EGO IDEAL E IDEAL DE EGO: Uma prisão psicológica
índice
- 1. RESUMO
- 2. INTRODUÇÃO
- 3. EGO IDEAL E IDEAL DE EGO: O CONCEITO NA PRÁTICA A PARTIR DE UM CASO CLÍNICO
- 3.1 A formação do superego, ego ideal e ideal de ego
- 3.2 Relatos de um analisando
- 3.3 Vozes do Ego, Superego e seus derivados
- 4. A PRISÃO PSICOLÓGICA DO IDEAL DE EGO E EGO IDEAL
- 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
- 6. REFERÊNCIAS
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1. RESUMO
Baseado em um caso da clínica psicanalítica explora-se nesse estudo observações sobre o conceito de ego, superego e a relação deste com o ego ideal e ideal do ego. Analisar a formação dessas instancias e o desenvolvimento ao longo da vida do indivíduo proporciona excelente material para o manejo da psicoterapia como também, o entendimento do funcionamento do ego diante das exigências do superego, ego ideal e ideal de ego. O ideal de ego torna-se um elemento essencial nesta proposta de investigação, na medida em que se diferencia da instância superegóica, alcançando um estatuto metapsicológico próprio. Entende-se, pois, ser na articulação dessas duas instancias que reside a possibilidade de explorar as consequências e afetos no indivíduo referente à submissão do ego. A relevância dessas observações é a possibilidade de um avanço na compreensão destes conceitos na prática clínica e os possíveis transtornos causados no indivíduo quando são exacerbados. A metodologia utilizada foi uma revisão dos conceitos da obra de Sigmund Freud e de outros autores e a sua aplicabilidade na prática. O argumento foi desenvolvido pela análise de fragmentos de um caso - vítima de uma neurose com transtorno narcísico predominante. Pressupõem que, se houver um equilíbrio das forças que estão em jogo nos conflitos do superego e do ideal do ego, será possível, flexibilizar suas exigências permitindo uma qualidade de vida psicoemocional e mais próxima da realidade. O resultado da terapia dependerá muito mais do analisando em querer mudar seu padrão psicológico do que o próprio manejo do psicanalista. Em casos de narcisismo com este a tendência é o abandono da análise no meio do processo, visto que, a dor de recuperar o self e entrar em contato com os sentimentos reprimidos aproximando-se da realidade é insuportável e aterrorizante.
Palavras-chave: Ideal de Ego; Ego ideal; Narcisismo; Dissociação do Self.
ABSTRACT
Based on a case from the psychoanalytic clinic, this study explores observations on the concept of Ego, Superego and its relationship with the ego ideal. Analyzing the formation of these instances and the development throughout the individual's life provides excellent material for the management of psychotherapy as well as the understanding of the functioning of the Ego in face of the demands of the Superego and Ego Ideal. The Ego Ideal becomes an essential element in this research proposal, insofar as it differs from the Superego instance, achieving its own meta psychological status. It is understood, therefore, that it is in the articulation of these two instances that lies the possibility of exploring the consequences and affections in the individual regarding the submission of the Ego. The relevance of these observations is the possibility of an advance in the understanding of these concepts in clinical practice and the possible disorders caused in the individual when they are exacerbated. The methodology used will be a review of the concepts of the work of Sigmund Freud and other authors and their applicability in practice. The argument will be developed by analyzing fragments of a case - victim of a neurosis with predominant narcissistic disorder. They presuppose that, if there is a balance of the forces that are at stake in the conflicts between the Superego and the Ego Ideal, it will be possible to make their demands more flexible, allowing for a psycho-emotional quality of life that is closer to reality. The outcome of the therapy will depend much more on the patient’s will to change his psychological pattern than on the psychoanalyst's own handling. In cases of narcissism like this, the tendency is to abandon the analysis in the middle of the process, since the pain of recovering the self and getting in touch with the repressed feelings is unbearable and terrifying.
Key-words: Ego Ideal, Narcisism, Self Dissociation
2. INTRODUÇÃO
Superego, Ego ideal e ideal de ego, qual a diferença e como eles estão presentes no psiquismo humano? Para entendermos esses conceitos criados por Freud em 1914 (Para a introdução do Narcisismo) iniciaremos com uma breve descrição das fases psicossexuais do indivíduo.
O desenvolvimento psíquico dá início no nascimento com a fase oral, na qual o bebê tem apenas pulsões e luta pela sua sobrevivência, não se vê como um indivíduo, acredita fazer parte da mãe e sua zona erógena predominante é a boca. Essa fase se encerra por volta dos 18 meses de idade quando a criança entra na fase anal com duração aproximada até 3 anos de idade; se reconhece como um indivíduo independente da mãe, percebe o mundo externo e seu relacionamento com o outro com a introdução da figura paterna, o ânus passa a ser a zona erógena principal, sendo o primeiro contato com o poder de controlar algo proporcionando prazer em expelir e reter as fezes. A fase seguinte é chamada de fálica e compreende dos 3 aos 6 anos de idade, é nessa fase que a criança se depara com o Complexo de Édipo e de Castração, ela se apega ao genitor do sexo oposto temporariamente e identifica-se com o genitor do mesmo sexo, a zona erógena está relacionada aos órgãos genitais e o prazer ligado a exposição desses, como não é permitido pelos pais a exposição é transferida para o corpo de modo geral através da dança, gracinhas infantis, ginástica e qualquer outro tipo de exposição, nessa fase a criança demanda pela atenção dos genitores, para que eles a observe e observe seus gestos. A passagem dessa fase é crucial para o desenvolvimento psíquico da criança e formação do ego e superego e consequentemente as relações sociais e afetivas na fase adulta, é caracterizado pela ambivalência dos sentimentos; ódio e amor em relação aos genitores.
Conforme Freud o complexo edipiano é universal, os desejos e fantasias de incesto com o genitor do sexo oposto e a raiva homicida contra o genitor do mesmo sexo é comum a todos os seres humanos, a questão é como cada um percorre por essa fase e os impactos que têm na vida adulta.
A mãe é o primeiro provedor de cuidados tanto dos meninos quanto das meninas. Essa condição estabelece uma poderosa ligação que provavelmente nunca será de fato rompida. Contudo, essa ligação contém um aspecto assustador para a criança, a mãe tem um poder avassalador e as perspectivas da criança de desenvolver individualidade e autonomia podem ser significantemente ameaçadas por esse poder. O elemento do mundo externo para equilibrar essa relação é a figura paterna, que desempenha um papel menos relevante por não estar tão presente quanto a mãe, porém ele também representa o desconhecido com a sua fascinante liberdade. A criança passa a ver o pai como uma pessoa mais poderosa que a mãe por suas atitudes, porte físico e pelo ambiente sociocultural que está inserida, onde ainda a predomina o domínio da masculinidade. A medida que o papel do pai adquire importância nessa relação, surge uma ligação entre o pai e a criança como um meio de neutralizar o poder da mãe.
A relação triangular passa a ser diferente para meninos e meninas. Os meninos sabem que são semelhantes ao pai em um aspecto significativo, o pênis, não encontrado na mãe. De modo inverso, as meninas percebem que a ausência de um pênis é uma diferença visível do pai. Freud acreditava que tanto os meninos quanto as meninas achavam que não ter pênis era ser incompleto e inferior. E a hipótese infantil mais provável para explicar essa diferença é de a menina ter perdido o pênis que um dia teve.
Para o menino, com cerca de 5 anos, o pai aparece como um auspicioso antídoto ao poder assustador da mãe. Identificar-se com o pai proporciona um sentimento do seu próprio poder e, de fato, o pai ter um pênis representa um importante sinal de semelhança entre pai e filho diferenciando- o da mãe. O pênis se torna um símbolo do poder paterno (falo), do eventual poder do filho e do poder da masculinidade. Assim identifica-se com o pai protegendo-se do poder materno. O pai o acolhe, reconhecendo-se como um menino e, desse modo, identifica-se com ele estabelecendo uma camaradagem masculina.
Embora o menino fuja do poder assustador de sua mãe, ela ainda é o seu primeiro amor. A medida que ele se identifica com o pai e que percebe a importância do pênis, o amor inicial pela mãe assume a forma de desejo erótico. Além de sua identificação com o pai, o menino o enxerga como um rival nessa nova forma de amor pela mãe, o que faz com que ele sinta ressentimento e hostilidade. A rivalidade com o pai é perigosa e, portanto, surge o medo de ser eliminado e ao mesmo tempo a culpa de querer tomar o lugar do pai no relacionamento com a mãe. O curso inevitável da vida inconsciente de um menino faz com que ele entre em um conflito agudo e doloroso com dois dos mais proibidos dos desejos: o incesto e o patricídio.
Enquanto o objeto de amor edipiano do menino é a mesma pessoa que ele amou e de quem necessitou desde o início, a menina tipicamente muda sua orientação da mãe, seu vínculo inicial, para o pai, seu novo objeto amoroso. A menina também necessita de um antídoto contra o poder avassalador da mãe para estabelecer sua independência.
Como o menino, ela se volta para o pai e, nesse momento, tem um desapontamento. Não consegue se identificar com o pai da mesma forma que o menino em virtude da diferença fisiológica entre eles, a ausência do pênis é fator significativo para essa relação. Em geral, o pai não a acolhe como uma pequena camarada, fica mais propenso a tratá-la como uma pequena criatura, adorável e sedutora. Surge então a primeira consequência dolorosa de não ter pênis; é excluída da identificação e da camaradagem com seu poderoso pai, que poderia protegê-la do poder avassalador da sua mãe e defender sua demanda por autonomia e individuação. Diante desse dilema surge a hipótese de que o amor da mãe pelo pai é erótico e se a menina, ainda fortemente identificada com a mãe, for amante do pai poderá possuir o pênis do pai compartilhando o seu poder. Nesse raciocínio o principal objeto de amor deixa de ser a mãe e passa a ser o pai.
O relacionamento da menina com a mãe entra em uma fase extremamente complicada, de um lado a mãe como seu primeiro amor e pessoa com quem se identifica e por outro sua rival em relação ao amor do pai. Em resumo o Complexo de Édipo nas meninas é um desejo erótico pelo pai, associado a uma rivalidade confusa, ambivalente e raivosa com a mãe. Por causa de seu poder, a mãe sempre foi tanto temida quanto amada, e agora a menina tem uma nova razão para esse medo.
Menino e menina temem o poder avassalador da mãe e voltam-se para o pai em busca de proteção. Ambos acabam desejando o progenitor do sexo oposto e considerando o progenitor do mesmo sexo como um rival. O menino depende de sua semelhança com o pai para obter sua proteção, e a menina de sua atratividade. O menino acaba desejando o progenitor que ele sempre amou e de quem foi dependente. A menina tem de fazer a transição do amor pela mãe para o amor e desejo pelo pai.
Se for menina, não existe nenhum meio pelo qual ela possa substituir a mãe como amante do pai sem que os resultados sejam desastrosos. Sua tarefa agora é se desembaraçar dessa posição insustentável, de uma maneira que lhe proporcione as melhores chances possíveis de ter uma adolescência e vida adulta saudáveis. Isso significa a melhor adaptação sexual possível. A forma como ela resolve o Complexo de Édipo indicará em que medida ela poderá se aceitar como mulher, e terá um impacto importante nos seus relacionamentos com homens e mulheres.
A menina pode emergir se sentindo culpada em relação ao sexo ou aos seus relacionamentos com mulheres mais velhas, pode entrar em conflito com a sua identidade sexual e pode ter sua vida amorosa seriamente dificultada por uma inabilidade de se sentir apaixonada e afetuosa pela mesma pessoa. O menino enfrenta a mesma tarefa e as mesmas armadilhas, embora existam diferenças. Pode ser que ninguém passe por essa crise de desenvolvimento sem ficar com algumas marcas e alguns fardos duradouros nas costas. Pais sensíveis e amorosos podem reduzir o fardo, mas provavelmente não podem eliminá-lo.
Em ambos os casos os desejos do período edipiano despertam a ansiedade de castração e como a criança não está madura fisicamente e nem sexualmente só poderá resolver esses conflitos se renunciar ou controlar por diversos mecanismos de defesa do ego.
Após a passagem do Complexo de Édipo a criança entra na fase fálica, dos 6 anos a puberdade, um período de calmaria dos impulsos sexuais, os quais retornam na fase genital que se inicia na puberdade até a idade adulta quando a sexualidade está madura.
Importante relembrar esses conceitos para uma melhor compreensão do caso de uma neurose narcísica e o comportamento do superego e do ideal de ego na clínica psicanalítica.
O caso em questão foi alterado para preservar a identidade da pessoa e a confidencialidade do material, embora o conteúdo seja original, não é possível trazer todos os fatos transcorridos ao logo das sessões analíticas e, portanto, essa é uma produção do analista baseada em anotações, falas e histórias descritas pelo analisando.
3. EGO IDEAL E IDEAL DE EGO: O CONCEITO NA PRÁTICA A PARTIR DE UM CASO CLÍNICO
3.1. A formação do superego, ego ideal e ideal de ego
Freud em 1896 fala pela primeira vez sobre o aparelho psíquico e ao aprimorar seus estudos apresenta 2 hipóteses as quais fazem parte dos conceitos básicos da psicanálise. A primeira hipótese remete a topografia, responsável pelo local (forma subjetiva) da mente e foi dividida em três níveis: CONSCIENTE, compreende a menor parte e armazena as informações mais recentes; PRE-CONSCIENTE local onde estão armazenadas as lembranças de fácil acesso, possibilitam execuções motoras sem muita exigência e; INCONSCIENTE, é a maior parte da mente, estão armazenadas lembranças, ideias e experiencias indisponíveis ao consciente. A segunda hipótese trata-se da parte estrutural, ou seja, os aspectos funcionais entre o consciente, pré-consciente e inconsciente. São eles ID, EGO e SUPEREGO. O EGO é a expressão da consciência em respostas aos estímulos internos e externos. ID, impulsos biológicos (dor, fome, sede, necessidade de carinho, atenção, agressividade etc.), nos leva ao desejo por conta da falta. SUPEREGO refere-se as censuras, crenças, aprendizados, leis e ordem que nos são introjetados pelos pais e sociedade (educação) baseados nos princípios morais. Assim, a mente funciona como um computador onde o HD é a topografia e o software a sua estrutura.
EGO e SUPEREGO são derivados do ID e desenvolvidos ao longo da primeira e segunda infância. O SUPEREGO se forma por uma modificação de parte do ego devido às exigências e introjeções do mundo externo, como se houvesse um desmembramento do ego em relação a suas funções.
Superego, seu papel é assimilável ao de um juiz ou de um censor relativamente ao ego. Freud vê na consciência moral, na auto-observação, na formação de ideias, funções do superego. Classicamente é definido como herdeiro do complexo de Édipo, constitui-se por interiorização das exigências e das interdições parentais (VOCABULÁRIO DA PSICANÁLISE, 1983, p.643).
Por herdeiro do complexo de édipo, fica entendido que a criança ao renunciar à satisfação de seus desejos edipianos, transforma o seu investimento nos pais em identificação com eles interiorizando a imagem do superego deles, ou seja, assimilando o mesmo conteúdo de juízos e valores que são passados por gerações de pai para filho.
Há outras duas variações do ego que serão pautadas no caso clínico; ego ideal e ideal de ego.
Ego ideal é definido por diversos autores como um ideal narcísico de onipotência adulterado a partir do modelo do narcisismo infantil. É o processo de idealização da personalidade pelo qual o indivíduo tem como objetivo retomar o estado de onipotência do narcisismo infantil. Para Daniel Lagache, (psicanalista francês 1903-1972), o ego ideal serve de suporte proveniente de uma identificação primária com a mãe, chamada de identificação heroica (identificação com personagens excepcionais e prestigiosos) e é revelado por uma administração apaixonada por personagens da história ou pessoas caracterizados pela independência e orgulho. Para Lacan, também é uma formação narcísica que tem a sua origem na fase do espelho e pertence ao registro do imaginário. Na clínica ele aparece na conjugação do verbo no presente do indicativo (Eu sou!) construção baseada na fantasia ilusória da onipotência, “ter é igual a “ser” e por isso o sujeito sempre busca o máximo de si mesmo. As identificações são primárias e superficiais, diante de frustrações, o sentimento que emerge é o de humilhação.
Ideal de ego, resultante da convergência do narcisismo (idealização do ego) e das identificações com pais, com os seus substitutos e com os ideais coletivos. Por fim, o ideal de ego é a criação de um modelo ilusório que o indivíduo procura se encaixar. A função de ideal é atribuída a uma subestrutura do superego, em Para Introdução do Narcisismo, 1914 a expressão deu vida a uma formação intrapsíquica de origem principalmente narcísica que serve de referência ao ego para apreciar as suas realizações efetivas. O que o sujeito projeta diante de si como seu ideal é o substituto do narcisismo perdido da sua infância, na qual o seu ideal era ele mesmo. Há muita discussão em torno da expressão ideal de ego e muitos autores referem-se ao superego como ideal de ego, o que não pode ser descartado baseado no texto de Freud Novas Lições de Introdução à Psicanálise, 1932. No qual o superego aparece com uma estrutura com três funções; auto-observação, consciência moral e função do ideal. A diferença entre a consciência moral e a função do ideal está relacionada ao sentimento que acompanha, na primeira o sentimento de culpa e na segunda o sentimento de inferioridade, os quais são resultado de uma tensão entre o ego e o superego. Para Hermann Nunberg (psicanalista polonês 1884-1970) o ego obedece ao superego por medo do castigo e submete-se ao ideal de ego por amor, dessa forma o superego é formado pelos personagens temidos e o ideal de ego pelos amados. D.Lagache menciona uma relação estrutural onde o superego remete à autoridade e o ideal de ego à forma como o sujeito deve se comportar para atender às expectativas do superego.
O ideal de ego acaba sendo o herdeiro do ego ideal, projeções nos pais adicionando às aspirações deles. O tempo verbal do ideal de ego é o futuro condicional (“devo ser”, “se não...”). o ideal de ego está muito presente nos estados narcísicos e fóbicos. O sentimento predominante é o de culpa e vergonha pelo fracasso diante das frustrações da vida.
3.2. Relatos de um analisando
No período de atendimento na clínica social chegou até a mim um analisando que chamarei de Eric, o motivo pelo qual me procurou foi que precisava de alguém para desabafar e assim iniciou sua história. Eric é o filho mais velho de um casal de classe social média alta, tem um irmão 3 anos mais novo, nunca teve proximidade com os avós por morarem distantes e pouco com tios e primos. Sempre foi uma criança introvertida, oposto ao irmão, e muito bem disciplinada. Filho preferido de sua mãe que compartilhava um relacionamento de amor, proteção, companheirismo e nada lhe faltava. Se sentia protegido e seguro com ela, sabia que se algo desse errado ela o tiraria de qualquer situação. Sua mãe, profissional da área de humanas, tinha Eric como seu filho favorito e teve papel fundamental na sua infância e adolescência. O relacionamento de Eric com o pai era mais frio, via nele o castrador, a cobrança e a censura. Como o pai era médico passava longas horas no trabalho e sua conexão com os filhos era baixa, não foi um pai presente emocionalmente. Era o provedor do lar, dos estudos, bens materiais e viagens, pessoa introvertida que se preocupava com o futuro dos filhos (materialmente), teve uma infância pobre e suas conquistas materiais foram fruto de sua dedicação aos estudos e trabalho árduo. A formatura de Eric foi para ele um orgulho, na sua experiencia de vida conheceu apenas as dificuldades para chegar ao topo e com o intuito de poupar o filho, automaticamente entrou em contato com conhecidos em busca de um emprego para Eric. Porém, na concepção de Eric seu pai o queria fora de casa, e por isso a cobrança de obter um emprego. Há uma hipótese que essa cobrança na perspectiva do outro, poderia ser apenas perguntas de um pai preocupado com o futuro de um filho ou até mesmo interesse na vida profissional. Eric, construiu um mecanismo ao longo de sua infância no qual se apoia até os dias de hoje... sua estratégia foi ser o melhor aluno da sala, o mais obediente, o mais querido, o filho perfeito e assim teria o amor/ aceitação do pai, como teria também suas gratificações materiais. “Ora se sou exemplar, fiz o meu papel, o outro tem que me recompensar por isso, através da realização dos meus desejos” (“eu faço a minha parte e o outro me recompensa”). Esse mecanismo funcionou até a fase adulta por conta das gratificações adquiridas através de sua mãe. Suas vontades eram atendidas por ela, muito embora, seu pai discordasse em atender a maior parte. Essa realidade desmoronou na fase adulta, quando sua mãe não pode mais ser provedora de seus desejos e protetora de suas quedas ou frustrações, o conforto da vida que levava desapareceu. Eric não se relacionava muito bem com o irmão, era muito diferente dele que levava a vida mais solta, geralmente não se submetia aos pais e não era exemplo do filho ideal dentro do contexto da família. Eric não teve uma infância de grandes emoções e travessuras de criança, era de poucos amigos e não expressava suas emoções, preferia não ser visto, mas em suas fantasias ele sempre quis (e ainda quer) ser o herói, reconhecido e aplaudido. Sempre foi recompensado pela mãe e cobrado pelo pai.
As suas primeiras sessões foram conturbadas, pois alternava os assuntos e não se aprofundava em nenhum deles. Passou pelo trauma da morte do pai há 4 anos da data de início da terapia e nunca falou diretamente a esse respeito. Depois de alguns meses de análise, disse estar pronto para falar sobre a tragédia, na sequência foi solicitado a ele que relatasse como o fato havia ocorrido e qual tinha sido a sua participação. Diante disso, mudou de assunto e começou a falar sobre o relacionamento dos pais, o qual era instável, se lembrava de ver raramente seus pais trocarem afeto e sua mãe muitas vezes alterada em uma discussão, mas sempre trouxe para a sessão os momentos da família em viagens, churrascos aos finais de semana, passeio ao shopping, compra de um brinquedo ou de outro bem. No vocabulário de Eric o sentido de felicidade não está relacionado às vivências ou momentos junto aos pais. Seu quadro de felicidade está muito mais ligado para o “ter” do que para as “experiências” vividas. Sofre de profunda tristeza e solidão aos finais de semana, pois sente falta das viagens, das compras, dos passeios e de ver todos ao mesmo tempo em casa, mesmo estando cada um em seu canto, sem socialização. Para ele estar todos em casa era significado que os pais estavam bem e que ele tinha um lar e proteção contra a maldade do mundo.
A pergunta referente à tragédia por algumas vezes foi abordada e a informação ora era desviada ou fragmentada sem começo, meio e fim. Claramente havia uma trava em sua garganta, pois se agitava, não conseguia falar, se engasgava e tomava água de forma a empurrar o que vinha em sua mente, assim ganhava tempo para elaborar o que falar e como falar.
Com grande dificuldade de expressar seus sentimentos, Eric se preparava semanalmente sem atraso para sua sessão, sua aparência estava sempre alinhada, e suas frases sempre bem elaboradas para falar dele, como se fosse uma inteligência artificial. Para tentar alcançar algo mais profundo (self) pedi a ele que começasse a escrever como se sentia e que colocasse no papel o que não conseguia dizer. E assim o resultado foi promissor descartando algumas das hipóteses e levantando outras.
3.3. Vozes do Ego, Superego e seus derivados
“Às vezes tenho a sensação de que o mundo não se encaixa em mim – como se eu fosse uma peça de um quebra-cabeça solta, sem preenchimento equivalente. Na verdade, talvez seja eu que não queira me inserir no mundo, como se eu não aceitasse fazer parte dele, de alguma forma. O que seria isso? De onde vem essa sensação que tende a me isolar, ou qual o motivo de eu sempre ter sido mais sozinho, solitário, vazio, incompleto?” (reprodução do texto de Eric)
Ao mencionar que o mundo não se encaixa nele e que é uma peça solta sem encaixe, sugere a interpretação que ele se sente “diferente” ( Qualidade do que é raro; anormal - dicionário da língua portuguesa) nesse caso trabalhou-se com a hipótese do espelhamento do seu ego ideal, uma formação narcísica que tem a sua origem na fase do espelho (entre 6 e 18 meses) e que pertence ao registro do imaginário¹. Eric se coloca em uma situação de superioridade diante do mundo e dos outros, o que o torna especial e por isso não encontra seu lugar na sociedade, pois ninguém está em seu nível intelectual para compreendê-lo e nesse momento é a sua visão imaginária de si mesmo, seu ego ideal toma as rédeas de sua vida. Quando os fatos o trazem para a realidade, há um confronto entre o ego e o ego ideal, inflado pelo ideal de ego, no qual o ego se submete e passa a trabalhar para atender as demandas do ego ideal. Esse conflito mental gera muito desgaste de energia com efeitos de vitimização e raiva, sendo a forma compensatória de satisfazer as exigências do superego e ego ideal, o ganho secundário do sofrimento.
Quem sou eu? Intelectual, calmo, sereno, introvertido, perfeccionista. Perfeccionista. Talvez essa palavra tenha regido toda a minha vida. Talvez seja o que eu sou. Meu ideal é tão grande que talvez seja essa a razão do meu sofrimento, do meu isolamento, do me sentir antiquado ao mundo – afinal, se as pessoas não seguem os padrões que eu espero, eu tendo a não me interessar por elas. Se elas são fofoqueiras, eu tendo a me isolar; se não gostam tanto de leitura, filmes e música, também já é um ponto para eu me afastar. Eu sempre tive vontade de namorar uma garota muito bonita e atraente fisicamente, mas acho que elas nunca se interessaram em mim. Ou será que eu nunca me interessei por elas e projetei esse sentimento nestas belas figuras femininas? Será que, só o fato de imaginar que “mulheres atraentes fisicamente não possuem bons dotes intelectuais” me fez afastar os olhares das belas, mas poucas garotas, que passaram pelo meu caminho? Confesso que tenho esse desejo latente e inconsciente em mim, pedindo ardentemente para que seja satisfeito. Loira, doce, inteligente, carismática – meu sonho de consumo. E não, não será apenas um sonho. Tornar-se-á realidade. (reprodução do material de Eric)
Eric descreve as suas próprias características de forma a atender seu ego ideal, como também, projeta no mundo externo sua criação imaginária do padrão perfeito de pessoa. Na vida real se frustra com as pessoas que cruzam seu caminho por não atenderem os quesitos padrão do seu ego ideal e que provavelmente nunca atenderão. Inconscientemente busca o amor materno acrescido das características que assume para si mesmo. Assim, se defende de seus medos e possibilidades de fracasso. Para Eric não há o meio termo, ele funciona nas extremidades opostas conforme a persona da vez. O que isso quer dizer? Para se sentir vivo e se reconhecer como indivíduo ele criou suas personas que são assumidas como, “eu (ego)” influenciado pelo ego ideal e ideal de ego. O trecho acima retrata sua persona intelectualizada e perfeita, a qual, em sua concepção, é aceita e admirada por todos. Não é surpresa que ele tenha escolhido essa para iniciar seu diário de autoanálise, sendo o intuito a aceitação e aprovação do analista, deixando-o mais confortável para as próximas sessões. Ao longo desse primeiro trecho o conflito entre suas vozes é sutilmente manifestado quando relata seu desejo de namorar uma garota “muito bonita e atraente fisicamente”, logo na sequência contesta o desejo revelando a sua baixa autoestima, que é substituída por uma pergunta sobre a real intenção de seu desejo e sem tempo de avaliar concluiu com a frase “mulheres atraentes fisicamente não possuem bons dotes intelectuais”. Nesse “looping” de pensamentos o seu ego ficou anulado, gratificou sua inferioridade assumindo que mulheres atraentes não são inteligentes e, portanto, não condiz com a sua persona intelectual. Porém, sua conclusão “Confesso que tenho esse desejo latente e inconsciente em mim, pedindo ardentemente para que seja satisfeito. Loira, doce, inteligente, carismática – meu sonho de consumo...” reforça a ideia dessa persona de ter uma mulher maravilhosa (desejada pelo outro) e consequentemente autoafirmando-se. Eric o busca em um corpo de mulher, assim não teria que lidar com o desconhecido, com a possibilidade de uma rejeição ou frustração de não ser desejado pelo outro. Outro aspecto interessante de sua fala é dizer que tem um desejo latente e inconsciente; latente pode ser, mas inconsciente? A partir do momento que assume um desejo ele deixa de ser inconsciente. O inconsciente é esotérico e o propósito da psicanálise é justamente trazer seu conteúdo para o consciente, expandindo assim a consciência e o autoconhecimento. Essa afirmação de Eric abre caminhos para explorar a hipótese da dissociação[1] do self. A defesa pela dissociação durante uma experiência traumática permite que a pessoa se distancie emocionalmente da experiência e molde-se às exigências externas, seu uso continuado permite o desligamento das emoções escapando das lembranças da experiência traumática e de seu impacto devastador. É um processo defensivo presente em vários distúrbios de personalidade, distúrbios de stress pós-traumático e distúrbios esquizoides, como também, em situações mais simples frequentemente mascaradas por ansiedade ou depressão.
As defesas surgem como uma proteção contra o desconforto causado por necessidades não satisfeitas e emoções não expressas. Como são contínuas, elas interrompem a habilidade de contato do indivíduo com o self e com os outros. Sendo assim, as experiências traumáticas mantêm-se dissociadas como estado separados do ego.
Eric passou pelos traumas da morte do pai, da perda da relação protetora que tinha com a mãe e da acusação de ter envolvimento no assassinato. Muitos fatos que tiraram a base de Eric e o que fizeram se afastar do seu verdadeiro self. As necessidades durante o trauma não receberam respostas ou validação satisfatórias. Eric esperava que sua mãe o salvasse desse pesadelo, o libertando das acusações em uma cena desenfreada de emoções diante das autoridades, como sempre resolveu e protegeu Eric das frustrações da vida, porém isso não ocorreu, ela simplesmente se calou e assumiu o crime muitos dias depois. Isto inicia o processo de isolamento da experiência da consciência e, levando ao isolamento de aspectos do self em relação à consciência. O indivíduo faz uso de um conjunto de defesas organizadas para impedir que a experiencia traumática, sentimentos e necessidades relacionados tenham acesso ao consciente, portanto elas permanecem no ego como um estado separado de consciência e não se integram posteriormente.
Após o trauma existe uma necessidade intensa de acolhimento do outro para responder empaticamente às reações emocionais extremas e às necessidades não satisfeitas. A dissociação começa porque as pessoas presentes na vida do indivíduo não conseguem de forma empática prover uma função protetora restauradora que harmonize e valide o fato com a realidade. O indivíduo perde o contato com as necessidades de relacionamento e surge uma fragmentação do ego através de um conjunto de defesas.
O Modelo Internal Family Systems[2] descreve o ego como partes, cada uma com a sua história, crenças e sentimentos, repartindo-se em três categorias: gestores, orientados para execução das tarefas quotidianas, mantendo outras partes exiladas da consciência; os exilados, ligados a memórias dolorosas relacionadas com o trauma, afastados pelos gestores, mas que em alguns momentos podem ocupar o comando levando o indivíduo a identificar-se com as suas memórias. Quando isso acontece, são ativados os bombeiros, com a função de aliviar as emoções intensas, através de comportamentos autodestrutivos ou perturbações alimentares (Schwartz, 2001; Sweezy & Ziskind, 2013) desmembramento da experiência em partes, que constituem repositórios de memórias específicas, representando uma porção da memória traumática. Desenvolve-se uma parte comprometida com a vida quotidiana – que rejeita as memórias do trauma –, e outras partes, que movimentam respostas de defesa para sobrevivência face ao trauma: luta (comportamentos autodestrutivos), fuga (atitudes ou pensamentos compulsivos) e paralisação (ansiedade). Por fim, a Teoria de Estado do Ego postula o self como sendo constituído por partes inconscientes do Ego (Kluft, 2006; Muller, 2002). Estas denominam-se de estados do ego, consistindo num sistema organizado de comportamentos e experiências, sendo que, num processo de diferenciação saudável, apesar de subjetivamente separadas, estas possuem barreiras permeáveis e interligam-se (Watkins, 1993). Na dissociação, estas barreiras apresentam-se mais impermeáveis, formando a própria identidade com um significado próprio para as memórias, ações, pensamentos e sentimentos. O desenvolvimento destes estados possui a função de adaptação a situações de vida intoleráveis provocando a desconexão da mente e do evento real, e desmembrando a experiência, para a manutenção da sobrevivência (Fisher, 2017; Strait, 2014). O mecanismo isola o sujeito das memórias, e consequentemente, do afeto e impacto associado à experiência do evento traumático, fragmentando o ego para a manutenção da estabilidade mental e capacidade para estabelecer relações (Erskine, 1993; Loewenstein, 1993). Os aspetos do self isolados, em proporções extremas, desenvolvem-se em diferentes identidades – partes, alters, estados de identidade (Reinders, 2006) –, protetoras da personalidade central. Estas alternar-se-ão em função da que tem maior competência para gerir a situação, assumindo o controlo executivo do corpo (ISSTD, 2011; Rappoport, 2012) para a regulação afetiva (Paulsen & Lanius, 2014).
Pude notar isso diante de um encontro agradável com uma amiga (?) neste último sábado. .... Durante a conversa, senti algo diferente, talvez um olhar, um sentimento que eu não sentia há anos.
Eu me senti acolhido diante daquela conversa leve, e até quando tocávamos em assuntos extremamente desagradáveis e traumáticos para mim, eu não sentia tanta dor ao relatá-los de maneira discreta. Era como se eu realmente estivesse nos braços da minha mãe, envolto numa esfera de proteção e apoio. Também não costumava me sentir “com obrigação” de agradá-la, ou me esforçar para fazer transparecer meus melhores dotes e habilidades – eu simplesmente pude ser eu mesmo, apesar de ainda me questionar bastante sobre isso. Quem realmente eu sou ? Talvez alguém que queira mudar o mundo... Estar longe das pessoas que eu amo e que me abandonaram naquele passado sombrio, e ainda não saber onde ela está – minha futura namorada e esposa – me deixam profundamente triste. Acho que nunca fui efetivamente feliz em um relacionamento a 2 – talvez com Marcia, nos primeiros meses de 2016. Talvez eu nunca fui feliz porque sempre busquei (e ainda continuo a buscar) alguém que substitua o papel que minha mãe exerceu em minha tenra idade – cuidadosa, atenciosa, amorosa, presente, apoiadora e admiradora do meu esforço intelectual presente desde meus primeiros anos. Forte, corajoso, inteligente, racional, dedicado, introvertido, dificuldade de exposição, medo do fracasso, choro silenciosamente, quero mudar o mundo, a mim mesmo e o que estiver ao meu alcance, pensativo e reflexivo, quero ser incrível, quero ser feliz, sofro. (Reprodução do texto deEric)
Eric trouxe o texto acima após uma sessão de análise em que o tema foi sua mãe e o complexo de édipo[3]. Aqui ele enquadra uma outra persona um tanto romântica e fragilizada, que se sentiu acolhida nos braços de sua amiga, a possibilidade de não ser feliz em um relacionamento e o conto de fadas (busca pela princesa que realizará seus desejos). Não há identificação de traço de sofrimento oriundo da perda de seu pai, apenas uma menção do abandono no passado sombrio pelas pessoas que ele ama e que foi contradito em uma sessão presencial na qual ele respondeu à pergunta “Quem você ama?” “Eu”. A sua persona intelectual e narcísica aparece sutilmente quando fala sobre si, como alguém que quer mudar o mundo. Qual o tamanho dessa grandeza? Qual o significado de mundo? O que ele quer mudar? Na sessão clínica foi trabalhado essas questões, no que chamo, de funil de significante e significado, as ideias são analisadas a partir da ideia macro para o micro, até o ponto em que o indivíduo entende que a mudança do mundo é uma ideia vaga e distante projetada no exterior (outros) porque não quer olhar para si mesmo. Uma característica narcísica de proteger uma inferioridade interior.
Eric trabalha com a persona que melhor convém formando uma barreira de proteção do seu self, isso lhe proporciona uma sensação de segurança e de controle, o que faz pensar que ele tem o poder de manipular situações conforme seus desejos.
Abaixo o quadro que reflete a barreira de proteção do self, as personas se relacionam com o mundo externo como um mecanismo de defesa do Ego, se distanciando do self.
E ao lado de um grande homem, deve haver uma grande mulher! Às vezes passam flashes na minha mente sendo aplaudido por ter sobrevivido a essa “guerra mundial” torturante na qual me encontro – mundial porque vejo os outros como ameaça. Também
gostaria de escrever um livro autobiográfico, talvez, sobre tudo o que eu passei no intuito de ajudar pessoas que passam por momentos difíceis – e por ser reconhecido, claro. Afinal, os humilhados serão e devem ser exaltados. Será que é isso mesmo o que eu quero, ou apenas ser livre para ir e vir, ser um ótimo profissional, marido, pai, atleta... [e uma lista infinita aqui inclusa]? Ainda não sei.... Eu não preciso ser perfeito, minha futura esposa atraente também não precisa, é insano. Mas, isso me leva a outra questão. Eu quero ser perfeito. Eu sinto como se já nasci querendo genuinamente ser o melhor aluno – e na vida adulta, começando a projetar para relacionamentos também – ser o melhor amigo, o melhor namorado, o sonho de toda mulher. .... esse ideal e as minhas cobranças talvez hoje, sejam os meus piores inimigos e que travarei uma árdua batalha durante toda minha vida. Não para eliminá-los porque hoje, eu ainda quero ser esse tipo de pessoa que se destaca, que ganha mimos, que é aplaudida mesmo sem plateia mesmo diante das renúncias que eu faço inconscientemente. (Reprodução do texto de Eric)
Eric está fixado na ideia de ser o melhor, o maior, de ajudar as pessoas, de estar com a mulher maravilhosa, de ser aplaudido e de ter sido humilhado, muito embora tenha confessado em análise meses depois desse texto que nunca fora diretamente humilhado por ninguém. Se vitimiza diante da sua situação financeira e culpa os pais. Tem pavor do fracasso e exige do mundo reconhecimento e retorno financeiro por estudar 8 horas por dia e se dedicar a sua profissão. De forma mecânica Eric funciona desde a sua infância, onde introjetou que se fosse o melhor aluno da escola e um garoto obediente ele teria sua recompensa material e o olhar de orgulho de seu pai. Em parte, esse mecanismo funcionou, pois era assim que sua mãe o gratificava, fazendo todos os desejos de seu filho. Eric não se lembra de quando foi frustrado na infância, como também, não fala de seus sentimentos para com a sua família. Das poucas vezes que mencionou foi o ódio do pai, por ser ele controlador e amor e ódio pela mãe, por ter lhe dado tudo e ter lhe tirado quando assassinou o pai. Para Eric a felicidade está relacionada às conquistas materiais, talvez tenha sido criado dentro desse contexto e o intelecto que busca incansavelmente é para provar ao pai sua capacidade, hoje na figura do ego ideal.
Possui uma resistência muito forte contra a análise e isso torna o caminho mais longo. Traz sempre as suas personas para manipular a sessão e, entre um assunto e outro, seu inconsciente é acessado de forma sutil e informações são coletadas para a montagem do que vai além do seu controle. Em uma de suas sessões mencionou muito rapidamente a sua fantasia com uma pessoa transexual, sem dar mais detalhes dizendo que isso o incomodava. Esse dado é relevante para a compreensão da passagem edipiana e construção do ego. A psicanálise compreende que é no tempo do complexo de édipo que ocorre a inclusão do significante do Nome-do-Pai[4] no Outro, que marca a entrada do sujeito na ordem simbólica e permite o início da cadeia do significante no inconsciente, sugerindo as questões do sexo, questões fechadas ao sujeito neurótico (LACAN, 1957-1958/1999). A intervenção do Nome-do-Pai no Outro faz com que a identificação da criança com o falo (poder) da mãe seja destruída, ou, pelo menos, recalcada (QUINET, 2006).
Por intermédio da metáfora paterna, a significação do falo é evocada no imaginário do sujeito. Antes disso, não havia tal possibilidade. Mas o preço de tornar-se significante é o próprio desaparecimento do falo. O efeito da castração aparece no imaginário como falta. O falo é, pois, o significante que permitirá ao sujeito atribuir significações a seus significantes, é o significante que, por excelência, permite ao sujeito situar-se na ordem simbólica e na partilha dos sexos como homem ou mulher (QUINET, 2006).
Em relação ao modo ao qual o sujeito se posiciona em relação ao falo, Lacan defende:
O Complexo de Édipo tem a função normativa, não simplesmente na estrutura moral do sujeito, nem em suas relações com a realidade, mas quanto à assunção do seu sexo [...]. [...] há no Édipo a assunção do próprio sexo pelo sujeito, isto é, para darmos os nomes às coisas, aquilo que faz com que o homem assuma o tipo viril e com que a mulher assuma certo tipo feminino, se reconheça como mulher, identifique-se com suas funções de mulher. A virilidade e a feminilização são os dois termos que traduzem o que é, essencialmente, a função do Édipo (LACAN, 1957-1958/1999).
Destarte, as fantasias transexuais de Eric sugerem que a castração não foi completa ou bem-sucedida. A primeira hipótese remete ao amor edipiano pela mãe com uma intensa identificação, situação em que busca objetos amorosos semelhantes a figura da mãe para ser amado e tratado como fora por ela, mas o medo da castração por uma mulher sem pênis faz com que procure em suas fantasias o falo na figura feminina, sendo assim o sujeito passivo da relação. A segunda hipótese é a autoginefilia[5], propensão de um homem se sentir sexualmente excitado pelo pensamento ou imagem de si mesmo como uma mulher, comum nos indivíduos com características narcísicas.
O objeto sexual que consiste em um indivíduo introduzir alguma coisa no seu corpo está ligado a fantasia que é mulher e às vezes ligado a homossexualidade. Baseia-se em identificação com a mãe, é um tipo de identificação que ocorre quando há uma fixação anterior no objeto de incorporação passivo receptivos do período pré-genital. Nesse caso a zona erógena anal é predominante, também existe uma zona genital passiva nos homens (prostática), ambos muito semelhantes à genitalidade feminina.
Há tipos de homens cuja atividade é de modo geral inibida, porque inconscientemente tem uma agressividade intensa. Esse tipo de homem sente as vezes que se fossem mulheres, ninguém esperaria que fossem ativos. Em homens bissexuais é difícil determinar se foi o complexo de édipo positivo ou negativo que desempenhou o papel primário.
“...inclusive enquanto escrevo sobre mim, que se meus desejos de buscar amor não forem atendidos, sérios problemas ocorrerão. Apesar de tudo o que venho elaborando até aqui, confesso que ainda me sinto confuso. Há uma famosa frase que diz “sem amor, não somos nada”. Esse sentimento de falta me acompanha durante grande parte de minha vida e talvez seja a causa do meu chorar silencioso e do meu sofrimento... Acho que eu nunca me senti 100% à vontade na presença, no convívio com outra pessoa – especialmente e acho que exclusivamente, talvez, quando se trata de relacionamentos amorosos. Alguma sensação estranha sempre me acompanhou e continua a me acompanhar quando estou namorando, ou quando tenho algum tipo de relacionamento com uma mulher. É uma espécie de “incômodo agradável” (engraçado e trágico, mas é essa sensação ambivalente que experiencio) ..... Uma parte minha deseja estar acompanhado. Na verdade, essa parte procura acolhimento e até alguém para substituir a figura materna que não mais está presente – e que talvez não esteja nunca mais (aqui, deixei escapar um desejo de que essa presença continue a estar na minha vida.... Hoje, na vida adulta, ainda espero pela mulher que tenha os atributos que me agrade e que afinal, que me faça apaixonar perdidamente. Seria a mulher ideal, uma forma de me sentir seguro e protegido frente às pessoas? Seria uma forma de resgatar a imagem materna de proteção? O isolamento atual seria uma forma de confirmar e dar razão à minha visão de mundo de que as pessoas são perversas, sem compaixão, más? A resposta é: talvez. Creio que os eventos traumáticos listados acima, associados com a situação humilhante e desesperadora na qual me encontro hoje, tenham criado vários dos sintomas que apresento. (reprodução de textos de Eric)
Igualmente, Eric reforça a ideia de encontrar o amor de sua vida para preencher a falta que o acompanha. Acredita que essa ausência está relacionada ao ego auxiliar de sua mãe, porém ao escrever que essa carência o acompanha por grande parte de sua existência revelou que a falta é da representação masculina de forma eficiente nas funções e papéis do pai (falo). A sensação estranha que o acompanha quando se relaciona com uma mulher afetivamente, inconscientemente, é a falta do falo que é apenas satisfeita em suas fantasias, portanto seus relacionamentos não avançam. A mulher maravilha que tanto sonha é a combinação das curvas e características afetivas femininas com a atividade masculina, tendo ele um papel passivo na relação. O superego exacerbado juntamente com o ego ideal não permite que Eric acesse seus desejos e por isso se sente confuso em relação aos seus sentimentos e emoções. Eric tem muito medo de se conhecer e perder a figura do seu ego ideal que luta diariamente para conquistar, muito embora isso lhe cause raiva, angústia, dor e sofrimento. Quando essa pulsão rompe dominando o ego ele busca um relacionamento amoroso, mas logo vem a frustração por não satisfazer seus desejos, e para remediar, o ego assume as justificativas do superego e se coloca na posição de superioridade gerando um novo conflito interno entre as instancias. Assim, a história se repete como um “looping”, sendo a persona narcisista aliada ao superego que controla a vida de Eric. Essa compulsão neurótica o afasta da realidade e cria um abismo entre o ego e o self.
O impulso da homossexualidade masculina é a passividade, pois o papel ativo pertence a natureza hetero. Na homossexualidade masculina, naturalmente, a aspiração da energia masculina faz do falo seu objeto de desejo. O Fato psicanalítico é a fantasia com o falo, via álibi do corpo feminino para não se sentir homossexual. Ou seja, o Ego utiliza um mecanismo de defesa frente ao ID com libido homossexual.
A busca pelo corpo feminino se dá inconscientemente, para evitar a culpa pela aspiração ao falo, como se seu desejo tivesse um “quê” de heterossexualidade, se sentindo dispensado do “ônus” de se ver homossexual. Entre as possíveis causas psicanalíticas da fantasia homossexual por “mulheres com falo” está o Complexo de Édipo não vencido.
No Complexo de Édipo, em alguma fase o menino verá o pai como rival no desejo pela mãe, também com afeto e curiosidade, isso pode resultar em um sentimento posterior de projeção do falo na mãe. Destarte, o Complexo de Édipo ganha um contorno novo: rejeição ou ódio parcial pelo pai, junto da culpa inconsciente, sobrecarregando a mãe com desejo duplo: da mulher e do resquício da figura masculina, resultando em uma “mãe com falo, portanto, mulher com falo.
Considerando apenas o fato psicanalítico, excluindo as questões biológicas, há uma sugestão de uma falha no desenvolvimento psicossexual com bases freudianas (fase oral, anal e fálica) combinado com o Complexo de Édipo, ou seja, um desarranjo do desenvolvimento psicossexual da primeira e da segunda infância impactando a adolescência, quando a sexualidade se expressa em definitivo.
Em resumo, a homossexualidade é uma defasagem da energia de gênero. O homem com baixo nível de masculinidade busca o complemento dessa energia em outro homem. A mulher com baixo nível de feminilidade procura noutra mulher, a energia defasada em si, a energia feminina. No sentido original e primitivo (ID) a troca de energias se dá pela relação afetivo- sexual, assim, um homem e uma mulher com níveis satisfatórios das suas energias tendem, naturalmente, ao oposto.
“Eu realmente sempre esperei que algum tipo de suporte me fosse dado enquanto eu luto pelo ideal. Entretanto, agora que não tenho esse suporte, pelo menos não da maneira da qual gostaria, isto manifesta a minha insatisfação com minha atual situação. A realidade é muito dura e, em certos momentos, cansativa, a ponto de não querer mais ir em frente. Após nossa última sessão, senti como se estivesse saindo de um mundo ilusório para o mundo real, o que me deixou triste. Eu não nasci para ser escasso, raso, em todos os sentidos. Ninguém nasceu para isso. A diferença é que existem pessoas que se resignam com essa condição, e outras não. Eu definitivamente não sou resignado, nem quero me relacionar com pessoas que assim sejam. E de fato, algumas pequenas mudanças já venho fazendo, na verdade comecei a fazer após a nossa última sessão, o insight obtido: eu não sou o centro das atenções; se eu não fizer por mim, ninguém o fará; se eu deixar de existir amanhã, o mundo continuará exatamente o mesmo; eu preciso começar a ganhar dinheiro de verdade. É difícil dizer e aceitar essas últimas palavras, mas são a realidade.” (reprodução dos textos de Eric)
As fantasias são representantes psíquico da pulsão (conscientes – sonhos diurnos ou inconscientes), encenação imaginária com participação ativa do indivíduo que podem ou não serem deformadas pelos processos de defesa, realização de um desejo inconsciente. Uma fantasia representa conteúdos próprios das pulsões ou sentimentos como desejos, medos, ansiedade, amor, mágoas, etc. Os sonhos diurnos são cenas, romances, dramas, que o indivíduo cria e conta a si mesmo no estado de vigília e as vivenciam como se fossem reais. Na medida que o desejo está ligado a fantasia, esse dá espaço para as operações defensivas mais primitivas do ser humano, portanto, mesmo na fantasia há a interdição do desejo.
Como qualquer atividade mental, a fantasia é uma invenção, pois carece de materialidade. Não pode ser tocada, não pode ser vista; porém, é real na experiência do sujeito. E como função mental, tem efeitos reais não apenas no mundo interno, mas também no mundo externo, no jeito de se comportar.
O Édipo e a castração impõem um corte na relação do sujeito com a sexualidade, com a primeira satisfação de cunho autoerótico, em que todos os objetos servem ao prazer, ou seja, o ser de gozo da infância.
Ao término do complexo de Édipo, as figuras parentais serão internalizadas, ou seja, a lei do pai e o recalque do desejo. Pelo recalque funda-se o inconsciente, o Outro e o sujeito. Se houve recalque, então ocorreu a identificação simbólica no Édipo e os ditos das figuras parentais foram introjetadas, originando o Superego; a lei que barra o gozo do sujeito de se colocar como objeto de amor da mãe. Porém, após a castração, podemos dizer que ele volta via fantasia. Nesse processo parte da experiência é simbolizada e inscrita no aparelho psíquico originando os sistemas consciente e inconsciente, porém algo permanece sem ser simbolizado e por não ser simbolizado esse resquício é representado no aparelho psíquico como um vazio contornado por representações, em torno do qual o inconsciente, estruturado como uma linguagem, se funda.
O desejo incide desse vazio. Assim, a impossibilidade de preenchê-lo coloca o aparelho psíquico em movimento, na busca do que supostamente foi perdido e que na verdade nunca esteve lá. Encontrá-lo lá significaria deparar-se com a completude, a morte. A falta é constitutiva do ser humano, é estrutural. Viver é dar conta dessa falta.
Freud nos lembra dos mecanismos que usamos para dar conta desse objeto faltoso, que faz a vida árdua demais, quando diz em O mal-estar da civilização ([1930] 1996, p. 83):
“A fim de suportá-la [a vida], não podemos dispensar as medidas paliativas. [...] Existem talvez três medidas deste tipo: derivativos poderosos que nos fazem extrair luz de nossa desgraça [atividade cientifica]; satisfações substitutivas, que a diminuem [artes, fantasias]; e substâncias tóxicas, que nos tornam insensíveis a ela.”
É uma busca incessante assim como a pulsão. E nesse movimento sempre acionado pela pulsão, busca-se nos objetos parciais algo poderoso que dê conta da falta, ou seja, da completude.
A função da fantasia no aparelho psíquico, como nos diz Freud ([1920] 1996), é a obtenção de prazer, algo restringido pela realidade, mas que continua como exigência da pulsão. Assim, a fantasia funciona como conciliadora entre duas forças imperiosas, ou seja, a pulsão, que demanda satisfação a qualquer preço, e a renúncia da realidade, que apresenta obstáculos para que não ocorra a satisfação da demanda pulsional.
A fantasia regula as forças conflituosas e visa diminuir a pressão interna e preservar o equilíbrio do aparelho psíquico. É uma das formas de satisfação da pulsão.
Eric ao chegar próximo da realidade se entristeceu. No seu mundo fantasmagórico tem o controle da situação. Embora haja os conflitos entre os desejos, os mecanismos de defesa e as interdições do Superego, seu terreno é conhecido e, portanto, se sente seguro. O pavor de se confrontar e se aproximar da realidade é muito maior que seu desejo de mudança. Tem medo de perder a figura que criou de si, de como se vê. Não cogita a possibilidade de uma flexibilização dessa imagem adequando-a a realidade, pois assim deixaria de ser especial, se tornaria um sujeito ordinário como tantos outros que depara em seu dia a dia. Na onipotência imaginária que se encontra, está seguro, ninguém pode chegar até a torre onde estão aprisionados seu sentimentos e fraquezas, em sua forma sistemática de agir, pensar e sentir ele possui o controle, sente-se protegido e seguro.
4. A PRISÃO PSICOLÓGICA DO IDEAL DE EGO E EGO IDEAL
4.1. Narcisismo – negação dos sentimentos
Chasseguet- Smirgel (1992) na sua obra “Ética e Estética da Perversão” traz a relação do ego ideal e da perversão. Quando a mãe seduz o menino reforçando sua onipotência em relação a ela, evita que o filho se depare com a falta, que o direcionaria a projetar-se no pai como objeto de identificação e assim perceber a sua insuficiência em satisfazer a mãe deparando-se com o fracasso edipiano. Na ausência dessa construção a homossexualidade ou a perversão é favorecida apoiando-se no narcisismo infantil, onde vive a fantasia que é perfeito para a mãe e está autorizado a eliminar o pai.
Quanto maior a fase do estado de diferenciação (o bebê não se vê diferente da mãe como um indivíduo – fase do não eu) maior será sua crença ilusória e onipotente de que possui independência absoluta. O estado de indiferenciação é o eixo principal em torno do qual regulam as demais características da posição narcisista no adulto. Outra característica apresentada de forma relevante nos textos de Eric é o estado de ilusão em busca de uma completude e perfeição, como a famosa propaganda da margarina, uma família feliz e completa. O sofrimento em saber que precisa do outro para sua sobrevivência física e psíquica é grande e o pavor de encarar a incompletude intensifica o mecanismo de defesa de negação, onipotência e onisciência causando uma busca incansável por alguém ou algo que confirme suas ilusões preservando sua autoestima e identidade, visto que, estão constantemente ameaçadas pelo mundo real. O narcisista tem dificuldade em reconhecer suas limitações, não lida bem com o envelhecimento e a sua incapacidade para determinadas questões, como também hierarquia, regras, doença, normas e leis. Sendo assim, pessoas narcísicas não conseguem distinguir entre a imagem que eles criaram de si mesmos e a imagem de quem eles realmente são, fato confirmado em diversos trechos da autoanálise de Eric. Ele nega a realidade porque se recusa a olhar para o self, olha apenas para a própria imagem (externa) de como quer ser visto pelos outros e portanto, assume personas diferenciadas conforme a situação e o objetivo do momento.
Todo ser humano tem um pouco de narcisismo na personalidade. Antes da formação diferenciada do ego e id a criança investe toda sua libido em si mesma (narcisismo primário), no narcisismo secundário a libido retirada dos seus investimentos objetais retorna ao ego. Para Freud, o narcisismo secundário não só indica certos estados extremos de regressão, é também uma estrutura permanente do indivíduo. No plano tópico o ideal de ego representa uma formação narcísica que nunca é abandonada. A questão é a intensidade que essa instancia atua sobre o ego, a qual foi classificada em cinco níveis de narcisismo ordenados de um nível menos intenso ao mais intenso. Primeiro nível é a característica do narcisismo-fálico, no qual o ego é investido na sedução do outro, o cerne da preocupação é a sua imagem sexual. Conforme Wilhelm Reich[6] (1897-1957) é caracterizado pela autoconfiança, arrogância, vigor e boa impressão.
O conceito de narcisismo fálico está relacionado a duas questões, primeiramente a conexão íntima entre o narcisismo e a sexualidade, principalmente no que diz respeito a potência da ereção masculina (falo), segundo, descreve o tipo de caráter relativamente saudável, naqueles que o elemento narcísico é mínimo. Reich explica que a relação com a pessoa amada nesse nível é muito mais narcisista que o objeto libidinal. Se mostram apegadas as pessoas e objetos, seu narcisismo é manifestado em uma exagerada autoconfiança, dignidade e superioridade.
Segundo nível é chamado de caráter narcísico e é diferenciado do primeiro nível por ter a imagem do ego maior que o primeiro, pessoas nesse nível não se consideram superior aos outros, “eles são os melhores” não há comparação. Tem a necessidade de serem perfeitos e de serem olhados como tal. Embora tenham a imagem de si como grandiosa, a realidade do self é o oposto. Em questões de sentimentos eles são completamente perdidos, não sabem se relacionar com outras pessoas no mundo real. Vivem na fantasia e se identificam com as celebridades do tapete vermelho. A grandiosidade aparente do caráter narcísico é uma defesa relativamente efetiva contra a depressão e, portanto, é difícil de desarmá-la.
Terceiro nível é chamado de personalidade borderline, o indivíduo projeta uma imagem de sucesso, competência e superioridade e que de alguma forma no mundo dos negócios e entretenimento consegue realizar, mas a imagem projetada se altera diante de estresse emocional e o indivíduo se revela desamparado, como uma criança assustada. Outros apresentam-se como desprovidos, enfatizam a vulnerabilidade, pois como não conseguem provar sua arrogância e superioridade com fatos reais os escondem por trás da máscara da fragilidade. Geralmente, esse tipo de indivíduo busca a terapia se queixando de depressão. O que difere esse nível do anterior é a capacidade do ego e o senso do self. Em borderline esse ego é mais fragilizado e menos desenvolvido quando comparado com o caráter narcísico.
Personalidade psicopata, o indivíduo se considera superior que os demais e mostra um certo grau de arrogância que beira o desprezo da humanidade. Como os demais níveis o indivíduo nega seus sentimentos e tende a agir de uma forma antissocial. Mentem, enganam, roubam e até mesmo matam sem nenhum sinal de remorso ou culpa. Essa característica extrema de falta de sentimento é muito difícil de tratar em terapia. O tipo de comportamento nessas condições é impulsivo e ignora o sentimento de outras pessoas, geralmente é destrutivo porque visa apenas o interesse pessoal. Os impulsos por trás desse comportamento são originados de experiencias na primeira infância que foram tão traumáticas que não puderam ser integradas no desenvolvimento do ego. Como resultado, os sentimentos associados aos impulsos estão além da percepção do ego, portanto as ações são executadas sem nenhum sentimento consciente, por exemplo: assassinato a sangue frio. Esse tipo de comportamento é chamado de “acting out”[7] e não é exclusividade de comportamentos antissociais; alcoolismo, drogas e promiscuidade sexual podem ser também uma forma de acting out.
O acting out não é algo exclusivo do psicopata, aparece também no caráter narcísico e no borderline, a diferença é que no psicopata geralmente é antissocial e de longa duração. Tanto no caráter narcísico quanto no psicopata há a necessidade de gratificação imediata e inabilidade de conter desejos ou tolerar frustrações.
Personalidade paranoica, o extremo do narcisismo. O indivíduo acredita que as pessoas não estão apenas olhando para ele, mas falando e até conspirando contra ele porque ele é muito especial e muito importante. Em certo grau não consegue distinguir fantasia de fatos. Nesses casos deixa de ser um neurótico narcísico e passa a ser um psicótico e o tratamento é diferente, porém a maioria das características narcísicas são também encontradas nos psicóticos.
O quadro abaixo sintetiza em linhas gerais as características de um indivíduo com transtorno narcísico e um psicopata.
Através dos textos escritos por Eric e de suas sessões de análise pôde-se observar características narcísicas e até alguns traços de psicopata, no que diz respeito, a intolerância às frustrações e manipulação. Eric aos 11 anos teve um surto de fúria e quebrou seu quarto. A partir daí foi diagnosticado com depressão e passou a tomar medicamentos antidepressivos e ansiolíticos. Teve outro episódio de fúria aos 23 anos quando foi acusado de participar do assassinato do pai e chamado de nos tabloides locais de assassino. A fúria violenta contra si próprio ou objetos e pessoas é uma erupção das frustrações causando um sentimento de falta de poder. A frustração faz com que o indivíduo se sinta fraco e reforça a ilusão do poder associada em ser especial. Quando há o colapso da ilusão a fúria associada com a traição original (na infância) na qual não pode responder, vem à tona como um vulcão em erupção. Mas deixa de ser um remédio efetivo porque não tem o entendimento da causa. Através do poder acredita que pode eliminar qualquer insulto que venha ocorrer, evitando assim a humilhação. O problema de poder e controle também afeta a situação terapêutica, a maioria dos narcisistas possui pavor de renunciar ao controle, geralmente não confiam de todo no terapeuta, dados as experiencias passadas.
Outra característica evidente em Eric é a lógica do tipo binário. Uma parte representa o todo, de modo que se algum atributo do sujeito não corresponder ao seu ego ideal ou ideal de ego, essa deficiência é generalizada para sua totalidade, como também a escala de valores é bipolar, na qual, o sujeito oscila de um extremo ao outro, não há o meio termo, apenas os opostos, fracasso ou sucesso, melhor ou pior. Sua escala de valores é centrada no ideal de ego e ego ideal o que gera uma pressão psicológica muito forte e em contrapartida uma vulnerabilidade da autoestima, acompanhada de sentimentos de vergonha, humilhação e fracasso. Desde a infância, foi muito sensível às frustrações e insucesso, se apegou a ideia que só seria respeitado, admirado e reconhecido na escola e em casa se fosse o melhor aluno da sala, sua fortaleza se edificou no seu intelecto, assim sua autoestima está ligada ao cumprimento das obrigações de corresponder às expectativas de si próprio ou às provindas de seus pais e professores. A super adaptação às demandas do ideal de ego constituiu uma personalidade tipo falso self. Sua mais dolorosa dor é o distanciamento entre o ego ideal (plano ilusório) e o ego real (plano da realidade) em contrapartida seu maior prazer é a admiração do outro, sendo assim, com o intuito de fugir do seu sofrimento e garantir prazer Eric encontra valores e atributos que preenchem o vazio de sua imaginária completude e o vital reconhecimento do outro, como são atributos supervalorizados sob a forma de beleza e erudição exercem a função da imagem de Eric, porém ainda longe do ego real, o que torna cansativa a coexistência levando a depressão e consequentemente ao sentimento de um vazio de morte que assume a forma clínica de um estado de desistência da análise.
Eric apresenta um certo grau de desvirtuamento de sentimentos, sua forma de amar e ser amado repousa na cansativa busca de alguém que preencha suas falhas e faltas com a intenção de resgatar a completude imaginária original “a majestade, o bebê” que no adulto se torna “a majestade, o ego”, como não tolera as diferenças apela ora por tentativas de relacionamentos por aplicativos mal-sucedidas, ora por enclausuramento de auto suficiência, seguindo assim a eterna busca do impossível.
A personalidade narcísica demanda um tempo de análise longo, porém muitos desistem no meio do caminho e outros querem provar que são melhores que os analistas então entram em um jogo de manipulação da sessão. Trazem diversos mecanismos de defesa, entre eles a resistência e a negação. Sendo que o próprio narcisismo é um mecanismo de defesa que deriva de um luto patológico de que a criança sofreu por uma simbiose excessivamente prolongada (no caso de Eric) dificultando as separações e frustrações em geral, aumentando a necessidade de novas simbioses acompanhadas das fantasias de que não existirão privações e limitações. A busca por essa simbiose é manifestada em vários trechos das sessões de Eric quando menciona a sua mulher idealizada e perfeita. Ao mesmo tempo que o analista deve acolher e mostrar um continente imenso para recebê-lo deve estar a tento às manipulações e tentativas de inversão de papéis no setting, como também saber frustrar o analisando de forma construtiva para guia-lo na passagem do princípio do prazer para o princípio da realidade, pois sua capacidade de julgamento é comprometida pelo seu ideal de ego e ego ideal exacerbado. Um dos caminhos a ser percorrido é colocar o adulto para falar com a sua criança interior de forma a flexibilizar os mecanismos de defesa, dando espaço para novas percepções e julgamentos mais próximos da realidade.
4.2. Mecanismos de defesa
A angústia é a base da neurose nos adultos e ela surge através de um desejo pulsional tentando penetrar na consciência com a ajuda do ego para obter gratificação. O ego não resistiria ao desejo se não fosse o superego, porém como se submete a esfera superior trava um combate com o movimento pulsional, utilizando-se de todos os artifícios disponíveis para se proteger, não porque acredita que a pulsão apresenta sinal de perigo, mas sim por conta das consequências que sofrerá do superego. Logo, o ego do neurótico adulto é motivado a se defender da pulsão pela angústia do superego. Assim, o ego considera o superego uma força temível, sendo este o autor de todas as neuroses que impede o ego de entrar em acordo amistoso com as pulsões. Fixa um padrão ideal, segundo o qual a sexualidade está proibida e a agressão é declarada antissocial. Exige determinado grau de renúncia sexual e restrição da agressão, que é incompatível com a saúde mental. O ego é completamente despojado de sua independência ficando à mercê dos desejos do superego. O resultado é tonar-se hostil à pulsão, sendo incapaz de qualquer gozo.
O ego não se defende unicamente contra a “dor” oriunda dos perigosos estímulos pulsionais internos, experimenta igualmente a “dor” de origem externa. O ego está intimamente em contato com o mundo externo, do qual recebe seus objetos de amor e deriva aquelas impressões que são registradas pela percepção. Quanto maior for a importância do mundo exterior como fonte de prazer e interesse, maiores são as oportunidades para experimentar a “dor”.
A criança se utiliza da fantasia como contraponto da sua angústia real, na fantasia ela transforma a dor em prazer amenizando a angústia da vida real, isso acontece de forma natural e saudável quando consegue discernir entre a fantasia e realidade, valendo-se desse mecanismo para se defender da angústia. Quando a criança se apodera em excesso desses recursos se distancia demais da realidade e permanece em seu mundo fantasioso, causando prejuízos reais como a compulsividade. É certo que, na vida adulta, a gratificação através da fantasia deixa de ser inofensiva, maiores quantidades de investimento estão envolvidas tornando a fantasia e a realidade incompatíveis.
Eric começou a reprimir seus sentimentos na infância, sua fala, expressões e pensamentos raramente eram externalizados. Ainda nessa fase, o ego infantil é maleável e pode revoltar-se, contra o mundo exterior e aliar-se ao id para obter gratificação pulsional. Na adolescência o ego fica mais rígido, pois não quer conflitar com o superego. A sua relação por um lado estabelecida com o id e por outro com o superego (formação de caráter) torna o ego inflexível, seu único desejo deve ser de preservar o caráter desenvolvido no período da latência e reestabelecer a relação com o ID replicando a maior urgência pulsional com esforços redobrados para se defender. Embora sua mente fervilhasse de vontades e emoções mantinha a aparência constante, não se expunha, contestava ou opinava. Não queria ser visto e ao mesmo tempo queria ser admirado pelo seu intelecto e pelo seu comportamento exemplar como filho e aluno. Essa foi a maneira que ele encontrou de se expor, mirando a perfeição do que entendia ser perfeito para a sociedade e para os pais. Sua mãe era a única pessoa com quem se abria, era seu continente seguro e através dela é que conseguia obter o que desejava e que muitas vezes o pai lhe negava. Essa armadura foi um meio de atingir certa satisfação sem expor seu ego em risco, porém outro lado de Eric clamava por ser extrovertido, pois “as pessoas extrovertidas são queridas e admiradas”, mais do que isso, ser introvertido é ser parecido com o pai, com o qual tinha uma rivalidade inconsciente e para ser melhor que ele tinha que se tornar uma pessoa de alto nível intelectual. Eric desenvolveu uma personalidade narcísica pela sedução de sua mãe, criou uma fantasia, na qual não poderia decepcioná-la e ao mesmo tempo teria que ser melhor que seu rival conquistando a onipotência.
Nessa construção Eric utilizou demasiadamente os recursos da fantasia e se afastou da realidade, atualmente vive um personagem criado para atender o ideal de ego e o ego ideal. Dessa forma, seu ego luta para preservar a imutabilidade de sua própria existência, é igualmente motivado pela angústia objetiva e pela angústia do superego, empregando todos os métodos de defesa que está a seu alcance. Recalca, desloca, projeta etc.
Eric ressaltava em todos os seus textos a sua procura por um grande amor idealizado e quando estava se sentindo bem e confiante iniciava suas buscas em aplicativos de relacionamento, por ser uma pessoa inteligente não era difícil iniciar uma amizade que evoluía da fase da conversa e conhecimento para um encontro presencial. No encontro presencial seus mecanismos de defesa, instigados pela angústia do superego, entravam em ação evidenciando as qualidades não atendidas da mulher ideal, e imediatamente, Eric se via em um relacionamento amoroso com as obrigações e cobranças vividas no relacionamento familiar. Atender as expectativas do outro nos padrões estipulados por ele para ele mesmo e para o outro era muito trabalhoso e angustiante e a sua imaginação de como seria dali para frente o frustrava e o amedrontava da mesma forma de como se sentia diante dos colegas, do pai, do irmão e de seus professores. Diante do conflito mental aterrorizante, seu ego se submetia às exigências do superego e do ideal de ego projetando na mulher o que não aceitava nele e uma amizade ou possível relacionamento amoroso era suspenso de forma vaga e abrupta. Eric não consegue equilibrar a dualidade das coisas, buscando o caminho do meio. Portanto, ressalta sempre as dificuldades, os defeitos e os problemas desistindo de uma vida real e fazendo de sua vida fantasiosa a sua realidade.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta desse estudo consiste em explorar os conceitos das instancias psicológicas do ego, superego, ego ideal e ideal de ego e suas particularidades na prática tendo como base um caso da clínica psicanalítica.
Para tanto iniciamos com o entendimento dos conceitos teóricos designados nos estudos de Sigmund Freud e integramos outros autores que desenvolveram suas teorias a partir desses estudos e puderam complementar e expandir o campo da psicanálise. As diferentes vertentes trazidas por outros autores ampliaram o nosso campo de visão e contribuíram para uma melhor compreensão da metapsicologia, abrindo portas para inclusão das novas tendencias comportamentais e culturais do ser humano.
A clínica da psicanálise integrativa possibilita agilizar a compreensão das dores do analisando e adequar o manejo necessário para cada necessidade.
O caso clínico utilizado foi de uma neurose narcísica, o qual, nos possibilitou observar os mecanismos do ego, o desenvolvimento do superego e o ideal de ego e como essas instancias afetam a vida do indivíduo.
Pudemos investigar que uma passagem edípica mal formada com uma sedução inconsciente por parte da genitora contribuíram para a personalidade narcísica de Eric que fortaleceu o ideal de ego agravando suas exigências. Sua personalidade narcísica também foi utilizada pelo ego como mecanismo de defesa contra os golpes do ID pela busca de prazer e consequentemente submetendo-se ao superego. Não foi possível identificar se o ideal de ego era perverso, mas identificamos que o mesmo alimentava o superego que conduzia o analisando a uma prisão psicológica que exigia do ego a busca pela perfeição, onipotência e padrão de uma personalidade ideal formada ao longo dos anos e que, quando deparado com frustrações da realidade se refugiava na fantasia da superioridade projetando no outro o que mais abominava em si.
Entendemos que o ideal de ego transita de um extremo a outro conforme as suas necessidades, se é que podemos chamar assim as suas prerrogativas. Nossa psiquê trabalha na dualidade de tudo que vemos, sentimos, ouvimos e processamos como informação, contundo pela perspectiva do ideal do ego essa classificação não existe, pois, suas exigências são para atingir um objetivo traçado, a busca pelo melhor e pelo perfeito. Para essa instância há um único caminho a ser percorrido pelo ego. O analista fica com a função de mostrar outras opções ao analisando e conduzi-lo à experiências diferenciadas ajudando-o a quebrar os paradigmas e as verdades absolutas perseguidas pelo ego para atender o seu senhor. Ao passo que o ego experimenta outros caminhos de forma não traumática, abre-se uma janela e uma ruptura na engrenagem, possibilitando o analisando agir de maneira diferente, não automática e consciente.
Esse é um longo caminho a ser construído entre o analista e o analisando. Nesse caso específico, o analisando foi acolhido por meses para que sua resistência fosse reduzida e seus mecanismos de defesa flexibilizados partindo para um trabalho de equilíbrio entre a ilusão e a realidade. A atenção flutuante foi uma ferramenta essencial para a evolução da análise, através dela, a analista, em uma posição de um observador não egóico, trouxe aos poucos circunstâncias que confrontavam a fantasia de Eric por si só, o que o fazia reorganizar seus pensamentos e validar a realidade x sua fantasia.
Eric não suportou a possibilidade de se aproximar da realidade e o medo de perder sua construção fantasiosa foi tão intenso que desistiu da análise. Esse é um caso complexo que envolve uma passagem inadequada do Complexo Édipo e castração, uma falha no desenvolvimento psicossexual, uma personalidade narcísica, distanciamento do self, muitos mecanismos de defesa e um superego e ideal de ego exacerbados. Pelo pouco tempo de análise não pudemos concluir de um todo o quadro clínico e nem a eficiência do manejo adotado. Muitas questões ficaram abertas para serem aprofundadas, como por exemplo a sua relação com a tragédia que nunca fora abordada diretamente; seu ódio inconsciente pelo pai e a vontade de eliminá-lo para ter a mãe e a vida sonhada o levou a participar ou a cometer o crime? A possibilidade de ter o ideal de ego perverso e a chance de sublimação? O êxito no manejo em flexibilizar as instâncias do superego e ideal de ego aproximando-o da realidade? As questões psicossexuais e seus relacionamentos afetivos?
São temas que abrem margem para novos estudos e investigação na clínica psicanalítica integrativa, visto que, a psicanálise é um livro escrito através dos tempos e sem um fim.
6. REFERÊNCIAS
J.LAPLANCHE/J.-B.PONTALIS Vocabulário da Psicanálise, Livraria Martins Fontes Editora Ltda, 7º edição ,1983.
NUNBERG H, Principles of Psychoanalysis, Their Application to the Neuroses, P.U.F. 1957.
LAGACHE D. A Psicanálise, P.U.F. 2005
ZIMERMAN DAVID E. Manual de Técnica psicanalítica, Porto Alegre – Artmed, 2004
FENICHEL Teoria psicanalítica das Neuroses, Livraria Atheneu – São Paulo, 1981
MELO RODRIGO Z Quando o Édipo não é o destino: pensando o fenômeno transexual como possibilidade identificatória e de existência psíquica – Estudos de Psicanálise, Julho 2016
LOWEN ALEXANDER M.D. Narcissism: Denial of the True Self - Simon and Schuster, 2004
FREUD ANA O Ego e os mecanismos de defesa, Porto Alegre – Artmed, 2006
ERSKINE RICHARD G. A psicoterapia da dissociação – Questionamento, Harmonização e Envolvimento, Instituto de Psicoterapia Integrativa
[1] Fenômeno defensivo que visa manter a estabilidade física e mental decorrente de uma variedade de experiências que pode ser desde um leve desapego emocional do objeto, até uma desconexão mais severa das experiências físicas e emocionais. A principal característica é um distanciamento da realidade.
[2] É uma abordagem integrativa à psicoterapia individual desenvolvida por Richard C. Schwartz na década de 1980. Combina o pensamento sistêmico com a visão de que a mente é composta de subpersonalidades relativamente discretas, cada uma com seu próprio ponto de vista e qualidades únicas. A IFS usa a teoria dos sistemas familiares para entender como essas coleções de subpersonalidades são organizadas.
[3] Conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança experimenta em relação aos pais. Sob a forma positiva, é desejo da morte do rival (personagem do mesmo sexo) e desejo sexual pelo personagem do sexo oposto. Sob a forma negativa é o amor pelo genitor do mesmo sexo e ódio e ciúmes pelo genitor do sexo oposto.
[4] Identifica sua pessoa à figura da lei, ou seja, trata-se de uma função cujos efeitos são inconscientes
[5] Autoginefilia ("amar a si mesmo como mulher") é um termo cunhado em 1989 por Ray Blanchard, para se referir a "propensão parafílica de um homem se sentir sexualmente excitado pelo pensamento ou imagem de si mesmo como uma mulher," com a pretensão de que o termo se refira a "toda a gama de comportamentos e fantasias entre gêneros eroticamente estimulantes". O termo é parte do modelo explicativo proposto por Blanchard, a Tipologia do transexualismo de Blanchard, criada com base no trabalho de seu colega, Kurt Freund.
[6] Psiquiatra, sexólogo, psicanalista, biólogo e físico austríaco-americano de ascendência judaica, mais conhecido como uma das figuras mais radicais da história da psiquiatria. Ele foi o autor de vários livros, incluindo Psicologia de Massas do Fascismo e Análise do Caráter, ambos publicados em 1933. Ele é o pai da bioenergética.
[7] Termo usado para designar as ações que apresentam a maior parte das vezes, um caráter impulsivo, rompendo relativamente com os sistemas de motivação habituais do indivíduo, relativamente isolável no decurso das suas atividades e que toma muitas vezes uma forma auto ou hetero-agressiva.
Publicado por: fabiana bertin chuba
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