Ozonioterapia na Odontologia: Revisão de Literatura

índice

Imprimir Texto -A +A
icone de alerta

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

1. RESUMO

Explorada na Odontologia como um meio terapêutico, a ozonioterapia tem sido uma coadjuvante valiosa no tratamento de patologias diversas, graças ao seu poder desinfetante que resulta numa alta eficácia em neutralizar, destruir e/ou suprimir o desenvolvimento de microrganismos patogênicos. Para o desenvolvimento e a garantia da relevância das informações abarcadas neste trabalho, buscas nos bancos de dados da BSV, SciELO e Google Scholar foram efetuadas assim como pesquisado livros e jornais da área odontológica. Foram encontrados 32 artigos que apresentavam relevância para o proposto. Propriedades analgésicas, anti-inflamatórias, biocidas/antimicrobianas, atóxicas, biocompatíveis, imunoestimulantes, foram remetidas ao ozônio em variados estudos e indicações como a terapêutica da osteonecrose, cura de feridas em mucosa e antissepsias, entre outros, foram propostas, porém muito há de se especular a respeito dos aspectos de aplicação, das concentrações e dosagens ideais, no afã de avaliar suas vantagens e desvantagens e igualmente fundamentar os mais adequados protocolos de aplicabilidade clínica.

Palavras-chave: Ozônio; Odontologia.

ABSTRACT

Exploring Odontology as a therapeutic medium, ozonotherapy has been a valuable adjunct in the treatment of various pathologies, thanks to its disinfecting power, which results in a high efficacy in neutralizing, destroying and / or suppressing the development of pathogenic microorganisms. For the development and assurance of the relevance of the information covered in this work, searches in the databases of BSV, SciELO and Google Scholar were carried out as well as researched dental books and newspapers. We found 25 articles that were relevant to the proposal. Analgesic, anti-inflammatory, biocidal / antimicrobial, non-toxic, biocompatible, immunostimulating properties were submitted to ozone in several studies and indications such as the treatment of osteonecrosis, mucosal wound healing and antisepsis, among others, have been proposed, but there is much to be speculated about the aspects of application, ideal concentrations and dosages, to evaluate their advantages and disadvantages and also the most appropriate protocols for clinical applicability.

Key-words: Ozone; Dentistry.

2. INTRODUÇÃO

Na literatura, o ozônio (O3) é definido como um fator ambiental sendo utilizado como importante recurso natural, singularmente, para a vida útil no planeta, desempenhando uma função de escudo, recebendo ponderações suficientes por diversos meios e ainda, sendo considerado de reatividade elevada e de manipulação que demanda cuidados. Ele viabiliza diversas utilizações de interesse apesar de ainda serem escassamente difundidas, e, quiçá, a falta de certa incomplexibilidade que permita a produção de ozônio facilite o surgimento de empecilhos para que ele seja mais apregoado.

Descoberto por Martin Van Marum, em 1785, e batizado por Christian Friedrich Schönbein, em 1840, o gás ozônio é um composto excepcionalmente oxidativo com capacidade de eliminar uma diversidade de material orgânico e de combater microrganismos. Fora clinicamente relatado pela primeira vez na Guerra Mundial, numa aplicação direta do gás sobre o tecido gangrenoso, porém, destacadamente marcado na odontologia, quando o cirurgião dentista Edward A. Fisch, em 1950, tratou o Dr. Erwin Payr, também cirurgião dentista, com ozônio e, nesse mesmo ano, utilizou água ozonizada em forma de antissépticos bucais como coadjuvantes em diversos procedimentos.

O ozônio é uma molécula triatômica com peso molecular de 47, 98 g / mol, de alta instabilidade termodinamica que, subordinado às circunstâncias do sistema como pressão e temperatura, se decompõe em oxigênio puro de meia-vida breve, sendo mais denso e mais solúvel que o oxigênio se dissolvido em água. Possui um alto potencial de oxidação quando utilizado como agente antimicrobiano contra protozoários, vírus, bactérias e fungos e, similarmente, tem a capacidade de excitar a circulação sanguínea assim como a resposta imune. Essas características são as que justificam o interesse crescente na ozonioterapia aplicada à odontologia.

Fazer uma revisão de literatura sobre as aplicações clínicas do ozônio nas diversas especialidades odontológicas, fora o objetivo do presente artigo, apresentando e buscando esclarecer a respeito dos benefícios, formas e cuidados no decurso da aplicabilidade do ozônio como terapia odontológica, e ainda auxiliar o cirurgião-dentista no decorrer do tratamento odontológico e na promoção da saúde oral.

3. REVISÃO DE LITERATURA

Com distintos mecanismos de ação, o ozônio (O3), dependendo do local a ser empregado, está suscetível a ser classificado conforme a predominância de seu comportamento. A temperatura, a umidade e a oxigenação, podem exercer enorme efeito sobre esse comportamento diretamente proporcional à sua efetividade, sendo que, um dos essenciais e mais conhecido mecanismo de ação é seu dinamismo altamente oxidativo que apresenta potencial atividade biocida contra bactérias, vírus, fungos e vermes, superando qualquer outro agente que possua capacidade de combater patógenos e consequentes infecções. Diversas teorias buscam explicar o trabalho desse agente no combate a bactérias, e aquelas que correlacionam sua alta oxidação atuando sobre as cadeias ácido-lipídicas da parede celular provocando celeremente a morte desses microrganismos, têm sido as mais aceitas. Em ideais concentrações, o ozônio é atóxico em relação aos tecidos e às células humanas, porém, de poder intensamente destrutivo para bactérias e ademais microorganismos. Em 2006, Huth et al, realizaram testes referente a citotoxidade dele, tanto em forma de gás como em forma de água ozonizada, sobre células epiteliais orais e fibroblastos gengivais, numa comparação com convencionais antimicrobianos tais como digluconato de clorexidina a 2%, peróxido de hidrogênio a 3%, hipoclorito de sódio a 5,25% e 2,25% entre outros, e como resultados obtidos, nenhum efeito tóxico fora apresentado daquele em relação a estes que apresentaram alguma toxidade em vinculação aos espécimes em estudo.3,11,13

3.1. O que é Ozônio?

O ozônio é um composto formado quimicamente, que consiste em três átomos de oxigênio (O3 - oxigênio triatômico - 2 moléculas + 1 átomo de O2 ou 1 molécula + 2 átomos de O2) tendo peso molecular de 47, 98 g / mol. E, devido a sua faculdade de filtrar raios UV, é considerado um dos gases mais relevantes na estratosfera, com alta criticidade para a estabilidade dos espaços biológicos e do equilíbrio na biosfera, pois gera uma grande proteção que é capaz de ser vista como o céu de cor azul. 3,9,12

O ozônio é produzido naturalmente, alicerçado em dois principais mecanismos, sendo o primeiro, decorrente de descargas elétricas em tempestades quando uma molécula de O2 recebe uma descarga elétrica e é fragmentada em dois átomos de oxigênio (O + O) e cada átomo individual reage com a molécula de O2 (O + O2) gerando uma molécula de O3; e o segundo, se dando através da radiação ultravioleta (UV) emitida pelo sol, que possui a mesma forma das descargas elétricas sobre o O2 vigente na estratosfera, em que O3 é gerado por intermédio dos fótons do sol fragmentando o óxido nitroso (N2O). Lembrando que o ozônio empregado na ozonioterapia é elaborado a partir do O2 médico puro, posto que, o O2 encontrado na atmosfera tem sua concentração variada consonante a altitude, a temperatura e a poluição do ar. Ademais, o O2 atmosférico poderia produzir outras espécies reativas, como o dióxido de nitrogênio (N2O2), nada medicinais. Já industrialmente, o ozônio pode ser produzido para uso medicinal através de geradores específicos, mediante três diferentes sistemas: o ultravioleta, o qual produz concentrações baixas de O3; o de descargas elétricas, o qual produz concentrações altas e o por plasma frio, o qual é empregado unicamente para purificação de água e de ar. 3,9,12,13

O ozônio é um excepcional desinfetante com célebre poder germicida, altíssimo poder de penetração e um respeitável agente esterilizador com considerável poder oxidante, denotando boa perspectiva de utilidade para Odontologia. Como ótima alternativa, o emprego do ozônio como terapia no tratamento de variadas patologias orais tem minimizado o percurso clínico de afecções, promovendo excelentes resultados quando comparados a terapias convencionais, além de que, atualmente, é considerada uma escolha promissora de terapia devido a extraordinários fatores como: seu pequeno custo de investimento, sua mínima manutenção, sua descomplicada aplicação e seus satisfatórios resultados clínicos.3,11

Milhões de pessoas já perceberam, em mais de 150 anos, as vantagens proporcionadas pelo ozônio em sua existência, e atualmente, quando no uso de sua prática clínica, seu excelente desempenho tem sido observado, quando no tempo que extingue o foco da doença também compele a cura do organismo por intermédio da resposta natural. A prática que não é recente no Brasil (com início na década de 1975 e com crescentes adeptos após cinco anos quando chamou atenção de certas universidades), teve maior embasamento de seu exercício clínico em 2015, quando o CFO (Conselho Federal de Odontologia) regulamentou a ozonioterapia para o exercício pelo cirurgião dentista. 12,13 

3.2. Breve histórico do ozônio

1785 – O físico Martin Van Marum menciona pela primeira vez a molécula de ozônio;

1840 – O cientista Christian Friedrich Schönbein batiza o ozônio. (de ozônio, do grego ozein, que significa odor/odorante);

1857 – O físico Dr. Werner Von Siemens desenvolve o primeiro gerador de ozônio;

1896 – Nikola Tesla emite uma patente do seu primeiro gerador de ozônio e 4 anos depois cria a Tesla Ozone Co;

1906 – O FDA (Food and Drug Administration US), um órgão equivalente à ANVISA brasileira, reconhece a ozonioterapia como procedimento para uso médico;

1914-1918 – Durante a 1ª Guerra Mundial, médicos ingleses e alemães usam o ozônio em feridas de soldados;

1950 – O cirurgião dentista E. A. Fisch usa pela primeira vez o O3 em procedimento odontológico;

1975 – O médico Heinz Konrad inicia no Brasil a prática da ozonioterapia;

2006 – Fundada a ABOz (Associação Brasileira de Ozonioterapia), com o objetivo de legalizar a ozonioterapia assim como orientar e capacitar profissionais para o seu uso na odontologia;

2010 – A Declaração de Madrid Sobre a Ozonoterapia foi aprovada como referência da aplicabilidade e das abordagens terapêuticas para o uso do ozono a nível mundial;

2015 – O CFO (Conselho Federal de Odontologia) regulamenta a prática da ozonioterapia pelo cirurgião dentista através da Resolução CFO-166/2015, a qual norteia a sua aplicabilidade;

2018 – O SUS (Sistema Único de Saúde) inclui a aplicabilidade de 10 novos exercícios, integrados e complementares, trazendo a ozonioterapia como um deles.3,4,5,6,7,13,26

3.3. Mecanismo de ação          

O ozônio é uma substância que apresenta a capacidade de oxidação quando, através de uma reação química, consegue passar um elétron próprio para outra substância.
Ao se encontrar com um tecido biologicamente ativo, o ozônio reage com inúmeras biomoléculas que, agrupadas, formam um sistema de tamponamento antioxidante. A maior parte dessas biomoléculas tem papel anti-inflamatório e analgésico que agem de forma simultânea à ação antioxidante.

O ozônio, em relação ao oxigênio, é dez vezes mais solúvel, tendo uma maior capacidade para se difundir e penetrar nos tecidos, assim como para se dissolver no plasma sanguíneo e nos fluidos extracelulares, porém, ele não permanece estável nesses meios líquidos, já que é um potente oxidante, acabando por reagir imediatamente com moléculas presentes nesses meios, como as antioxidantes, proteínas, carboidratos e ácidos polinsaturados.

O primeiro mecanismo pode ser chamado de reação imediata do ozônio em que a molécula de ozônio é oxidada pelo ácido ascórbico, por grupos de proteínas sulfidrila e por glicoproteínas. Esta primeira reação é importante porque geram espécies reativas de oxigênio (ROS). As ROS são neutralizadas no máximo em um minuto pelo sistema antioxidante. O segundo mecanismo, é a reação caracterizada como peroxidação lipídica, podendo ser chamada de reação tardia em que no plasma hidrofílico, uma molécula de olefin (partícula de ácido aracdônico presente no plasma de triglicérides) e uma molécula de ozônio geram duas moléculas de aldeídos e uma molécula de peróxido de hidrogênio. Essas duas reações, completas em segundos, geram peróxidos de hidrogênio e uma variedade de aldeídos que são produtos lipídicos oxidantes (LOPs).

A partir deste fato sabe-se que não é o ozônio, mas sim as ROS e os LOPs responsáveis pela sucessiva multiplicação de reações bioquímicas que acontecem em diferentes células por todo o organismo. O ozônio é eliminado pelos antioxidantes presentes no plasma e a segunda reação a responsável pelos efeitos terapêuticos.

Segundo Sonnen em 1988, o mecanismo de ação está relacionado à sua atividade extremamente oxidativa. O gás reage com ácidos graxos insaturados presentes nas membranas celulares e origina uma série de peróxidos hidrófilos estimulantes da formação de substâncias desoxigenantes ou antioxidantes.

A ação do ozônio decorre do moderado estresse oxidativo sobre os tecidos. Este fenômeno acontece a partir do desequilíbrio entre a geração de compostos oxidantes, no caso o gás ozônio, e a atuação dos sistemas de defesa antioxidante do organismo, resultando na geração de radicais livres e espécies reativas de oxigênio.

De acordo com Barbosa et al, em 2010, a formação de radicais livres ocorre naturalmente a partir de processos fisiológicos contínuos do organismo. Durante os processos metabólicos, esses radicais atuam como mediadores para a transferência de elétrons nas várias reações bioquímicas. Por sua vez, os antioxidantes objetivam limitar os níveis intracelulares destes radicais e controlar a ocorrência de danos muito prejudiciais à saúde do organismo. Dessa forma, o estresse oxidativo acontece quando há a excessiva formação de radicais livres ou redução na velocidade de remoção destes, causando a oxidação das biomoléculas, gerando perdas de suas funções biológicas, bem como um desequilíbrio homeostático.

A reação do ozônio com lipídeos ocorre na dupla ligação de carbono, presente nos ácidos graxos poliinsaturados, gerando peróxidos orgânicos e ozonídios. A aplicação do gás ozônio sobre qualquer tipo de tecido vivo reage com os componentes da membrana celular, gerando espécies reativas de oxigênio (ROS) e lipooligopeptídeos (LOP), dentre eles o peróxido de hidrogênio (H2O2).

Somente as ROS e os LOPs prontamente formados a partir dessa reação podem ser parcialmente reduzidos pelos antioxidantes enzimáticos da pele, como glutationa oxidase, superóxido dismutase e catalase, e não enzimáticos de baixo peso molecular, como isoformas de vitamina E, vitamina C, glutationa, ácido úrico e ubiquinol, ou serem parcialmente absorvidos via endovenosa e por capilares linfáticos.

De acordo com Valacchi, Fortino e Bocci, em 2005, as ROS são os mais efetivos e naturais agentes contra os patógenos resistentes a antibióticos. Esta propriedade já tinha sido relatada também por Pereira et al, em 2004, que relataram o efeito de diferentes gases, entre eles o ozônio, sobre a atividade de crescimento bacteriano in vitro, justificando a sua ação bactericida. 3,8

3.4. Formas de uso

Correspondente ao emprego do ozônio, formas distintas podem ser apresentadas, entretanto, as formas de interesse à área odontológica são:

3.4.1. Gás ozônio

Diretamente nos tecidos ou por inalação – via mais antiga, irritante e perigosa, pois depois de inalado pode produzir dano pulmonar grave e se produzido em concentrações altas pode ser explosivo, devendo ser empregado com atenciosa cautela para o alcance dos efeitos terapêuticos, usando dispositivos que evite o escape do gás assim como geradores eficientes e seguros. Um exemplo de aplicação pode ser visto através da aplicação do gás por um sistema de sondas (como cânulas), utilizada em bolsas subgengivais. 2,3,13

3.4.2. Água ozonizada

Tópica ou por inalação - O ozônio deve ser dissolvido em água bidestilada para impedir a formação de subprodutos tóxicos e refrigerado para uma maior garantia de concentração do gás dissolvido. A água ozonizada deve ser preparada consecutivamente antes de sua aplicação, pois a molécula de O3 é instável e pode retornar facilmente a ser uma molécula de O2. Sua meia-vida é mutável com a variação de temperatura: de 20°C - 25ºC tem uma meia-vida de 40 minutos e a 0°C dura cerca de 140 minutos, se decompondo, a contar desse momento, em oxigênio mais água. Assim sendo, a água ozonizada é de extrema importância pela facilidade de manipulação quando comparada ao gás, pois o gás é absorvido totalmente na sua produção evitando promover riscos á saúde. 2,3,13

Os efeitos da ação terapêutica da água ozonizada dependem da sua concentração após serem diluídos em água, sendo que métodos como colorometria, fotometria e titulações químicas, podem ser usados para a verificação dessas concentrações. Um dos exemplos da aplicação dessa forma aquosa pode ser visto quando da sua aplicabilidade na irrigação de canais dentários, na irrigação cirúrgica em exodontias e ainda na irrigação de bolsas periodontais. 30,32

3.4.3. Óleo ozonizado

Tópico – exerce vantagem em relação as formas já apresentadas, em razão de que tanto o veículo quanto suas funções se perpetuam por um período de tempo maior quando em contato com as superfícies a serem tratadas, pois ao passo que a meia vida do ozônio sob a forma gasosa é transitória, sob a forma de óleo possibilita armazenamento por meses, e com isso, o uso de gerador se torna dispensável sendo o óleo ozonizado de grande sucesso de utilização nos tratamentos de estomatites protéticas e alveolite e ainda sobre bolsas periodontais juntamente com o debridamento mecânico.2,3,13

3.5. Concentrações

As indicações terapêuticas para a aplicabilidade do ozônio estão amparadas no conhecimento de que concentrações baixas são capazes de desempenhar papeis importantes no interior da célula. Distintos mecanismos de ação têm sido percebidos a nível molecular, embasando as evidências clínicas dessa terapia.
Concentrações do tipo placebo, terapêuticas ou tóxicas existem, porém fora evidenciado que concentrações de 10 ou 5 µ/ml ou ainda doses até menores, desempenham efeitos terapêuticos com alta margem de segurança, assim sendo, concentrações terapêuticas que diferenciam de 5 a 60 µ/ml são atualmente aceitas, tanto para aplicações locais quanto sistêmicas.          

As doses terapêuticas são segmentadas em três tipos referentes a seu mecanismo de ação:

Doses baixas: de 5 a 20 µg/ml – imunomoduladoras, bioestimuladoras e reparadoras, podendo ser empregadas nas doenças em que suspeitas do comprometimento do sistema imunológico sejam encontradas;

Doses médias: 25 a 35 µg/ml – também imunomoduladoras além de estimuladoras do sistema enzimático de defesa antioxidante;

Doses altas: 40 a 60 µg/ml – antimicrobianas e antibióticas, empregadas especialmente em úlceras ou feridas infectadas. 6

3.6. Efeitos

O ozônio possui grandes atribuições como estimulador na produção de citocinas, ativador dos linfócitos T, estimulador do sistema imune sintetizando anticorpos, estimulador da melhora da oxigenação e do metabolismo celular por meio de vasodilatação e do aumento da resposta enzimática antioxidativa; é um potente oxidante de compostos orgânicos e inorgânicos, um bom precipitador de metais pesados; é redutor da agregação plaquetária, indutor de neovascularização e proliferação tecidual e ainda, inibidor de moléculas de aderência fazendo com que o processo inflamatório local seja reduzido. Ademais, é evidente que o ozônio age diretamente sobre os mediadores químicos da inflamação, causando a inibição da formação do ácido araquidônico e da síntese de prostaglandinas, agindo também nas citocinas, impedindo a inflamação. Além de tudo, detém da capacidade de gerar analgesia rápida e diminuição da inflamação, tanto nas lesões agudas, quanto nas crônicas, sendo um agente de grande espectro de ação com grande poder microbicida, bactericida, vermicida, fungicida e parasiticida. Contudo, vale ressaltar que, apesar de o ozônio ser um dos desinfetantes mais potentes, ele não inativa bactérias, fungos e vírus “in vivo”, pois, paradoxalmente, o sistema antioxidante protege os patógenos que estão dentro das células. 3,12,13,14

3.7. Materiais adequados

Visto que o ozônio possui um grande poder oxidativo, todos os materiais que serão postos em contato com ele deverão ser ozônio-resistentes, pois para algumas superfícies como alumínio, ferro ou látex, se apresenta altamente corrosivo, sendo que materiais como vidro, silicone, teflon, aço inox, titânio, alguns polímeros e cerâmicas, são indicados para auxilio do seu uso por serem inativos a seu poder corrosivo. 13,30

3.8. Aplicabilidade odontológica

Dentística e Cariologia:       

O ozônio é capaz de atenuar a soma bacteriana em lesões de cárie ativa e temporariamente impedir a sua progressão, prevenindo e até retardando a necessidade de restaurações dentárias, atuando e eliminando bactérias cariogênicas/acidogênicas. Essa capacidade em eliminar Streptococcus mutans, Lactobacillus casei e Actinomyces naeslundii (bactérias acidogênicas básicas existentes na placa bacteriana dental), assim como a de ser eficaz na remineralização de lesões de cárie incipientes em fissuras e ainda, de conseguir reverter a progressão da carie, sendo cada vez mais ovacionado, pois além de tudo, ainda se mostra de bom custo-benefício. Tais estudos também mostraram: a eficácia do ozônio como agente desinfetante em preparos cavitários; o aumento da eficiência do condicionamento ácido quando aplicado antes do ácido fosfórico; a compatibilidade com sistemas adesivos e a promoção da durabilidade adesiva por propiciar força de união entre a resina o substrato dentinário quando aplicado entre as duas etapas do condicionamento ácido.15,16,17,18,19,20,21,22

Periodontia:

Para terapias em tratamentos periodontais e periimplantar revelou ser eficaz em relação à microbiota subgengival, apresentando excelente desenvoltura na redução do sangramento e da profundidade de bolsa à sondagem com relevância tanto em processos agudos quanto a crônicos, apontando considerável melhoria em relação a inflamações periodontais. A aplicação da água ozonizada em forma de bochechos minimiza a adesão da placa bacteriana à superfície dental assim como neutraliza completamente culturas de Staphylococcus aureus, podendo ser empregada, inclusive, como água dos ultrassons (se os mesmos forem adaptados com materiais compatíveis para o uso da solução) e como tratamento antes de realizar alisamento radicular, como também, para irrigar bolsas periodontais, para aprimorar a higiene oral, para reduzir inflamação gengival e até para reimplantar dentes avulsionados.13,23,24,25

Endodontia:

Na endodontia, o emprego do ozônio mostrou notada importância na extinção de microrganismos no decurso do tratamento endodôntico, provocando cicatrização periapical e estimulando regeneração óssea apical, minimizando a carência de procedimentos cirúrgicos periapicais, devido o seu poder biocida / antimicrobiano e sua biocompatibilidade, quando de seu uso em concentrações adequadas ,seja de sua aplicação pura ou associada a outros agentes.13,26,27

Cirurgia Oral:

A ozonioterapia em cirurgia oral demonstrou a aceleração da cicatrização de feridas cutâneas agudas, quando da aplicabilidade tópica do óleo ozonizado no local da lesão, motivando a multiplicação de fibroblastos e a síntese de colágeno. Casos do emprego do ozônio em cirurgias bucais como agente antisséptico e/ou hemostático e em feridas como agente irrigador, também já existem e demostraram privilegiar melhora no processo reparador, pois promoveram maior vascularização e oxigenação local. Até na exodontia há a possibilidade de usar a água como agente irrigador para auxiliar na ostectomia de terceiros molares como minimizador de situações de complicações infecciosas pós-cirúrgica, estando adequada também contra infecções de osteomielite como agente profilático. Igualmente, pacientes submetidos a terapias com ozônio que possuem patologias como: disfunção da articulação temporomandibular (DTM), anomalias da articulação temporomandibular (ATM), osteoartrite, osteoartrose e/ou osteonecrose vascular, podem alcançar uma redução da sintomatologia e os que possuem lesões geradas por osteonecrose induzida por bisfosfonatos, podem obter uma redução importante no quadro e, consequentemente, melhora na qualidade de vida. E como garantias do emprego da água ozonizada em cirurgias orais, pode-se verificar sua eficácia na descontaminação das superfícies de implantes dentários, no aumento da rapidez de cicatrização da mucosa oral quando do seu uso diário, na redução de bactérias quando usado como antisséptico na irrigação dos alvéolos pós-exodontias e como antisséptico intrabucal no pré-operatório. Existem também evidências da eficácia do óleo ozonizado quando da sua aplicabilidade em enfermos com feridas e fístulas recorrentes promovendo retardamento dos sinais e sintomas e consequente cura (expurgando o pus, reepitelizando e fechando as feridas).13,29,30,31

Biossegurança:

O ozônio ainda pode ser empregado na biossegurança como tática na esterilização de instrumentais odontológicos, por dispor de evidenciado efeito biocida, de atuação imediata, na batalha contra patógenos contidos nos processos patológicos, pois ao tempo que ele altera a conformação do biofilme, conjuntamente oxida bactérias, o que também o torna adequado para ser utilizado na repartição de distribuição da água dos equipos clínicos odontológicos (lembrando que os mesmos devem ser adaptados com materiais compatíveis para suportar o uso desse agente).2,13

3.9. Indicações

Resumidamente, as modalidades principais de tratamento odontológico da ozonoterapia são: depuração de biofilme (eliminação de patógenos bacterianos); prevenção da cárie dentária; sensibilidade dentária; desinfecção de bolsas periodontais e desinfecção óssea; tratamento endodôntico; sensibilidade dentária; remineralização da superfície do dente; tratamento da articulação tempromandibular; recessão gengival (exposição das superfícies da raiz); clareamento dos dentes (clareamento); halitose de controle (mau hálito); controle da dor; controle de infecção; regeneração de tecidos e cura acelerada.9,13,26 1,2,3

3.10. Contraindicações

A ozonioterapia está contraindicada para os quadros de hipertireoidismo, gestantes e lactantes, hemorragia ativa, anemia severa, deficiência de Glicose-6-Fosfato Desidrogenase (G6PD) também chamada favismo, miastenia severa, trombocitopenia, ferro sérico livre alto, patologias com alto stress oxidativo (compensar antes), doenças autoimune, intoxicação por álcool, infarto do miocárdio recente, alérgicos ao ozônio, Diabetes Mellitus (DM) descompensado, Hipertensão Arterial Severa (HAS) e pacientes medicados com IECA (inibidores da enzima conversora de angiotensina). Para que ocorra a utilização da ozonioterapia, é necessária a estabilização clínica dessas situações.

Efeitos colaterais também podem estar presentes, como irritação das vias aéreas, rinite, tosse, cefaleia, náuseas, vômitos, breve interrupção da
respiração, enfisema, angina instável e dependendo das concentrações elevadas, pode gerar danos irreversíveis à saúde como complicações neurológicas e até óbito. No caso de intoxicação acidental, indica-se posicionar o paciente em decúbito dorsal e administrar via inalatória oxigênio umidificado, além de vitamina “C”, vitamina “E” e acetilcisteína. 2,3,9,13,17

4. CONCLUSÕES

O ozônio mostrou evidências notórias no acervo clínico do cirurgião-dentista. A ozonioterapia conduz uma proposição atraente como coadjuvante no tratamento odontológico, graças à sensibilidade demonstrada pela grande maioria das bactérias em resposta ao ozônio e graças a grande soma de doenças infecciosas retratadas na Odontologia. E, apesar de suas propriedades analgésicas, anti-inflamatórias, biocidas/antimicrobianas, atóxicas, biocompatíveis e imunoestimulantes, numa alternativa terapêutica que dispõe como préstimos ser um procedimento atraumático e não invasivo, fazendo com que a ozonioterapia seja resposta para múltiplas patologias, muito há ainda de se especular a respeito dos aspectos de aplicação, das concentrações e dosagens ideais, no afã de avaliar suas vantagens e desvantagens e igualmente fundamentar os mais adequados protocolos de aplicabilidade clínica.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 Biblioteca Digital de Produção Intelectual da Universidade de São Paulo [banco de dados na Internet]. São Paulo (SP): UV-Ozônio: produção, gestão e utilização. 2009. https://bdpi.usp.br/item/001797879. Acesso: 24/01/2019.

2 Oliveira AF, Mendes HJR. Aplicações clínicas do ozônio na odontologia. Revista Saúde. Com. 2009; 5(2): 128-140. http://periodicos2.uesb.br/index.php/rsc/article/view/156. Acesso: 24/01/2019.

3 Penido BR, Lima CA, Ferreira LFL. Aplicações da ozonioterapia na clínica veterinária. Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. 2010;4(40): e145. http://www.pubvet.com.br/uploads/2fa273fe01c59ab51c23eea05bcc9d80.pdf. Acesso: 15/04/2019.

4 Aboz.org.br [site na Internet]. São Paulo: Associação Brasileira de Ozonioterapia, História da ozonioterapia.  https://www.aboz.org.br/ozonize-se/historia-da-ozonioterapia/7/. Acesso: 16/04/2019.

5 Aboz.org.br [site na Internet]. São Paulo: Associação Brasileira de Ozonioterapia, Nota de esclarecimento sobre a ozonioterapia. https://www.aboz.org.br/noticias/nota-de-esclarecimento-sobre-a-oz%20onioterapia/74/. Acesso: 16/04/2019.

6 Isco3.org [site na Internet]. Madrid: Madrid Declaration on Ozone Therapy. https://isco3.org/. Acesso: 16/04/2019.

7 Institutotesla.org [site na Internet]. Brasília: Tesla Ozônio Technology. http://institutotesla.org/TeslaOzone/. Acesso: 16/04/2019.

8 Medical Gas Research [banco de dados na Internet]. Bethesda (ML): Mechanisms of Action Involved in Ozone Therapy: Is healing induced via a mild oxidative stress?. 2011. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3298518/. Acesso: 16/04/2019.

9 Saini R. Ozone therapy in dentistry: a strategic review. Journal of Natural Science, Biology and Medicine. 2011; 2(2): 151–153.

10 Nogales CG, Ferrari PA, Kantorovich EO, Lage-Marques JL. Ozone therapy in medicine and dentistry. The Journal of Contemporary Dental Practice. 2008; 4(9): 075-084.

11 Marin TS, Bortoluci CD, Oliveira KR de, Cassucci PP, Moraes JMP, Santos AD. O uso do ozônio na odontologia. Anais Da Jornada Odontológica Do Unifunec. 2014;1(1):e1. https://seer.funecsantafe.edu.br/index.php?journal=AJOF&page=article&op=view&path%5B%5D=1056. Acesso: 24/01/2019.

12 Aboz.org.br [site na Internet]. São Paulo: A ozonioterapia. http://www.aboz.org.br/ozonioterapia/. Acesso: 24/01/2019.

13 Nesi AK. Ozonioterapia: o uso do ozônio na Odontologia [monografia]. Porto Velho (RO): Centro Universitário São Lucas; 2018.

14 Silva PM da, Dietrich L. Ozonioterapia: capacidade antimicrobiana frente a bactérias da cavidade oral. Psicologia E Saúde Em Debate. 2018 Dez; 4(1): 88-88. http://psicodebate.dpgpsifpm.com.br/index.php/periodico/article/view/434. Acesso: 24/01/2019.

15 Filho MXP. Cárie severa na infância: avaliação da estrutura de comunidades bacterianas e perfil de sensibilidade a antimicrobianos [tese]. Florianópolis (SC): Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal de Santa Catarina; 2013.

16 Atabeka D, Oztas N. Effectiveness of ozone with or without the additional use of remineralizing solutionon non-cavitated fissure carious lesions in permanent molars. European Journal of Dentistry. 2011; 5(1): 393-399.

17 Garg R, Tandon S. Ozone: A new face of dentistry. The Internet Journal of Dental Science. 2008; 7(2): 1-5.

18 Chaves RM. Avaliação do efeito do ozônio na dentina exposta a biofilme [dissertação]. Goiânia (GO): Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás; 2011.  

19 Kapdan A, Öztaş N, Sümer Z. Comparing the antibacterial activity of gaseous ozone and chlorhexidine solution on a tooth cavity model. Journal section: Clinical and Experimental Dentistry. 2013; 5(3):133-137.

20 Polydorou O, Pelz K, Hahn P. Antibacterial effect of an ozone device and its comparison with two dentin-bonding systems. European Journal of Oral Sciences. 2006; 114(1): 349–353.

21 Rodrigues D, Rodrigues PCF, Estrela C, Lopes LG, Fonseca RB, Souza JB de. Avaliação microscópica da morfologia dentinária após aplicação do ozônio e do ascorbato de sódio. Research Gate. 2011; https://www.researchgate.net/publication/228448657. Acesso: 28/01/2019.

22 Rodrigues PCF. Efeito aplicação do gás ozônio na resistência de união entre resina composta e dentina [dissertação]. Goiânia (GO): Universidade Federal de Goiás; 2009.

23 Gonçalo TS. Ozonoterapia no tratamento da periodontite [monografia]. Portugal (ES): Instituto Universitário Egas Moniz; 2018.

24 Habashneh RA, Alsalman W, Khader Y. Ozone as an adjunct to
conventional nonsurgical therapy in chronic periodontitis: a randomized controlled clinical trial. Journal of Periodontal Reserch. 2015; 50(1): 37-43.

25 Biblioteca Digital de Produção Intelectual da Universidade de São Paulo [banco de dados na Internet]. Bauru (SP): A ozonioterapia no tratamento periodontal e peri-implantar: revisão de literatura. 2014. https://bdpi.usp.br/item/002692746. Acesso: 13/03/19.  

26 Martins IVR. Aplicação do ozônio na terapêutica do sistema de canais radiculares: revisão de literatura [monografia]. Brasília (DF): Faculdade de
Ciências da Saúde da Universidade de Brasília; 2018.

27 Nogales CG. Parâmetros de ação antimicrobiana e da citotoxicidade do ozônio para aplicação em endodontia [dissertação]. São Paulo (SP): Faculdade de Odontologia da Faculdade de São Paulo; 2011.

28 Farac RV. Avaliação do efeito bactericida do ozônio associado ao propilenoglicol em canais radiculares contaminados com enterococcus faecalis em diferentes períodos de tempo de armazenagem [dissertação]. Araraquara (SP): Faculdade de Odontologia de Araraquara da Universidade Estadual Paulista; 2010.

29 Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde [banco de dados na Internet]. Araçatuba (SP): Ozonioterapia no controle da infecção cirurgia oral. 2013.  http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-856954. Acesso: 13/03/2019.

30 Deboni MCZ. Antissepsia de alvéolos pós-exodontia empregando irrigações transoperatórias de solução de ozônio diluído em água [tese]. São Paulo (SP): Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo; 2009.

31 Biblioteca Digital de Produção Intelectual da Universidade de São Paulo [banco de dados na Internet]. Ribeirão Preto (SP): Avaliação do efeito antimicrobiano do uso da água ozonizada como antisséptico intrabucal no pré-operatório de cirurgias odontológicas. 2011. https://bdpi.usp.br/item/002256559. Acesso: 13/03/2019.

32 Belegote IS, Penedo GS, Silva ICB, Barbosa AA, Belo MTN, Neto OI. Tratamento de doença periodontal com ozônio. Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research. 2018;23(2):e1. https://www.mastereditora.com.br/periodico/20180704_093210.pdf. Acesso: 16/04/2019.  


Publicado por: Monique Nunes Nascimento

icone de alerta

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.