A formação do professor
Formar-se é um processo educativo que está nas mãos do próprio formando, que respeita a sua singularidade e que busca ampliar as suas qualidades na intenção de transformar a sociedade em que vive.
Como aprender a conhecer e a pensar
Como formar uma inteligência crítica, bem-estruturada, em vez de um armazém entulhado de conhecimentos?
A CULTURA DA INFORMAÇÃO à Como afirma Libanio (2001 s.p.): “A inteligência e a memória navegam com a velocidade parecida com a da luz, de modo que nada se lhe adere. É pura sensação. Adrenalina em vez de pensamento”. Nesse momento, entra o que significa aprender a conhecer, aprender a pensar.
APRENDER A RELACIONAR E A CONTEXTUALIZAR àO segredo de aprender a conhecer é saber estabelecer relações e contextualizar. Há um pensar e saber cada vez mais especializado, mais compartimentalizado. “Complexidade não significa dispersão, mas conexão entre os elementos. Libaneo afirma que o pensamento não se perde nunca no momentâneo. Em vez de dizer que só existe o presente, afirma-se o contrário. O presente não existe. Ele é passado condensado e é futuro anunciado. Vê-lo sempre assim é aprender a conhecer. Pensa quem sabe perguntar-se a si e à realidade. O processo educativo é o jogo de levantar perguntas, buscar respostas, e sobre elas continuas perguntando.
RECONHECIMENTO DE SI NAS OBRAS LITERÀRIAS à Aprendemos a pensar em profundidade sobre o amor, a morte, a liberdade, o sofrimento, a injustiça e tantas outras experiências básicas da condição humana. “Ler é imenso privilégio. Aprende-se a pensar lendo os pensadores”.
A LIÇÃO DAS COISAS E DOS OBJETOS à As coisas educam-nos o sentido de observação. Isolados diante de monitores de TV e internet, nossos sentidos vivem dos estímulos artificiais, virtuais. “Educar a observação é caminho do pensar”. “A maior lição das coisas é ensinar-nos a contemplar. Só sabe conhecer e pensar quem aprendeu a contemplar”.
APRENDER A ANALISAR E SINTETIZAR à “Pensar é analisar e sintetizar, separar e unir”> A inteligência analítica procura perceber a distinção de uma coisa e outra. A inteligência sintética tenta recuperar dessas análises os pontos em comum, de aproximação.
CAPACIDADE DE RELACIONAR à “Relacionar é superar uma visão dualista que pensa o mundo sempre divididamente entre sujeito e objeto, matéria e espírito, razão e emoção, feminino e masculino, mente e corpo, educar e aprender etc.”.
SABER VIVER NUM MUNDO DE INCERTEZAS à A incerteza estabeleceu-se definitivamente no campo do conhecimento. Rompe-se a evidência da relação causa e efeito, de modo que uma causa produz efeitos diversos conforme as circunstâncias e de forma imprevisível.
SUPERAÇÃO DO DOGMATISMO à As teorias aproximam-se da realidade sem nunca esgotá-las, sempre à espera de correções. Aprender a conhecer e a pensar nesse mundo exige abandonar todo dogmatismo e conduzem-nos ao “como aprender a fazer”.
Como aprender a fazer
A PERSPECTIVA HISTÓRICA à Enquanto se vive num presente, entendido como mera repetição do passado não se aprende ainda a fazer. No momento em que, porém, perdemos a mera visão continuísta, podemos fazer uma crítica ao passado. Importante é captarmos essa dinâmica, própria da modernidade que é: “ensina-nos a fazer”.
A PERSPECTIVA ÉTICA à Significa apurar o senso de responsabilidade.
DUPLO APRENDIZADO DE UMA TÈCNICA à Há duas maneiras de aprender uma técnica. Ver feita e reproduzir é o modo mais comum. O nível de escolaridade dificulta que as pessoas ultrapassem esse aprendizado repetitivo. Há um segundo modo diferente de aprender a fazer. Passa-se de uma simples qualificação em vista de determinadas tarefas para uma competência criativa de caráter mais amplo. Cada vez se exigirá maior capacidade dos trabalhadores.
RELAÇÃO MUTUA ENTRE APRENDER A FAZER E APRENDER A CONHECER à Aprender a fazer influencia a conhecer. Cria-se uma capacidade criativa de articulação entre conhecimento e pratica. Isso quer dizer que o progresso do conhecimento traz inovações no agir, e as mudanças no agir exigem reformulação do conhecimento.
ESTRATRÉGIA E REFLEXIBILIDADE à Edgar Morin faz uma distinção entre as duas atitudes de aprender o feito e de aprender a fazer. Chama a primeira de programação e, a segunda, de estratégia.
Como aprender a viver com os outros
O mundo atual é marcado pelo individualismo, pela violência, por conflitos, por racismo, por intransigências religiosas, por fanatismos. A arte de formar-se é desafiada a ser antídoto de tanto veneno.
APRENDER A SER TOLERANTE à Uma primeira lição da convivência é a tolerância. A tolerância teórica tem dois níveis: o das idéias e o das praticas. Os limites da tolerância deveriam nascer do consenso racional do grupo que se defende de sua destruição. E tal consenso nasce de um dialogo em que as razões transparentes convençam seus membros.
A AMEAÇA DO INDIVIDUALISMO à O lugar para aprender a conviver é por meio da vida em grupo, em equipe, em comunidade, a começar pela família.
COMUNITARISMO DE EVENTO E GRUPOS AFINS à Aprender a viver juntos exige preciosamente a capacidade de administrar o conflito, as divergências, as diferenças.
A DESCOBERTA DO VALOR DE SI E DOS OUTROS à Aprender a viver juntos passa por uma dupla descoberta: a do valor próprio e a do valor dos outros. “A consciência de uma igualdade radical na diferença dos talentos é a base do viver juntos”.
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E TRABALHO EM EQUIPE à A capacidade comunicativa das pessoas para criarem equipes de trabalho se torna absolutamente imprescindível.
EXPERIENCIA DE CONVIVIO à Para as crianças e os jovens aprenderem a viver juntos, os professores precisam propiciar-lhes experiências de convívio e, dentro delas, refletir com eles sobre sua conduta. Aprender a conviver é saber manter um olhar critico, vigilante, lúcido sobre si e sobre os outros, na dupla faceta de reconhecimento dos valores e das limitações.
Como aprender a ser
UNILATERALISMO DA CULTURA OCIDENTAL à Os critérios de promoção se fazem por meio de exames que exigem certo tipo de inteligência lógica, de memória, de capacidade dedutiva. É essa concepção unilateral da inteligência. O ser humano é reduzido a uma de suas dimensões.
DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA PESSOA HUMANA à Aprender a ser uma resposta a esses extremos, procurando o desenvolvimento integral, total, da pessoa humana: espírito e corpo.
DIMENSÃO GERACIONAL à Existe o risco crescente de ir lentamente estragando, destruindo, empobrecendo a Terra, de modo que as gerações futuras pagarão por pecados que não cometeram. Aprende-se a ser para a realidade presente e vindoura num espírito ético.
A DIALETICA DO SER E TER à “O ter nos agrega. O ser nos constitui” “Aprender a ter é ocultar-se atrás das coisas. Aprender a ser é despojar-se das coisas para revelar o próprio ser”
O OCULTAMENTO DE SI à Não se expondo, a pessoa não pode ser, na verdade, nem amada nem rejeitada. Prefere renunciar ao amor a ser excluída. “Aprender a ser é saber enfrentar-se na verdade de si.”
ENFRENTAMENTO DA MIDIA E DA CULTURA MODERNA à “Aprender a ser hoje implica uma tarefa singular de saber situar-se diante da terrível força inculcadora dos novos meios de comunicação. Implica necessariamente uma postura critica diante dessa cultura massificada, vulgarizada, banalizada.”
O MUNDO DOS SENTIMENTOS à O conjunto dos sentimentos dá o equilíbrio ao ser humano.
A DIMENSÃO DA BELEZA à Na educação deveria haver uma preocupação para que tudo que cercasse a criança fosse o mais belo possível, mesmo em situação de pobreza.
A DIMENSÃO DA VERDADE à A verdade funda-se no próprio ser das coisas.
A DIMENSÃO DO BEM à “A janela que nos abre para o bem é a ética.” Tanto mais importante é aprender a ser, educando-se eticamente, quanto mais forte é a crise atual de valores. A crise de valores tem dupla face: teórica e pratica. Teórica, questiona-se realmente a validade dos valores. Pratica não se discutem os valores.
Conclusão:
Todos os pilares – conhecer, fazer, conviver e ser – estão precedidos de um único verbo: aprender a. Formar é precisamente ajudar as pessoas a descobrir esse processo criativo de aprender a e ir atualizando-o nos diversos pilares.
Publicado por: Renata Gonçalves
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