FETICHISMO DA MERCADORIA E DESPERSONALIZAÇÃO: A CONVERSÃO DO SOFRIMENTO POLÍTICO EM PATOLOGIA INDIVIDUAL

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1.  INTRODUÇÃO TEÓRICA

A relação entre a alienação, o trabalho e o sofrimento psíquico é vital dentro das discussões sobre as falhas do modo de produção capitalista. Como fundamentado por Marx (1867), o capital se baseia na expropriação da força de trabalho da classe operária, que transforma o tempo em mercadoria e subjuga o trabalhador à posição desumanizada. Essa dinâmica é responsável por corroer a mente do indivíduo e subverter sua subjetividade, como é evidenciado por Engel (1845) em sua obra A situação da classe trabalhadora na inglaterra, na qual são apresentados relatos em que operários são levados ao desespero, vícios, ou até ao suicidio diante da miséria de um mundo desolador.

As raízes da psicologia atual refletem a demanda da sociedade capitalista quando a necessidade de controlar e otimizar a força de trabalho se torna crucial. Como afirmado por Holzkamp (1983) o sofrimento mental se torna um problema individual que desconsidera sua raiz social. Para o autor, o tormento psicológico é uma resposta racional a condições irracionais (HOLZKAMP, 1983, p. 217).

Esse esgotamento do ser também é apontado dentro da literatura, na obra A mãe, Gorki (1906) na qual é descrita na perspectiva dos operários que, depois de anos de opressão, temem qualquer mudança como ameaça ao pouco que possuem. Gorki (1906,p. 4).

“[...] Acostumados a serem oprimidos pela vida, aquela gente considerava todas as transformações possíveis como próprias somente a tornarem o seu jugo ainda mais pesado.[...] Depois de ter vivido assim uns cinquenta anos, o homem morria.”

Dessa forma, esta análise articula por meio de fundamentos marxistas as contradições sociais de uma psicologia que coloca em segundo plano a relação dinâmica da com cérebro com o mundo material, como proposto por Ilyenkov (1974).

2. OBJETIVO

Analisar as raízes históricas e consequências sociais de uma psicologia burguesa e individualista.

3. HIPÓTESE

Quando ocorre a conversão da depressão/ansiedade de trabalhadores em “falha pessoal”, negligenciando sua relação com a precariedade e exploração laboral, a psicologia burguesa dissimula a opressão capitalista, como é fundamentado na crítica marxista à medicalização do sofrimento psíquico e despersonalização do operário.

4. PSICOLOGIA BURGUESA E OPRESSÃO CAPITALISTA

Como aponta Klaus Holzkamp (1983), a psicologia tradicional converte contradições sociais em patologias individuais, transformando respostas racionais a condições laborais desumanas em disfunções bioquímicas ou cognitivas. Ao deslocar a origem da depressão e ansiedade para o âmbito privado do trabalhador, a psicologia burguesa ignora que tais condições são produto direto da exploração capitalista, tal como Marx descreve em O Capital: o capital "vive apenas da sucção de trabalho vivo", reduzindo o trabalhador a condição de apêndice da máquina produtiva. A medicalização do sofrimento, como destacado por Christopher Bollas (2018), transforma um "luto pela perda de futuro" em uma falha neuroquímica, encobrindo que a angústia sucede da alienação e da despersonalização do trabalhador.

Os relatos sobre a classe trabalhadora inglesa no século XIX , como proposto por Marx e Engels (1845) mostram que a miséria, o alcoolismo e o suicídio eram respostas à brutalidade do sistema fabril, não "escolhas" individuais. Quando a psicologia contemporânea trata a depressão como um déficit de resiliência ou desequilíbrio serotoninérgico, ela repete a lógica burguesa que Gorki (A Mãe) denuncia: os oprimidos passam a aceitar a opressão como algo natural, incapazes de enxergar transformações além do agravamento de seu "jugo". A precariedade moderna, jornadas exaustivas, desemprego estrutural, perda de direitos, é apresentada como um dado imutável, e não como resultado da acumulação capitalista.

Ao individualizar o sofrimento, a psicologia dominante cumpre um papel ideológico: despolitizar a luta de classes. Se o mal-estar do trabalhador é atribuído a sua "incapacidade de adaptação", a culpa recai sobre ele, e não sobre a estrutura que o explora. Isso reflete a crítica de Marx à alienação: o operário é duplamente roubado, primeiro do produto de seu trabalho e depois do direito de reconhecer a origem social de sua dor. A frase "se o trabalhador consome seu tempo disponível para si mesmo, ele furta o capitalista" revela como até o autocuidado é criminalizado, enquanto a exaustão é normalizada.

A hipótese sustenta-se, portanto, na dialética materialista: a depressão e a ansiedade não são meras disfunções, mas expressões da violência sistêmica do capital. A psicologia crítica, ao contrário da burguesa, deve desvelar essas mediações, mostrando que a cura real exige a transformação das condições materiais que geram o sofrimento, ou, como diria Marx, a passagem da "interpretação" à "mudança" do mundo.

5. EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS

Esta seção tem como objetivo central expor e articular as diferentes camadas de evidências coletadas sobre a relação entre saúde mental e precarização laboral. Por meio de uma abordagem metodológica tripartite, apresentamos a perspectiva clínica através de entrevista com profissional da saúde mental, exploramos como o discurso terapêutico hegemônico interpreta o sofrimento mental relacionado ao trabalho, com atenção especial aos processos de medicalização e individualização das queixas.

A análise histórico-social por meio da contribuição de um historiador/Professor de sociologia, que permite contextualizar as atuais condições de trabalho em um processo histórico mais amplo, destacando como a naturalização da exploração laboral se consolidou no capitalismo contemporâneo.

Por fim as vozes dos trabalhadores, Os dados quantitativos e qualitativos obtidos por meio de questionário aplicado a trabalhadores CLT revelam as experiências concretas por trás das estatísticas, expondo como a precarização se materializa no cotidiano e impacta a saúde mental.

5.1. Entrevista com profissional da psicologia

A entrevista realizada com a psicóloga clínica (ENTREVISTADA, 2025) traz elementos que dialogam diretamente com a hipótese do estudo, embora também revele nuances que merecem cautela. Quando questionada sobre a efetividade da psicologia individual frente a sofrimentos de origem sociopolítica, ela reconheceu a ambiguidade dessa atuação: "Acho que a psicologia contribui a partir do momento que a gente leva a pessoa a pensar sobre ela [...] mas quando você leva a pessoa a pensar sobre ela, isso pode fazer com que ela queira romper com o sistema" (ENTREVISTADA, 2025). Aqui, mais do que confirmar um “mecanismo de dissimulação”, sua fala sugere que a reflexão individual, por vezes, pode abrir brechas para a contestação, algo que não necessariamente é intencional no setting terapêutico.

Sobre a medicalização de problemas laborais, seu relato foi direto, mas não sem um certo conformismo: "A medicalização perpetua [...] em casos de sofrimento crônico, você vai ter mesmo que medicar, você vai ter mesmo que afastar [...] então a gente vai perpetuando infelizmente" (ENTREVISTADA, 2025). Ao usar “infelizmente”, a entrevistada reconhece o caráter paliativo do procedimento, mas também admite que, na prática clínica, romper esse ciclo é extremamente difícil.

A crítica aos instrumentos clínicos veio carregada de ironia: "É uma fábrica de laudo [...] o patrão quer um laudo que resolva o problema e o trabalhador volte a trabalhar. Quando que você vai voltar para a minha produção? Ou pelo menos [...] você para de me dar despesa" (ENTREVISTADA, 2025). Nesse trecho, a noção de coisificação aparece de forma quase caricata, não como uma formulação teórica explícita, mas como um desabafo que expõe o quanto o laudo serve, na prática, para regular a produtividade.

Os limites impostos pelos planos de saúde foram descritos com indignação contida: "Você tinha um limite de 12 sessões [...] atendimentos de 30 minutos. O que você faz em três meses? [...] a pessoa está formando vínculo, está começando a desembaranhar o problema, aí você não pode mais atender" (ENTREVISTADA, 2025). Aqui, a lógica capitalista não é apenas mencionada, mas aparece como algo que quebra o próprio processo terapêutico no momento mais delicado.

Por fim, quanto à formação profissional, a fala foi quase resignada: "A gente tem pouca psicologia social na faculdade [...] a gente acaba idealizando um universo de trabalho na minoria" (ENTREVISTADA, 2025). Essa observação revela um viés estrutural que vai muito além do consultório, pois já nasce no espaço acadêmico e se reproduz na prática.

5.2. Entrevista com historiador/professor de sociologia

A entrevista realizada com um especialista das ciências humanas (ENTREVISTADO, 2025) traz elementos importantes para compreender as relações entre a organização capitalista do trabalho e a crise contemporânea da saúde mental. Seu depoimento combina referências conceituais e observações sobre a realidade cotidiana, permitindo articular teoria e experiência concreta.

No início, ao caracterizar a alienação, o entrevistado aponta para uma contradição vivida no trabalho atual: "Quanto mais explorada a mão de obra, mais alienada ela fica [...] ela sente o cansaço, ela sente que não rende, ela sente suas relações pessoais e suas relações familiares cada vez mais difícil de ocorrer e, mesmo assim, ela se sente agradecida por exemplo de ter um emprego" (ENTREVISTADO, 2025). O relato mostra como o desgaste físico e emocional pode ser interpretado como falha pessoal, quando na verdade está ligado a processos objetivos de exploração.

Ao comentar a transformação tecnológica, ele recupera uma expectativa de décadas passadas: "A promessa que nós tínhamos há 20, 30 anos atrás, é que no futuro nós trabalharíamos menos e as máquinas trabalhariam por nós [...] e nisso a gente trabalha disputando o mercado com a máquina" (ENTREVISTADO, 2025). Há aqui um tom de frustração, o avanço técnico que deveria aliviar o trabalho acabou se convertendo em intensificação e competição. A fala sugere que a promessa de progresso se transformou em fonte de exaustão e insegurança.

Sobre a uberização, o entrevistado recorre a categorias clássicas, mas de forma aplicada ao presente: "É a mais-valia absoluta [...] você amplia o horário de trabalho ao máximo para ter sua subsistência" (ENTREVISTADO, 2025). Ao aproximar a realidade atual da lógica da mais-valia, ele mostra que o fenômeno, embora apresentado como “novo”, reproduz formas históricas de exploração.

Em relação às plataformas digitais, sua crítica ganha um tom quase descritivo: "Antes você tinha um patrão, uma pessoa de carne e osso que estava ali próxima a você [...] hoje com as plataformas digitais, é como se fosse um ente abstrato" (ENTREVISTADO, 2025). A percepção indica um deslocamento: a figura concreta do patrão dá lugar a uma instância impessoal e mediada pela tecnologia, que intensifica a sensação de distanciamento e dificulta identificar quem exerce o poder.

A internalização da culpa aparece de forma bastante direta: "Sempre é o erro individual e nunca coletivo. Sempre é problema do 'eu' e nunca do 'nós'" (ENTREVISTADO, 2025). A frase, embora simples, condensa bem o modo como o sofrimento é privatizado, deslocando o foco das contradições sociais para o indivíduo isolado.

No que se refere ao período pós-pandêmico, o tom do relato é mais fragmentado, mas justamente por isso transmite a sensação de sobrecarga: "A gente imaginava que ia ser um pouco diferente, piorou [...] com mais atividades, fazendo mais coisas e continuando" (ENTREVISTADO, 2025). Essa forma de narrar, com pausas e repetições, sugere que o trabalhador vive um acúmulo de tarefas sem conseguir dar pleno sentido à sua experiência de cansaço.

Por fim, ao discutir a falta de alternativas, o entrevistado aponta para uma limitação que é tanto política quanto subjetiva: "Tá difícil. A gente tem uma crise tremenda de ideias, porque a gente [...] parece que está muito mais pensando em tutelar o neoliberalismo do que criar opções a ele" (ENTREVISTADO, 2025). Essa fala sugere que a saúde mental coletiva também depende da possibilidade de imaginar outros futuros. Suas palavras finais, "o capitalismo está se remodelando [...] e logicamente se alienando" (ENTREVISTADO, 2025), não soam como conclusão definitiva, mas como alerta sobre os caminhos que o sistema tem tomado e seus impactos sobre a vida psíquica.

5.3. Questionário aplicado e respondido

O questionário aplicado para 16 participantes, contém 8 perguntas fechadas, organizadas em 3 eixos temáticos: Perfil sociolaboral (Grau de escolaridade e jornada de trabalho); Relação trabalhador e trabalho (substituibilidade e autonomia temporal); Impactos na saúde mental (ansiedade, depressão e esgotamento mental)

Este questionário foi aplicado para investigar como as condições de trabalho no capitalismo contemporâneo afetam a saúde mental dos trabalhadores. Partindo da crítica marxista à exploração laboral, buscou-se analisar três dimensões principais: Primeiramente, a relação entre escolaridade e sentimento de substituibilidade; Em sequência, os impactos da jornada excessiva e da precariedade na saúde mental; Por fim, a perda de autonomia sobre o tempo de vida.

5.3.1. Resultados

Os dados foram organizados em oito gráficos, nos quais são retratadas as respostas dos trabalhadores às perguntas do instrumento de pesquisa.

Gráfico 1: Porcentagem de homens e mulheres participantes.

Porcentagem de homens e mulheres participantes.
Fonte: Autoria própria (2025)

No gráfico acima é representada a relação entre homens e mulheres participantes da pesquisa sobre o total.

Gráfico 2: Representação gráfica das respostas de “Qual o seu nível de escolaridade?”

Gráfico sobre o nível de escolaridade.
Fonte: Autoria própria (2025)

Gráfico 3: Representação gráfica das respostas de “Em uma escala de 1 a 5, quanto você acredita que suas condições de trabalho (jornada, pressão, salário, ambiente) impactam sua saúde mental?”

Gráfico sobre as condições de trabalho e saúde mental.
Fonte: Autoria própria (2025)

O gráfico apresentado ilustra a noção pessoal dos colaboradores dessa pesquisa sobre o impacto mental ocasionado por condições de trabalho opressoras. Como pode ser observado acima a magnitude desse impacto, em sua maioria se encontra em níveis agravados.

Gráfico 2: Representação gráfica das respostas de “Com que frequência você pensa em pedir demissão devido ao esgotamento mental?”

Gráfico sobre pedir demissão devido ao esgotamento mental.
Fonte: Autoria própria (2025)

O gráfico acima evidência que, apesar das respostas prévias sobre o quanto a jornada de trabalho opressora afeta a saúde mental do operário, a grande maioria dos participantes não veem a demissão como uma alternativa. Esta relação pode ser ocasionada pela alta taxa de desemprego, e baixo poder de compra, levando o trabalhador a necessidade de aceitar condições laborais abusivas para promover algum tipo de “segurança financeira”.

Gráfico 4: Representação gráfica das respostas de “Em comparação com 5 anos atrás, como você avalia sua relação com o trabalho?”

Gráfico sobre relação de trabalho.
Fonte: Autoria própria (2025)

O esquema aponta que, apesar das tendências parciais abstratas, a maioria da parcela analisada (75%) está designada no espectro “estável-Muito melhor” no que diz respeito à relação laboral atual do participante e de 5 anos atrás.

Gráfico 5: Representação gráfica das respostas de “Quantas horas você trabalha em média por dia?”

Gráfico sobre a quantidade de horas trabalhadas por dia.
Fonte: Autoria própria (2025)

Em relação ao total de colaboradores, o gráfico de barras aponta que a mostra social analisada se enquadra na média de carga horária laboral brasileira, com exceção de 18,7% que possuem uma jornada de trabalho excessiva.

Gráfico 6: Representação gráfica das respostas de “O medo de perder o emprego afeta a sua saúde mental?”

Gráfico sobre o medo da demissão e saúde mental.
Fonte: Autoria própria (2025)

A análise do gráfico permite observar que 56,3% da população amostral tem a sua saúde mental afetada pelo temor da carência de seu ofício.

Gráfico 7: Representação gráfica das respostas de “Você acredita que seria facilmente substituído em sua função atual?”

Gráfico sobre a substituição no emprego atual.
Fonte: Autoria própria (2025)

O esboço exibe que, sobre a amostra total de participantes, 68,8% possuem um sentimento internalizado de substituibilidade. Em análise, esses resultados podem ser consequência da despersonalização do trabalhador.

Marx (1867) aponta esse fenômeno como uma estratégia da opressão capitalista na qual subjuga o trabalhador a um apêndice da máquina, aproveitando-se da propagação e internalização desse sentimento para que o capitalista possa perpetuar as condições precárias de trabalho, pois, em adição ao alto grau de desemprego, a crença interiorizada força o operário a suportar a posição trabalhista tirânica.

Gráfico 8: Representação gráfica das respostas de “Quanto você se sente dono do seu tempo?”

Gráfico sobre ser dono do próprio tempo.
Fonte: Autoria própria (2025)

A ilustração gráfica aponta a relatividade do sentimento de autonomia temporal.

6. DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise desenvolvida ao longo deste trabalho evidencia, com base na fundamentação marxista e nas evidências empíricas coletadas, que a psicologia burguesa atua na conversão do sofrimento político em patologia individual, confirmando a hipótese inicial.

As entrevistas e o questionário aplicado a trabalhadores revelaram um quadro de alienação e despersonalização. A psicóloga entrevistada (2025) destacou aspectos que expõem as contradições da prática clínica sob a lógica capitalista: a medicalização como paliativo, a pressão por produtividade transformada em laudos, e a limitação imposta pelos planos de saúde, que frequentemente inviabiliza um acompanhamento terapêutico consistente. Trata-se menos de exceções ou falhas pontuais e mais da operacionalização de um modelo que prioriza o retorno ao trabalho em detrimento da cura efetiva.

De modo complementar, a entrevista com o historiador e professor de sociologia (2025) trouxe elementos para situar historicamente a precarização do trabalho. A chamada “uberização” não surge como fenômeno inédito, mas como atualização das formas de exploração descritas por Marx, especialmente a mais-valia absoluta e o fetichismo da mercadoria. Nesse processo, a internalização da culpa, na fórmula “sempre é problema do eu, nunca do ‘nós’”, funciona como mecanismo ideológico de manutenção da ordem.

O questionário, por sua vez, quantificou a experiência subjetiva da opressão: 68,8% dos trabalhadores declararam sentir-se substituíveis; 56,3% relataram impactos da insegurança no emprego sobre sua saúde mental; e a maioria afirmou enfrentar longas jornadas, entre 8 e 10 horas diárias ou mais. Esses números não traduzem insuficiências individuais, mas a materialização da alienação descrita por Marx (1867), que reduz o trabalhador a mero apêndice da máquina.

Diante disso, a hipótese confirma-se: ao redefinir respostas racionais a condições laborais irracionais, como ansiedade e depressão, em termos de falhas químicas ou de resiliência pessoal, a psicologia burguesa cumpre um papel ideológico. Ela despolitiza o sofrimento, ocultando a violência estrutural e naturalizando a opressão. Como sintetiza Holzkamp (1983), o tormento psíquico não é expressão de anormalidade, mas reação sensata a uma realidade insensata.

Assim, a superação desse modelo não se limita à crítica, mas implica a construção de uma psicologia crítica, capaz de explicitar as mediações sociais do sofrimento e de recusar práticas coniventes com a lógica mercantil. Ilyenkov (1974) já indicava a necessidade de compreender a relação dialética entre cérebro e mundo material, o que permite afirmar que a emancipação da psique do trabalhador está indissociavelmente vinculada à emancipação política.

7. REFERÊNCIAS

BOLLAS, Christopher. Meaning and Melancholia: Life in the Age of Bewilderment. Routledge, 2018.

ENTREVISTADA. Registro audiográfico: Análise crítica da prática clínica contemporânea. Mogi Mirim, 2025. 1 arquivo digital (16 min).

ENTREVISTADO. Registro audiográfico: Análise sobre trabalho e alienação no capitalismo contemporâneo. Mogi Mirim, 2025. 1 arquivo digital (20 min)

GORKI, Máximo. A Mãe. 1906.

HOLZKAMP, Klaus. Grundlegung der Psychologie. Campus Verlag, 1983.

ILYENKOV, Evald V. Dialética do ideal. [s.l.]: [s.n.], [s.d].

MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. Livro I, 1867.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra. Boitempo, 1845.

8. ANEXO A: ROTEIRO DA ENTREVISTA COM PSICÓLOGA

Roteiro de entrevista com psicóloga.

9. ANEXO B: ROTEIRO DA ENTREVISTA COM HISTORIADOR/PROFESSOR DE SOCIOLOGIA

ROTEIRO DA ENTREVISTA COM HISTORIADOR.

10. ANEXO C: QUESTIONÁRIO

QUESTIONÁRIO

QUESTIONÁRIO

  


Publicado por: Cristal Ravanhani Vitisin

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