Pós-graduação: um passaporte para a atuação no ensino superior?
Pode que ser que você, bem como um número significativo de pessoas, almeje ingressar no corpo docente de uma universidade, cujas remunerações são bem maiores que uma simples atuação em colégios, tanto da rede pública quanto da rede particular. Dessa forma, longe de quaisquer pretensões filosóficas, esse almejar requer um “preço”, assim como muitos outros aspectos que norteiam nosso cotidiano. Esse preço, assim não tão acessível, define-se pelo título que se obtém na conclusão de um mestrado ou de um doutorado, sobretudo esse último comumente requisitado nas universidades federais. Conclusões elencadas, aceitabilidade também efetivada, mas eis que um questionamento parece emergir e, aproveitando desse contexto, perguntamos: será que realmente esses cursos capacitam o professor em termos de didática?
Não é à toa que, além de presenciarmos, ainda ouvimos pelos corredores das universidades um aglomerado de alunos comentando sobre este ou aquele professor que sabe somente para si, não conseguindo repassar o conhecimento como deveria. Lamentavelmente, esse fato sinaliza uma das recorrências mais pontuais no meio acadêmico. Dessa forma, equivale dizer que todas as incumbências destinadas a um professor, independentemente de quaisquer esferas em que ele atue, definem-se pela elaboração de um plano de aula que atenda aos seus objetivos didáticos, a implantação de projetos pedagógicos pela comunidade escolar e/ou acadêmica, métodos de ensino e avaliação, entre outros. No entanto, estas práticas representam prioridades deixadas em segundo plano ou até mesmo desprezadas nos cursos de pós-graduação.
Dessa forma, com vistas a conferir ainda mais credibilidade à problemática aqui discutida, plausível é citarmos as palavras de Vasconcelos (1998, p. 86), nas quais ele ressalta que há “pouca preocupação com o tema da formação pedagógica de mestres e doutores oriundos dos diversos cursos de pós-graduação do país. A graduação tem sido ‘alimentada’ por docentes titulados, porém, sem a menor competência pedagógica.”*
Alimentados por essa noção referente à validade das afirmações aqui demarcadas, não é de todo desprezível citarmos o que preconiza o artigo 66 da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), afirmando que “a preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado.”* Ainda é válido apresentar a versão anterior do artigo 66 que diz que“a preparação para o exercício do magistério superior se faz, em nível de pós-graduação, em programas de mestrado e doutorado, acompanhados da respectiva formação didático-pedagógica, inclusive de modo a capacitar o uso das modernas tecnologias do ensino”. (grifos nossos)
Nota-se que o caso se demarca como bastante recorrente e, fazendo menção ao que postula a LDB, não podemos negligenciar o fato de que vivemos à luz dos avanços científico-tecnológicos, o que induz ao professor, sobretudo o universitário, a “mergulhar” de vez por todas em pesquisas, publicações, participação de simpósios, congressos, enfim, em tudo que diz respeito a esses encontros científicos de uma forma geral. Dessa forma, norteados por esse contexto, não é descabido afirmar que, normalmente, o que se constata são profissionais atuando no mercado de trabalho somente pelo fato de possuírem o tão sonhado título, embora dotados de um evidente despreparo em relação ao “como ensinar”, ainda que “o que ensinar” esteja muito bem preparado, pois carregam consigo uma bagagem cultural considerada plausível.
Assim, acerca de tais elucidações, caro(a) pós-graduando(a), fica um convite a você para refletir conosco sobre os programas adotados pela maioria dos cursos de pós-graduação, nos quais a prioridade se materializa pelo intento de produzir e publicar pesquisa, razão pela qual a situação se demarca assim como tal. As reflexões parecem se estender um pouco quando constatado que, a não ser que a Didática e a Pedagogia façam parte da linha de pesquisa do aluno, a preparação e a capacitação ficam à mercê dos acontecimentos, infelizmente.
* VASCONCELOS, Maria Lúcia M. Carvalho. Contribuindo para a formação de professores universitários: relatos de experiências. In: MASETTO, Marcos (org.). Docência na Universidade. Campinas, SP: Papirus, 1998. p. 77-94.
* BRASIL. Lei n. 9.394/96 de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, no. 248, dez. 1996, p. 27.833-27.841.
Publicado por: Vânia Maria do Nascimento Duarte
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