O DESENVOLVIMENTO DA PSICOPATIA SOB A ANÁLISE DO SERIAL KILLER TED BUNDY
índice
- 1. RESUMO
- 2. INTRODUÇÃO
- 3. CONSIDERAÇÕES SOBRE A PSICOPATIA
- 4. CONSIDERAÇÕES SOBRE SERIAL KILLERS
- 5. MÉTODO
- 6. RESULTADOS
- 7. DISCUSSÃO
- 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
- 9. REFERÊNCIAS
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1.
RESUMOA psicopatia é um transtorno de personalidade caracterizada por desvios comportamentais e de caráter. Sujeitos com esse transtorno são manipuladores, mentirosos patológicos, com ausência de empatia, impulsivos, possuem charme superficial e desrespeitam os desejos, direitos ou sentimentos alheios para sua própria satisfação. Diante desta perspectiva, a pesquisa teve como objetivo apresentar de que forma os fatores biológicos e familiares estão relacionados ao desenvolvimento da psicopatia em Ted Bundy. Tem-se como objetivos específicos: identificar que fatores contribuíram para a formação da personalidade de Ted; e descrever o modus operandi do Serial Killer. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica integrativa de caráter documental. Foram utilizados os bancos de dados SciELO (Scientific Eletronic Library Online), SCOPUS, PubMed, BDTD (Biblioteca digital brasileira de teses ou dissertações) e Z - Library, durante o período de 2011 a 2021. Como critérios de inclusão foram usadas produções escritas em português e inglês, com disponibilidade de texto completo em suporte eletrônico, disponíveis em periódicos nacionais e internacionais. E como critérios de exclusão, foram excluídas produções que não eram de língua portuguesa e inglesa, além de trabalhos que não entravam em conformidade com os objetivos da pesquisa. A partir das pesquisas realizadas, foi constatada a existência de estudos significativos de que traumas ocorridos na infância, podem predispor a alguém se tornar um indivíduo violento quando adulto, considerando não somente os fatores ambientais, mas também os genéticos, que mesmo não tendo uma interação direta, podem modular as repostas cerebrais de uma pessoa alterando a forma como ela enxerga as vivências do seu meio social.
Palavras-chave: Psicopatia; Ted Bundy; Serial Killer.
ABSTRACT
Psychopathy is a personality disorder characterized by behavioral and character deviations. Subjects with this disorder are manipulative, pathological liars, lack of empathy, impulsive, have superficial charm and disrespect the wishes, rights or feelings of others for their own satisfaction. From this perspective, the research aimed to present how biological and family factors are related to the development of psychopathy in Ted Bundy. The specific objectives are: to identify which factors contributed to the formation of Ted's personality; and describe the modus operandi of Serial Killer. It is an integrative bibliographical research of documentary character. The databases SciELO (Scientific Electronic Library Online), SCOPUS, PubMed, BDTD (Brazilian digital library of theses or dissertations) and Z - Library were used, during the period from 2011 to 2021. As inclusion criteria, productions written in Portuguese and English were used, with full text availability in electronic support, available in national and international journals. And as exclusion criteria, productions that were not in Portuguese and English were excluded, as well as works that did not comply with the research objectives. From the researches carried out, it was found that there are significant studies that trauma occurring in childhood can predispose someone to become a violent individual as an adult, considering not only environmental factors, but also genetic ones, which even without an interaction directly, can modulate a person's brain responses by changing the way she sees the experiences of her social environment.
Keyword: Psychopathy; Ted Bundy; serial killer.
2. INTRODUÇÃO
Para Hare e Neumann (2008) a psicopatia é um transtorno de personalidade que envolve quatro características latentes: interpessoal, afetivo, estilo de vida e antissocial. Hare (2013) enfatiza que esses indivíduos são frios e que não sentem culpa ou remorso, com incapacidade de construir relações emocionais com outros e uma demasiada falta de empatia. Um termo que supostamente teria o mesmo significado de “Psicopatia”, é o transtorno de personalidade antissocial.
Cabe ressaltar que os critérios diagnósticos do TPAS no DSM-5, consistem em grande parte por comportamentos antissociais e criminosos. O que acabou levando a uma grande confusão e debates, em que muitos médicos propuseram erroneamente que o TPAS e a psicopatia eram termos sinônimos. A importância de apresentar essa distinção contribui efetivamente no desenvolvimento desse trabalho, que parte da linha teórica de que a psicopatia é um construto diferente de TPAS, tanto em sua origem e aplicação de critérios diagnósticos (APA, 2014).
Hare (2013) enfatiza que os psicopatas veem as pessoas praticamente como objetos, que devem ser usados para seu próprio prazer e satisfação já que, para eles, são pessoas que pedem para serem exploradas. Para Hare (2013, p. 59) “em alguns aspectos, eles são como aqueles androides desprovidos de emoção da ficção científica, não conseguem imaginar o que seres humanos experimentam”.
Miller (2014) pontua que majoritariamente os assassinos em série, são compostos por homens brancos entre 20 e 40 anos. O indivíduo, é na maioria das vezes, solitário, embora muitos são casados e vivem em relacionamentos estáveis. Eles são vistos pelos outros como pessoas charmosas e inteligentes. Mas apesar de a maioria dos assasinatos serem cometidos por homens, é errado afirmar que não existem Serial Killers mulheres, já que agora existem provas de que cerca de 16% de todos os assassinos em série, são mulheres (HARRISON, 2015).
Ted Bundy foi um Serial Killer americano que assassinou cerca de 30 mulheres nos Estados Unidos, entre os anos de 1974 e 1978. Era formado em Psicologia e, posteriormente, começou a cursar Direito, mas acabou deixando o curso alguns meses depois, na mesma época em que começou a matar jovens universitárias. Seus crimes se perpetuaram ao longo de oito estados americanos (SIMPSOM, 2016).
Na época em que foi descoberto, o assassino gerou um grande impacto na sociedade, principalmente após ser preso, já que seu caso teve uma grande glamorização dos meios de comunicação e das mídias, que acabaram produzindo filmes e documentários acerca da sua vida, evidenciando um maior conhecimento sobre os Serial Killers até os dias atuais. Ted Bundy foi condenado a três penas de morte, e em 24 de janeiro de 1989 foi executado na cadeira elétrica (RULE, 2019).
Diante desta perspectiva, o presente artigo teve como objetivo apresentar de que forma os fatores biológicos e familiares estão relacionados ao desenvolvimento da psicopatia em Ted Bundy. Tem-se como objetivos especifcos: identificar que fatores contribuíram para a formação da personalidade de Ted; e descrever o modus operandi do Serial Killer. Teve-se como questão norteadora: De que forma os fatores biológicos e familiares estão relacionados ao desenvolvimento da psicopatia em Ted Bundy?.
É importante salientar que o trabalho não quer justificar as ações cometidas por Ted Bundy, mas apenas realizar uma análise sobre a psicopatia, principalmente, no que se refere aos assassinos em série, compreendendo os fatores psicológicos e hereditários que podem favorecer o desenvolvimento dessa psicopatologia. Ted Bundy foi um Serial Killer que teve grande visibilidade da mídia, ganhando curiosidade de estudiosos e até admiração de uma parcela populacional. Diante destes fatores, ele foi selecionado como o alvo de análise desta pesquisa.
3. CONSIDERAÇÕES SOBRE A PSICOPATIA
As primeiras tentativas de descrever a psicopatia são do início do século XIX, sendo o médico francês Philippe Pinel (1801) o pioneiro na descrição clínica da psicopatia. Pinel identificou que alguns dos seus pacientes não apresentavam qualquer sinal de transtorno mental, e sim comportamentos como a impulsividade, violência e falta de remorso. Sendo assim, cunhou o termo “mania sem delírio”, utilizado para identificar indivíduos que mesmo tendo consciência de suas ações, se envolviam em comportamentos violentos e de autodestruição. O autor evidenciou que esses comportamentos não teriam nenhuma alteração em funções intelectuais, perceptivas, do julgamento, imaginação e memória (MONTEIRO, 2014).
Mas foram os estudos de Hervey Cleckley no seu livro “The mask of Sanity” publicado em 1941, que constituem um trabalho de importância significativa para a psicopatia. Cleckley definiu o perfil do psicopata, dando ênfase aos aspectos interpessoais e afetivos, em 16 itens que são eles: 1. Aparência sedutora e boa inteligência; 2. Ausência de delírios e de outras alterações patológicas do pensamento; 3. Ausência de "nervosidade" ou manifestações psiconeuróticas; 4. Não confiabilidade; 5. Desprezo para com a verdade e insinceridade; 6. Falta de remorso ou culpa; 7. Conduta antissocial não motivada pelas contingências; 8. Julgamento pobre e falha em aprender através da experiência; 9. Egocentrismo patológico e incapacidade para amar; 10. Pobreza geral na maioria das reações afetivas; 11. Perda específica de insight (compreensão interna); 12. Não reatividade afetiva nas relações interpessoais em geral; 13. Comportamento extravagante e inconveniente, algumas vezes sob a ação de bebidas, outras não; 14. Suicídio raramente praticado; 15. Vida sexual impessoal, trivial e mal integrada; 16. Falha em seguir qualquer plano de vida (MONTEIRO, 2014).
Outro grande avanço surgiu na década de 80, quando o psicólogo canadense Robert Hare, se tornou um dos maiores pesquisadores ao contribuir para os estudos clássicos de Cleckley. Trazendo a psicopatia como combinação de traços de personalidade e comportamentos antissociais, Hare assim como Cleckley, resgata os aspectos interpessoais e afetivos, que são pontos principais para a compreensão desse transtorno, contribuindo assim para uma avaliação desses comportamentos antissociais e de um estilo de vida impulsivo (HARE, 2013). O autor ainda enfatiza que esses indivíduos são frios e que não sentem culpa ou remorso, com incapacidade de construir relações emocionais com outros e uma demasiada falta de empatia.
De acordo com Hare e Neumann (2008) a psicopatia envolve quatro características latentes: interpessoal, afetivo, estilo de vida e antissocial. A esfera interpessoal diz respeito a superficialidade e manipulação, autoestima exacerbada e mentira patológica. A afetiva é caracterizada por falta de remorso e afeto superficial. O estilo de vida, indica a necessidade de um estímulo impulsivo, irresponsabilidade, estilo de vida parasita em relação aos outros e falta de objetivos reais. Por fim, a dimensão antissocial indica a dificuldade no controle de comportamento, delinquência na juventude, versatilidade criminosa e revogação de liberdade condicional.
Bins e Taborda (2016) concordam com o conceito estabelecido por Cleckley e defendidos por Hare. Para os autores a psicopatia é definida como uma síndrome resultante da combinação de traços de personalidade e conduta desviante, caracterizada por aspectos interpessoais, afetivos e comportamentais. Esses sujeitos mostram-se elegantes e grandiosos, mas enxergam as pessoas como meros objetos para seu próprio uso.
É importante destacar que um indivíduo psicopata nem sempre se tornará um Serial Killer, ou seja, um assassino em série e vice-versa. Hare (2013) descreve que essas pessoas em maior porcentagem significativa são: estupradores, ladrões, trapaceiros, golpistas, promotores, membros de gangues, advogados com licença cassada, jogadores profissionais, médicos com licença cassada entre outros. O autor ainda acrescenta que ao contrário dos psicóticos, os psicopatas, sabem exatamente o que estão fazendo, tendo consciência de seus atos, e seus comportamentos são de escolha livremente exercida.
Hare (2013) relata que esses indivíduos têm como marca primordial uma grande falta de consciência. Seu “poder” está na autossatisfação à custa dos outros. Ainda ressalta que a expressão mais predominante da psicopatia (mas não sendo a única), envolve graves violações criminais das regras sociais, usando charme e habilidades de se adaptar para culminar a sociedade, deixando rastros de vidas decadentes por onde passam.
Robert Hare é também o criador mais proeminente na avaliação da Psicopatia, tendo desenvolvido o Psychopathy Checklist Revised (PCL-R), que é a primeira avaliação formal, que combina os traços de personalidade e comportamentos antissociais. Este instrumento é a medida mais difundida para se avaliar a Psicopatia no meio acadêmico e clínico, sendo constituído por 20 itens, avaliados por meio de uma entrevista semiestruturada (MONTEIRO, 2014).
No Brasil, a psiquiatra Ilda Morana, foi a grande responsável por validar esse instrumento no país através da sua Tese de Doutorado em 2003. Essa pesquisa foi de extrema utilidade para os psicólogos e psiquiatras forenses, no diagnóstico e avaliação dos sujeitos suspeitos de serem psicopatas, visando à instrução de medidas legais cabíveis (MORANA, 2005).
Morana (2005) pontua que o PCL-R, possui uma ampla validade e confiabilidade, e é considerado o instrumento mais fidedigno para identificar a psicopatia, principalmente em indivíduos criminosos mais sujeitos a reincidência criminal. Outra grande vantagem do instrumento, é que ele não sofre alteração segundo a cultura e grau de escolaridade do sujeito.
O termo e a definição de psicopatia, ainda é um grande debate entre os estudiosos, e depara-se com duas vertentes distintas: uma enfatiza os aspectos interpessoais e afetivos e a outra traz a visão comportamental, que dá ênfase sobre o histórico de comportamentos antissociais delitivos que são defendidos pelos critérios diagnósticos do DSM-5 (HENRIQUES, 2009).
Vale ressaltar que muitos desses estudos sobre a psicopatia foram em contextos prisionais e manicomiais. No entanto, a Psicopatia não se restringe a estes ambientes, sendo comum para esses indivíduos a inserção em outros contextos e, inclusive, para obterem sucesso em vários âmbitos de sua vida, sendo caracterizados como psicopatas bem-sucedidos (MONTEIRO, 2014). No entanto, quando se trata em estudar sobre a Psicopatia, ganham destaque aqueles que avaliam sobre os Serial Killers, que possuem bastante visibilidade da mídia e de curiosos no assunto.
4. CONSIDERAÇÕES SOBRE SERIAL KILLERS
Richard Von Krafft-Ebing foi o precursor em estudar sobre homicídios sexuais em série na era moderna em 1866, em que apresentou uma descrição meticulosa de características psicológicas de assassinos que ainda hoje são usadas por investigadores na elaboração de perfis criminais. Dentre as características incluem-se a tendência de mentir e manipular, prolongar a tortura para o aumento de excitação sexual, envolver-se em uma escala de comportamentos sádicos, uso excessivo de pornografia, humilhar as vítimas e planejar com cuidado os assassinatos para evitar a detecção (MILLER, 2014).
Para a caracterização destes assassinos em série, o agente especial do Federal Bureau of Investigation (FBI) Robert Ressler, criou no final da década de 1970 na Unidade de Ciência Comportamental o termo “Serial Killer”. Para o agente, poderiam ser inclusos nesta categoria, indivíduos que sozinhos ou não, tenham matado pelo menos três pessoas durante um intervalo de tempo com “resfriamento”, ou seja, uma pausa, havendo entre cada crime, uma premeditação (MILLER, 2014).
Apesar de ser bastante usada atualmente, essa classificação do FBI, sofre algumas críticas. Hickey (2015) pontua que a maioria dos pesquisadores concordam que os assassinos em série devem ter matado no mínimo duas pessoas e que, normalmente, existe um padrão em seus crimes, tanto relacionados ao tipo de vítima como ao método utilizado.
Esse padrão de crimes cometidos por Serial Killers, é conhecido por “Modus Operandi (MO)”. Douglas et al. (2013), pontua que o MO é um comportamento aprendido, o que o assassino faz para cometer o crime, sendo dinâmico. Portanto, pode mudar à medida que esse indivíduo progride em seus assassinatos e percebe que uma ação ou técnica é melhor para ele do que outra.
Outro aspecto característico do assassino em série, listado por pesquisadores, é a sua “assinatura”. Ela é diferente do Modus Operandi, não muda radicalmente. É o que tem que ser feito durante o delito, sendo a fantasia central com a possível vítima. Um exemplo que pode ser demonstrado, em um caso hipotético, em que um estuprador evidencia sua assinatura quando pede para suas vítimas lerem um roteiro vulgar ou abusivo, que pode refletir na necessidade de dominação e manipulação do infrator. Os elementos que constituem essa assinatura são manifestações mais especificas de suas fantasias, portanto, são mais significativas para ele (DOUGLAS et al., 2013).
Segundo Douglas (2017) além do Modus Operandi e da assinatura, existem as motivações, ou seja, aquilo que faz com que o infrator cometa algum delito. De acordo com o autor, as três motivações mais presentes em estupradores e assassinos em série, são a dominação, a manipulação e o controle. Essas três palavras são, consequentemente, as que se deve prestar mais atenção ao lidar com criminosos em série violentos. Tudo o que eles fazem e pensam tem por objetivo ajudá-los a preencher suas vidas “desajustadas” (DOUGLAS, 2017).
Douglas (2017) ainda relata que existem três fatores inter-relacionados, que causam comportamentos de extrema violência, sendo eles: ter sido maltratado ou abusado na infância, paranoia e dano cerebral. O autor destaca que, pessoas com esse tríplice comportamental, deixam-se levar por seus desejos sem considerar as regras sociais. E para a maioria dos assassinos em série com motivações sexuais, a escalada de fantasia para a realidade envolve várias etapas, muitas vezes alimentadas por pornografia, experimentações mórbidas com animais e crueldade com outras pessoas (DOUGLAS, 2017).
Miller (2014) pontua que majoritariamente os assassinos em série são compostos por homens brancos entre 20 e 40 anos. O indivíduo é na maioria das vezes, solitário, embora muitos são casados e vivem em relacionamentos estáveis. Eles são vistos pelos outros como pessoas charmosas e inteligentes. E na maioria dos assassinatos em série, não há relação entre vítima e agressor, sendo que 61% dos Serial Killers atacam estranhos. Mas Elias (2019) salienta que a escolha das vítimas não é aleatória, e essas devem ter algum significado importante para o assassino. O importante não é a identidade, e sim o significado, o que pode explicar a brutalidade de violência cometida.
Assassinos em série, costumam desejar e escolher pessoas que consideram vulneráveis, tanto por características físicas, como por facilidade na captura. Sendo assim, geralmente atacam prostitutas, viciados em drogas, crianças, idosos, caronistas e pessoas hospitalizadas. Para escolher suas vítimas o Serial Killer ainda considera critérios diferentes como: sexo, idade ou estilo de vida (ELIAS, 2019).
Elias (2019) afirma, contudo, que a vítima preferencial dos assassinos em série, são mulheres. Elas representam 65% das vítimas, contra apenas 35% das vítimas de sexo masculino. Geralmente são mulheres brancas, já que esses assassinos tendem a matar pessoas do mesmo grupo étnico, para não serem percebidos, e como citado anteriormente, a maioria destes assassinos são homens brancos.
A maioria dos Serial Killers, coletam troféus de suas vítimas, para manter como lembranças da morte, podendo levar joias, roupas, órgãos ou outras partes do corpo, já que alguns desses indivíduos se envolvem em necrofilia ou até preservam o cadáver ou partes dele para seu uso posterior. Alguns ainda, retornam ao local do crime para ter contato sexual repetido com o corpo da vítima (MILLER, 2014).
Ao longo dos anos foram muitas as tentativas de classificar os assassinos em série em tipologias e características distintas. Uma das primeiras tentativas de classificação foi feita pelos agentes especiais do FBI, no final da década de 80, em que classificaram os Serial Killers em dois grupos: organizado e desorganizado (FEDERAL BUREAU OF INVESTIGATION, 2014).
O assassino organizado foi definido como um indivíduo que planeja seus assassinatos e possui controle na cena do crime. Esses indivíduos normalmente tem um veículo, o que facilita na execução de seus crimes. Vronsky (2004) afirma que o assassino organizado, pode passar semanas, meses e até anos, antes de agir. Ele desenvolve sua fantasia gradativamente e está ciente da sua compulsão de realizar seu desejo. O assassino organizado é perigoso e difícil de ser capturado pela polícia. O autor ainda pontua que esse sujeito se aproxima de suas vítimas socializando com elas, encantando-as, enganando-as ou levando-as a uma situação que possa dominá-las.
Já os assassinos desorganizados, são aqueles mais propensos a deixar armas no local do crime, agem mais por impulso, normalmente realizam atos sexuais com o cadáver e não possuem um veículo durante seus crimes. Frequentemente, o Modus Operandi do assassino desorganizado é diferente, já que esse não tem um critério em relação a escolha das vítimas, no qual age por espontaneidade, utiliza armas disponíveis no momento e, na maioria das vezes, ataca pela noite (FEDERAL BUREAU OF INVESTIGATION, 2014).
Outra tipologia criada e sendo a mais usada, foi desenvolvida por Holmes, De Burger e Holmes (1988), e classificaram os assassinos em série em quatro tipos, sendo eles:
-
Tipo visionário: esses assassinos matam em resposta a visões ou vozes divinas e do mal, normalmente sendo considerados psicóticos.
-
Tipo missionário: assassinos com a ideia de que sua missão de vida é purificar o mundo de certos grupos de pessoas como prostitutas, idosos ou um determinado grupo étnico.
-
Tipo hedonístico: assassinos que matam por puro prazer, ou para obter alguma forma de satisfação com isso
-
Tipo Controle: o assassino que quer ter controle e poder total de sua vítima. Gostam de ver a vítima encolher e implorar por misericórdia. Nesse último grupo, a fonte primária de prazer não é sexual, mas sim de exercer esse poder de controle.
Outro ponto de destaque dentro deste âmbito citado acima, é que o Doutor Joel Norris, PhD em psicologia, em um estudo de 1989 postulou que existem seis fases relacionadas aos assassinos em série, sendo elas: fase áurea (o assassino começa a perder a compreensão da realidade), fase da pesca (quando o assassino procura sua vítima ideal), fase galanteador (quando esse sujeito seduz ou engana sua vítima), fase da captura (quando a vítima cai na armadilha), fase do assassinato ou totem (o auge da emoção para o assassino) e, por fim, a fase da depressão (que ocorre depois do assassinato) (NORRIS, 1989; SILVA, 2019).
Apesar da maioria dos assassinatos em série ser cometidos por homens, é errado afirmar que não existem assassinas em série. Ao contrário dos homens, existem características que as distingue. Enquanto os agressores do sexo masculino matam por raiva compulsiva ou predatória, os crimes cometidos por mulheres tendem a ser mais para ganho pessoal ou busca excessiva de atenção. Normalmente começam a matar um pouco mais tarde em relação aos homens. Como características de seus crimes, usam geralmente venenos como uma ferramenta letal para matar. As vítimas são pessoas conhecidas, como seus cônjuges, filhos ou pessoas que dependem de seus cuidados (MILLER, 2014).
Harrison (2015) afirma que homicídios cometidos por assassinas em série, foram negligenciados e subestimados, fazendo com que alguns peritos chegassem a argumentar que “não existiam” serial killers mulheres. A autora ressalta que agora existem provas que comprovam que cerca de 16% de todos os assassinos em série, são mulheres, há uma crença existente de que mulheres na nossa sociedade são incapazes de cometer homicídios múltiplos (HARRISON, 2015).
5. MÉTODO
Para cumprir os objetivos deste trabalho, foi realizada uma pesquisa bibliográfica integrativa de caráter documental, para obter um maior aprofundamento acerca dos estudos relacionados a temática. Foram utilizados os bancos de dados SciELO (Scientific Eletronic Library Online), Google Acadêmico, Pubmed, BDTD (Biblioteca digital brasileira de teses ou dissertações) e Z - Library, durante o período de 2011 a 2021, dentro dos quais utilizou-se os descritores: Serial Killers; Psicopatia; Ted Bundy.
Como critérios de inclusão foram usadas produções escritas em português e inglês, com disponibilidade de texto completo em suporte eletrônico, disponíveis em periódicos nacionais e internacionais. E como critérios de exclusão, produções que não eram de língua portuguesa e inglesa, além de trabalhos que não entravam em conformidade com os objetivos da pesquisa.
Para a construção desse trabalho, foram utilizados livros que contribuíram diretamente com os objetivos centrais da pesquisa, assim como a construção do repertório teórico apresentado no decorrer deste trabalho. Os principais livros para a construção do artigo foram: “Sem consciência e “As raízes biológicas da violência”.
A pesquisa documental aconteceu por recortes de jornais e arquivos fotográficos do caso extraídos da internet, as obras biográficas de Ted Bundy (como fonte primária), escrita por Michaud e Aynesworth “The Only Living Witness (2012) ” e “The Stranger Beside Me” (2019) de Ann Rule.
No fluxograma abaixo, é possível compreender o processo de seleção das produções. Foi composto por 3 etapas: 1) seleção a partir do título; 2) seleção por resumo; 3) seleção após a leitura do texto completo. Durante as leituras foram aplicados os critérios de exclusão e inclusão já citados.
Fluxograma: processo de seleção das produções
Fonte: pesquisador, 2021.
Ao final do processo obteve-se 9 produções, sendo 4 da plataforma Google Acadêmico e 5 da Z-Library. Não obteve-se resultados na PubMed, SciELO e BDTD.
6. RESULTADOS
A tabela 1 evidencia a distribuição dos estudos de acordo com o ano de publicação. O ano de 2013, 2016 e 2019 apresentaram os maiores números de publicações correspondendo a 66,66% do total, em seguida, com 33,33% os anos de 2017, 2015, e 1999. Observa-se que ao longo dos anos os estudos relacionados a temática se mantiveram constantes, o que revela uma escassez de mais estudos sobre o assunto.
Tabela 1 - Distribuição dos estudos incluídos, segundo o ano de publicação.
Ano da publicação |
Número absoluto |
% |
2019 |
2 |
22,23 |
2017 2016 |
1 2 |
11,11 22,22 |
2015 |
1 |
11,11 |
2013 |
2 |
22,22 |
1999 |
1 |
11,11 |
TOTAL |
9 |
100% |
Fonte: pesquisador, 2021.
A tabela 2 demonstra a distribuição dos estudos por idioma. Houve uma prevalência em 66,66 % de publicações no idioma português. E somente 33,33% para o idioma inglês. Destaca-se que, alguns dos estudos em português foram traduzidos do inglês.
Tabela 2 - Distribuição dos artigos de acordo com o idioma.
IDIOMA |
NÚMERO ABSOLUTO |
% |
Português |
6 |
66,67 |
Inglês |
3 |
33,33 |
TOTAL |
9 |
100% |
Fonte: pesquisador, 2021.
Na tabela 3, há a distribuição das produções de acordo com os aspectos individuais por autor/ano, título, base de dados, objetivo geral, método e conclusão. Os dados estão descritos em ordem cronológica de autor:
Quadro 1- Resultados encontrados para a construção do artigo
N° |
Autor/Ano |
Título |
Base De Dados |
Objetivo Central |
Método |
Conclusão |
1 |
MICHAUD e ANYESWORTH (2012) |
The only living witness: The true story of serial sex killer Ted Bundy. |
Z-Library |
Desmistificar Ted Bundy, explorando sua vida, enquanto exploram a psicologia complexa de um jovem profundamente perturbado e emocionalmente instável, cuja fachada saudável nunca antes tinha sido trespassada. |
Pesquisa documental |
A Obra bibliografica de Michaud e Aynesworth, apresenta o que é provavelmente o auto-retrato mais completo alguma vez pintado por um assassino em série. |
2 |
EMPIS (2013) |
Ted Bundy: Estudo de caso. |
Google Acadêmico |
Analisar a personalidade de um individuo, de acordo com uma perspectiva psicopatológica |
Estudo de caso |
Os resultados obtidos permitiram uma compreensão de Ted Bundy enquanto sujeito com características marcadamente psicopáticas. |
3 |
HARE (2013) |
Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós. |
Z- Library |
Objetivo de divulgar, perante o grande público, a Psychopath Checklist, instrumento por meio do qual operacionalizou o conceito de psicopatia. |
Pesquisa básica |
Alguns avanços recentes forneceram novas interpretações a respeito da natureza desse transtorno perturbador, e as suas fronteiras começam a ficar mais definidas. Porém com um número menos de pesquisas se for comporar com outros transtornos. |
4 |
RAINE (2015) |
A anatomia da violência: as raízes biológicas da criminalidade. |
Google acadêmico |
Revelar os mecanismos internos dos crimes violentos e o modo como as forças externas interagem com eles para produzir criminosos. |
Estudo bibliográfico |
A génetica, assim como os fatores ambientais e hereditários tem influências significativas que podem contribuir para gerar um um cerebro criminoso. |
5 |
BINS e TABORDA (2016) |
Psicopatia: influências ambientais, interações biossociais e questões éticas. |
Google acadêmico |
Estudar a relação dos fatores genéticos, biológicos, ambientais, sociais e psicodinâmicos. no desenvolvimento da psicopatia |
Estudo bibliográfico |
Estressores ambientais podem influenciar os fatores biológicos para muito além de sua determinação genética, com consequentes repercussões no desenvolvimento e fenótipo da psicopatia. |
6 |
SIMPSOM (2016) |
Ted Bundy: the life and crimes of one of america's most notorius Serial Killers. |
Z- Library |
Um estudo mais direcionado e condesado nos detalhes da vida de Ted Bundy e de algumas de suas vítimas. |
Obra bibliográfica |
Apesar de não ser tão aprofundado em relação as outras obras de Ted Bundy, a obra traz informações importantes a cerca dos seus crimes com algumas fotos e citações de Ted Bundy. |
7 |
DOUGLAS (2017) |
Mindhunter: o primeiro caçador de serial killers americanos. |
Google acadêmico |
Traçar o perfil criminal e das principais caracteristicas de um serial killer |
Pesquisa Experimental |
Com os estudos realizados, percebeu-se que a maioria dos individuos que são assasinos em série, proviam de lares disfuncioais em sua infàcia, assim como ter sofrido abusos físicos e sexuais, uso de drogas e outras circustâncias relacionadas. |
8 |
RULE (2019) |
Ted Bundy: um estranho ao meu lado. |
Z- Library |
Aprofundar acerca dos crimes e vida de um dos serial killers mais crueís dos Estados Unidos |
Obra bibliográfica |
A obra nos oferece um onhecimento mais íntimo de Ted Bundy, apresentado por Anne Rule, onde apresenta aspectos importantes da vida do serial killer e detalhes de seus crimes. |
9 |
SULLIVAN (2019) |
Ted Bundy’s Murderous Mysteries: The Many Victims of America’s Most Infamous Serial Killer. |
Z- Library |
Pesquisa profunda no registro de arquivos de um dos mais conhecidos assasinos em série da américa, Ted Bundy, e de suas vítimas. |
Pesquisa documental |
Murderous Mysteries de Ted Bundy traz à tona pela primeira vez muitos fatos até então ignorados sobre Bundy e revela aspectos anteriormente ocultos da vida de algumas de suas vítimas. |
Fonte: pesquisador, 2021.
As obras selecionadas trazem achados tanto da vida de Ted Bundy como considerações sobre a Psicopatia. Referente as metodologias, encontram-se pesquisa documental (MICHAUD e ANYESWORTH, 2012; SULLIVAN, 2019), estudo de caso (EMPIS, 2013), pesquisa básica (HARE, 2013), estudo bibliográfico (RAINE, 2015; BINS e TABORDA, 2016; SIMPSOM, 2016; RULE, 2019) e pesquisa experimental (DOUGLA, 2017).
7. DISCUSSÃO
Theodore Robert Cowell nasceu em 24 de novembro de 1946 em Burlington, no estado de Vermont, EUA. Filho de Eleanor Louise Cowell, que na época tinha 22 anos de idade, desde criança foi criado acreditando que sua mãe era sua irmã mais velha, e seus avós eram seus pais (EMPIS, 2013).
Assim como a maioria dos Serial Killers, Ted Bundy teve uma infância em que presenciou inúmeros momentos de violência de seu avô contra a sua avó, tendo uma dinâmica familiar prejudicada. O seu avô, Samuel Cowell, a quem era próximo e que achava ser seu pai, era um indivíduo cruel e, possivelmente, esquizofrênico, conhecido por maltratar animais e pessoas. Sua avó Eleanor, apresentava sinais de doença mental, incluindo depressão, ansiedade e agorafobia, sendo tratada periodicamente com terapia eletroconvulsiva (SIMPSOM, 2016). Ted quando criança presenciou várias vezes seu avô agredindo sua avó, além de ter fácil acesso às revistas pornográficas dele (EMPIS, 2013).
Segundo Michaud e Anynesworth (2012), em seu livro “The Only living witness” existe uma predisposição genética para comportamentos violentos. Essa afirmação poderia ser sustentada, principalmente, por Ted ser neto de um homem que era conhecido por ser extremamente violento e pelo motivo dele nunca ter conhecido seu pai, que também poderia ter sido um sujeito com comportamentos violentos. Dados que evidenciam assim a possível a influência genética que contribuiu para o desenvolvimento de sua personalidade psicopática.
Michaud e Anyesworth (2012), relatam que quando uma criança é criada em um lar violento nos primeiros anos de vida, isso pode se tornar traumático. E esse trauma pode afetar a forma como a criança funciona. Conformidade que é comprovada por vários estudos atuais acerca da influência dos fatores genéticos e ambientais no desenvolvimento da psicopatia.
Outro grande pesquisador em psicopatia, Hare (2013), assim como os outros autores, afirma que a criação problemática ou experiências infantis adversas, desempenham papel importante na modelagem da genética e biologia, afetando a evolução do transtorno e como ele se manifesta em termos comportamentais. Modelagem que se tornou comprovada em estudos que demonstraram que os fatores genéticos e biológicos interagem com fatores sociais para predispor alguém a um posterior comportamento antissocial e violento. Esses traumas na infância são as principais características apresentadas nos indivíduos que são Serial Killers. No caso de Ted, além de vivenciar a agressividade de seu avô, a quem adorava, ele era submetido à estímulos precoces, tais como a disponibilidade de materiais pornográficos em sua infância.
Por conta do comportamento violento de seu avô, Louise Cowell (mãe de Ted), acabou se mudando com ele, já que aquele ambiente não era saudável para uma criança. Assim, aos quatro anos de idade Ted se muda para Tacoma em Washington. Após a nova mudança, Louise conheceu Johnnie C. Bundy, e após algum tempo, acabaram se casando em 1951, e por conta disso, Ted recebeu seu novo sobrenome, “Bundy”. Na sua infância ele não tinha vontade de se aproximar de seu padrasto, que tentava se aproximar, já que estava satisfeito por ter um filho. Ted, no entanto, parecia cada vez mais se afastar de Johnnie, havendo constantes discussões entre os dois (RULE, 2019).
Raine (2015) pontuou que a ausência ou morte parental, ou ter sido criado por outras pessoas também é considerado preditor da psicopatia. Fator esse que foi presente na vida de Ted Bundy, sendo cabível destacar que certos fatores ambientais podem modificar as respostas biológicas e levar a Psicopatia através de mecanismos biológicos e alteração funcional do cérebro, o que é denominada de interação biossocial.
Durante sua adolescência, Ted se envolveu em pequenos crimes, sendo inclusive preso em mais de uma ocasião. Porém, apesar de seus delitos, na sua escola ele era um bom aluno, e mesmo tímido era bastante popular com algumas garotas (SIMPSOM, 2016). Apesar de ele ser conhecido e popular na escola, era bastante tímido, quase introvertido, mas nesse período suas notas eram consistentemente boas.
Em sua última entrevista, horas antes de sua execução na cadeira elétrica em 24 de janeiro de 1989, Ted relatou que a pornografia desde a sua adolescência fora bastante presente, tendo acesso à livros pornográficos de natureza mais dura, do que gráfica (RULE, 2019). Além disso, afirmou também que a pornografia violenta foi um dos principais fatores para seu comportamento violento.
Na primavera de 1967, Ted conhece Sthephanie Brooks (Pseudônimo). Segundo Rule (2019) ele logo se aproximou daquela jovem moça, que para ele, era bela e sofisticada. Ele acabou se apaixonando por ela, que era cerca de um ano mais velha, além de ser filha de uma rica família da Califórnia. Sthephanie Brooks esteve com Ted durante a primavera de 1967 até o verão de 1968, até que decide terminar o relacionamento depois de um ano juntos, após observar que Ted não tinha planos reais ou perspectivas reais para o futuro. Achava-o muito emotivo e inseguro de si próprio. Ted ficou devastado com o término, principalmente por ela ser seu primeiro amor, sendo a personificação de tudo que ele queria (RULE, 2019).
Em 1969, quase um ano depois do término com Sthephanie, após verificar alguns registros, Ted descobriu que sua irmã era na verdade sua mãe, e que seu pai tinha sido um marinheiro da força aérea. O conhecimento de que sua mãe tinha mentido não foi uma surpresa completa, mas que o afetou por vários anos (RULE, 2019). Os dois eventos em um período curto de tempo próximo, podem ter sido os gatilhos para o surgimento do comportamento violento e sádico de Ted que se evidenciaria algum tempo depois. Destaca-se que, as vítimas de Ted Bundy eram parecidas ou tinham características similares a sua antiga namorada, por quem passou a nutrir um grande desprezo (RULE, 2019).
Em 1972 Ted Bundy se formou em Psicologia. Durante o curso obteve boas notas e era muito apreciado pelos seus professores. Após uma carta de um dos seus professores, foi aceito na faculdade de Direito, mas apenas alguns meses depois, desistiu (SIMPSOM, 2016).
A série de crimes de Ted Bundy ocorreram entre os anos de 1974 a 1978. Sua primeira vítima conhecida foi Lynda Healy que desapareceu de seu quarto na noite de 31 de janeiro de 1974. Mas esse não havia sido o primeiro ataque de Bundy. No início de janeiro do mesmo ano, ele atacara Mary Adams, e assim como Lynda Hely, Ted tinha entrado em seu quarto por uma janela. Ele a agrediu em sua cama com uma vara de metal, a espancando diversas vezes em sua cabeça. Mary, apesar das inúmeras lesões externas e internas, acabou sobrevivendo ao ataque depois de passar vários dias em coma, porém não se lembrava de seu agressor (SULLIVAN, 2019).
As vítimas de Ted eram na sua maioria eram jovens universitárias, de longos cabelos pretos, repartidos ao meio. Dos poucos ossos que foram encontrados, parecia que as jovens tinham sido estranguladas, espancadas ou ambos. Na maioria dos casos ele perseguia e observava suas vítimas, as abordando com um pretexto (MICHAUD e ANYESWORTH, 2012). Na figura 2 é ilustrada algumas de suas vítimas:
Figura 2 - Algumas das vítimas de Ted Bundy
Fonte: Netflix
O modus operandi de Ted Bundy era abordar essas jovens universitárias em parques ou em campos universitários, onde ele fingia que estava com um braço ou o pé engessado, sempre usando uma tipoia (MICHAUD e ANYESWORTH, 2012). A partir desse momento, ele pedia para que essas jovens o ajudasse a colocar alguns de seus livros em seu carro, um fusco modelo Volkswagen (figura 3).
Figura 3 - Carro que Ted usava para transportar o corpo de suas vítimas
Fonte: National Museum of Crime and Punishment.
Após conseguir enganar a jovem, ele dava um golpe em sua cabeça, fazendo com que a vítima desmaiasse. Obtendo êxito, com frequência conduzia centenas de quilômetros com seus corpos mortos ou inconscientes, e após abusa-las sexualmente, as estrangulava na maioria as vezes e largava os corpos em sítios pré-selecionados. É importante notar que assim como Douglas (2017) havia mencionado, o modus operandi do assassino pode ser mudado. Nas duas primeiras ocasiões de seus crimes, Ted invadia os quartos de suas vítimas e só posteriormente começou a aborda-las.
Raine (2015) relata que a baixa frequência cardíaca também pode ser um dos mecanismos hereditários responsáveis pela transmissão do comportamento antissocial de uma geração para outra, então pode-se considerar que essas regiões límbicas mais profundas relacionadas a emoção como parciais responsáveis por essa raiva profunda e agressão no grupo de assassinos tem em comum, afirmação essa que poderia explicar o comportamento de extrema violência que Ted tinha contra suas vítimas.
No caso de Ted Bundy, esses recursos regulatórios pré-frontais são suficientes para expressar sua agressividade em ações de modo cuidadosamente organizado e premeditado. Ted, por exemplo, enganava suas vítimas usando um gesso em seu braço, para que parecesse vulnerável, ele era educado e pedia as jovens para carregar livros para seu carro. Tendo posse de suas vítimas, ele as levava para um lugar seguro e as atacava, mordendo seus mamilos, batendo em suas cabeças, e após o abuso sexual, acabava espancando brutalmente aquelas jovens mulheres (RAINE, 2015). Dessa forma, apesar de seu planejamento e premeditação que precediam seus ataques, quando estava com sua “presa”, atacava-a com uma fúria selvagem. O caldeirão límbico emocional estava em descontrole em uma matança descontrolada (RAINE, 2015).
Após o desaparecimento da primeira vítima, várias outras garotas começaram a desaparecer no estado de Washington. Algumas dessas jovens eram Donna Mason, Susan Rancourt, Roberta Parks, Brenda Ball e Georgan Hawkins, todas desaparecidas nos primeiros meses de 1974. Esses desaparecimentos começaram a preocupar as autoridades locais, porém a polícia ainda não tinha interligado os desaparecimentos (MICHAUD e ANYESWORTH, 2012).
Na época, os investigadores ainda estavam céticos em relação as ligações entre os crimes. Os jornais da época como o The Daily Chronicle, Lubock Avalanche Journal e o Daily Sentinel e inúmeros outros noticiavam e ofereciam recompensas a pessoas que soubessem qualquer informação sobre os desaparecimentos. O jornal Statesman Journal após os sumiços de diversas jovens, em uma matéria de 19 de junho de 1974, publicou uma foto de Georgan Hawkins, em que aborda sobre os casos de cinco jovens universitárias que estavam desparecidas, todas entre uma idade de 18 a 21 anos (Figura 4).
Figura 4 - Trecho da matéria de jornal falando sobre o desaparecimento de Georgan Hawkins
Fonte: Statesman Journal, 1974.
Algumas semanas depois dessa publicação, no dia 14 de julho de 1974, a polícia conseguiu um retrato falado do suspeito, que horas antes havia raptado duas mulheres: Janice Ott e Denise Naslund, no Lago Sammamish. Por conta desse fato, surgiram vários testemunhos de algumas pessoas que estavam no lago naquela manhã. Nota-se que pela primeira vez, Ted buscou suas vítimas pela manhã, o que acabou dando algumas pistas para os investigadores (MICHAUD e ANYESWORTH, 2012).
Figura 5 - Retrato falado de Ted Bundy
Fonte: Arquivo do livro Ted Bundy’s murderous mysteries the many victims of america’s most infamous serial killer, data original, 1974.
A figura 5, é um retrato falado do suposto homem que foi visto no Lago Sammamish na manhã do dia 14 de julho de 1974, usando uma tipoia em um dos braços. Esse retrato foi feito após uma testemunha ter visto esse homem se aproximar de algumas jovens, se apresentando como “Ted”, pedindo para que o ajudasse a colocar alguns livros em seu carro.
Ted por conta das investigações acaba se mudando para outros estados, onde começa a matar várias outras jovens. Algumas dessas vítimas foram Nancy Wilcox, Melissa Smith, Laura Aime e Debra Kent, todas essas jovens tinham as mesmas ou características físicas semelhantes. Apenas no ano seguinte em agosto de 1975, Ted foi parado por um policial em uma rodoviária de Utah em Salt Lake City. Nessa parada, foram encontrados no carro de Ted, alguns dos instrumentos que ele utilizava para cometer seus crimes (Figura 6) (MICHAUD e ANYESWORTH, 2012).
Figura 6 - Itens que a polícia encontrou no fusca de Bundy
Fonte: arquivos do livro Ted Bundy: The Life and Crimes of One of America’s Most Notorious Serial Killers, data original, 1975.
Após ser capturado, Ted ainda fugiu duas vezes da prisão no dia 7 de junho de 1977, e posteriormente no dia 30 de dezembro do mesmo ano. Na segunda vez que fugiu, acabou matando mais três jovens mulheres no estado da Flórida no dia 14 de janeiro de 1978 em uma fraternidade. As vítimas eram Lisa Levy, Margareth Bowman. Algumas semanas depois, matou sua última vítima chamada Kimberly Leach.
Ted foi julgado e, durante esse período, foi seu próprio advogado, já que achava que os seus eram incompetentes. Por conta desses últimos três crimes foi condenado à pena de morte, o que resultou em sua execução na cadeira elétrica aos 42 anos de idade em 24 de janeiro de 1989.
Figura 6 – Tedy Bundy em um tribunal de Miami, em 1979
Fonte: Arquivos do estado da Flórida
Bins e Taborda (2016) dissertam que, muitas das vezes, os fatores genéticos, ambientais estão relacionados, o que torna um desafio, pois saber quais realmente tem influência causal sobre a Psicopatia e quais foram somente correlacionados, é complexo, já que em alguns indivíduos o componente etiológico genético é o mais forte, enquanto em outros indivíduos o componente predominante é o ambiental. Em Ted Bundy, os fatores mais predominantes, seriam os ambientais, já que quando foi estudado, não foi notado nenhuma alteração em seu cérebro, apenas um pequeno tumor em seu peito. Mas, vale detalhar que quando foi examinado, os estudos sobre as influências de fatores genéticos e hereditários ainda estavam no início e tecnologia não era tão avançada. Sendo assim, não se pode descartar a possível influência desses fatores.
Esses fatores juntos ou separados podem ter sido um dos responsáveis pelo surgimento da psicopatia no Serial Killer Ted Bundy, explicando assim a sua personalidade psicótica. Por fim, o fato de ter sido abandonado pelo seu pai, vivido uma infância traumática e, posteriormente, ter sido rejeitado e descoberto logo a seguir sobre sua verdadeira ascendência, podem ter configurado em gatilhos significativos, que contribuíram de forma significativa para seus terríveis assassinatos.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos no que tange as influências dos fatores biológicos, ambientais e hereditários no desenvolvimento da psicopatia, se tornaram bastante evidentes e importantes, principalmente por fornecer um conhecimento mais amplo relacionado ao comportamento e a personalidade dos psicopatas. Este trabalho buscou compreender e aprofundar a relação que esses fatores desempenham para que um sujeito possa vir a cometer crimes cruéis contra outras pessoas, tendo como ênfase o caso do Serial Killer Ted Bundy, que como apresentado, na sua infância presenciou inúmeros episódios de violência no seu contexto familiar e escolar.
A partir dos resultados das pesquisas realizadas por Raine (2015), foi constatado a existência de estudos significativos de que traumas ocorridos na infância, podem predispor a alguém a se tornar um indivíduo violento quando adulto, considerando não somente os fatores ambientais, mas também os genéticos, que mesmo não tendo uma interação direta podem modular as repostas cerebrais de uma pessoa alterando a forma como ela enxerga as vivências do seu meio social. Confluência essa, que é denominada de interação biossocial.
O estudo apresentou dificuldades tendo em vista que a maioria das produções eram de língua inglesa, e muitos dos conteúdos não tinham tradução para o português. Então se fez necessário um amplo aprofundamento por conta da escassez desses estudos em língua portuguesa. Por tanto, se faz importante mais trabalhos acerca da influência de fatores ambientais e genéticos no desenvolvimento da psicopatia, principalmente no âmbito da psicologia.
No que concerne à análise de Ted Bundy, os fatores ambientais que foram evidenciados pela pesquisa, constataram através das constantes brigas de seu avô contra a sua avó, abusos de seus colegas quando estava na escola, a exposição a pornografia quando criança, uma desilusão amorosa na fase adulta e, logo em seguida, a descoberta sobre sua origem. E também conforme os estudos realizados por Michaud e Aynesworth (2012) e Rule (2019), esses fatores mencionados podem se configurar como sendo os principais gatilhos que contribuíram no desenvolvimento da personalidade psicopática de Ted Bundy, não descartando a influência dos fatores genéticos enquanto parciais responsáveis. Portanto, diante do que foi apresentado, o presente projeto alcançou seus objetivos acerca da temática desenvolvida.
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Escrito por Ronaldo Da Silva Oliveira1 e Ana Valéria Lopes Lemos2
1 Graduando do Curso de Bacharelado em Psicologia no Centro Universitário de Ciências e Tecnologia do Maranhão – UniFacema.
2 Especialista em Psicoterapia cognitivo-comportamental pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Docente no Curso de Bacharelado em Psicologia do Centro Universitário de Ciências e Tecnologia do Maranhão – UniFacema .
Publicado por: Ronaldo da Silva Oliveira
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