A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

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1. RESUMO

Este trabalho propõe ampliar e discutir sobre a música como ferramenta pedagógica no contexto educacional infantil, a fim de compreender seus aspectos favoráveis, pois a música exerce uma forte influencia no comportamento da criança em formação, despertando sentimentos e descobertas a respeito de si mesmo e do outro. A música envolve a criança em uma dinâmica interdisciplinar, auxiliando em diversas atividades pedagógicas o que pode contribuir para seu desenvolvimento de forma mais prazerosa. Diante disto, uma pesquisa bibliográfica foi realizada, abordando conteúdos de pesquisadores como, Brito (2003) e Bréscia (2003) a fim de fundamentar o tema proposto. A música oferece uma infinidade de desafios, seja para o educador como para o educando, porém, estes desafios quando enfrentados, podem contribuir significativamente para o desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e motor da criança, produzindo um aprendizado mais pleno e eficaz.

Palavras-Chave: Déficit de Atenção e Hiperatividade. Aprendizagem. Família e Escola.

2. INTRODUÇÃO

A música é o objeto de estudo deste artigo, que pretende esclarecer e aprofundar os conhecimentos sobre o poder de influência da música no processo de desenvolvimento infantil. O interesse pelo tema surgiu, a partir da observação do envolvimento e prazer dos alunos em atividades que oferecem a música como meio de comunicação e de expressão.

Independente de épocas, classes sociais, movimentos, culturas ou povos, a música sempre esteve presente e de forma significativa no processo de desenvolvimento do ser humano, desde muito cedo.

Como forma de comunicação e de expressão por meio das artes ou como área interdisciplinar, envolvendo elementos musicais, matemáticos, físicos, geográficos, históricos, etc. ou por meio da ciência, a música se manifesta como um canal por onde é possível expressar conceitos, valores, condutas que podem influenciar no desenvolvimento da criança em processo de formação.

Portanto, considerando a música e seu poder de influência, como esta área do conhecimento pode contribuir no processo de ensino e aprendizagem da criança da educação infantil? Quais conteúdos são oferecidos? Como os professores têm utilizado a música na educação infantil?

A educação infantil, enquanto espaço educacional pode, através da música, permitir que a criança conheça este universo de forma mais ampla, possibilitando novos caminhos e novas descobertas que contribuam para o desenvolvimento da autonomia, integração social, no imaginário e criatividade, de forma prazerosa, divertida e eficaz, pois os benefícios que a música oferece vão além da compreensão humana, suas notas, acordes e ritmos conseguem penetrar no intimo do ser humano, desde seu nascimento, de forma que momentos importantes são carregados de canções que passam a fazer parte da sua trajetória de vida, portanto, não pode ficar de fora do contexto e do processo educacional infantil.

Portanto, este artigo pretende refletir e analisar, através de pesquisa bibliográfica, sobre as áreas que a música alcança no desenvolvimento da criança que se encontra na educação infantil, práticas pedagógicas, baseadas no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), Bréscia (2003), Brito (2003) entre outros pesquisadores que contribuíram com experiências sobre o tema proposto.

Na educação infantil, a música permite que a criança conheça e desfrute de um universo repleto de possibilidades, caminhos e descobertas pessoais e coletivas, de uma forma divertida e dinâmica.

3. OBJETIVOS

Objetivo geral

Explorar, reconhecer e ampliar os conhecimentos a cerca da música dentro do contexto educacional infantil.

Objetivos específicos

  • Explorar sobre a história da música, e sua entrada no contexto educacional,

  • Apresentar conceitos educacionais sobre a música,

  • Refletir sobre as práticas pedagógicas na educação infantil,

4. MÚSICA: SUA ENTRADA E EVOLUÇÃO NO CONTEXTO EDUCACIONAL

Na história do ser humano a música sempre esteve presente, não apenas em festas, comemorações ou eventos, mas de uma forma participante e integrante da cultura e da forma de se expressar de um povo.

Vale explorar os movimentos musicais através das civilizações antigas e perceber sua presença e atentar para os motivos pelos quais eram utilizados, como os chineses, por exemplo, que há 3.000 anos a.C. acreditavam que a música possuía um poder sobrenatural, e a cultura egípcia utilizava as musicas a fim de compor cerimoniais religiosos e solenidades, porém os gregos conseguiram uma aproximação e um vínculo maior através de Platão (2000), que percebeu diante da elaboração de teorias musicais as quais destacaram seu poder de influência sobre a mente e o corpo humano,

Tal será então o caráter do nosso guerreiro. Mas como educá-lo e instruí-lo? O exame dessa questão pode ajudar-nos a descobrir o objeto de todas as nossas pesquisas, isto é, como surgem a justiça e a injustiça numa cidade...

Mas que educação lhe proporcionaremos? Será possível encontrar uma melhor do que aquela que foi descoberta ao longo dos tempos? Ora, para o corpo temos a ginástica e para a alma, a música. (PLATÃO; 2000:II, 63-4)

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil compreende a música como sendo parte do contexto histórico do ser humano, seja na antiguidade ou na atualidade,

A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio.

A música está presente em todas as culturas, nas mais diversas situações: festas e comemorações, rituais religiosos, manifestações cívicas, políticas etc.

Faz parte da educação desde há muito tempo, sendo que, já na Grécia antiga era considerada como fundamental para a formação dos futuros cidadãos ao lado da matemática e da filosofia. (BRASIL, 1998, p. 45)

Vale ressaltar que a música não pode ser explorada apenas como suporte para conhecer e descobrir outras culturas

Desta forma, é possível observar, neste breve comentário, que desde os tempos mais antigos a música já era vista e compreendida como um instrumento participativo no processo de ensino e aprendizagem, mas, vale ressaltar que a música não pode ser explorada apenas como suporte para o aprofundamento de outras disciplinas ou mesmo em descobertas sobre outras culturas devendo ser compreendida como parte da área de conhecimento que envolve as artes, e como tal, pode contribuir para o autoconhecimento e para a criticidade, podendo influenciar o intelectual do ser humano e também no desenvolvimento físico, motor e comportamental, sem deixar de lado a construção de um ser mais sensível.

Assim, a arte é percebida ou observada mesmo não estando presente dentro do ambiente escolar, por se tratar de movimentos e expressões que fazem parte da vida social e política de um povo.

Porém, o Estado, apesar de influenciar a arte como prática pedagógica, desenvolveu um planejamento que atendesse as exigências governamentais, ou seja, uma arte limitada e direcionada às necessidades sociais e políticas da época.

Heitor Villa Lobos, após um tempo de convívio no meio artístico em Paris, elaborou um plano de educação musical que revolucionou a área acadêmica brasileira, O Canto Orfeônico1, o que proporcionou sua entrada e posse do cargo de Superintendente de Educação Musical e Artística, de forma que este projeto, através do Governo de Getúlio Vargas em 1932, seu uso e ensino se torna obrigatório nas escolas brasileiras, de forma que o projeto Villa-Lobos se tornou a disciplina de educação moral e cívica, mantendo assim a chama da música acessa no ambiente escolar.

Foi pensando em preservar o tempo de inocência da criança, que Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, na década de 60, elaboraram um projeto mais voltado para o universo infantil, propondo assim uma mudança no olhar e na perspectiva de um desenvolvimento infantil saudável e coerente com seu mundo de imaginação e de criatividade.

Já com as Diretrizes e Bases Educacionais fundamentadas em 1961, o ensino da música, sofreu muito, pois os anos seguintes foram de repressão, onde muitos artistas foram exilados.

Através da reforma nas diretrizes em 1971, a Educação Musical é substituída por Educação Artística, e se torna responsável pela prática educativa polivalente, ou seja, envolvia atividades relacionadas além da música, o teatro, as artes plásticas, desenho entre outras,

O ensino de Artes constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis de educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.

Novas perspectivas surgem para as quatro modalidades do fazer artístico: música, a dança, artes visuais e teatro, com esta transposição de ensino mais especializado, priorizando a formação de um aluno sensível, crítico, cidadãos sensíveis, participando como agentes participativos dentro e fora da escola. (BRASIL, 1996, p. 26-27)

Já nos anos 80 foram criadas a ABRACE (Associação Brasileira de Educação Musical) e a Associação Brasileira de Pesquisa e Pós Graduação em Artes Cênicas, formando assim profissionais da música.

A partir deste movimento, questões referentes ao processo de formação profissional passaram a fazer parte de debates e reflexões, a fim de proporcionar um profissional mais capacitado em atender às necessidades básicas da educação, já que nem todos possuíam formação e conhecimentos musicais.

O Ministério da Educação, pensando em um profissional mais qualificado para enfrentar as complexidades das disciplinas de Artes, através das Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, fundamenta a formação de docentes para o nível superior,

A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (BRASIL, 1996, Art. 62, p. 22).

Esta mudança proporciona uma elevação no nível dos educadores que estão em contato com a educação infantil e com as primeiras séries do ensino fundamental, mas como toda área de conhecimento, grandes desafios são enfrentados por estes profissionais, que passaram a buscar estratégias e mecanismos que pudessem utilizar a música no processo educacional de forma mais significativa.

Atualmente, através da Lei 11.769/2008, o ensino da musica retorna ao seu estado obrigatório nas escolas, sendo exigido por lei, que até o ano de 2011, as escolas devessem se adequar aos novos conteúdos envolvidos nesta área do conhecimento e por consequência as práticas pedagógicas deveriam acompanhar e compor a grade curricular e o planejamento anual.

Assim a lei condiciona a formação de profissionais mais competentes, pois esta a frente de desafios que envolvem uma área sensível, ao qual estamos tratando que é o universo musical, podendo, então, de forma mais adequada explorar e ensinar aos alunos um nível de conhecimento mais profundo e ampliado.

5. MÚSICA: CONCEITOS EDUCACIONAIS

Como já explorado, de forma breve, a música faz parte da vida do ser humano mesmo antes do seu nascimento, quando ainda na barriga da mãe, já ouve e sente através do som, como vozes e batimentos cardíacos.

Envolvendo a vida da criança, logo após seu nascimento, em se tratando de contexto educacional, Brito (2003, p. 36) ressalta que a postura adequada de educadores é o de “respeitar o modo como bebês e crianças exploram o universo sonoro e musical”, ou seja, cada um se expressa de forma diferente através de suas particularidades que devem ser observadas, respeitadas e preservadas,

O educador deve ser um elo entre a criança/bebê e a musica, de forma que este encontro deve ser espontâneo, sobre isto Brito (2003) defende que,

As cantigas de ninar, as canções de roda, as parlendas e todo tipo de jogo musical têm grande importância, pois é por meio das interações que se estabelecem que os bebês desenvolvem um repertório que lhes permitirá comunicar-se pelos sons; os momentos de troca e comunicação sonoromusicais favorecem o desenvolvimento afetivo e cognitivo, bem como a criação de vínculo fortes tanto com os adultos quanto com a música. (BRITO, 2003, p.49)

A questão de a música estar presente desde o momento da entrada na escola significa que é um instrumento extremamente rico em oportunidades e situações de aprendizagem, pois além de contribuir no processo de construção de conhecimento articular outras áreas disciplinares, proporcionando assim uma interdisciplinaridade, sendo esta em especial, uma forma de ampliar os conhecimentos da criança sobre si mesma e sobre o que está ao seu redor.

Zampronha (2002, p. 37) retrata a cerca da interdisciplinaridade que “a musica educa os sentimentos do mesmo modo que o calculo matemático e a argumentação educa o pensamento”.

De acordo com Joly (2003, p. 116) “é por meio da brincadeira, que a criança se relaciona com o mundo, e é dessa forma que faz música: brincando”.

Para Rosa (1990, p. 19) a música pode ser identificada como “uma linguagem expressiva e as canções são veículos de emoções e sentimentos, e podem fazer com que a criança reconheça nelas seu próprio sentir”.

A linguagem musical deve estar presente nas atividades [...] de expressão física, através de exercícios ginásticos, rítmicos, jogos, brinquedos e roda cantadas, em que se desenvolve na criança a linguagem corporal, numa organização temporal, espacial e energética.

A criança comunica-se principalmente através do corpo e, cantando, ela é ela mesma, ela é seu próprio instrumento. (ROSA, 1990, p. 22-23).

A criança, enquanto se desenvolve, experimenta uma diversidade de sons, silêncio e de possibilidades sonoras, através do seu próprio corpo, na utilização da voz, das mãos, pés, sendo estas experiências definidas por Maffioletti (2001, p. 130) que “fará dela um ser humano capaz de compreender os sons de sua cultura”.

Portanto, é possível destacar a importância da musica e seu papel cultural, pois contribui para diferenciar uma manifestação local de outra, ou seja, cada cultura é manifestada através de uma linguagem musical, que de acordo com Penna (1990),

É considerado familiar aquele tipo de música que faz parte de nossa vivência, justamente porque o fazer parte de nossa vivência permite que nós nos familiarizemos com os seus princípios de organização sonora, o que torna uma música significativa para nós. (PENNA, 1990, pág. 21)

O que podemos extrair é que a música se torna familiar por fazer parte das experiências vividas, se tornando parte do processo de construção como ser humano.

E, por ser algo tão familiar, as experiências que a musica proporciona para a criança em desenvolvimento pode ser utilizada como ferramenta pedagógica no espaço escolar, pois de forma direcionada, possibilita a construção de saberes que irá compor sai formação pessoal e social.

Penna (1990) avalia que as experiências vividas pelas crianças quando relacionadas a atividades musicais proporciona uma compreensão mais elaborada, ou seja, a conduz para níveis mais elaborados, ampliando seu processo educativo e formativo.

De acordo com O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI, 1998, p. 45) “os sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos”, além de ressaltar a importância da música como “forma de expressão humana”, são conteúdos que envolvem o trabalho com a música, de forma que é uma área do conhecimento, que abrange várias outras áreas na criança que estão em desenvolvimento, inclusive sua forma de se expressar através da música.

Jeandot (1990, p.70) destaca que os educadores devem “expor a criança à linguagem musical e dialogar com ela sobre e por meio da música”.

Esta prática abre um espaço para que a escola proporcione conhecimentos para além de seus muros, explorando outras culturas, grupos sociais, comunidades, ampliando assim sua concepção de mundo.

Enquanto mediadores da informação, educadores da educação infantil, podem contribuir orientando e permitindo que a criança conheça outros estilos musicais, ritmos, permitindo uma ampliação do seu repertório e diversas possibilidades de se expressar, cumprindo assim com as exigências do referencial.

Vigotsky (1991) chama a atenção para a importância da interação social para o desenvolvimento infantil, pois esta experiência proporciona o desenvolvimento de funções mentais como: memória, atenção seletiva e pensamento lógico.

Portanto, a música pode ser considerada uma forte aliada no processo de construção do pensamento, pois conforme menciona o autor em questão, contribui para a criação de “zonas de desenvolvimento”, podendo ser definido como a proximidade do ser com o meio social, produzindo então um desenvolvimento integral no ser humano.

Ao interpor realidade, imaginação, emoção e cognição, envolve reconstrução, reelaboração, redescoberta.

Nesse sentido, é sempre um processo singular no qual o sujeito deixa suas marcas revelando seus encaminhamentos, ordenamentos e formas próprias de se relacionar com os materiais, com o espaço com as linguagens e com a vida. (VIGOTSKY, 1991)

Como forma de expressão e de linguagem, a música potencializa as habilidades e competências, proporcionando uma socialização com o meio, com o outro e consigo mesmo, proporcionando uma ponte entre o mundo interior e o exterior, além de envolver outros aspectos como a coordenação motora e na expressão corporal.

Estes aspectos podem e devem ser trabalhadas pelo educador em sala de aula, algumas práticas pedagógicas são abordadas a seguir.

6. PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil aponta para vários objetivos dentro do contexto educacional que envolve a música, podendo se utilizada como suporte para atender diversos propósitos, principalmente no que diz respeito à formação de hábitos, valores, atitudes comportamentais, além de articular outras áreas do conhecimento como história ou matemática, por exemplo.

Mesmo diante de avanços tecnológicos das comunicações e da informação, a musica possui um contexto histórico, podendo ser visto como tradicional, mas que tem se preservado ao longo do tempo, por sua riqueza e poder de influência.

A proposta educacional através do RCNEI (1998) é clara quando se trata de musica como prática pedagógica, pois pode ser utilizada em diversas situações produzindo uma conexão entre a música e a elaboração de conceitos.

O trabalho com Música proposto por este documento fundamenta-se nesses estudos, de modo a garantir à criança a possibilidade de vivenciar e refletir sobre questões musicais, num exercício sensível e expressivo que também oferece condições para o desenvolvimento de habilidades, de formulação de hipóteses e de elaboração de conceitos. (pág. 48)

Vale destacar a importância do educador infantil em conhecer as diferentes fases de desenvolvimento da criança, seus interesses musicais, seus estágios, quanto às produções sonoras, além de gestor e movimentos, para que possa planejar e oferecer atividades musicais adequadas ao seu nível de compreensão.

Todos nós ouvimos a música de acordo com nossas aptidões, variáveis, sob certo aspecto, em três planos distintos: sensível, expressivo e puramente musical, o que corresponde a ouvir, escutar e compreender.

Essa é a razão pela qual o professor deve respeitar o nível de desenvolvimento em que a criança se encontra, adaptando as atividades de acordo com suas aptidões e de seu estágio auditivo (JEANDOT, 1990, p.22).

Professores de educação infantil, às vezes enfrentam situações do tipo em que a criança é influenciada por determinado ritmo ou música, e isso acontece através dos meios de comunicação, exercendo poder estético e comportamental, material este que pode ser utilizado pelo educador a fim de explorar, através do diálogo, uma reflexão pessoal ou coletiva.

Como forma de discutir as diversidades existentes, é possível apresentar autores que através das músicas providas de significados pedagógicos, estará contribuindo para uma análise mais criteriosa e sensível a respeito de si mesmo e do meio ao qual faz parte.

Esta prática é defendida por Junior (1981, p. 15) quando menciona a música como sendo uma área que ultrapassa os muros da escola, justamente por já existir em sua forma regional/global, e, portanto, deve ser utilizada na educação em um formato no qual se torne “um processo pelo qual se auxilia o homem a desenvolver sentidos e significados que orientem a sua ação no mundo”.

Outra contribuição significativa sobre este assunto é mencionado por Loureiro (2003) sobre a percepção do valor musical, pois,

Pois, para que o ensino da música venha a ser um veículo de conhecimento e contribua para uma visão intercultural e, alternativa frente à homogeneização da atual cultura global e tecnológica, é necessário partir de uma ideia clara, concreta, que viabilize ações conectadas à vida real.

A intencionalidade dirigida e coerente com o universo de alunos pode levar a integração de capacidades, modos pessoais de pensar, sentir e agir na busca do conhecimento global, novas experiências e vivências (pág. 3).

Desta forma, as experiências vividas pelas crianças no espaço educacional podem ser relacionadas à música como uma experiência marcante e inesquecível, portanto, um bom planejamento, quando direcionado de forma especifica, pode estabelecer relações pessoais e sociais, contribuindo para uma boa formação intelectual, além de poder desfrutar do prazer em aprender e compartilhar.

Este planejamento do qual estamos falando, pode ser organizado de forma atender às crianças em seus processos de construção de conhecimento, e isso de forma cotidiana, contribuindo assim para a formação de hábitos e valores.

Porém, Borges (2003) destaca para a utilização da musica apenas como objeto de ensino a respeito de conceitos matemáticos e de formação de hábitos e valores, corre-se o risco de estar limitando ou desvirtuando sua função.

Rosa (1990) ressalta para que a música, quando utilizada em datas comemorativas deve-se aproveitar os conceitos e significados que ela contém, evitando que seja apenas momentos de recreação ou um trabalho realizado de forma superficial.

É preciso insistir quando à necessidade de se recuperar sua verdadeira função. Isto só será possível na medida em que o professor for também sensível à expressão musical. Não que precise ser um especialista em música, ou saber tocar, necessariamente, algum instrumento.

Porém, deverá estar consciente de que, em contato com a música, a criança poderá: manter em harmonia a relação entre o sentir e o pensar; proteger a sua audição, para que não se atrofie diante do aumento de ruídos e da desqualificação sonora do mundo moderno; habituar-se a isolar um ruído ou som para dar-lhe sentido, especificidade ou perceber a beleza que lhe é própria. (BORGES, 2003, p. 115)

Ampliando este universo, mas sem ter a pretensão de formar músicos, Bréscia (2003) salienta que a criança entra em um processo de musicalização, quando em contato com a música participa de um processo de conhecimento a respeito da música, despertando seu gosto musical, de forma que este despertamento pode favorecer a criatividade, imaginação, concentração, disciplina, entre outros.

É importante oferecer, também, a oportunidade de ouvir música sem texto, não limitando o contato musical da criança com a canção que, apesar de muito importante, não se constitui em única possibilidade.

Por integrar poesia e música, a canção remete, sempre, ao contexto da letra, enquanto o contato com a música instrumental ou local sem um texto definido abre a possibilidade de trabalho com outras maneiras.

As crianças podem perceber sentir e ouvir, deixando-se guiar pela sensibilidade, pela imaginação e pela sensação que a música lhes sugere e comunica. Poderão ser apresentadas partes de composições ou peças breves, danças, repertório da música chamada descritiva, assim como aquelas que foram criadas visando a apreciação musical infantil (BRASIL, 1998, p.65).

De acordo com WEIGEL (1988) e BARRETO (2000) as áreas estimuladas pelo processo de musicalização que a criança experimenta no ambiente educacional, são as cognitivas, psicomotor e sócio afetivo.

De forma, que a criança enquanto ouve as sequências dos sons e silencio, dançando e se movimentando, cantando ou imitando, consegue estabelecer pontes entre o seu eu e o que ao seu redor, e isso faz com que coloquem em funcionamento todos os seus sentidos, contribuindo para um desenvolvimento cognitivo, linguístico, e motor, e quando estimulada, se expressa como resposta a esses estímulos.

Em teoria, a princípio parece fácil, mas em se tratando da criança, sua busca por uma coordenação motora que acompanhe o ritmo através de seus passos ou palmas são mais complexos do que se imagina, pois seu desafio está em colocar seus pensamentos em ordem, coordenar o que ouve com seus movimentos e ainda emitir som (cantar), de forma que todo esse processo e conquista adquirida pela criança deve ser valorizada pelo educador, mesmo que no final, o resultado não saia como esperado.

Como forma de se trabalhar toda a complexidade mencionada acima, Bréscia (2003) defende os jogos musicais, pois podem contribuir para a organização de ideias ajustando o que ouve ao que faz, como nas brincadeiras, morto vivo, na dança das cadeiras, entre outras que podem ser incluídas neste processo de musicalização, o autor ainda acrescenta que “o aprendizado de música, além de favorecer o desenvolvimento afetivo da criança, amplia a atividade cerebral, melhora o desempenho escolar dos alunos e contribui para integrar socialmente o individuo” (pág. 81).

Ainda dentro do contexto de Bréscia (2003), três tipos de fases correspondem ao desenvolvimento infantil neste processo de musicalização: o sensório-motor (até dois anos) que seriam atividades com a música relacionando som e gesto; simbólico (a partir de dois anos) quando se busca os significados da música, envolvendo os sentimentos expressos por ela e o analítico (a partir dos quatro anos) que são os jogos musicais, compostos por regras e organizados de forma que a criança necessite escutar a si próprio e estar em silêncio na vez do outro.

De acordo com Barreto (2004),

Ligar a música e o movimento, utilizando a dança ou a expressão corporal, pode contribuir para que algumas crianças, em situação difícil na escola, possam se adaptar (inibição psicomotora, debilidade psicomotora, instabilidade psicomotora, etc).

Por isso é tão importante a escola se tornar um ambiente alegre, favorável ao desenvolvimento. (pág. 45)

Diante do exposto, a música pode ser utilizada como ferramenta pedagógica na educação infantil, pois como foi possível refletir, além de contribuir significativamente no desenvolvimento intelectual e cognitivo da criança que se encontra em formação, pode agir nas relações afetivas, fortalecendo vínculos, diante das dificuldades pessoais ou coletivas, e no processo de inclusão, tão explorado nas escolas de educação infantil e ao longo da vida acadêmica.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através desta pesquisa buscou-se esclarecer sobre a música não apenas como instrumento ou facilitador do processo de ensino e aprendizagem, mas como parte integrante de uma área do conhecimento que no caso são as artes.

O presente artigo permitiu explorar a música não apenas como facilitadora do processo de ensino e aprendizagem da criança matriculada na educação infantil, mas também, sua importância e utilização como parte integrante das artes, como área do conhecimento.

Ao observar os conceitos educacionais foi possível compreender e ampliar a visão a cerca da música e como convida a criança a participar e interagir com o meio, através do corpo, de suas emoções, da criatividade, produzindo, inclusive, para o educador, informações importantes sobre os processos que utilizada para a construção de conhecimentos, físico, motor e cognitivo.

As práticas pedagógicas atuais estimulam o educador a se posicionar como mediador de informações, podendo através da música obter e estabelecer conexões entre as questões musicais apresentadas e a elaboração de conceitos.

Portanto, de forma divertida, prazerosa, a música compõe o planejamento do educador da educação infantil, formando uma parceria no processo educativo, contribuindo para a formação de conceitos e valores, facilitando a compreensão do eu e do outro, intensificando e resgatando valores culturais, fortalecendo vínculos sociais, ou seja, um crescimento e desenvolvimento pleno e saudável.

8. REFERÊNCIAS

BARRETO, C. de B. B. Coro Orfeão. Companhia Melhoramentos de São Paulo, Biblioteca de Educação, 1938.

BARRETO, Sidirley de Jesus; SILVA, Carlos Alberto da. Contato: sentir os sentidos e a alma: saúde e lazer para o dia a dia. Blumenau: Acadêmica, 2004.

BORGES, Teresa Maria Machado. A criança em idade pré-escolar: desenvolvimento e educação. 3°ed. Revisada e atualizada. Rio de Janeiro, 2003.

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.

______, (2) Lei 11.769 de 2008. Ensino de música no ensino fundamental e médio.

BRÉSCIA, V. P. Educação musical: bases psicológicas e ação preventiva. Campinas: Átomo, 2003.

BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil: proposta para a formação integral da criança. 2. ed. São Paulo: Petrópolis, 2003.

JEANDOT, Nicole. Explorando o universo da musica. 16 ed. São Paulo: Scipione, 1990.

JOLY, Ilza, Zenker, Leme, (2003). Educação e educação musical: conhecimentos para compreender a criança e suas relações com a música. In:____. HENTSCHKE, L; DEL BEN, L. Ensino de música: propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Ed. Moderna.

JUNIOR, J. F. D. Fundamentos estéticos da educação. São Paulo: editora Cortez, 1981.

LOUREIRO, Alicia M. A. A educação musical como prática educativa no cotidiano escolar. Revista da ABEM, Porto Alegre, n.10, 2004.

MAFFIOLETTI, Leda, Albuquerque, (2001). Práticas musicais na escola infantil. In:___. CRAIDY, C. KAERCHER, G. E. Educação infantil – Pra que te quero? Porto Alegre: Artmed.

PLATÃO. A República. Coleção Os Pensadores. Enrico Corviseri, trad. São Paulo: Nova Cultural. 2000

PENNA, Maura: Reavaliações e Buscas em Musicalização, Os Limites da Oficina de Música. São Paulo: Loyola, 1990.

ROSA, Nereide Schilaro Santa. Educação musical para a pré-escola. São Paulo: Ática, 1990.

VYGOTSKY, L. S. A formação Social da Mente. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1991.

WEIGEL, A. M. G. Brincando de Música: experiências com sons, ritmos, música e movimentos na pré-escola. Porto Alegre: Kuarup, 1988.

ZAMPRONHA, Maria de L. Sekeff. Da música, seus usos e recursos. São Paulo: Editora UNESP, 2002.

1 Uma das funções primordiais do Canto Orfeônico era o de ensinar e interpretar de forma correta os hinos oficiais da nação, bem como eleva o espírito nacionalista e de amor à pátria. (BARRETOS, 1938)

  


Publicado por: Geviane Ribeiro Silva Mariano

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