A INTERVENÇÃO DA TERAPIA FAMILIAR SISTÊMICA EM FAMÍLIAS RECONSTITUÍDAS

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1. RESUMO

Este trabalho apresenta um modelo de atendimento em terapia familiar realizado como parte integrante do Curso de Formação em Terapia Familiar Sistêmica. A apresentação é fundamentada nos referenciais teóricos da abordagem sistêmica e com um estudo de caso clínico. A análise é feita a luz da Teoria Sistêmica e das Escolas de Terapia Familiar: Estrutural; Milão e Transgeracional. Além de reflexões acerca de famílias relacionadas a novas configurações familiares, famílias reconstituídas e famílias com padrasto e madrasta. Ficou demonstrado como resultado final que, a partir da aplicação desses conceitos e técnicas sistêmicas, foi possível a reorganização familiar com novas formas de interação e comunicação.

PALAVRAS-CHAVE: FAMÍLIA, TERAPIA FAMILIAR, ESTRUTURAL, MILÃO, TRANSGERACIONAL.

ABSTRACT

This paper presents a model of care in therapy developed as part of the Training Course in Systemic Family Therapy. The presentation is based on the theoretical references of the systemic approach and with a clinical case study. An analysis of the light of the theory of systemic and family therapy choices: Structural; Milan and Transgenerational. In addition to reflections on families related to new families, reconstituted families and families with stepfathers and stepmothers. They were demonstrated because of an application of systemic concepts and techniques, it was possible a family reorganization with new forms of interaction and communication.

2. INTRODUÇÃO

Este trabalho de conclusão de curso visa apresentar um relato de um atendimento clínico em Terapia Breve, realizado durante o estágio supervisionado, requisito parcial para formação no curso de Terapia Familiar Sistêmica, que ocorreu no primeiro semestre de 2014. A fundamentação teórica teve como base a Escola Estrutural, conceito de Salvador Minuchin, que enfoca a importância da compreensão das necessidades individuais dentro de uma estrutura familiar; a Escola Milão, utilizando das prescrições de diretivas terapêuticas e discussões com o grupo na pré-sessão, sessão, inter-sessão e pós-sessão, e a Escola Transgeracional de Murray Bowen, que amplia a leitura familiar incluindo, pelo menos, mais três gerações.

Foram analisadas ainda as teorias referentes às famílias contemporâneas que englobam as novas constituições familiares, com ênfase nas famílias reconstituídas, especificando-se desafios pertinentes ao modelo de família com madrastra e/ou padrasto.

O objetivo específico deste artigo é demonstrar a efetividade da teoria sistêmica no processo de terapia breve com enfoque familiar.

Apresenta como método a pesquisa qualitativa e interpretativa embasada nas teorias das escolas de terapia breve que possibilitou a análise e a compreensão das vivências do paciente identificado em suas relações sociais, sobretudo em sua família de origem e suas projeções nos relacionamentos atuais.

Foram realizados sete atendimentos quinzenais com a família, sujeito da pesquisa. As sessões tiveram duração aproximada de uma hora e meia e todas as ações foram pautadas no aprendizado adquirido durante o curso de Terapia Familiar. A cada sessão, os alunos apresentaram relatórios de análise do atendimento e discutiram previamente as estratégias para o próximo atendimento.

No relato do caso, o conteúdo apresentado consiste em sínteses de momentos considerados ilustrativos do modelo de atendimento dos presentes autores. O material apresentado não se encontra em forma literal por uma questão de espaço e para facilitar a compreensão do leitor.

O primeiro capítulo desta pesquisa apresenta um breve histórico da terapia familiar sistêmica e os principais conceitos das escolas de Terapia Familiar Sistêmica, privilegiadas neste estudo. O segundo capítulo diz respeito às particularidades e transformações dos grupos familiares, enfocando os temas trazidos durante o processo terapêutico como as novas configurações familiares, famílias reconstituídas e famílias com padrasto e madrasta. No terceiro capítulo os procedimentos metodológicos, contemplando a descrição das sessões e as análises dos resultados obtidos.  Por fim, foram feitas algumas considerações acerca dos objetivos alcançados.

3. TERAPIA FAMILIAR SISTÊMICA

O principal conceito da Terapia Familiar Sistêmica surgiu da contribuição de muitos autores e das mais diversas áreas do saber. Nascida na década de 1950, a Terapia familiar teve como seus principais precursores: pensadores, assistentes sociais e psicólogos, psiquiatras, biólogos, físicos; entre outros. Como exemplo, pode-se citar Salvador Minuchin; médico psiquiatra que, com sua visão da família como um sistema vivo colocou o sistema familiar e delimitou-o em seus subsistemas. Demonstrou assim como sua estrutura impelia resistência à mudança e tendia a buscar constantemente a homeostase, ou seja, a estabilidade do sistema. Essas iniciativas, no entanto, podem ser consideradas apenas como ações isoladas que só posteriormente foram se desenvolvendo.  Nichols e Schwartz (2007) definem as etapas de desenvolvimento da terapia familiar dizendo que ela nasceu na década de 1950, cresceu nos anos 1960 e ficou adulta na década de 1970. Portanto, a terapia familiar recebeu definições e nomenclaturas mais específicas, como sistêmica, estratégica, estrutural, boweniana, experiencial somente a partir da década de 70. (NICHOLS; SCHWARTZ, 2007).

Existe uma série de situações trazidas ao consultório que atualmente é relacionada ao atendimento da área da terapia familiar, tais como: relacionamentos disfuncionais com filhos, pais, cônjuges e até amigos, bem como as dificuldades advindas com as diversas fases do ciclo vital e as mudanças nelas contidas. No entanto, antes o foco era mais voltado para o indivíduo que para a família, não sendo comum que problemas fossem relacionados à dinâmica familiar: tratava-se o paciente identificado e praticava-se o afastamento da família. Tanto em hospitais psiquiátricos e até mesmos nos consultórios, o afastamento da família era visto como necessário ao tratamento (NICHOLS; SCHWARTZ, 2007).

Como afirmaram Nichols e Schwartz (2007), os terapeutas familiares acreditavam que as forças dominantes da vida estavam localizadas externamente, na vida familiar. Sendo assim, percebeu-se que foi decisiva a alteração do pensamento dos profissionais quanto ao papel da família no tratamento, surgindo, então, uma terapia que tomou como base a mudança na organização da família para resolução dos problemas trazidos. Essa linha de terapia ainda entendia que, mesmo quando suas atividades focavam a mudança de somente uma pessoa de uma família, todo o sistema familiar seria afetado por ela e sofreria mudanças também.

Portanto, a partir da premissa de que "o todo é sempre maior que a soma das partes", preceito da Teoria Geral dos Sistemas, o modelo sistêmico passou a propor, por exemplo, que para tentar compreender o comportamento de uma criança, era necessário solicitar que ela viesse para a entrevista junto com os demais membros da família nuclear e, algumas vezes, até a família ampliada (pais e avós), eram convidados.

A partir do momento em que a abordagem sistêmica propõe a busca por respostas na interação do indivíduo com sua família, torna-se principal tarefa do terapeuta propiciar o despertar de seus pacientes para a importância dessas interações familiares. Sob a perspectiva sistêmica, a família é vista como o lugar onde as interações e os relacionamentos acontecem de forma repetitiva e em movimentos circulares. Tal sistema é passível de mudanças e elas podem acontecer a partir da mudança de um de seus indivíduos, pois quando um muda, todos mudam; o sistema muda (PARDAL, 2002).

Conquanto possuam essa base em comum, as diversas escolas sistêmicas de atendimento às famílias diferem nas formas com que definem tais famílias, sobre qual tipo de tratamento e as intervenções terapêuticas que são aplicadas para um mesmo caso apresentado. Papp repete o que Lynn Hoffman (1981, p. 9 Apud Papp, 1992) chegou a afirmar a esse respeito: A Terapia Familiar foi, e ainda é, uma Torre de Babel maravilhosa; as pessoas que nelas estão falam várias línguas diferentes.

Por isso, acredita-se que um terapeuta sistêmico deva ter uma abordagem de atendimento em que possa utilizar, como ferramenta, não somente um instrumento proposto por uma determinada escola, mas, estando habilitado em várias ferramentas propostas pelas diversas escolas, selecionar a técnica que seja mais eficiente para tratar a queixa apresentada pela família ou paciente identificado (CORDIOLI, 2009).    

A análise do caso clínico originador deste artigo valeu-se dos conceitos e ferramentas apresentados pelas escolas privilegiadas da Terapia Familiar Sistêmica Estrutural; de Milão e Transgeracional. Dessa forma, faz-se necessário incluir breve revisão dos pressupostos por elas defendidos.

  1.  

4. ESCOLA ESTRUTURAL DE TERAPIA FAMILIAR

É conhecida por Escola Estrutural a abordagem de terapia familiar sistêmica que tem como pressuposto principal a visão da família como sendo um grande sistema, com vários subsistemas que interagem entre si e influenciam-se mutuamente. Como afirmam Minuchin, Lee e Simon (2008) cada sistema familiar engloba vários sistemas. Cada indivíduo na família é um subsistema da mesma. Assim percebe-se que a forma como a família se relaciona e interage constrói um padrão, uma estrutura.

Entre cada subsistema existem fronteiras interpessoais que regulam a forma de interação entre seus membros, ao mesmo tempo em que há fronteiras maiores que regulam as formas como a família se relaciona com o mundo em que está inserida. Tais fronteiras podem ser caracterizadas como rígidas, nítidas ou emaranhadas. Fronteiras podem ser definidas como limites, regras, padrões e normas existentes dentro da família. Diante disso é importante ressaltar:

(...) que as famílias são organismos sociais estruturados em subsistemas separados por fronteiras; que os subsistemas definem as funções de seus membros; que os membros das famílias se organizam em alianças, afiliações e coalizões; que as famílias se desenvolvem e passam por períodos de transição a medida que mudam. (MINUCHIN, LEE e SIMON, 2008, p. 24).

Na visão trazida pela Escola Estrutural, Minuchin (1990) enfatiza que o indivíduo pode pertencer a diferentes subsistemas, nos quais adquire diferentes níveis de poder e distintas habilidades; que existe uma distinção hierárquica de poder na qual os pais têm um nível diferente de poder em relação aos filhos, sendo que a maior autoridade tem que estar representada pelo subsistema parental. Acrescenta que, em cada subsistema familiar, são apresentadas funções e exigências diferentes para seus integrantes, cujo desenvolvimento de habilidades pessoais está relacionado à independência de um subsistema em relação ao outro.

O subsistema conjugal é constituído pelos cônjuges, cujo espaço relacional tem início na formação da família: Marido e Esposa. Pouco a pouco, os acordos são estabelecidos e novas formas de interagir aparecem; cada cônjuge pode abrir mão de certas preferências, perder parte de sua individualidade e ganhar uma pertinência. Assim, constitui-se um novo subsistema.

O subsistema parental é integrado pelos indivíduos responsáveis pelo cuidado com os filhos; por outro lado, os filhos aprendem com a autoridade no modelo estabelecido e aprendem a contar ou não com o apoio dos pais e, a partir disso, as crianças experimentam o estilo com o qual a família trabalha os conflitos, os acordos e aprendem a realizar negociações.

Existem ainda os subsistemas fraternal e filial que surgem da relação entre irmãos e desses com seus pais, baseados em regras, configurando a capacitação inicial do convívio social interno e externo à família. Essas regras estabelecem uma distinção qualitativa entre os subsistemas, quem participa e como participa deles.

Esses subsistemas ao longo da vida de uma família são temporários e modificáveis de acordo com os projetos que se sucedem em um núcleo familiar. Assim percebe-se que a forma como a família se relaciona e interage constrói um padrão, uma estrutura. Nessa abordagem, o terapeuta deve buscar enxergar os subsistemas e suas fronteiras, que estão incorporados à família.

Nesse enfoque, deve-se lembrar que toda família busca por meio de suas interações a homeostase, ou seja, a estabilidade do sistema. Considerando que, no pensamento sistêmico, a premissa é de que o todo é maior do que a soma de suas partes; sendo fundamental considerar que quando um dos subsistemas muda, todo o sistema familiar também é afetado. Isso será válido tanto para mudanças saudáveis quanto para as prejudiciais ou patológicas.

Então pode-se inferir que o objetivo da terapia preconizada pela escola estrutural é alterar as fronteiras e realinhar os subsistemas intrafamiliares, buscando uma reestruturação para uma melhor interação e comunicação entre os membros familiares. E, de forma geral, buscar que as famílias tenham uma estrutura hierárquica funcional e efetiva (NICHOLS; SCHWARTZ, 2007).

4.1. ESCOLA DE MILÃO DE TERAPIA FAMILIAR

Em 1975 a Terapia Breve foi desenvolvida por Peggy Papp e Olga Silverstein, nos Estados Unidos, tendo como base a equipe de Milão e os conceitos da Terapia Estratégica (Haley) e da Terapia Estrutural (Minuchin).

O grupo original da escola de Milão era composto pelos psiquiatras e psicanalistas milaneses Mara Selvini Palazzoli, Luigi Boscolo, Gianfranco Cecchin e Giuliana Prata; que descreveram um modelo terapêutico para o tratamento de famílias com pessoas esquizofrênicas que, tanto pela alta efetividade como pela curta duração, em terapia breve superava as abordagens até então conhecidas. Esse grupo de estudiosos afastou-se da psicanálise na década de 1970 e dava ênfase ao tratamento da família como um todo, dando ênfase ao sistema familiar e seus subsistemas, buscando conectar o sintoma ao sistema familiar.

Existe uma tendência de as famílias resistirem às mudanças, de modo a manter um estado constante, denominado homeostase familiar. Mudar pode ter o preço da perda desse estado de equilíbrio constante e regular, ainda que esse equilíbrio tenha sido encontrado dentro da doença (NICHOLS; SCHWARTZ, 2007).

Situações que instauram esse tipo de impasse podem gerar a necessidade de busca de ajuda terapêutica, como expressado por: Mudar ou não mudar pode criar um dilema tão doloroso para a família e para os que com ela convivem que uma terapia pode ser necessária. Sob essa ótica, fica cheia de significado a frase que é dita por Oscar Wilde: Há duas tragédias nesta vida: uma é não conseguir o que se quer, a outra é conseguir.  (CALIL, 1987, p. 61)

Quando a família traz sua queixa, a equipe terapêutica buscará encontrar o que está tornando essa família disfuncional, podendo ser consideradas disfunções as inabilidades de adaptação às mudanças que impedem a família de prosseguir em seu ciclo vital. O conceito de ciclo vital está relacionado ao fato de que, na trajetória de existência de todas as famílias, há passos normais da vida (nascimentos, crescimento, casamentos, etc.) e há também as dificuldades ocasionais como doenças, acidentes, desemprego, entre outros. Todas essas etapas podem provocar ou exigir grandes mudanças nos relacionamentos pessoais. É importante considerar que a decisão sobre as mudanças deve ocorrer no âmbito interno do sistema familiar e que, nesse sentido, a atuação dos terapeutas só pode ocorrer de fora para dentro e com poucas interferências. (CALIL, 1987). 

Uma ferramenta poderosa nessa abordagem é a conotação positiva, que significa um resgate das qualidades e competências do outro, em que os terapeutas reforçam na família seus pontos fortes.  Em geral, as famílias tornam-se especialistas em ver no que o outro não é bom, sendo uma tendência humana focar sempre no que é mais negativo. A intenção da conotação positiva é a de treinar a família a buscar ver no outro o que é bom, reforçando melhoras em um convívio familiar mais harmônico e saudável. Sendo assim, a conotação positiva pode ser usada pelo terapeuta como uma técnica de dupla função: promover a coesão familiar e evitar a resistência à terapia. (COSTA; PENSO, 2008)

Outras ferramentas foram desenvolvidas para auxiliar as famílias a lidar com as mudanças. Papp (1992), por exemplo, desenvolveu e utilizou-se de diversas ferramentas para levar a família a perceber como seria o viver depois das mudanças, considerando como objetivo principal de toda terapia alcançar a transformação em si. Algumas das ferramentas utilizadas por ela foram a escultura de família, coreografia de casais, o uso de cerimônia, ritual, paradoxo, metáforas, humor e inversões.

Uma das técnicas mais marcantes utilizadas é o "coro grego". Nessa técnica, o grupo de terapeutas e a família desenvolvem um triângulo terapêutico, em que o grupo observa ou por trás de um espelho unidirecional, ou no próprio espaço terapêutico, a condução da sessão por um terapeuta e depois este grupo é requisitado a discutir e dar um feedback, sempre de forma positiva, como sentiu a família. Assim pode-se criar estratégia onde um terapeuta defende uma mudança e seus colegas do grupo terapêutico, em contrapartida, defendem outro tipo de mudança, ficando a cargo da família eleger quais das mudanças aplicará em sua dinâmica familiar; sempre visando o crescimento do sistema familiar. (GERSHONI, 2008).

A escola de Milão busca na terapia breve um dos fundamentos para o atendimento baseada na queixa que a família traz. Matias (2017) sintetiza o procedimento de terapia breve explicando que baseia-se em quatro fases conhecidas como: pré-sessão, a sessão, a inter-sessão (diagnóstico) e a discussão na pós-sessão. Em resumo, as características da terapia breve, além do atendimento semanal ou quinzenal por um período de até 10 sessões, são a focalização no problema e nas tentativas de solução; a ação do terapeuta com sugestões, em lugar de dar ordens; e por último, a proposta de que as mudanças na família deverão ocorrer em casa. 

4.2. ESCOLA TRANSGERACIONAL DE TERAPIA FAMILIAR        

Esta escola tem como um de seus pressupostos que não se deve estudar somente a família nuclear. O fato é que a família deve ser compreendida a partir da revelação do que aconteceu às gerações que a antecederam (família de origem) e, por vezes, ainda estender a visão para a família ampliada (MARTINS; RABINOVICH; SILVA, 2008).            

Para Cordioli (2009), a participação da família de origem (pais, irmãos, avós, outras figuras significativas) é uma busca para o entendimento de como se dá a transmissão dos valores e mitos familiares e, por meio dela, busca-se o fortalecimento dos laços emocionais e familiares, bem como facilitar a resolução dos problemas.

No estudo da complexidade da formação emocional do indivíduo Bowen (1989) desenvolveu conceitos importantes para a compreensão do sistema emocional da família, entre eles, os conceitos de massa indiferenciada do ego; diferenciação do self; processo de projeção familiar; processo de transmissão multigeracional e triângulo.

O conceito de diferenciação se torna o centro de sua teoria, explicada como sendo a busca da autonomia familiar na vida adulta que é determinada pelo grau de diferenciação do self. Segundo Nichols e Schwartz (2007), a definição de self é a separação psicológica do intelecto e das emoções, e a independência do self em relação aos outros. Papp (1992) menciona que Bowen (1989) entendia a causa dos problemas familiares como estando baseada num conceito de triângulos e graus de diferenciação e que seria aí que deveria haver intervenções terapêuticas.

Na massa de ego familiar indiferenciada o conceito remete ao de fusão ou aglutinação. Minuchin (1982) explica referindo ser um estilo transacional caracterizado por um sentimento de pertencimento que requer uma máxima renúncia de autonomia. Essa força de aglutinação em permanente tensão, exposta aos fatores externos que também exercem influência nas relações familiares, existe em todas as famílias, em variados graus de intensidade. Com o passar do tempo, enquanto o indivíduo vai crescendo, deve ir em direção à maturidade emocional, buscando autonomia de sua família de origem, sem a necessidade de com ela romper e sem precisar ficar fusionado. (KROM, 2000).

Os relacionamentos humanos são geridos por duas forças que podem trazer equilíbrio a suas relações: individualidade e proximidade. Ambas são necessárias e o que pode se tornar um problema é a tendência em manter-se na busca de um dos extremos (Nichols E Schwartz, 2007). É na família que as crianças podem experimentar tanto a proximidade ou pertencimento, quanto a individualidade ou diferenciação. Pertencer signica participar, saber-se membro dessa família, partilhar as suas crenças, valores, regras, mitos e segredos. Diferenciar refere-se à armação de sua singularidade, à sua individuação e ao seu direito de pensar e expressar-se independentemente dos valores defendidos por sua família (MARTINS; RABINOVICH; SILVA, 2008).

Alguns desafios podem ocorrer, no entanto, no processo de diferenciação. Quando um indivíduo não se indiferencia pode repetir padrões que estão sendo transmitidos de geração a geração em sua família, sem dar-se conta da carga transgeracional desses comportamentos.   

Na busca por diferenciação, o ‘sair de casa’, para alguns, aparenta ser um sinal de amadurecimento e independência, por isso passam a valorizar a individualidade e procuram manter-se distantes da família.  Mas o que muitas vezes não consideram é que o distanciamento físico não é, necessariamente, distanciamento emocional. Nesse sentido, Bowen (1989) relatou que, em sua experiência pessoal, por longo tempo, confundiu evitação com emancipação, só descobrindo mais tarde que a família continua conosco onde quer que estejamos (NICHOLS E SCHWARTZ, 2007).

[...] as questões emocionais não resolvidas continuam conosco, tornando-nos vulneráveis a repetir conflitos que nunca chegamos a resolver com nossas famílias. (Nichols e Schwartz, 2007, p. 49).

Entre as técnicas mais importantes para a Escola Transgeracional, destacamos o genograma e a destriangulação que foram mais relevantes à análise realizada por este trabalho.

Genograma é um instrumento terapêutico elaborado por Bowen (1989) que tenta representar graficamente as complexas relações familiares, fazendo com que se revelem os preceitos e convenções que se perpetuam nas relações daquele grupo familiar ao longo das gerações. Mesmo que não produza respostas aos problemas, essa técnica possibilita a ampliação das hipóteses, podendo construir o caminho de origem da queixa familiar que, muitas vezes, está localizada ao longo de uma linha temporal que transcende a vivência presente (KROM, 2000).

Ao entender-se, como Nichols e Schwartz (2007) fizeram, que era de suma importância na teoria boweniana perceber qual é o papel de cada indivíduo nos problemas que surgem dentro da família e como eles são repassados transgeracionalmente às futuras gerações, logo estaria justificada a relevância da utilização do genograma como fundamental ferramenta no atendimento clínico de famílias.

A visualização dos vínculos familiares evidenciada pelo genograma possibilita perceber também onde estão localizados os triângulos relacionais. Na perspectiva boweniana, há formação de um triângulo relacional quando a tensão entre duas pessoas é intensa e busca-se uma terceira pessoa para alívio dessa tensão, o que, por consequência, afasta os indivíduos do enfrentamento do problema original.

A triangulação é uma das formas para dissipar a tensão entre casais quando em conflito conjugal: transfere-se essa tensão para um dos filhos que, geralmente, apresentará algum sintoma. (Martins, Rabinovich e Silva, 2008, p. 182)

De certa forma, a figura do terapeuta também compõe triângulo relacional por se configurar como um terceiro a quem se leva a queixa e a quem os clientes tenderão a buscar como aliado em seus conflitos. Por isso, como prática boweniana, os terapeutas se esforçam para controlar a própria reatividade e evitar a triangulação. (NICHOLS e SCHWARTZ, 2007)

Por outro lado, a presença do terapeuta como terceira pessoa neutra e objetiva, pode ter função de atenuar a energia emocional de uma relação conflituosa. Buscando incentivar que cada indivíduo abandone a tendência de culpar o outro e que passe a refletir sobre seu papel nas relações interpessoais, o profissional pode formar um triângulo terapêutico que promova a destriangulação relacional. A mudança de apenas um triângulo familiar pode ter efeito terapêutico sobre todos os demais sistemas a que estão ligados (NICHOLS e SCHWARTZ, 2007).

5. FAMÍLIAS NA CONTEMPORANEIDADE   

Os conceitos estabelecidos pelas diversas escolas de terapia familiar sistêmica tem enfrentado os desafios advindos das transformações que o modelo tradicional de família tem passado nos últimos tempos. Wagner, Tronco e Armani (2011) explicam que a família, sempre conhecida como a célula mater da sociedade, está em processo rápido e profundo de mudanças significativas, a ponto de ter que modificar conceitos e rever padrões ao buscar definir as famílias contemporâneas. Em meio a essas mudanças, as autoras indicam que o que se torna importante ao tratar famílias é resgatar os aspectos que são fundamentais para que a família siga cumprindo seu papel e função como principal célula social, independentemente de como ela se configure.

Na atualidade, tem sido possível verificar uma grande transformação no modelo tradicional de pai, mãe e filho (s).  O aumento de número de divórcios e recasamentos, bem como o aumento da quantidade de mulheres que passaram a trabalhar fora de casa, a diminuição no número de filhos, mais pessoas decidindo morar sozinhas e o aumento no número de uniões homoafetivas são exemplos de fatores transformadores que tornaram mais complexa a tarefa de conceituar família atual.

Diante disso, torna-se desafiante o trabalho do terapeuta familiar sistêmico frente a distintos núcleos familiares que hoje se apresentam. A visão trazida pelas Escolas de Terapia Familiar Sistêmica amplia a perspectiva de enxergar essas novas configurações trazendo algumas propriedades da Teoria Geral dos Sistemas, como a Totalidade, Homeostase e Circularidade para se enxergar a família com maior complexidade. Assim a família é reconhecida como um sistema vivo em sua estrutura, com conceitos sobre fronteiras, subsistemas e papéis. Desta forma, a família pode ser atendida ainda que seu modelo não seja o tradicional, pois qualquer que seja sua formatação (extensa, reconstituída, monoparental, com padrasto ou madrasta, entre outras), a visão sistêmica tem aplicabilidade.

5.1. NOVAS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES

Houve, durante o século XX, grandes transformações, paradigmas foram quebrados e fizeram surgir novas configurações familiares. Sendo assim, mudanças também ocorreram na forma de se conceituar família. Segundo Débora et al. (2008, p. 88):

No cotidiano, é possível encontrar famílias seguindo modelos tradicionais, casais dividindo os cuidados dos filhos e da organização familiar, mulheres e homens assumindo sozinhos o sustento financeiro da família/ produções independentes (monoparentalidade), famílias reconstituídas/recasadas, casais sem filhos, casais homossexuais, casal com filhos adotivos, entre outras.

O IBGE apontou em seu último censo de 2010 que o número de famílias ditas tradicionais pela primeira vez foi menor, representando 49,9% dos domicílios brasileiros, enquanto outros tipos de famílias já somavam 50,1%.  Tal estudo ainda nos trouxe dados que mostraram crescimento no número de uniões consensuais, dos divórcios e das famílias reconstituídas, em que os filhos podem ser apenas de um dos cônjuges (IBGE, 2010). A esse respeito, citando Wagner (2002), Débora et al. (2008, p. 93) diz:

O recasamento passou a ser considerado uma possibilidade de reconquistar e reconstruir vínculos de intimidade, afeto, companheirismo, promovendo e facilitando a saúde de seus membros.

As famílias reconstituídas são originárias dos divórcios, recasamentos, separações. É importante considerar que a existência de novas e diferentes composições familiares não minimizam a influência dessa esfera de relações sobre a vida dos indivíduos. (GOLDANI, 1994)

6. FAMÍLIAS RECONSTITUÍDAS

As famílias assumem muitas formas, não se esfacelam, nem são destruídas, a sua configuração é que se modifica. (NICHOLS e SCHWARTZ, 2007).        

A consanguinidade que era um fator característico da família tradicional, já não o é nas famílias reconstituídas. Os fatores que caracterizam o modelo de família reconstituída, são os papéis, a hierarquia e a sociabilidade, na ajuda mútua, nos laços de afeto e de amor em detrimento da exigência da consanguinidade (DÉBORA ET AL. 2008).

Uma família que se desfaz e uma família que se organiza sofrem transformações, apresentando novas relações, várias dificuldades e desafios que nem os indivíduos, nem a sociedade estão preparados para enfrentar. A questão da linguagem ou de como nomear as novas relações ilustra bem essa limitação (Bucher, 1999).

É necessário algum tempo da nova união do recasamento para que a família alcance o estágio de desenvolvimento familiar para que as relações entre os membros sejam autênticas e mais próximas (Bernstein, 2002). Portanto, padrasto, madrasta, enteados necessitam deste ajuste para se sentirem integrantes da mesma família.

Waldemar (1996) afirma que a há uma dificuldade na identificação de papéis dos padrastos, eles não sabem se agem como pais, como amigos ou se seguem outras concepções.

Num sistema recasado funcional, cada um dos cônjuges, em junção com seu ex-cônjuge, deve assumir a responsabilidade primária de educar ou disciplinar seus próprios filhos. Dessa maneira o relacionamento que será estabelecido entre os filhos e o padrasto/madrasta estará sendo definido e elaborado devido a fatores como a idade e residência principal dos filhos, as circunstâncias do divórcio e os desejos de todos os envolvidos, com fronteiras nítidas. (CARTER & MCGOLDRICK, 2001).

7. FAMÍLIAS COM PADRASTO OU MADRASTA

Com o surgimento das famílias reconstituídas, as figuras do padrasto e da madrasta são cada vez mais comuns entre as famílias contemporâneas. Falcke e Fères-Carneiro (2011) apontam que tanto os padrastos e madrastas quanto os pais que vivem juntos nas ditas famílias tradicionais são para as crianças os modelos para as futuras relações afetivas.

Esta transmissão se dá mesmo que de forma não intencional e acontece em qualquer configuração familiar. Entender qual é a visão e o que se espera desses personagens dentro da constituição familiar se torna evidentemente essencial para que caminhos e soluções sejam encontrados em uma família reconstituída que se apresenta em um momento com funcionamento inadequado.

Outro fator que deve ser considerado é o impacto que essas novas configurações familiares têm sobre a vida dos filhos. Esses momentos de transição familiar podem impactar nas crianças e adolescentes:

Podem ter efeitos diretos sobre o bem-estar psicológico, desenvolvimento cognitivo e emocional, estruturas de pensamento, relacionamento interpessoal, entre outros aspectos, levando a criança e adolescente a apresentarem dificuldades para lidar com esta situação. (Debora et al. (2008, p. 92).

Famílias que se formam a partir de recasamentos enfrentam desafios significativos e, segundo Wagner, Tronco e Armani (2011) esses desafios se apresentam à medida que se busca uma legitimação para os subsistemas que envolvem esse tipo de configuração familiar. Reforça-se que na visão sistêmica da família os membros formam subsistemas e esses influenciam um ao outro, de forma que a disfunção de uma parte, poderá desestabilizar o todo. É necessário estar atento ao fato de que tais influências podem ser positivas ou negativas, promovendo seu crescimento ou bloqueio (CORDIOLI, 2009).

Um pouco da dimensão desse desafio em tentar ter seu papel legitimado em uma família reconstituída foi encontrado no estudo apresentado por Falcke e Wagner (2000). Demonstrou-se que não importando que seja a mãe ou a madrasta, ambas tem tentado atender as expectativas sociais colocadas sobre as mulheres, entendendo fazer parte de seu papel o ser cuidadora, educadora e dar suporte afetivo aos filhos. No entanto, os resultados apontaram que as madrastas, em comparação com as mães, têm uma autoimagem mais baixa, sentindo-se mais frequentemente despreparadas, fracassadas, tendo uma visão de que sua vida é mais confusa do que a dos demais. Um outro fator contribui para que, na reconstituição familiar, as madrastas estejam mais propensas a depressão:

Contudo, na impossibilidade de executarem a tarefa de serem uma réplica perfeita da figura materna, são bastante frequentes as frustrações e o aparecimento de sintomas semelhantes aos da depressão. (Falcke e Wagner, 2000, P. 423)

Dessa maneira, pode-se verificar que definir e compreender completamente o papel da madrasta dentro do contexto familiar, sob o olhar sistêmico, deve ser considerado ainda como desafiante e ser feito como um processo de construção na família como um todo, diante da complexidade e diversidade dos fenômenos atuais das relações familiares.   

8. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os procedimentos estão ordenados pela descrição da queixa inicial apresentada pela família quando da procura pelo atendimento terapêutico, seguida da composição familiar, apresentação das sete sessões dos atendimentos realizados e os resultados analisados à luz da Visão Sistêmica e das Escolas de Terapia Familiar privilegiadas neste estudo.

8.1. QUEIXA E COMPOSIÇÃO FAMILIAR

Queixa Principal: O casal buscou ajuda porque a Paciente Identificada (PI) Maria estava a ponto de separar-se do marido, Damião, sentindo-se angustiada pelo fato de que, mesmo amando seu esposo, não conseguia assumir a “maternidade” das filhas que ele trouxe do seu casamento anterior, suas enteadas.

Composição Familiar: Maria, Esposa, 29 anos; Damião, Marido, 41 anos; Bruna, Enteada, 9 anos e Sarita, Enteada, 8 anos.

8.2. RELATO DO CASO

PRIMEIRO ATENDIMENTO

No primeiro atendimento após as apresentações formais foi relatado um pouco da história do casal. 

Maria nasceu na Bahia, filha mais velha de três irmãos: Marta de 26 anos e Lázaro de 25; seu pai de 53 anos e sua mãe 63 anos. Ainda solteira, aos 25 anos de idade, Maria saiu da Bahia e foi morar sozinha em São Paulo. Contou que foi a melhor fase de sua vida comparada com a que viveu com sua família na Bahia, com seus pais e irmãos e a atual condição de casada.

Maria era casada com Damião de 41 anos que nasceu na Argentina. Ele era o quarto filho dentre seis: Marta de 49 anos, Gabriel de 47, Sônia de 43, Daniel de 41, Valéria de 34 e Mariana de 32. Até os 4 anos morou com seus pais. Seus pais então se separam; a partir daí ele e seus irmãos passaram a morar com a avó materna. No entanto seu pai não aceitou que eles morassem com a avó e foi buscá-los. Já a mãe reagiu e levou-os para morar com a irmã dela. Passou por juizado de menores e morou com pessoas que não eram seus familiares até os 12 anos de idade. Sua mãe era agressiva ao ponto de ele se esconder, quando ela ia visitá-lo na escola. Ele contou que apanhou muito quando criança.

O pai de Damião amava muito sua esposa e não assimilava bem a separação e por esse motivo se tornou alcoólatra; veio a falecer quando ele tinha entre 13 anos. Sonia, sua irmã, casou-se e veio morar no Brasil e quando Damião completou 20 anos trouxe-o para morar com ela. Até que, quando completou 22 anos, ele passou a morar sozinho.

Com 28 anos, Damião conheceu Margarete, sua primeira esposa; foram morar juntos e no primeiro ano de relacionamento, nasceu Bruna, a primogênita. Com 30 anos, nasceu-lhe Sarita. Pouco depois, separou-se; Sarita ficou com a mãe por mais dois anos e Bruna ficou com ele.

Damião se tornou cristão, membro da Igreja Adventista do Sétimo dia, e lá conheceu Maria. Namoraram e se casaram. As meninas passaram a morar com eles. Nesta ocasião, elas estavam com 8 e 9 anos respectivamente.

A presença das meninas no casamento trouxe sentimentos de ciúme em Maria que não estava sabendo lidar com a situação. Ela se mostrava extremamente nervosa e desequilibrada com isto. Embora houvesse um acordo antes do casamento para a vinda das filhas para estarem com eles isto não minimizou o impacto na relação da Maria com as meninas. Maria achava que seria mais fácil.

A relação era mais difícil com a Bruna, pois ela já havia pegado dinheiro escondido; além de mentir. Comparava sua criação que era muito rígida com a que as meninas estavam recebendo e culpava o pai por ser muito brando com as meninas.

A esposa não tinha queixas quanto ao trato do esposo como marido, mas achava que ele deixava a desejar como pai das filhas. Ela acreditava que ele deveria corrigi-las mais duramente quando estas desobedecessem e aprontassem algo mais grave. Ela se lembrava de que quando as meninas eram pequenas, ele as corrigia mais severamente.

Maria contou que queria melhorar, pois as pessoas diziam que ela estava ficando doida. Ela já sentia que estava melhorando, desde que passou pela triagem. Antes ela gritava com as meninas e agora não mais. Já conseguia conversar com elas.

A educação que Maria recebera de seus pais, ajudou-a transformar-se no que ela era hoje. Apanhava e não repetia mais os erros. Contou ainda que sua relação com a irmã, embora no geral fosse boa, vez ou outra aconteciam conflitos, e assim também ocorria com seu irmão. Não podiam ficar juntos, pois logo brigavam. Contou que queria dar uma educação às filhas, diferente da que recebeu. Disse que uma coisa que a deixava com ciúmes das meninas era quando estas iam visitar a mãe biológica: ela não gostava, ficava nervosa e descontava nelas.

Ela já havia corrigido fisicamente as meninas e reconheceu que em um dado momento exagerou nesta correção física.

- Foi uma coisa feia ela ficou marcada, mas foi apenas uma única vez. 

Quando as meninas lhe chamam de mãe Maria disse sentir-se incomodada, pois as vê como sobrinhas, não como filhas. Disse que já sentou com as meninas para esclarecer esse assunto, mas nada adiantou.

- Sei que para Damião é difícil me ouvir reclamar das filhas dele o tempo todo; se estivesse no lugar dele já teria pedido a separação, mas a gente se dá muito bem, às vezes, as meninas fazem minhas unhas; nós brincamos, até que elas são obedientes não reclamam de nada, mas logo a seguir fico irritada com elas por pensar que eu poderia estar só com ele. Eu sei que o problema está em mim e não nelas, eu me sinto muito mal com isso.

Em relação aos ciúmes da esposa, Damião disse não saber lidar com a situação.

 - Eu falo com minha esposa, ela sempre diz que eu vejo só o meu lado. Atualmente estou questionando-a, porque não fazemos mais as refeições juntos; só temos os finais de semana para ficarmos todos juntos, mas ela diz que é difícil para ela compartilhar os momentos que poderia estar comigo sozinha e se irrita ao perceber que existem as meninas entre nós e ainda não consegue lidar com isso.

Parecer do Atendimento: Maria demonstra claramente seus sentimentos em relação a situação por ela vivida dentro do contexto de cuidar das filhas de seu esposo e o quanto isto a incomoda por não saber lidar com esta situação. Damião percebe-se ter se acomodado na situação por não querer confrontar a esposa e por não querer perder as filhas, então fica mediando à situação.

SEGUNDA SESSÃO

Maria e Damião estavam bem mais sorridentes. O atendimento começou com o questionamento de como passaram desde a última sessão. Maria relatou a dificuldade de ainda estar com as meninas e que não estava sendo fácil se controlar de seus ataques de ciúmes para com as meninas.

- Sinceramente eu passei a semana fazendo muito esforço pra sobreviver, porque não é nada fácil, eu queria mesmo que só fosse eu e ele; mas já que as meninas existem a gente não pode fazer nada, mesmo assim, às vezes, eu fico pensando ainda bem que eu existo na vida delas porque se não o que seria delas sem mim né?

Damião contou que sua mãe também sofrera abandono. Ela não os criara por falta de condições financeiras. Maria acrescenta a informação de que uma das cunhadas também havia se separado e criado um filho sozinha.

Damião tinha uma exceptiva de no futuro ter filhos com Maria; já ela, estava lutando com o ônus da dúvida entre ter ou não filhos.

Maria relatou também que o que a levou a escolher Damião como companheiro foi seu caráter e que ela sempre gostou de homens mais velhos. Contou como era o relacionamento dela com seu pai. Disse que apesar de ser bruto, por ter sido criado na roça, era um bom homem e que até se sentia mal por não ser mais próxima dele.

Damião contou que seu sogro, pai de Maria, fora criado sem a presença do pai biológico também. Maria ressaltou que seus pais não demonstravam sentimentos fossem eles positivos ou negativos, não demonstravam afetos nem brigavam na frente dos filhos.

Damião disse que as mulheres da família de Maria tinha dificuldades de se relacionar com a figura masculina, ao que Maria confessou, emocionada, que nunca tinha sido elogiada por sua mãe.

Em seu trabalho, ela era chefe de cozinha e tratava bem as suas subordinadas, mas relatou que foi um grande exercício para poder controlar sua maneira mais agressiva de ser.   Maria disse que se Bruna tivesse lá iria dizer que ela era bruta, nervosa, agitada e grossa mesmo como mãe. E foi perguntado como Sarita responderia. Ela disse que Sarita diria que ela era palhaça, divertida, doida e bagunceira. Disse que ela e Sarita se entendiam melhor e faziam muita bagunça juntas. Maria disse que iria ficar mal se a Bruna realmente dissesse isso dela e que fica triste quando age com as meninas de maneiras mais rígidas.

Já Damião, disse acreditar que Bruna falaria que como pai ele não era presente, não era muito carinhoso com ela, mas a respeitava a escutava e tentava ser justo.  E Sarita diria achá-lo um palhaço, brincalhão e também que tentava ser justo. Relatou ainda que não dava as suas filhas o mesmo tipo de tratamento que ele teve quando criança, ou seja, não queria repetir os sofrimentos que recebeu.

Damião revelou que foi alcoolista e usuário de drogas até os trinta anos de idade; depois, se cansou, principalmente quando olhava para suas filhas e pensava que futuro daria a elas. Então decidiu procurar a igreja e parou com tudo. Disse que a igreja o ajudou muito.

Quando o Coro Grego foi realizado, a equipe reforçou a questão do amor entre os membros da família, mesmo em meio aos conflitos.

Parecer do Atendimento: A resiliência de Damião sobre o álcool e as drogas, a superação de Maria ao vir sozinha da Bahia na tentativa de uma vida melhor e atualmente ser uma líder de cozinha e a coragem frente aos conflitos eminentes demonstrava a força e o foco de ambos para a mudança familiar.

TERCEIRA SESSÃO

Nesta sessão, foi realizada uma vivência de comunicação com o casal. Foi pedido a eles que se sentassem com as cadeiras viradas, de tal forma que um ficasse de costa para outro e foi-lhes orientado que deveriam conversar, falando sempre na primeira pessoa (eu), para o seu cônjuge, como se sentiam na relação.

A palavra primeiramente foi dada a Maria.

- Eu me sinto sobrecarregada em relação a educação das meninas, eu tenho que chamar a atenção e corrigir. Pra mim o amor é como uma plantinha; tem regar, tem que cuidar, fazer os gostos, demonstrar.

Maria complementa ainda que não confiava 100% em Damião e revelou que havia cinco anos, quando ainda namoravam, Damião mentiu para ela sobre ir a um lugar. Ela não o perdoou completamente e isto gerava desconfiança. Depois ela retomou e disse que a educação das meninas não era obrigação dela.

Finalizou dizendo que sentia muito a falta de diálogo e que Damião não expressava seus sentimentos para ela. Se ele estava triste ou alegre, ele não demonstrava; ela se ressentia com isso.

Damião repetiu o que ouviu de Maria e disse sentir-se desrespeitado e manipulado, que Maria gostava de resolver as coisas do jeito dela e não dava livre arbítrio as meninas. E que, quando ele interferia, ela reclamava. Ele falou de modo tranquilo, mas emocionado. Completou que Maria tinha um ciúme que não era normal.

Foi solicitado para que mudassem a posição das cadeiras e que olhassem de frente um para o outro sem se falar, só olhando. Maria esboçou um sorriso e não conseguiu fixar muito tempo seu olhar no marido. Já Damião, segurou um pouco mais o olhar. Depois a vivência foi finalizada. Foi pedido para o casal se tocar levemente ainda sem falar. Neste momento, Maria se sente extremamente tímida e desconfortável. No final, foi solicitado que expressassem o que sentiam um pelo outro. Maria disse que amava Damião e ele visivelmente emocionado, também disse que a amava.

Parecer do Atendimento: Maria não conseguia demonstrar sua vulnerabilidade e lutava contra isso. Desejava ser vista como uma pessoa forte. Ela tinha dificuldades em aceitar que Damião fosse tão simpático e extrovertido fora de casa e já em casa era tão retraído e não expressava seus sentimentos. As referências masculinas na vida de Maria tinham sido muito ruins e devido a isso ela tinha dificuldades em suas relações. Maria concordava com a percepção de que ela não queria se mostrar frágil e que também sabia que tinha dificuldade de demonstrar amor em público.

QUARTA SESSÃO

A sessão começou com relato de Maria e Damião de como transcorreram os dias desde o último encontro terapêutico. Eles relataram que foi tudo bem.  Maria contou que estava sendo difícil mudar. Maria falou que lembraram do que foi solicitado a ambos: os acordos onde cada um deveria ceder, se necessário, mas que fossem feitos juntos.

 Foi solicitado a Damião e a Maria para que se sentassem com as cadeiras uma de costa para outra novamente, como na vivência da sessão anterior e que relatassem seus sentimentos em primeira pessoa para o outro. A única diferença desta vez, foi que era para Maria repetir o que estava ouvindo de Damião, não mais ao final de toda fala, mas a cada frase ou ideia que ele fosse expressando.

Damião foi o primeiro a falar. O tema sugerido era a questão passada, da manipulação. Damião contou para Maria que percebia que na relação as coisas tinham que ser como ela queria e devido a isto ele se sentia inseguro. Disse que gostava quando Maria cuidava dos sobrinhos dele e da maneira como ela conversava com as irmãs dele. Disse ainda que gostava quando ela agia naturalmente, sem forçar as atitudes. E que não gostava de seu olhar de reprovação.

Maria conseguiu, embora com certa dificuldade, a cada frase ou ideia dita por Damião repetir o que ele falava. Damião disse se sentir respeitado, quando Maria o ouvia de verdade; mesmo quando eles tinham opiniões diferentes, ele sentia-se mais seguro.

Maria relatou seus sentimentos dizendo não gostar quando as meninas erravam e Damião não queria escutar os problemas que aconteciam, pois dizia estar cansado, e que estes problemas o irritavam. Disse ainda não gostar do silêncio de Damião quando ficava calado.

Maria ponderou que Damião tem se expressado mais; que durante a semana ele até ligou para ela do trabalho e que ocorrera um fato positivo em casa quando que ele tomou a iniciativa e interveio corrigindo uma das filhas; que ele compartilhou com ela fatos que ocorreram em seu trabalho.

Foi perguntado a Maria se caso ela fosse dar uma nota de 0 a 10 para Damião no nível de melhora e esforço para expressar seus sentimentos, qual nota seria. Ela disse que daria uma nota sete para ele e que se daria uma nota quatro.

Foi solicitado que ficassem de pé e se olhassem sem se tocar durante alguns minutos. Maria ficava tímida com esta atividade, não ficava à vontade e não conseguia fixar o olhar. Já Damião ficava com olhar fixo em Maria, como que a admirando. Seus braços ficavam relaxados e seu semblante demonstrava tranquilidade.

Após foi solicitado que se sentassem e foram retomados seus relatos.

Maria falou sobre seu relacionamento com a mãe; disse que sua mãe gostava mais de seus irmãos do que dela. Sua mãe lhe chamava de incompetente e burra, dizia que ela não sabia fazer as coisas direito. Isto lhe trazia muita dor até os dias de hoje. Neste momento, Maria se emocionou. Lembrou-se de que, mesmo atualmente, sua mãe a tratava como uma menina. Relatou que em uma de suas viagens até a Bahia, indo visitar sua mãe, aconteceu um fato marcante. Elas estavam cozinhando um prato típico da região e Maria opinou sobre como fazer o prato e ouviu de sua mãe uma frase que a marcou muito:                              

- Ih! Essa daí não sabe fazer nada direito não. (Mãe de Maria)

Maria contou que se sentia muito triste devido ao fato de que, para ela, sua mãe sentia ciúme dela com seu pai, pois o pai era muito mais próximo de Maria do que a mãe.

Parecer do Atendimento: Maria sofria por não ter consciência de que muitas de suas atitudes eram repetições de padrões que a acompanhavam de sua família de origem, sua herança familiar. Ao mesmo tempo em que queria quebrar estes padrões, queria agir diferente com as meninas na criação delas; se via numa luta, pelo fato de perceber que repetia,  inconscientemente, comportamentos que sua mãe tinha com ela. Isto gerava ainda mais angústia nela, pois o conflito se mantinha; o modelo de correção rígida, que a machucou, ela não queria reproduzir, porém, não sabia como evitar que isso acontecesse.

QUINTA SESSÃO

Maria começou relatando que se lembrava de que lhe foi pedido para investigar qual era a ordem entre os irmãos de sua mãe; ela então relatou que sua mãe era a sétima filha de um total de 12 irmãos, sendo que destes, 5 eram homens.

Foi perguntado a ambos como estava sendo o processo terapêutico. Damião, fazendo uma reflexão, disse que na visão dele os atendimentos estavam sendo muito bons. Ele estava podendo expressar mais seus sentimentos, podia ver que Maria o escutava mais. Já Maria falou que, para ela, estava sendo muito difícil (nesta hora ela se emocionou). Disse que voltar ao passado mexeu muito com ela e chorou.

Solicitou-se de Maria que relembrasse sobre a época mais feliz de sua vida e contasse mais detalhes. Ela contou que saiu de casa pela primeira vez quando tinha 18 anos. A igreja que frequentava realizava campanhas que incentivavam os jovens a trabalhar e ter a sua independência financeira. Na verdade, ela não saiu de casa por motivos de briga ou desentendimentos. Segundo Maria, ela saiu mais porque surgiu uma oportunidade para ajudar seus irmãos.

Ela relatou que se comprometeu em tirar seus irmãos daquela vida miserável. Isto lhe trazia tristeza. Via seu pai maltratando seu irmão com palavras e se indignou com esta situação. Seu sonho era vir para são Paulo e posteriormente trazer seus irmãos para perto dela. Como irmã mais velha se sentia com esta obrigação.

Ao chegar a São Paulo, ela passou a morar com uma tia. Seu tio era alcoolista e estava desempregado. Ele tentou molestá-la, mas ela reagiu e sua tia se colocou do lado do esposo e a acusou de ser a culpada. Esta tia era irmã do seu pai. Maria decidiu que iria sair daquela casa. Conseguiu, com a ajuda de uma amiga, alugar um local só para ela. Comparou então este período, em que morou sozinha, com sua vida atual e disse que foi muito bom, pois não ficava tão cansada.

Ela relatou que sair de casa foi uma fuga da “surra” de palavras que sua mãe lhe dava, pois isto a feria muito.

Ao relatar sua maneira de lidar com suas enteadas ela contou que, às vezes, ao chamar a atenção delas fazia com que sua gritaria se tornasse a forma de expressar-se, já que ela não podia bater.

Parecer do Atendimento: Maria tinha qualidades como cuidadora e profissional e isto era uma demonstração de sua grande capacidade de resiliência. Ela contou o fato de Bruna e Sarita a verem como mãe e que chegaram até a se posicionarem, de forma enfática, quando a mãe biológica lhes chamou a atenção sobre o porquê de elas chamarem Maria de mãe. Elas disseram que mãe era quem cuidava.

SEXTA SESSÃO

Maria disse que a atividade que foi solicitada de conversar mais com Bruna e Sarita e tentar se controlar mais, não estourar e brigar com as meninas, foi um sucesso.

Relatou que conseguiu até se controlar quando as meninas acabaram esquecendo-se de realizar uma tarefa doméstica, de tirar as calcinhas do varal que ela tinha pedido e elas não fizeram, mas em vez de ralhar com elas, se segurou. 

- Eu consegui respirar, pensar e não me estressei com elas, achei isso legal. (Maria)

Maria contou o quanto foi importante, durante o processo terapêutico, ter entrado em contato com sua história de origem e sua infância. Mesmo que essa história tivesse sido triste, ela percebeu que estava repetindo os padrões que havia recebido de sua família de origem e tudo isso de forma inconsciente.

- É triste perceber que sofri e faço a mesma coisa com as meninas... Mas vocês são maravilhosos. (Maria)

Damião relatou que lidar com as meninas era muito difícil, mas que agora estava conseguindo trabalhar isso melhor. Assim como Maria, Damião contou que entrar em contato com sua história de origem fez todo sentido para ele. Isto o ajudou a ser mais compreensivo com sua família.

Damião continuou dizendo reconhecer que tem muito ainda a ser trabalhado, melhorado e ainda teme perder o que já haviam conquistado e por isso gostaria de continuar em terapia. Maria concordou e falou achar que precisavam melhorar muito ainda, pois estavam somente aprendendo a ouvir.

-  Às vezes, ele me convida para intervir em algum problema sobre as filhas dele e eu fico com raiva, percebo que preciso aprender a ouvir mais. (Maria)

Maria tem tentado encontrar materiais que falem sobre o papel das "madrastas”: buscou na internet palestras, livros que falem sobre o assunto. Contou que falou com sua mãe e perguntou-lhe sobre a história dela. 

Ela não teve problemas com minha avó, mas disse meu avô era bravo, ignorante e batia nos filhos.

Sua mãe sentia ciúmes dela com seu pai. Ela era a predileta dele. Devido a isso, sua mãe a tratava diferente dos demais irmãos.

Maria disse que se sentia confusa com seus sentimentos, pois em alguns momentos queria ficar sozinha e então pedia as meninas e ao Damião que a deixassem só. No entanto, ela contou que gostava de ter a companhia deles também; não entendia muito bem estes sentimentos ambíguos.

Damião estava mais próximo das filhas e Maria disse que conseguia controlar seus ciúmes, não estava se sentindo tão incomodada como antes. 

Damião e Maria poderão mudar a história de suas filhas em relação ao futuro delas, ao quebrarem o ciclo de experiências que ambos vinham perpetuando ao repetir a criação que tiveram. Com Bruna e Sarita poderá ser bem diferente a partir da tomada de consciência de Maria e Damião de suas heranças transgeracionais.

 O casal se mostrou confiante e agradeceram o fato de terem tido a oportunidade de passarem pelo processo terapêutico e se comprometeram em continuar em novo processo terapêutico que lhes foi oferecido.

Parecer do Atendimento: Maria estava mais calma, no seu tom de voz e em seu aspecto facial; menos rígida e visivelmente animada. Demonstrou gratidão por todo processo terapêutico. Percebeu melhorias na sua conduta com suas enteadas e com o esposo. Ela aprendeu a ter outra visão e conduta sobre o seu papel de madrasta e mostrou-se interessada em buscar conhecimento sobre o assunto.

Damião, por sua vez, começou a se permitir aproximar das filhas, bem como permitir que elas se aproximassem dele sem ter receio de magoar a esposa por dar atenção e afeto para Bruna e Sarita. Mostrou-se grato e aprendeu a lidar e compreender a esposa. Sentia-se feliz e cheio de esperança diante do grande progresso alcançado num curto período terapêutico. Feliz por ter conseguido identificar a raiz do conflito, ou seja, sua dificuldade em ouvir.

Assim foi finalizado o processo terapêutico com o casal.

8.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este trabalho teve como fundamentação teórica as Escolas de Terapia Familiar:  Estrutural, de Milão e Transgeracional.

Maria chegou a sessão terapêutica trazendo a queixa de que, mesmo amando seu marido, Damião, estava a ponto de se separar. Sentia-se angustiada, triste e desajustada, devido ao desconforto de conviver com suas enteadas, o que estava afetando diretamente seu casamento.

No primeiro atendimento Maria e Damião relataram sobre suas histórias. Maria disse ser da Bahia, primeira filha de três, saiu para trabalhar em São Paulo. Damião, argentino, era o quarto filho de seis, tinha sido casado e tinha duas filhas, uma de 8 e outra de 9 anos; disse que a ex-esposa havia deixado as filhas sob os cuidados dele. Ele e Maria se conheceram na igreja adventista de sétimo dia, e quando resolveram se casar já sabiam que as meninas iriam morar com eles.

A presença das meninas no casamento trouxe sentimentos de ciúme em Maria que não estava sabendo lidar com a situação. Deixou claro estar incomodada em ter que cuidar de suas enteadas. Percebeu-se também que Damião se sentia paralisado diante da situação por não querer magoar nenhuma das partes caso tivesse que tomar partido no conflito.

Em um estudo feito foi constatado que para a mulher na posição de madrasta há uma alta expectativa social, entendendo fazer parte do papel de cuidadora, educadora e dar suporte afetivo aos filhos, seus ou de outrem. No entanto, os resultados apontam que as madrastas, em comparação com as mães, têm uma autoimagem mais baixa, sentindo-se mais frequentemente despreparadas, fracassadas, tendo uma visão de que sua vida é mais confusa do que a dos demais. (Falcke e Wagner, 2000, pág.433).

Diante dos fatos apresentados, foi planejado no pós-sessão pelo grupo de terapeutas junto com o supervisor que além de planejarem investigar a história de vida de Damião no próximo atendimento, seria dada atenção a Maria buscando acolher sua angústia, tristeza e o incômodo que poderiam estar relacionados também a repetições de padrões geracionais que a acompanhavam a partir de sua herança na família de origem. A hipótese levantada foi de que seria preciso trabalhar e fortalecer o subsistema conjugal, para que o casal conseguisse a superação dessa fase.

As novas configurações familiares têm trazido demandas peculiares aos atendimentos terapêuticos, de forma que ganharam campo e denominações próprios. Bernstein (2002) diz que é necessário algum tempo da nova união de recasamento para que a família alcance o estágio de desenvolvimento familiar em que as relações entre os membros sejam autênticas e mais próximas.

 O segundo atendimento foi focado em descobrir a história de vida de Damião, já que no atendimento anterior foi dada mais voz a Maria. Após o relato de Damião, percebeu-se que tanto Maria quanto seu esposo estavam presos no que Bowen (1989) chama de processo de projeção geracional. O que eles estavam vivendo encontrava-se ligado aos seus ancestrais (pais, avós, etc.). Em sua criação, aprenderam comportamentos que, estavam reproduzindo em seu núcleo familiar atual.

Essa hipótese foi confirmada quando Maria relatou seu relacionamento com a mãe. Disse que sua mãe gostava mais de seus irmãos do que dela, que a chamava de incompetente e burra e que dizia que ela não sabia fazer as coisas direito. Isto lhe trazia ainda muita dor e se emocionava só de lembrar. Lembrou-se de que sua mãe a tratava como uma menina. A equipe terapêutica inferiu, a partir desse relato, que o modelo de relacionamento de Maria com as enteadas estava sendo reproduzido da interação conflituosa que ela tinha com sua mãe.

Ainda foi trabalhado com o casal outro conceito da escola transgeracional de que o distanciamento físico com a família de origem não significava que ela tinha conseguido diferenciar-se de sua família de origem, mas só que procurou se afastar para evitar conflitos. E que para se atingir um grau maior de diferenciação, ou seja, maior crescimento emocional e autonomia da família de origem, era preciso fazer um enfrentamento emocional e sair sem deixar dívidas emocionais mal resolvidas. Assim Bowen (1989) coloca que é preciso relacionar-se com a família de origem de forma cordial.

Utilizando-se das Técnicas da Escola de Milão, os terapeutas se reuniram no coro grego e fizeram conotações positivas fazendo devolutivas ao casal. Foi reforçado de como eles eram fortes em detrimento de tantos sofrimentos emocionais e privações vivenciados em suas famílias de origem.       

Nas sessões seguintes a ênfase foi dada a comunicação entre o casal, pois foi percebido o quanto eles estavam distantes entre si, ao não conseguirem falar sobre seus sentimentos. Isso fazia com que o casal se distanciasse e acusasse um ao outro, tornando a comunicação disfuncional. Foi realizada uma vivência para que o casal aprendesse a falar usando a linguagem do EU, e fossem menos reativos um com o outro. Os terapeutas utilizaram como ferramenta a técnica da comunicação da terapeuta Virginia Satir (1993). Essa vivência foi com o objetivo de fortalecer a união do casal, além de ensinar-lhes novas formas de comunicação para tornar a relação mais íntima e saudável. Como diria Minuchin (1982) quando o subsistema conjugal está bem, todos os outros subsistemas estarão bem.

Além das vivências aplicadas no decorrer das sessões ainda foi utilizado no final dos atendimentos os recursos das diretivas terapêuticas, para que fizessem tarefas em casa. Eram prescritas diretivas para que o casal fizesse acordos onde cada um deveria, se necessário, ceder, contanto que fossem decisões tomadas em conjunto, pelo casal.      

Lá pela quarta sessão, Maria relatou que ainda estava sendo muito difícil a mudança.  Que o convívio com as enteadas ainda gerava desconforto, e novamente apareceu em seu relato sua tristeza pelo distanciamento relacional com sua mãe e por situações que aconteceram em sua infância  e que na vida adulta ainda persistiam.

Na escola transgeracional, Bowen (1984) afirma que podemos lutar contra nossa herança familiar, mas que ela acabará alcançando-nos. Nesse sentido, percebe-se que o fator gerador de angústia em Maria era o fato de não querer manter o modelo rígido de correção que ela tivera e nem aplicá-los na educação de suas enteadas, pois este era o modelo que a machucou e ainda machucava. Porém, ela   não   sabia   como   evitaria   que   isso   acontecesse, pois, inconscientemente ela se via repetindo da mesma forma, ou pior, o comportamento de sua mãe com suas enteadas, e isso a entristecia muito.

Neste atendimento os terapeutas finalizaram a sessão prescrevendo uma tarefa em que Maria deveria investigar em sua família de origem, qual era a ordem, entre os irmãos, em que se encontrava sua mãe, e buscasse conhecer mais profundamente como foi a infância de sua mãe.

No atendimento posterior Maria trouxe a história de sua mãe, que não justificava como ela foi tratada, mas explicava o motivo de sua mãe ter sido rígida com os filhos, visto ser sua mãe a sétima filha de 12 irmãos e por seus avós não terem tido tempo de dar muita atenção a todos os filhos. Dessa forma, seus avós deram o que receberam, assim como sua mãe só passou a ela o que também recebeu. Isso fez com que Maria ressignificasse, pelo menos momentaneamente, sua relação com sua mãe, num entendimento maior quando conseguiu ver sua mãe no papel de filha.

Depois dessa sessão foi percebido que mudanças estavam acontecendo, quando Damião relatou que Maria já o escutava mais e como ele estava conseguindo expressar mais os seus sentimentos. Maria relatou que antes ela gritava com as meninas e agora, não   mais; já́   conseguia   conversar   com   elas.           

Na Escola Transgeracional a questão da culpa é tida como o maior dos obstáculos para o êxito de uma emancipação verdadeira e que tais sentimentos podem ocorrer na pessoa que busca a emancipação. Os terapeutas perceberam, neste atendimento, através do relato de Maria, a sua culpabilização. Através de conotações positivas, os terapeutas elogiaram Maria por sua qualidade como cuidadora e profissional e que isto foi uma demonstração de sua grande capacidade de resiliência.

A sessão foi finalizada dando a Maria uma atividade para realizar para a próxima sessão:  ela deveria conversar com as enteadas Bruna e Sarita sobre sua história e tentaria se controlar mais, não estourar e nem brigar.

Na última sessão, o atendimento iniciou-se com Maria dizendo que conseguiu realizar a atividade, disse: “Eu consegui respirar, pensar e não me estressei com elas; achei isso legal” (SIC). Então, os terapeutas lhe ofereceram um reforço positivo, parabenizando-a por isso.

Ao final do processo, os terapeutas familiares e a supervisora perceberam grandes mudanças. Maria estava mais calma no seu tom de voz e em seu aspecto facial; menos rígida e visivelmente animada. Ela melhorou a conduta com suas enteadas e com o esposo. Aprendeu a ter outra visão sobre o seu papel de madrasta e começou a buscar   conhecimento   sobre   o   assunto.

Damião, por sua vez, começou a se aproximar das filhas, bem como permitiu que elas se aproximassem dele sem ter receio de magoar a esposa por dar atenção e afeto para Bruna e Sarita. Aprendeu a lidar e compreender a esposa.

Um dos princípios da Teoria Sistêmica é o da circularidade, onde a pessoa que pede a mudança precisa também mudar. A mudança de Maria e seu esposo, melhorando o relacionamento no subsistema conjugal, gerou mudança no subsistema parental e fraternal, ou seja, o sistema familiar mudou. Como afirma Pardal (2002), o sistema familiar é passível de mudanças e elas podem acontecer a partir da mudança de um de seus indivíduos, pois   quando   um   muda, todos   mudam; o   sistema   muda. 

A escola transgeracional ensina que o terapeuta deve ajudar o indivíduo a entender o funcionamento do sistema familiar do qual faz parte. No caso analisado, os terapeutas perceberam que, ao levarem o casal a entrar em contato com sua história de vida (transgeracionalidade), alcançou-se um objetivo maior de fazer com que as pessoas pudessem se relacionar não por necessidade, mas sim, por escolhas próprias; por opção, e não por obrigação; gerando assim respostas e não reações.

Ao final do processo terapêutico, foi possível perceber que o casal se mostrava menos reativo, mais feliz e com esperança.

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração deste trabalho permitiu verificar a importância da compreensão do papel da Transgeracionalidade na formação do indivíduo.  Propiciou a reflexão sobre o fato de que comportamentos ou escolhas que um indivíduo atualmente faz podem na verdade ser padrões aprendidos na família de origem e que se repetem através das gerações. O rompimento com esses padrões exige, primeiro, conhecimento de sua existência e depois, o aprendizado de como se libertar deles para, finalmente, apropriar-se de sua individualidade e identidade.

Ainda foram observadas, através do estudo de caso, as transformações nas famílias contemporâneas e verificou-se que são necessários mais estudos que possibilitem produção e aprofundamento de conhecimento para que tais fenômenos sejam melhor entendidos pelos profissionais a fim de poderem apresentar às famílias caminhos para lidar com suas questões. Essa necessidade se deve ao fato de que têm surgido novos tipos de conflitos relacionais (em nível conjugal, parental e filial) a partir dos novos modelos de relacionamentos. O impacto pode ser considerado maior, pois tais mudanças na estrutura familiar são consideradas paradigmáticas em nossa sociedade.

O sistema da família atendida que se apresentava no início da intervenção terapêutica inadequado, foi transformado, tornando-se funcional para seus membros. A paciente identificada, Maria, se tornou livre de seus padrões transgeracionais que estavam causando angústia e fracasso nos subsistemas conjugal e parental. Dessa forma, a família tornou-se mais resiliente às mudanças que decorrem naturalmente de seu ciclo vital.

Vale ressaltar que a terapia familiar sistêmica e sua metodologia se mostram como uma ferramenta eficaz para aliviar os sofrimentos e para auxiliar as famílias no aprendizado de terem padrões mais funcionais e saudáveis e, consequentemente, mais felizes.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Por Jairo de Oliveira - Especialista em Terapia Familiar

Cleonice Peixoto de Melo - Professora e Diretora Pedagógica do Curso de Terapia Familiar


Publicado por: jairo de Oliveira

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