Doutor estou com medo! Fantasias de crianças hospitalizadas
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1. RESUMO
O desafio da psicologia hospitalar é minimizar o sofrimento provocado pela hospitalização, pela doença e sua consequente desestabilização emocional, tanto do paciente como de seus familiares. Quando se trata de uma criança o desafio é ainda maior, pois diferente do adulto, o impacto da internação no hospital é mais intenso, uma vez que as crianças têm dificuldades para assimilar esta situação, apresentando medo, angústia ou ansiedade, coloridos por fantasias muitas vezes causadas pela falta de informação adequada. Dessa forma, o objetivo desse trabalho é realizar uma Revisão Bibliográfica da literatura nacional nas bases de dados Index Psi, Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e Google Acadêmico dos últimos quinze anos, utilizando as seguintes palavras-chave: psicologia + hospital geral; intervenção psicológica + hospital geral; crianças + ambiente hospitalar; brincar + contexto hospitalar; o brincar + contexto hospitalar + medos + fantasias + medo morte. A metodologia utilizada para a elaboração desse estudo foi a pesquisa bibliográfica, destacando a identificação dos medos e fantasias que as crianças enfrentam durante a hospitalização e as implicações destes no processo de cura. Acredita-se que a caracterização de tais medos poderá auxiliar a atuação da equipe multidisciplinar dos hospitais e a compreensão dos familiares da criança enferma que vivenciam o processo de hospitalização. Uma das maneiras que os autores preconizam como alternativa de enfrentamento às situações de crise é o brincar no contexto hospitalar. O que auxilia no aspecto emocional, no restabelecimento físico e no enfrentamento do âmbito hospitalar, tornando-o menos traumatizante.
Palavras-chave: Crianças, hospital, medos, fantasias, adoecimento.
2. INTRODUÇÃO
A psicologia hospitalar é uma ciência nova, com menos de duas décadas, que vem construindo sua história e conquistando seu espaço nos hospitais gerais do mundo todo. “A Psicologia é uma das mais antigas disciplinas acadêmicas, ao mesmo tempo em que é também uma das mais novas”. (SCHULTZ E SCHULTZ, 1981 apud. MOSIMANN & LUSTOSA, 2011, p. 202). A escuta terapêutica, mais conhecida na forma da atuação clínica, agora para os hospitais gerais, vem acolhendo pacientes, familiares de pacientes enfermo e até mesmo a equipe multidisciplinar de saúde. Este trabalho tem propósito de reunir assuntos atuais onde mostrará a importância do psicólogo junto as instituições de saúde com foco em crianças hospitalizadas, identificando medos e fantasias.
definição do psicólogo hospitalar de acordo com a definição do órgão que rege o exercício profissional do psicólogo no Brasil, o CFP (2003, apud. CASTRO & BORNHOLDT, 2004, p. 50):
O psicólogo especialista em Psicologia Hospitalar tem sua função centrada nos âmbitos secundário e terciário de atenção à saúde, atuando em instituições de saúde e realizando atividades como: atendimento psicoterapêutico; grupos psicoterapêuticos; grupos de psicoprofilaxia; atendimentos em ambulatório e unidade de terapia intensiva; pronto atendimento; enfermarias em geral; psicomotricidade no contexto hospitalar; avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico; consultoria e inter-consultoria.
No Brasil, os psicólogos hospitalares tem seu trabalho reconhecido pelo Conselho Federal de Psicologia (2010), onde o termo tem sido utilizado para associar o trabalho que os psicólogos da saúde realizam dentro das instituições. “A Associação Americana de Psicologia (APA, 2010 apud. ALMEIDA et al, 2011) demarca o trabalho do psicólogo em hospitais como um dos possíveis locais de atuação do psicólogo da saúde”. (ALMEIDA et al, 2011, p. 191)
E a definição para a Psicologia da Saúde, “tem como objetivo compreender como os fatores biológicos, comportamentais e sociais influenciam na saúde e na doença”. (APA, 2003 apud. CASTRO & BORNHOLDT, 2004, p.49):
Na pesquisa contemporânea e no ambiente médico, os psicólogos da saúde trabalham com diferentes profissionais sanitários, realizando pesquisas e promovendo a intervenção clínica. Complementar a essa definição, o Colégio Oficial de Psicólogos da Espanha (COP, 2003) conceitua a Psicologia da Saúde como a disciplina ou o campo de especialização da Psicologia que aplica seus princípios, técnicas e conhecimentos científicos para avaliar, diagnosticar, tratar, modificar e prevenir os problemas físicos, mentais ou qualquer outro relevante para os processos de saúde e doença. Esse trabalho pode ser realizado em distintos e variados contextos, como: hospitais, centros de saúde comunitários, organizações não-governamentais e nas próprias casas dos indivíduos. A Psicologia da Saúde também poderia ser compreendida como a aplicação da Psicologia Clínica no âmbito médico.
Psicologia da Saúde busca compreender e entender o papel do Psicólogo na manutenção da saúde. O foco do psicólogo da saúde é realizar intervenções com o objetivo de prevenir doenças e auxiliar no manejo ou no enfrentamento das mesmas, além de desenvolver pesquisas para auxiliar em trabalhos posteriores que contribuam para essa área especifica da psicologia.
lmeida (et al, 2015, p. 756) “A maioria dos psicólogos da saúde trabalha em hospitais, clínicas e departamentos acadêmicos de faculdades e universidades”. O psicólogo na atuação dentro da clínica, pode fornecer atendimento a pacientes enfermos e dentro desses atendimentos o profissional de Psicologia faz uso de “métodos psicológicos para ajudá-los a manejar ou gerir os problemas de saúde, como aprender a controlar as condições de dor”. (SERAFINO, 2004 apud. LMEIDA et al, 2015, p. 756). Nas intervenções dentro das instituições hospitalares, a atuação do profissional deve abranger não só o paciente, como a família do mesmo e os profissionais da equipe interdisciplinar de saúde. lmeida (2015) cita diversos autores que relatam a importância do trabalho do psicólogo junto à família do enfermo e a importância, de estabelecer o vínculo entre a família e equipe técnica e a importância da comunicação.
Romano, (ANGERAMI-CAMON, TRUCHARTE, KNIJNIK & SEBASTIANI, 2006 apud. LMEIDA et al, 2011, p. 198)
A família, igualmente angustiada e sofrida, que se sente impotente para ajudar seu familiar e que também se assusta com o espectro da morte, também precisa da atenção do psicólogo e deve ser envolvida no trabalho com o paciente por ser uma das raras motivações que este tem para enfrentar o sofrimento. O psicólogo deve facilitar, criar e garantir a comunicação efetiva e afetiva entre paciente/família e equipe, identificando qual membro da família tem mais condições intelectuais e emotivas para estar recebendo as informações da equipe.
Já Teixeira (2004, apud. ALMEIDA et al, 2011, p. 191) afirma que o psicólogo da saúde em uma unidade hospitalar, pode prestar assistência no ambulatório clínico, na de Unidade de Terapia Intensiva/UTI e Centro de Terapia Intensiva/CTI que são as unidades de emergência ou pronto-socorro, unidades de internação ou enfermarias.
2.1. A Psicologia no Hospital Geral
Psicologia Hospitalar é uma extensão da atuação da psicologia, depois da atuação nas clinicas, a psicologia dentro do contexto hospitalar tem ganhando força. A noção de que urgência de vida e morte se contrapõem às noções de produtividade e resultados marcaram discursos resistentes à apropriação e uso de métodos de gestão (SILVEIRA, 2010 apud. FERRARI & et al, 2013, p. 61).
Psicologia é uma ciência nova, no Brasil, alguns conceitos psicológicos apareceram no “período colonial” ainda que a psicologia tenha se tornado uma ciência entre os séculos XIX-XX, juntamente com os campos educacional e médico. Este período se tornou conhecido como período áureo dos laboratórios de psicologia experimental, em hospitais ou em escolas de formação de professoras. (MESQUITA et al, 2013).
Mesquita et al (2013) afirmam que ao se falar sobre a história da psicologia hospitalar, se faz necessário citar nomes de profissionais que marcaram a história da psicologia hospitalar no Brasil: “Falar de Mathilde Neder e Belkiss Romano Lamosa, sem demérito a tantos profissionais que arduamente militam na área, é evocar os rumos da Psicologia Hospitalar.” (CAMON, 2009, p. 3 apud. MESQUITA et al, 2013, p. 90). Por se tratar da relação que ambas tiveram com o pioneirismo e expansionismo das atividades da referida área da Psicologia
Camon (2009 apud. MESQUITA et al, 2013) aponta algumas datas referentes a atuação da psicologia dentro do contexto hospitalar e que influenciaram técnicas que se apresentam nos dias atuais. Foram essas, algumas datas que marcaram a história, início e evolução:
No ano de 1954, Neder, atuando na Clínica Ortopédica e Traumatológica do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), deu início à psicologia hospitalar no Brasil. Neder foi convidada para preparar psicologicamente os pacientes que se submeteriam a cirurgias de coluna, assim como a recuperação pós-cirúrgica. A autora utilizou a Psicoterapia Breve, uma técnica que visava agilidade nesses atendimentos no sentido de adequá-los à realidade institucional. Já em 1957, Mathilde Neder ao se transferir para o Instituto Nacional de Reabilitação da USP, melhorou o dimensionamento das atividades antes realizadas. (MESQUITA et al, 2013).
Segundo Gorayebe (2001), a década de 1960 foi uma data de marco histórica, pois foi quando os primeiros psicólogos começaram a atuar em instituições hospitalares, com base na atuação clínica e trabalhando muitas vezes como auxiliar dos psiquiatras, sem participar ativamente do atendimento ao paciente.
Prosseguindo com algumas datas importante para a história da Psicologia dentro das Instituições de Saúde, Rocha (2004 apud. MESQUITA et al, 2013) cita alguns dados históricos que relatam atuações dos primeiros psicólogos em hospitais, como em 1974, é criado o Serviço de Psicologia da Divisão de Reabilitação Profissional do Hospital das Clínicas sob a direção de Neder, e, sob a direção de Belkiss Lamosa, o Serviço de Psicologia do Instituto do Coração. Em 1977 acontece a implantação do Serviço de Psicologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, onde Lamosa iniciou um trabalho aberto à população em geral.
inda segundo Rocha (2004 apud. MESQUITA et al, 2013), em 1979, surge em Brasília, com Regina D’Aquino, no Instituto Transpessoal, um trabalho com a família e a equipe médica junto ao paciente terminal. Nesse mesmo ano, Wilma Torres inicia o Programa de Estudos e Pesquisas em Tanatologia no Instituto Superior de Estudos e Pesquisas da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Em 1981, o Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo oferece aos alunos graduados em Psicologia, o curso de Especialização em Psicologia Hospitalar, sob a responsabilidade de Angerami-Camon.
Nessas datas importantes, pode-se perceber o avanço da Psicologia Hospitalar no Brasil e que segundo Sebastiani (2005 apud. MESQUITA et al, 2013, p. 91).
Pesquisas apontam o Brasil como o precursor mundial da Psicologia Hospitalar, uma nova especialidade que utiliza os conhecimentos da Psicologia para aplicá-los nos processos doença-internação-tratamento, os quais relacionam: paciente-família-equipe de saúde e utiliza teorias e técnicas especificas para a atenção às pessoas hospitalizadas com demandas psicológicas ligadas a tais processos, como também as reações que podem agravar o problema do paciente ou dificultar o processo de recuperação.
Fazer Psicologia no ambiente hospitalar é ser cauteloso com vidas humanas, ficar atento e observar tudo que envolve o paciente, e não menos importante, seus direitos, suas representações, medos e fantasias. É ainda ter como foco o acompanhamento psicológico e os processos psíquicos que surgem durante a experiência de internação. É minimizar o sofrimento do paciente, ajudando-o a lidar com a patologia e suas emoções, assim como ajudar os familiares do sujeito nesse processo, e não menos importante, auxiliar a equipe técnica.
2.2. Intervenção Psicológica no Hospital Geral.
Nos dias atuais, a psicologia é mais conhecida nas áreas clínicas, porém tem se destacado em diversas áreas do mercado, inclusive na hospitalar. Com um pouco mais de meio século, a psicologia entrou em instituições hospitalares, embora pouco se conhecesse sobre essa ciência na época, a psicologia não deixou de fazer sua história e com o tempo foi estabelecendo suas atividades, assim os psicólogos foram trilhando seus caminhos dentro dos hospitais (FOSSI & GUARESCHI, 2004). Com o tempo, as intervenções psicológicas se modificaram e hoje o paciente hospitalizado não é percebido como sendo semelhante ao de consultório, ou seja, a técnica usada em ambas as áreas são diferentes, visto que o paciente enfermo não procurou por ajuda espontaneamente e pode não apresentar quadros de psicopatologia.
A Psicologia Hospitalar não pertence unicamente à área clínica, ela abrange áreas como educacional, organizacional e social, utilizando-se de recursos técnicos, metodológicos e teóricos de diversos saberes psicológicos. (FOSSI & GUARESCHI, 2004)
A atuação do psicólogo dentro do contexto hospitalar, tem se mostrado eficaz, não só na questão da saúde do paciente, mas na atenção que é dispensada à família e à equipe de saúde. O psicólogo pode propor atividades curativas e de prevenção, diminuindo o sofrimento que a hospitalização e a doença causam ao sujeito enfermo (FOSSI & GUARESCHI, 2004). A importância da atuação do psicólogo junto à equipe de saúde é de extrema importância, pois a saúde mental desses profissionais é tão importante quanto a do paciente hospitalizado. Visa diretamente o bem estar do profissional de saúde já que o mesmo tem de lidar com patologias no seu dia-a-dia, e de certa forma, lidar com o sofrimento psíquico desses indivíduos internados, estar preparado psiquicamente para isso, o que garante que o trabalho seja feito com atenção, praticidade e foco.
Segundo Fossi e Guareschi (2004) as equipes médicas, e demais funcionários do hospital, relatam que, em alguns casos, somente a ajuda médica não basta para o tratamento ser bem sucedido: No trecho em destaque, pode se observar a importância do trabalho da psicologia na equipe interdisciplinar dentro do contexto hospitalar:
O ser humano é muito mais que um corpo físico, e assim, o atendimento integral à saúde é indiscutível. Portanto, a integração da equipe de saúde é imprescindível para que o atendimento e o cuidado alcance a amplitude do ser humano, considerando as diversas necessidades do paciente e assim, transcendendo a noção de conceito de saúde, de que a ausência de enfermidade significa ser saudável. (FOSSI & GUARESCHI, 2004, p. 31)
A boa relação da equipe técnica é de extrema importância, pois em alguns casos “somente a ajuda médica não basta para o tratamento ser bem sucedido: o ser humano é muito mais que um corpo físico, e assim, o atendimento integral à saúde é indiscutível”. (FOSSI & GUARESCHI, 2004, p. 31). Portanto, deve-se considerar as necessidades do paciente, entendendo o conceito de saúde: “completo bem estar biopsicossocial”, para isso, é indispensável uma boa comunicação com a equipe técnica para que o atendimento e o cuidado alcancem o resultado esperado. No trecho em destaque, pode-se observar um pouco mais sobre a importância da comunicação da equipe técnica dentro do âmbito hospitalar:
Dessa forma, o trabalho em equipe mostra-se fundamental para o atendimento hospitalar, na medida em que médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais e os demais profissionais envolvidos nesse atendimento estabeleçam uma integração, para que a pessoa seja tomada como um todo, para que ela possa ter um atendimento humanizado, contemplando assim, outras necessidades dos usuários. (FOSSI & GUARESCHI, 2004, p. 31).
Santos (2012) cita algumas funções do psicólogo hospitalar e suas tarefas básicas. Essas seriam: funções de coordenação, função de auxilio, função de interconsulta, função de enlace, assistência direta e função de gestão. Essas tarefas básicas tem como objetivo primeiro estar conectado diretamente com os funcionários da instituição, intervindo na qualidade do processo da adaptação do paciente internado, ajudando os profissionais da saúde a lidarem com o paciente e promovendo segurança e tranquilidade no trabalho executado.
Ainda sobre o mesmo autor, o psicólogo hospitalar deve estar atento às reações manifestadas pelo paciente frente ao diagnostico recebido de sua doença, trabalhando, principalmente, a vida psíquica e a vida social. Sendo assim, o foco principal do psicólogo hospitalar é atuar diretamente no “pensar positivo” em relação às consequências que a descoberta da patologia pode trazer ao indivíduo e à família do mesmo.
Gorayeb (2011, p. 277) relata sobre a importância do profissional da saúde junto a pacientes em qualquer área do hospital, onde destaca a importância do “adequado relacionamento dos profissionais com o paciente”.
Primeiramente, a importância de uma boa intervenção no contexto hospitalar é essencial, pois não envolve apenas o emocional do paciente enfermo, e mas também de familiares e da equipe técnica multidisciplinar. Sendo assim, o psicólogo precisa estar sempre atento às técnicas utilizadas e trabalhar corretamente, focando na saúde e bem estar emocional desses indivíduos.
Vieira (2012, p. 5):
A psicologia no contexto hospitalar atua para a melhor integração, e compreensão das diferentes práticas teóricas, minimiza os espaços entre as diversidades dos saberes, e lapida o cuidado à saúde e à prevenção de doenças. Assim é possível estabelecer as condições adequadas de atendimento aos pacientes, familiares e melhor desempenho das equipes de saúde no hospital.
finalizar, Gorayeb (2011, p. 277), relata sobre a importância da atuação adequada em todas as áreas que o psicólogo possa atuar, inclusive a hospitalar, buscando manter-se atualizado. “Para construir uma profissão de respeito junto aos outros profissionais e aos próprios pacientes precisamos, enquanto classe profissional, solucionar problemas, criar modelos, produzir melhorias de qualidade de vida”.
2.3. Crianças no Ambiente Hospitalar
No desenvolvimento deste sub-item encontra-se como objetivo, apresentar os principais desafios que a criança hospitalizada enfrenta, assim como outros aspectos decorrentes do contexto hospitalar. Portanto, no primeiro momento, se faz necessária a compreensão do conceito criança, pois assim, tornará mais claro o entendimento do mesmo.
O que é ser criança? A palavra criança tem um significado forte, no sentido ingênuo, doce e delicado, uma fase marcante na vida das pessoas, uma fase onde a busca do conhecimento e aventura está sempre presente. Mas, o que aconteceria se uma criança ficasse doente? Uma criança fica doente? Não se imagina que uma criança possa ter patologias até se deparar com essa realidade. A hospitalização na infância é algo difícil de se assimilar, mesmo para a equipe de saúde e familiares, até mesmo para a criança, tendo em vista que esta fase congrega expectativas de bem-estar, alegria, exploração e liberdade. (ALTAMIRA, 2010 apud. MESQUITA et al, 2013)
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) criado em 13 de julho de 1990, “é de referência mundial como legislação destinada a proteger a juventude”. Estas leis foram criadas para proteção integral desses indivíduos e foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU em 20 de novembro de 1989. (ECA, 1990)
Nos termos do Artigo 2° da Lei 8.069/90, no capítulo I, diz que “Considera-se criança, para os efeitos desta lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”. (ECA, 1990)
Quando se fala na atuação do psicólogo dentro do ambiente hospitalar, deve-se considerar aspectos como cautela, capacidade de observação e qualificação do profissional, pois com o paciente hospitalizado encontra-se também a família do mesmo e com isso, anseios, medos e perguntas surgirão por tanto, o psicólogo precisa estar preparado para os procedimentos voltados ao público. Características necessárias principalmente junto ao público infantil, já que a criança encontra-se em ambiente diferente o que pode gerar muitas perguntas e reações frente ao contexto hospitalar, dificultando o trabalho da equipe multidisciplinar técnica e até mesmo do psicólogo hospitalar e dificultando o processo de recuperação da patologia apresentada.
criança parte de uma fase de exploração do mundo, onde tudo é novo e motivo de alegria, e, de repente, se depara com a hospitalização, onde passa por diversos desafios, que até então eram desconhecidos por ela, podendo estes influenciar diretamente no seu desenvolvimento e até no tratamento da patologia. Para uma criança lidar emocionalmente com o contexto hospitalar, é questionar algo novo e desconhecido pois se encontra longe do seu “ambiente lar”, dos pais, dos objetos de estimação, enfrentando uma tensão emocional forte e desconhecida. Surge então o medo de ser abandonada, o medo de morrer, o contato com o ambiente hostil do hospital e inúmeras outras experiências, que não sendo bem direcionadas, repercutirão de forma negativa na sua experiência de hospitalização. (ALTAMIRA, 2010 apud. MESQUITA et al, 2013).
Mesquita et al (2013) no procedimento com criança o psicólogo precisa ser concreto, porém é necessário que haja um prévio conhecimento de como essa criança elabora os acontecimentos nesse novo ambiente que é o hospital. Evitando desta forma fatores que desencadeiem reações negativas, como por exemplo, a prolongação da internação pela não aceitação do tratamento estabelecido, em que paciente e a própria família do mesmo acaba atribuindo um valor simbólico não previsto pela equipe médica.
que esses imprevistos não aconteçam, Mota et al (2006, p. 328 apud. MESQUITA et al, 2013) afirmam que o Psicólogo Hospitalar, tende de lidar com os sentimentos “pois o indivíduo, ao sair do contexto familiar, passa a assumir a condição de paciente, perdendo sua autonomia e independência”.
Mesquita et al (2013) refere-se aos atendimentos psicológicos com crianças, dentro do contexto hospitalar, com o objetivo principal de “promoção do bem estar biopsicossocial”. Atualmente tal termo foi ampliado para: “biopsicossocioespirituambiental”, tanto dos pacientes, quanto para os familiares dos mesmo, e para isso deve-se trabalhar de forma integrada com os demais profissionais de saúde, num enfoque interdisciplinar.
atuação junto à hospitalização infantil, tem como objetivo minimizar o sofrimento das crianças, dentro do contexto hospitalar, oferecendo um ambiente menos hostil, “independentemente do tempo e da doença que as levaram à internação”. (ALTAMIRA, 2010 apud. MESQUITA et al, 2013, p. 94)
criança se encontra desenvolvendo-se seu repertorio de experiências e se deparando com a situação da “hospitalização” encontra-se incapaz de realizar tarefas que antes eram fáceis e divertidas. Por isso, o paciente, em especial a criança, precisa de apoio para enfrentar possíveis efeitos negativos relacionados à eventos traumáticos, ao sentimento de insegurança, medo intenso, a falta de ajuda e da ansiedade decorrentes da hospitalização e todos esses sentimentos, muitas vezes, a criança não consegue entende-lo, por nunca ter vivenciados tais momentos.
Quando a internalização está voltada a criança, a presença dos familiares, inclusive dos pais, é importante para a criança, não só para seu bem-estar mas para sua saúde ter um processo de cura mais rápido. No Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8069/90, no capítulo I, Artigo 12, diz que se "garante o direito de acompanhamento familiar em tempo integral à criança /adolescente internado". (ECA, 1990).
Esta lei teve início graças a campanha “Mãe Participante” divulgada pela Sociedade de Pediatria de São Paulo, em 1988, que segundo Lima (2004 apud. ALTAMIRA, 2010) “O programa conseguiu comprovar que a presença da mãe diminuía a mortalidade e também a estadia da criança no hospital”.
Segundo Chiatone (2003 apud. Altamira, 2010, p. 10):
As crianças privadas dos cuidados maternos sofrerão fracassos no desenvolvimento de sua personalidade na medida em que é a mãe, nos primeiros anos de vida, quem lhes proporcionará os dados essenciais para esse desenvolvimento. A privação materna durante a hospitalização traz à criança muita angústia, uma exagerada necessidade de amor, sentimento de vingança e, consequentemente, culpa e depressão. Todas as crianças estão sujeitas aos efeitos físicos, intelectuais, emocionais e sociais da privação materna, sendo esses já bem discerníveis desde as primeiras semanas de vida.
Visto isso, pode-se perceber que a o hospitalização não é um ambiente comum para crianças, por isso, precisa de todo um processo de adaptação, fazendo com que enfrentam adequadamente esses meio negativos, para que o processo medico tenham bons resultados, portanto, os psicólogos tem que estar sempre atentos aos cuidados, e principalmente e não mais importante, aos cuidados recebidos dentro dos hospitais, uma vez que tratado os pacientes de forma invasiva e abusiva, podem prejudicar qualquer tratamento e até traumatizar esses pacientes, em especiais, as crianças. “A forma como alguns procedimentos são realizados destacam ainda mais essa invasão e abuso dentro do contexto hospitalar, pois tudo é visto dessa forma pelo paciente devido à necessidade de aceitação que tem da condição em que se encontra”. (CAMON, 2006 apud. ALTAMIRA, 2010, p.9)
Dentro do contexto hospitalar, o psicólogo tende a desenvolver técnicas de atendimento, com o objetivo de trazer a criança para o tratamento de uma forma lúdica, para isso brinquedotecas, desenhos, livros entre outros meios, são recursos tranquilizantes que não apenas minimizam o sofrimento, mas que ajudam no processo de recuperação da doença.
3. JUSTIFICATIVA
3.1. JUSTIFICATIVA PESSOAL
Este tema despertou curiosidade na pesquisadora ao iniciar estagio em 2012 em uma escola municipal de ensino básico em São Joao da Boa Vista, ao qual a pesquisadora teve contado com crianças de 6 à 11 anos de idade, sendo intensificado posteriormente por conta de uma disciplina do curso e de um estágio realizado em um hospital público.
3.2. JUSTIFICATIVA SOCIAL
Este estudo possui relevância social considerando o número de atendimentos infantis realizados em Hospitais Gerais. Para comprovar tal afirmativa, foram coletados dados referentes ao número de internação infantil realizado no ano de 2016, até o dia 26 de outubro, em um Hospital Geral da região. Os quadros apresentados a seguir, justifica a necessidade da temática apresentada.
Quadro 1 – O quadro abaixo apresenta o número de internação de crianças de ambos os sexos, no ano de 2016 relacionados à idade:
DESCRIÇÃO POR IDADE |
NUMERO DE INTERNAÇÃO |
0-0 anos |
132 |
1-1 anos |
37 |
2-2 anos |
33 |
3-3 anos |
28 |
4-4 anos |
23 |
5-5 anos |
19 |
6-6 anos |
15 |
7-7 anos |
26 |
8-8 anos |
16 |
9-9 anos |
13 |
10-10 anos |
11 |
11-11 anos |
23 |
12-12 anos |
15 |
TOTAL |
391 |
Quadro 2 – O quadro abaixo apresenta dados de crianças hospitalizadas no ano de 2016, categorizada por sexo e independente de idade:
DESCRIÇÃO |
NÚMERO DE INTERNAÇÃO |
Feminino |
165 |
Masculino |
226 |
TOTAL |
391 |
Quadro 3 – O quadro abaixo apresenta dados de crianças hospitalizadas no ano de 2016 por categoria de convênio:
DESCRIÇÃO |
NÚMERO DE INTERNAÇÃO |
Convenio |
156 |
Particular |
1 |
SUS |
234 |
TOTAL |
391 |
3.3. JUSTIFICATIVA ACADÊMICA
Este estudo possui relevância cientifica, pelo fato de reunir artigos e pesquisas recentes sobre o tema proposto, fornecendo subsídios para futuras pesquisas na área.
4. OBJETIVOS
4.1. OBJETIVO GERAL
Realizar uma Revisão Bibliográfica em publicações dos últimos quinze anos, a fim de identificar artigos sobre medo e fantasias de crianças hospitalizadas nas seguintes bases de dados: Index Psi, Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e Google Acadêmico
4.2. OBJETIVOS ESPECIFICOS
-
Levantar os principais motivos apresentados nos artigos estudados sobre os medos e fantasias das crianças hospitalizadas;
-
Identificar nos artigos estudados as estratégias utilizadas para minimização dos medos e fantasias de crianças hospitalizadas.
5. MÉTODO
Trata-se de uma Revisão Bibliográfica, conhecida também como Revisão de Literatura, processo no qual o pesquisador tem “uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente”, pois realiza uma atividade de aproximações sucessivas da realidade, sendo que esta apresenta “uma carga histórica” e reflete posições frente à realidade (MINAYO, 1994, p.23 apud. LIMA & MIOTO, 2007, p. 38). Este procedimento é uma forma de esclarecer dúvidas e apresentar o “estado da arte” do assunto abordado, caminhando e construindo um processo de pesquisa, um tipo de investigação completa, buscando identificar evidencias.
Certamente, este procedimento tem rigor científico na maneira de definir seus procedimentos, que exigem do pesquisador clareza na definição do método a ser utilizado. “Um dos procedimentos mais visados pelos investigadores na atualidade, que pode ter sua escolha definida sem o devido cuidado com o objeto de estudo que é proposto, é a pesquisa bibliográfica”. (LIMA & MIOTO, 2007, p. 38).
No presente trabalho, foi realizada uma busca nas bases de dados Index Psi, Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e Google Acadêmico, para realização de uma Revisão Bibliográfica da literatura nacional dos últimos quinze anos. Foram selecionados os artigos que abordavam os medos e fantasias de crianças que enfrentam a hospitalização e as implicações no processo de cura. As palavras chaves utilizadas foram: Crianças, hospital, medos, fantasias, adoecimento.
É apresentado à seguir o Referencial Teórico sobre o conteúdo abordado nos artigos estudados.
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O presente trabalho, procurou levantar dados atuais de medos e fantasias de crianças hospitalizadas com idade entre sete e nove anos. Foram pesquisados artigos nos seguintes bancos de dados: Index Psi, Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e Google Acadêmico. No quadro abaixo, mostra o número de artigos encontrados com o tema relacionado independente do período de publicação:
Quadro 4 - Produção de artigos encontrados com o tema relacionado independente do período de publicação, utilizando palavras combinadas:
BASE DE DADOS |
TEMAS RELACIONADOS |
|||||
Psicologia - Hospital - Geral |
Intervenção - Psicológica - Hospital - Geral |
Crianças -Ambiente - Hospitalar |
O Brincar - Contexto - Hospitalar |
Medos - Fantasias |
Medo - Morte |
|
INDEX PSI |
10 |
3 |
2 |
5 |
23 |
51 |
SCIELO |
50 |
29 |
33 |
15 |
88 |
15 |
GOOGLE ACADÊMICO |
16.300 |
46.100 |
54.900 |
14.900 |
24.100 |
97.800 |
Com base no quadro 4 apresentado, foram encontrados mais artigos relacionados, com a utilização de palavra combinada, na base de dados Google Acadêmico do que nas outras bases de dados Scielo ou Index Psi. No entanto, para a formulação do estudo, foram utilizados apenas alguns artigos que se encaixavam nos critérios de inclusão necessários para o proposto trabalho, pois o restante dos artigos houve dispersão do assunto.
Quadro 5 - O quadro abaixo, encontra-se a média de artigos relacionados ao tema proposto no presente trabalho encontrado nas bases de dados, independente do período de publicação:
BASE DE DADOS |
TEMAS RELACIONADOS |
|||||
Psicologia - Hospital - Geral |
Intervenção - Psicológica - Hospital - Geral |
Crianças -Ambiente - Hospitalar |
O Brincar - Contexto - Hospitalar |
Medos - Fantasias |
Medo - Morte |
|
INDEX PSI |
10 |
3 |
2 |
5 |
23 |
51 |
SCIELO |
50 |
29 |
33 |
15 |
88 |
15 |
GOOGLE ACADÊMICO |
16.300 |
46.100 |
54.900 |
14.900 |
24.100 |
97.800 |
SOMA |
16.360 |
46.132 |
54.935 |
14.920 |
24.211 |
97.866 |
MEDIA |
5,45 |
15,37 |
18,31 |
4,97 |
8,07 |
32,622 |
No presente trabalho, foram abordados em total de vinte e um artigos que atenderam aos critérios adotados pelo estudo relacionados ao tema. A base de dados que mais forneceu conteúdo foi o Google Acadêmico com cerca de dezoito artigos, em segundo a base de dados Scielo com dois artigos e em terceiro a Index Psi com um artigo relacionados ao tema.
Quadro 6 - Observa-se a quantidade de artigos abordados no presente estudo que atenderam aos critérios relacionados ao tema, junto à suas bases de dados independentes do período de publicação:
BASE DE DADOS |
TEMAS RELACIONADOS |
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Psicologia - Hospital - Geral |
Intervenção - Psicológica - Hospital – Geral |
Crianças -Ambiente - Hospitalar |
O Brincar - Contexto - Hospitalar |
Medos – Fantasias |
Medo - Morte |
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Com base nos artigos pesquisados, conclui-se que a criança hospitalizada vivencia experiências potencialmente traumáticas, que segundo Souza (et al, 2012, p. 354) suscitam “sentimento de culpa, punição e medo da morte” pois encontra-se em confronto com a dor, a limitação física, numa atitude de passividade, ao mesmo tempo em que é afastada do ambiente familiar. O mesmo autor afirma que a criança hospitalizada pode manifestar prejuízos que permanecem mesmo após a alta hospitalar. Em decorrência de seu pensamento fantasioso e egocêntrico, a maioria das crianças apresenta dificuldades de entender as situações vivenciadas, “passando a crer que a doença e/ou hospitalização é uma punição por mau comportamento ou algum erro”. (SOUZA et al, 2012, p. 354)
atuação de profissionais da saúde na hospitalização infantil, tem sido importante com o objetivo de minimizar o sofrimento das crianças dentro do contexto hospitalar, proporcionando um ambiente mais agradável e menos hostil. Contudo, foi percebido que uma das alternativas de minimizar o sofrimento da criança no ambiente hospitalar é a possibilidade de brincar, que se destaca como sendo uma das atividades mais importantes da vida infantil, gerando alegria, prazer e de certa forma conhecimento, além de ser uma forma de se comunicar com o mundo e com o meio onde vive. Francischinelli (et al, 2012, p. 19) relata que as crianças expressam “não só seus sentimentos de amor, mas também suas ansiedades e frustrações, bem como as críticas ao meio e às relações familiares, conquistando o desenvolvimento harmonioso de sua personalidade”.
6.1. Medos e Fantasias
O hospital é um ambiente desconhecido para o universo da criança, restrito de possibilidades de atividades como “o brincar, sendo um lugar muitas vezes de solidão, tristeza, saudade de casa, dos familiares, amigos e colegas”. Os familiares passam por momentos de angustia, assim como a criança, despertando, muitas vezes, outros sentimentos como de culpa e de perda. Dentro dos hospitais, o trabalho interdisciplinar com a criança e sua família torna o atendimento integrado e humanizado, auxiliando no processo de melhora do paciente (LIMA, 2007).
Os profissionais da saúde devem estar atentos à criança, na tentativa de minimizar o sofrimento físico e emocional gerados pela internação. A criança expressa-se seus sentimentos de medo da perda ou afastamento dos pais, de ficar sozinha, de não voltar para casa, de não ter mais os seus brinquedos e amigos, o que é angustiante para a criança e muitas vezes dificultador do processo de cura. Nesse sentido, Calvett (2008) relata que todos os procedimentos que serão realizados, devem ser explicados para a criança na tentativa de atenuar seus medos e fantasias diante do ambiente desconhecido.
inda sobre o mesmo autor, propõe que a família seja auxiliada a trazer os objetos preferidos da criança, ajudando a manter o vínculo com seu lar dentro do contexto hospitalar, tornando o ambiente mais familiar e facilitador.
Ponto importante, enfatizado Altamira (2010) é a necessidade de um entendimento é a despersonalização do paciente no hospital, ou seja, “essa despersonalização pode potencializar o sofrimento e fazer dessa estadia no hospital uma fase da vida marcada por inúmeras consequências negativas”. Segundo Camon (2006 apud. ALTAMIRA, 2010, p. 11):
O paciente perde seu nome, deixando de ser ele passa a ser a patologia que o levou à internação ou o número de leito em que se encontra. O mesmo autor afirma que, a posição de hospitalizado será uma experiência única enquanto vivência. Além disso, suas rotinas e costumes se transformarão diante da hospitalização e da doença, se a doença for algo que o envolva apenas temporariamente haverá a possibilidade de uma nova reestruturação existencial quando do restabelecimento orgânico, fato que, ao contrário das doenças crônicas, implica necessariamente numa restauração vital.
6.2. O Medo da Morte?
hospitalização não é comum na vida de uma pessoa, nem mesmo de uma criança. A hospitalização é vista pela criança como ameaçadora, pois não é comum, se encontrar em ambiente desconhecido, tendo essa que conviver com pessoas estranhas, onde muitas vezes deixa de fazer coisas que fazia anteriormente. No hospital, a criança encontra-se com momentos de dor e sofrimento para os quais ela não estava preparada e desconhecia, “este fato faz com que ela tenha medo da situação em que se encontra”. No hospital existem exames e procedimentos, que utiliza-se de materiais e equipamentos que a criança desconhece, trazendo sentimentos de invasão, separação do seu mundo familiar, tendo, muitas vezes, medo do desconhecido. (GOMES et al, 2013, p. 769, 770)
morte se apresenta de forma misteriosa, não só do fim da vida, mas um fenômeno de outra realidade, “apresentando-se como um processo misterioso e ainda assustador ao ser humano, consequentemente as pessoas procuram não pensar na morte ou no seu significado” (PINTO, 2013, p. 2)
Sendo assim, o medo da morte é universal, embora Freud (2010 apud. PINTO, 2013, p. 12) tenha afirmado que “as crianças ignoram tal restrição; elas ameaçam despreocupadamente umas às outras com a ideia da morte”. Na explicação psicanalítica, Wahl (1959 apud. PINTO, 2013, p. 12) comenta que o “medo da morte está muitas vezes relacionado ao medo da castração, pois o medo da castração que surge após o período edipiano está relacionado com o medo da morte”. Já Kovács (1992 apud. PINTO, 2013) afirma que a morte na explicação psicanalítica é controversa, pois existiria representação da morte no inconsciente. “Isso não existiria, por ser uma experiência que nunca tinha sido vivida. Mas ele considerava como equivalentes os terrores da castração, da perda do amor, do objeto” (KOVÁCS, 2008, apud. PINTO, 2013, p. 12)
Gomes et al. (2013) afirmam que no hospital, as crianças precisam enfrentar diversos sentimentos ainda desconhecidos, como a dor, o mal-estar, o desconforto e conviver com rotinas e regras impostas pelo hospital. Sendo assim, o ambiente hospitalar é causador de impacto em seu comportamento, levando à ter reações estressantes, de instabilidade, insegurança e de medo.
A criança hospitalizada vive experiências desconhecidas gerando sofrimento e medo do desconhecido, o que aumenta a fantasia. Gomes et al. (2013, p. 768) revela alguns cuidados minimizar tais sentimentos vivenciados pela criança nesse momento, uma delas é o “conhecimento de todos os elementos relacionados à internação, como medicações, procedimentos, rotinas e restrições, podendo, assim, lidar melhor com essas situações”.
6.3. O Brincar no contexto Hospitalar
Criança vive em uma fase exploratória, onde o Brincar é a atividade mais importante de sua vida, gerando alegria, prazer e de certa forma conhecimento, esta é uma forma de se comunicar com o mundo e com o meio onde vive. Francischinelli, et al (2012, p. 19) relata que a as crianças expressam “não só seus sentimentos de amor, mas também suas ansiedades e frustrações, bem como as críticas ao meio e às relações familiares, conquistando o desenvolvimento harmonioso de sua personalidade”
O brincar é uma necessidade da criança que se faz presente em todos os estágios do desenvolvimento infantil, ao qual, tem sua importância no processo do amadurecimento cognitivo e na socialização. Essas atividades lúdicas na infância são uma forma de entretenimento para o mundo da criança, distração e ocupação, além do desenvolvimento da criatividade e da autoconsciência do indivíduo. (FRANCISCHINELLI et al, 2012).
Ribeiro (1998 apud. FRANCISCHINELLI et al, 2012) ressalta sobre a importância do brinquedo na vida da criança com foco no tratamento terapêutico, por ajudar a criança a enfrentar situações de crise, como a hospitalização. Pois pode auxiliar no tratamento positivo do emocional da criança e no restabelecimento físico, auxiliando no enfrentamento do âmbito hospitalar, tornando-o menos traumatizante. Desta forma, a técnica lúdica de brincar no ambiente hospitalar, proporciona sua “função curativa, ao possibilitar que a criança elabore seus conflitos, aliviando sua ansiedade”. Ou seja, a criança se expressa por meio de brinquedos, ao qual, “já está habituada, uma forma natural de autoterapia”. (FRANCISCHINELLI et al, 2012, p. 19). Mello (2003, apud. FRANCISCHINELLI et al, 2012, p. 19) afirma que:
O uso de brincadeiras no hospital apresenta muitas vantagens, dentre elas, a capacidade de conduzir as crianças a uma experiência que as faça sentir-se vivas, mesmo em situação estressante, como quando doentes. Essa vivência propicia-lhes ganhos e perdas, crescimento e amadurecimento, sucessos e fracassos, mantendo a evolução de seu processo de desenvolvimento.
Souza et al (2012, p. 354) acredita que a hospitalização na vida da criança traz uma experiência potencialmente traumática, pois a criança se encontra em confronto com a dor, passividade e a limitação física, ao mesmo tempo em que é afastada do ambiente familiar o que a faz ter “sentimento de culpa, punição e medo da morte”. O processo de hospitalização, pode trazer à criança manifestações de insatisfação momentânea ou prejuízos que permanecem mesmo após a alta hospitalar. Em decorrência de seu pensamento fantasioso e egocêntrico, a maioria das crianças apresenta dificuldades de entender as situações vivenciadas, “passando a crer que a doença e/ou hospitalização é uma punição por mau comportamento ou algum erro”.
inda sobre o mesmo autor, afirma que a utilização do brinquedo terapêutico é muito importante para ajudar a criança a perceber o que está acontecendo, pois terá função de “liberar seus temores e ansiedades, permitindo que ela exponha o que sente e pensa”. (SOUZA et al, 2012, p. 354). Com o auxílio do brinquedo estruturado, ajudará no alivio da criança causada por experiências “não naturais” pela sua idade que podem ser ameaçadoras, como a ansiedade.
Souza et al. (2012, p. 354) apresentaram em suas pesquisas, três formas de brinquedo terapêutico, desde que a criança se sinta “a vontade” promovendo bem estar psicofisiologico. São elas: o Brinquedo Dramático, que permite a descarga emocional; o Brinquedo Instrucional, que ajuda a criança na compreensão do tratamento e no esclarecimento de conceitos errôneos e o Brinquedo Capacitador de funções fisiológicas, o qual busca desenvolvimento de atividades em que as crianças possam, de acordo com suas necessidades, melhorar ou manter suas condições físicas.
O brinquedo contribui para o desenvolvimento global, envolvendo atividades, como a dramatização de papéis, permite o diagnóstico do conflito pelo qual a criança está passando, configurando, então, sua função curativa, funciona como “válvula de escape” e conduz à diminuição da ansiedade pela catarse emocional. (SOUZA et al, 2012, p. 355)
Nessa perspectiva, o brincar é uma possibilidade da criança expressar seus sentimentos, receios e hábitos; colocando o mundo onde vive tanto familiar quanto as situações novas ou ameaçadoras assim como a elaboração de experiências desagradáveis ou desconhecidas. Sendo assim, o brincar se torna terapêutico capaz de promover o desenvolvimento infantil e, o mais importante, a capacidade de entender melhor esse momento específico que vive, a hospitalização.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ser humano de modo geral, não está preparado para lidar com a morte nem com o morrer. Quando se depara com a doença ou até mesmo a internação, o indivíduo sente-se aflito, sem saída, com pensamentos fantasiosos de passado e futuro, pensando em tudo o que não fez e tudo o que ainda há para fazer. A morte é incerta, misteriosa e assustadora, é a única certeza que o ser humano tem e que é veementemente negada.
O presente trabalho, possibilitou conhecer o que se produziu de conhecimento científico nos últimos 15 anos sobre os medos e as fantasias de crianças que enfrentam hospitais, sejam por doenças mais graves ou mais leves.
hospitalização na infância é, sem dúvida, mesmo para profissionais da área da Saúde, algo de difícil assimilação, haja vista que esta fase do desenvolvimento humano congrega expectativas de bem-estar, alegria e liberdade. Com a hospitalização, a criança é retirada de seu ambiente familiar, o que ocasiona uma série de mudanças no ritmo de sua vida. O conhecimento dos elementos relacionados à internação, como medicações, procedimentos, rotinas e restrições, podem auxiliar a criança a lidar melhor com as situações provocadas pela hospitalização, que desta forma, se torna mais familiar.
As principais fantasias infantis identificadas nos artigos encontrados estão relacionadas ao medo da morte, ao afastamento da família, aos procedimentos utilizados durante a hospitalização e o próprio ambiente hospitalar, incluindo a relação que estabelece com os profissionais que atuam com o paciente infantil.
Sabe-se que uma das formas de expressão mais genuínas da criança é o brincar, porque é por intermédio desta atividade que a mesma expressa sentimentos e emoções e é o que deve ser utilizado durante a internação da criança, com a possibilidade da instalação de brinquedoteca no hospital. importância do brinquedo na vida da criança com foco no tratamento terapêutico, ajuda no enfrentamento de situações de crise, como a hospitalização, contribuindo no aspecto emocional e no restabelecimento físico, auxiliando no enfrentamento do âmbito hospitalar, tornando-o menos traumatizante. A técnica lúdica de brincar no ambiente hospitalar tem importante função curativa, ao possibilitar que a criança elabore seus conflitos diminuindo sua ansiedade. utilização de brincadeiras no hospital apresenta inúmeras vantagens tais como a de proporcionar às crianças uma experiência que as faça sentir-se vivas, Desta maneira, possibilita-se à criança que mantenha a evolução de seu processo de desenvolvimento.
Acredita-se que o conhecimento resultante desta pesquisa forneça subsídios para o campo de atuação do Psicólogo Hospitalar e da equipe de profissionais da saúde, auxiliando a equipe médica e a família na compreensão de possível sucesso ou fracasso do tratamento.
Sugerem-se novas pesquisas na área da psicologia hospitalar com ênfase na hospitalização infantil para que se possa minimizar sofrimentos no processo de adoecer, bem como possibilitar uma maior adesão da criança ao tratamento proposto, favorecendo o reestabelecimento, diminuindo o tempo de hospitalização e consequentes sequelas.
8. REFERÊNCIAS
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Publicado por: Josiane Marchiori
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