O BULLYING NAS ESCOLAS: Precisamos Conhecer Para Combater

índice

Imprimir Texto -A +A
icone de alerta

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

1. RESUMO

Este trabalho traz “Bullying nas escolas” como tema. Tem como objetivo apresentar aos leitores o quão nocivo é o bullying não só ao tempo escolar, mas ao futuro dos envolvidos. Apresentará suas características, seus personagens, suas consequências, bem como as cicatrizes físicas e psicológicas que ele causa, que podem ser irreversíveis, provocando prejuízos permanentes. Este tema precisa ser debatido pela comunidade escolar, famílias, autoridades, e toda a sociedade, para sabermos identificar o bullying, preveni-lo e combatê-lo. Desta maneira, acabaremos com este mito de que o bullying é brincadeira, frescura ou coisa da idade. Esta pesquisa foi elaborada através de obras bibliográficas, de autores e pesquisadores do fenômeno ou de assuntos relacionados, que tratam este tema com seriedade, dando a devida importância a este problema endêmico que toma conta das escolas do mundo inteiro. Assim sendo, espera-se que este trabalho colabore para que esta violência seja combatida.

Palavras-chave: Violência, humilhação, ameaças, opressão.

This work brings “Bullying in schools” as its theme. It aims to show readers how harmful bullying is not only to school time, but to the future of those involved. It will present its characteristics, its characters, its consequences, as well as the physical and psychological scars it causes, which can be irreversible, causing permanent damage. This topic needs to be debated by the school community, families, authorities, and the whole society, so that we know how to identify bullying, prevent it and fight it. In this way, we will end this myth that bullying is play, freshness or age. This research was elaborated through bibliographic works, of authors and researchers of the phenomenon or related subjects, that take this theme seriously, giving due importance to this endemic problem that takes over schools all over the world. Therefore, it is hoped that this work will collaborate so that this violence is combated.

Keywords: Violence, humiliation, threats, oppression.

2. INTRODUÇÃO

Esta pesquisa abordará o tema bullying, este fenômeno que pode ocorrer em qualquer ambiente, sendo mais comum no ambiente escolar, caracterizando-se através de ameaças, intimidação, xingamentos, humilhação e agressões, que podem ser físicas ou psicológicas.

O termo bullying tem origem inglesa, “bully” quer dizer “brigão”, “valentão”, já o sufixo “ing” significa ação continuada, pois o bullying é um tipo de violência recorrente, contra uma ou mais vítimas, causada por um indivíduo ou grupo.

Diante de tantas tragédias ocorridas no interior de escolas em todo o mundo, ganhando grande repercussão das mídias, sabendo-se que estas foram motivadas ou oriundas do bullying sofrido por seus autores em seu ambiente escolar, causando traumas e um desejo por vingança. Considerando tudo isso, faz-se necessária uma conscientização, o conhecimento sobre este fenômeno endêmico que traz tantos danos, principalmente às suas vítimas.

A violência escolar é um dos maiores desafios do século XXI, o que antes era algo eventual, tornou-se frequente desde os anos 1990, quando ocorreram assassinatos seguidos por suicídios de alunos ou ex-alunos, contra outros estudantes ou funcionários das escolas, o que fez com que o bullying fosse cada vez mais estudado em busca de respostas sobre suas causas, motivações, consequências e soluções.

O bullying pode causar danos imediatos e a longo prazo, não só às suas vítimas, mas a todos os envolvidos e à sociedade em que vivem, pois esses indivíduos irão crescer e futuramente se tornarão adultos problemáticos.

Os danos imediatos que o bullying nas escolas pode causar são: o baixo rendimento, o desinteresse e a evasão escolar, comportamentos agressivos, isolamento, alterações físicas, distúrbios alimentares, problemas do sono, ataques de pânico e ansiedade, consumo de álcool e drogas, podendo levar as vítimas ao suicídio. Além dos danos imediatos, o bullying causa danos a longo prazo também, como a insegurança, a baixa autoestima, a incapacidade de se construir ou manter relacionamentos interpessoais, isolamento, estresse, baixo rendimento profissional, vários distúrbios psicológicos, entre outros problemas.

Especialistas defendem que a maioria das crianças que sofrem bullying nas escolas, possuem uma forte tendência a se tornarem adultos problemáticos, tudo dependerá do estado emocional de cada um e do suporte que receberão em casa e na escola, portanto, é necessário que toda a comunidade escolar, as famílias, as autoridades, a sociedade, conheçam o bullying, saibam identificar para prevenir e combater.

O objetivo deste trabalho será expor as principais características do bullying e tentar encontrar formas para sanar este problema, analisando as possíveis causas, os personagens deste fenômeno, as consequências e as medidas que podem ser tomadas contra a violência escolar.

Será desenvolvida uma revisão bibliográfica, baseada nos estudos e teorias de especialistas no assunto, como as autoras: Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro Mentes Perigosas nas Escolas: Bullying, e Cléo Fante, autora do livro Fenômeno Bullying, além da contribuição teórica relacionada ao tema, do médico, psicólogo e filósofo francês Henry Wallon, do Patrono da educação brasileira, Paulo Freire, entre outros.

Foram utilizados livros impressos e digitais, documentos, e outros materiais encontrados em sites, destacando a importância de se combater a violência entre alunos. Pois somente através do conhecimento sobre o fenômeno, será possível compreender a importância de uma educação para a paz, seja em casa ou na escola, fazendo com que o ambiente escolar seja agradável e saudável a todos.

Este trabalho será dividido em três capítulos, sendo o primeiro sobre as principais características do bullying, seus personagens, suas possíveis causas, e suas consequências. Já o segundo capítulo abordará o papel da escola, dos professores e da família perante o bullying. Concluindo, o terceiro capítulo, abordará sobre a importância do combate ao bullying através da lei, da conscientização, principalmente, através da educação para um bom convívio não só na escola, mas em toda a vida.

3. CAPÍTULO 1: O BULLYING NAS ESCOLAS

O bullying é um fenômeno social de grande relevância, pode ocorrer em qualquer ambiente, sendo mais comum nas escolas, se caracteriza por intermédio de comportamentos violentos, em forma de agressões físicas ou psicológicas.

A pedagoga brasileira, doutora em educação e criadora do Projeto Educar para a Paz, Cléo Fante, expõe em seu livro Fenômeno Bullying: Como prevenir a violência nas e escolas e educar para a paz, todas as características do fenômeno, além de trazer possíveis ações e medidas contra o bullying.

[...] bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e materiais, são algumas manifestações do comportamento bullying. (FANTE, 2005. Pag. 28 e 29).

A psiquiatra brasileira, autora do livro Mentes Perigosas nas Escolas: Bullying, Doutora Ana Beatriz Barbosa Silva, também aborda em seu livro além das características, as consequências que o bullying traz, partindo de sua experiência como psiquiatra, seus conhecimentos técnicos sobre o assunto, para Silva (2010) o termo bullying, não possui palavra na língua portuguesa, de tradução equivalente ao seu significado, “Se recorrermos ao dicionário, encontraremos as seguintes traduções para a palavra “bully”: indivíduo “valentão”, “tirano”, “mandão”, “brigão”. (SILVA, 2010. Pag.21).

Apesar do termo bullying ser considerado novo, a violência escolar é algo que sempre existiu, mas ganhou grande repercussão nas mídias após a década de 1990, quando grandes tragédias contendo assassinatos, geralmente seguidos por suicídios começaram a ocorrer com frequência no interior de escolas no mundo todo, tragédias estas, motivadas ou oriundas do bullying sofrido pelos autores por parte de outros alunos, causando traumas e desejo de vingança.

[...] A atenção da sociedade só se volta para o problema quando os meios de comunicação, de forma sensacionalista, divulgam as tragédias ocorridas nas escolas, gerando insegurança para a comunidade escolar, sem que suas verdadeiras causas sejam enfocadas. (FANTE, 2005. Pag.30).

Pode-se dizer que o bullying, afeta toda a sociedade, é um problema endêmico, que precisa ser combatido, considerando que a violência é prejudicial a todos que de certa forma a vivenciam, trazendo danos, prejudicando o bom andamento e desempenho escolar de todos os alunos, fazendo com que a escola seja um ambiente desagradável e traumático para as vítimas, atrapalhando também o trabalho dos educadores.

Ao contrário do que muitos pensam, o bullying não é culpa da vítima, por ela ser diferente ou mais fraca.

Quem inaugura a tirania não são os tiranizados, mas os tiranos.

Quem inaugura o ódio não são os odiados, mas os que primeiro odiaram. Quem inaugura a negação dos homens não são os que tiveram a sua humanidade negada, mas os que a negaram, negando também a sua.

Quem inaugura a força não são os que se tornaram fracos sob a robustez dos fortes, mas os fortes que os debilitaram. (FREIRE, 1987. Pag. 27).

De acordo com Freire (1987), o problema está no opressor, são eles quem trazem consigo sentimentos ruins, causadores de todo o problema, o ódio, a tirania, a negação, a intolerância, a discriminação, o preconceito, são exemplos de sentimentos ruins que podem gerar violência.

3.1. Tipos de Bullying Escolar

O Bullying nas escolas, pode ocorrer de diversas formas, existe o bullying verbal, físico, material, psicológico, moral e sexual. Reforçando o que já foi abordado no capítulo anterior, entre as formas de violência física ou psicológica, estão: humilhações, exclusões, xingamentos, apelidos pejorativos, ridicularizações, ofensas, insultos, gozações, ferimentos, empurrões, puxões de cabelo, chutes, tapas, murros, roubos de pertences, perseguições, chantagens, ameaças, abusos, assédios, entre outros.

De acordo com Silva (2010), o agressor costuma usar vários tipos de agressões contra a vítima, de forma velada ou explícita.

Algumas atitudes podem se configurar em formas diretas e indiretas de praticar o bullying. Porém, dificilmente a vítima recebe apenas um tipo de maus-tratos, normalmente, os comportamentos desrespeitosos dos bullies costumam vir em “bando”. (SILVA, 2010. Pag. 22).

A violência velada é mais difícil de ser descoberta pelos profissionais da escola, a vítima sofre calada com medo de ser ainda mais prejudicada, já a violência explícita acontece na frente de todos, muitas vezes mesmo o agressor sendo repreendido ele não para.

Observa-se que, geralmente, indivíduos mais fortes se utilizam de indivíduos mais fracos para se divertirem, maltratando-os, produzindo muito sofrimento às vítimas, o desequilíbrio de poder entre as partes é bem característico do bullying, seja pela diferença de força ou número de agressores em relação às vítimas.

3.2. Os Personagens do Bullying

É necessário distinguirmos e classificarmos os protagonistas da violência nas escolas, para que possamos identificar melhor este problema, facilitando assim a prevenção e o combate.

Nesse cenário, temos as vítimas, os agressores e os espectadores. Geralmente as vítimas são alunos com pouca habilidade de se socializar, são tímidos, reservados, com dificuldade em reagir as provocações e agressões dirigidas contra eles, tipicamente, as vítimas apresentam características que a diferenciam do resto da turma, podem ser gordas, magras demais, muito altas ou baixas demais, ter orelhas de abano, nariz grande, usar óculos, ter manchas, marcas ou cicatrizes na pele, serem deficientes, ou até mesmo, de outra raça, religião, orientação sexual ou classe socioeconômica. Qualquer coisa que possa fugir ao padrão, é considerado um motivo para a perseguição e agressões por parte dos opressores.

No fenômeno bullying, permanece sempre a lei do silêncio, ninguém viu, ninguém sabe, ninguém ajuda, por isso, a vítima não revida.

Se há na classe um aluno que apresenta características psicológicas como ansiedade, insegurança, passividade, timidez, dificuldade para impor-se de ser agressivo e com frequência se mostra fisicamente indefeso, do tipo bode expiatório... ele logo será descoberto pelo agressor. Esse tipo de aluno representa o elo frágil da cadeia, uma vez que agressor sabe que ele não vai revidar se atacado, que se atemorizará, vindo talvez a chorar, não se defenderá e ninguém o protegerá dos ataques que receber. (FANTE, 2005. Pag. 48).

É bastante comum que a vítima esconda as agressões de pais e professores, essas agressões acontecem repetidas vezes, mesmo assim, não são percebidas pelos educadores ou gestores escolares, fazendo com que continuem sem nenhuma intervenção.

Os agressores, na maioria das vezes são alunos indisciplinados, desrespeitosos e maldosos, geralmente se impõem através de força física ou assédio psicológico, podem agir sozinhos ou em grupos, não gostam de serem frustrados nem contrariados, apresentam aversão às normas, podem se envolver em atos de vandalismos e delitos, o desempenho escolar pode ser deficitário, o que não significa que apresentem alguma deficiência intelectual ou de aprendizagem, alguns inclusive, apresentam rendimentos acima da média.

Para Silva (2010) a falta de afetividade é considerada um dos fatores desencadeantes dessa crueldade por parte dos agressores, e podem originar de temperamento ou de criação, trazendo à tona o desrespeito, ausência de remorso ou culpa, que já os acompanham desde os primeiros anos escolares. “[...] O que lhes falta de forma implícita, é afeto pelos outros [...]”. (SIILVA, 2010. Pag. 43 e 44).

Temos também, os espectadores, eles testemunham as agressões, sem tomar nenhuma atitude para ajudar as vítimas, assumem essa postura passiva com medo de virem a ser as próximas vítimas, se sentem de mãos atadas ou as vezes se divertem com o que presenciam, manifestando apoio moral aos agressores, incentivando, rindo, se divertindo.

Os espectadores, na maioria das vezes, se omitem, fazendo com que a violência cresça e fique impune. Sobre os espectadores, Silva salienta que:

[...] Não se envolvem diretamente, mas isso não significa, em absoluto, que deixam de se divertir com o que veem. É importante ressaltar que misturados aos espectadores podemos encontrar os verdadeiros articuladores dos ataques, perfeitamente “camuflados” de bons moços. Eles tramaram tudo e, agora, estão apenas observando e se divertindo ao verem o circo pegar fogo. (SILVA, 2010. Pag. 46).

Na maioria das vezes, estes que testemunham são também os que provocam as brigas, e passam despercebidos como se fossem inocentes.

Não haveria oprimidos, se não houvesse uma relação de violência que os conforma como violentados, numa situação objetiva de opressão.

Inauguram a violência os que oprimem, os que exploram, os que não se reconhecem nos outros; não os oprimidos, os explorados, os que não são reconhecidos pelos que os oprimem como outro.

Inauguram o desamor, não os desamados, mas os que não amam, porque apenas se amam.

Os que inauguram o terror não são os débeis, que a ele são submetidos, mas os violentos que, com seu poder, criam a situação concreta em que se geram os “demitidos da vida”, os esfarrapados do mundo. (FREIRE, 1987. Pag. 27).

Para Freire (1987), os oprimidos se conformam com a situação, fazendo com que ela se perpetue, que não somente são opressores os que violentam, como também, os que são egoístas, que não se reconhecem no outro, que só amam a si próprios, que não se colocam no lugar do outro, que não tem empatia.

3.3. As Possíveis Causas do Bullying

Para Wallon (1986) a criança é moldada de acordo com o meio onde vive, incorporando valores morais e sociais. “[...] Os meios em que a criança vive e aqueles com que ela sonha, constituem a forma que emolda sua pessoa. Não se trata de uma marca aceita passivamente”. Wallon (1986. Pag. 168, 169 e 171. Apud ALMEIDA, 2000. Pag.79).

Ainda segundo Wallon (1986) a criança vai construindo sua personalidade de acordo com as experiências que vivencia em casa com a família, se formando com tudo o que vê, ouve ou convive. Baseada na teoria Walloriana, sobre o ingresso da criança na escola, Almeida (2002) salienta:

Quando sai da idade puramente familiar e entra na idade escolar formal, por volta dos 6 ou 7 anos, tenta seu ingresso em um grupo, normalmente voltado para brincadeiras e jogos, no qual pode ser aceita ou não, e no qual exercitará diferentes interações [...]. (ALMEIDA, 2002. Pag. 80).

Quando chega na idade escolar, a criança tenta se encaixar em grupos, mas nem sempre é aceita, quando essa criança fica de fora das “panelinhas” se sente excluída, podendo vir a se tornar uma vítima do bullying, já a criança que traz um comportamento mais agressivo de casa, ela costuma se impor mais, acaba sendo aceita pelo grupo por seus integrantes se sentirem intimidados, o medo de se tornarem vítimas faz com que eles acabem cedendo, a personalidade das crianças ditará os tipos de interações que terá com o grupo, caso essa criança seja considerada diferente do resto da turma, ou seja, caso ela possua alguma característica diferente ou se mostre mais fraca, acabará se tornando presa fácil para o agressor, que é o aluno que geralmente aprende a violência em casa e já entra na escola com essa bagagem negativa, essa violência aprendida em casa pode ser por exemplo: brigas entre os pais ou outros familiares, discussões, abusos, maus-tratos, etc.

Outra situação que pode ocorrer é quando a criança é mimada, pensa que pode tudo, a criança se acostuma a ser o centro das atenções em casa, os pais ou responsáveis não colocam limites, quando vai para a escola ela sente a necessidade de receber atenção também, de estar no poder, ela acaba descontando suas frustrações em outros alunos, que provavelmente ao não conseguirem reagir acabam se tornando vítimas. Podemos ver que tanto a falta de limites ou a violência presenciada em casa, prejudicam imensamente a formação moral, psicológica e social da criança.

A violência doméstica é uma das maiores causas dos comportamentos agressivos reproduzidos na escola, e essa reprodução, é a forma que o indivíduo encontra para se vingar de tudo o que passa.

Em estudos realizados por Fante (2005), em seu projeto Educar para a Paz, foram detectadas as seguintes informações sobre a agressividade:

As causas desse tipo de comportamento, segundo especialistas, devem-se à carência afetiva, à ausência de limites e ao modo de afirmação do poder dos pais sobre os filhos, por meio de “práticas educativas” que incluem maus- tratos físicos e explosões emocionais violentas. (FANTE, 2010. Pag. 61)

A necessidade de ser notado ou de exercer autoridade, ou por ser a maneira que o agressor tenha aprendido a lidar com suas inseguranças e frustrações pessoais, faz com que o agressor tenha a necessidade de reproduzir a violência em busca de autoafirmação, satisfação e reconhecimento perante os outros.

Um dos maiores problemas do fenômeno, é que muitas pessoas, entre familiares, educadores e alunos, acreditam que o bullying é “brincadeira”, “frescura” ou “coisa da idade”, essa crença, faz com que a prevenção e o combate ao bullying sejam prejudicados, perpetuando esse tipo de problema tão prejudicial a estudantes de todas os níveis escolares.

4. As Consequências do Bullying

O bullying traz graves prejuízos ao sistema socioeducacional comprometendo o desenvolvimento emocional e psicológico das vítimas.

Essas crianças feitas de vítimas dentro da escola sentem-se, por um longo período de tempo solitárias, isoladas, incompreendidas, indefesas, desconectadas, quase que inalcançáveis pelos procedimentos educacionais, precursores da paz, como o amor, a aceitação, o afeto, o respeito, a tolerância, a amizade, a lealdade, o reconhecimento do direito de ser diferente, o senso de proteção coletiva, a cidadania, conceitos sobre o bem- comum, relações hierárquicas estimulantes da motivação e da autossuperação – prerrogativas a que têm direito os alunos-cidadãos, usuários de nossas escolas e que, em última instância, são nossos filhos. (PEDRA, 2005. Pag. 11).

Ainda de acordo com Pedra (2005), o bullying afeta todos os envolvidos, mas a vítima com certeza é a mais prejudicada, por sofrer suas consequências não só no período escolar, mas por toda a vida. Podendo prejudicar sua construção familiar, a criação dos filhos, suas relações profissionais, também sua saúde física e mental. “[...] O trágico é que as vítimas desse fenômeno são feridas na área mais preciosa, íntima e inviolável do ser – a sua – alma, sem levarmos em conta as consequências, que não serão poucas, para os agressores e espectadores”. (PEDRA, 2005. Pag. 12). O bullying deixa marcas profundas em suas vítimas, mas pode prejudicar também os agressores e espectadores, estimulando a delinquência, criando cidadãos agressivos, estressados, abusadores, resistentes a frustrações, podendo gerar psicopatologias, doenças psicossomáticas e transtornos mentais, ainda na infância e adolescência, a violência pode atrapalhar o processo de socialização e aprendizagem, causando prejuízos ao desenvolvimento da inteligência. Muitas vezes os traumas não são superados, fazendo com que esse indivíduo seja um adulto com problemas nas relações interpessoais.

De acordo com Silva (2010), no exercício de sua profissão, foram observados em seus pacientes, crianças, adolescentes e adultos, diversos problemas relacionados ao bullying sofrido por eles, a psiquiatra descreve sintomas psicossomáticos como: cefaleia, insônia, cansaço, náuseas, diarreia, alergias, crises de asma, boca seca, tremores, calafrios, tonturas, alergias, palpitações, desmaios, tensão muscular e formigamentos. Também foram observados problemas como: Transtorno do pânico, fobia escolar, fobia social (Transtorno de Ansiedade Social – TAS), Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), depressão, anorexia, bulimia, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), envolvimento com drogas, esquizofrenia, suicídio e homicídio.

Vale destacar que os problemas relatados, em sua maioria, apresentam uma marcação genética considerável, ou seja, podem ser herdados dos pais ou parentes próximos, no entanto, a vulnerabilidade de cada indivíduo, aliada ao ambiente externo, às pressões psicológicas e às situações de estresse prolongado, pode deflagrar transtornos graves que se encontravam, até então, adormecidos. Desta forma, devemos refletir de maneira bastante conscienciosa que, além do bullying ser uma prática inaceitável nas relações interpessoais, pode levar a quadros clínicos que exijam cuidados médicos e psicológicos para que sejam superados. (SILVA, 2010. Pag. 32).

Portanto, a importância do reconhecimento da necessidade de se combater o bullying é de extrema urgência, para garantir um ambiente escolar que seja saudável e acolhedor a todos os alunos, proporcionando não só uma aprendizagem eficaz, como uma vida melhor aos estudantes.

5. CAPÍTULO II: O BULLYING NÃO É BRINCADEIRA

O fenômeno bullying, as vezes é inocentemente ou equivocadamente confundido com brincadeira, por parte daqueles que nunca foram vítimas ou nunca presenciaram esse tipo de violência em sua época escolar, sem se darem conta do alto poder de destruição que o bullying traz às suas vítimas. Para podermos diferenciar o bullying de brincadeira precisamos analisar se é divertido para todos, se todos estão confortáveis com a situação.

Segundo Fante (2005), um pesquisador da universidade de Bergen, chamado Dan Olweus, que inclusive foi o pioneiro a nomear o fenômeno como bullying, desenvolveu alguns critérios para diferenciar a violência escolar de outras possíveis interpretações, como incidentes e gozações, ou brincadeiras entre iguais. Foram pesquisados cerca de 84 mil estudantes, mais de 300 professores e em torno de mil pais. A partir desses estudos feitos por Olweus, Fante ressalta que:

É comum entre os alunos de uma classe a existência de diversos tipos de conflitos e tensões. Há ainda inúmeras outras interações agressivas, às vezes como diversão ou como forma de autoafirmação e para se comprovarem as relações de força que os alunos estabelecem entre si. Caso exista na classe um agressor em potencial ou vários deles, seu comportamento agressivo, influenciará nas atividades dos alunos, promovendo interações ásperas, veementes e violentas[...]. (FANTE, 2005. Pag. 47).

O bullying traz inúmeros danos às vítimas, problemas que podem ser irreversíveis e as prejudicar em todos os seguimentos de suas vidas. O bullying só é brincadeira quando é prazeroso para todos, quando todos se divertem, se causa algum tipo de sofrimento, não pode ser considerado normal, o bullying precisa ser levado à sério, precisa ser tratado, as vítimas desenvolvem inúmeros problemas, em um momento de desespero podem chegar ao suicídio.

Existe um mito de que brincadeiras agressivas, brigas e desentendimentos entre crianças é algo normal, “coisa da idade”, “coisa de criança”, principalmente quando se refere a meninos, devido ao fato de serem historicamente fortes, valentes, corajosos, ainda nos dias atuais, muitos acreditam que indivíduos do sexo masculino não podem chorar ou demonstrar fragilidade, esse tipo de crença faz com que alguns grupos criem indivíduos ignorantes, competitivos de um modo ruim, em que não aceitam perder, precisam sempre estar provando sua força, até mesmo em brincadeiras acabam sendo agressivos, gerando conflitos, que diferentemente do bullying, acabam se resolvendo, e é esse tipo de comportamento que pode confundir as pessoas ao redor, não sabendo realmente se é brincadeira ou violência. Sobre os dias atuais, Silva ressalta que:

Atualmente, tudo pode ser diferente. Temos o conhecimento, ou podemos adquiri-lo a qualquer momento, só depende da nossa vontade. O que antes era algo sem definição específica, hoje tem nome e sobrenome, descrição e reconhecimento psicossocial. (SILVA, 2010. Pag. 14).

Podemos ver que é preciso evoluir, hoje temos a nosso dispor todas as informações sobre vários assuntos que precisam ser discutidos, em especial o bullying, este fenômeno precisa ser identificado precocemente, para que os danos sejam mínimos. É necessário que os pais, responsáveis, professores e pessoas que convivam com a criança ou adolescente, aprendam a identificar os sinais de possíveis agressões que podem estar sofrendo, para que possam dar o suporte necessário, a ajuda pode ser psicológica ou alguma intervenção que acabe com o problema.

Atualmente ele já é definido como um problema de saúde pública e, por isso mesmo, deve entrar na pauta de todos os profissionais que atuam na área médica, psicológica e assistencial de forma mais abrangente. A falta de conhecimento sobre a existência, o funcionamento e as consequências do bullying propicia o aumento desordenado no número e na gravidade de novos casos, e nos expõe a situações trágicas isoladas ou coletivas que poderiam ser evitadas. (SILVA, 2010. Pag. 14).

Percebe-se que que o bullying não é problema somente da comunidade escolar ou da família, é necessária uma união entre todos, para que possam oferecer soluções para prevenir e combater o fenômeno. A violência que começa na escola ou em casa, mais cedo ou mais tarde, acaba refletindo na sociedade, por isso, é obrigação de todos nós zelarmos de nossas crianças e adolescentes, eles são o futuro.

5.1. O Papel da Escola Perante o Bullying

De acordo com a Base Nacional Comum Curricular – BNCC (2018), que é um documento normativo que determina um conjunto de aprendizagens fundamentais para o desenvolvimento integral da criança e contribui para a formação e exercício da profissão dos educadores, dentre uma dessas competências, há uma que representa bem a necessidade, a importância e o compromisso de cuidar do bem-estar do aluno:

Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. (BRASIL, 2018. Pag. 10).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996 (BRASIL, 1996), determina que a escola deve garantir uma educação de qualidade, que não se preocupe somente com a aprendizagem de disciplinas, mas com o bem-estar físico, psicológico, moral, emocional e social do aluno, através do diálogo, do acolhimento, da empatia, da resolução e prevenção de conflitos, além de garantir que não pode haver qualquer tipo de discriminação.

A violência na escola deve ser combatida e prevenida, impedindo a sua proliferação, portanto, a escola tem o dever de tomar todas as providências necessárias contra o fenômeno bullying e qualquer outro tipo de problema que tire da criança seus direitos, para isso, os profissionais de educação devem se capacitar para atuar na melhoria do ambiente e das relações, promovendo a tolerância, a solidariedade e o respeito às características individuais, utilizando estratégias que se adequem a realidade escolar que envolvam toda a comunidade escolar.

Os cursos de graduação devem focar sua atenção na necessidade de prevenção à violência. Para isso, devem oferecer aos futuros profissionais de educação os recursos psicopedagógicos específicos que os habilitem a uma atuação eficaz em seus locais de trabalho para que eles utilizem metodologias estimuladoras do diálogo como forma de resolução de conflitos, que promovam a solidariedade e a cooperação entre alunos, criando com isso um ambiente emocional que incentive a aceitação e o respeito às diferenças inerentes a cada indivíduo; que promovam a tolerância nas relações interpessoais e socioeducacionais, proporcionando assim a construção de um ambiente alegre e criativo, resultando na melhoria, do processo de ensino-aprendizagem. (FANTE, 2005. Pag. 169).

A escola precisa ser um ambiente seguro, harmonioso e acolhedor a todos os alunos, proporcionando paz, ensino de qualidade e relações saudáveis, todos os profissionais precisam ser solidários e eficientes para que tudo ocorra bem e os alunos sejam cuidados, protegidos e tenham uma boa aprendizagem. Porém, a tendência é que a comunidade escolar reproduza a sociedade em que está inserida, sobre este fato, Silva (2010), enfatiza que:

No sistema escolar, encontramos outro micromundo, uma subdivisão denominada universo dos estudantes. Infelizmente em grande parte das escolas, sejam elas públicas ou particulares, deparamo-nos com uma hierarquia que quase reproduz os sistemas de castas das sociedades mais desiguais. No mundo dos estudantes, três classes costumam se distinguir de forma bem-marcada: os populares, os neutros e os excluídos. (SILVA, 2010. Pag. 79).

Apesar de existir essa reprodução, o esperado é que a escola seja um local de igualdade, sem distinção alguma, para isso, toda a comunidade escolar precisa estar atenta a essas “panelinhas” formadas por alunos, buscando formas de incluir, socializar, ensinar, incentivar e trabalhar o bom convívio, a empatia, o respeito ao próximo, evitando a segregação. De acordo com Pedra (2005), tentar combater a violência escolar sem dar a devida importância ao tema, não teria nenhuma eficácia, o psicólogo e pesquisador do fenômeno bullying afirma que:

Dessa forma, buscar soluções para a violência entre escolares desconsiderando a relevância desse fenômeno seria o mesmo que tratar superficialmente o assunto, sem levar em conta talvez uma das suas mais importantes vertentes. (PEDRA, 2005. Pag. 12).

Pode-se perceber a importância de que toda a comunidade escolar conheça todos os aspectos do bullying, sobretudo suas consequências, para que sejam desenvolvidas estratégias de prevenção e intervenção. Precisamos compreender a necessidade de todo o corpo escolar se conscientizar e aceitar que a violência ocorre em todas as escolas do mundo, afetando alunos, prejudicando o rendimento escolar também, o trabalho dos profissionais.

O fenômeno atualmente é considerado um dos maiores desafios para alunos, pais e educadores, infelizmente nem toda a comunidade escolar e famílias parecem ter consciência disso, Fante salienta:

A intolerância, a ausência de parâmetros que orientem a convivência pacífica e a falta de habilidade para resolver os conflitos são algumas das principais dificuldades detectadas no ambiente escolar. Atualmente a matéria mais difícil da escola, não é matemática ou biologia; a convivência, para muitos alunos de todas as séries, talvez seja a matéria mais difícil de ser aprendida. (FANTE, 2005. Pag. 91).

Segundo uma pesquisa diagnóstica feita com alunos de escolas localizadas em diferentes estados brasileiros, denominada Diagnóstico Participativo das Violências nas Escolas (2016) foram entrevistados jovens alunos e professores dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, o intuito dessa pesquisa foi e continua sendo contribuir para o combate da violência nas escolas, através desses levantamentos e entrevistas foi constatado que a violência nem sempre ocorre somente no interior das escolas, mas também em seus arredores, portanto, o cuidado deve ser mais amplo, para isso, se faz necessário que gestores, funcionários, alunos, moradores, autoridades, todos estejam atentos.

Um grande problema é a violência velada que já foi citada anteriormente nesta pesquisa, quando o bullying é considerado “brincadeira” ou “coisa da idade”, nem todos conseguem perceber, muitas vezes os agressores deixam de agredir, disfarçam quando outros se aproximam, a vítima com medo, não consegue se manifestar pois sabe que será punida depois. A cultura do medo faz com que não só as vítimas, mas também alunos espectadores finjam que nada aconteceu e se calem.

Cultura do medo, o que se sustenta inclusive por lei do silêncio. Ninguém viu e nem ouviu, como também pela falta de segurança. Tal cultura se alimenta não só de ambiências escolares, mas também por violências que se dão nos arredores. (ABRAMOVAY, 2016. Pag. 54).

Alguns funcionários da escola as vezes, acabam se omitindo, seja por minimizarem o problema ou acreditarem que é uma brincadeira passageira, alguns gestores as vezes não presenciam, por passarem a maior parte do tempo em suas salas, tomam conhecimento se caso os alunos precisam ser encaminhados à diretoria. Podemos observar que a comunicação, os debates sobre o bullying, entre gestores, professores, funcionários, familiares e alunos são de estrema necessidade. Esses diálogos podem ser de grande ajuda para sanar não só o problema do bullying, mas do baixo rendimento e evasão escolar, problemas comportamentais, entre outros. Ainda de acordo com o Diagnóstico Participativo das Violências nas Escolas (2016):

Na pesquisa se pediu aos jovens que após assinalarem que itens lhe incomodariam na escola a partir do cardápio da pesquisa, que escrevessem recorrendo-se a uma palavra porque tais ocorrências na escola lhe incomodariam e que outros construtos mencionariam. Muitos se estenderam em mais do que o pedido, sugerindo vontade de comunicar, de ser ouvido, e que as críticas, o sentir-se incomodado, transmite a perspectiva paradoxal, de que há esperança, porque os jovens se preocupam em relação ao estado das escolas, com a qualidade das relações sociais, com o comportamento de colegas, com o tipo de normas de convivência, com vários tipos de violências nas escolas, inclusive porque querem uma outra escola, querem ter condições de aprender e parcerias para que essa vontade se realize. Segundo uma jovem aluna: Alguns professores, não são todos, me incomodam porque não veem para escola, ou seja, faltam muitas aulas, e quando resolvem vir passam trabalhos e diversas coisas para escrever que não vamos aprender. Ela quer aprender e sugere que há professores e professores e que se pode contar com muitos. (ABRAMOVAY, 2016. Pag. 55).

O diálogo acrescido de campanhas e projetos antibullying, podem ser a chave para o sucesso na prevenção e combate ao bullying, por isso é de extrema importância e necessidade que a escola abra esse espaço ao aluno para que os alunos possam manifestar suas inseguranças, desejos, sentimentos, necessidades. No Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (1990) Lei nº 8.069, capítulo 2, nos artigos 17 e 18, é assegurado que:

Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.

Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. (BRASIL, 1990. Pag. 21 e 22).

Podemos observar que, por lei, todas as crianças e adolescentes têm o direito de serem cuidados, protegidos, para que possam ter qualidade de vida em todos os aspectos com paz e segurança. Esse compromisso começa em casa e se estende à escola e à toda a sociedade, tudo o que possa causar dor, sofrimento, angústia, prejuízo, perigo ou qualquer malefício à vida, fere os direitos assegurados por lei, e pode ser passível de punição legal. Sobre o papel da escola, Almeida (2010), ressalta que:

A escola não pode esquecer que toda prática verdadeiramente pedagógica tem por finalidade o desenvolvimento da pessoa e o fortalecimento do eu. Sua intenção, portanto, tem de ser levar a fortalecer sua autoestima, ter confiança em si e nos outros, ter respeito próprio. E, assim fortalecido, pode ser solidário em suas relações. (ALMEIDA, 2010. Pag. 85).

Observar-se que, a escola deve cuidar do psicológico do aluno, o fazendo acreditar no seu potencial, alimentando sua autoestima e a confiança na sua capacidade, estimulando a construção de boas relações interpessoais, oferecendo um ambiente seguro, afetivo e acolhedor, onde ele se sinta valorizado e feliz. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990) Lei nº 8.069, artigo 53:

Art. 53. A criança e adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes:

I - Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - Direito de ser respeitado por seus educadores;

III - Direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;

IV - Direito de organização e participação em entidades estudantis; V - Acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.

V - Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. (BRASIL, 1990. Pag. 43 e 44).

A escola deve considerar que está formando cidadãos, que as crianças e adolescentes são o futuro, serão eles que irão dar continuidade a nossa cultura, princípios, valores e conhecimentos.

5.2. O Bullying Na Sala de Aula e o Papel do Professor Perante a Violência Entre Alunos

Crianças e adolescentes de todas as idades sofrem terrivelmente pela violência escolar, muitas das vezes dentro da sala de aula, sob a vista dos professores que, ocupados com o trabalho, acabam não vendo ou percebendo o bullying, ou talvez porque os agressores contam com o apoio dos colegas para encobrirem os atos violentos e agirem como se nada estivesse acontecendo.

Segundo Fante (2005), a vítima não reage por imaginar que nenhum dos colegas irá a ajudar, permanecendo calada, enquanto os espectadores se dividem, alguns se divertem, outros ficam indiferentes ou temem virar alvo do valentão e se tornarem as próximas vítimas. Fante destaca que:

É comum que a vítima não conte para os professores e para os pais o que lhe acontece na escola. Também é comum que os outros alunos participem dos maus-tratos ao bode expiatório, já que ele é frágil e não se atreve a revidar e, por outro, que nenhum dos alunos da classe sairão em sua defesa [...] (FANTE, 2005. Pag. 49).

Os professores precisam estar atentos a tudo o que acontece na sala de aula, há uma necessidade de serem capacitados para que saibam lidar com o problema, considerando que o baixo rendimento dos alunos pode ser visto como um resultado ruim dos seus trabalhos, “[...] Acreditamos que os professores deveriam ser preparados para educar a emoção dos seus alunos”. (Fante, 2005. Pag. 68). Sobre a atuação do professor, ela reforça:

[...] Caso ele não tome consciência de que está convivendo num ambiente onde uma grave síndrome social se desenrola, poderá sofrer consequências, aliás, esse é um tema inédito que precisa ser objeto de pesquisa. Esperamos que, no menor espaço de tempo possível, tenhamos no país professores que estejam a par desse tipo de comportamento violento, sendo capazes de distingui-los dos comportamentos ditos normais entre os alunos, contribuindo assim para fazer da escola o melhor lugar do mundo, propício para o estudo e para o trabalho. (FANTE, 2005. Pag. 68).

Professores precisam estar sempre se atualizando, cada vez mais o ensino, a capacitação e a formação estão se voltando para o lado emocional, psicológico e social, a educação foi evoluindo com o passar do tempo, mas ainda falta muito para se obter maiores resultados no quesito afeto. Alguns professores não sabem reagir ou lidar com os comportamentos agressivos na sala de aula, as vezes até perdem a paciência agindo com agressividade. “[...] Não nos esqueçamos de que o “modelo vicário” é uma das formas mais comuns de aprendizado por imitação”. (FANTE, 2016. Pag. 68). Acredita-se que autoritarismo e intimidação por parte do professor para lidar com os maus comportamentos em sala de aula acabe sendo uma tentativa frustrada e prejudicial, pois o aluno acaba imitando o que aprende, reproduzindo o que vê, isso gera um ciclo violento que traz problemas para todos.

Podemos averiguar que professores e funcionários também são vítimas de bullying, são desrespeitados, insultados, inclusive, já ocorreram muitas agressões a profissionais da educação, além de assassinatos cometidos por alunos, seguidos de suicídio, verdadeiras tragédias ocorridas em várias escolas de diversas partes do mundo, muitas vidas de estudantes, professores e funcionários de escolas ceifadas, tragédias essas, motivadas pelo bullying sofrido no ambiente escolar, afetando esses indivíduos, fazendo com que se tornaram assassinos mesmo ainda sendo muito jovens. Basta fazermos uma busca por essas notícias e teremos uma chuva de tragédias relacionadas ao bullying.

Sozinho o professor não consegue educar, que é necessária a união de toda a comunidade escolar e as famílias, buscando formas de prevenção e combate ao bullying, e uma boa educação para convivência desde os primeiros anos de vida, no ambiente familiar e escolar. O Brasil é campeão mundial de violência contra professores, de acordo com Gomes (2014), em uma pesquisa realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que apontava o Brasil como líder em casos de violência contra professores. No estudo realizado chamado Talis (Teaching and Learning Internacional Survey), com base em um questionário de longa escala focado na aprendizagem nas escolas e no trabalho dos professores, realizado com mais de 100 mil diretores e professores dos anos finais do Ensino Fundamental e Médio de 34 países. Gomes (2014), Cita que:

A pesquisa revelou que 12,5% dos professores entrevistados no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana, ocupando a pior posição nessa área dentre todos os países pesquisados, que apresentam a média de 3,4%. Colados no Brasil estão a Estônia (11%) e a Austrália (9,7%). Coréia do Sul, Malásia e Romênia, apresentaram índice zero de violência contra os professores. O Brasil, com sua cultura de tolerância zero, se transformou no campeão mundial em violência contra professores; a Coreia do Sul tem violência zero. Por que somos tão diferentes? (GOMES, 2014).

De acordo com o site G1 (2017), a violência contra professores no Brasil persiste, em pesquisa realizada pelo Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo, aponta que 44% dos professores atuantes em escolas estaduais já haviam sofrido agressões. “Entre as agressões que 84% dos professores afirmam já ter presenciado, 74% falam em agressão verbal, 60% em bullying, 53% em vandalismo e 52% em agressão física”. (Tenente & Fajardo, 2017).

Diante desse cenário, podemos perceber a necessidade de um trabalho conjunto entre toda a comunidade escolar, famílias, sociedade, é preciso uma mobilização da parte de todos para que o bullying pare de prejudicar a aprendizagem dos alunos e o trabalho dos profissionais da educação, para que todos possam desempenhar bem os seus papéis em paz e harmonia. Para Freire (1987), o ideal é que o oprimido deixe seu desejo de voltar contra o opressor e faça o contrário, desperte a humanidade naquele que o feriu física, psicológica ou moralmente:

A violência dos opressores que os faz também desumanizados, não instaura uma outra vocação – a do ser menos. Como distorção do ser mais, o ser menos leva os oprimidos, cedo ou tarde, a lutar contra quem os fez menos. E esta luta somente tem sentido quando os oprimidos, ao buscar recuperar sua humanidade, que é uma forma de criá-la, não se sentem idealistamente opressores, nem se tornam, de fato, opressores dos opressores, mas restauradores da humanidade em ambos. E aí está a grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos – libertar-se a si e aos opressores [...]. (FREIRE, 1987. Pag. 20).

Ainda segundo Freire (1987), o oprimido possui a tarefa de se libertar e libertar o opressor da violência sofrida ou causada, talvez acreditando que todo opressor já foi oprimido e que reproduz o que sofreu, mas que esse ciclo de violências acaba quando é despertado o lado humano do ser, a sua sensibilidade, afetividade, os sentimentos bons, acabam contagiando e dando exemplo aos que oprimem.

Almeida (2010), descreve algumas situações que necessitam da atenção do professor, e sugere ações:

[...] O professor observará atentamente as relações das crianças com seu meio e momentos mais propícios à explosão de conflitos (professor fora da classe, cansaço acumulado, ausências de tarefas e fome, são alguns deles). Entra aí seu papel de organizador do ambiente, transformando um frio ambiente físico em um ambiente acolhedor, cheio de atrativos, que desperte o interesse da criança e proporcione atividades significativas, demonstrando que o professor está percebendo as necessidades de seus alunos naquele momento. (ALMEIDA, 2010. Pag. 84).

Deduz-se que, o professor precisa estar preparado para perceber as dificuldades e necessidades de seus alunos, e procurar saná-las, além de oferecer acolhimento, atenção, empatia, afeto, pois, muita das vezes esses alunos não encontram isso em casa.

5.3. A Família dos Alunos Perante o Bullying

No Brasil, todas as crianças e adolescentes são amparadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), um instrumento normativo que lhes assegura gozar de todos os direitos essenciais à pessoa humana, além de todas as facilidades e oportunidades que possam contribuir para o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, com dignidade e liberdade. Além de contar com a proteção da lei, também são amparados por outros meios. De acordo com o ECA (1990), Lei nº 8.069, artigo 3º, parágrafo único:

[...] Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem. (incluído pela lei nº 13.257, de 2016). (BRASIL, 1990. Pag. 15).

Podemos ver que, todas as crianças e adolescentes, sem nenhuma distinção, possuem os mesmos direitos, que precisam ser atendidos, seja em casa, na escola, ou em qualquer outro ambiente. Ainda segundo o ECA (1990), Lei nº 8.069, artigo 4º:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990. Pag. 16).

Como podemos analisar, é dever de toda a sociedade, do poder público e da família, garantir todos os direitos às crianças e adolescentes. Os familiares, são os primeiros e principais indivíduos que devem proporcionar, buscar, ou exigir, além de todos os direitos de estudo, moradia, saúde, cultura, segurança e lazer, que também, as crianças e adolescentes não sejam vítimas de discriminação, exploração, opressão, negligência, violência ou crueldade, sendo qualquer um desses atos passíveis de punição legal, qualquer tipo de castigo ou correção que seja usado como forma de educar, corrigir ou punir são proibidos por lei. Mahoney (2000), salienta que a criança precisa conviver e trocar experiências com outros indivíduos:

A presença do outro não só garantirá a sobrevivência física, mas também a sobrevivência cultural pela transmissão de valores referentes à técnica, crenças, ideias e afetos predominantes na cultura. Isso se fará gradualmente por meio dos recursos intelectuais de que a criança dispõe a cada momento [...]. (MAHONEY, 2000. Pag. 15).

Observa-se que, é fundamental para a vida de qualquer indivíduo, tanto para sua sobrevivência física, quanto para a sobrevivência cultural que se dará de acordo com os recursos que tiver em cada etapa da vida. A família tem a obrigação de proporcionar uma criação adequada às suas crianças e adolescentes, garantindo-lhes além de todos os direitos já citados, bons exemplos, um ambiente que seja agradável, saudável, harmonioso e livre de qualquer tipo de violência. Os pais ou responsáveis precisam transmitir valores, princípios, educação, afeto, entre outros cuidados.

Ainda de acordo com Mahoney (2000, pag. 15): “[...] qualquer atividade motora tem ressonâncias afetivas e cognitivas; toda disposição afetiva tem ressonâncias motoras e cognitivas; toda operação mental tem ressonâncias afetivas e motoras [...]”. Entende-se que qualquer atividade vivida pela criança, a afeta tanto física, quanto cognitiva e psicologicamente. Portanto, deduz-se que, o meio e os personagens que fazem parte da criação da criança, podem a formar, transformar, influenciar e a afetar, tanto de maneira positiva como negativa, por isso, a família junto com a comunidade escolar precisam não só colaborarem de forma positiva para o desenvolvimento físico, psicológico, emocional e moral das crianças e adolescentes. “É contra a natureza tratar a criança de forma fragmentária. Em cada idade constitui um conjunto indissociável e original. Na sucessão de suas idades é um único e mesmo ser em metamorfose”. Wallon (1981: 233. Apud MAHONEY, 2000. Pag. 17).

Sobre o modelo familiar, Fante (2005) ressalta que:

[...] O modelo educativo familiar será sempre o grande referencial na vida de cada indivíduo. Se for positivo, o indivíduo desenvolverá autocompreensão, autoaceitação, autoestima, autoconfiança e capacidade de autossuperação na vida. Do contrário, terá o seu desenvolvimento psicossocial e socioeducacional prejudicado, tornando-se exposto a todo tipo de comportamento violento e de influência negativa, por falta de referenciais e de segurança emocional. (FANTE, 2005. Pag. 184 e 185).

Os pais ou responsáveis pela criança devem influenciá-la de forma positiva, se usarem de violência, criarão indivíduos violentos. A autoridade dos pais deve ser alicerçada na compreensão, em conversas, devem procurar estabelecer uma relação de amizade e confiança, certamente terão filhos mais respeitosos, educados, tranquilos, civilizados, conscientes e amorosos. São muitos os benefícios de se conseguir conquistar o respeito e admiração daqueles indivíduos que sempre esperam o melhor de quem os ensinam.

6. CAPÍTULO III: COMO PODEMOS COMBATER O BULLYING NAS ESCOLAS

Como já foi visto, infelizmente nem todas as escolas estão preparadas para enfrentar e tratar esse problema, é preciso um interesse de toda a comunidade escolar em se unir na luta contra esse tipo de violência de difícil identificação por se manifestar na maioria dos casos de forma velada, contando com a lei do silêncio, ninguém viu, ninguém fala, ninguém ajuda, é um problema bastante complexo, uma vez que não depende apenas da escola, mas da família, de toda a sociedade, e nem todos estão dispostos a contribuir, seja por negarem a existência do fenômeno, minimizarem ou desconhecerem os prejuízos que o bullying causa. Porém, cada vez mais estão sendo criados projetos de combate ao bullying, atualmente os cursos de formação e capacitação trabalham bastante a questão emocional, psicológica, social, a inclusão que também é uma forma de reduzir o bullying contra deficientes, visto que eles sofrem muita discriminação, entre outras características do bullying.

Inúmeras iniciativas antibullying vêm sendo desenvolvidas nas mais diversas partes do mundo, visando sempre à melhoria da competência dos profissionais e da capacidade de interação social nas relações interpessoais, além da estimulação de comportamentos positivos, cooperativos e solidários. Tais iniciativas veem as escolas como sistemas dinâmicos e complexos, possuidoras de suas próprias peculiaridades devendo-se respeitar as características culturais e sociais de seus componentes [...] (FANTE, 2005. Pag. 92).

Para que funcionem essas iniciativas citadas, Fante (2005) explica que é preciso desenvolver estratégias de acordo com a realidade de cada instituição, e baseadas nessa realidade, ações cotidianas e estratégias podem ser desenvolvidas com o objetivo de minimizar o impacto que o bullying causa na vida escolar e social das suas vítimas, já que a violência pode ser prevenida.

Fante (2005. Pag. 92), ainda acrescenta: “Baseada nessa premissa, durante as últimas décadas, uma grande parte da reflexão pedagógica centrou-se na temática dos valores humanos – a ética, a moral e a cidadania -, visando à redução da violência”. É visível a necessidade de se preparar os professores não só para lecionar as disciplinas tradicionais, mas para saberem como lidar com os problemas que atrapalham a aprendizagem dos alunos e o trabalho dos professores.

Acredita-se que a violência nasce nas relações sociais, para evitá-la é preciso que se ensine a criança desde cedo a saber lidar com frustrações, raivas, a educando de maneira que consiga resolver seus conflitos de forma pacífica, ensinando a solidariedade, o respeito, a empatia, a tolerância e todos os valores necessários para se conviver bem.

A escola pode criar projetos, organizar rodas de conversa, campanha contra o bullying colando cartazes confeccionados pelos próprios alunos, utilizar filmes, livros, histórias sobre bullying, incentivar os alunos a denunciar qualquer comportamento agressivo, aumentar a fiscalização, o ideal seria ter condições de instalar várias câmeras de segurança, detector de metais, como esses recursos são mais inacessíveis às escolas públicas, a melhor alternativa é realmente a educação para o convívio pacífico.

6.1. Algumas Formas de Combate ao Bullying

Muitos projetos têm sido desenvolvidos nas últimas décadas na tentativa de combater a violência escolar, com o objetivo de possibilitar a conscientização, a identificação, e o diagnóstico do fenômeno através de suas características.

Um exemplo, é o Programa Educar para a Paz, sobre seu programa, Fante (2005) destaca que ele se apoia em valores humanos como a tolerância e a solidariedade, fazendo com que os alunos envolvidos aprendam a resolver seus conflitos de forma não violenta, aprendendo na escola para ensinar em casa. Entre as propostas do programa está a conscientização aos alunos partindo de suas próprias experiências vivenciadas, levando-os a pensar nas emoções que tiveram e quais os possíveis motivos dessa conduta; o desenvolvimento da capacidade de empatia que os faça perceber os sofrimentos e implicações gerados pelos comportamentos agressivos, que os alunos se comprometam a transformar a violência em paz.

Fante (2005) ainda reforça que é necessário aumentar a supervisão em todos os espaços das escolas, aumentando o número de funcionários que geralmente é deficitário em escolas públicas, a autora também sugere outra medida que é o disque- denúncia, que seria disponibilizar um meio telefônico em que a vítima denuncie seu agressor, essa medida não só seria disponibilizada ao aluno como também para a família que as vezes necessita de uma orientação ou diálogo sobre situações observadas ou comportamentos apresentados em casa, que possam estar ligados com o bullying. Outra sugestão do Programa Educar para a Paz é que a escola tente tirar dos alunos informações sobre seus sentimentos propondo que façam uma redação, falando sobre suas rotinas, suas experiências escolares, se sofrem maus- tratos, como acontece, quem são seus agressores, enfim, tudo o que acharem necessário, através disso, fica mais fácil saber onde trabalhar. Mais uma medida, seria a criação de um estatuto que repudie o bullying, com regras para convivência, desenvolvido pelos alunos.

É importante que a escola investigue como é a convivência familiar dos alunos para descobrir possíveis causas de comportamentos inadequados ao ambiente escolar, e que estejam atrapalhando suas relações com outros alunos ou com os profissionais da escola. Alguns passos são apresentados para o sucesso do programa, além da conscientização, o compromisso, o conhecimento e a investigação da realidade escolar, a modificação dessa realidade caso necessite de transformações, a adoção de estratégias de intervenção e prevenção, entre outras ações. O combate ao bullying se estende a outras áreas, sobre isso, Silva (2010) ressalta:

Assim como os profissionais de educação, os de saúde mental, os de assistência social, os da área do direito (juízes, promotores, advogados e delegados de polícia) devem adquirir o máximo de conhecimento sobre o fenômeno bullying. Somente dessa forma, ao se depararem com o problema, poderão contribuir para a busca de soluções para cada caso específico. (SILVA, 2010, pag. 156).

Silva (2010) ainda acrescenta que, é preciso agir rápido para que os jovens não se acostumem com a agressividade e pensem que tudo pode ser resolvido com violência, o combate ao bullying, é um trabalho complexo que exige a união de várias esferas para se obter bons resultados. Ao longo das últimas décadas, foram desenvolvidos muitos projetos contra o bullying, todos buscando o mesmo objetivo, minimizar ou erradicar esse tipo de violência, além dos projetos, podemos contar com outros meios como campanhas, debates, leis, entre outros.

De acordo com Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH, 2007), criado pelo comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos, formado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH), Ministério da Educação (MEC), Ministério da Justiça  (MJ) e pela Organização das Nações Unidas em Direitos

Humanos (UNESCO), visando o respeito às diversidades e o exercício da solidariedade, fica determinado que:

São princípios norteadores da educação em direitos humanos na educação básica:

      1. a educação deve ter a função de desenvolver uma cultura de direitos humanos em todos os espaços sociais;
      2. a escola, como espaço privilegiado para a construção e consolidação da cultura de direitos humanos, deve assegurar que os objetivos e as práticas a serem adotados sejam coerentes com os valores e princípios da educação em direitos humanos;
      3. a educação em direitos humanos, por seu caráter coletivo, democrático, e participativo, deve ocorrer em espaços marcados pelo entendimento mútuo, respeito e responsabilidade;
      4. a educação em direitos humanos deve estruturar-se na diversidade cultural e ambiental, garantindo a cidadania, o acesso ao ensino, permanência e conclusão, a equidade (étnico-racial, religiosa, cultural, territorial, físico- individual, geracional, de gênero, de orientação sexual, de opção política, de nacionalidade, dentre outras) e a qualidade da educação;
      5. a educação em direitos humanos deve ser um dos eixos fundamentais da educação básica e permear o currículo, a formação inicial e continuada dos profissionais da educação, o projeto político-pedagógico da escola, os materiais didático-pedagógicos, o modelo de gestão e a avaliação;
      6. a prática escolar deve ser orientada para a educação em direitos humanos, assegurando o seu caráter transversal e a relação dialógica entre os diversos atores sociais. (BRASIL, 2007. Pag. 32).

Segundo o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (2007), as escolas devem promover a conscientização sobre os direitos humanos, sendo coerentes em todas as suas práticas aos valores e princípios, de forma democrática, participativa e coletiva, estruturando-se nas diversidades culturais e ambientais para a garantia do acesso, permanência e formação escolar, democraticamente, sem nenhuma distinção, os profissionais de educação devem ter formação e capacitação, baseadas nos direitos humanos, os materiais, projetos, entre outros aspectos também precisam estar de acordo com esses direitos. Esse plano também propõe algumas ações programáticas, todas baseadas nos direitos humanos.

Através destas propostas, podemos imaginar que o cumprimento desses princípios norteadores, são de extrema importância para se formar cidadãos éticos e solidários, que possam refletir sobre suas ações sabendo distinguir sobre o que é certo ou errado, bom ou ruim, adquirindo uma consciência coletiva e social, aprendendo o respeito, a empatia e os demais valores e princípios essenciais para uma boa convivência, consequentemente diminuir ou acabar com a violência no ambiente escolar.

Verifica-se que, através da valorização a criança pode desenvolver sentimentos e ideias boas, se sentir capaz e importante, podendo assim dedicar-se a algum talento que possua, focando somente no que faz bem, investindo em coisas relevantes para a sua formação como cidadão.

6.2. A Lei Antibullying

No dia 6 de novembro de 2015, foi sancionada a Lei nº 13.185, que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática, trata-se de um programa de combate ao bullying, essa lei descreve suas características e traz algumas medidas, apresentando os seguintes artigos:

Art. 1º Fica instituído o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) em todo o território nacional.

§ 1º No contexto e para os fins desta Lei, considera-se intimidação sistemática (bullying) todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi- la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.

§ 2º O Programa instituído no caput poderá fundamentar as ações do Ministério da Educação e das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, bem como de outros órgãos, aos quais a matéria diz respeito.

Art. 2º Caracteriza-se a intimidação sistemática (bullying) quando há violência física ou psicológica em atos de intimidação, humilhação ou discriminação e, ainda:

I. - Ataques físicos;

II. - Insultos pessoais;

III. - Comentários sistemáticos e apelidos pejorativos; IV - Ameaças por quaisquer meios;

IV - Grafites depreciativos;

V. - Expressões preconceituosas;

VI. - Isolamento social consciente e premeditado; VIII - Pilhérias. (BRASIL, 2015.).

O Plano de Combate à Intimidação Sistemática (2015), determina que o bullying seja combatido em todo o território brasileiro, considerando bullying qualquer tipo violência intencional que afete a vítima, física, moral ou psicologicamente, de forma recorrente e sem motivos aparentes, contra uma ou mais vítimas, causadas por um indivíduo ou um grupo, seja em forma de agressão, humilhação, discriminação, intimidação, ataques, insultos, ameaças, apelidos entre outros. Além destes itens, a Lei 13.185 (2015), em seu artigo 4º, determina:

Art. 4º Constituem objetivos do Programa referido no caput do art. 1º:

I. - Prevenir e combater a prática da intimidação sistemática (bullying) em toda a sociedade;

II. - Capacitar docentes e equipes pedagógicas para a implementação das ações de discussão, prevenção, orientação e solução do problema;

III. - implementar e disseminar campanhas de educação, conscientização e informação;

IV. - Instituir práticas de conduta e orientação de pais, familiares e responsáveis diante da identificação de vítimas e agressores;

V. - Dar assistência psicológica, social e jurídica às vítimas e aos agressores;

VI - Integrar os meios de comunicação de massa com as escolas e a sociedade, como forma de identificação e conscientização do problema e forma de preveni-lo e combatê-lo;

VII. - promover a cidadania, a capacidade empática e o respeito a terceiros, nos marcos de uma cultura de paz e tolerância mútua;

VIII. - evitar, tanto quanto possível, a punição dos agressores, privilegiando mecanismos e instrumentos alternativos que promovam a efetiva responsabilização e a mudança de comportamento hostil;

IX. - Promover medidas de conscientização, prevenção e combate a todos os tipos de violência, com ênfase nas práticas recorrentes de intimidação sistemática (bullying), ou constrangimento físico e psicológico, cometidas por alunos, professores e outros profissionais integrantes de escola e de comunidade escolar. (BRASIL, 2015.).

Podemos ver que a lei não é somente direcionada ao bullying dentro do espaço escolar, mas abrange toda a sociedade, trazendo medidas como: A integração dos meios de comunicação junto às escolas e a sociedade apresentando o fenômeno para que todos possam identificar, se conscientizar, prevenir e combater. Também são determinadas medidas como a promoção da cidadania, empatia, respeito, tolerância, e uma cultura de paz, para que se evite tratar a violência com punição e que se encontre alternativas para que haja mudanças de comportamentos. Para finalizar, a Lei 13.185 (2015), traz outros artigos:

Art. 5º É dever do estabelecimento de ensino, dos clubes e das agremiações recreativas assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate à violência e à intimidação sistemática (bullying).

Art. 6º Serão produzidos e publicados relatórios bimestrais das ocorrências de intimidação sistemática (bullying) nos Estados e Municípios para planejamento das ações.

Art. 7º Os entes federados poderão firmar convênios e estabelecer parcerias para a implementação e a correta execução dos objetivos e diretrizes do Programa instituído por esta Lei. (BRASIL, 2015).

Podemos constatar que, de acordo com a Lei 13.185 (2015) as escolas, clubes e qualquer espaço recreativo tem a obrigação de adotar medidas de prevenção e combate a qualquer tipo de violência, e que Estados e Municípios planejem ações, além de publicarem boletins sobre ocorrências de bullying.

A lei deve ser cumprida, mas para que isso aconteça, faz-se necessário o desejo de querer combater todo tipo de violência, é preciso que haja o interesse de toda a sociedade, dos familiares e da comunidade escolar, em fiscalizar, orientar, educar, ensinar princípios e valores, dar bons exemplos, para crianças e adolescentes, sobretudo, se conscientizarem de que antes de pensar em punir, deve- se se utilizar do diálogo e do afeto, buscando tocar não só a mente, mas também o coração.

7. METODOLOGIA DE PESQUISA

Esta pesquisa qualitativa caracteriza-se como uma revisão bibliográfica, pode ser considerada uma pesquisa de cunho descritivo e exploratório, segundo Gil (2002. Pag. 42) “As pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”. Quanto as pesquisas exploratórias, Gil (2002. Pag. 41) define: “Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses”. A pesquisa descreve as características do fenômeno bullying, seus personagens, suas possíveis causas, as consequências, o papel da escola, dos professores e da família perante o problema, além de explorar mais sobre o tema, buscando conhecimento, reflexões, informações, hipóteses e soluções.

A pesquisa foi elaborada individualmente, com a colaboração da Orientadora, Professora e Mestra, Magali Fernandes, designada pela universidade. Além do fórum de discussão, aulas, modelo e manual de instruções foram disponibilizados na plataforma de estudos, podendo ser consultados quando necessários. foram utilizados para a construção pesquisa: livros, documentos, artigos, imagens, leis, sites. Foram necessários dois meses para a realização de todo o trabalho, que necessitou da leitura de livros, a consulta de documentos, informações, legislação, além de uma busca pelo entendimento, por reflexão, pela correta interpretação de todo o material, exigindo bastante dedicação, para que no fim se alcançasse um trabalho satisfatório.

Gil (2002), salienta que:

A pesquisa é desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos disponíveis e a utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos. Na realidade, a pesquisa desenvolve-se ao longo de um processo que envolve inúmeras fases, desde a adequada formulação do problema até a satisfatória apresentação dos resultados. (GIL, 2002. Pag. 17).

A escolha dos materiais utilizados foi feita após a escolha do tema, buscando atingir o principal objetivo deste trabalho, expor as principais características do bullying possibilitando um melhor conhecimento sobre o fenômeno, buscando encontrar formas para saná-lo, analisando suas possíveis causas, seus personagens, suas consequências, também, as medidas que podem ser tomadas para prevenção e combate. Os livros foram escritos por educadores, psiquiatras e pesquisadores com vasto conhecimento sobre o bullying ou em assuntos relacionados, as demais pesquisas foram feitas por meio de fontes seguras e confiáveis, levando sempre em consideração a veracidade dos dados e informações apresentados em todos os materiais.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A violência nas escolas é um problema muito antigo, que sempre ocorreu, já o termo bullying surgiu na década de 80. Neste trabalho, vimos que é o bullying é o conjunto de comportamentos violentos, que se caracteriza em forma de agressão física, moral e psicológica, repetidas vezes, contra uma ou mais vítimas, causando sérios problemas, principalmente de ordem psíquica, na maioria das vezes sendo irreversível, podendo levar ao suicídio, a delinquência, a tragédias como as que ocorreram no interior de escolas do mundo todo, e foram noticiadas pelas mídias, o bullying é certamente um dos maiores desafios para as escolas, as famílias, e para a sociedade que terá como membros cidadãos com sérios problemas de socialização, personalidade, comportamento, tendo em vista que, não são só as vítimas que carregam problemas pelo resto da vida, os agressores também podem se tornar futuros maridos abusivos, patrões assediadores, criminosos, entre outros diversos problemas.

Com a realização desta monografia, foi possível perceber que, todos os autores estudados, que tratam do tema bullying ou assuntos relacionados, são unânimes em suas teorias quanto a percepção sobre o fenômeno, o papel da escola, dos educadores, da família, dos próprios alunos, também, sobre as consequências terríveis causadas por ele, as possíveis causas e soluções.

O conhecimento sobre o bullying, é o primeiro passo para conseguirmos identificar o problema, diferenciá-lo de brincadeiras, considerando que existe essa crença equivocada de que o bullying é “coisa de criança”, existem brincadeiras mais agressivas entre amigos, mas a diferença é que só é brincadeira quando é divertido, prazeroso, engraçado ou legal para todos, quando ninguém sofre.

A prevenção e o combate são fundamentais para a diminuição da violência nas escolas, afinal, escola é um ambiente que deve trazer coisas boas aos alunos, como: conhecimento, amizades, onde ele deve aprender além de todas as disciplinas, a educação, a autoestima, o respeito, a conviver em paz, o diálogo, a empatia, princípios e valores que os educadores devem possuir para transmitir a eles. Mas este trabalho deve ser em conjunto com a família e a sociedade.

Verificou-se através dos livros, documentos e leis revistos nesta pesquisa, algumas medidas que podem e devem ser tomadas para a prevenção e combate ao bullying, a mais importante entre essas medidas está na educação para um convívio pacífico, através do diálogo, dos bons exemplos, vindos tanto dos familiares, quanto dos educadores. Pode ser observado também que existe uma lei específica de combate ao bullying, que foi sancionada em 2015. Pode-se constatar que o afeto, é imprescindível à educação de crianças, que punições não resolvem o problema, através da valorização de suas qualidades a criança pode descobrir talentos, acreditar na sua capacidade, e consequentemente se entregar a bons pensamentos e ideias.

Desenvolver esta pesquisa, trabalhando este tema, proporcionou-me muitas ideias sobre projetos, atividades que futuramente poderei aplicar aos meus alunos, sugerir à escola que eu vir a trabalhar, caso necessite, aprender sobre condutas e ações que devo adotar para a contribuição da minha profissão, para o bem de meus alunos, todas essas teorias foram de imensa importância para mim e, com certeza são de grande valia para a educação brasileira, através desta pesquisa, pude conhecer leis fundamentais ao trabalho de profissionais da educação, e pais ou responsáveis por crianças e adolescentes, foi um prazer conhecer obras bibliográficas, documentos e teorias riquíssimas.

Tive motivações pessoais para trabalhar com este tema, pois, fui vítima de bullying nos anos finais do Ensino Fundamental, sofrendo agressões físicas e psicológicas que até hoje me causam muitas lembranças tristes, cicatrizes que ficaram, ao ver um texto no Facebook minimizando o bullying, fiquei surpresa ao observar que muita gente acha normal apelidar crianças com apelidos na maioria das vezes ofensivos, racistas, preconceituosos, os danos e o sofrimento que o bullying causam só conhecem quem sofreu, este texto pode ser facilmente encontrado nas redes sociais com uma simples busca pela lupa, compartilhado por pessoas que certamente e felizmente não viveram essa experiência.

Apesar de prazeroso o estudo deste tema tão importante, foi necessária muita dedicação para que eu conseguisse iniciar, desenvolver e finalizar esta pesquisa, passei por momentos extremamente difíceis, como quando estive muito doente devido a infecção pela covid 19, com meu esposo internado, meus filhos também com alguns sintomas, as dores no corpo, indisposição e o medo de que coisas piores viessem a acontecer, quase me fizeram desistir. Além de que, eu não sabia utilizar o word, precisei aprender sobre cada ferramenta, pesquisar tudo sobre TCC, mas sou tão grata, aprendi tanto, muito além do tema, não é fácil fazer um trabalho deste sozinha, mas com a orientação da professora Magali, e palavras de incentivo, que tanto me fizeram bem, ficou mais fácil, consegui!

Percebi a importância de que as pessoas tomem conhecimento dos perigos e se conscientizem de que o bullying é uma crueldade, sobre o seu poder de destruição da vida, da saúde e do futuro dos indivíduos afetados por ele. Tenho filhos, e o que não quero para eles, não desejo para os filhos de ninguém, nenhuma criança merece sofrer, em lugar nenhum. Que este trabalho possa contribuir para uma educação mais humana, empática e feliz, que traga mais reflexão a todos que o acessarem.

9. APÊNDICE 1

Minha maior inspiração para a escolha do tema Bullying Nas Escolas, foi minha experiência própria, fui vítima de bullying do 5º ao 8º ano do Ensino Fundamental, sofri diferentes formas de bullying como: xingamentos, ameaças, roubos dos meus materiais, perseguições, humilhações, apelidos, piadinhas, e agressão física.

Certamente muitos de meus colegas de escola, não se lembram, pois não foi com eles, sempre me perguntei: “Onde estavam quando precisei?” Cresci duvidando de amizades, de relacionamentos, de tudo e de todos. Os que se lembram, possivelmente eram os espectadores, talvez nunca ajudassem por medo de sofrerem as agressões também, ou por se divertirem me vendo sofrer. Talvez hoje, alguns nem gostem de mim, após o começo do bullying até o fim da minha adolescência, fui uma garota de poucos amigos, justamente por ter me sentido sozinha por tantas vezes.

É difícil ser uma pessoa dócil, “boazinha”, quando você fica se perguntando onde estavam seus vários parentes, “amigos” e conhecidos, só na escola havia vários deles, ninguém via quando eu estava apanhando de uma “valentona” na rua? Talvez não, porque quando passava algum adulto, ela disfarçava, era valente pois com ela sempre estavam outras meninas, que se divertiam com as humilhações, os tapas, os puxões de cabelo, os chutes, uma vez ela pegou minha bolsinha e jogou em cima do vestiário da escola, minha mãe já não aguentava mais comprar tanto material para mim, ela me fez tanta coisa ruim que tenho vergonha de contar, e sinceramente, até hoje não sei o motivo de ter apanhado tanto, até hoje tenho mágoas, tristezas, isso já me doeu muito, pois, o agressor nunca sabe o poder de destruição que ele causa na vida de sua vítima, ela não faz ideia, ninguém faz.

As marcas não ficam só nas lembranças, elas acabam interferindo na nossa personalidade. Nunca fui santa, ninguém é, sempre fui uma garota estudiosa, comecei a trabalhar aos 13 anos de idade, mas quando eu sofri bullying, eu era só uma criança, meus pais trabalhavam o dia todo, minha mãe ia várias vezes na escola, não adiantava, não havia lei, se havia, não era utilizada, a equipe escolar toda se omitia aos casos de bullying que ocorriam, eu era só mais um desses casos. Dias atrás, fiquei surpresa ao saber por uma garota que estudava comigo, que cortavam meu cabelo durante a aula, cada dia cortavam um pouquinho e eu nem sentia, fico imaginando se fossem com os filhos dessas meninas, hoje mulheres, como se sentiriam se os filhos sofressem o que elas faziam, presenciavam caladas ou rindo, como será que educaram os filhos? Os meus eu sei que sempre eduquei baseado em princípios, valores, empatia e respeito a todos, e para que nunca se omitam perante uma injustiça ou crueldade, que pelo menos contem para os adultos, chamem ajuda, ajudem.

As consequências que o bullying me trouxe, foram muitas, da pré-adolescência até o Ensino Fundamental, uma queda considerável no rendimento escolar, insegurança, medo, ansiedade, rebeldia, preferência por más companhias, relacionamentos abusivos, baixa autoestima, uso de entorpecentes, álcool, cigarro, depressão, bulimia. A depressão e a ansiedade as vezes ainda tentam voltar, os outros problemas graças a Deus, há muito tempo eu resolvi, através de terapias, melhores escolhas, mudança de vida, focando no trabalho, aos 21 anos fui mãe, o que me fez mudar e querer ser um bom exemplo para meu filho, me casei 3 vezes, mas felizmente há 9 anos conheci o homem da minha vida, que me respeita muito, me sinto valorizada, me apoia tanto, inclusive nos estudos, me formei no Ensino Médio somente aos 34 anos de idade, hoje tenho 37, prestes a fazer 38, nunca imaginei fazer faculdade, se Deus quiser, estarei me formando em breve em Pedagogia, estou cursando também um bacharelado em Biblioteconomia, e irei fazer pós em Filosofia e Sociologia, minha vontade é nunca mais parar, hoje tenho 2 filhos, um rapaz de 16 e uma garotinha de 7, maravilhosos, não posso me esquecer dos meus pais, eles são os maiores responsáveis por eu não ter me perdido nas drogas ou em caminhos errados, a criação que me deram foi como uma base forte, bem construída, que me fez retornar às minhas origens, resgatar o meu eu que havia se transformado em outra pessoa, e hoje poder estar aqui escrevendo esse texto enorme, que me serve como desabafo, inspiração, motivação para ser a melhor educadora possível, e nunca descuidar das minhas crianças, meus futuros alunos.

Para algumas pessoas pode parecer exagero dizer que o bullying foi responsável por tanta coisa ruim, mas é importante destacar que, quando se sofre bullying, a pessoa se sente desvalorizada, acaba se sentindo insuficiente para qualquer coisa, isso afeta todas as áreas da vida, daí a importância de se ter um suporte psicológico, terapia, apoio da família, para que essa pessoa não se transforme em um indivíduo autodestrutivo, que aceite qualquer relacionamento abusivo, qualquer condição de vida. Eu poderia ter tirado minha vida em vários momentos de desespero ou, a ter perdido perante os perigos pelos quais passei, mas graças a Deus eu sobrevivi, estou saudável, sem vícios, feliz e orgulhosa de mim.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAMOVAY, Miriam. (Coord.). Diagnóstico Participativo das Violências nas Escolas: Falam os Jovens. / Miriam Abramovay; Mary Garcia Castro; Ana Paula Silva; Luciano Cerqueira. Rio de Janeiro: FLACSO – Brasil, OEI, MEC, 2016. 97 p. Disponível em: . Acesso em: 16 de abril de 2021.

ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. Henri Wallon: Psicologia e Educação/ Abgail Alvarenga Mahoney; Laurinda Ramalho de Almeida; eat al. Wallon e a Educação (conclusão). São Paulo: Edições Loyola, 2010. Disponível em: < https://docero.com.br/doc/s05c11>. Acesso em: 30 de março de 2021.

BRASIL. Ministério da Educação (MEC); Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED); União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME). Base Nacional Comum Curricular (BNCC): Educação é a Base. Brasília, Distrito Federal. Versão final, 2017. Disponível em: . Acesso em: 27 de abril de 2021.

              . Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente; Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA). Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8.069/90, de 13 de julho de 1990. Brasília, Distrito Federal, 13 de julho de 1990. Disponível em: . Acesso em: 26 de abril de 2021.

              . Ministério da Educação. Lei Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB): Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, Distrito Federal.

Disponível em: . Acesso em 25 de abril de 2021

              . Presidência da República. Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying). Lei nº 13.185. De 6 de Novembro de 2015. Brasília, Distrito Federal. 06 de novembro de 2021. Disponível em:. Acesso em: 01 de maio de 2021.

              . Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos.

Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos / Comitê Nacional

de Educação em Direitos Humanos. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Ministério da Educação, Ministério da Justiça, UNESCO, 2007.

76 p. Disponível em: . Acesso em:  23 de abril de 2021.

FAJARDO, Vanessa; TENENTE, Luiza. Brasil é #1 no Ranking da Violência Contra Professores: Entenda os dados e o que se sabe sobre o tema.

De 22 de Agosto, de 2017. Fonte: G1. Disponível em: . Acesso em: 22 de abril de 2021.

FANTE, Cléo. Fenômeno Bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz/ Cléo Fante. – 2. ed. ver. e ampl, – Campinas, SP: Verus Editora, 2005.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 17ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. Disponível: < https://lelivros.love/book/download-pedagogia-do-oprimido- paulo-freire-em-epub-mobi-e-pdf/>. Acesso em: 23 de março de 2021.

GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa / Antônio Carlos Gil. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002. Disponível em: . Acesso em: 28 de março de 2021.

GOMES, Luís Flávio. Brasil: Campeão Mundial na Violência Contra Professores, 2014. Fonte: Jusbrasil. Disponível em: . Acesso em: 22 de abril de 2021.

MAHONEY, Abigail Alvarenga. (Introdução). Henri Wallon: Psicologia e Educação/ Abgail Alvarenga Mahoney, Laurinda Ramalho de Almeida. São Paulo: Edições Loyola, 2010. Disponível em: < https://docero.com.br/doc/s05c11>. Acesso em: 30 de março de 2021.

PEDRA, José Augusto. (Prefácio). Fenômeno Bullying: Como Prevenir a Violência nas Escolas e Educar Para a Paz/ Cléo Fante. – 2. ed. ver. e ampl, – Campinas, SP: Verus Editora, 2005.

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying: Mentes Perigosas nas Escolas/ Ana Beatriz Barbosa Silva. Rio De Janeiro: Objetiva, 2010.

WALLON, Henry. Henri Wallon: Psicologia e Educação/ Abgail Alvarenga Mahoney, Laurinda Ramalho de Almeida. São Paulo: Edições Loyola, 2010. Disponível em: < https://docero.com.br/doc/s05c11>. Acesso em: 30 de março de 2021.


Publicado por: Patricia Balbino Silva

icone de alerta

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.