ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: ORGANIZANDO O TRABALHO PEDAGÓGICO
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1. RESUMO
A presente monografia tem como objetivo ressaltar a função da Educação Infantil, destacando o letramento como uma prática pedagógica a ser realizada de modo lúdico. É enfatizado que o processo de alfabetização formal irá ocorrer no Ensino Fundamental. Para a realização deste trabalho, foram realizadas entrevistas com três educadoras e três pais de crianças da Educação Infantil, sendo de duas escolas públicas dos municípios de Tuparendi e Porto Mauá. Os resultados da pesquisa mostram de que forma as educadoras organizam o planejamento e o que evidenciam, e os pais mostram seu breve entendimento sob a mesma. Observou-se na pesquisa que ambas as escolas organizam o planejamento de modo que não proporcionem a alfabetização, tendo como foco o lúdico e as necessidades da Educação Infantil. Os pais demonstram ter uma noção do que pode ser proporcionado para seus filhos.
Palavras chave: Educação Infantil. Anos Inicias. Letramento. Alfabetização
ABSTRACT
This monograph aims to highlight the role of Early Childhood Education, highlighting literacy as a pedagogical practice to be carried out in a playful way. It is emphasized that the formal literacy process will occur in Elementary School. For the accomplishment of this work, interviews were conducted with three educators and three parents of children in Early Childhood Education, being two public schools in the cities of Tuparendi and Porto Mauá. The research results show how educators organize planning and what they evidence, and parents show their brief understanding under it. It was observed in the research that both schools carry out planning in a way that does not provide literacy. It has been observed in the research that both schools carry out the planning so that they do not provide Alphabetization. Focusing on the ludic and needs of Early Childhood Education. Parents demonstrate a sense of what they can do for their children.
Keywords: Early Childhood Education. Years Begin. Literacy. Alphabetization.
2. INTRODUÇÃO
A alfabetização e letramento são processos sobre os quais sempre me instiguei a entender como e de que maneira acontecem na escola, principalmente na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Entender esses dois processos é indispensável para que, o trabalho na Educação Infantil e nos Anos Inicias do Ensino Fundamental sejam significativos para os sujeitos que nela atuam.
Nesse contexto, a alfabetização é entendida como uma técnica que tem como objetivo ensinar a ler e escrever de maneira coerente, já o letramento se trata da habilidade de fazer o uso da leitura e escrita não só na escola, mas em outros espaços sociais. Assim, alfabetizar e letrar são interdependentes. Então quando bem articulados ao planejamento de um educador, podem trazer benefícios, ou seja, uma aprendizagem mais significativa e eficaz na vida dessas crianças.
O principal objetivo desta monografia é ressaltar a função da Educação Infantil, e entender como o letramento pode ser executado nesta etapa, e de que maneira isso se evidencia. Para isso, a pesquisa empírica buscou entender como a alfabetização e letramento são trabalhados em duas escolas públicas dos municípios de Tuparendi e Porto Mauá. Foram entrevistadas três educadoras da Educação Infantil, duas destas lecionando em uma mesma instituição e uma em outra instituição, ambas públicas. Também foram entrevistados três pais de crianças que frequentam a Educação Infantil. Os nomes utilizados ao longo do texto são fictícios para preservar a identidade dos pesquisados.
No primeiro capítulo, trago a alfabetização e letramento em outra perspectiva, a de leitura de mundo. Alfabetizar e letrar é sim aprender a ler e escrever de maneira coerente, mas também, é a compreensão do mundo, a sociedade, o tempo e o espaço, sendo interpretados, de modo que compreendam a realidade pois, nessa perspectiva a leitura e a escrita ainda não são executadas sistematicamente. Nesse sentido, a alfabetização e letramento são processos que podem estar presentes no cotidiano da maioria dos seres humanos, e são necessários para que possam inserir-se na realidade e entender, compreender o mundo, a sociedade no qual se encontra.
No segundo capítulo, ressalto a etapa da Educação Infantil e suas especificidades, destacando o que de fato acredito, pautado nas obras de pesquisadores da infância, que seja ideal estar presente no cotidiano das crianças que frequentam esse ambiente. Então evidencio a possibilidade de elaboração de um currículo que tenha com base os princípios éticos, políticos e estéticos que garantem experiências e vivências de modo que se desenvolvam. Então, por meio currículo elaborado pelos educadores das escolas pesquisadas, é que se pode organizar um planejamento que atinja as metas e objetivos estabelecidos no Projeto Político Pedagógico. Para a organização deste, proponho que sejam elencadas os campos de experiência conforme a Base Nacional Curricular Comum apresenta.
A Educação Infantil precisa levar em conta que, esta é uma fase em que as crianças estão em desenvolvimento, e por isso precisa proporcionar vivências significativas. São essas vivências que se dão de maneira lúdica, por meio do brincar, do descobrir o mundo e a si mesmo que fazem parte do dia a dia nesta etapa. É por meio desse ambiente curioso que sugiro que esta etapa seja um ambiente que evidencia o letramento de maneira que os instigue ao mundo letrado. A educação Infantil não tem como foco a alfabetização, mas sim proporcionar o letramento e o contato com mundo da leitura.
Ressaltando-o, no terceiro capítulo, que a alfabetização se inicie nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Destaca-se a perspectiva de alfabetizar letrando, em um ambiente alfabetizador que interligue com o planejamento do educador. Proponho que a sala do primeiro ano seja um ambiente lúdico e que ofereça materiais que instiguem as crianças a aprender a ler e escrever. Alfabetizar letrando é mais do que ensinar ler e escrever, mas acima de tudo é perceber o uso da leitura e da escrita no contexto social, como uma prática que faz parte da realidade social de cada sujeito.
A razão da escolha do tema alfabetização e letramento se dá devido a percepção, durante minha trajetória como educadora, de crianças atuando na Educação Infantil com habilidades avançadas na leitura e escrita. Será mesmo que está habilidade precisa ser desenvolvida antes de ingressar nos Anos Iniciais? O que de fato pode ser evidenciado na Educação Infantil? alfabetização ou letramento? No decorrer do texto, o leitor entenderá como e de que maneira ressalto que estes processos podem ser evidenciados na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
3. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMETO: UMA RELAÇÃO CONSTANTE COM O MEIO EM QUE VIVEMOS
Quando pensamos em alfabetização e letramento, logo ponderamos que este processo se inicia ao ingressar nos anos iniciais do Ensino Fundamental, ou até mesmo na Educação Infantil. Entretanto, ressalto que alfabetizar e letrar são práticas que precisam ser executadas em seu tempo, em meio ao desenvolvimento de cada sujeito.
Ao tratar de alfabetização e letramento como um processo contínuo, que vai se constituindo conforme nos desenvolvemos, saliento o estímulo da oralidade desde cedo para que impulsione este processo. A oralidade é uma produção cultural que se desenvolve conforme a língua que um sujeito traz consigo, diante da cultura em que vive, por isso se desenvolve por meio da interação coletiva com outros sujeitos.
A todo momento os sujeitos estão em constante contato com a oralidade, então, desde que o bebê se encontra no ventre de sua mãe por exemplo está sendo estimulado pelos adultos a iniciar o processo de aquisição da oralidade, que se inicia por meio de conversas, cantigas e histórias. Através desses estímulos, começam a perceber que as coisas, os objetos e as necessidades básicas possuem uma denominação, e consequentemente surgem as primeiras tentativas de expressar sua necessidade por meio da fala.
Esse vínculo afetivo desde muito cedo é, como uma base para que, ao nascer, crescer e ingressar na Educação Infantil os sujeitos já estejam provocados e instigados ao processo de alfabetização e letramento. É por meio desse processo que se inicia, antes mesmo de nascerem, que a oralidade vai se constituindo, contribuindo para o processo de alfabetização e letramento numa perspectiva de leitura de mundo.
Conforme este sujeito cresce, vai percebendo que tudo ao seu redor tem um significado e aos poucos inicia um processo de leitura de mundo, interpretando e conhecendo o espaço em que está inserido. Isso significa que mesmo sem saber que um determinado objeto pode ser lido e tem uma grafia, entende e interpreta que o mesmo tem sua função. Como exemplo disso, pode se pensar em uma criança que necessita para dormir uma chupeta e, toda noite antes de deitar-se encontra este objeto para usá-lo. Esta criança mesmo sem saber que a chupeta possui uma grafia, interpreta e entende que objeto é este, e que é necessário para que possa dormir.
Além disso, o ambiente em que está inserido apresenta representações de variados lugares com que se depara cotidianamente, ou seja, toda representação de uma loja por exemplo, com roupas e manequins na vitrine mesmo que não saiba sua denominação, interpreta que este local representado é uma loja de roupas. Ferreiro afirma:
Muito antes de serem capazes de ler, no sentido convencional do termo, as crianças tentam interpretar os diversos textos que encontram ao seu redor (livros, embalagens, comerciais, cartazes de rua), títulos (anúncios de televisão, histórias em quadrinhos, etc...)(1996, p.65).
Logo que inserem-se no espaço em que vivem, vão percebendo que as representações estão presentes por todos os lados, bem como que necessitam se apropriar, entender o modo como as pessoas se comunicam, mesmo que ainda não saibam ler e escrever no sentido convencional. Assim, a alfabetização e letramento “passa a ser entendida como um longo processo que começa bem antes do ano escolar em que se espera que a criança seja alfabetizada e consiga ler e escrever pequenos textos” (BRANDÃO; ROSA, 2010 p.20).
A alfabetização e letramento se inicia antes de os sujeitos ingressarem na escola, pois inseridos na sociedade em que vivem tem de interpretar as representações que seu cotidiano oferece, os livros, folders, anúncios entre outras e localizar-se no espaço social. A Educadora Carla afirma (pré de 5a):
Acredito que a alfabetização e o letramento é um processo que começa muito antes da entrada da criança na escola, então, o aluno que ingressa na pré-escola já vem com um conhecimento de mundo bastante amplo, tendo curiosidades e desejos e o professor deve estimular e aprimorar, a fim de que encontre sentido para estar na escola.
Não se trata da alfabetização e letramento somente como o ato de ler e escrever, este processo é muito mais amplo que este simples ato, ele envolve tudo ao nosso meio, ao nosso redor, então, o nosso cotidiano gira em torno da alfabetização e letramento, é aprender a linguagem do mundo. Assim, ler o mundo é um estudo do ser humano no decorrer de seu desenvolvimento na sociedade para que possa compreender o espaço, as coisas, os objetos, e executar tarefas simples de seu dia a dia. A leitura e escrita são atividades de linguagem que pertencem ao cotidiano de todo ser humano, portanto, importante mediador para inserir-se na realidade.
Entretanto, se tratando do processo de alfabetização e letramento na perspectiva de leitura e escrita, esse processo apresenta um conceito mais definido do que é alfabetizar e letrar. A alfabetização é a capacidade que um sujeito desenvolve de ler e escrever de maneira coerente, reconhecendo os fonemas e grafemas apresentados em um determinado texto. Alfabetizar, é oferecer condições para que a leitura e a escrita sejam desenvolvidas neste sujeito com a aptidão de executá-las.
Em conformidade com Rangel, “a alfabetização em seu sentido próprio, específico, envolve o processo de aquisição do código escrito, das habilidades de leitura e escrita. Neste caso, alfabetizar significa adquirir a habilidade de codificar a língua oral em língua escrita (escrever) e de decodificar a língua escrita em língua oral (ler)” (2008, p.9). Já o processo de letramento está relacionado com a prática da leitura e da escrita no contexto social.
Alfabetização e letramento embora tenham suas especificidades, caminham juntas no processo de leitura e escrita, e nesse sentido, ser letrado é fazer o uso da leitura e escrita, é ler e escrever mas acima de tudo saber interpretar esta ação. Então o letramento interligado com a alfabetização traz uma proposta pedagógica de alfabetizar letrando nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, envolvendo práticas de leitura e escrita, o que discutirei mais adiante.
Portanto, a alfabetização e letramento começa bem antes que as crianças saibam ler e escrever formalmente, uma vez que se trata de um processo que se faz presente antes mesmo da criança vir ao mundo e se integrar na sociedade. Ele pode estar presente no cotidiano de todos seres humanos e conforme se desenvolvem percebem que saber ler e escrever é uma necessidade para que possam interpretar o mundo a sua volta.
4. EDUCAÇÃO INFANTIL: RECONHECENDO ESTA ETAPA E SUA FUNÇÃO PEDAGÓGICA
Muito se discute sobre o que precisa ser proporcionado às crianças entre quatro e cinco anos em plena fase de desenvolvimento na Educação Infantil. O que percebo, é que muitas vezes esta etapa é considerada menos importante para as escolas, educadores e pais. Pensar desta forma é um equívoco, por isso discutir o ambiente da Educação Infantil me remete a pensar que etapa é essa e qual sua função pedagógica no âmbito escolar.
A Educação Infantil é a etapa no qual, as crianças tem seu primeiro contato com a escola, a partir daí encontram-se inseridas no contexto escolar. Para muitas crianças este contato se inicia muito cedo, por volta dos seis meses, um ano de idade, outras, iniciam este contato somente com quatro anos, já que sua frequência a partir desta idade é obrigatória por lei. Entretanto, independentemente da idade em que estes sujeitos ingressam na Educação Infantil, a permanência nesta etapa é muito importante para o desenvolvimento dos mesmos. Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil esta fase é considerada a:
Primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (2010, p.12).
Esta etapa da Educação Infantil, proporciona às crianças a compreensão do universo, percebendo o espaço, o tempo, a escola, o lugar em que mora e costuma frequentar, bem como as pessoas que as rodeiam. Mas, além delas integrarem-se na sociedade, são seres que estão em desenvolvimento e por isso precisam ser estimulados. A Educação Infantil possibilita vivências significativas aos sujeitos atuantes. Ao referir-me em vivências significativas ressalto que nessa fase todas as vivências proporcionadas devem e tem de ter um significado, já que estão em pleno desenvolvimento e esta é a função da escola.
A escola se define como um ambiente em que sua principal função é ensinar, entretanto, ensinar significa também oferecer vivências e experiências significativas na vida desses sujeitos, estimulando-os a agirem de forma cidadã perante a sociedade no qual estão inseridos. É neste local em que os sujeitos permanecem grande parte de seu dia, alguns em período integral, outros somente por um período, mas independentemente do tempo em que a frequentam, todos estão em um ambiente que precisa proporcionar a aprendizagem.
A escola não precisa se preocupar muito com a aprendizagem: isto as crianças farão por si. Precisa preocupar-se com dar chances às crianças para vivenciarem o que precisam aprender; sentirem que o que fazem é significativo e vale a pena ser feito. Sem esse interesse realmente sentido pelas crianças, as atividades da escola podem não passar de um jogo, de um brinquedo, de uma obrigação, que alguns podem realizar e, outros, inconformados, deixar de lado (ROJO, 1998, p.64).
Para que isso ocorra, a escola precisa estar organizada com uma proposta pedagógica que define os objetivos e metas para cada faixa etária, ressaltando o que cada sujeito precisa aprender e vivenciar nas etapas em que a escola oferece. Esta definição das metas e objetivos no Projeto Político Pedagógico da escola, tem de ser do conhecimento de todos os educadores desta instituição, bem como que todos tenham participação na elaboração do mesmo.
Se tratando da Educação Infantil, não é uma etapa que apresenta conteúdos definidos como acontece no Ensino Fundamental, mas sim que elabora um currículo que proporcione vivências dos princípios, atendendo as necessidades dos sujeitos. Os princípios conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil são:
Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades.
Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática.
Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais. (2010, p.16).
Esses princípios definidos são um norte para a elaboração do currículo determinando as metas e objetivos para esta etapa. O currículo da Educação Infantil precisa levar em conta que estes sujeitos estão em constante desenvolvimento e por isso precisam ser estimulados por meio de vivências que os permitem a aprendizagem. Essas vivências se dão em meio ao ambiente da sala de aula, com os materiais utilizados, e a rotina que estes sujeitos tem, sendo um ambiente acolhedor no qual a aprendizagem tem uma relação íntima com o local que essas crianças ocupam. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil deve garantir experiências que:
Promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança;
Favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical;
Possibilitem às crianças experiências de narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos;
Recriem, em contextos significativos para as crianças, relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaço temporais;
Ampliem a confiança e a participação das crianças nas atividades individuais e coletivas;
Possibilitem situações de aprendizagem mediadas para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar;
Possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de referência e de identidades no diálogo e conhecimento da diversidade;
Incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza;
Promovam o relacionamento e a interação das crianças com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura;
Promovam a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais;
Propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças das manifestações e tradições culturais brasileiras;
Possibilitem a utilização de gravadores, projetores, computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos tecnológicos e midiáticos; (2010, p.25).
Assim, o currículo pode elencar todas essas experiências citadas, adentro dos princípios éticos, políticos e estéticos que envolvem as metas e objetivos do Projeto Político Pedagógico da escola. Um bom currículo, organizado pelos educadores de uma instituição de ensino é aquele que oferece às crianças a oportunidade de aprender.
A Educação Infantil além de apresentar princípios norteadores para elaboração das metas, apresenta campos de experiências conforme a Base Nacional Comum Curricular para elaboração do planejamento dos educadores, que determinam as aprendizagens e os objetivos, são eles: O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Escuta, fala, pensamento e imaginação; Traços, sons, cores e imagens. Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações (2016; p.21).
É com base nos campos de experiência que o planejamento da Educação Infantil pode ser organizado, de maneira que proporcione vivências significativas, favorecendo às crianças a autonomia e desenvoltura, além da expressão corporal, a fala e a imaginação. Por ser uma fase em que os sujeitos estão desenvolvendo-se, o planejamento pode levar em conta o desenvolvimento motor, que envolve a mudança de comportamento, físico, envolvendo as alterações fisiológicas e morfológicas, e o cognitivo, no qual os sujeitos começam a compreender o mundo.
O ambiente da Educação Infantil também proporciona descobertas, isto é, descobrir as cores, os tamanhos, as alturas, o grande e o pequeno, o duro e o mole, o corpo e suas partes, os gestos, os sons, as palavras, os objetos, as necessidades físicas e fisiológicas. Bem como descobrir-se como sujeito, os outros sujeitos como seres diferentes, a fala como forma de interagir e comunicar-se, fazer amizades, brincando de diversas formas e com diferentes parceiros, bem como ter autonomia de escolha das brincadeiras. Além de descobrir o espaço diferenciado da sala de aula, da escola, que se distingue do espaço de casa, descobrir os gostos, sabores, e sobretudo descobrir o mundo em que se encontra inserido.
Assim, o brincar nesta etapa assume um papel fundamental, pois é através dele que as crianças descobrem e aprendem o que está a sua volta. O brincar de diversas maneiras é uma estratégia de aprendizagem, pois em meio a este ato seja qual for a forma como executa o brincar, o sujeito tem de tomar decisões, resolver, estabelecer estratégias e pensar. “É brincando que as crianças participam do mundo adulto e aprendem suas características” (BRANDÃO; ROSA, 2010, p.21). O brincar proporciona que as crianças sintam-se em um mundo de faz de conta, onde imaginam, sonham e até mesmo pretendem alcançar esses sonhos, isso faz com que o brincar se torne algo prazeroso.
Sem perceber, os sujeitos vão vivenciando novas formas de brincar e fazendo descobertas em meio a este ato de descobrir o mundo. É isto que precisa ser evidenciado na Educação Infantil juntamente com o lúdico, que além de envolver o brincar, as brincadeiras e os jogos, também engloba a contação de histórias, a música, o teatro, a dança. Isso requer que o educador esteja ciente do que realmente se evidencia neste espaço escolar, organizando um planejamento que atenda todas essas demandas.
Então, o que se espera é que as escolas tenham como base os princípios definidos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil na elaboração do currículo, adentro as metas e objetivos do Projeto Político Pedagógico. Bem como que o currículo da escola seja definido através de uma proposta pedagógica que considere a realidade a qual está inserida. Assim, a escola leva em consideração que as crianças são sujeitos sociais e históricos e, que se desenvolvem por meio da interação com os outros proporcionando vivências e experiências, que os constituem como sujeitos críticos, participativos e autônomos.
No dia a dia, para que se deem as interações da criança com o mundo físico e social, é necessário que se oportunizem situações para a tomada de decisões, escolhas e intercâmbios dos pontos de vista, promovendo a manifestação da autonomia, da cooperação, tão importantes na formação do cidadão (RODRIGUES; AMODEO, 2002, p.9).
Adequar a Educação Infantil conforme o que foi exposto é um desafio! Esta é uma etapa que precisa proporcionar as crianças vivências e experiências articuladas a descobertas, por meio do brincar, de maneira que interpretem e conheçam o mundo em que vive. Sendo que é fundamental para o desenvolvimento das crianças e por isso precisa ser bem aproveitada pelos educadores, estando preparados para assumir a sua função, oferecendo oportunidades para a aprendizagem e, tendo conhecimento da importância da etapa da Educação Infantil, agindo de modo que alcance os objetivos que delimitou para as que nela atuam. “Assim, a importância do professor apropriar-se, antes de tudo de sua identidade como profissional de educação infantil, apoiando-se em pressupostos teóricos consistentes, definindo o seu norte e traçando linhas norteadoras de ação junto à criança” (RODRIGUES; AMODEO, 2002, p.13). Portanto, o educador precisa desenvolver um trabalho que atenda as funções da Educação Infantil, de acordo com os objetivos e metas estabelecidos no currículo e Projeto Político Pedagógico, com a finalidade de atender as necessidades e proporcionar desenvolvimento das crianças.
4.1. POR QUE A ALFABETIZAÇÃO NÃO SE EVIDENCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL?
A alfabetização na Educação Infantil é um tema que gera constantes discussões a seu respeito. Há quem diga que alfabetizar nesta fase auxilia para que ao ingressarem nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, já estejam preparados e avançados nos níveis de leitura e escrita, favorecendo a aprendizagem.
A alfabetização como um processo que precisa ser colocado em prática o quanto antes pelos educadores, mas este é o grande problema, a alfabetização é um processo demorado e requer estratégias do educador. A etapa da Educação Infantil não é o ambiente no qual se ensina ler e escrever formalmente, mas oferece oportunidades para que em seguida, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental iniciam a alfabetização formal. A educadora Paula, (pré de 4a) afirma “não se deve alfabetizar na educação infantil e sim proporcionar acesso à leitura e a escrita com ludicidade e interação, desafiando e provocando curiosidades nesse sentido nas crianças”.
Percebo também a cobrança dos pais em relação a alfabetizar na Educação Infantil, indagando que este processo é bom para as crianças, e cobrando dos educadores de forma geral que isto se execute. O que acontece é que muitas vezes os pais podem não ter noção do que de fato as crianças precisam vivenciar na Educação Infantil. Ouve-se muito que “tal escola é boa, por que tal filho já sabe ler e escrever, está ainda na Educação Infantil”. Daí a importância de o educador juntamente com a escola organizar reuniões ou uma simples conversa com cada pai, esclarecendo o que esta etapa deve proporcionar.
Mas por que de fato não podemos alfabetizar na Educação Infantil? Primeiramente alfabetizar não é tarefa fácil, e requer o tempo necessário para que cada sujeito desenvolva essa prática. Conforme o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, a alfabetização deve ser assegurada até os 8 anos de idade, ao fim do terceiro ano do Ensino Fundamental.
Isso significa que a maioria das crianças não terão desenvolvido totalmente a capacidade de ler e escrever de maneira coerente ao terminar o primeiro ano letivo do Ensino Fundamental, o que não é um problema ou um atraso na leitura e escrita, já que é um processo complexo que demanda tempo e organização. A escola precisa respeitar o tempo e a maneira que cada sujeito precisa para aprender a ler e escrever, e iniciar a alfabetização de maneira formal na Educação Infantil não contribuirá para que saibam ler e escrever antes do tempo que é necessário a cada criança. Essa alternativa somente irá tornar a Educação Infantil um ambiente que ensina ler e escrever, tirando o tempo das crianças de brincar e extrapolando com a possibilidade de despertar essas crianças ao mundo da leitura e escrita. Joice, educadora (pré de 4a) afirma: “o que não concordo é que se tire o brincar da educação infantil para ensina-los a ler e escrever”.
Para João, um dos pais entrevistados, (29 anos), a alfabetização deve se iniciar com cinco anos de idade, fazendo a criança desenvolver e despertar o lúdico e o estímulo pela leitura, ou seja, na Educação Infantil. Este é um exemplo claro que este pai não tem clareza da idade e etapa em que a alfabetização formal deve iniciar, mas percebe que o lúdico e o incentivo à leitura são importantes. Percebi a partir dos outros pais entrevistados que estes têm maior noção que a alfabetização se inicia aos seis anos de idade, e que o contato com a leitura, os livros e o letramento está presente desde que as crianças nascem.
O que defendo, é a que as crianças sejam instigadas a leitura e escrita na Educação Infantil. Assim o contato com o letramento é permitido de maneira que seja um ambiente alfabetizador mas, que tem como objetivo o letramento, e não a execução da leitura e escrita de maneira convencional. Carla, educadora (pré de 5a) afirma: “Na educação infantil, deve-se ter claro que o objetivo não é alfabetizar, mas o professor deve proporcionar situações de aprendizagem que instigue ao letramento”, isso significa que os sujeitos da Educação Infantil não devem saber ler e escrever, mas sim ter conhecimento de maneira lúdica das grafias que formam o alfabeto e os números.
O fenômeno do letramento, então, extrapola o mundo da escrita tal qual é concebido pelas instituições que se encarregam de introduzir formalmente os sujeitos do mundo da escrita. Pode-se afirmar que a escola, a mais importante das agências de letramento, preocupa-se, não com o letramento, prática social, mas com apenas um tipo de prática de letramento, a alfabetização, o processo de aquisição de códigos, (alfabeto, numérico) processo geralmente concebido em termos de uma competência individual necessária para o sucesso e promoção na escola (KLEIMAN, 2003, p.20).
Durante a pesquisa percebi que, as educadoras trabalham com o letramento numa perspectiva lúdica, sem a intenção de alfabetizar de fato e tem clara convicção que na Educação Infantil não se alfabetiza, mas sim, se possibilita um ambiente alfabetizador que explore todas as situações de aprendizagem.
O letramento na Educação Infantil tem como contribuição despertar o interesse por meio desse espaço lúdico, em aprender a ler e escrever adiante ao ingressar no Ensino Fundamental. Esta etapa permite que estejam curiosos para conhecer as grafias que os adultos utilizam, oferecendo possibilidades de inserir-se no mundo da leitura e escrita.
As crianças estão inseridas no mundo rodeadas de palavras, desde a sua casa até a escola deparam-se com inúmeras grafias em diversos lugares, o que desperta o interesse em ler e escrever. Entretanto a sala de aula da Educação Infantil é o ambiente no qual o letramento deve se evidenciar, apesar do convívio diário com variadas grafias, e da interação dos adultos com os sujeitos, a escola é quem proporciona de fato este letramento. Para a educadora Joice, (pré de 4a):
Estamos (crianças) envoltos no mundo/espaço onde temos contato muito cedo com as letras e números. A curiosidade das crianças cada vez mais cedo, as suas descobertas, vivências, meios de comunicação, enfim, desta forma a descoberta por letras e números na educação infantil ocorre de uma forma natural. Quando você percebe as crianças já conhecem até as letras iniciais dos nomes dos colegas e assim por diante.
As letras que compõem o nosso alfabeto precisam estar presentes para que as crianças o conheçam e reconheçam também em outros lugares. Mas isso não significa que os sujeitos devam decorar e repetir inúmeras vezes a grafia de cada letra para que possam “aprender”, não é esta aprendizagem e letramento que me refiro para a etapa da Educação Infantil, bem como nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Durante a pesquisa percebi que as educadoras entrevistadas organizam os planejamentos de maneira lúdica, oferecendo um contato diário com o letramento. Elas utilizam a contação de histórias, alfabeto exposto na sala de aula, cartazes com números e quantidades, murais com trabalhos dos alunos, calendário, chamada com listagem, jogos, manipulação de livros, cartaz dos aniversariantes, palavras mágicas, pintura, recorte, colagem, textos coletivos tendo a professora como escriba. Paula, educadora, (pré de 4a), afirma: “organizo um planejamento que oportunize a curiosidade pelo letramento de forma lúdica, partindo do interesse e da vivência da turma”.
Sugiro que o letramento esteja vinculado as atividades diárias no planejamento do educador, proporcionando aos sujeitos o conhecimento de maneira lúdica das grafias que compõem o alfabeto. A função do educador nesse sentido é de assumir-se como mediador do conhecimento no processo de aprendizagem por meio da ludicidade, permitindo uma relação entre educador/criança que favoreça a troca de ideias, o diálogo na resolução de conflitos diários, estabelecendo a sala de aula como um espaço de mediação.
(...)é possível dar múltiplas oportunidades para ver a professora ler e escrever; para explorar semelhanças e diferenças entre textos escritos; para explorar o espaço gráfico e distinguir entre desenho e escrita; para perguntar e ser respondido; para tentar copiar ou construir uma escrita; para manifestar sua curiosidade em compreender essas marcas estranhas que os adultos põem nos mais diversos objetos (FERREIRO, 1993, p.39).
O ambiente da Educação Infantil precisa interagir com a aprendizagem, despertando a curiosidade em aprender a ler e escrever, permitindo que cada criança construa de maneira autônoma seu próprio conhecimento, ou seja, descobrindo, pensando, experimentando, discutindo com os colegas. A sala de aula desta etapa é um ambiente de construção, então precisa ter a cara dos alunos e não da professora, assim todas as atividades desenvolvidas dos mais variados métodos pelas crianças, podem ir sendo expostas na sala de aula transformando num ambiente alfabetizador.
Portanto, a Educação Infantil é uma etapa que proporciona o letramento e mesmo que a alfabetização não se evidencie, acaba se tornando um ambiente alfabetizador que instiga as crianças ao mundo da leitura, e é por meio desse interesse que o educador tem a possibilidade de despertar nos sujeitos atuantes na Educação Infantil, basta organizar um planejamento que permita a descoberta e inserção no mundo da leitura, mesmo que ainda não saibam ler e escrever de maneira coerente.
5. ALFABETIZAR LETRANDO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A alfabetização e letramento são processos que estão em construção a todo momento na vida de uma criança ou adulto, isso porque a prática da leitura e escrita torna-os cada vez mais aptos a esse exercício. Entretanto, um sujeito alfabetizado nem sempre é um sujeito letrado, isso porque o ato de alfabetizar é a habilidade de ler e escrever de maneira coerente, já o letramento está relacionado com a prática da leitura e escrita conforme seu contexto social. Acontece que nem sempre o hábito de ler e escrever é incentivado pela escola/educadores e então formam-se sujeitos apenas alfabetizados, mas não se constituem como sujeitos que praticam o letramento.
Nessa perspectiva que destaco o processo de alfabetizar letrando nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, evolvendo mais do que aprender a ler e escrever mas executar esses processos como uma prática social, em seu dia a dia, sendo o letramento nesse sentido o “resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e escrita” (SOARES, 2003, p.39).
Um sujeito letrado compreende a importância dessa prática em seu meio social e tem domínio sob a leitura e escrita, ou seja, é um sujeito que utiliza a leitura e escrita como uma prática social. Para que os educandos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental compreendam a leitura e a escrita em seu contexto social, destaco a possibilidade da escola, os educadores, os pais, a sociedade em geral fazerem parte da aquisição desse processo.
Primeiramente ressalto que a sala do primeiro ano precisa ser um ambiente alfabetizador, organizado com diversas atividades que os próprios alunos desenvolvem, além de livros infantis, jornais, revistas, folders, cartazes, textos e histórias diversificadas. Ferreiro afirma:
Em cada classe de alfabetização deve haver um “canto ou área de leitura” onde se encontrem não só livros bem editados e ilustrados, como qualquer tipo de material que contenha a escrita (jornais, revistas, dicionário, folhetos, embalagens e rótulos comerciais, receitas, embalagens de medicamentos etc.)Quanto mais variado esse material, mais adequado para realizar diversas atividades de exploração, classificação, busca de semelhanças e diferenças e para que o professor, ao le-los em voz alta, de informações sobre “o que se pode esperar de um texto” em função da categorização do objeto que veicula. Insisto: a variedade de materiais não é so recomendável (melhor dizendo, indispensável) no meio rural, mas em qualquer lugar onde se realize uma ação alfabetizadora (1993, p.33).
Ressalto também, que o ambiente do primeiro ano pode oferecer ludicidade, brinquedos, jogos de modo que a aprendizagem seja significativa. A criança do primeiro ano depara-se com inúmeras grafias, letras, palavras e se a alfabetização for proporcionada de maneira lúdica os instigará a aprender de maneira que a leitura e escrita seja algo prazeroso para ela. Paula, educadora (pré de 4a) diz: “O lúdico é muito importante como estratégia de trabalho para o desenvolvimento de conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais na formação da criança.”
A escola é o principal ambiente que alfabetiza as crianças, é quem ensina de fato a habilidade de ler e escrever, entretanto é na sociedade que alfabetização se concretiza. Por isso, é importante que as crianças percebam que o ato de ler e escrever não é para a escola, mas sim para que cada sujeito possa inserir-se na realidade, como uma garantia de existência na sociedade em que vivem. Daí a importância de o educador mostrar que a alfabetização encontra-se nos rádios, na TV, nos jornais, nas revistas, nas ruas, no local onde vivem, e possibilitar que outras pessoas falem sobre sua profissão ou contam uma história, então a alfabetização é extraclasse, não ocorre somente no espaço escolar, ela engloba todo contexto em que estes sujeitos estão inseridos.
Instigados pela curiosidade em aprender a ler e escrever não só no contexto na escola, mas sim englobando todo local que vivem, o educador pode utilizar desta disposição das crianças e utilizar a favor do processo de alfabetização e letramento. Isso significa que o educador precisa levar em conta a cultura, o conhecimento e o tempo que cada sujeito leva para compreender esses processos.
O planejamento do educador precisa estar interligado com o ambiente no qual ele alfabetiza, este que pode ir se modificando conforme os avanços das crianças. É muito importante que o planejamento seja organizado conforme os interesses e necessidades das crianças de modo que tenha como centralidade o lúdico, despertando gosto e interesse pela prática da leitura e escrita de modo que compreendam o uso de ambas em diversos contextos do cotidiano. Para Carla, educadora (pré de 5a): “fundamental que no processo de alfabetização, as crianças saibam as funções sociais e as finalidades da leitura e escrita. Só compreendendo e praticando que a alfabetização terá sentido”.
Assim, dá-se a possibilidade de alfabetizar letrando, propondo atividades que envolvam as práticas sociais das crianças além do contexto escolar, envolvendo a realidade que cada sujeito vive. Alfabetizar letrando é mais do que ensinar a ler e escrever, é fazer o uso dessa prática no dia a dia e buscar alternativas para ampliar a leitura e a escrita. As crianças aprendem a ler e escrever por meio do que vivem, conforme a cultura em que está inserido, com quem e como interage com outros sujeitos e é por meio dessa interação que a leitura e a escrita vão avançando.
Ler e escrever não são apenas habilidades estabelecidas em torno da decodificação; muito mais do que isso, saber ler e escrever significa apropriar-se das diversas competências relacionadas à cultura orientada pela palavra escrita, para dessa forma atuar nessa cultura e, por decorrência, na sociedade como um todo (SCHOLZE; RÖSING, 2007, p.9).
Portanto, alfabetização e letramento andam juntas no processo de aquisição da leitura e escrita, partindo do pressuposto que alfabetizar letrando é trazer pra dentro da sala de aula a prática da leitura e escrita, conforme a realidade de cada sujeito. “Os processos de alfabetização e letramento escolares envolvem, fundamentalmente, a apropriação e o uso competente da leitura e da escrita de textos variados, com significado e relevância social” (SCHOLZE; RÖSING, 2007, p.38). Assim, a prática da leitura e escrita é buscada pela criança conforme o interesse e a forma como lhe trará algum significado social, e é por meio desse interesse que a alfabetização vai se constituindo e sendo ampliada no decorrer de seu processo de alfabetização e letramento.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao desenvolver a presente monografia, foram buscados conceitos de diversos autores que tratam do tema alfabetização e letramento. Estes são processos que iniciam antes mesmo de um bebê nascer e se constituir na sociedade. Isso significa que, mesmo dentro do ventre da mãe, o bebê percebe a fala dos adultos, os movimentos, as histórias contadas, as músicas. Assim, conforme um sujeito nasce, cresce e se desenvolve, por meio da interação dos adultos, começa a se constituir e inserir-se no tempo e espaço no qual se encontra. Aos poucos, em seu desenvolvimento inicia a percepção de tudo que está ao seu redor, principalmente de suas necessidades básicas. Esta é a perspectiva de leitura de mundo, no qual um sujeito que ainda não sabe ler e escrever formalmente entende o sentido de suas necessidades do cotidiano. Para isso, a oralidade é um recurso no qual os adultos estimulam os bebês, de modo que percebam que as coisas, os objetos e as necessidades básicas possuem uma denominação, e consequentemente os sujeitos iniciem as primeiras tentativas de expressar-se por meio da fala.
O objetivo desta monografia foi buscar a compreensão da finalidade da Educação Infantil e de que modo o letramento pode ser evidenciado. Sendo assim, o ambiente da Educação Infantil proporciona o contato com a leitura de maneira lúdica, por meio de brincadeiras, jogos, contação de histórias, a fim de despertá-los para o mundo letrado. Portanto, a Educação Infantil é um ambiente letrado, no qual a presença das letras se faz presente em meio a sala de aula e ao planejamento do educador, de modo que as crianças conheçam e reconheçam, partindo de uma organização curricular com metas e objetivos com base nos princípios éticos, políticos e estéticos. Bem como, os campos de experiência elencados pela Base Nacional Curricular Comum proporcionando vivências e experiências a fim de seu desenvolvimento.
Deste modo, a alfabetização não se evidencia na Educação Infantil, reconhecendo que alfabetizar nesta etapa não contribui para que a leitura e escrita se desenvolva com mais rapidez, apenas extrapola com a curiosidade que precisa ser despertada na Educação Infantil.
Entendendo que a alfabetização formal se inicia nos anos Iniciais do Ensino Fundamental, proponho a perspectiva de alfabetizar letrando. A alfabetização é a habilidade de ler e escrever pequenos textos de maneira coerente, já o letramento está relacionado as práticas sociais da leitura e da escrita. Com base nestes conceitos, o alfabetizar letrando possibilita além do aprender a ler e escrever. Dando enfoque na prática da leitura e escrita conforme a realidade social em que os sujeitos estão inseridos. Sendo assim, o papel do educador é de mostrar aos sujeitos atuantes que, aprender a ler e escrever é importante para cada um em sua própria formação como cidadão no contexto social. Ler e escrever não é para a escola nem para o educador, mas sim para que cada sujeito se constitua, desenvolva e perceba sua prática no dia a dia.
Esta monografia é um exercício para que os educadores reflitam sobre sua forma de planejar na Educação Infantil, levando em consideração que a alfabetização quando adiantada pelos educadores não favorece o processo de leitura e escrita. É preciso ter em mente que, alfabetizar na Educação Infantil somente afasta o momento de brincar e descobrir-se no tempo e no espaço no qual as crianças estão inseridas. Cabe aos educadores e às escolas refletir sobre o currículo desta etapa, definindo metas e objetivos de modo que proporcionem o letramento e instiguem as crianças a inserirem-se no mundo da leitura e escrita.
7. REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Disponível em: <http://pacto.mec.gov.br/o-pacto> Acesso em: 21 ago.2017.
______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais Básica para a Educação Infantil. Brasília, 2010.
______. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – BNCC 2ª versão. Brasília, DF, 2016.
BRANDÃO, Ana Carolina Perrusi; ROSA, Ester Calland de Sousa (orgs.). Ler e Escrever na Educação Infantil: Discutindo práticas pedagógicas. 2.ed. São Paulo: Autêntica, 2010.
FERREIRO, Emília. Alfabetização em Processo. São Paulo: Cortez, 1996.
FERREIRO, Emília. Com todas as letras. 3.ed. São Paulo: Cortez, 1993.
KLEIMAN, Angela B. (org.). Os Significados do letramento. Uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. 6.ed. Campinas, São Paulo: Mercado de letras, 2003.
RANGEL, Annamaria Piffero. Alfabetizar aos seis anos. Porto Alegre: Mediação, 2008.
ROJO, Roxane (org). Alfabetização e Letramento: Perspectivas Linguísticas. Campinas, São Paulo: Mercado das Letras, 1998.
RODRIGUES, Maria Bernadette Castro; AMODEO, Maria Celina Bastos. O espaço pedagógico na pré-escola. Cadernos Educação Infantil. 5 ed. Porto Alegre: Mediação, 2002.
SCHOLZE, Lia; RÖSING, Tania M. K.(org). Teorias e práticas de letramento. Brasília, DF: Inep, 2007.
SOARES, Magda. Letramento: Um tema de três gêneros. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
8. OBRAS CONSULTADAS
CUBERES, Maria Teresa González (org). Educação Infantil e Séries Iniciais – articulação para alfabetização. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
GARCIA; Regina Leite (org). Novos olhares sobe a alfabetização. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
MOLL, Jaqueline. Alfabetização possível. Reinventando o Ensinar e o Aprender. Porto Alegre: Mediação,1997.
RAPPOPORT, Andrea. et al. A criança de 6 anos no ensino fundamental. 2.ed. Porto Alegre: Mediação, 2010.
ZEN, Maria Isabel H. Dalla; XAVIER, Maria Luisa M.(org). AlfabeLetrar: Fundamentos e práticas. 2.ed. Porto Alegre: Mediação, 2011.
Publicado por: Nadine Freddi
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