos e quanto aos pecados que implicam o tratamento final de Deus. Nesse ponto, especialmente, o castigo disciplinador relaciona-se com o comportamento do cristão, e objetiva corrigi-lo e repreendê-lo, a fim de que não se perca. A doutrina no que tange a esse tipo de castigo revela que é possível até mesmo morrer? Prematura do cristão como modo de disciplina divina e a salvação da alma (I Cr 22:30-34).
O autor da carta aos Hebreus faz uma distinção entre filhos e bastardos (Hb 12:6-8), nesse texto Deus se mostra como “Pai amoroso que corrige os filhos”; por isso, a correção tem sentido disciplinador. Quando o escritor emprega o termo “bastardo”, faz isso para distingui-lo do filho verdadeiro de Deus, aquele que aceita a correção do Pai (v8). CHAFER (2003, p.755) escreveu sua teologia sistemática, que “a disciplina, numa forma ou de outra, é a experiência universal de todos os que são salvos; o ramo que produz fruto é podado, para que produza mais fruto ainda (Jo 15:12)”.
4.3.8. O castigo (a pena) final do pecado
Se a morte física significa separação de corpo e alma e é parte da pena do pecado, entendemos que, de modo nenhum, a morte física venha significar a penalidade final. Nas Escrituras a palavra morte é frequentemente usada com sentido moral e espiritual, isto significa que a verdadeira vida da alma e do espírito, é a relação com a presença de Deus. Portanto, a pena divina contra o pecado do homem no Éden foi a separação da comunhão com o Criador. A morte espiritual tem dois sentidos especiais: um sentido é negativo e o outro é positivo, em relação à vida cristã, todo verdadeiro crente está morto para o pecado, porque a pena do pecado foi cancelada e ele está livre do domínio do pecado (Rm 6:24). Trata-se da separação da vida de pecado depois que se confessa a Cristo e é expiado por Ele, porém, em relação ao futuro, o crente terá a vida eterna, isto é, terá a redenção plena do corpo do pecado (Ap 21:27; 22:15).
Porém, o sentido negativo de morte espiritual refere-se à morte no pecado. O crente está morto para o pecado, mas o ímpio está morto espiritualmente no pecado, significa que o pecador vive um estado de vida separada de Deus e da comunhão. Significa estar “debaixo do pecado” e estar sob o seu domínio, o efeito nestes dois sentidos é presente e temporal. O pecador sem Deus, no presente, está numa condição temporal de excomunhão com Deus, mas pela graça de Deus poderá sair desse estado e morrer para o pecado (Ef 4:18; Gn 2:17). A punição final do pecado é a morte eterna, ou seja, o juízo final contra o pecado (Hb 9:27). A morte eterna é a culminância e completamente da morte espiritual, isso diz respeito à repugnância da santidade divina que requer justiça contra o pecado e contra o pecador impenitente significando retribuição positiva de um Deus pessoal, tanto sobre o corpo como sobre a alma.
Existem algumas teorias que tentam anular a doutrina Bíblica da morte eterna, como castigo final do pecado. O universalismo ensina que Deus é bom demais para excluir alguém da sua presença no céu, pois Jesus morreu por todos; por isso, ao final, todos serão salvos. O restauracionismo é outra ideia equivocada e antibíblica, porque ensina que Deus vai restaurar todas as coisas ao final da história da humanidade, quando então todos serão salvos. A ideia do purgatório, ensinada pela igreja romana, de que o purgatório é um período probatório pelo qual, entre a morte e a ressurreição, os pecadores que morreram serão perdoados e poderão se recuperar e se livrar da pena final de seus pecados. Por último, a teoria da aniquilação ensina que, ao final de tudo, no juízo, todos os ímpios serão aniquilados; isto é, extinguidos, como quem extingue uma folha de papel no fogo que vira cinza. Interpretam erradamente II Ts 1:9; substituem a palavra “aniquilar” por “extinguir”. O sentido Bíblico de “aniquilar” é “banir” da presença de Deus. Portanto, morte eterna é eterna separação (expulsão) da presença de Deus e a impossibilidade de arrependimento e salvação.
Outros textos poderiam ser citados, mas acreditamos serem estes suficientes para comprovarmos a veracidade da doutrina da “depravação total” e seus efeitos na humanidade. Encontramos também nos relatos dos textos escritos pelo apóstolo, essa gloriosa verdade que iremos abordar no próximo capítulo.
5. A perspectiva paulina da doutrina da depravação total
Findamos o capítulo anterior tradando de forma sistemática da doutrina do pecado. Neste capítulo iremos tratar do mesmo tema numa abordagem paulina, tendo assim, foco nas epístolas de Paulo. Sabendo que não conseguiremos expor todos os textos em um só capítulo, então abordaremos em subtemáticas fundamentais para nossa pesquisa. Mostraremos, em linhas objetivas a universalidade do pecado, os efeitos do pecado no homem e iniciaremos falando da ideia de cosmo.
5.1. O cosmo na visão Paulina
Segundo ROBINSON (2004, p. 123) O termo grego cosmo tem vários significados que precisamos nos debruçar até chegar na definição paulina do termo. Seguindo o dicionário de Robinson, encontramos múltiplos conceitos sobre o termo. Primeiro, pode significar “ordem”, “disposição e arranjo regular”, implicando na ideia de sistema. Uma posição comportamental natural da massa. Segundo, “decoração”, “ornamento”, referente a estética de joias e roupas. Terceiro, “mundo”, “universo”, “os céus e a terra”, mundo como domicílio dos homens. E quarto, o mundo como a soma das pessoas, pessoas de todas as etnias e povos espalhados pelo globo terrestre.
Para a hamartiologia paulina os conceitos um e dois das definições de Robinson acima são um bom ponto de partida. A primeira porque trata da ideia de sistema que impulsiona a todos a agirem e a segunda porque mostra que a somatória da humanidade é produtora de sistemas. Ou seja, é criado um círculo vicioso entre homem/sistema/homem que faz com que o pecado seja perpetuado e parte constitutiva da sociedade.
Aprofundando um pouco mais, iremos encontrar nas palavras de RIDDERBOS (2004, p.101) o conceito de cosmo na visão paulina: “Constitui a descrição da totalidade da vida sem redenção dominada pelo pecado e fora de Cristo”. Cosmo, neste conceito, está ligado a ideia de sistema corrompido e dominado pelo pecado que é, por sua vez, uma forma de vida fora de Cristo. Em Gálatas 1.4, Paulo no diz: “Cristo nos livra deste mundo perverso” (grifo meu).
Ainda segundo RIDDERBOS (2004) “Este mundo tem a conotação de um contexto dominado pelo pecado” (Idem). Isso nos mostra que para Paulo o mundo, como sistema, está dominado pelo pecado e deu as costas para Cristo. Sendo assim, “o pecado, como um poder hostil, os domina” (SCHREINER, 1995, p.95).
A corrupção é uma das características deste sistema e Paulo denuncia isso em Romanos 1.18-32 onde fala da Revelação Geral de Deus e como esta deixa todos os homens indesculpáveis perante o Senhor. Toda a depravação humana é resumida neste texto onde o apóstolo fala da ira de Deus revelada na criação contra a corrupção humana. O sistema corrompido manifesta sua doença em comportamentos desagradáveis aos olhos de Deus. Tais como: “injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia”. (vs. 29-31)
O paganismo é caracterizado no texto supracitado e mostra o quanto tal mundo deu as costas ao Criador. Bruce comenta esse texto dizendo que “os perdidos gozam para sempre da horrível liberdade que sempre pediram, e, portanto, estão escravizados por si mesmo”. RIDDERBOS (2004, p.70) Como força escravatória o pecado domina o homem em Adão e o impede de glorificar a Deus; assim como perverte a verdade, a substituindo pelo engano, adorando a criatura ao invés do Criador.
WRIGHT (2009, p.8) no seu trabalho sobre a Nova Perspectiva paulina, que na estrutura do pensamento do apóstolo Paulo, o paganismo ainda era visto como inimizade com Deus e oposição ao povo de Deus. Ele diz que “Paulo permanecia como um típico judeu, entendendo o paganismo com idolatria, como imoralidade e, consequentemente, como corrupção da boa criação de Deus e do homem como portador da imagem divina”. RIDDERBOS (2004, p.111) Por isso pervertem tudo que vem de Deus para seus próprios deleites, para continuarem sendo consumidos por suas próprias corrupções e para viverem a escravatura da sua própria liberdade.
Sendo assim, o que é dito em Romanos fica cada vez mais incontestável, que tais homens são indesculpáveis diante de Deus. A natureza pecaminosa se manifesta ao construir um sistema viciante, que garante a manutenção do vício do homem caído em desagradar a Deus.
RIDDERBOS (2004, p101) diz que esse sistema contaminado pelo pecado “e aqueles que seguem o curso deste mundo está seguindo o seu príncipe, o diabo”. Em Colossenses 1.13 diz que “Ele (Jesus) nos libertou do império das trevas”; Efésios 2.2 é dito que antes de sermos vivificados pelo Senhor Jesus andávamos “outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe de potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência”. Podemos ver as expressões “libertou do império das trevas” (Cl1.13) e “segundo o príncipe de potestade do ar” (Ef.2.2), que existe um príncipe sobre este sistema pagão chamado cosmo. O diabo é mencionado como o líder deste sistema que desagrada a Deus e todos que andam no curso deste sistema estão andam sob a liderança do inimigo.
No entanto, é necessário frisar, que mesmo o diabo sendo o príncipe do cosmo pervertido, que chamamos de mundo, não significa que exista dualidade (duas forças competindo). Porque todos os poderes malévolos que influenciam o cosmo “pertencem à criação de Deus (Rm8.39) e mesmo em sua atividade como adversários de Deus e de tiranizarão dos homens, estão sujeitas a Deus (2 Co12.7)”. RIDDERBOS (2004, P.102), diz que todas as forças malévolas estão sujeitas a Deus, porque o próprio Deus as sujeitou, fazendo com que o sofrimento, a opressão e a ansiedade sejam ações de controle e punição.
Rebelar-se contra Deus é característica fundamental deste sistema perverso. O cosmo é o mundo que deu as costas para Deus, é rebelde e hostil para com Ele (Rm 3.16;19; 2Co5.19). Na perspectiva paulina a humanidade é depravada e ruma para o julgamento (Rm 3.6; 1Co11.32).
O Cosmo, na visão de Paulo, é um sistema opositor a Deus, a sua criação original e adâmica; é de caráter gentílico, ou seja, com apelo ao engano e ao erro; e dominado pelo diabo. Paulo entendia muito bem que aqueles que estão neste cosmo para voltar-se para Deus precisam ser redimidos pela Cruz de Cristo. Aqueles que pela cruz passam precisam deixar de viver no curso deste mundo (Rm12.1-2) e precisam crucificar o cosmo (Gl 6.14), para viver com o único objetivo que é o de agradar a Deus.
Neste próximo tópico, veremos sobre a universalidade do pecado na visão paulina e tudo o que possa significar para a relação do homem com Deus e com o mundo que o cerca.
5.2. A universalidade do pecado na ótica paulina
Vimos no capítulo primeiro a universalidade do pecado dentro da doutrina reformada histórica. Desta forma, vimos na apresentação dos textos bíblicos uma abordagem geral, onde não se deteve a nenhum autor específico ou trecho, mas a toda Bíblia. A proposta, por outro lado, deste tópico é mais específica. É falar pontualmente da ótica paulina da universalidade do pecado.
Para o apóstolo Paulo é evidente que todo ser humano é pecador, sem distinção de cor, etnia, língua ou era. Ele deixa isso bem claro na epístola aos (Rm 3.22,23) “Porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”. Se o cosmo, como vimos no último tópico, é o mundo que deu as costas para Deus, então naturalmente neste mundo não pode haver justiça natural. Os seres caídos são, na sua totalidade, extraviados e inúteis no que se refere a justiça (Rm 3.10-20). RIDDERBOS (2004) diz que para Paulo provar a universalidade do pecado, ele:
“lança mão tanto da experiência (em seu esboço do paganismo depravado [Rm.1.18]) como da sanção do próprio judaísmo que é acusado por ele (Rm2.1, 21-24) e conclui sua acusação reveladora com o extenso uso das Escrituras: ‘não há justo, nem sequer um, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis...’ (3.10-20; cf.2.24)”. (RIDDERBOS, 2004. p. 103)
O ponto de partida do Apóstolo Paulo é a própria Escritura. No texto aos Romanos ele faz menção de uma passagem do Antigo Testamento: O Salmo 14.1-3 onde o Salmista Davi fala que todos se extraviaram e são incapazes de fazer o bem. Mas podemos encontrar, o Salmo 51.1-3, a injustiça natural do homem; e em Eclesiastes 7.20 diz que todos pecam e são incapazes de fazer o bem. O embasamento paulino da universalidade do pecado é, inicialmente a própria Escritura. Paulo empreende seu vasto conhecimento das Escrituras para provar ao seu leitor que Judeus, gregos, da circuncisão ou da incircuncisão, estão juntamente na escravidão do pecado.
Em Romanos 1.18, Paulo mostra na experiência social a comprovação da universalidade do pecado. Que toda sociedade demonstra a influência da queda em suas atitudes, desígnios e culturas. O retrato da sociedade é uma figura borrada pelo mal, onde para sua própria comodidade a verdade é por este pervertida e convertida em mentira. É a inversão de valores vista por Paulo em seus dias e que pode ser vista por nós hoje porque é fruto do mal que transpassa as eras, que é nossa depravação. A reflexão paulina é um olhar para a Bíblia e outro para sociedade, para comprovar que tudo o que a Bíblia diz pode ser visto nitidamente entre nós. Os sinais da depravação são latentes.
Uma forte característica da explanação paulina da universalidade do pecado é a explicação detalhada que é feita pelo apóstolo sobre a natureza do pecado. Paulo não diz que a sociedade é caída por causa da somatória de pecados de cada indivíduo, como uma soma de atos ilícitos a Lei de Deus. Mas que a origem de toda e qualquer tipo de transgressão se dá pelo simples fato de termos em comum uma mesma natureza. É o que RIDDERBOS (2004, p. 104) chama de solidariedade no pecado. Em Romanos 3.9 é dito: “Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado”. A solidariedade no pecado nos torna igualmente necessitados da graça.
A igualdade entre judeus e gentios no pecado e na necessidade da graça de Deus também é tema de Gálatas 3.22 onde é dito que “a Escritura encerrou tudo sob o pecado”. Fica para judeu ou gentio a mensagem de que aos olhos de Deus não existe um único justo, que todos estão sobre o poder supremo do pecado e são carentes da intervenção divina. A universalidade do pecado também é, deste modo, explicada por nossos laços genéticos, pois judeus ou não judeus, todos tem o mesmo pai, Adão. E por isso são solidários na morte e no fardo herdado no Éden.
Para chegar a vias concretas da universalidade, Paulo exemplifica a propagação desse mal. Sobre isso afirma RIDDERBOS:
Por certo, não se pode dizer dessa visão que sua intensão é explicar, quer a universalidade do pecado, quer sua maneira de propagação. No entanto, recebemos uma visão mais profunda da natureza da solidariedade no pecado de acordo com a concepção do apóstolo. Isso porque a intensão de Romanos 5.12-21 é de mostrar que a ligação que existe entre a retidão de Cristo e a vida de seu povo tem sua prefiguração ou tipo na ligação entre o pecado de Adão e a morte de seus descendentes.” (RIDDERBOS, 2004. p, 105)
A solidariedade do pecado fica provada na sentença de morte paga por todos os descendentes de Adão. Paulo deixa alguns pontos claros: Primeiro, que o homem deu ao pecado acesso ao mundo. Quando o Apóstolo usa a expressão “assim como por um só homem entrou o pecado no mundo” (Rm 5.12), ele nos mostra que o homem é o introdutor deste mal no mundo. Segundo, que este pecado é herança para todos, sendo provado na sentença recebida, a morte. E terceiro, que nossa conceituação social é a de pecadores. Paulo resume nossa relação com o Éden pelo termo: “porque todos pecaram” (Rm 5.12). Para nos mostrar o que somos e o fizemos no Éden. Afugentando qualquer possibilidade de vitimização por parte do homem, seja em qual for a época ou nação.
Esse conceito “pecadores” é exemplificado por Paulo com todos os exemplos que ele narra do declínio moral do ser humano. Adão transmite para todos os seus descendentes uma “deficiência moral”, como diz RIDDERBOS (2004, p. 106). Ao escrever a Tito (3.3) é nos dado um pequeno vislumbre desse declínio moral: “pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros”. Desta forma, se abre um quadro de calamidade, porque o homem como pecador passou a estar sob o domínio do pecado e da morte. A universalidade do pecado apresentada por Paulo (em harmonia com toda Escritura, é claro) revela que o homem é culpado no primeiro homem, é agente ativo desse mal (pois o homem é executor dos frutos do seu declínio moral) e é agente passivo na relação com esse mal (pois somente a graça pode coibir o poder do pecado, o homem não tem forças em si mesmo para isso).
As provas da experiência observatória paulina tem como utilidade comprovar aquilo que as Escrituras ensinam. Paulo tinha plena convicção de que o pecado é um mal comum a todo ser humano e todos são igualmente culpados pela introdução, existência e exercício do pecado no mundo.
Vamos ver as consequências da queda no homem. Falar dos pontos específicos que constitui o ser e como cada elemento foi corrompido por este mal. Observando os elementos no homem apontados por Paulo como corrompidos pelo pecado e as consequências que tais elementos corrompidos trazem para a vivência.
5.3. As consequências da queda para o homem
Começamos esse capítulo falando da visão de Paulo sobre cosmo, como este entedia, em harmonia com as demais Escrituras, que este é um mundo gentílico, corrompido para o pecado e inimigo de Deus. No segundo ponto falamos da universalidade do pecado e como este atingiu a toda humanidade sem restrição alguma, tomando como ponto de convergência a carta de Paulo aos Romanos. Agora, neste terceiro ponto, iremos mostrar as consequências do pecado, na visão paulina, no sujeito. Vamos tratar em dois pontos básicos. Primeiro sobre o “homem interior”, o nous (mente), o coração com parte do proceder pecaminoso; e o “homem exterior”, com corpo e membros afetados pelo pecado.
A princípio precisamos distinguir entre o que é o “homem interior” e o que é o “homem exterior”. Podemos usar, objetivamente, as palavras de RIDDERBOS (2004, p.122) que resume esses dois conceitos dizendo que: “a distinção em si é de um significado bastante geral e formal, descrevendo o lado exterior, visível e físico e o lado interior, invisível e espiritual da existência humana”. O apóstolo Paulo fala do homem interior e do homem exterior em suas epístolas, podemos apontar três passagens Romanos 7.22 “Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus”. Em 2 Coríntios 4.16 diz “Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia.” Assim como diz em Efésios 4.16: “para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais robustecidos com poder pelo seu Espírito no homem interior.” Fica evidente nesses três textos que a distinção entre esses dois aspectos da vida do homem é algo claro na teologia paulina.
Podemos nos aprofundar um pouco mais no conceito de homem interior citando BAVINCK, (2012, p.102) que elucida dizendo que: “O homem interior é a pessoa real, a entidade espiritual que é fortalecida com poder, por meio do Espírito Santo. Nesta referência está também incluída a mente, o intelecto (...) O homem interior é também o homem moral essencial, ou seja, a natureza moral que precisa ser transformada pelo poder do Espírito.” Já a do homem exterior é bem simples de entender já que corresponde a parte visível do ser humano, seu corpo, o organismo tangível e visível.
Deixar claro o conceito e diferenciação entre homem interior e homem exterior é fundamental na compreensão da doutrina do pecado na visão paulina. Pois com essa definição e distinção podemos ver alguns pontos onde o homem é afetado diretamente. Primeiro podemos falar do homem exterior e especificamente do corpo. Paulo parte de uma simples conceituação, que podemos dizer que seria a parte tangível, organismo visível que podem ser distinguidos os demais membros.
Nesse sentido, Paula fala, por exemplo, de levar no corpo as marcas de Jesus (Gl6.17; cf.2Co4.10), de entregar o corpo para ser queimado (1Co13.3), do corpo como lugar onde encontra-se a sexualidade (Rm4.19; 1Co7.4; Rm1.24), sobre o corpo como presença pessoal e física (2Co10.10). Nesse sentido, o “corpo” muitas vezes é sinônimo de “carne” na medida em que a carne, algumas vezes, denota apenas a corporalidade material do homem (cf., por exemplo, Rm2.28 – circuncisão “na carne”; Cl2.1,5 – estar presente ou ausente “quanto ao corpo”). (RIDERBOS, 2004, p.122)
RIDERBOS (2004) completa sua ideia dizendo que o termo carne também diz respeito a existência do homem. Fica claro essa afirmativa quando lemos Romanos 12.1, na expressão “apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo”, de que além de se referir ao que é tangível, o termo carne também se refere a existência de cada indivíduo em sua subjetividade. Pegando como ponto o texto citado de Romanos 12.1, afirmamos que o sacrifício do corpo, é na verdade, uma oferta da nossa existência a Deus.
Então, temos em primeiro lugar a ideia de corpo como referência a parte tangível do homem, em segundo lugar como a sua existência subjetiva, e em terceiro lugar como a vida humana na terra. Como é dito em 2 Co 4.10 que ele (Paulo) leva sobre si (no corpo) o morrer de Jesus. Que a vida de Paulo, sendo assim é caracterizada pela morte de Cristo. Onde fica evidenciado que corpo também é o meio pelo qual se age, obedece ou desobedece, se honra ou desonra, se peca e se santifica. A existência caótica e necessitada da misericórdia de Deus, pode ser resumida no termo corpo, na teologia paulina, sem a menor dificuldade.
O “somatos” é, em quarto lugar, a transitoriedade da carne. Quando em 1 Coríntios 15 que o corpo perece e se danifica com o passar do tempo, como evidência do pecado residente em nós. Fica elucidado pela ressurreição de que o homem não apenas tem um corpo, mas ele também é o corpo. É uma afirmação importante, para que no que diz respeito aos atos, o homem não se isente de culpa, responsabilizar o “somatos” pelos feitos pecaminosos.
O homem interior é descrito, por sua vez, por uma série de elementos que podem mostrar detalhadamente pelo Apóstolo Paulo a parte imaterial e intangível do homem. O primeiro elemento que podemos destacar, por uma questão de ordem e não de hierarquia, é a mente. A “nous”, “entendimento” diz respeito a capacidade de compreender. “Num sentido parecido, nous pode significar bom senso ou juízo (2 Ts 2.2)”. RIDERBOS, (2004, p.125) A capacidade de compreensão, de ter bom senso ou juízo sobre o mundo que nos cerca, é apresentado no texto de Filipenses 4.7 quando Paulo diz que a paz de Deus é além da nossa capacidade de compreendê-la. Evidenciando assim, que no homem interior existe algo que é importante que sua capacidade de compreender, julgar e mensurar a existência de todas as coisas, inclusive a sua própria. Mas, no entanto, essa existência é limitada.
A mente tem um papel tão importante da antropologia paulina que este recomenda aos irmãos em Romanos (12.1) que transformem suas mentes. E que a renovação do mundo tem como ponto de partida a transformação do entendimento de cada um que segue a Cristo, com o propósito de discernir qual é a vontade de Deus. Aqui não é simplesmente onde se encontra o conhecimento natural de Deus, mas sim a capacidade, ou como diz Riderbos a “susceptibilidade do homem assimilar a revelação de Deus”. RIDERBOS (2004, p.126) O homem compreende a existente de Deus e a forma de relacionar-se com Ele, com a criação e consigo mesmo. Por isso que, na teologia paulina, o ponto de partida para a transformação de um modo de vida é pela mudança da mente.
A mente precisa ser transformada, pois é nela que reside toda a autodeterminação do homem, que modela e guia sua forma de vida e determina sua forma de relacionar-se com Deus e todos os demais elementos da vida que o cerca. Tendo em vista que aqui não só reside a postura moral, mas também as decisões individuais que norteiam os passos de cada um.
Para nosso propósito é suficiente afirmar que a partir do ponto de vista de uma antropologia teológica, o conceito de nous tem grande importância em Paulo, no sentido que o nous denota, por um lado, o órgão, a possibilidade na qual a revelação de Deus dirige-se ao homem como ser que pensa e é responsável e, por outro lado, constitui também a descrição daquilo que o determina mais profundamente em seu pensar e agir. (RIDERBOS, 2004, p.127)
O segundo elemento que podemos falar da teologia paulina sobre o homem, é o coração. Do grego Kardia, que tem seu conceito muito próximo ao conceito de nous. Na teologia paulina, assim como em todo o Novo Testamento, kardia (coração) tem basicamente a denotação do ego humano “em seu pensamento, afeições, aspirações, decisões, tanto no relacionamento do homem com Deus como com o mundo ao seu redor”. RIDERBOS (2004, p.127) Podemos resumir dizendo que o coração seria o homem em sua forma religiosa e moral.
Temos que compreender até onde existe aproximação entre nous e kardia (mente e coração). A conversão, que é a mudança de mente (nous), é questão que começa no coração (Rm 2.5). Numa abordagem bem objetiva, podemos dizer que a mente é o ego humano no que diz respeito ao intelecto e a razão, enquanto que o coração é o ego humano no que diz respeito as emoções, aspirações e desejos.
O Coração está extremamente ligado a Deus, como diz Romanos 2.12, pois nele está declarada a Revelação de Deus para o homem. E mesmo aqueles que não tendo a Lei, dão testemunho da Lei por esta estar cravada em seu coração. Mesmo assim, não podemos dizer que sem a iluminação de Deus, o homem possua em si tudo que é necessário para agradar e amar a Deus, sem a revelação. Isso apenas mostra que o homem é indesculpável de suas volições pecaminosas e que estão distantes da vontade do criador. Paulo fala sobre Israel, que existe um véu (2 Co 3.15) sobre o coração que afasta o verdadeiro conhecimento de Deus, impedindo a compreensão da glória de Deus.
Um ponto importante sobre o coração é merecedor de fechamento desse tópico, é o fato deste ser demonstrado na teologia paulina como o centro do próprio homem. Segundo RIDERBOS o coração é o ponto de partida do governo de Deus.
Assim como Deus, por sua revelação, declara-se ao coração do homem como verdadeiro centro de seu ser, assim também esse coração é o sujeito da resposta do homem a essa revelação, quer esta seja positiva ou negativa; sendo que o coração é, então sondado, provado e manifesto por Deus (Rm 8.27; 1Ts 2.4; 1Co 4.5) RIDERBOS (2004, p.128).
O terceiro elemento que queremos destacar é compreensão de Alma/Espírito na teologia paulina. Nos antecipamos que nesse trecho do trabalho não queremos entrar na discussão sistemática entre dicotomia e tricotomia, mas apenas apresentar na perspectiva paulina o conceito desses dois termos. Onde Psycke e pneuma (Alma e Espírito) não tem o sentido helenista de homem imortal, distinguindo da soma. Na teologia paulina significa a vida natural do homem (Rm 11.3;16.4; 1 Ts 2.8). Nessa perspectiva, quando Paulo se refere a Alma/Espírito está denotando o homem em sua existência, como em passagens onde é dito que a graça de Cristo seja com o “vosso espírito” (Gl 6.18; Fp 4.23) que seria o mesmo que dizer simplesmente “seja convosco”. “Não significa nada além do homem em sua existência natural interior”. RIDERBOS (2004, p. 129)
Baseado no que afirmamos, podemos dizer que o pecado opera na existência humana, que a vida em sua abrangência está contaminada pelo mal do pecado e compromete a relação do homem com o seu Criador.
6. Considerações finais
Tendo em vista os aspectos observados, conclui-se, portanto, que a natureza humana é totalmente corrompida pelo pecado. Pois, a tendência humana para fazer aquilo que contraria a vontade de Deus só corrobora sua essência caída e depravada. Desse modo, como já disse WATSON (2009, p. 151): “Deus não incute a maldade no homem. Ele retira a influência de sua graça e, então, o coração se endurece por si só”. Portanto, uma vida de desobediência, depravação moral, inclinada para fazer o mal e disposta a todo tipo de rebelião contra Deus só reforça a existência do abismo estabelecido entre perdição e vida eterna.
Outro aspecto interessante é que, embora criado à imagem e semelhança de Deus, ainda assim —, como consequência da queda —, não podemos negar o fato de que o homem seja predisposto ao pecado (Rm 7.19). Nossa vontade pecaminosa só pende para os desejos de nossa própria carne, demonstrando assim, a total inaptidão do homem para buscar a Deus sem a influência da graça redentora. Ademais, a salvação pela graça de Deus só reforça a verdade quanto à incapacidade humana de alcançar o favor divino mediante seus próprios méritos (Ef. 2.8). Em razão disso, sou inclinado a concordar com BAXTER (2007, p. 103), que ao falar sobre o assunto disse o seguinte: “... que merecido seja escrito no chão do inferno, mas na porta do céu: O dom gratuito”.
Não se pode esquecer também que, ao dizer que estamos mortos em nossos delitos e pecados (Ef 2.1), o apóstolo Paulo, mais uma vez, está relatando a verdade referente à depravação total do homem. Pois, em linhas gerais a Bíblia afirma que todos os homens nascem em pecado (Sl 51.5), que não temos justiça em nós mesmos (Rm 3.10), que não buscamos a Deus mediante nossa própria vontade (Rm 3.11), e que o coração humano, isto é, a origem de suas vontades, é totalmente entregue à idolatria e enganoso por natureza (Jr 17.9).
Por fim, ao fazermos um contraste entre depravação e salvação, concluímos que, a salvação pela graça indica que o fundamento de nossa salvação está em Deus, e não no homem. A Bíblia diz que Deus nos deu vida estando nós mortos nos nossos delitos e pecados (Ef 2.1). Portanto, de acordo com PINK (1977, p. 112 e 113), da mesma forma que a gravidade, de acordo com sua lei, só leva um objeto para baixo, assim também, para que o homem se levante do lamaçal do pecado, é preciso que uma força externa o faça subir. E, essa é a relação de Deus com o homem. Pois, enquanto o poder divino o sustenta, ele é impedido de afundar cada vez mais no pecado; todavia, retirado esse poder, o homem cai. Ou seja —, seu próprio pecado o afunda.
Reconhecemos que o pecado corrompeu toda a criação, dentre os quais, também o homem que fora feito à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26). No entanto, a salvação pela graça transforma o ser humano em uma nova criatura. Em decorrência disso, um ser outrora depravado e morto nos delitos e pecados, passa então a ter prazer em cumprir a Lei de Deus, tendo-a como orientação. Um pecador condenado tem a Lei de Deus como regra de condenação, mas, um pecador regenerado encontra na Lei de Deus ensinos de gratidão.
Soli Deo Glória !
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Publicado por: Wagner Stand`Laus Rodrigues da Silva
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