O TEATRO NA ESCOLA: UM PODEROSO ALIADO NO PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM TEA

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O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

1. RESUMO

Este artigo visa abordar a importância da utilização do teatro como recurso metodológico no processo de inclusão de alunos diagnosticados com Transtorno de Espectro Autista (TEA). Sendo estes, alunos com um significativo grau de dificuldade de interação social, tornando assim dificultoso tal processo, a exclusão por outro lado está presente todos os dias, ainda que de maneira camuflada, o que a longo prazo poderia se tornar irreversível para o educando junto a sociedade. Os recursos bibliográficos buscados, relacionados a esta pesquisa, mostram-se extremamente escassos, tornando-a de difícil embasamento. A mesma está respaldada na necessidade de pensar novos métodos para que os professores utilizem no processo de inclusão dos alunos autistas nos anos finais do ensino fundamental, com o objetivo principal de potencializar a interação entre os alunos, sem separações, visando melhorar a relação dos mesmos dentro do âmbito educacional e futuramente junto a sociedade. O referido artigo teve como meio de coleta de dados a utilização da pesquisa bibliográfica, analisando autores que abordam as temáticas relacionadas com esta, perpassando pela constituição federal, artigos, pesquisas e experimentos científicos internacionais que comprovam a eficácia do uso do teatro como método eficiente de inclusão e desenvolvimento de alunos com TEA, trazendo assim resultados significativos e mostrando as potencialidades que o teatro tem nesta batalha educacional.

Palavras-chave: TEA. Teatro. Inclusão. Educação especial.

2. INTRODUÇÃO

Esta pesquisa parte da necessidade de não apenas compreender, mas de repensar o uso da teatro não como meio de entretenimento dos alunos dentro do âmbito educacional, mas sim partindo da linha de raciocínio de que o mesmo pode vir a ser de grande ajuda ao professor que trabalha com alunos com necessidades educacionais especiais, para que possa desenvolver bem, não apenas a inclusão, como também o desenvolvimento dos alunos diagnosticados com TEA.

A pesquisa de dados possibilitou o entendimento de maneira teórica das possibilidades da utilização do teatro como ferramenta de inclusão junto aos alunos dos anos finais do ensino fundamental, inclusão essa que muito é debatida no campo educacional, seja na preparação dos professores, seja na própria escola onde os alunos estão inseridos. Percebe-se que os autistas possuem uma grande dificuldade de interação social, aparentemente alienados em seu próprio mundo, e a parte a realidade dos não autistas, necessitando assim de uma dedicação maior do professor para com estes, pois o desenvolvimento dos mesmos perpassa pelo convívio, fazendo com que o educador busque métodos que melhor alcancem este educando.

Esta pesquisa baseia-se na possibilidade da utilização do teatro pelos professores dos anos finais do ensino fundamental como método de inclusão de tais alunos, tornando-se assim, ferramenta do processo de ensino aprendizagem e tornando-se uma alternativa de desenvolvimento social dos mesmos.

O objetivo principal desta pesquisa é mostrar a necessidade da renovação das metodologias inclusivas utilizadas em sala para uma significativa inclusão, bem como a importância da capacitação dos professores para melhor atender seus alunos, utilizando-se de métodos novos, neste caso o teatro, que pode vir a contribuir no processo inclusivo dos alunos diagnosticados com TEA.

A referida pesquisa mostra-se necessária tendo em vista a falta de obras bibliográficas que abordem especificamente a temática TEATRO E AUTISMO, muito se fala sobre a arte teatral como inclusão em sentido geral, mas poucos são os estudos focados em inclusão de autistas e menor ainda são as obras que tratam o uso do teatro para a inclusão de alunos com TEA. Esta abordagem se mostra relevante ao partir da premissa de que tais dificuldades de interação social se não trabalhadas de maneira significativa, poderão atrapalhar toda a vida do educando autista, uma vez que nossa sociedade tem necessidades de inclusão e interação, sendo uma das principais características da mesma.

3. AUTÓS – UM BREVE HISTÓRICO

O transtorno de espectro autista foi diagnosticado pela primeira vez em 1943 por Leo Kanner que por meio de pesquisa e experimentos com crianças de 2 a 11 anos detectou 11 casos do que ele chamou de distúrbios autísticos do contato afetivo. Kanner percebeu nestes, que havia uma impossibilidade de relação entre determinadas pessoas desde o início de sua concepção, percebeu ainda, que haviam respostas consideradas anormais ao ambiente, tais quais movimentos repetitivos, resistência a mudanças, além de repetições nas falas o que mais tarde foi chamado de ecolalia, ao aprofundar suas pesquisas pode apontar como característica principal a dificuldade de relacionamento social naqueles que foram diagnosticados com tal condição.

Entre as décadas de 50 e 60 houve grande discussão a respeito de qual seria o fator chave para a “aquisição” daquela condição, acreditava-se piamente que a sua etiologia estava ligada diretamente a falta de emoções por parte dos pais, em outras palavras, pais que não conseguiam responder afetivamente aos seus filhos faziam com que os mesmos adquirissem tal característica, dando início então a hipótese da “mãe geladeira”, estipulada por Kanner.

Em contra partida, no início dos anos 60, houve um crescente nas evidencias que mostravam que tal dificuldade estava relacionada diretamente ao cérebro das pessoas e não simplesmente a falta de atenção dos pais, tais pesquisas se desenvolveram e hoje sabe-se que trata-se de um “transtorno cerebral presente desde a infância em qualquer grupo socioeconômico e étnico-racial” (MERCADANTE; ROSÁRIO, 2009, p. 36).

O termo autismo, sendo do grego AUTÓS – DE SÍ MESMO, foi usado pela primeira vez por Eugene Bleuler, um renomado psiquiatra suíço que tentou descrever o autismo como uma fuga da realidade, apresentado por pessoas diagnosticadas com esquizofrenia, tendo em vista que se considerava o autismo uma espécie de psicose e esquizofrenia, porém com os estudos sendo cada vez mais aprofundados percebeu-se que o mesmo não se tratava de um caso da referida condição acima citada, mas sim de acordo com Drago (2012), utilizando-se do termo determinado por Bryson et al. (2004): “autismo é o protótipo de um espectro de distúrbios relacionados a desordens de desenvolvimento neurológico.”

No Brasil, pela Lei de número 12.764, em seu Art. 1º, § 1º, passam a ser consideradas pessoas com espectro autistas, “aquela portadora de síndrome clínica caracterizada” com:

  1.  

1. Deficiência persistente e clinicamente significativa da comunicação e da interação sociais, manifestada por deficiência marcada de comunicação verbal e não verbal usada para interação social; ausência de reciprocidade social; falência em desenvolver e manter relações apropriadas ao seu nível de desenvolvimento;

2. Padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades, manifestados por comportamentos motores ou verbais estereotipados ou por comportamentos sensoriais incomuns; excessiva aderência a rotinas e padrões de comportamento ritualizados; interesses restritos e fixos. (BRASIL, 2012).

Porém, para que o diagnóstico da TEA seja dado como positivo, requer que o indivíduo submetido a tal analise apresente prejuízos significativos na interação social e nos seus interesses, havendo ainda a necessidade de enquadrar-se nos critérios de sintomas que são agrupados de maneira específica.

4. TEATRO NO TEA

Por um longo período de tempo acreditou-se que os autistas estavam totalmente isolados e alheios ao nosso mundo, vivendo em um universo totalmente deles, porém depois de anos de estudos percebeu-se que os mesmos não estão de fato em um outro mudo, tão pouco estão alheios, pois de acordo com Klin, ao falar sobre a Sindrome de Aspenger (uma espécie de autismo) é clara:

Contrastando um pouco com a representação social no autismo, os indivíduos com SA encontram-se socialmente isolados, mas não são usualmente inibidos na presença dos demais. Normalmente, eles abordam os demais, mas de uma forma inapropriada e excêntrica. Por exemplo, podem estabelecer com o interlocutor, geralmente um adulto, uma conversação em monólogo caracterizada por uma linguagem prolixa, pedante, sobre um tópico favorito e geralmente não-usual e bem delimitado (2006, s/P)

Sem saber lidar com as pessoas, os autistas acabam por tentar interagir da maneira que mais lhes parece coerente, o que pode causar aos mesmos o fracasso em seu objetivo de interação, pois suas abordagens desajeitadas podem vir a serem mal interpretadas por parte daqueles que estão como “alvo” de sua meta de interação, na escola, não é diferente, os autistas (dependendo do grau) podem vir a serem deixados de lado por todas os demais alunos, devido estas características especificas, há ainda a necessidade de observar que ao serem incluídos unicamente com alunos com a mesma condição pode-se causar danos no processo de interação, uma vez que os mesmos se sentirão apenas interessados em pessoas semelhantes a eles, desprezando os demais.

Há necessidade de se pensar a inclusão em sala de aula de maneira ampla e significativa, pois as pessoas com TEA na maior parte das vezes estão restritos a sua família e a outros portadores de deficiências, assim sendo, as mesmas acabam por ter poucas oportunidades de desenvolvimento em outras áreas e o despertar de novos interesses que seriam gerados por meio da inclusão acaba por não acontecer. Há um perigo no processo de inclusão de alunos com TEA a partir do momento que tal processo se dá unicamente por manter o aluno em seu canto e por inclui-lo em ambientes em que haja apenas PNEE.

A deficiência não está simplesmente nos genótipos da pessoa diagnosticada com TEA, mas em toda a sociedade, Saeta (1999) afirma que as pessoas normalmente se protegem ao confrontarem aquilo que é desconhecido, pois isso lhes representa uma espécie de ameaça a aquilo que as mesmas já conhecem como um padrão social, seja de valores, questões estéticas e daquilo que é tido como normal.

O teatro na sala de aula como meio de interação, vem para quebrar este paradigma, pois ao utilizar do mesmo, os professores estarão induzindo os alunos a interagirem entre si, pois os jogos teatrais necessitam de ajuda mutua e a dedicação total ao que é proposto para que se alcance o objetivo definido, pois o teatro envolve todas as partes e todos da classe que, segundo Silva:

O Teatro exige a presença da pessoa de forma inteira, completa e assim, incluímos a fala, o corpo, o raciocínio e a emoção. Sendo o seu fundamento a experiência de vida, as ideias, os conhecimentos, os aspectos cognitivos e subjetivos. Sua ação consiste em por ordem aos conteúdos individuais e grupais e seu exercício se faz através da encenação, da contemplação e da vivência dos jogos teatrais. (2012, s/p)

Com o teatro em cena, no campo educacional, alunos com TEA, poderão perceber a necessidade do outro e até mesmo intervir, pois buscarão soluções para os problemas propostos no ambiente, por exigir a completude dos alunos tais jogos teatrais irão contribuir para o desenvolvimento cognitivo dos autistas, pois neste tipo de atividade tudo é exercitado, desde a cooperação até movimentos corporais e orais que poderão auxiliar o aluno a ter maior controle sobre seu corpo.

Quanto ao aluno não autista, o mesmo perceberá, por meio da orientação do professor, as dificuldades que o colega com NEE tem por enfrentar, causando assim nos mesmos, a empatia pelos alunos com TEA, o que poderá contribuir posteriormente na reeducação da sociedade com relação as PNEE’s, pois de acordo com Salgado (2013, p. 89) “Dramatizar não é somente uma realização de necessidade individual na interação simbólica com a realidade, proporcionando condições para um crescimento pessoal, mas uma atividade coletiva em que a expressão individual é acolhida.”

5. METODOLOGIA UTILIZADA NA PESQUISA

O presente artigo utilizou-se de pesquisa do tipo bibliográfica de caráter qualitativo, tendo por base três obras principais, sendo elas: Klin (2006), Salgado (2013) e Silva (2012). Devido a escassez de produções que abordem a temática do teatro como ferramenta com autistas, utilizou-se da análise de obras que abordavam temas que pudessem ser unidos e relacionados de maneira significativa, sendo elas tocantes ao tema desta, para que integradas pudessem responder da melhor forma possível a problemática proposta pela pesquisa que norteou tal artigo.

As obras utilizadas, bem como seus autores não possuem tanta ligação entre sim, tendo em vista que se utilizou de textos específicos, cada um abordando uma temática necessária para a composição deste artigo, mas todos foram fundamentais e uníssonos ao afirmarem que há necessidade de estudar métodos para que haja de fato uma inclusão verdadeira das PNEE.

Além das três obras principais, este trabalho está embasado em outas fontes de consulta, tais quais: artigos científicos, publicações cientificas, legislação, relatos de experimentos, que abordem de maneira significativa a possibilidade da utilização do teatro como ferramenta de inclusão e desenvolvimento de crianças diagnosticadas com TEA.

Como autores secundários para esta pesquisa estão destacados aqui Omar (s/d), Werneck (1997), Lis (2008), entre outros que somaram de maneira significativa para elaboração deste trabalho, para um melhor embasamento foram utilizadas pesquisas de leis que dessem subsidio a temática proposta, entre elas a constituição federal e pesquisas informais em sites que apresentassem informações relevantes sobre o tema, tais quais entrevistas, matérias e experimentos sociais, de internacional, nos quais se utilizaram o teatro como ferramenta de inclusão e desenvolvimento de alunos diagnosticados com TEA.

Muitas são as obras que abordam a temática do autismo e do teatro como ferramenta de inclusão, mas não foi encontrado nenhum autor que aborde o processo inclusiva de alunos autistas por meio da referida arte cênica, faz-se necessário tocar nesta temática abordando todo tipo de forma de inclusão, pois estes recursos bibliográficos serão fundamentais para o crescimento da inclusão, tais trabalhos, segundo Werneck (1997), são voltados para a educação inclusiva e assim por compartilhar o conhecimento acabam por construir uma sociedade inclusiva, onde todos são de fato responsáveis pela vida dos demais, independente das diferenças. Em suma, tais recursos bibliográficos serão de significativo apoio para respaldar o uso de novos meios de inclusão, a partir de sua publicação.

Para a realização deste artigo foi fundamental a utilização do fichamento das obras pesquisadas, para que as ideias fossem organizadas de maneira suscinta e que pudessem responder de maneira responsável a todas as ideias aqui apresentadas. Apesar de toda a dificuldade em encontrar material que aborde diretamente esta temática, todos os autores pesquisados, sejam os principais ou secundários foram cruciais para que se chegasse a este resultado final.

6. REFLEXÕES SOBRE AS LEITURAS REALIZADAS

A escolha de tal objeto para pesquisa surgiu no decorrer do curso de pós de graduação em educação especial e inclusiva, após analise das aulas das disciplinas Condutas Típicas e Deficiência Intelectual, sendo todas de caráter de fundamentos e adequações Metodológicas e Curriculares, onde após apresentação das dificuldades e dos métodos de inclusão de alunos diagnosticados com TEA, houve o levantamento do questionamento “Como podemos contribuir para a inclusão significativa de alunos autistas na escola?”.

Ao confrontar a realidade metodológica, com as possibilidades do uso do teatro como possível ferramenta de inclusão, chegou-se finalmente ao tema proposto nesta pesquisa, pois o teatro ao ser inserido no âmbito educacional pode vir a contribuir no processo de inclusão e desenvolvimento de maneira significativa, de acordo com Omar (2015) “Os jogos Teatrais são ferramentas que podem ser utilizadas na escola pois valorizam a espontaneidade, principalmente naqueles que possuem alguma deficiência, expondo a sinceridade através do jogo, exercitando a emoção [...]”

Muitas são as pesquisas sobre a inclusão de PNEE, porém em sua maior parte abordam a mesma de uma maneira geral, de todas as pessoas com todas as deficiências e síndromes, no entanto tratando-se de autismo, o material se torna escasso, e ao tocar na temática do teatro como instrumento do processo inclusivo, foram encontrados zero resultados bibliográficos, com isso, percebe-se que ainda não há uma valorização das potencias que os jogos teatrais possuem para serem utilizadas no processo inclusivo. De acordo com Salgado:

A educação por meio da arte permite ao aluno expressar suas emoções, seus sentimentos, e interagir com as pessoas e o ambiente. Nesse sentido, a arte é possibilitadora da autoestima e da autoconfiança, e extremamente importante para o desenvolvimento do aluno com necessidades especiais. (2013, s/d.)

Nesta linha de raciocínio, ao perceber que o teatro ainda é de certa forma desvalorizado no campo educacional e de perceber todas as suas potencias, deu-se início a pesquisa, com o objetivo de contribuir no processo de inclusão de alunos e de atentar os professores da rede básica de ensino sobre as riquezas dos jogos teatrais e de suas possibilidades de uso em classe, mostrando a importância da alteração das metodologias utilizadas e reutilizadas por anos e anos com todos os alunos, da mesma forma e sem alteração, tal mudança se faz necessária, pois cada aluno é um ser único e especifico, que não aprende da mesma forma que o outro e que necessita de metodologias especificas.

Com os poucos recursos bibliográficos, iniciou-se a coleta de dados por todas as fontes que foram possíveis de encontrar informações relevantes para a conclusão da pesquisa, para isso foi realizada uma busca minuciosa em sites, pois a biblioteca municipal não dispunha de nenhum tipo de material que fizesse uma abordagem sobre o tema da pesquisa realizada, entre os autores estudados, foram encontrados: Klin (2006), Salgado (2013), Omar (S/A), Silva (2012), Lis (2008), sendo realizada uma união entre os seus pensamentos, uma vez que não foram encontrados recursos que tratassem diretamente de inclusão de autistas por meio do teatro.

Em conclusão, os dados encontrados por meio das obras principais, secundarias e observações por meio do convívio em classe com alunos autistas, pode-se afirmar que as dificuldades de interação dos mesmos só serão sanadas a partir do momento em que os professores passarem a utilizar uma pedagogia inclusiva, com estratégias e recursos que efetivamente alcance os objetivos principais para a inserção de alunos autistas na escola, sendo eles: a inclusão e o desenvolvimento dos alunos diagnosticados com TEA, ou qualquer que seja a realidade da PNEE.

7. TEATRALIZAR PARA A INCLUIR

Ao analisarmos a sociedade atual em questões físico-estruturais, perceberemos que a arte está nos rondando por todos os lados, desde pequenos folhetos entregues nas ruas até as propagandas com grandes investimentos para as marcas famosas, se olharmos ao nosso redor perceberemos que estamos cercados por ela, ainda que de maneira camuflada e imperceptível, pois a mesma parte da realidade por meio da observação e da absorção dos acontecimentos para suas composições, tudo ao nosso redor tem ou pode ser arte, como por exemplo a forma como uma pessoa se movimenta ao caminhar, como desviamos de um carro, tudo isso pode ser utilizado pela arte, de acordo com Lis (2008) “A arte sempre fez parte da vida do ser humano, com funções, expressões e sentidos diversos.”

Nessa perspectiva, o questionamento principal é: se de fato a arte está em tudo ao nosso redor, porque não podemos utilizar dela no âmbito educacional ou porque não a utilizar como método de inclusão para alunos diagnosticados com NEE? Uma vez que a mesma se utiliza de todas as formas de expressão, os benefícios que ela traria por meio do teatro junto m aos educandos poderiam ser gigantescos, contribuindo não apenas para a inclusão, mas também para o desenvolvimento dos alunos diagnosticados com TEA.

Recentemente a Universidade de Indiana, nos EUA, por meio do seu laboratório de psicologia, tem desenvolvido e utilizado do improviso com as crianças autistas para verificar o desenvolvimento dos mesmos por meio desta técnica teatral. O objetivo principal de tal feito estava centrado em verificar como o teatro poderia ser utilizado para auxiliar as crianças com TEA a compreender e expressar emoções. De acordo com a equipe, interpretar a linguagem corporal e as emoções dos outros pode muitas vezes ser desafiador para pessoas com autismo. E no momento em que se comunicam, muitos dos sinais não são interpretados por eles.

Neste experimento, a aplicação do teatro na sala com autistas se deu por meio do uso do teatro pantomima, um mediador comandou o jogo teatral, ditando as expressões a serem realizadas pelos alunos, tais quais: triste, feliz, susto, raiva, e assim utilizaram deste método para ajudar os autistas a expressar-se e a ler as expressões das demais pessoas. Nesta vertente ainda há a possibilidade de se aplicar de maneira moderada o método de Feuerstein, questionando aos alunos como chegaram à conclusão de que determinada pessoa estava triste, o porquê dela sentir-se assim, o que demonstrou que a mesma estivesse entristecida, quais coisas nos deixam abatidos e assim trabalhando a interação de alunos autistas por meio de um debate sutil e eficiente.

Junto aos autistas, o teatro pode ser de grande importância no seu desenvolvimento psicomotor, segundo um estudo publicado na revista Journal of Autism and Developmental Disorders, crianças que foram submetidas a um programa de 10 semanas com interação direta com o teatro por meio de aulas de encenação, com uma carga horário de 40 horas semanais, tiveram um desenvolvimento significativos nas questões de interação social, se comparados com crianças que não foram submetidas a tal experiencia. De acordo com Blythe Corbert, professor na Universidade de Vanderbilt, o estudo, financiado pelo Instituto Nacional de Saúde Mental, forneceu evidências convincentes dos benefícios do teatro para melhorar as competências sociais nos alunos com TEA.

Se pretendemos desenvolver o interno de uma criança autista, precisamos estimular o seu externo, devemos tentar alcançar o que ainda não foi alcançado, se como educadores queremos que tais crianças se desenvolvam em questões sociais e psicológicas precisamos buscar o que for necessário para que tal desenvolvimento aconteça de acordo com a necessidade do educando, mostrando as possibilidades e caminhando de mãos dadas com a criança especial sem necessariamente impor nada ao mesmo, pois Vygotsky (2004) diz que não se impõe nada, que não é possível mudar o outro, mas é a própria pessoa que modifica suas reações inatas pela experiência com os objetos do mundo.

Todos nós somos seres pensantes, porém não temos possibilidades de adentrar na cabeça de uma pessoa e observar que pensamentos as rondam enquanto estão paradas observando distraidamente as coisas ao seu redor, a maioria das coisas que trazemos em nossa mente, está rodeada de imaginação e de fantasia, muitas vezes observamos crianças falando sozinhas, isso mostra que a imaginação delas é muito mais aberta que a de um adulto, assim sendo, seu mundo de fantasia pode vir a ser mais forte do que o nosso, agora imaginemos o de uma criança ou de um adolescente com NEE, que não pode falar, que não consegue ouvir, que não consegue interagir, mas que com certeza imagina, segundo Vygotsky:

Onde a criação de algum tipo novo de estrutura concreta, um novo quadro da realidade, de uma corporificação criativa de algum tipo de ideia, torna-se indispensável para o processo de compreensão ou para o processo da atividade prática, lá encontramos a fantasia adiantando-se Fantasia é uma das manifestações criativas do homem, e isto é especialmente verdadeiro na adolescência, quando a união com o pensamento em conceitos ocorre e passa por desenvolvimentos significativos neste aspecto objetivo. Ambos os canais se encontram em estado complexo de entrelaçamento e ambos cooperam e influenciam no desenvolvimento da imaginação. (1994, p. 285)

Estamos sendo pretenciosos ao investir nos alunos na área educacional e abandona-los na fase adulta, mais que simplesmente investir, precisamos prepara-las para a vida adulta, em especial os alunos com NEE.

Não se trata simplesmente de ensinar o uso do teatro por si só, mas de se utilizar das potencialidades que o mesmo despertará nos alunos especiais, a capacidade de educar suas emoções, de perceber o mundo além das cores, despertar o artista no autista, uma vez que a arte faz esse trabalho de mediação entre a realidade e fantasia possibilitando ao aluno a capacidade de perceber o mundo muito além do que os envolve, no entanto, os alunos devem fazer parte de todo o processo criativo, pois estas atividades são essenciais para que a inclusão aconteça de verdade, pois todos os alunos estarão interagindo entre si, Ferreira, afirma:

O Teatro, quando experienciado na sua função performativa (função em que os alunos participam como atores no processo), promove a socialização entre os participantes num ambiente de cooperação e criação artística. Para além disto, assistir a espetáculos de Teatro, tem um efeito pós-cognitivo ao ampliar a conceção do público acerca dos campos de fenómenos apresentados, levando a analisar novos pontos de vista, generalizando e unificando factos que até então estavam dispersos. (s/d, s/p)

Educar um aluno artisticamente não significa dizer que estaremos treinando o mesmo para ser ator ou atriz, mas que estamos educando-os a serem mais racionais, mais críticos e no caso dos alunos autistas, significa dizer que os mesmos estão sendo trabalhados de maneira a desenvolver seu psicossocial, ajudando-os em seu processo de desenvolvimento, já que pessoas que conseguem se expressar por meio da arte são capaz de ver a sociedade de uma maneira mais afetiva, assim sendo, possuem mais interesse em fazer parte dela e o seu desenvolvimento se torna um constante processo de aprendizagem, despertando potencias que até então estavam adormecidas independente das dificuldades.

De acordo com Silva (2012), além de contribuir com o próprio desenvolvimento dos alunos, o teatro também permite que as potencialidades escondidas sejam reveladas, capacidades estas que talvez os próprios educandos desconhecessem em si, pois o teatro é uma das formas de alcançar a todas as pessoas, com ele podemos identificar não apenas as expressões da arte, como também atividades educacionais, terapêuticas e de treinamento que são capazes de acionar atividades potenciais que estão ligadas diretamente com o processo de aprendizagem, comportamento e até mesmo de cura e de bem estar.

No entanto percebe-se na sociedade uma raiz de preconceito ao se pretender unir teatro e educação, pois as pessoas gostam de assistir as apresentações, é um mundo maravilhoso, ver a realidade sendo distorcida ou vista por outros ângulos, do ponto de vista de pessoas que a veem com outros olhos, mas quando se fala em teatro educação, muitas falácias preconceituosas vem a tona, ainda que não de maneira direta, mas de modo que faça com o que o teatro caia em descrença como metodologia de inclusão, por falta de maior atenção as potencias que ele pode trazer para o desenvolvimento e para a inclusão dos alunos com NEE. Segundo Silva:

Percebe-se que existe a falta de uma análise mais apurada em relação aos efeitos causados pelos jogos teatrais na educação, principalmente sobre algumas questões subjetivas das crianças e adolescentes, que sabemos serem responsáveis por um grande número de diagnóstico de fracasso em nossas escolas e que, infelizmente, tem se tornado recorrente. (2012. s/p)

Utilizar-se do teatro em sala de aula é uma possibilidade de inclusão e de desenvolvimento não apenas de alunos autistas, mas de todos, ao inserirmos tal arte cênica no campo educacional estamos propondo que os alunos trabalhem em conjunto, de maneira que possam se ajudar mutuamente, não havendo então separação, seja por cor, religião ou deficiência, podendo assim estimular uma verdadeira inclusão no processo educacional, possibilitando que até o próprio aluno diagnosticado com TEA passe a se ver de maneira diferente, pois, para Salgado:

O teatro é uma ferramenta lúdico-pedagógica de extrema grandeza, pois trabalha aspectos psicológicos, motores, cognitivos e sociais, assim como outras formas de arte. O teatro como potencializador da subjetivação torna-se um instrumento de inclusão para aqueles que dificilmente teriam a oportunidade de se verem e serem considerados como cidadãos. (2013, s/p)

Se analisarmos um pouco da trajetória da arte aqui citada, durante um certo tempo era talvez impensável que pessoas especiais desenvolvessem atividades especificas, muito menos a artes cênicas, devido as PNEE terem limitações corporais e intelectuais, porém com o passar do tempo, as coisas foram mudando e hoje se percebe em nossa sociedade a gama de artistas especiais, dançarinos sindrômicos, atores surdos, músicos cegos, dançarinas cadeirantes, artistas autistas, tudo isso serve como prova de que as artes tem sim o poder de mudar vidas, de restaurar e de possivelmente ser influenciadora de desenvolvimento para os alunos com necessidades educacionais especiais, e principalmente em caráter inclusivo dos mesmos, especialmente nos autistas.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os alunos autistas precisam ser de fato incluídos na educação brasileira, porem o que se percebe é apenas uma inserção dos mesmos no âmbito educacional, muito se estuda sobre o TEA e as demais deficiências, assim como muito se fala sobre inclusão, porém a mesma precisa parar de ser simplesmente debatida, e passar a ser realizada e o professor como aquele que auxilia e que faz a inclusão acontecer precisa ser o primeiro a estar aberto as diferentes formas de realizar a mesma, por meio de teatro, dança, musica ou qualquer que seja, desde que de fato aconteça o processo inclusivo.

Muito foi feito para que os alunos com NEE chegassem as escolas, porém ainda há muitas medidas que precisam ser observadas, tomadas e cumpridas, muito se faz ao se debater sobre a inclusão de autistas, mas ainda há muito mais para ser feito para que a verdadeira inclusão aconteça, percebe-se uma necessidade urgente nas alterações das metodologias de inclusão de alunos diagnosticados com TEA, pois os mesmos em sua maior parte do tempo ficam alheios as demais pessoas, “esquecidas” em seu “canto especial”, focado muitas vezes unicamente no professor que lhe acompanha, em atividades especificas, sendo deixados de lado das atividades que requerem maior interação, as metodologias atuais não garantem um desenvolvimento máximo dos alunos autistas, é necessário repensar os métodos.

Por meio desta pesquisa conclui-se que o teatro unido a educação de alunos diagnosticados com TEA nas fases finais do ensino fundamental será de grande auxilio ao professor no processo de inclusão dos mesmos, contribuindo assim de maneira significativa, não apenas em termos inclusivos, mas também em questões de desenvolvimento psíquico e social, colaborando então para a edificação de pessoas capazes de construir uma sociedade verdadeiramente inclusiva, independente das diferenças que nos separem.

9. REFERÊNCIAS

BRASIL, Lei nº 12764, de 27 de dezembro de 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm Acesso em: 18 jan. 2020.

DRAGO, Rogério. Sindromes: conhecer, planejar e incluir. Rio de Janeiro: Wak, 2012.

FERREIRA. Telmo Alexandre da Silva. Importância do teatro na inclusão: promoção das interações sociais num grupo de alunos com dois elementos com necessidades educativas especiais. Disponível em: https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/28090/1/TELMO_FERREIRA.pdf Acessado em: 17 jan. 2020

KLIN, Ami. Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral. Yale Child Study Center, Yale University School of Medicine, New Haven, Connecticut, USA. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-44462006000500002&script=sci_arttext Acessado em: 17 jan. 2020.

LIS, Elza Aparecida Buenos. O Ensino da arte e a formação de docentes ensinando a ensinar. 2008. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1585-6.pdf Acessado em: 04 jan. 2020.

MERCADANTE, Marcos T.; ROSÁRIO, Maria C. Autismo e cérebro social. São Paulo: Segmento Farma, 2009.

OMAR. Amanda Caline da Silva. Teatro e deficiência: em busca de uma metodologia inclusiva. XIII CONGRESSO INTERNACIONAL DE TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO.

Disponívelem:http://www.pe.senac.br/congresso/anais/2015/arquivos/pdf/poster/TEATRO%20E%20DEFIC I%C3%8ANCIA%20em%20busca%20de%20uma%20metodologia%20inclusiva.pdf. Acesso em: 17 jan. 2020.

SAETA, B. R. P. O Contexto social e a deficiência - psicologia: teoria e prática. São Paulo: 1999.

SALGADO. Eliana de Cássia Vieira de Carvalho. Desenvolvimento humano,

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SILVA, Ana Lucia Ribeiro Da. O jogo teatral e a inclusão dos portadores de deficiências. VI Coloquio internacional “Educação e Contemporaneidade”. 2012. Disponível em: http://educonse.com.br/2012/eixo_11/PDF/12.pdf Acessado em: 20 jan. 2020.

WERNECK, C. Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva. Rio de Janeiro: WVA, 1997. In: Mariana Prioli; SCOPONI, Renata de Souza; FERREIRA, Solange LEME; Vieira, Camila Mugnai. Deficiência e teatro: arte e conscientização. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-98932007000100012&script=sci_arttext Acessado em: 22 jan. 2020.

Rafael de Souza Lopes - FAEL - Aluno do curso de pós-graduação em Educação Especial e Inclusiva – Pedagogo pela Universidade Federal do Pará.

Orientador: Profº MsC. Gilmar Dias - FAEL - Administrador, Matemático, Tecnólogo em Processos Gerenciais, Pedagogo pela UFPR, Mestre em Educação pela UTP, Especialista em Educação a Distância, Especialista em Adm. Financeira e Informatização e professor da pós-Graduação da FAEL


Publicado por: Rafael de Souza Lopes

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