CONSTRUINDO UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA E PLURAL: CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA QUEER

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1. Resumo:

As pessoas, ao serem inseridas nos espaços educacionais, necessitam se ajustar às regras, às normatizações, às formas padronizadas, ou seja, a todos os requisitos que lhes são impostos pelo sistema, garantindo-lhes sua permanência nesse âmbito. A docilização, em grande parte das vezes, desrespeita a singularidade de cada discente, primordialmente quando relacionada aos gêneros e sexualidades. Docilizar é regular, e, em tais processos de regulação, direitos básicos são cerceados, distanciando-se dos preceitos freireanos de uma escola democrática que possibilita o aprender crítico e o desenvolvimento de uma identidade social. Considerando tais aspectos, o presente trabalho objetivo refletir sobre as contribuições da Pedagogia Queer nos espaços educacionais. A prática pedagógica propõe a desconstrução de tais parâmetros normatizadores, pautando-se na pluralidade, escapando de determinadas estratégias de ensino cisheteronormadas, e criando outras que fujam dos ensinamentos direcionados à aprendizagem dos binarismos e dicotomias - política do engendramento daquilo que se entende enquanto “ser homem” e “ser mulher”. A queerização da escola propõe, também, o abandono da padronização da sexualidade “normativa - leia-se: heterossexualidade -, a qual exclui diversas outras potências de ser e viver enquanto sujeitas de sexualidades múltiplas. Nessa visão fica entendido que as escolas que possuem a Pedagogia Queer como proposta pedagógica podem aumentar as possibilidades de respeitar as diversidades e fraturar, a cultura da segregação, da violência e da estigmatização.

Palavras-chave: pedagogia queer; práticas pedagógicas; escola.

2. INTRODUÇÃO

Nos dias atuais, determinadas escolas brasileiras têm disseminado práticas didático pedagógicas de ensino e aprendizagem que se adequam e que que não contemplam alguns discentes e suas individualidades.

Diante dessa conjuntura, os indivíduos ao serem inseridos nesses espaços educacionais necessitam se ajustar às regras, às normatizações, às formas padronizadas, isto é, todos os requisitos que lhes são impostos pelo sistema escolar para que estes possam permanecer no espaço educacional em que foram introduzidos.

Ao considerar tais fatores, a pesquisa, a introdução e a reflexão da Pedagogia Queer se torna necessário na busca da desconstrução de tais parâmetros normatizadores, buscando dar prioridades às particularidades no que tange considerações à representatividade de gênero, de diversidade sexual e étnicas.

O estudo da pedagogia queer e sua introdução em alguns espaços educacionais traz insatisfação para a escola, uma vez que ela representa corpos e mentes de discentes e docentes que divulgam sua produção de forma constrangida e inconsciente.

Discutir a pedagogia queer é escapar de determinadas estratégias de ensino e criar outras, é fugir dos ensinamentos direcionados ao ensino aprendizado do que é ser homem e mulher, é abandonar a padronização da sexualidade, sendo esse parâmetro que ajuda tudo e todos. Em outras palavras, é referência heterossexual ditada pela sociedade.

O termo queer, em inglês, além de ser usado como insulto aos gays e lésbicas, refere-se ao que é estranho, excêntrico, diferente, incomum. A teoria que se apropria deste termo como forma de contestação surge em meados dos anos 1980, como parte dos Estudos Gays e Lésbicos de forma a levar ao limite o questionamento sobre a estabilidade de identidades e a heterossexualidade. A obra que marca este surgimento é de “Between Men”, de Eve Sedgwick. Neste livro, Sedgwick afirma que a sociedade está baseada na heterossexualidade compulsória (obrigação de ser heterossexual) e na heteronormatividade (todas as relações amorosas/sexuais com referência no casal reprodutivo heterossexual). (FRAGELLI, 2008, p. 42, grifo no original).

Não obstante, entende-se que a escola é um espaço diversificado cuja função é instruir seus discentes para um caminho único, sendo um percurso que é considerado pela escola como certo, único e desvinculado de punições sociais, propagando assim a homogeneidade. De outro modo a pedagogia queer busca ensinar aos discentes a heterogeneização das ações, isto é, formando cidadãos críticos e respeitando suas particularidades (leia-se diversidade), justificando assim sua relevância para o âmbito social e acadêmico (MORAIS, 2016).

Por ser um tema recente no âmbito educacional, suas teorias paulatinamente estão sendo colocadas em prática, o que justifica o presente estudo. Oportunamente, é preciso salientar que a metodologia utilizada foi a investigação bibliográfica associada à pesquisa exploratória.

3. DESENVOLVIMENTO

A população LGBTQIA+ inseridas em determinados espaços educacionais vivenciam preconceitos, segregações, violências e estigmatizações, devido a sua identidade de gênero ou orientação sexual que foge do que é considerado pela sociedade como o padrão heteronormativo. E sabe-se que a escola é um reflexo da sociedade em que está inserida.

A função da escola é a promoção do ensino aprendizado, também pode-se afirmar que nela é efetivada a educação e a escolarização. Contudo, a escola sendo parte da sociedade, ela vivencia um ambiente de onde as classes são divididas. A elite sempre dominou e disseminou sua autoridade, utilizando de seus privilégios para reproduzir da hegemonia heteronormativa (NINO; PIVA, 2013).

A escola sempre foi, e ainda o é conduzida por princípios, valores e atitudes marcadoras de desigualdades de gênero, de classe, de raça/etnia e de orientação sexual. Talvez, por isso, durante muito tempo, a educação brasileira, focada na ênfase ao ensino propedêutico, omitiu-se, negou-se a inserir nos currículos, nas formações (inicial e continuada) de educadores(a)s, nos livros didáticos, e nos demais campos de atuação da educação, as temáticas relacionadas à diversidade cultural. Esta omissão findou por legitimar a hegemonia heteronormativa e essencialista da sexualidade, afirmando a escola enquanto o não- lugar para as pessoas LGBT (JOCA, 2011, p. 13).

Mediante esse contexto, Louro (2001) explica a necessidade de repensar a escola como um espaço onde a diversidade é considerada como essência de nosso país e desconstruir a hegemonia social heteronormativa que é subjetivamente é ensinada aos alunos pelos currículos escolares. É preciso buscar novas pedagogias, sendo estas críticas e capazes de fazer com que o discente respeite a diversidade no âmbito educacional. É justamente aqui, que a pedagogia queer se torna uma práxis capaz de promover essa reflexão.

Não obstante, é notório que um significativo número de escolas precisa de

uma pedagogia e um currículo queer se distinguiriam de programas multiculturais bem-intencionados, onde as diferenças (de gênero, sexuais ou étnicas) são toleradas ou são apreciadas como curiosidades exóticas. Uma pedagogia e um currículo queer estariam voltados para o processo de produção das diferenças e trabalhariam, centralmente, com a instabilidade e a precariedade de todas as identidades (LOURO, 2001, p. 550).

Nessa visão fica entendido que as Unidades escolares que possuem a pedagogia queer como proposta pedagógica, podem aumentar as possibilidades de respeitar as diversidades, tornando-se mais críticas.

Dessa maneira, torna-se preciso discutir um currículo que norteie para a inclusão detemáticas que por anos foram segregadas. É preciso que o aluno entenda que a sociedade em que ele está inserido está permeada por problemas. Por isso, é preciso que debates e reflexões acerca de temas que são considerados como “polêmicos” sejam realizados.

Fragelli (2008) afirma que ao adentrarmos no âmbito escolar, nota-se claramente que existe uma divisão entre os indivíduos. Igualmente, fora da escola tal atitude se replica seja por sexo, por idade, por classe social e com isso vem as limitações do espaço, quem tem mais dinheiro em grupo e quem tem menos em outro, ou seja, as ações que são realizadas pelos discentes na escola, quando estes saem dela continuam replicando e segregando, aumentando assim as problemáticas sociais.

Exatamente por tal motivação que a Pedagogia queer se torna uma práxis capaz de desconstruir tais “barreiras”, proporcionando momentos criativos para os alunos, onde estes podem aprender a executar atividades em grupos, aprender mais com o colega, se familiarizar com a turma – evitando que toda problemática mencionada aconteça.

Às escolas cabe o papel de se posicionar frente às situações de violência, se indignar e questionar essas manifestações, ter claro a sua função enquanto instituição pública, formar sua equipe escolar, buscar parcerias com movimentos sociais sem se distancia das suas atribuições, não se omitir enquanto representante do estado, fundamentado suas ações na responsabilização de atos violência e dar os seus encaminhamentos legais, inibindo-as dentro de seus espaços. Cabe ainda à escola abrir um canal de atuação para que os jovens ajam de forma protagonista, por meio dos grêmios e demais grupos e movimentos a serem estimulados e principalmente empoderar aqueles e aquelas que ali frequentam de seus direitos enquanto cidadãos brasileiros (MORAIS, 2016, p.13).

Corroborando com Morais (2016), César acrescenta:

Por que uma pedagogia queer? Para introduzir na pedagogia e na educação a dúvida e a incerteza em relação à norma disciplinar quanto aos saberes e aos corpos. Isto é, para dilacerar os limites do pensamento e pensar o impensável. Por que na escola? Porque na escola, em nome da racionalidade e da ciência, se produziu uma história de normalização, exclusão e violência em torno dos saberes, dos corpos e dos sujeitos (CÉSAR, 2010, p. 352).

Assim sendo, fica claro que a escola deve incentivar que os docentes busquem compreender e colocar em práticas os ensinamentos oriundos da pedagogia queer, dado que essa busca levar o aluno à reflexão de suas relações para com os demais e ainda busca desenvolver nele o senso de crítico, para que ele exerça sua cidadania na sociedade e na escola respeitando aqueles que estão ao seu redor.

4. CONCLUSÃO

As Unidades Escolares, de acordo com a pedagogia queer, passariam a perceber os indivíduos como parte do encadeamento que constrói a cultura social e não somente o discente sendo um resultado dela.

Docentes e demais profissionais da educação contribuem para o desenvolvimento cidadão do aluno, quando propõem atividades que fragmentem o pensamento cartesiano destes, devido aos “padrões sociais” que a sociedade “dita”.

Por fim, conclui-se que a pedagogia queer, como práxis tem a possibilidade de transformar em cultura e suavizar a cultura da segregação, da violência, da estigmatização educacional, apresentando para a sociedade novas pessoas, sendo estas moldadas para perceberem os problemas sociais e atuarem em sua resolução.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CÉSAR, M. R. A. A diferença no currículo ou intervenções para uma pedagogia. ETD - Educação Temática Digital, Campinas, SP, v. 14, n. 1, p. 351-362, nov. 2010.

FRAGELLI, M.C.B. A educação enquanto prática transgressora: Pressupostos e possibilidades da teoria queer. Monografia. Curso de Licenciatura em Pedagogia. Universidade Federal de São Carlos. São Carlos, SP. 2008.

JOCA, A. M. Direitos Humanos e Diversidade Sexual pelo Direito à Educação e à Diversidade na Escola. TV Escola: educação e diversidade sexual. Ano XXI Boletim 04, 2001.

LOURO, G. L. Teoria queer: uma política pós-identitária para a educação. Rev. Estud. Fem., Florianópolis, v. 9, n. 2, p. 541-553, 2001.

MORAIS, H. R. A escola precisa de uma pedagogia queer? 2016. 15 f. Monografia (Especialização) - Curso de Gênero e Diversidade na Escola, Universidade Federal do Paraná, São Paulo, 2016.

NINO, A.; PIVA, P.J.L. O cotidiano escolar e os impactos da teoria queer face à pedagogia heterossexista. Sapere Aude, Belo Horizonte, v.4 - n.7, p.501-505, 1º sem. 2013.

 

Raphael de Andrade Ribeiro  - Mestre em Ensino pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista em Ensino Aprendizado. Professor na SEEDUC RJ – Itaperuna/RJ.


Publicado por: Raphael de Andrade Ribeiro

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