O BULLYING NAS ESCOLAS: EDUCAÇÃO, DISCIPLINA E APRENDIZAGEM

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1. Resumo

O objetivo do presente trabalho é analisar o fenômeno bullying, na escola; suas formas, circunstâncias, personagens e consequências. A prática de comportamentos inadequados entre os alunos concorre como agravante nos problemas de desempenho escolar, dificuldades de aprendizagem e evasão escolar. Para o alcance do objetivo buscou-se o entendimento de autores como: Abramovay (2003), Fante (2005), Gonçalves e Tosta (2008), Guareschi e Silva (2008), Middelton-Moz e Zawasdski (2007), Pereira (2002), Silva (2010), Ventura e Fante (2011). Foi utilizado também o referencial teórico de autores como Smith e Strick, (2001), para as reflexões referentes às dificuldades de aprendizagem. Foi utilizada a metodologia de pesquisa descritiva. As perspectivas de soluções mais relevantes apontam para os esforços de diversas esferas da sociedade e do poder público no enfrentamento do problema.

Palavras-chave: Violência. Educação. Aprendizagem. Bullying

2. Introdução

A escola surge na vida das crianças como um ambiente social novo, diverso da família. As relações existentes no ambiente escolar possibilitam o aprimoramento das habilidades sociais e permitem relacionamentos interpessoais fundamentais para o desenvolvimento saudável das crianças. Guareschi e Silva (2008,), escreveram que a escola é um lugar de representações sociais e como tal, de pessoas e relações.

Estudos da década de 80, no Continente Europeu, investigaram determinadas condutas de crianças e jovens no espaço da escola. Diferenciaram brincadeiras saudáveis, naturais para a idade, daquelas cruéis, perversas, e que excedem os limites. (SILVA, 2010). É fundamental, também, de acordo com o que registraram Gonçalves e Tosta (2008), distinguir os comportamentos que caracterizam puramente indisciplina dos que denotam a violência. Ventura e Fante (2011), também escreveram sobre os estudos, em vários países, sobre o fenômeno Bullying, com o objetivo de identificar, caracterizar e buscar soluções para a questão. Acrescentaram que os efeitos negativos do problema podem seguir até a idade adulta. As investigações apontam para a possibilidade da criação de um ambiente moral em que não seja tolerado o bullying na escola. A vítima precisa receber apoio. (PEREIRA, 2002).

O termo Bullying, segundo Guareschi e Silva (2008), no sentido mais restrito, é usado para designar violência, práticas pervesas, humilhações repetidas, constantes, entre adolescentes e criança no ambiente escolar.

Diante do exposto tem-se como objetivo geral deste trabalho analisar o fenômeno bullying, na escola; suas formas, circunstâncias, personagens e consequências.

A escolha do tema justifica-se pela relevância, pela ameaça que representa no desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes. Conforme escreveram Ventura e Fante (2008), esses comportamentos podem afetar gravemente a personalidade de agredidos, agressores e espectadores.

A metodologia utilizada foi a da pesquisa descritiva com coleta de dados no levantamento bibliográfico. As perspectivas de soluções mais relevantes apontam para os esforços da escola, da família, de diversas esferas da sociedade e do poder público no enfrentamento do problema.

Buscou-se o entendimento de autores como: Abramovay (2003), Fante (2005), Gonçalves e Tosta (2008), Guareschi e Silva (2008), Middelton-Moz e Zawasdski (2007), Pereira (2002), Silva (2010), Ventura e Fante (2011). Foi utilizado também o referencial teórico de autores como Smith e Strick, (2001), para as reflexões referentes às dificuldades de aprendizagem.

As perspectivas de soluções mais relevantes apontam para a união de esforços de diversas esferas da sociedade e do poder público no enfrentamento do fenômeno.

3. Conceito e formas de Bullying

A origem da palavra bullying, de acordo com o que escreveram Guareschi e Silva (2008), deriva da palavra inglesa bully, que, como substantivo quer dizer valentão, rude, malvado e, como verbo significa agredir, ferir, brutalizar, perseguir. A respeito do início das investigações sobre bullying Silva (2010) escreveu que esses estudos iniciaram nos anos 80, no continente europeu e fizeram a distinção entre as brincadeiras saudáveis e naturais, típicas dos estudantes e a crueldade acima do limite e do respeito pelo outro. Com relação à distinção entre o que é típico da idade no âmbito das relações escolares e o que extrapola os limites do aceitável, Silva (2010, p. 13), escreveu que “brincadeiras normais e sadias são aquelas nas quais todos os participantes se divertem. Quando apenas alguns se divertem à custa de outros que sofrem, isso ganha outra conotação, bem diversa de um simples divertimento”. Fante (2005), Também chamou a atenção para as brincadeiras inconvenientes que podem disfarçar a intenção de tiranizar, humilhar por diversão. Melo (2010) afirma que o bullying nasce da intolerância, da não aceitação das diferenças e principalmente do desrespeito pelo outro.

É importante para a compreensão do fenômeno levar em consideração a distinção que ensina Lopes Neto (2005), dividindo o bullying em direto quando há um ataque direto às vítimas, com os apelidos, agressões, ameaças, ofensas e o bullying indireto quando acontecem as difamações, a exclusão, isolamento, indiferenças.

Buscando completar a definição sobre bullying, Fante (2005) também citou as acusações injustas, os apelidos cruéis e as gozações. Middelton-Moz e Zawasdski (2007) atentam para o fato de que as agressões são intencionais e repetitivas, com o intuito de causar dor, sofrimento físico e/ou psicológico, buscando a fragilização do outro.

Constantini, (2004, p. 69), escreveu: Bullying “é um comportamento ligado à agressividade física, verbal ou psicológica, exercida de maneira continuada. É a intimidação e violência praticada contra uma pessoa ou grupo”. Fante (2005) chama a atenção de que essas atitudes ocorrem principalmente quando diminui o controle sobres alunos, nos recreios e nas entradas e saídas da escola ou de turnos. Pereira (2002), também registrou que alguns alunos, como defesa, procuram locais isolados durante os recreios e outros intervalos de aulas, imaginando assim estarem protegidos, ficando assim mais vulneráveis e sem ninguém para auxiliá-los.

Por outro lado, as agressões pontuais, troca de ofenças corriqueiras e as que não envolvem desequilíbrio de forças não são consideradas como bullying. Fante e Pedra (2008) também registraram que bullying não são atos de violência pontuais, ofensas trocadas durante discussões acaloradas, mas sim atitudes que violam a dignidade humana, física ou psicologicamente, continuadas e repetidas.

As situações e as circunstâncias em que eventualmente o fenômeno bullying se apresenta são muito variadas e de acordo com Guareschi e Silva (2008), podem compreender diversas ações e comportamentos tais como colocar apelidos, ofender, gozar, sacanear, humilhar, discriminar, excluir, isolar, intimidar, perseguir, agredir, roubar, danificar pertences. Sobre as diversas formas em que bullying pode apresentar-se e os diferentes aspectos do fenômeno, Pereira (2002, p.15), escreveu:

O bullying adquire diversas formas, algumas mais cruéis do que outras, dependendo de muitos fatores. Os estudos sobre a agressividade na escola têm visado o mau trato pessoal, a intimidação e o isolamento social entre pares, crianças ou jovens. Tratam--se de situações em que um ou vários alunos decidem agredir injustamente outro colega e o submetem, por períodos prolongados, a uma ou várias formas de agressão: a agressão corporal, o extorquir dinheiro ou a ameaça. É praticado sobre crianças ou jovens mais inseguros, mais fáceis de amedrontar e/ou que têm dificuldade em se defenderem ou pedir ajuda. Para estes alunos, o ir à escola, em particular os recreios é um drama. No recreio, deixa de existir o controle do professor, ficando mais expostos às investidas dos agressores. Algumas destas crianças são bons alunos e procuram o apoio do professor, muitas vezes de forma indireta questionando-o sobre a matéria, querendo contar algo que se passou em casa, procurando com a permanência do professor na sala, usufruir de proteção e não ser ameaçado.

O fenômeno é apontado, também, como agravante nos problemas de dificuldades de aprendizagem. Conforme escreveu Fante e Pedra (2008), muitas vítimas apresentam queda no rendimento escolar, baixo desempenho, prejuízo na aprendizagem, pedem para trocar de escola e, não raro, os casos acabam em evasão escolar. Guareschi e Silva (2008), apontaram que o bullying é um fenômeno assustador e vem crescendo, atingindo a escola e os alunos naquilo é essencial: a aprendizagem. Necessita atenção e ação de todos os envolvidos com educação.

4. O Contexto e a questão cultural no fenômeno

O tipo mais frequente e visível da violência infantil e juvenil acontece exatamente na escola (NETO, 2005). Mas essa escola está localizada em um bairro, em uma região. É consenso entre os estudiosos do bullying, a influência do meio no fenômeno. Chalita (2008) afirma que o bullying é um fenômeno do meio, do ambiente e de grupo – e grupo em desequilíbrio. Guareschi e Silva (2008), também destacou a influência do meio no fenômeno bullying. Registrou que a cultura e o contexto em que as crianças estão inseridas influencia no modo como lidam com pessoas e problemas.

A questão cultural foi citada por Ventura e Fante (2008), sob o ponto de vista sociológico, como sendo um catalisador para o comportamento associado ao bullying. A própria cultura da comunidade, região de convivência de semelhantes contribuindo para conflitos. A escola muitas vezes acaba refletindo a cultura local da região em que se localiza. Pereira (2002) escreveu que sentimentos como solidariedade, respeito, urbanidade, parecem estar sendo substituídos por intolerância, discriminação e ódio.

Sobre essa questão do ambiente e da cultura Guareschi e Silva (2008), ainda reforçaram e destacaram o quanto é fundamental em relação ao bullying, considerar o meio, o contexto cultural em que os jovens estão inseridos. Registraram:

A cultura e o contexto em que vivemos exercem poder condicionante no processo de gerar problemas e criar soluções. As opções que vem à mente de uma pessoa em situações de desafio são influenciadas por este contexto cultural. Muitos alunos envolvidos no bullying receberam influência cultural que eliminava opções que não envolvessem violência na resolução de problemas do dia-a-dia. (GUARESCHI e SILVA, 2008, P. 54)

Ampliando a questão do contexto para uma dimensão econômico-social, Guareschi e Silva (2008), escreveram sobre o fato de que no atual contexto o neoliberalismo concebe a educação como uma mercadoria, expondo educandos e educadores a um ambiente de competição, opressão e angústia.

5. Personagens do Bullying

Nas situações em que ocorre o Bullying podem estar presentes, segundo Fante (2005), e Pereira (2002), pelo menos cinco papéis protagonizados pelos envolvidos. Os personagens em situação de bullying dividem-se nos papéis de agressor, vítima típica ou passiva, vítima provocadora, vítima agressora e testemunhas.

Quanto ao personagem vítima típica ou passiva, a mais comum do bullying escolar, Silva (2010), os descreve como alunos frágeis fisicamente, com dificuldades de socialização, com detalhes físicos que o distingue da maioria: cicatrizes, machas na pele, nariz ou orelhas protuberantes, são gordos ou magros demais, altos ou muito baixos. Fante (2005), acrescentou que essas vítimas não possuem habilidades ou recursos para se defenderem, e geralmente são tímidos e pouco sociáveis.

Os motivos para o bullying são sempre injustificáveis, são os mais banais possíveis. Silva (2010), lembrou que os indivíduos considerados vítimas típicas podem atrair a atenção dos agressores por demonstrarem qualquer comportamento que fuja ao padrão imposto por este grupo. Chalita (2008), destacou que as vítimas também podem ser personagens escolhidos sem motivo evidente. Hábitos, roupas, falta de habilidade no esporte, raça. Qualquer coisa pode ser motivo para a escolha de uma vítima.

Completando a caracterização do personagem denominado vítima típica, Fante (2005), registrou que, principalmente os meninos, podem apresentar falta de coordenação motora, levando-os a deficiência nos esportes, medo de machucarem-se nas disputas ou brigas, extrema sensibilidade, passividade, submissão.

Quanto às características de uma vítima típica, Silva (2010,p.38), escreveu:

Normalmente, essas crianças ou adolescentes “estampam” facilmente as suas inseguranças na forma de extrema sensibilidade, passividade, submissão, falta de coordenação motora, baixa autoestima, ansiedade excessiva, dificuldades de se expressar. Por apresentarem dificuldades significativas de se impor ao grupo, tanto física quanto verbalmente, tornam-se alvos fáceis e comuns dos ofensores. .

Maldonado (2011), elenca alguns indícios de que o aluno pode ser uma vítima de bullying. Dentre eles destacam-se a ansiedade, falta de concentração nas atividades de aula, saídas mais cedo seguidas, excesso de faltas, pedidos para troca de sala e até mesmo de escola.

Um segundo tipo de vítima possível de ocorrer numa situação de bullying entre escolares é a denominada vítima provocadora. Silva (2010) registrou que essas vítimas invariavelmente provocam os colegas, gerando situações de agressão contra si mesmas, porém sem condições de revidar. Fante (2005), também escreveu sobre as vítimas provocadoras do bullying, registrando que as mesmas além de atraírem as relações agressivas contra elas, são geniosas, brigam quando provocadas mas não tem condições de defesa. Silva (2010), apontou que alunos impulsivos, hiperativos e/ou imaturos podem transformar-se me vítimas provocadoras. Sem a intenção, podem criar um ambiente tenso e agitado na escola chamando a atenção dos agressores.

O terceiro tipo de vítima é a denominada vítima agressora. Segundo Fante (2005), essas vítimas já foram agredidas e reproduzem o comportamento com vítimas mais fracas. Silva (2010), também refere sobre este tipo peculiar de vítima de bullying e explicou que a mesma reproduz a violência sofrida como forma de compensação, criando uma dinâmica de círculo vicioso.

Por sua vez, os típicos autores, ou agressores do bullying escolar, de acordo com o que escreveram Guareschi e Silva (2008) possuem algumas características peculiares, como por exemplo: intolerância, ideia de superioridade, falta de controle de sentimentos, desrespeito às normas, impulsividade, baixa resistência a frustrações.

Silva (2010), acrescentou que os autores de bullying podem ser de ambos os sexos e, junto com traços de desrespeito e maldade em sua personalidade, às vezes possuem um perigoso poder de liderança. Fante (2005), destacou ainda que os agressores no bullying apresenta transtorno de caráter e pode adotar condutas anti sociais e até criminosas como uso de drogas, vandalismo e mesmo roubo.

Ainda segundo Silva (2010), o agressor pode agir sozinho ou acompanhado de seguidores, asseclas, o que amplia a sua área de atuação e o número de vítimas. A respeito do comportamento e da identificação precoce de aspectos comuns entre os autores de bullying a autora registrou:

Os agressores apresentam, desde muito cedo, aversão às normas, não aceitam serem contrariados ou frustrados, geralmente estão envolvidos em atos de pequenos delitos, como furtos, roubos ou vandalismo, com destruição de patrimônio público ou privado. O desempenho escolar desses jovens costuma ser regular ou deficitário; no entanto, em hipótese alguma, isso configura uma deficiência intelectual ou de aprendizagem por parte deles. Muitos apresentam, nos estágios iniciais, rendimentos normais ou acima da média. O que lhes falta, de forma explícita, é afeto pelos outros. Essa afetividade deficitária (parcial ou total) pode ter origem em lares desestruturados ou no próprio temperamento do jovem. Nesse caso, as manifestações de desrespeito, ausência de culpa e remorso pelos atos cometidos contra os outros podem ser observadas desde muito cedo (por volta dos 5 a 6 anos). Essas ações envolvem maus tratos a irmãos, coleguinhas, animais de estimação, empregados domésticos ou funcionários da escola. (SILVA, 2010, P. 44).

Sobre a afetividade em família dos agressores, ou a falta dela, Guareschi e Silva (2008), registraram que são indivíduos, comumente apresentam pouca empatia. Geralmente suas famílias desestruturadas, onde o relacionamento afetivo é raro. Segundo os autores não há uma preocupação dos pais com o comportamento desses filhos. Quanto o procedimento dessas famílias e as características comuns aos agressores, Guareschi e Silva (2008), ainda salientaram que essas, como modelos, também são agressivas ou explosivas quando procuram resolver os conflitos

Finalmente, no cenário de bullying temos os espectadores ou testemunhas. Silva (2010) definiu esses personagens como alunos que testemunham as ações dos agressores contra as vítimas, sem participar das agressões mas também não interferem para evitá-las: não defendem as vítimas apesar de, às vezes, sentirem-se incomodados. Completando a caracterização dos espectadores, Guareshi e Silva (2008), escreveram que os denominados espectadores não sofrem nem praticam o bullying, mas estão presentes quando as ações, agressões são efetivadas. Podem sentir-se incomodados mas inseguros para intervirem.

Em relação aos chamados espectadores Silva (2010) salientou que a “anestesia emocional”, por vezes apresentada por eles, em função do próprio contexto social, pode ser configurada como omissão, o que reforça a impunidade e o crescimento da violência.

6. Consequências. Dificuldades de Aprendizagem

De acordo com o que escreveram Smith e Strick, (2001), apesar de ser objeto de pesquisas nos últimos anos, as dificuldades de aprendizagem ainda são pouco entendidas pela população em geral.

O bullying segundo Pereira (2002), transformou-se em uma forma de comportamento antissocial muito séria e comprometedora que, tanto no ato, como num prazo mais longo, pode prejudicar o desenvolvimento do aluno. Sobre o amplo aspecto das causas desses problemas e a relação com os ambientes, domésticos e escolares, Smith e Strick (2001,p.15), escreveram:

[...] O termo dificuldades de aprendizagem referem-se não a um único distúrbio, mas a uma ampla gama de problemas que podem afetar qualquer área do desempenho acadêmico. Raramente, elas podem ser atribuídas a uma única causa: muitos aspectos diferentes podem prejudicar o funcionamento cerebral, e os problemas psicológicos dessas crianças frequentemente são complicados, até certo ponto, por seus ambientes doméstico e escolar. As dificuldades de aprendizagem podem ser divididas em tipos gerais, mas uma vez que, com frequência, ocorrem em combinaçãoes – e também variam imensamente em gravidade -, pode ser muito difícil perceber o que os estudantes agrupados sob este rótulo têm em comum.

As dificuldades de relacionamento social e a relação com o funcionamento do indivíduo nos diferentes espaços de convívio também foram citadas por Smith e Strick, (2001), salientando que o nível de conforto de um indivíduo no mundo depende da qualidade da vida social, das habilidades nos relacionamentos.

Pereira (2002), e Silva, (2010) registraram que as Implicações negativas a curto, a médio e a longo prazo tanto da vítima quanto do agressor de bullying podem esclarecer desvios no desenvolvimento infantil e juvenil. Guareschi e Silva (2008) alertam para o fato de que crianças vítimas de bullying muitas vezes desenvolvem depressão, pânico, ansiedade, distúrbios psicossomáticos, fobias, que levam a resistência em frequentar a escola, com a inevitável queda de rendimento.

Relacionando as dificuldades sociais, o isolamento, a autoestima, alguns dos sintomas mais visíveis do bullying, com dificuldades de aprendizagem, Smith e Strick (2001), escreveram que crianças e adolescentes com problemas de aprendizagem geralmente relatam também dificuldades nos relacionamentos e convivência com os demais alunos.

As práticas de violência, no ambiente escolar, os comportamentos associados com o bullying e o os efeitos sobre a aprendizagem também foram citados por Abramovay (2003) que apontou a evasão escolar e o baixo desempenho dos alunos levando à repetência como principais efeitos do bullying no ambiente escolar.

7. Enfrentamento do problema e busca de soluções

O enfrentamento e a busca de soluções para o bullying escolar, está apenas começando na grande maioria das instituições de ensino. Melo (2010), cita que programas de enfrentamento ao bullying são desenvolvidos em diversos países. No Brasil a pioneira no desenvolvimento de um projeto Anti bullying foi Cléo Fante com a criação do Programa Educar pela Paz. De acordo com Fante (2005), os objetivos do Programa são conscientização dos alunos sobre o fenômeno. Propõe desenvolver a empatia, o bem comum, os valores humanos. Alunos como agentes de transformação da violência para a cultura da paz.

De acordo com o escreveu Silva, (2010), a maioria das escolas não está preparada para identificar e enfrentar o bullynig. O desconhecimento, a própria negação da existência do fenômeno, comodismo e omissão, contribuem decisivamente para as dificuldades de enfrentamento da questão. E completou:

Para começar a virar esse jogo, as escolas precisam, inicialmente, reconhecer a existência do bullying (em suas diversas formas) e tomar consciência dos prejuízos que ele pode trazer para o desenvolvimento socioeducacional e para a estruturação da personalidade de seus estudantes. Bullying é um fato e não dá mais para botar panos quentes nas evidências (SILVA, 2010, p. 162)

Para Carpenter e Ferguson (2011), a ação anti bullying precisa ser uma política integrada que faça parte da proposta pedagógica da escola, com práticas que resgatem o respeito, os valores e a dignidade da pessoa humana. De maneira objetiva e prática Silva (2010) orienta para que a escola, através de seus profissionais de educação, funcionários, famílias de alunos e comunidade, deve manter-se atenta aos sinais, sintomas do bullying no seu ambiente.

Neste sentido Melo (2010) ensina que as estratégias que norteiam as ações de enfrentamento do bullying são: estratégias gerais, estratégias em sala de aula, estratégias individuais e estratégias familiares. Ampliando esse processo de enfrentamento do bullying, Silva (2010) incluiu a capacitação de profissionais nas escolas para a identificação, diagnóstico e mensuração do problema, bem como a necessidade de um amplo debate com as diversas esferas da sociedade: comunidade, profissionais e instituições.

Neste esforço para combater a violência escolar, o bullying, a familia é fundamental. Para Chalita (2004). Nenhuma célula social é melhor do que a família. A educação informal, a formação do caráter a adoção dos valores éticos e morais são de responsabilidade da família. Sobre família, Fante e Pedra (2008), reforçaram que as vivências e interações socioemocionais na família, positivas ou não, serão a base das construções inconscientes de emoções e pensamentos da criança.

Quanto às responsabilidades da escola no processo de enfrentamento do fenômeno bullying e a busca por apoio em todos os setores da sociedade, comunidade e, inclusive das instituições publicas ligadas à educação, Silva (2010, p. 162), escreveu:

[...] as instiutuições de ensino têm o dever de conduzir o tema a uma discussão ampla, que mobilize toda a comunidade (e seu entorno), para que estratégias preventivas e imediatas sejam traçadas e executadas com o claro propósito de enfrentar a situação. Para tanto, é preciso também contar com a colaboração de consultores externos, especializados no tema e habituados a lidar com a questão. Entre eles, incluem-se profissionais de diversas áreas, como pediatras, psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais. É também imprescindível o estabelecimento de parcerias com instituições públicas ligadas à educação e ao direito, dentre as quais destacamos: Conselhos Tutelares, Delegacias da Criança e do Adolescente, Promotorias Públicas, Varas da Infância e Juventude, Promotorias da Educação.

Guareshi e Silva (2008) ensinaram que não existem culpados absolutos nos casos de bullying. Mesmo os agressores sentem-se tristes e frustrados por não conseguirem ter um comportamento diferente. Silva (2010) chama a atenção para a importância da escola escutar as necessidades e os sentimentos dos alunos a respeito dos problemas de relacionamentos e do modo busca de soluções encontradas por eles.

8. Conclusões

O objetivo do trabalho foi analisar o fenômeno bullying na escola: suas formas, personagens e consequências. A contextualização da questão relacionou o fenômeno com o desempenho dos estudantes e, particularmente com as dificuldades de aprendizagem e a evasão escolar.

Percebeu-se que a ocorrência do fenômeno pode influenciar decisivamente a aprendizagem, ocasionando queda de rendimento escolar, repetência e às vezes causando a própria evasão do aluno.

Observou-se também que as implicações negativas no longo prazo podem acompanhar os indivíduos inclusive na vida adulta, com dificuldades nos relacionamentos, falta de habilidades sociais, isolamento, autoestima comprometida e distúrbios psicossociais, prejudicando a sua qualidade de vida.

A identificação e a descrição dos personagens, mostrou as características dos participantes do fenômeno, bem como sua atuação. A conclusão levou a entender a complexidade do problema, suas consequências e perceber que o enfrentamento das questões decorrentes dele precisa ser feito de maneira conjunta. .É necessário um esforço coletivo das famílias, da escola, do poder público e das diversas instâncias da sociedade envolvidas com a educação.

A continuidade dos estudos, a investigação, o investimento na formação dos profissionais da educação e em programas de enfrentamento do bullying, bem como a mobilização e as parcerias das instituições são imprescindíveis para a eficiência das medidas a serem adotadas na busca pela solução do fenômeno.

9. Referências

ABRAMOVAY, M. (Coord.) Escolas inovadoras: experiências bem-sucedidas em escolas públicas. Brasília: UNESCO, 2003

CARPENTER D. FERGUSON C. Cuidado! Proteja seus filhos dos bullies. São Pulo: Butterfly Editora, 2011.

CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. São Paulo: Ed. Gente, 2004.

CHALITA, Gabriel. Pedagogia da amizade – BULLYING: O sofrimento das vítimas e dos agressores. São Paulo: Editora Gente, 2008.

CONSTANTINI, A. Bullying, como combatê-lo?: prevenir e enfrentar a violência entre jovens. Trad. Eugenio Vinci de M. São Paulo: Itália Nova Ed., 2004

FANTE, C. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campinas, São Paulo: Versus, 2005.

FANTE, C. & PEDRA, J. A. Bullying Escolar: perguntas e respostas. Porto Alegre: Artmed, 2008.

GONÇALVES, L. A. O. TOSTA, S. P. (Coord) A Síndrome do medo comtemporâneo e a violência na escola. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008.

GUARESCHI, P. A. & Michele Reis da Silva (Coord). Bullying: mais sério do que se imagina. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.

LOPES NETO, A. Bullying – comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, 2005

MALDONADO, Maria Tereza. BULLYING e CIBERBULLYING: O que fazemos com o que fazem conosco?. São Paulo: Moderna, 2011.

MELO, J. A. Bullying na escola: como identificá-lo, como preveni-lo, como combatê-lo. Recife: EDUPE, 2010

MIDDELTON-MOZ, J. & ZAWADSKI, M. L Bullying: Estratégias de sobrevivência para crianças e adultos. Porto Alegre: Artmed, 2007.

PEREIRA, B. O. Para Uma Escola sem Violência: Estudo e Prevenção das Práticas Agressivas entre Crianças. Lisboa: Dinalivro, 2002.

SILVA, A. B. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.

SMITH, C.; STRICK, L. Dificuldades de aprendizagem de A a Z: um guia completo para educadores. Trad.: Dayse Batista. Porto Alegre: ARTMED Editora, 2001.

VENTURA, A; FANTE, C–. Bullying Intimidação no Ambiente Escolar e Virutal. Belo Horizonte: Conexão, 2011. Disponível no site: http://www.eduventura.com/resources/Livro-Bullying-Alexandre-Ventura.pdf , acessado em 11/11/2018 às 20h30min.

 

Nocilmar Vidal Santos - Pós-graduando em Psicopedagogia Clinica e Institucional na Escola Superior Aberta do Brasil – ESAB. 

 


Publicado por: NOCILMAR VIDAL SANTOS

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