A PROPOSTA DA PEDAGOGIA WALDORF NA INICIATIVA PÚBLICA: UM ESTUDO DE CASO

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1. RESUMO

A partir da apresentação inicial da Pedagogia Waldorf, criada no século XX por Rudolf Steiner, cuja ideologia de liberdade e de formação do ser humano por completo, por meio do desenvolvimento físico, espiritual, artístico e intelectual através da arte do pensar, da autonomia dos professores e de um currículo próprio; este estudo teve como propósito desenvolver um estudo de caso junto à “Escola Municipal Dr. Heitor Peixoto Toledo”, de Ubá, MG, no intuito de verificar quais são os desafios, as críticas e funcionalidades desta proposta pedagógica para uma escola pública. Para tal, este estudo de caráter exploratório, descritivo e qualitativo, desenvolveu-se por meio de análises documentais e consultas bibliográficas, complementadas por entrevistas junto aos agentes (professor, direção) envolvidos com a escola em análise. Destaque, a partir da idealização e introdução da Pedagogia Waldorf na "Escola Municipal Dr. Heitor Peixoto Toledo";da adaptação, formação extra e atuação dos professores; e da relação dos pais com a escola, na esfera pública; verificou-se que o rompimento da escola com a Pedagogia Waldorf, ocasionado pela mudança política da administração do munícipio, preconceitos religiosos por parte dos pais e falta de interesse dos professores com uma proposta nova.

Palavras chave: Pedagogia Waldorf, Rudolf Steiner, Escola Pública.

ABSTRACT

From the initial presentation of Waldorf Pedagogy, created in the twentieth century by Rudolf Steiner, whose ideology of freedom and the formation of the human being completely, through physical, spiritual, artistic and intellectual development through the art of thinking, autonomy of the teachers and a curriculum of their own; the purpose of this study was to develop a case study with the "Dr. Heitor Peixoto Toledo Municipal School", in Ubá, MG, in order to verify the challenges, criticisms and functionalities of this pedagogical proposal for a public school. To this end, this exploratory, descriptive and qualitative study was developed through documentary analyzes and bibliographic consultations, complemented by interviews with the agents (teacher, director) involved with the school under analysis. Highlight, from the idealization and introduction of Waldorf Pedagogy in the "Dr. Heitor Peixoto Toledo Municipal School"; of the adaptation, extra training and performance of teachers; and the relationship of parents to school in the public sphere; it was found that the school's disruption with the Waldorf Pedagogy, caused by the political change of the administration of the municipality, religious prejudices on the part of the parents and lack of interest of the teachers with a new proposal.

Key words: Key words: Waldorf Pedagogy, Rudolf Steiner, Public School.

2. INTRODUÇÃO

O objetivo desse estudo é conhecer e divulgar a proposta escolhida, a Pedagogia Waldorf e sua ideologia. A partir da apresentação inicial da Pedagogia Waldorf, criada no século XX por Rudolf Steiner, cuja ideologia de liberdade e de formação do ser humano por completo, por meio do desenvolvimento físico, espiritual, artístico e intelectual através da arte do pensar, da autonomia dos professores e de um currículo próprio;

Este trabalho teve como propósito desenvolver um estudo de caso junto à “Escola Municipal Dr. Heitor Peixoto Toledo”, de Ubá, MG, no intuito de verificar quais são as críticas, os desafios como: a adaptação, formação extra e atuação dos professores; da relação dos pais com a escola; verificou-se ao longo da pesquisa de campo o rompimento da escola com a Pedagogia Waldorf, ocasionado pela mudança política da administração do munícipio, preconceitos religiosos por parte dos pais e a falta de interesse dos professores com uma proposta nova. Para tal, este estudo tem caráter exploratório, descritivo e qualitativo, desenvolveu-se por meio de análises documentais e consultas bibliográficas, complementadas por entrevistas junto aos agentes (professor, direção) envolvidos com a escola em análise.

Esse trabalho tem a função de averiguar a funcionalidade da Pedagogia Waldorf em instituições públicas como uma alternativa inovadora para o aprendizado das crianças por completo e quais as barreiras e desafios que são encontrados nessa transição para que não se cometa tais tipos de erros ao aplicar outras metodologias.

Feitas estas considerações iniciais, este estudo está constituído por três partes. Após esta seção introdutória, o próximo capítulo apresenta as fundamentações teóricas; o capítulo 2 desenvolve a metodologia de pesquisa e, por fim, no capítulo 3, têm-se as considerações finais.

3. A PEDAGOGIA WALDORF E SEUS PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS

Rudolf Joseph Lorenz Steiner, filósofo, educador e artista, nasceu em 27 de fevereiro de 1861 em Kraljevec, Croácia. De família simples, teve sua educação inicial dada por seu pai. Era apaixonado por matérias como matemática, geometria, ciências naturais e filosofia. Sempre inquieto e questionador, dedicou-se com grande empenho aos estudos científicos e filosóficos no intuito de romper antigos paradigmas (STEINER, 2016).

Formado na Escola Politécnica de Viena em 1879, atuou, à época, como professor particular para uma família em que um dos alunos, Otto Specht, era portador de hidrocefalia e mal sabia ler. Conforme Palmer (2005, p. 229):

Naquela família ele foi preceptor principalmente de um menino hidrocéfalo, que não podia frequentar escolas. A educação que ele deu a essa criança foi tão efetiva e sanadora que, posteriormente, ele pôde entrar em uma escola regular e acabou por formar-se em medicina. Essa difícil experiência, segundo Steiner, foi decisiva para a formulação de sua proposta pedagógica.

Ao longo de seus estudos, durante a década de 1890, Steiner dedicou-se a trabalhos de edição das obras de um de seus grandes inspiradores, Johann Wolfgang von Goethe– importante romancista, dramaturgo e filósofo alemão. Em 1891, terminou seu doutorado em Filosofia na Universidade de Rostock, Alemanha. Já em 1894 escreveu uma de suas principais obras: “A Filosofia da Liberdade” cujo tema principal “O que é a liberdade?” visa à autodeterminação, o livre-arbítrio e o direito individual do homem, em que o instrumento deve ser o pensar consciente. Posteriormente, tornou-se membro da Sociedade Teosófica, na qual escreveu algumas obras e realizava palestras; todavia, acaba rompendo com tal ideologia e cria a Sociedade Antroposófica, objetivando comprovar a espiritualidade por meio da ciência e considerar o conhecimento como uma evolução espiritual (STEINER, 2016).

Em 1914 se casa com Marie von Sievers, importante colaboradora na criação da Antroposofia. Devido às várias palestras realizadas por toda Europa, Steiner desenvolveu novas filosofias para as mais distintas áreas, a citar: arte, pedagogia, ciências, organização social, medicina, dança, agricultura, arquitetura e teologia. Steiner faleceu em 30 de março de 1925, aos 64 (sessenta e quatro) anos, em Dornach, Suíça, deixando muitas contribuições em diversos campos do conhecimento humano. Sua obra completainclui 40 livros e aproximadamente 6.000 palestras, totalizando mais de 350 volumes de acordo com (SETZER, 2009).

Conforme Romanelli (2015), Steiner pregava a liberdade individual, a autoconsciência, o livre arbítrio, e no campo da educação, para educar com liberdade era preciso que o professor conhecesse seus alunos, ou ainda, ter o domínio sobre o desenvolvimento do ser humano. Neste viés, o autor cria a Antroposofia, i.e., uma Ciência Espiritual alusiva à “sabedoria do homem”, que o possibilitaria observar e entender o mundo, a Antroposofia é uma doutrina filosófica e mística que foi a base epistemológica para a criação da Pedagogia Waldorf. Segundo, Trevisan (2006 p. 15-16):

[...] criou a Antroposofia, uma linha de pensamento e investigação científica que abrange diversas áreas do conhecimento humano. A Antroposofia (antropo = homem, sofia = saber, ciência) entende o homem como centro do saber e um microcosmo no qual vibram e pulsam os processos do universo.

Destarte, ao ter como base o pensamento, ou ainda, o pensar sobre o pensar, de forma a compreender a entidade humana, o objetivo da Antroposofia era tornar o homem um ser mais espiritualmente livre (LANZ, 2013).

Segundo Setzer (1998), a Antroposofia inspirou Steiner para a criação da Pedagogia Waldorf, pois na sua visão a sociedade precisava de uma proposta transformadora, e a educação, de uma renovação. Nesse sentido, em sua concepção, a Antroposofia ensina que o amor altruísta é a missão do ser humano na terra e que a liberdade individual é nossa maior riqueza (TREVISSAM, 2006, p. 17). Ressalta-se assim que a Antroposofia é um conceito e não é uma religião, dogma ou seita.    

A partir desse conceito, Steiner defende que o ser humano possui todos os reinos da natureza em si. O reino mineral está presente nos ossos, o reino vegetal no sangue (como a seiva de uma planta) e os sentimentos representam o reino animal. Essa relação segundo o autor foi denominada de 'trimembração', na qual existem três classes de corpos, sendo o primeiro o 'corpo físico', o segundo o 'corpo etérico' e o terceiro o 'corpo astral' (TREVISSAM, 2006).

Assim, a trimembração do organismo social define a formação humana. Os homens são formados por corpo, alma e espírito, em que o corpo permite a vida no mundo físico, a alma é portadora dos impulsos, sentimentos e o espírito é a conexão com o mundo divino-espiritual. De acordo com Romanelli (2008, p. 82):

A visão trimembrada do ser humano faz sua conexão direta com seu estar no mundo. O corpo, portador dos processos metabólicos que o estruturam e o desenvolvem, carrega em si a força vital que permite o ser humano exercer sua vontade, seu querer. A alma, corpo astral carrega a vida dos sentimentos, o sentir humano. O espírito, portador do Eu e da vida intelectual ou do pensar. Steiner considera também três sistemas ou membros da organização corpórea do ser humano. O primeiro é o sistema neuro-sensorial do homem que tem seu centro na cabeça e dela se irradia para todo o resto do corpo humano. O segundo é o sistema rítmico que abrange a respiração e o sistema sanguíneo. O terceiro sistema é o metabólico-motor que é responsável pelos processos metabólicos e pelo movimento. A organização corpórea da sustentação física para a vida da alma, ou vida anímica, segundo o autor. Os três sistemas se relacionam respectivamente com as três forças da alma humana: pensar, sentir e querer. Na Pedagogia Waldorf, o processo cognitivo se estabelece como um caminho que procura o equilíbrio entre as tendências do pensar e do sentir para a educação da vontade – o querer. Esta educação se faz a partir da harmonização do sentir a partir do entendimento do homem trimembrado considerado por Steiner como um ser que percebe o mundo através dos seus órgãos dos sentidos.

Paulatinamente, a gradativa expansão das ideias conexas à 'trimembração' social fez com que grupos de pessoas se unissem a Steiner objetivando propagar à sociedade a ideia do acolhimentodo homem por inteiro. Para tal, seriam realizadas palestras por todos os espaços alemães do século XX. Entretanto, segundo Steiner, a sociedade não estaria preparada para a trimembração, que jamais deveria ser imposta, uma vez que a mesma prega que cada indivíduo tem que fazer seu caminho com liberdade para igualdade e desenvolver a fraternidade. A partir disso, Steiner remonta os princípios universais da revolução francesa: 'liberté, egalité, fraternité', afirmando que os homens são compostos por três diferentes dimensões: a primeira é a vida cultural ou espiritual, a segunda a vida jurídica ou política, e a terceira a vida econômica, mais uma vez, corroborando os princípios da trimembração, agora referente à área social (BOS, 1986).

Uma vez que o ideal da trimembração não se ampliava, Emil Molt, um dos seguidores de Steiner, pediu-lhe para que realizasse várias palestras na fábrica de cigarros Waldorf Astória, onde tal concepção poderia chegar aos trabalhadores. A partir deste fato, nasce a primeira Livre Escola Waldorf, em Stuttgart, Alemanha, em 07 de setembro de 1919 (pós-primeira Guerra), formada por 12 docentes e 256 alunos de acordo com a Federação das Escolas Waldorf, 1998. De acordo com Trevisan (2006, p. 17), após se encantarem com suas palavras e ideologia, os funcionários da fábrica queriam educar seus filhos com base nas propostas de Steiner, e, assim, “pediram a Steiner que criasse uma escola para seus filhos, prevendo que o mundo entraria numa fase de reconstrução, não só dos danos da guerra, como de valores e princípios morais e sociais”. Desta forma, Steiner ensinou que a evolução do conhecimento se dá pela evolução espiritual, o qual o pensar é um instrumento humano para a compreensão da realidade. O individuo pensante aprende a intuir ao longo da vida e a liberdade está intrinsecamente conexa à educação, sendo fruto da autoeducação. De acordo com Romanelli (2015, p.56):

No processo cognitivo reside a possibilidade de uma evolução do conhecimento humano, individual e coletivamente, a um patamar que permita a realização da liberdade. O desenvolvimento da teoria do conhecimento só faz sentido para ele se a continuidade de sua evolução se fizer de maneira a conduzir ao que ele chama de individualismo ético, o qual só pode ser atingido pelo ser humano autônomo.

Dessa forma, criou-se uma escola autônoma e livre. A escola tinha organização circular, sem hierarquia, sendo um organismo vital, sem fins lucrativos, onde todo o dinheiro se destinava às necessidades da escola, e quaisquer crianças, independente da cor, religião etc. eram bem-vindas. Tinha-se assim o real significado da autogestão[1] (TREVISAN, 2006).

De acordo com o autor supracitado, a missão de uma escola Waldorf é educar as crianças para a vida, priorizando a formação completa do ser humano, por meio do desenvolvimento físico, espiritual e artístico, i.e., seria a tríplice mente, coração e mão, que se traduziria em “atividade intelectual e cognitiva (o pensar – a cabeça), a vida emocional e afetiva (o sentir – coração) e a atividade volitiva (o querer – membros)” (Trevisan, 2006, p. 22). Segundo Steiner (1919, p. 7):

Os Senhores vão receber, para serem ensinadas e educadas, crianças que já atingiram uma determinada idade, e deverão estar cônscios de que as receberão depois de elas haverem passado, em seus primeiros anos de vida, pela educação e, muitas vezes, pela “deseducação” por parte dos pais. Só atingiremos nossa meta quando estivermos, como Humanidade, tão adiantados que os próprios pais compreendam já no primeiro período da educação, que tarefas especiais se impõem à Humanidade de hoje.

Como já mencionado, segundo Steiner (1907) a principal filosofia da Pedagogia Waldorf é indivíduos livres com igualdade de direitos e fraternidade para cuidar das necessidades financeiras, e no campo da educação, refletindo-se na transição da prática para a teoria.

A Pedagogia Waldorf não é exatamente algo que se possa aprender, sobre o qual se possa discutir: é pura prática, e pode-se realmente apenas relatar, através de exemplos, como a prática é utilizada em cada caso ou necessidade. A própria prática surge a partir da experiência imediata, pois é imprescindível haver o conhecimento humano adequado quando se parte dessa convicção. Ora, pedagogia e didática já constituem, em certo sentido, uma questão social marcadamente ampla — pois a educação da criança deve realmente começar logo após o nascimento. Isto nada mais significa senão que a educação é atribuição de toda a Humanidade, de cada família, de cada comunidade humana (STEINER, 1923, p. 2).

Assim, na Pedagogia Waldorf, o ensino acontece a partir da prática para a teoria vem antes da teoria. Em um primeiro momento, fazem-se as experiências, testam-nas, e só assim, posteriormente, as crianças leem, escrevem em seus cadernos sem pautas, com lápis coloridos, dando liberdade para registrarem o que aprenderam e compreenderem; sem se prenderem a cores sem vida como a do lápis grafite cinza, podendo usar quaisquer cores que quiserem, criando seu próprio livro didático, com desenhos feitos por eles mesmos. Os professores também utilizam muito do desenho na lousa para explicarem a teoria – tudo bem artístico. Ainda há outras atividades que complementam cada fase do ser humano, sempre orientadas pelos setênios e seus ciclos (posteriormente especificados).

No jardim de infância as crianças aprendem a convívio com outras em diferentes idades. Do primeiro ano de vida até os sete anos de idade, essa heterogeneidade é fundamental para ambas, pois cada criança tem suas próprias características e atitudes, e, amadurecendo juntas, as pequenas aprendem com os mais velhos e estas últimas se tornam responsáveis e maduras com os menores, que aprendem a plantar, cuidar do que plantaram colher,armazenar e, por fim, fazer os próprios lanches ou refeições. Da mesma forma, alguns brinquedos são confeccionados pelas mesmas, tendo o cuidado de conhecerem o material, e.g., a lã, em que as crianças cuidam das ovelhas, participam da tosa, da lavagem, da secagem, depois fiam a lã, até chegarem ao momento de criar os brinquedos, as bonecas, as bolas... Tudo com orientação de professores.

Silva (2015) explica que a metodologia específica usada é o ensino baseado nas artes, por meio da aquarela, música, teatro, marcenaria, dança euritmia[2] e línguas inspirada nos princípios da Antroposofia.

O currículo Waldorf elege a arte como o pilar primordial de toda a educação. Segundo Kügelgen (1989), na Pedagogia Waldorf não há nenhum domínio de aprendizagem que não seja enriquecido pela atividade artística, através da qual se aprofunda a experiência. Entretanto, não se reserva um horário determinado para essas atividades, elas não ocorrem à margem dos demais estudos, como usualmente acontece na grande maioria das escolas convencionais que reservam algum espaço do currículo para a arte; ao contrário, éo laço de união entre as diversas matérias (SILVA, 2015, p.109).

Na educação tradicional, a partir do segundo setênio, ou como denominado, ensino fundamental, a aprendizagem é dividida em épocas, tendo no cotidiano somente os ensinos de matemática, português e línguas estrangeiras. No período de ensino da geografia, história ou outras disciplinas, é dedicada apenas um mês ou um pouco mais durante cada ano, semelhante ao ensino de alternância usado nas escolas rurais e do campo para determinado conteúdo. Por sua vez, na Pedagogia Waldorf as matérias artísticas continuam no currículo, todavia, aprende-se geometria por meio de luz e sombra; trabalho de literatura com pinturas em aquarela; desenho de forma que auxilia na psicomotricidade fina; tricô, música que prepara a respiração, ansiedade e equilíbrio; argila em que a criança desenvolve a criatividade, a mão na massa; confecção de bonecas de tricô em que a criança transmite como ela se vê por meio da construção apresentada por Lanz (2013) acerca da autoestima e do reconhecimento.

A boneca é meramente um exemplo característico; temos moldado todos os nossos brinquedos da mesma forma, em nossa civilização. Tais brinquedos são a mais terrível tortura para as crianças. E assim como se mostram comportadas no seio da família e da comunidade mesmo sendo castigadas, segundo é exigido pelas convenções, as crianças tampouco expressam, por gentileza, aquilo que se enraíza verdadeiramente no mais profundo de sua alma: a antipatia por essa linda boneca. [...] para STEINER (1923, p. 6).

 Há ainda teatros ensaiados, escolhidos e desenvolvidos pelos adolescentes que constroem o cenário, figurinos, envolvendo toda a sala, professores e pais na direção e encenação. Têm sarais literários mensais, onde a escola abre as portas e os alunos mostram tudo o que estão aprendendo, construindo... E aprendendo a arrecadar dinheiro de forma conjunta para o bem comum da escola (LANZ, 2013).

Em se tratando da alfabetização as crianças, estas são alfabetizadas após os sete anos, respeitando cada fase do seu desenvolvimento, denominadas por Steiner de setênios divididos em ciclos de sete anos cada. Para Trevisan (2006, p. 38):

A Antroposofia utilizou este inestimável conhecimento de que o desenvolvimento humano é dividido em ciclos de sete anos, chamados setênios, para criar as bases da pedagogia Waldorf. Essa distinção não é arbitrária, mas segue o amadurecimento da individualidade, do corpo físico e de todo o potencial humano.

Nesse sentido, cada início de setênio pode ser considerado a representação do nascimento de uma nova etapa da vida. O primeiro setênio é o da infância de zero á sete anos em que a criança frequenta a Educação Infantil. Nessa fase a característica primordial é a estruturação do corpo físico, onde se percebe no final desse período a troca dos dentes.

Duas palavras mágicas caracterizam a maneira como a criança se relaciona com o mundo: imitação e exemplo. O filósofo grego Aristóteles denominou o homem como o animal mais propensoa imitar; essa verdade vale para a idade infantil, até os sete anos, mais do que para qualquer outra. O que acontece no ambiente físico a criança imita, e essa imitação confere aos órgãos físicos suas formas definitivas. Devemos considerar o ambiente físico em sua acepção mais ampla, incluindo nele não apenas o que se passa materialmente ao redor da criança, mas tudo o que ocorre, o que seus sentidos percebem - o que, a partir do espaço físico, é suscetível de agir sobre as forças espirituais. Isso inclui todas as ações morais e imorais, inteligentes e tolas que a criança possa perceber. (STEINER, 1907, p. 7).

Para Steiner (1919), sendo o mais importante para a criança o brincar, deve-se respeitar essa vontade ensinando-a por meio de brincadeiras. Além disso, o jardim de infância deve ser a extensão da sua própria casa, possuindo aconchego, conforto, e tendo uma postura sempre atenta, pois a criança imita o que vê. Não são as palavras que predominam nessa fase, mas o exemplo, o que as crianças veem ao seu redor. Quanto ao educador, este deve ser digno de ser imitado pela criança. A característica desse setênio é 'O mundo é bom' (TREVISAN, 2006).

Daí a importância, para o jovem, de ter à sua volta mestres, personalidades cuja maneira de ver e julgar o mundo possa despertar nele as forças intelectuais e morais desejáveis. Assim como imitação e exemplo eram as palavras mágicas para a educação dos primeiros anos, para os anos ora focalizados o são a aspiração a ideais e a autoridade. A autoridade natural, não imposta, deve constituir a evidência espiritual imediata para que o jovem forme consciência, hábitos e inclinações e discipline seu temperamento, com cujos olhos observa o mun-do. Valem principalmente para essa idade as belas palavras do Poeta: Cada um deve escolher o herói a quem pretende imitar em sua ascensão ao Olimpo. Veneração e respeito são forças que devem fazer crescer o corpo etérico de maneira sadia. Quem não tem, nessa idade, a chance de olhar para alguém com um sentimento de ilimitada veneração, mais tarde terá de pagar por isso (STEINER, 1907, p. 8-9).

O segundo setênio é o da juventude de sete aos 14 anos, onde a criança vai desenvolver seu emocional e o seu cérebro já se encontra mais desenvolvido, facilitando a absorção de conteúdos, e logo, estimulando o aprendizado e não a decoreba (MELROSE, 2010). É no segundo setênio que o desenvolvimento se refere ao psicológico, aos sentimentos, às emoções, promovendo o amadurecimento da criança. O professor deve ser autoridade amorosa nesse ciclo, ser alguém a quem o aluno tem admiração. Deve provocar e despertar no mesmo a curiosidade e o valor do saber. Nessa fase, a memória se desenvolve, e, assimilando grande quantidade de informações, a criança gosta de aprender, e tem mais facilidade com imagens. De acordo com Trevisan (2006), a característica do segundo setênio é 'O mundo é belo'.

Lanz (1979) expõe que no terceiro setênio–dos 14 aos 21 anos, diante das transformações físicas da adolescência e das mudanças de consciência e julgamento e de desilusões em torno de si e do outro, é preciso mostrar que os professores mostrem os limites, mas, ao mesmo tempo, deixem que o jovem faça suas próprias escolhas e aprenda com os erros, mostrando de fato o que é liberdade.

O adolescente deve ter a tendência a primeiro aprender para depois julgar. O intelecto só deveria opinar sobre qualquer assunto depois de terem falado todas as outras forças anímicas; antes disso, ele deveria desempenhar apenas um papel mediador. O intelecto só deveria servir para captar e assimilar livremente o que o indivíduo viu e sentiu, sem que o juízo imaturo logo se apoderasse do assunto. Por esse motivo, seria indicado poupar ao jovem todas as teorias antes da idade mencionada, ressaltando-se a importância do fato de ele enfrentar as experiências da vida para acolhê-las em sua alma. O adolescente pode, evidentemente, familiarizar-se com o que outros opinaram a respeito disso ou daquilo, mas convém impedir que se engaje numa opinião por meio de um juízo prematuro (STEINER, 1907, p.13).

Nesse ciclo, a expectativa do adolescente em relação ao adulto é o compromisso com a verdade absoluta. Trevisan (2006) salienta que no ensino médio, mais precisamente, no último ano, na concepção Waldorf, os alunos têm a oportunidade de um estágio, onde, com acompanhamento dos professores ou tutores, trabalham por uma semana para terem noção do que é trabalhar e de quais são suas responsabilidades. Assim, estes jovens se preparam não somente para o vestibular, mas para a vida adulta que se iniciará fora da escola, visando à busca pelo significado da vida. A característica do terceiro setênio é 'O mundo é verdadeiro' (TREVISAN, 2006).

Ressalta-se assim que o objetivo de todos esses saberes é tornar os indivíduos, a começar pelas crianças, pessoas que pensam e compreendam o mundo que lhes acolhe, possibilitando que sejam felizes.

  Além dos setênios, dos ciclos de sete em sete anos, há outro tipo de característica para observar e classificar cada criança de acordo com suas atitudes. De acordo com Lanz (2013), existem quatro tipos de temperamentos: i) sanguíneo, ii) melancólico, iii) fleumático eiv)colérico; alusivos aos elementos da natureza: ar, terra, fogo e água. Em que cada temperamento possui suas próprias características. As crianças de temperamento sanguíneo são falantes, apressadas, gostam de muitas coisas ao mesmo tempo, encaram a vida sem muitos problemas.

Nunca para durante muito tempo, seus movimentos consistem em pulos; quando cai, não chora senão durante alguns segundos para logo voltar à alegria, que é seu estado predominante. Assim como não põe os pés firmemente sobre o chão, tampouco se fixa a uma ocupação. Da mesma forma, não se prende durante muito tempo a uma tarefa.É geralmente inteligente, mas carece de perseverança e de concentração. Não gosta de comida pesada, e tem uma predileção por alimentos azedos e picantes Adormece facilmente e acorda rapidamente. De modo geral, sentimos nela um predomínio do elemento aéreo, isto é, dos processos da respiração e circulação. Em casos extremos, seu caráter tem uma tendência doentia para a superficialidade e para interesses fúteis. Não é pela força que o adulto consegue dominar esse temperamento. Ele tentará prender o interesse da criança sanguínea a uma ocupação ou a uma pessoa através de uma inclinação afetiva. Se ela for tomada de um verdadeiro amor, fixar-se-á mais demoradamente no objeto de sua afeição (LANZ, 2013, p.70).

Já as crianças melancólicas são egocêntricas, retraídas; têm seu próprio mundinho; gostam de planejamento, ordem, clareza e possuem uma expressão facial triste. Para Lanz (2013, p. 71):

A criança melancólica foge ao contato com o mundo ambiente. Ela cria dentro de si um mundo imaginário em que gosta de se isolar, embora esteja, no fundo, ávida e afeição e de compreensão. Seu próprio corpo parece ser um fardo.Seus movimentos são lentos e desajeitados, contrastando com a agilidade da criança sanguínea. Por isso, a criança melancólica não é, em geral, facilmente aceita pelos colegas; isso reforça sua tendência à solidão e ao ensimesmamento. Não tendo contatos fáceis com o mundo real, ela cria dentro de si um mundo imaginário onde lhe cabe o lugar de honra e de destaque que não consegue ocupar na vida: a criança se transforma em herói, em princesa, em autor de infinitas proezas.

Por suas vezes, as crianças de comportamento colérico são crianças agitadas, violentas, gostam de perigo e de se aventurarem.

À primeira ocasião, o colérico “estoura” numa atitude de violência descontrolada fora de proporção com a causa do incidente.Uma vez terminado o acesso de raiva, o colérico será o primeiro a lamentar seu comportamento, e tomará as melhores resoluções – até a próxima vez.É nesses intervalos que o colérico é acessível; tentar retê-lo ou argumentar com ele durante a explosão é inútil e serve apenas para torná-lo ainda mais furioso. Mas, nos intervalos “normais”, ele sofre da sua falta de autocontrole. Em geral, seu temperamento tem também muitos aspectos positivos: é uma criança responsável, perseverante, corajosa e aplicada. Nem sempre aprende com facilidade, mas sua energia é dirigida tanto a ela própria quanto ao mundo exterior. Todo o seu ser é dominado pela vontade, e ela joga toda a sua personalidade para realizá-la. O colérico é o líder nato; seus conceitos de moralidade são simples e, às vezes simplistas: o mal tem de ser contido com toda a energia (LANZ, 2013, p.72).

  Por último, a crianças de temperamento fleumático é calma e passiva. Conforme Lanz (2013, p. 73):

Vive num sonho constante, do qual detesta ser tirado. Sua fantasia é medíocre, mas, em compensação, ele é muito ordeiro e perseverante.Aliás, seria errado considerar no temperamento fleumático apenas os lados negativos. A constância dos sentimentos conduz a uma bondade em relação aos colegas, e a uma fidelidade fora do comum. Atrás da impulsividade da sua expressão esconde-se muitas vezes uma inteligência prática considerável, e a lentidão em captar impressões e conhecimentos novos é compensada pela perseverança, pela calma e pelo espírito metódico.

Saber, conhecer e reconhecer os temperamentos em cada criança auxilia a formar grupos e atividades, bem como ajuda no tratamento psicológico evolutivo da criança.

Seja-nos permitido acrescentar apenas mais alguns exemplos. De acordo com a Ciência Espiritual, uma criança nervosa e irrequieta e outra letárgica e fleumática devem receber tratamentos diferentes, a começar pelo ambiente em que vivem. A esse respeito tudo é importante, desde as cores do quarto e dos objetos que normalmente rodeiam a criança até as cores das roupas com as quais ela é vestida (STEINER, 1907, p. 7).

É dever do professor ao ter esse conhecimento cuidar para que o ambiente em classe esteja sempre em equilíbrio harmonioso (TREVISAN, 2006).

Outra característica marcante da Pedagogia Waldorf é o fato de o professor atuar durante 8 anos consecutivos com a mesma turma, ou seja, da alfabetização até o oitavo ano, o que possibilita um acompanhamento permanente ao longo de seu desenvolvimento e uma ligação mais profunda entre professor e aluno, bem como entre professor e pais.Como resultado, o professor tem papel vital na construção e formação da identidade do aluno.

3.1. Currículo referente ao ensino fundamental

Steiner foi bastante criterioso na elaboração do currículo para a proposta Waldorf. Grande parte das disciplinas são dadas pelas aptidões que os professores possuem. As classes são divididas em três aspectos: i) Jardim Infantil, de zero a sete anos de idade, em que todos crescem juntos; ii) Ensino Fundamental, composto por 8 séries, cujas crianças são acompanhadas por um mesmo professor nesse período; e, por fim, iii) Ensino Médio, composto por quatro séries, onde tem a presença de um professor tutor e de outros professores conforme as disciplinas. Em alguns casos, é possível a existênciada 13ª série no objetivo de ser preparatória para seleções e vestibulares.

O colegiado de professores da Escola Waldorf deseja conformar metodicamente o ensino de maneira tal que lhe fique liberdade total para a estruturação da matéria de ensino dentro dos três primeiros anos escolares; em compensação esforçar-se-á por levar as crianças, na conclusão do terceiro ano escolar, a uma meta de ensino que coincide completamente com aquela da terceira classe da escola primária pública. – Este propósito deve ser levado a cabo de tal forma que uma criança, que porventura deixe o terceiro ano da Escola Waldorf, possa ingressar no quarto ano de outra escola pública sem problemas. Nos quarto, quinto e sexto anos escolares, novamente, a estruturação do ensino deve poder ser efetuada livremente. Com o sexto ano escolar completado, devem as crianças 30 haver chegado à meta de ensino do sexto ano da escola primária e, ao mesmo tempo, à meta de uma escola mais elevada que corresponda, segundo a classe, ao décimo segundo ano de vida completo. O mesmo deve valer para a estruturação da matéria de ensino e para o atingir da meta de ensino até o oitavo ano escolar completado. As crianças devem alcançar metas de ensino equivalentes ás da Realschule (escola de nível secundário) completa, e também estar habilitadas para se transferirem para uma classe de idade correspondente de outra escola mais elevada (STOCKMEYER, 2011, p. 29)

De acordo com a obra “Rudolf Steiners Lehrplan für die Waldorfschulen” de E.A. Karl Stockmeyer, segue brevemente os conteúdos do currículo Waldorf para o ensino fundamental I e II.

Primeiro Ano Escolar

No primeiro ano escolar ensina-se falar, escrever e ler o Alemão por meio de narrativas, poemas, músicas e conversação. Desenvolve-se o ensino de outras línguas, como o Francês e o Inglês, até a terceira classe, de maneira que a criança as aprenda falando. Não se deixa perceptível a existência da gramática, onde a criança assimila pelos sons e a partir da memória. As histórias contadas nessa fase são os contos de fadas. Após o inicio do ensino de escrita e leitura, começa-se com os cálculos; desenvolvem-se as quatro operações – a adição, a subtração, a multiplicação, a divisão e, depois, exercita-as, de modo que, por meio do exercício, essas quatro operações são assimiladas quase que simultaneamente. Dispõe-se a prática do desenho totalmente a serviço do aprender a escrever. Apresenta-se o ensino da música a fim de formar corretamente a voz, o som e a audição. A Euritmia tem ligação com a geometria e a música. A ginástica tem a função da movimentação corporal, dependente do professor em estimular as crianças para o verdadeiro livre brincar. Por fim, os trabalhos manuais se dão por meio do aprendizado de tricô, com duas agulhas, na confecção de esfregões de cozinha.

Segundo Ano Escolar

O ensino de Alemão continua e agora a criança passa a escrever o que foi narrado; o Francês e o Inglês também são mantidos. Os contos, agora, são referentes às histórias do mundo animal conexos à fábula. Os cálculos matemáticos desenvolveram números abstratos e os concretos. Tem-se a geometria exercitando formas simples e complicadas, para o cultivo da consciência de espaço. O ensino de música continua como no primeiro ano escolar. A Euritmia inicia a formação de letras. A ginástica também continua como no primeiro ano escolar. E os trabalhos manuais tendem ao término dos trabalhos do primeiro ano escolar, a aprender a fazer crochê;

Terceiro Ano Escolar

Leva-se adiante o ensino de Alemão, ampliando o que foi ensinado, por meio da construção de frases. O Francês e o Inglês continuam a aprendizagem assim como nos primeiros anos. Os contos passam a ser narrativas bíblicas como parte da história geral. Os cálculos matemáticos passam a envolver números mais complexos junto às quatro operações, bem como ensinama utilização da matemática na prática. A geometria mantém-se como no segundo ano escolar. Neste ano, introduzem-seas ciências naturais, relacionando determinados animais ao homem. A música continua, como nos primeiro e segundo anos escolares. A Euritmia passa a interligar a música, a geometria e o desenho. A ginástica segue como nos anos escolares anteriores. Já os trabalhos manuais são a confecção em crochê.

Quarto Ano Escolar

O ensino do Alemão se dá nesta fase por meio da redação de cartas. O Francês e o Inglês, agora, passam para a gramática por meio de textos poéticos. As histórias passam a recontar cenas da antiguidade. A matemáticadá sequencia, entrando no ensino das frações, em especial, das frações decimais. Por meio de desenhos, desenvolvem-se as formas geométricas e o Teorema de Pitágoras. Neste ciclo, começa-se o ensino de História, por meio da narração, e.g., de como a viticultura, ciência que estuda a produção de uva, chegou ao País. O ensino de geografia tem como função principiar por aquilo que, de mais próximo, pertence à geografia. As ciências naturais, em consonância ao terceiro ano escolar, submetem-se a relacionar o mundo animal ao Homem. Na música já é possível fazer exercícios em escala musical. A euritmia, por sua vez, trabalha as formas, ou seja, o concreto, o abstrato etc. A ginástica, mais ou menos a partir do quarto ano escolar, estimulam as crianças para atividades que levam em consideração o ânimo, a força da resolução e a perseverança, representados pelo correr, pular, deslocar-se na barra fixa, luta olímpica, arremesso, e por brincadeiras correspondentes. Os trabalhos manuais seguem para o aprender a costurar com exatidão, por exemplo, pequenas bolsas ornamentadas.

Quinto ano escolar

O ensino de Alemão continua sendo tratado como no quarto ano escolar e é levado adiante de maneira recapitulativa. O ensino do Francês e do Inglês se desenvolve por meio de redações curtas e da leitura com humor, costumes e hábitos da vida. A narração passa a descrever a Idade Média. Os cálculos matemáticos seguem como no quarto ano escolar, levando adiante o ensino de frações. O ensino de história começa com verdadeiros conceitos históricos; por meio de narrativas leva-se à criança conceitos sobre a cultura dos povos orientais e dos gregos. A geografia ensina à criança configurações do solo e como isso se relaciona à economia. No ensino de ciências naturais, acrescentam-se animais desconhecidos e a botânica. A música mantém-se como no quarto ano escolar. A euritmia e a ginástica, idem. Os trabalhos manuais a partir de agora se remetem a fazer as peças do vestuário, como, por exemplo, tricotar meias e luvas.

Sexto Ano Escolar

O ensino do Alemão, Francês e Inglês continua. A narração passa a retratar cenas da história moderna. A matemática passaa ensinar cálculos de juros, porcentagem, desconto e câmbio. O ensino de história considera fatos históricos acerca dos gregos e dos romanos. A geografia mantem o que foi abordado no quinto ano escolar, acrescentando outros estudos do planeta Terra; e ainda, questões climáticas e importância dos minerais. Neste último ponto, os minerais também são alvos dos ensinamentos das ciências naturais, após os estudos da botânica. É no sexto ano escolar que se inicia o ensino da física, abordando a acústica em sintonia com o ensino das tonalidades musicais. Também se tem o ensino da horticultura, e sua prática por meio do trabalho no solo. A música continua... A euritimia se mantém como no quarto e quinto anos escolares, assim como a ginástica. Os trabalhos manuais se aplicam a prática da costurae decoração de chinelos e de sapatilhas para a ginástica. É também nesta fase que ingressam as artes aplicadas com a finalidade de introduzir o trabalho manual com madeiras, e.g., por meio da produção de brinquedos.

Sétimo ano escolar

O ensino do Alemão leva adiante tudo o que foi apresentado no ano escolar anterior. Já o Francês e o Inglês nas sétimas e oitavas classes dão maior enfoque à leitura. A narração é desenvolvida sobre a raça humana. Os cálculos matemáticos introduzem a potenciação e a radiciação, bem como cálculos com números positivos e negativos. Mantém-se ainda a relação da matemática com a vida prática. O ensino de história narra o século XV e, depois, descreve o contexto europeu mais ou menos até o início do século XVII. A geografia se mantém, ensinando sobre as condições culturais espirituais dos habitantes da Terra e sua relação com as condições materiais. As ciências naturais ensinam à criança o necessário acerca das condições de alimentação e de saúde. O ensino da física passa a ensinar a acústica termologia, a ótica e a eletricidade. Tem-se neste ano o ensino da química abordando seus processos, como o da combustão. A horticultura se mantém como no sexto ano escolar. A música de é tratada agora de modo que as crianças tenham a impressão de que a cultivam principalmentepor prazer. A euritmia e a ginástica se mantêm como no sexto ano. Os trabalhos manuais se aplicam à costura à mão e ornamentação de vestuário, como, por exemplo, de camisas. Mantêm-se nas artes aplicadas a produção de brinquedos móveis.

Oitavo Ano Escolar

O ensino do Alemão tem conteúdo mais extenso em prosa e poesia, e leituras dramáticas e épicas. As línguas Francesas e Inglesas continuam como no sétimo ano escolar. A Narração permeia acerca dos conhecimentos dos povos. A Matemática continua o ensino de equações, ainda com mais incógnitas, e introduz os cálculos de formas e superfícies. A disciplina História narra os acontecimentos até a atualidade. A Geografia apresenta sucintamente as condições da indústria e do comércio, relacionando-as à física e à química. As ciências naturais apresentam a mecânica dos ossos, dos músculos, a construção interior dos olhos etc. O ensino de Física amplia o que fora tratado no sexto ano escolar e passa a abordar a hidráulica e ameteorologia. A Química ensina os conceitos químicos simples e apresenta os processos industriais. A Horticultura se mantém como no sexto e sétimo anos escolares. A Música, a Euritmia e as Artes se mantêm como no sétimo ano escolar. A Ginástica, com ou sem aparelhos, torna-se um tratamento higiênico de todo o corpo. Por fim, os trabalhos manuais continuam como aqueles do ano escolar anterior e acrescenta a costura a maquina, com o uso de tecidos.

3.2. Princípio da autogestão

Toda escola Waldorf é organizada com base na autogestão e fundamenta-se nos princípios da Trimembração do Organismo Social, propostos por Steiner.

De acordo com Richter (2017, p.1):

A comunidade da classe baseia-se no trabalho conjunto de ensino e na colaboração entre professores e alunos em função da realização da missão pedagógica como um todo. Questões a respeito de regulamentos, de segurança, de desempenho e de disciplina devem ser resolvidos por meio de conversas entre professores, pais e alunos. Os alunos, particularmente do ensino médio, devem reconhecer e sentir que lhes cabe também uma certa responsabilidade no trabalho do organismo escolar;[...]

A maioria das escolas Waldorf é associativa[3], possuindo uma mantenedora e uma entidade civil sem fins lucrativos, constituída por pais, professores e amigos que são responsáveis por administrar os recursos financeiros e garantir que todas as atividades pedagógicas da escola estejam alinhadas aos princípios da Antroposofia e da Pedagogia Waldorf. Como na Trimembração existe uma divisão, são três esferas que se relacionam entre si conjuntamente à autonomia e ao equilíbrio. Além disso, cada responsável tem direitos e obrigações iguais, sem qualquer tipo de hierarquia.

A primeira esfera é a pedagógica formada pelos professores, e " está relacionada ao âmbito cultural-espiritual. O princípio básico deve ser liberdade”.A segunda esfera é a socioeconômica constituída pelos pais, famílias e alunos. “Trata das necessidades financeiras da instituição. O princípio básico deve ser a Fraternidade.”A terceira esfera é a administrativa que é representada pela associação mantenedora. “Regulamenta a vida institucional por meio da normatização dos direitos e deveres. O princípio básico deve ser a Igualdade" (VENTRE, 2017).

3.3. A Pedagogia Waldorf no Brasil

A Pedagogia Waldorf iniciou no Brasil em 1956 por imigrantes alemães que fundaram a primeira Escola Waldorf Rudolf Steiner na cidade de São Paulo. Entre muitas escolas Waldorf no Brasil, a maioria é particular ou possui algum tipo de associação que as financia. Apenas nos estados da Bahia e das Minas Gerais que existem raras escolas Waldorf públicas. De acordo com Mesquita (2011, p. 20):

Por iniciativa de Schimidt, Mahle, Berkhout e Bromberg, que eram simpatizantes da proposta e estimularam a Karl e Ida Ulrich que viessem da Alemanha para fundarem a primeira Escola Waldorf no Brasil, devidamente contextualizada à realidade de nosso país, porém mantendo os princípios originais de abordagem pedagógica. A missão de Karl e Ida era a de lecionar e preparar os educadores para que também lecionassem a Pedagogia Waldorf. O projeto iniciou apenas com o Jardim da Infância e as primeiras quatro séries iniciais. O Ensino Fundamental só passou a funcionar 23 anos depois (1979), após os resultados positivos que já se vinham obtendo, o que trouxe como consequente resultado, pouco mais tarde, a implantação do Ensino Médio também.

Nos dias atuais há uma crescente demanda por professores que estejam familiarizados e sejam formados na Pedagogia Waldorf, uma vez que só a graduação na pedagogia tradicional não basta. A Federação de Escolas Waldorf no Brasil (FEWB), criada em 1998, apoia as novas iniciativas de escolas, bem como a abertura de seminários para formação e complementação de professores.

A Federação das Escolas Waldorf na Alemanha (Bund der Freien Waldorfschulen) realizou uma pesquisa em 2015 sobre a quantidade de escolas Waldorf em todo o mundo e o resultado foram 1.056 escolas em 61 países.

De acordo com a FEWB no Brasil temos a seguir um mapa com dados sobre as escolas com práticas da Pedagogia Waldorf no nosso território, dados de 2014.[4]                                                                

Figura 1 - Fonte: FEWB

Podemos observar pela cor azul que naregião Sudeste composta pelos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo possuem o maior número de escolas Waldorf ,são 63 escolas ; a cor alanjado revela que na região Nordeste composta pelos estados do Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernanbuco, Alagoas, Sergipe e Bahia são 13 escolas; a cor rosa no mostra que na região Sul composta pelos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná são 11 escolas; a cor amarelo representa a região Centro-Oestecomposta dos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul , Goiás e o Distrito Federal com 07 ecolas; já a cor verde no mapa não apresenta nenhuma escola Waldorf na região Norte do país composta pelos estados do Amazonas, Rondônia, Acre, Pará, Roraima, Amapá e Tocantins

3.4. A formação do professor para a implementação da proposta Waldorf

De acordo com Lanz (1979) existe um diferencial na relação professor e aluno na proposta Waldorf. A partir do que, no ensino tradicional denomina-se de ensino fundamental, nas escolas Waldorf o professor regente no segundo setênio da criança permanece e acompanha a mesma turma durante oito anos consecutivos. Estabelece, assim, um vínculo forte com a classe, com a família de cada aluno, o que permite focar na individualidade do aluno e no processo de aprendizagem, já que conhece as dificuldades e aspectos positivos deste. Como já abordado no segundo capítulo, há disciplinas que necessitam de professores específicos, como nas áreas de dança, marcenaria, teatro, entre outras. Entretanto, há outras matérias como matemática, português, geografia, história e ciências que podem ficar sob aresponsabilidade do professor tutor.

Ao iniciar sua carreira profissional, o professor Waldorf se depara com o desafio de acompanhar uma classe por oito anos. Ele estará intensamente presente nos anos essenciais de aprendizado da vida de um ser humano. Ele será o norte no qual o aluno irá se guiar, será o exemplo, o porto seguro que a criança irá procurar. Ele terá a responsabilidade de promover a educação do indivíduo na conquista de sua liberdade e autonomia, encaminhando-o para uma correta integração na vida social (GOMES; MENDES, 2008 p. 62).

Um dos maiores desafios da Pedagogia Waldorf é a escolha do professor, pois, além da formação em Pedagogia tradicional, é exigido pela Federação das Escolas Waldorf do Brasil (FEWB) a formação na proposta Waldorf, que dura aproximadamente quatro anos de estudos com aulas mensais, participação em seminários e estágio obrigatório. Essa formação é desenvolvida por algumas instituições e escolas Waldorf. Ademais, outras dificuldades são o elevado custo destes cursos, a maioria não é reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC) e a sua pouca oferta. Neste último ponto, a maioria dos cursos é oferecida somente nas capitais brasileiras, sendo a maioria em São Paulo; tendo uma turma por vez, ou seja, é preciso esperar quatro anos até que uma nova turma se inicie de acordo com Santos (2015).

Outra questão que chama a atenção é a falta de interesse de professores jovens para a proposta Waldorf. Em sua maioria, os interessados são professores mais experientes; alguns são pessoas que já trabalham em instituições antropósoficas, escolas e precisam da formação que é exigida nesses ambientes para continuarem em seus empregos; outros são aposentados, que cansados do sistema tradicional, buscam um novo modelo de educação. E mesmo com toda boa vontade e interesse, ainda carregam consigo uma herança do que ensinaram a vida toda, o típico modelo tradicional neoliberal da educação que é maioria no Brasil.

Segundo Lanz (1979), nos cursos de Pedagogia é possível perceber como a Pedagogia Waldorf não é citada, ensinada; há uma resistência acadêmica quanto a essa proposta. A maioria dos professores não tem conhecimento e outros rotulam como uma proposta mística e esotérica por seu criador a associá-la á uma investigação espiritual, a Antroposofia. Para ser um professor Waldorf é preciso saber além do conteúdo tradicional, é preciso ter conhecimento profundo do ser humano, ou seja, conhecer a Antroposofia é preciso ter o amor como base e ter qualidades artísticas, ou, no mínimo, ter o desejo de desenvolvê-las, pois em cada aula, o professor ensina através das artes todos os tipos de matéria.

4. A EXPERIÊNCIA DA ESCOLA DR. HEITOR PEIXOTO TOLEDO EM UBÁ/ MG.

A “Escola Municipal Dr. Heitor Peixoto Toledo” situada no município de Ubá[5], MG, desenvolveu a Pedagogia Waldorf durante aproximadamente quatro anos, entre os anos de 2012 à 2016. Neste sentido, este estudo de caso tem a finalidade de abordar como foi essa experiência, abarcando como ocorreu a implementação da proposta, a formação dos professores, a relação com os pais e comunidade, e quais os motivos que levaram ao rompimento com a proposta Waldorf na escola. Foram realizadas entrevistas com a ex-diretora Gisele Azevedo, que administrava a escola no período, e com uma professora que participou dos cursos de formação Waldorf além de ter atuado na época da transição e que continua na escola, para relatarema experiência sobre a prática nesta escola pública.

4.0.1. A proposta pedagógica de Ubá

Atualmente a “Escola Dr. Heitor Peixoto Toledo”, oferta o ensino do pré-escolar ao 5° ano do Ensino Fundamental I. Conforme a Prefeitura Municipal de Ubá, a proposta para que fosse inserida a Pedagogia Waldorf na escola aconteceu no ano de 2012, por meio do pedido da Secretária de Educação à época, Maria do Carmo de Mello. A escolha da Pedagogia Waldorf por Maria do Carmo se deu em virtude da mesma acreditar que as atitudes pedagógicas dessa proposta implicam em fazer as crianças mais felizes e capazes de se relacionar melhor; por isso a decisão de implantá-la em Ubá. A intenção era que a “Escola Municipal Dr. Heitor Peixoto Toledo” fosse a primeira escola da rede municipal a oferecer seu planejamento escolar totalmente voltado para a Pedagogia Waldorf. Por meio dessa mudança, todas as escolas municipais de Ubá de Educação Infantil passaram utilizar também algumas atividades propostas na Pedagogia Waldorf.

Em setembro de 2014, a Colônia Padre Damião recebeu a entrega das obras de revitalização e ampliação da “Escola Municipal Dr. Heitor Peixoto Toledo”, passando a ter outra nomenclatura: “Escola Municipal Dr. Heitor Peixoto Toledo – Jardim Manga Flor”, em processo de adaptação, objetivando um nome mais lúdico e no estilo da ideologia pregada pela Pedagogia Waldorf.

De acordo com Gandra (2017) a obra atendeu as exigências da Federação das Escolas Waldorf do Brasil (FEWB), envolvendo muito mais que um projeto arquitetônico, e, possibilitando o maior contato possível dos alunoscom os materiais utilizados, com a natureza, e com a liberdade.

De acordo com a diretora da escola à época da implementação da Pedagogia Waldorf (2012-2016), Gisele Azevedo, os educadores em tal período participaram de seminários Waldorf e se comprometeram a continuar os cursos para terem a formação necessária para se tornarem oficialmente professores Waldorf.

Atualmente, a professora Luiza Moreira Marçal, única professora Waldorf da antiga administração da escola que permaneceu na mesma, relatou o porquê do rompimento do modelo de ensino da escola com a Pedagogia Waldorf.

4.0.2. A capacitação dos professores da rede pública no período de 2012 a 2016

Segundo Lanz (2013), para ser um professor Waldorf é necessário além da graduação em Pedagogia, uma formação específica em Pedagogia Waldorf, que se obtém por meio de Seminários Pedagógicos Waldorf. Esses seminários existem em vários países europeus (e.g., Alemanha, Suíça, Inglaterra e Suécia), nos Estados Unidos e no Brasil.

Por meio das entrevistas, foi constatado que a formação dos professores da “Escola Municipal Dr. Heitor Peixoto Toledo” para estarem capacitados como professores Waldorf se deram através da participação dos mesmos em seminários realizados em Divinésia, MG, comduração de quatro anos, e também, em Nova Friburgo, RJ.

De acordo com a Prefeitura de Ubá[6], cerca de quarenta professores da rede municipal participaram do Seminário de Divinésia, MG, no ano de 2014, com a finalidade inicial de conhecerem a Antroposofia e seu criador Rudolf Steiner, bem como qualificarem-se para desenvolverem no município a Pedagogia Waldorf. De acordo com a professora entrevistada Luiza Marçal deu-se inicio a um curso em Pedagogia Waldorf no próprio município de Ubá[7] onde a mesma cursava, mas teve que parar, pois o curso foi até final do ano passado, 2016, promovido pela prefeitura, com as eleições de 2016 houve troca na administração do município de Ubá, e após a troca de governo o curso foi encerrado. A professora então está tendo que terminar de fazer o curso lá em Friburgo/RJ o que lhe custou um atraso de seis meses, pois ela teve que esperar a turma de Nova Friburgo/RJ chegar ao mesmo nível que ela havia alcançado para se encaixar.

De acordo com Lanz (2013) a principal característica para ser um professor Waldorf é o amor pelo que faz respeitando os princípios da Antroposofia. Destaca-se na entrevista o interesse inicial pela Pedagogia Waldorf das entrevistadas o cansaço quanto método tradicional que enche os alunos de folhinhas não tendo segmento, propósito e já havia passado pela cabeça de uma delas até mesmo abandonar a área de educação. Foi quando através da Secretária de Educação Maria do Carmo de Mello ofereceu oficinas de suavização da pedagogia, palestras, workshops e a participação de professores de Friburgo/RJ que já eram formados em Pedagogia Waldorf vinham aos sábados e falavam um pouco sobre a Pedagogia Waldorf e também realizavam oficinas que ambas as professoras na época conheceram a proposta que veio de encontro á elas que não se encaixavam e queriam algo de mais significado para as suas vidas.

Em 2012 a Secretaria de Educação financiou os cursos de formação Waldorf para os professores que quisessem continuar na “Escola Municipal Dr. Heitor Peixoto Toledo”, quem não participasse seria deslocado de escola, como muitos professores já eram antigos de casa e outros moravam muito próximos a escola se submeteu aos cursos, mas a maioria não estavam disposta ou interessada nessa metodologia, eles não foram obrigados, mas se viram nessa condição por motivos pessoais.

Após a realização desses cursos de formação Waldorf foi perguntado que características um professor Waldorf tem de diferente dos tradicionais a fim de analisar a importância do professor enquanto agente transformador e se isso era independente de metodologias.

Que características um professor Waldorf tem diferente dos “tradicionais”?

Entrevistada I – “É complicado porque eu via antes sair da escola que fechou eu via que o professor Waldorf era diferente de todos, mas não vejo isso mais, eu vejo que a única coisa que diferencia ele é o amor pela profissão, porque até o professor tradicional numa escola tradicional se ele tiver amor pelo que faz a criança vai se desenvolver, vai ser nutrida, mas se isso não acontecer, metodologia nenhuma vai dar certo. O que eu vejo no professor Waldorf é uma preocupação pelo o ser humano além da medida.”

Entrevistada II – “Ele tem que ter um olhar diferente para a criança, porque ele tem que observar que a criança não é só um número, que as crianças têm necessidades diferentes de uma pra outra, não só no sentido de aprendizado não, mas no sentido de vida, num dia a criança não tá bem, não tá desenvolvendo porque está acontecendo alguma coisa com ela ou com a família dela, tem que ter esse tipo de olhar, essa percepção, tem estudar muito o desenvolvimento da criança, porque cada fase da criança ela está de um jeito, ela age de um jeito, e fazendo os estudos a gente percebe nitidamente, tem crianças que temos que reunir com outros professores e conversar, tem que ter sensibilidade pra descobrir esse tipo de coisa, tem que ter vontade também.”

3. A implementação da Pedagogia Waldorf

Analisaremos através das entrevistas como foi à transição do método tradicional para a Pedagogia Waldorf na “Escola Municipal Dr. Heitor Peixoto Toledo” e quais foram os desafios.

Segundo a professora Luiza, que estava na época da transição, a mudança se deu primeiramente pela educação infantil e o desafio foi maior para os professores, pois a tutora que dava os treinamentos pregava a importância do natural, como o uso de tecidos e madeira. Podemos constatar nas falas das entrevistadas:

Entrevistada II - “... e a gente tinha muitos jogos, aqueles lego de plásticos de montar, baldes e mais baldes, e tirou tudo, colocou toco e tecido, você imagina uma sala que era só brinquedo de plástico e ficou com restos de toquinho e pano? As professoras não entendiam, o que esses meninos vão fazer, mas eles vão brincar de quê?”

Entrevistada II - “... o maternal simplesmente juntava ou empilhavam o primeiro período já brincava de fazer pista, montava alguma coisinha, o segundo período ano era construtor, faziam casa, da casa um puxadinho, às vezes eles nem brincavam, passavam o tempo todo construindo. Dava pra ver a diferença de idades, de desenvolvimento deles através das brincadeiras”.

Porém, ao observarem o desenvolvimento das crianças que não tiveram problema algum com os novos brinquedos puderam constatar que através das brincadeiras livres as crianças se desenvolviam de maneira natural e simples, seguindo os conceitos Waldorf.

Quanto ao planejamento da escola foi totalmente modificado, um dos tutores que vinham de fora e já era professor em uma escola Waldorf passava o material pra gente, mas cada professor desenvolvia o seu planejamento de acordo com a turma, não se usava livro didático, pois cada caderno da criança era um livro didático com desenhos e histórias que eles mesmos faziam. Já no primeiro ano, se iniciava a alfabetização com as imagens, das imagens chegava ao som da palavra, que se chegava à letra, uma forma bem lenta, bem graduada, algumas crianças entravam com seis anos, outras com sete ou faziam ao longo do ano, respeitando os setênios, cada fase de desenvolvimento da criança,antes disso as crianças não tinham contato nenhum com as letras. Os professores acompanhavam sua turma, se a proposta tivesse vigorado até a atualidade, cada professor teria permanecido como único durante o ensino fundamental I.

Ao que confere a parte de gestão foi verificado a tentativa de implantar essa gestão democrática sem hierarquias, podemos dizer que ainda estava em processo em tentativa de sucesso, pois chegaram até a instituir comissões na escola que tomavam conta de festas, da parte administrativa, de ética, dos pais e o nome diretora atribuído a certas pessoas era como parte burocrática para responder a Secretaria de Educação, mas segundo as entrevistadas a dificuldade era grande porque as pessoas hoje em dia fogem dos compromissos, preferem receber e acatar ordens, algumas pessoas não sabem lidar com a liberdade.

Na parte que compete aos pais, de como foi essa aceitação foi aparentemente tranquila no inicio, alguns pais até tiraram crianças do centro da cidade e levavam para estudar na escola, outros acreditavam no modelo por conhecerem as professoras, chegaram até no ano de 2016 a criarem uma Associação de pais para ajudar na escola, mas os poucos pais que não concordavam com a Pedagogia Waldorf por questões religiosas, mesmo sendo minorias, tiveram voz maior do quem queria e apoiava a proposta.

4. O porquê da desistência da proposta Waldorf.

Ao visitar a Escola Municipal “Dr. Heitor Peixoto Toledo” e realizar as entrevistas com a ex-diretora na gestão Waldorf e uma professora restante dessa transição foi relatado o fim do segmento da Pedagogia Waldorf na instituição. Foi possível verificar com base nos pressupostos teóricos a funcionalidade através dos dados obtidos sobre a escola da proposta, assim como a verificação do espaço apropriado da escola visto de perto dentro de todas as especificidades com que é exigido pela FEWB. Como relatado pelas entrevistadas à proposta chegou ao fim por questões administrativas, políticas, com o fim de um governo e a entrada de um novo, houve mudanças em todos os setores e sem algum tipo de explicação qualquer, ou justificativa, trocou-se a direção da escola e quase todos os professores, uma artimanha para afastar aqueles que tinham alguma formação ou conhecimento sobre a Pedagogia Waldorf, renovando a escola e seu corpo docente com professores e planejamento tradicionais.

Podemos constatar nas falas das entrevistadas:

Por que a escola não continuou a seguir a Pedagogia Waldorf?

Entrevistada I – “Por causa da questão pública, administrativa, trocou-se o prefeito, trocou-se toda a metodologia”.

Entrevistada II – “Pela administração, porque os pais que não queriam já estavam com as crianças fora e quem queria estava na escola, estava tudo muito tranquilo. Foi da administração mesmo, porque começou o ano e mudaram a diretora por uma que não tinha Pedagogia Waldorf, os professores, eu fiquei, a única do fundamental que não mudaram como vai fazer uma pedagogia com tantas mudanças? Então por aí já dava para observar que não iriam seguir com a proposta pra frente.”

Para as entrevistadas o fim, o rompimento com a Pedagogia Waldorf foi algo frustrante, mas que talvez fosse inevitável devido também ao pouco envolvimento dos outros professores. O que a escola não esperava é que esse rompimento se desse tão rápido e de forma bruta, pois não houve tempo para preparar os alunos, muitos ficaram revoltados com a mudança de metodologia, sem entender como alguém muda a rotina da escola, muda o jeito deles aprenderem sem ao menos consultarem suas opiniões ou de seus pais.

A conclusão dessa pesquisa de campo, desse trabalho, o que pode ser alcançado será exposto no próximo capítulo, nas considerações finais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar o estudo sobre Pedagogia Waldorf, podemos concluir sua evidência na formação completa do ser humano. Constatamos como Rudolf Steiner estava a frente do seu tempo e continua a frente com seus estudos sobre o desenvolvimento humano, sobre a criança, sobre educação em pleno século XXI.

Através de muitas leituras compreendemos que Antroposofia é uma ciência que estuda o homem e é a base da criação da Pedagogia Waldorf, mas é um conceito que não é passado para os alunos Waldorf, as crianças não recebem nenhum conteúdo ou informação sobre o que é Antroposofia nas escolas, somente os professores Waldorf precisam e é necessário sua compreensão e entendimento para entenderem a origem e a base teórica da Pedagogia Waldorf e de seu criador Rudolf Steiner.

Outra constatação foi o quanto é difícil inovar, como mudanças, como utilizar, testar outras propostas pedagógicas sofrem preconceitos e podem ser barradas por falta de conhecimento, por ignorância.

Ficamevidentes as contribuições da Pedagogia Waldorf na formação da criança enquanto cidadã, responsável e também quanto ao seu aprendizado que ultrapassa os muros das escolas, os livros didáticos, as provas e vestibulares, a Pedagogia Waldorf prepara a criança para a vidasendo sim uma proposta humanista.

Foi frustrante através da pesquisa de campo realizado na “Escola Municipal Dr. Heitor Peixoto Toledo” verificar o rompimento da Pedagogia Waldorf e a escola pública, foi difícil acreditar que mesmo com o empenho da antiga administração do munícipio de Ubá – MG que ofertou cursos para formação Waldorf aos professores dispostos, não foi uma imposição, foi uma tentativa de melhorar, de mudar o cenário da atual educação e ainda assim perceber que muitos professores participaram por comodismo, por questões de conforto pessoal e não por amor a criança, por vontade de aprender mais.

Quanto aos pais, já era esperado certa falta de entrosamento com a escola, pois na atualidade os pais são sempre muito ocupados e sabemos da falta de parceria na relação família e escola, ainda mais por ser uma proposta estrangeira e pouco divulgada, o que carretou para alguns pais em preconceito religioso, outra questão difícil de lidar, pois vivemos num país laico, onde a educação é laica, mas os pais ainda não sabem separar a educação da religiosidade.

Conclui-se que apesar das dificuldades é possível mudar o cenário da educação brasileira, é possível oferecer cursos aos professores, o maior problema para eles é a vontade é ter vontade, ter disposição, amor pela profissão, amor por qualquer tipo de criança, e isso vai depender de cada profissional individualmente, é possível implementar propostas de educação de países de primeiro mundo sim em instituições públicas, há dificuldades inicialmente, mas que podem ser superadas com o tempo e persistência, a única coisa que nos impede é a questão política, são os cortes na educação sem justificativas, são a falta de respeito como somos tratados, como na efetiva pesquisa, como a política nos dá e nos retira benefícios sem a nossa consulta, a revolta das crianças que não entendiam porque o senhor atual prefeito tinha interferido na vida delas, sem a consulta, sem conhecer o que se aplicava ali nos deixa com o sentimento de revolta, de não termos voz, de não podemos fazer nada, de descaso.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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7. APÊNDICES

Entrevista I com a ex-diretora da Escola Municipal Dr Heitor Peixoto Toledo, Gisele Azevedo.

1. Qual sua opinião sobre ensino Waldorf se comparado às Escolas convencionais?

Olha é um tema muito extenso, mas o que eu posso te falar é que o ensino Waldorf abrange a criança como inteira, ele não vai educar somente o pensamento da criança, ele educa também o sentimento e o querer dessa criança, educando a criança por inteira, cabeça, tronco e membros, se você quiser ver por essa trimembração, não é um ensino que deixa a criança sentada quatro horas na cadeira recebendo um conteúdo que ela não consegue filtrar.

2. Como era a alfabetização na escola Dr. Heitor Peixoto Toledo segundo o currículo Waldorf?

A alfabetização se iniciava aos sete anos, pela lei aos seis que seria quando a criança vai para o primeiro ano, mas até o primeiro ano eles não tinham contato com a letra escrita, visual não tinha como impedir a criança.

3. Como era administrada a escola na gestão Waldorf?

Administração foi outro problema complicado, porque numa escola Waldorf você não tem um diretor, a questão é sociocrata, então não funcionava, porque as pessoas hoje em dia elas querem receber a ordem para não ter o compromisso, elas não querem ser imponderadas, elas querem receber e fazer porque se der errado o problema é de quem mandou a liberdade tem esse problema muito sério, as pessoas não querem.

4. Qual foi o seu interesse inicial pela Pedagogia Waldorf?

Olha primeiro a Maria do Carmo trouxe para a rede, em 2009 e começo a fazer pequenos workshops, então é, eu já estava muito cansada de ficar naquele método tradicional, encher o menino de folhinha, não tendo um segmento, já estava pensando inclusive em sair da educação, foi quando conheci a Pedagogia Waldorf, e falei é isso que eu quero pra minha vida.

5. Como foi a sua formação para se tornar um Professor Waldorf?

O meu curso eu comecei a fazer em Nova Friburgo/RJ e fiquei quatro anos fazendo o curso, um final de semana por mês e uma semana em sistema de imersão em janeiro e julho.

6. Que características um professor Waldorf tem diferente dos “tradicionais”?

È complicado porque eu via antes sair da escola que fechou eu via que o professor Waldorf era diferente de todos, mas não vejo isso mais, eu vejo que a única coisa que diferencia ele é o amor pela profissão, porque até o professor tradicional numa escola tradicional se ele tiver amor a criança vai se desenvolver, vai ser nutrida, mas se isso não acontecer, metodologia nenhuma vai dar certo. O que eu vejo no professor Waldorf é uma preocupação pelo o ser humano além da medida.

7. Como era o planejamento das aulas seguindo a proposta Waldorf na rede municipal?

Na rede eu não posso te explicar bem porque tinha fragmentos, na nossa escola tinha uma roda, um desenho de giz, um desenho de forma, a nossa escola era totalmente, era um planejamento diferenciado.

8. Houve algum tipo de pré-conceito quando passou a seguir a Pedagogia Waldorf? Por parte de quem?

Sim, pré-conceito religioso imenso, porque vocês estão falando de ideologia de gênero, vocês estão falando de reencarnação. O primeiro pré-conceito foi o do professor, o professor gosta de ficar sentado, na zona de conforto, como a Pedagogia Waldorf é uma pedagogia dinâmica, não tem a questão de só estar ali, tem que estar e ser aquilo ali, você ser o exemplo do seu aluno, foi o primeiro, o segundo foi a religiosidade, eles barravam diretamente, porque existe uma questão chamada Antroposofia que é a base da Pedagogia Waldorf, nós professores Waldorf temos que saber e acreditar na Antroposofia, mas o pai não, o pai tem que confiar no professor e deixar a metodologia acontecer.

9. Quais as críticas em relação á Pedagogia Waldorf?

Que era impositiva, que era religiosa, e eles desconfiavam muito porque essa escola veio pra cá, porque ninguém conhece na verdade, e do professor era quanto ao que ele tinha que fazer.

10. Quais foram os desafios para mudar o sistema de ensino tradicional para a pedagogia Waldorf que a escola enfrentou?

O professor. Como era uma escola que ficava na zona rural e tinham professores muito antigos ali a treze, quatorze anos, alguns professores de Piraúba/MG que é um local próximo a escola e elas não aceitavam sair de lá ara ir pra outra escola distante e pra se ficar na escola a Maria do Carmo exigia que se fizesse o curso Waldorf que  seria pago pela secretaria de educação, elas se viram obrigadas a ficar, não foram obrigadas, mas não queriam fazer outro deslocamento. Sentiam-se partes, donas da escola. Fizeram o curso com péssima vontade, não reterem nada, não gastavam nada, não faziam nada, minavam o projeto e chamavam os pais evangélicos e falavam que lá estava acontecendo rituais, ceitas e outras coisas.

11. Os pais apoiaram a nova proposta?

Nós tínhamos quinze pais de Ubá que sim, tiraram crianças do centro da cidade e levavam para estudar na escola, mas os da escola mesmo alguns acreditavam por ser a gente, acreditavam não, deixavam acontecer, mas não se envolviam e outros extremamente contra por causa da questão religiosa.

12. Por que a escola não continuou a seguir a Pedagogia Waldorf?

Por causa da questão pública, administrativa, trocou-se o prefeito, trocou-se toda a metodologia.

13. Qual a sua opinião sobre o fim da proposta?

Eu vejo que se o fim não fosse esse, seria outro. Porque os professores lá não queriam, então ia chegar um ponto que não ia sustentar. Não tão rápido como essa questão administrativa, pública.

14. Os alunos sentiram, acharam do rompimento da proposta? E os pais?

Eu acredito que sim, só não posso te falar porque eu saí junto, eu não acompanhei, eu saí no final de 2016 junto com o fim da metodologia.

Entrevista II com a professora da Escola Municipal Dr Heitor Peixoto Toledo, Luiza.

1. Qual sua opinião sobre ensino Waldorf se comparado às Escolas convencionais?

Ele é mais humanista, vê o desenvolvimento da criança, do ser humano, de forma natural, mas voltado pro que vai enriquecer a vida dela ao longo do tempo, não só pro vestibular que é objetivo final das escolas, eles não prepraram pra vida, eles preparam para o vestibular. E a pedagogia Waldorf prepara para a vida e consequentemente para o vestibular.

2. Como era a alfabetização na escola Dr. Heitor Peixoto Toledo segundo o currículo Waldorf?

O inicio da alfabetização era com as imagens, das imagens chegava ao som da palavra, que se chegava a letra, uma forma bem lenta, bem graduada a partir do primeiro ano, algumas crianças entravam com seis anos, outras com sete ou faziam ao longo do ano.

3. Como era administração na escola na gestão Waldorf?

Procurava-se fazer o mais unilateral possível, cada professor responsável pela sua área, chegamos a instituir comissões na escola que tomavam conta de festas, da parte administrativa, de ética, dos pais e havia uma diretora, que um nome diretora que assinava e respondia para a Secretaria de Educação, mas a escola meio que tentava gerir, fazer esse tipo de gestão democrática.

4. Qual foi o seu interesse inicial pela Pedagogia Waldorf?

Foram oferecidas algumas oficinas de suavização da pedagogia, porque estava muita dura, pra suavizar um pouco, professores muito saturados, começaram a fazer palestras, os professores de Friburgo/RJ que já eram formados em Pedagogia Waldorf vinham aqui num sábado e falam um pouco sobre a Pedagogia Waldorf, faziam oficinas e eu fui me interessando porque era muito parecido com o que eu via da educação, minha visão da educação, gente eu queria isto e isto existe, não é utopia, não é coisa da minha cabeça, porque eu me achava muito diferente e percebia que eu não me encaixava, venho de encontro com o que eu queria.

5. Como foi a sua formação para se tornar um Professor Waldorf?

Houve um oferecimento de fazer o curso em Nova Friburgo/RJ, eu não tive condições de ir, mas aí depois o curso foi trazido para Ubá, então eu comecei a fazer, o curso foi até final do ano passado, promovido pela prefeitura, trocou o governo, encerrou o curso. Então agora eu estou terminando de fazer o curso lá em Friburgo/RJ. Faltava um ano para eu terminar e agora tá faltando um ano e meio, porque tive que esperar a turma de Nova Friburgo/RJ para me encaixar, perdi seis meses.

6. Que características um professor Waldorf tem diferente dos “tradicionais”?

Ele tem que ter um olhar diferente para a criança, porque ele tem que observar que a criança não é só um número, que as crianças tem necessidades diferentes de uma pra outra, não só no sentido de aprendizado não, mas no sentido devida, num dia a criança não tá bem, não tá desenvolvendo porque está acontecendo alguma coisa com ela ou com a família dela, tem que ter esse tipo de olhar, essa percepção, tem estudar muito o desenvolvimento da criança, porque cada fase da criança ela está de um jeito, ela age de um jeito, e fazendo os estudos a gente percebe nitidamente, tem crianças que temos que reunir com outros professores e conversar, tem que ter sensibilidade pra descobrir esse tipo de coisa, tem que ter vontade também.

7. Como era o planejamento das aulas seguindo a proposta Waldorf na rede municipal?

Na rede foi feito um planejamento em conjunto, onde eles não tiraram nada, mas deram uma suavizada, colocaram uma história, mais desenhos, tentaram dar uma brecada na aceleração e aqui dentro da escola foi totalmente modificado, veio um tutor de uma escola Waldorf, ele passava o material pra gente, cada professor desenvolve o seu, porque não livro didático, cada caderno da criança era um livro didático, a gente criava as histórias, para apresentar as letras, os números, isso o professor do primeiro ano, que se desenvolvia ao longo do tempo até o quinto ano. Eu fiquei com a minha turma até agora, do segundo período até o quarto ano e não vou continuar no próximo ano, estou deixando eles com o coração apertadinho.

8. Houve algum tipo de pré-conceito quando passou a seguir a Pedagogia Waldorf? Por parte de quem?

Num primeiro momento não, por mais que fizéssemos palestras, os pais não são participativos, então poucos entendiam, os outros achavam que estava bom, no primeiro momento foi muito tranquilo, até que alguns pastores começaram a pesquisar e achavam que era coisa de espírita, começaram a questionar e agente explicava, e aí teve esse levantamento que culminou numa confusão muito grande, onde o ano passado alguns pais evangélicos, não foram todos, tiraram seus filhos da escola e os outros permaneceram.

9. Quais as críticas em relação á Pedagogia Waldorf?

As pessoas que não entendiam muito perguntavam sobre o ensino ser muito devagar, porque a gente desacelerou totalmente, muitas pessoas estranhavam, mas quem estranhava vinham a gente mostrava, explicava, e os pais evangélicos que tinha macumba, que tinha espírito porque acendia vela, estava chamando alguma coisa, e se fazia uma coisa de tricô e amarrava, estava fazendo alguma amarração, nesse sentido, entendeu.

10. Quais foram os desafios para mudar o sistema de ensino tradicional para a pedagogia Waldorf que a escola enfrentou?

Eu estava na época da transição, começou com o infantil, o desafio foi maior para os professores, eu percebi muito isso, começou com a suavização, a tutora veio aqui, explicar a importância do natural, a usar tecido, madeira, e agente tinha muitos jogos, aqueles lego de plásticos de montar, baldes e mais baldes, e tirou tudo, colocou toco e tecido, você imagina uma sala que era só brinquedo de plástico e ficou com restos de toquinho e pano? As professoras não entendiam, o que esses meninos vão fazer, mas eles vão brincar de quê? Mas, eles, as crianças não tiveram problema nenhum, eles pegavam os tocos e construíam coisas e brincavam, mas tem que dar uma atividade para eles fazerem, não, não tem que dar, tem que deixar eles brincarem, eles montavam e desmontavam, faziam cabana, faziam cinema, faziam casa, você observava muito o maternal simplesmente juntava ou empilhavam, o primeiro período já brincava de fazer pista, montava alguma coisinha, o segundo período ano era construtor, faziam casa, da casa um puxadinho, as vezes eles nem brincavam, passavam o tempo todo construindo. Dava pra ver a diferença de idades, de desenvolvimento deles através das brincadeiras.

11. Os pais apoiaram a nova proposta?

A maioria eu acredito que sim, no final do ano passado nos fizemos uma associação, vieram muitas pessoas, mas tinha mais voz os que não queriam. Quem queria já estava a escola, estava tranquilo, quem não queria é que brigava. Eu acho que voz de quem não queria foi maior.

12. Por que a escola não continuou a seguir a Pedagogia Waldorf?

Pela administração, porque os pais que não queriam já estavam com as crianças fora e quem queria estava na escola, estava tudo muito tranquilo. Foi da administração mesmo, porque começou o ano e mudaram a diretora por uma que não tinha Pedagogia Waldorf, os professores, eu fiquei, a única do fundamental que não mudaram, como vai fazer uma pedagogia com tantas mudanças? Então por aí já dava para observar que não iriam seguir com a proposta pra frente.

13. Qual a sua opinião sobre o fim da proposta?

Muita frustação, uma perda muito grande, pois as crianças daqui sempre tiveram dificuldades de aprendizagem, baixa autoestima e coma Pedagogia Waldorf começaram a ser visto na cidade, chamados para cantar, fazer teatro. A escola era mais calma, professores e alunos eram calmas, muitas pessoas vinham visitar as escola, a escola estava sendo visada, o recreio era gerido pelos alunos, os maiores tomavam conta dos menores, chegava o dia da feira, todo mundo queria saber o que os meninos iam recitar, apresentar e agora voltou para estaca zero.

E assim o nível de desenvolvimento dos meus alunos, eles até o ano passado estavam muito protegidos, e no terceiro ano a gente conta a história do mundo, a queda do paraíso e é como se para eles tivesse acontecido isso, acabou o encantamento, e começaram esse processo de cair na realidade e na história termina com o dilúvio e tipo assim para eles, acabou tudo, vamos ter que começar do zero, começar um mundo novo, o quarto ano era isso.

14. Os alunos sentiram, acharam do rompimento da proposta? E os pais?

Eu vou falar pelos meus, peguei no início de ano muito difícil, porque eles perguntavam por que que não podiam ir mais pra horta, porque não pode escrever mais de lápis de cor, porque não pode fazer mais desenhos, aquarela, porque não podemos tocar flauta, cantar, o que esse prefeito fez, ele não sabe nada daqui, tirou as coisas daqui, porque isso acabou, assim revoltados, porque é da idade esse tipo de revolta, eles pegaram o motivo e foram atrás desse motivo, ele não podia ter trocado tudo, ele não veio aqui perguntar pra gente. Foi muito difícil explicar porque tudo mudou. Os pais por eles tanto fez, porque como eu fiquei, eles ficaram tranquilos. Mas, a partir do ano que vem, não estarei mais aqui, porque pra mim não tem mais sentido ficar aqui.

[1]Autogestão é a administração de um organismo pelos seus participantes, em regime de democracia direta. Na autogestão não há a figura do patrão, todos os empregados participam das decisões administrativas em igualdade de condições. Disponível em: Acesso em 19 out. 2017.

[2]A Euritmia é uma forma de dança. Cujos movimentos são coreografias, solística ou em grupo, sobre a linguagem poética, em verso ou em prosa, e sobre a música instrumental tocada ao vivo (LANZ, 2013).

[3]Pais, professores e associados são os responsáveis pela escola. Todos são convidados a participar coletivamente com o seu melhor. E ao participar, responsabilizam-se pelas tomadas de decisões e ações efetivas na gestão da escola. Disponível em: Acesso em: 21 out. 2017.

[4] Disponível em: Acesso em: 21 out. 2017.

[5] Prefeitura Municipal de Ubá. Disponível em : - Acesso em 10 set 2017.

[6]Prefeitura Municipal de Ubá. Disponível em: - Acesso em 10 set. 2017.

[7] Prefeitura Municipal de Ubá. Disponível em: - Acesso em 10 set. 2017  


Publicado por: Maria Carolina Riani Pereira

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