Racismo na Televisão Brasileira - A TV Branca
índice
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
1. RESUMO
O Brasil é um país marcado pela diversidade cultural e étnico-racial, porém que, infelizmente, desde seu descobrimento tenta ser mascarada. A questão racial no país sempre foi alvo de muitas discussões que, principalmente por conta do preconceito gera muitas discussões. É possível considerar que desde muitos anos existe uma preocupação errônea com o chamado branqueamento da população, que visa a redução e até mesmo eliminação dos negros na sociedade. Assim, a televisão brasileira, como principal difusora de informações e entretenimento atualmente, surge com o preconceito racial, haja vista a evidência da diferença de quantidade entre personagens brancos e negros. Neste sentido, a presente pesquisa tem como objetivo analisar a questão racial na televisão brasileira, muitas vezes apontada como a TV branca por conta da preferência tímida pela cor da pele clara para personagens, repórteres e campanhas publicitárias. Sendo assim, será feita uma pesquisa bibliográfica, através de livros, artigos científicos e outras fontes capazes de apontar os principais autores que abordam o tema, com o intuito de adquirir embasamento teórico para a análise em questão.
Palavras-chave: Branqueamento; Racismo; Televisão.
ABSTRACT
Brazil is a country marked by cultural and ethnic-racial diversity, but unfortunately, since its discovery it has tried to be masked. The racial question in the country has always been the subject of many discussions that, mainly because of the prejudice generates many discussions. It is possible to consider that for many years there has been an erroneous concern with the so-called population bleaching, which aims at the reduction and even elimination of blacks in society. Thus, Brazilian television, as the main diffusion of information and entertainment nowadays, appears with racial prejudice, given the evidence of the difference in quantity between white and black characters. In this sense, the present research aims to analyze the racial issue in Brazilian television, often referred to as white TV because of the shy preference for light skin color for characters, reporters and advertising campaigns. Thus, a bibliographical research will be carried out through books, scientific articles and other sources capable of pointing out the main authors who approach the subject, with the purpose of acquiring theoretical basis for the analysis in question.
Keywords: Bleaching; Racism; Television.
2. INTRODUÇÃO
A televisão representa, nos dias atuais, uma poderosa ferramenta na formação da opinião pública. Muitas vezes a televisão retrata fatos de forma fragmentada e manipulada, editando informações, de forma a influenciar os telespectadores. Essa manipulação se faz mais alarmante quando o raio de alcance da televisão é de considerável proporção, como é o caso da realidade midiática brasileira. Aliado à isso, o grau de escolaridade da população incide diretamente sobre a forma pela quale la pode ser influenciada de forma equivocada.
A televisão tem diversos produtos, como os comerciais, telejornais e telenovelas. Cada um, com seu objetivo e peculiaridades, apresenta ou representa os fatos e a sociedade, usando suas estratégias e artifícios.
O presente trabalho tem por objetivo analisar a forma pela qual o negro tem sido representado na televisão brasileira, seja nos telejornais, nas campanhas publicitárias ou nas telenovelas. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, por meio de artigos, periódicos e livros que tratam sobre o tema, verificando a questão racial nesse ramo midiático.
Essa questão ganha relevância por ser o Brasil um país de notável miscigenação racial. Nesse sentido, é fundamental a questão da representação. A identificação cultural e racial é necessária, de forma equilibrada e igualitária, para que o racism não exista. Infelizmente, na sociedade brasileira este é um caminho que ainda está sendo trilhado.
Atualmente, há a participação de negros em jornais, comerciais e telenovelas. Nestas, ainda é predominante a atuação deles em papeis secundários. A telenovela é, nos dias de hoje, a principal forma de entretenimento. Por isso, seu poder midiático é considerável.
Observa-se uma ideologia do branqueamento, na qual os negros são ignorados, e os padrões da raça branca são valorizados e impostos. Há, inclusive, uma descaracterização do negro, que muitas vezes é representado conforme os padrões “brancos”.
O racismo no Brasil muitas vezes se dá de forma velada, por trás do preconceito social. Entretanto, é preciso reconhecer as atitudes racistas. O objetivo da pesquisa é propiciar uma reflexão acerca da questão racial na televisão brasileira, pensando nas diferenças entre a representação do negro e sua real situação na sociedade, fazendo a correlação com as questões históricas que envolvem essa problemática.
Para tanto, o trabalho abordará o preconceito racial no Brasil, o poder da comunicação e as primeiras aparições do negro e a representação do negro na mídia brasileira.
3. DESENVOLVIMENTO
3.1. Racismo no Brasil
As condições sociais e econômicas às quais muitos negros estão submetidos, em nosso país, têm ligação direta com o tratamento racista e com as atitudes segregadoras sofridas pelos negros.
Pode-se considerar o início do racismo no Brasil a chegada dos portugueses ao país. Ao fazer a leitura da Carta de Pero Vaz de Caminha, pela forma com que os índios foram descritos, fica nítida a atitude racista, ressaltando que a carta foi escrita em 1500. A seguinte sentença: “eram pardos todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas” denota a importância da cor dos índios, a constatação de não serem brancos como o padrão europeu.
Munanga (2006) destaca que durante os séculos XV e XVII, diversas teorias científicas e religiosas foram elaboradas por não se saber se os índios deviam ser considerados humanos, sendo igualados aos europeus, ou animais. Nesse contexto de discriminação e não aceitação do outro, os índios forma submetidos a um progressivo processo de aculturação, denominado de Missão Civilizadora.
Esse movimento de aculturação foi “ministrado” pelos chamados bandeirantes. Na época, o Brasil era um paraíso de riquezas e territórios naturais, faltando, entretanto, mão de obra. Foi nesse momento que os colonizadores viram no índio uma solução para esse problema: tinha inicia a escravidão indígena.
Todo esse movimento deu ao Brasil uma considerável miscigenação, com a mistura entre as diversas raças. Segundo Munanga (2008), entre o século XIX e o século XX, a camada privilegiada da sociedade brasileira buscava um caminho para consolidar sua nacionalidade, vendo na diversidade racial um problema para tanto.
O autor afirma que nessa época, a elite brasileira montou um discurso pautado no modelo “racista universalista”:
Esse modelo supõe a negação absoluta da diferença, ou seja, uma avaliação negativa de qualquer diferença, e sugere no limite um ideal implícito de homogeneidade que deveria se realizar pela miscigenação e pela assimilação cultural. A mestiçagem tanto biológica quanto cultural teria, entre outras consequências, a destruição da identidade racial e étnica dos grupos dominados, ou seja, o etnocídio. Por isso, a mestiçagem como etapa transitória no processo de branqueamento constitui peça central da ideologia racial brasileira, embora reconheçamos que todos os intercursos sexuais entre brancos e negros não foram sugeridos por essa ideologia. (MUNANGA, 2008, p. 103)
Foi nesse contexto que na época se falava em uma democracia racial, que na verdade escondia relações segregadoras, que se manifestavam de forma velada na esfera social na interação entre brancos e negros. Santos (2012) pontua que uma das consequências desse movimento é o “racismo institucional”, no qual a sociedade “não reconhece as implicações raciais do processo”, sendo, no entanto, observável no cotidiano social a “dominação e inferiorização dos negros”:
A discriminação pode ser mais sistêmica em vez de pessoal e, por conseguinte, mais difícil de identificar e de compreender, quando está internalizada e naturalizada por discursos de que se vive num país miscigenado. Algumas vítimas negam que estejam oprimidas ou então aceitam sua condição, como se fosse um destino que a vida lhes proporcionou. Outras reagem oprimindo aqueles que estão “abaixo” delas. (SANTOS, 2012, p. 30)
Em sua pesquisa, Santos (2012) analisa a questão do racismo institucional, transportando-a à esfera da justiça. Para tanto, ele avaliou alguns processos judiciais concernentes às ações penais decorrentes de discriminação, concluindo que esses processos são considerados crimes de injúria.
Waiselfisz (2012) elenca dados coletados no “Mapa da Violência 2012: A cor dos Homicídios no Brasil”, que traduzem as terríveis consequências das ações racistas, que repercutem inclusive sobre a atual população negra do Brasil:
Inquieta mais ainda a tendência crescente dessa mortalidade seletiva. E segundo os dados disponíveis, isso acontece paralelamente a fortes quedas nos assassinatos de brancos. Dessa forma, se os índices de homicídio do país nesse período estagnaram ou mudaram pouco, foi devido a essa associação inaceitável e crescente entre homicídios e cor da pele das vítimas:
• Considerando o conjunto da população, entre 2002 e 2010 as taxas de homicídios brancos caíram de 20,6 para 15,5 homicídios – queda de 24,8% – enquanto a de negros cresceu de 34,1 para 36,0 – aumento de 5,6%.
• Com isso a vitimização negra na população total, que em 2002 era 65,4 – morriam assassinados, proporcionalmente, 65,4% mais negros que brancos, no ano de 2010 pulou para 132,3% – proporcionalmente, morrem vítimas de homicídio 132,3% mais negros que brancos.
• As taxas juvenis duplicam, ou mais, às da população total. Assim, em 2010, se a taxas de homicídio da população negra total foi de 36,0 a dos jovens negros foi de 72,0.
(WAISELFISZ,2012 p. 38)
Dados do IBGE mostram que a população composta pelos negros é maior do que a composta por brancos. Entretanto, a renda dos brancos chaga a ser o dobro da dos negros.
Nos dias atuais, diversos são os debates acerca desse tema. Conferências têm sido realizadas, e nesse sentido o papel da mídia é fundamental. Por décadas, pregou-se a ideia de que no Brasil não havia racismo. Foi a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso que mudanças nessa problemática começaram a ocorrer.
Foi colocada a questão do “problema racial” de forma pública, iniciando um movimento preocupado em mudar o discurso e em traças estratégias para mudar essa realidade. Segundo Turra e Venturini (1995), foi a partir desse momento que o Brasil passou a reconhecer a existência do racismo.
Nos dias de hoje, o negro ainda é encaixado nas classes menos favorecidas economicamente, conforme pode-se observar na tabela abaixo:
Fonte: Censo Demográfico do IBGE, 2010. Elaboração IPEA/DIEST.
Nesse contexto, soma-se ao racismo a discriminação econômica. Esse retrato é muitas vezes difundido e reforçado pelos meios de comunicação. O racismo institucional, citado anteriormente, é um grande problema. Pode-se exemplificar com o que acontece em muitas organizações policiais, em que seus agentes acabam tratando de forma violenta, com uso excessivo de força e abordagem desrespeitosa, pessoas negras por puro preconceito.
A tabela abaixo elenca indicadores que demonstram o impacto desse racismo institucional, com consequências devastadoras para a sociedade.
Fonte: Censo Demográfico do IBGE 2010. Elaboração DIEST / IPEA
Martins (2002) propõe em seu estudo três níveis de racismo:
No primeiro nível de análise, reporto-me aos fatos históricos que direta ou indiretamente teriam contribuído para colocar a população negra no extremo grau de pobreza material em que se encontra até hoje Assinalo a ausência de uma política de emancipação dos ex escravos que possibilitasse sua integração no processo de desenvolvimento socio econômico do país, a opção da elite nacional pelo trabalhador imigrante enquanto substituição da mão de obra escrava e nacional a forma centralizada de acesso à terra
No segundo nível de análise encontram-se os padrões de relacionamentos sociais estabelecidos entre negros e brancos na sociedade. Aqui o racismo aparece como algo tolerável, praticado diante das piadas desqualificadas do fortalecimento dos estereótipos que conformam a inferioridade dos negros (vide programas e peças humorísticas). O racismo tolerado permeia as relações sociais, definindo laços de parentescos, servindo de alienação para adoção de um padrão de imagem pública conformada em novelas e comerciais de tv que levam a crer que a sociedade brasileira é apenas branca. O terceiro e último nível da análise denomino o racismo normativo, ou seja, as práticas que estão vedadas por lei, por força do poder de coercitividade do Estado. Essas práticas proibidas por lei, se cometidas por algum indivíduo, constituem uma intervenção ilegal na esfera das garantias e liberdades fundamentais protegidas pela Constituição Federal e uma infração aos padrões de comportamentos pré-estabelecidos Ha um consenso no seio da sociedade que permite que o Estado estabeleça a norma limitadora do comportamento anti-social, punindo seus infratores com reclusão.
3.2. O poder da comunicação e as primeiras aparições do negro
Existente na vida do cidadão desde que nasce até a hora de sua morte, a comunicação está em todas as relações rotineiras dos cidadãos. A Bíblia Sagrada, uma das obras mais comercializada no planeta e alicerce de diversas religiões, narra a ação de surgimento do mundo como um evento comunicacional, onde, por meio da palavra, Deus fez todas as coisas.
Bordenave (1988), em sua obra, narra as ações de comunicação que uma pessoa faz desde a hora que acorda até o momento de dormir. As ações são diversas e abrangem a saudação à sua esposa, o bate-papo com os colegas do trabalho, a conversa informal com os filhos na hora do jantar até a saudação conferida de novo à sua mulher no momento de se deitar. O autor declara em determinado momento que, por estarem tão relacionada, a comunicação é confundida com a sua vida.
Sem a comunicação cada pessoa seria um mundo fechado em si mesma. Pela comunicação as pessoas compartilham experiências, ideias e sentimentos. Ao se relacionarem como seres interdependentes, influenciam-se mutuamente e, juntas, modificam a realidade onde estão inseridas (BODENAVE, 1988, p. 36).
Um exemplo expressivo da importância que a comunicação possui está no jornalismo. A mídia, mais precisamente, não possui somente o dever de informar, mas tem o poder de adaptar, moldar e, até, manipular a realidade.
Sobre a questão da imparcialidade,
É realmente inviável exigir dos jornalistas que deixem em casa todos esses condicionamentos (background) e se comportem, diante da notícia, como profissionais assépticos, ou como a objetiva de uma máquina fotográfica, registrando o que acontece sem imprimir, ao fazer o seu relato, as emoções e as impressões puramente pessoais que o fato neles provocou (ROSSI, 1995, p. 10).
Porém o que se aborda neste capítulo não é somente a questão da imparcialidade, mas sim a repercussão social e seu resultada na vida dos indivíduos de uma maneira geral.
Com a força da manipulação da realidade pelos meios de comunicação, esta se intensificou adquirindo uma posição de quarto poder, possuindo uma liberdade de decisão sobre o que deve e o que não deve ser mostrada às pessoas. Seu objetivo, diversas vezes, é manipular o que cada um deve achar acerca de determinada questão. O que contem esta iniciativa da mídia é o conhecimento sociocultural que os espectadores possuem e que evita que diversas pessoas acreditem em tudo o que lhes é apresentado.
Mas ainda há cidadãos que acreditam em tudo o que é transmitido através dos canais de comunicação, sem indagações, sem dúvidas. Existem até o que, mesmo tendo acesso à informação, não possuem senso crítico que os leve a questionar a autenticidade daquilo que lhe é veiculado pela mídia. Segundo Marcondes Filho (1986, p. 13), a notícia “é um meio de manipulação ideológica de grupos de poder social e uma forma de poder político”.
Teoricamente, a introdução da televisão no campo do jornalismo poderia conferir à objetividade o caráter de possibilidade real e não o de mito. Afinal, a câmera de TV registra, friamente, o que se passa, assim como os microfones captam os sons tais como são emitidos. Câmeras e microfones não têm emoções, nem formação cultural, nem background, nem opiniões, logo, poderiam reproduzir objetivamente o que está acontecendo. Ocorre, entretanto, que, no caso do telejornalismo, a medição entre o fato e a versão dele que é levada ao ar multiplicou-se. O trabalho do repórter e do cinegrafista passa por uma quantidade de filtros que depuram sons e imagens dos aspectos considerados inconvenientes pelos diretores da estação – isto também acontece nos jornais e revistas, mas na TV, reveste-se de cuidados excepcionais, ante o notório impacto que tem uma imagem, comparada à palavra escrita (ROSSI, 1995, p. 14).
Outra arma influente utilizada pela mídia, quando se aborda a manipulação, é a edição. Com este simples recurso, palavras e sentenças podem ser trocadas de contextos e, dessa forma, outros sentidos são obtidos e enormes confusões criadas.
É por reconhecer essa força expressiva adquirida pelos meios de comunicação no decorrer da história, de uma maneira geral, que o presente trabalho analisa o seu poder e a relevância da participação da mídia na luta pela formação de uma sociedade mais equânime e respeitável, especialmente no que se refere a questão da representação da diversidade das raças do país.
Considerando a ética que deve estar presente na mídia e de sua força de condução da opinião pública, vê-se nos meios de comunicação uma importante orientação para a desmoralização do racismo no país e, também, para o seu enfrentamento.
Em 1986, o Centro de Pesquisa e Assistência em Reprodução Humana espalhou por Salvador, Bahia, cartazes publicitários com o título “defeito de fabricação” acima da imagem de um garoto negro, com correntinhas no pescoço, canivete na mão e uma tarja nos olhos. Abaixo, o texto: “Tem filho que nasce para ser artista. Tem filho que nasce para ser advogado e vai ser embaixador. Infelizmente, tem filho que já nasce marginal”. Outro cartaz mostrava uma mulher negra, grávida, coberta com um lençol branco e a legenda “também se chora de barriga cheia” (SODRÉ, 2000, p. 235).
A citação do autor supracitado é apenas um exemplo das diversas notícias e ilustrações discriminativas que são propagadas através dos meios de comunicação sobre os negros. As novelas permanecem apresentando negros como classe trabalhadora, tais como empregados domésticos, e dificilmente como pessoas que ocupam cargos importantes em empresas, desprezando a presente de uma classe média negra no Brasil. O autor declara que os comerciais de emprego, que exigem a boa aparência como uma condição para a função, possuem na cor da pele branca o perfil perfeito para os novos funcionários. Na maior parte das vezes, o negro surge nos periódicos em páginas policiais, como o ladrão, raramente como uma fonte de confiabilidade.
O país está acostumado a enxergar o negro em condições de subalternidade, e até considerável parte da população negra acredita que o que é mostrado pelos meios de comunicação é a mais pura verdade dos fatos. Esta parte populacional crê que, se no país o afrodescendente é pobre, ele precisa ser retratado como pobre. A crença de o preconceito ser social ocultou a verdade acerca da questão da discriminação racial no Brasil. As crianças afrodescendentes nascem e crescem crendo que se se empenharem poderão ser reconhecidas, porém a verdade é que os negros do Brasil passam a vida se esforçando, trabalhando duro e não são valorizados.
Para Sodré (2000), o cargo de um jornalista negro na televisão significa somente a intenção de esconder a verdade dos fatos. É como se os donos das emissoras estivessem a frente do que brigam por justiça, pelas mesmas chances para brancos e negros.
Nenhum processo cultural de superação do racismo, de combate aos estereótipos e de luta contra a discriminação será realizado sem os jornais, a televisão, as artes e a música [...] a mídia tende a ter cada vez mais, na sociedade brasileira, um papel vital na construção de saídas capazes de reduzir a exclusão racial (RAMOS, 2007, p. 9).
A relevância da ajuda da mídia para conscientizar a sociedade do Brasil acerca de sua realidade é indiscutível. Bordenave (1988) declara que a comunicação possui a capacidade de colaborar para a transformação dos conceitos que os indivíduos conferem a alguma coisa. Ele acredita que é por meio desta mudança de conceitos que a comunicação exerce uma função fundamental na alteração dos credos, princípios e atitudes e é por essa razão que esta matéria ganhou o poder que tem atualmente.
Para muitos leitores e telespectadores, os meios de comunicação respondem também a suas aspirações de mobilidade social. Talvez por esta razão, os recortes de revista que cobrem as paredes dos favelados raramente contêm cenas de pobreza e opressão e sim de mansões de luxo, pessoas bem vestidas, personagens aparentemente bem-sucedidos, como astros de cinema, cantores e estrelas de futebol (BORDENAVE, 1988, p. 20).
É necessário, dessa forma, provocar que a aparição do afrodescendente se transforme mais do constante na mídia, evidentemente em uma conjuntura amigável, para que a população afrodescendente não possua somente padrões europeus para se basear, para que as crianças negras não possuam somente loiras dos olhos claros a frente de programas infantis, mas que enxerguem a sua raça, cidadãos com sua herança cultural e genética, nos mais variados segmentos e locais, conferindo a elas a convicção de que o negro pode encontrar o seu lugar na sociedade de qual faz parte.
Quando se aborda a questão da inserção do negro na mídia de maneira condicente com a realidade racial do Brasil, diversas pessoas podem se questionar sobre a razão de não formar a imprensa negra, que possua suas perspectivas voltadas para as dificuldades rotineiras encaradas por esta parte da população. Esta seria também uma solução para a inserção de mais personagens sociais negros na conjuntura da mídia nacional. Fernandes (2007) declara que o negro não deseja tomar a posição do branco, e nem disputar com ele, o negro deseja somente ter as mesmas oportunidades que os brancos possuem.
[...] apesar do tom de protesto racial, o horizonte político é integracionista, voltado para o aprimoramento escolarizado da consciência, a fim de melhor acomodar-se à sociedade branca com todos os seus valores. E não era para menos: assim como a Ação Integralista Brasileira, à qual estavam ligadas algumas facções, a Frente Negra pautava-se pelos princípios fascistas do nacionalismo, catolicismo e autoritarismo. Socialmente excluído, o indivíduo negro aspirava tão-só à igualdade econômica e política, acompanhada do respeito racial. “Revolução dentro da ordem”, eis como o sociólogo Florestan Fernandes definiu o movimento (SODRÉ, 2000, p. 240).
Para que se possa aprofundar essa questão é preciso fazer um resgate na história, discursar sobre o país, que tentou se formar fundamentado na padronização cultural interferida nas tendências europeias e norte-americanas, renegando aos indígenas e negros a consolidação de sua identidade cultural porque eles estavam fora do modelo determinado pela sociedade como regular.
Para Freyre (2006), a miscigenação cultural das raças negra, branca e indígena foi uma experiência favorável na constituição da cultura nacional. A consideração do autor supracitado, que evidenciava a degenerescência moral e biológica causada pela mestiçagem acarretou alterações nas teorias raciais do fim do sec. XIX, reconhecendo a colaboração do negro na formação da identidade nacional.
Porém a ideologia da miscigenação, em vez de auxiliar, reconhecendo o negro como fundamental componente da cultura nacional, atrapalhou a formação de sua identidade afro-brasileira.
É válido destacar que o que ocorreu com a população afrodescendente foi uma folclorização de sua cultura, que no país deixou de ser cultura inicial, sendo somente um dos componentes que fazem parte da cultura nacional. E o negro, após ser desenraizado das terras onde nasceram, sendo retirado de qualidades e princípios em prol do branco, continua tendo que pelejar para ser valorizado na cultura e sociedade do Brasil, que não lhe confere um lugar fidedigno de atuação.
Importunados pelo pensamento do branqueamento que há até os dias atuais, de vez em quando camuflados como gana de mestiçagem, observa-se como as figuras dos negros foram mostradas para a sociedade nacional e global, por meio do tempo e da mídia.
As primeiras aparições do negro no brasil ocorreram através das obras de artistas plásticos europeus, que chegaram ao país no começo do século XIX, com o intuito de abordar cientifica e artisticamente o contexto humano e social, bem como da fauna e da flora brasileira. Nas pinturas de Debret, por exemplo, a questão da escravidão tinha um lugar exclusivo quando retratada a vida e a paisagem no período de Império no país.
Na literatura, a aparição do negro foi ainda mais tardia, já que os personagens principais do período colonial eram os índios. Apenas a partir do século XIX, mediante a força do movimento contra a escravidão, que o negro começou a receber destaque nos textos literários. Desta maneira, iniciou-se um certo debate textual através destes personagens, que antes eram apenas citados, muitas vezes defendendo o fim da escravidão.
No que diz respeito à dramaturgia brasileira, a aparição do negro se deu semelhante à literatura, ou seja, as aparições eram superficiais, um personagem secundário. Uma grande evidencia racista nesta época era que esta representação, mesmo que de pouca importância, era feita por brancos que pintavam sua pele para que pudesse representar o negro, haja vista a falta de inserção do mesmo na sociedade de forma efetiva.
Todavia, se vários eram os traços que indicavam a presença do negro no dia – a - dia da cidade ficcional, pouco, muito pouco, era o interesse despertado por essa presença. Tanto é assim que quase não é possível encontrar nas páginas das romances descrições pormenorizadas sobre as atividades desenvolvidas por essa copiosa parcela da população (FRANÇA, 1998, p. 84).
Mendes (1993) aponta que, até mesmo depois da abolição a integração na sociedade e no ramo teatral não foi realmente alcançada, já que as discriminações sociais ainda perduravam.
3.3. Representação do negro da mídia brasileira
É possível considerar que, atualmente, uma das maiores formas de influenciar pessoas é através da mídia. Assim é feita a publicidade, a notícia informativa, a transmissão de programas de diversão e, consequentemente, os padrões de beleza, corpo e mente. Neste cenário, a televisão surge como uma grande provedora de informações e entretenimento, estando presente no cotidiano e na vida da maioria dos brasileiros. Sobre isso, Oliveira (2008, p. 12-13) aponta que,
A televisão leva o mundo até o indivíduo sem que ele precise sair na rua; torna-o aquilo que ele não é; dita o que é bom e ruim para a sua saúde; mostra o que é feio e bonito e, o que é mais cômodo e ao mesmo tempo prejudicial à sua intelectualidade: transmite informações prontas, sem que ele necessite investir seu tempo em reflexões.
Neste sentido, existe um esforço da televisão por transmitir padrões e fazer com que as pessoas acreditem ser o ideal.
Neste contexto, observa-se que a difusão de valores estéticos realizada pelas mídias, e em especial pela TV aberta, torna-se essencial para o sustento da ‘indústria cultural da beleza’ que faz com que o indivíduo, na necessidade de ser reconhecido como parte de um todo, absorva tais valores muitas vezes sem questionamentos (BALDANZA E ABREU, 2010, p. 91 e 92).
Desta maneira, acredita-se que o ideal identitário da mídia seria contemplar todas as raças, gêneros e etnias presentes na sociedade, haja vista sua divulgação ser para todos os públicos, juntamente com a ideia de que, atualmente, não existe preconceito e diferenciação, principalmente por conta da raça e da cor da pele. Entretanto, não é bem essa realidade que se encontra na televisão brasileira, que é marcada pelo branqueamento.
De acordo com Domingues (2002, p. 577), o branqueamento pode ser entendido como “modelo branco de beleza, que considerado como padrão, pautava o comportamento e a atitude de muitos negros assimilados”.
A mídia brasileira carrega o branqueamento como uma maneira de identificação, o que se presencia na televisão, bem como nos outros meios de comunicação em massa, é a identidade modelo para a sociedade. Durante todos os anos desde a evidencia televisiva, este modelo, entendido também como padrão de beleza, é o branco. A estética europeia torna-se, desta maneira, difundida como padrão para um país marcado pela miscigenação.
A mídia não somente atualiza a distância que separava, na escravidão, a elite do povo, mas nega, com seu exclusivismo, as identidades culturais afro-brasileira e indígena, as quais não têm acesso, em pé de igualdade, às programações televisiva e radiofônica (D´ADESKY, 2001, p. 93-94).
O branqueamento não é uma característica nova, sendo uma das modalidades do racismo no Brasil, desde quando eram feitas previsões par excluir totalmente o negro da sociedade, “essas previsões eram difundi das, inclusive, nos documentos oficiais do governo” (DOMINGUES, 2002, p. 566).
É assim que surge a expressão apontada por Sodré (2000), racismo midiático. Isto é, a mídia propaga modelos que vão contra a enorme diversidade cultural presente no Brasil.
O argumento central era que o discurso da propaganda, para ser eficaz, deveria provocar, no público consumidor, projeções identitárias “para cima”. Assim, na medida em que, no Brasil, predominava o ideal de beleza branco europeu – cabelos lisos, de preferência louros, olhos claros, traços finos –, o uso de negros não só desvalorizaria o produto como provocaria um sentimento de rejeição, tanto por parte de consumidores brancos quanto dos próprios negros, na medida em que, entre esses, prevalecia o ideal de embranquecimento. Por outro lado, a associação entre cor da pele e condição sócio-econômica era mais uma justificativa a favor da discriminação (NAVARRO, 2014, p. 10 apud STROZEMBERG, 2004).
Apesar de existir a atuação negra em telenovelas, jornais e comerciais, é totalmente notável que a quantidade é mínima quando comparado com os brancos, além de a seleção dos negros para a aparição pública ser através daqueles normalmente com cabelos alisados e traços finos, como se pode perceber na Figura a seguir. O branqueamento não se caracteriza somente na frequência da aparição dos brancos em desproporcionalidade com a dos negros, mas também na descaracterização física dos mesmos para se parecerem com os brancos.
Figura 1- Campanha do Boticário Cuide-se Bem
Fonte: Navarro (2014).
No contexto televisivo brasileiro, as novelas são fortemente disseminadas e bem recepcionadas pelo público que, por muitas vezes, acompanham fielmente seus personagens favoritos. Além disso, as novelas são produtos brasileiros que, na indústria cultura no exterior, divulga as formas de representação da sociedade e da cultura do país. Através da combinação do melodrama com o cotidiano real, os autores e atores conquistam o público. “A telenovela pode ser considerada, no contexto brasileiro, o nutriente de maior potência do imaginário nacional e, mais que isso, ela participa ativamente na construção da realidade, num processo permanente em que ficção e realidade se nutrem uma da outra [...]” (MOTTER, 2003, p.174).
Entretanto, no que se refere à população negra, existem certos preconceitos para os personagens, que normalmente se posicionavam como secundários nas novelas (ECHEVARIA; SILVA, 2012).
Inicialmente, a presença dos personagens negros era marcada somente nas novelas de caráter histórico, que abordavam as questões da escravidão, apontando o negro como pessoa sofrida à espera que seu patrão melhorasse sua qualidade de vida. Uma informação extremamente assustadora é que no ano de 1990 ainda não existia um terço de personagens negros nas novelas, atestando a desigualdade da realidade étnico-racial com a apresentação dos negros nas novelas (GIORGI et al, 2015, p. 573).
A partir dos anos 80, podemos afirmar que houve uma lenta, mas progressiva ascensão do negro na dramaturgia da teleficção. Mesmo assim, identificamos que em um terço das telenovelas produzidas pela Rede Globo até o final dos anos 90 não havia nenhum personagem afrodescendente. Apenas em outro terço o número de atores negros contratados conseguiu ultrapassar levemente a marca de 10% do total do elenco. Considerando que somos um país que tem uma população de cerca de 50% de afrodescendentes, essa é uma demonstração contundente de que a telenovela nunca respeitou as definições étnicoraciais que os brasileiros fazem de si mesmos (ARAÚJO, 2008, p. 980).
Foi somente no ano de 2004 que a Rede Globo colocou em sua novela uma personagem principal negra, interpretada pela atriz Taís Araújo, finalmente destacando o espaço pouco a pouco conquistado na mídia. Apesar de ser algo totalmente recente, é possível considerar que ainda nos dias de hoje este espaço não está igualitário para com os brancos (OLIVEIRA; PAVAN, 2004, p. 02). A importância da novela “Da cor do pecado”, que inclusive foi reprisada em 2007, não se encontra nas possíveis polêmicas em sua abordagem, mas sim no fato de ser a primeira produção global com uma protagonista negra.
O preconceito nas novelas continua evidente, não somente pela quantidade mínima, enquanto a população brasileira conta com quase metade de sua população sendo negra, mas também na apresentação dos papeis dos personagens que, muitas vezes, aparecem como empregados, favelados ou marginalizados.
As telenovelas são um planeta branco, aqui e ali salpicando pretos – o chofer, a cozinheira, o policial.... Realistas no sentido em que são essas de fato as profissões comuns dos negros reais, mas falsificados no sentido em que eles não têm família, não têm ideias nem sentimentos, salvo os dos patrões: são coisas, apêndices, e não pessoas (DOS SANTOS, 1988, p. 34).
Para Araújo (2008), a ideologia do branqueamento está presente em inúmeras outras atividades, muitas vezes de forma sutil como, por exemplo, nos programas esportivos, nas páginas de jornal ou nos estádios de futebol. Muitos jogadores negros, que carregam em si a nacionalidade do país para o mundo, passam por humilhações por conta da aparência e comparação com os jogadores europeus. Apesar de existir efetivamente a teoria do branqueamento, muitos brasileiros encontram-se iludidos de que o racismo está sendo erradicado e que o negro está conquistando seu espaço na sociedade cada vez mais.
Para Hall (2005, p. 108), essas características identitárias nacionais são estruturadas ao longo da vida. Desta maneira, as nações são representações culturais que reforçam ou apagam nas pessoas a cultura em relação ao outro. “As identidades parecem invocar uma origem que residiria no passado histórico com o qual elas continuariam a manter uma certa correspondência”.
Esta exclusão não se explica só pelos argumentos (sociológicos) de que os negros não têm a mesma distribuição que os brancos na pirâmide sócio-econômica, mas também por razões decorrentes da estratégia (semiológica) da cultura dominante, que se defende do sistema cultural negro. (SODRÉ, 1980, s/p)
Portanto, a maneira como os negros estão sendo representados, bem como a influência desta representação para as pessoas, é notável através das imagens branqueadas na mídia. “A publicidade não é alheia à dinâmica simbólica que rege as relações raciais no Brasil. Por ação e omissão, ela é instrumento eficaz de perpetuação de uma estética branca carregada de implicações racistas” (HASENBALG, 1982, p.187).
É possível, então, considerar que, haja vista a mídia influenciar tanto as pessoas, a abordagem do negro ser entendida como racista na mesma acaba refletindo nas ações da sociedade. Ou seja, pessoas que contam com uma televisão racista consequentemente serão influenciadas a agir também com atitudes preconceituosas para com os negros.
A mídia exerce grande influência na configuração dos valores sociais e estéticos do grande público e, historicamente, tem impedido a veiculação da imagem do afro-brasileiro e de seus valores positivos, ou refletido e recriado uma imagem estereotipada difundida pelos ideais e ideias racistas (SOUZA et al, 2005, p. 169).
Através da consolidação de estereótipos brancos a mídia proporciona ao seu público uma imagem negativa da população negra, contribuindo para a permanência do racismo na sociedade. Além disso, estas características não somente asseguram o racismo, mas também fazem com que o mesmo seja retratado com naturalidade, já que negros não possuem prestígios sociais e muitos menos frequentam as telas da televisão com a mesma frequência que os brancos. Ramos (2007, p. 08) chega a afirmar que “discutir as dinâmicas da mídia frente às questões de raça e etnicidade é, em grande medida, discutir as matrizes do racismo no Brasil”.
Existe, portanto, uma invisibilidade do negro na mídia brasileira, sendo esta uma das marcas mais consolidadas do racismo no país. A conquista da visibilidade na televisão brasileira não deve ser ocorrida somente mediante os meios legais contra o racismo, mas sim através da ocupação social e cultural, em que não existem diferenças entre os seres humanos por conta da cor da pele. É preciso romper o histórico de exclusão. A ausência representativa do negro na mídia prejudica a estruturação da autoimagem, da história e da cultura, provocando sentimentos de menor valor e detrimento na sociedade. “Com essa ideia de o branco [...] ser o objeto da cobiça dos negros, [...] a elite branca faz uma apropriação simbólica crucial que vem legitimando o autoconceito de sua supremacia econômica, política e social frente à raça negra” (GIORGI et al, 2015, p. 576).
4. CONCLUSÃO
Muitos afirmam que a mídia é o reflexo da sociedade, sendo a televisão um canal de reproduzir sua imagem. Entretanto, há uma insistência em representar a sociedade brasileira de uma forma diferente de sua realidade. Apesar de a população contar com grande miscigenação, a identidade racial negra é mascarada com um maior número de brancos nas telas.
O racismo no Brasil, como abordado na presente pesquisa, possui um a característica histórica, iniciada com a escravidão e que perdura até os dias de hoje. É possível considerar que, apesar de atualmente se considerar o preconceito como algo distante, o mesmo é mascarado através do ideal de branqueamento, incutido através da mídia de forma sutil.
A atitude televisiva trabalha como estrutura central da invisibilidade do negro e de toda cultura incutida, sendo o meio de comunicação capaz de impor um estereótipo de modelo totalmente diferente da realidade do país. A disseminação do padrão americano e do branqueamento prejudicam a estruturação da identidade do negro, tão presente na sociedade.
Dentre as formas de constatar o branqueamento utilizado pela mídia, está a contratação de negros para campanha publicitárias, mas que tenham traços semelhantes aos brancos e cabelos alisados. Além disso, existe a questão das telenovelas, que somente poucos anos atrás começou a representar negros em papeis principais, já que antes os mesmos vinham como secundários e muitas vezes com papeis desvalorizados.
A invisibilidade do negro na televisão, como um cidadão normal que é, com igualdade perante os demais resulta em uma inferiorizarão, intensifica o racismo e incute na sociedade a ideia de que a cor da pele diferencia o cidadão. Desta maneira, até mesmo as crianças negras já nascem com a ideia de que deve modificar seu estereótipo para se aproximar do “padrão”.
A TV brasileira pode, portanto, ser considerada como TV branca, haja vista o modo de rebaixamento em que os negros são apresentados, isso quando conquistam este espaço. Sabe-se que o representado não é o que acontece de fato na sociedade, por ser um país multirracial, o Brasil conta com números semelhantes de negros e brancos.
O fato é que esta diferenciação não deve ser feita, nem mesmo para a ocupação dos personagens, já que não é esta a realidade brasileira. A mídia, além de apresentar fielmente a cultura brasileira, que tem no negro uma cultura histórica e extremamente rica, precisa também contribuir na erradicação do racismo no país, haja vista sua capacidade de influência. Certamente, existe um grande caminho a ser percorrido rumo à extinção do preconceito, ao fim do branqueamento e à aparição normal do negro na mídia, como é feita com brancos, entretanto, a minimização da exclusão social deve ser o primeiro passo.
5. REFERÊNCIAS
ARAÚJO, J. Z. O negro na dramaturgia, um caso exemplar da decadência do mito da democracia racial Brasileira. Revista de Estudos Feministas, Florianópolis, v. 16, n. 3, p. 424, setembro-dezembro/2008.
BALDANZA, R. F.; ABREU, N. R. Reflexões sobre as influências da indústria cultural na difusão de valores estéticos: a TV aberta brasileira e a padronização da beleza. Mediaciones Sociales, n. 7, 2010.
BORDENAVE, J. D. O que é comunicação. São Paulo: Brasiliense, 1988.
Carta de Pero Vaz de Caminha, disponível em: http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/perovazcaminha/carta.html. Último acesso em 11/12/2017.
D´ADESKY, J. Pluralismo Étnico e Multi-Culturalismo: racismos e anti-racismos no
Brasil. Rio de Janeiro: Pallas, 2001.
DOMINGUES, P. J. Negros de Almas brancas? A ideologia do branqueamento interior da comunidade negra em São Paulo, 1915-1930. Estudos Afro-Asiáticos, ano 24, n. 3, 2002.
DOS SANTOS, J. R. O que é racismo? 9. ed. São Paulo Braziliense, 1985.
ECHEVARIA, F. R.; SILVA, V. M. De coadjuvantes a protagonistas: a representação da população negra na teledramaturgia nacional. 2012. XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Chapecó – SC. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sul2012/resumos/R30-1652-1.pdf Acesso em 12 dez 17.
FERNANDES, F. O negro no mundo dos brancos. 2 ed. São Paulo:
Difusão Europeia do Livro, 2007.
FRANÇA, J. M. C. Imagens do negro na literatura brasileira. São Paulo Brasiliense:1998.
FREYRE, G. Casa Grande & Senzala. Rio de Janeiro. 51 ed. José Olympio: 2006.
GIORGI, M. C.; ALMEIDA, F. S.; PAIVA, M. V. S. A não representação do negro nas telenovelas brasileiras: o caso “Gabriela”. Revista de Educação Educare. v. 10. n. 20. jul/dez, 2015.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tadeu da Silva e
Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro, DP&A Editora, 2005.
HASENBALG, C. A. As imagens do negro na publicidade. In: _______ Estrutura
Social, Mobilidade e Raça. São Paulo: Editora Vértice, 1988.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Demográfico. Brasília: IPEA / DIEST, 2010.
MARCONDES FILHO, C. O Capital da Notícia. São Paulo: Ática, 1986.
MARTINS, S. S. Ação Afirmativa e Desigualdade Racial no Brasil. 2002.
MENDES, Miriam Garcia. O Negro e o Teatro Brasileiro. Rio de Janeiro. Hucitec:1993.
MOTTER, M. L. Ficção e realidade: a construção do cotidiano na telenovela. São Paulo: Alexa Cultural, Comunicação & Cultura _ Ficção Televisiva, 2003.
MUNANGA, K.; GOMES, N. L. O negro no Brasil de hoje. São Paulo: Global Editora: Ação Educativa, 2006.
_________ Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Belo Horizonte, MG: Autêntica Editora, 2008.
NAVARRO, L. P. S. Tudo muito claro: apagamento e pseudoinclusão da mulher negra na publicidade brasileira. Revista Mídia & Contexto. v. 1. n. 2. ago/set 2014.
OLIVEIRA, Maria Alana Brinker de. Opinião pública, espelho da televisão: até onde a sociedade enxerga. Uma análise focada em telejornais. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Relações Públicas) Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2008.
OLVEIRA, D.; PAVAN, M. Â. Identificações e estratégias nas relações étnicas na telenovela “Da cor do pecado”. 2004. Disponível em: http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/136195056859323442706365996831733950548.pdf Acesso em 12 dez 17.
RAMOS, S. Mídia e racismo. Rio de Janeiro: Pallas, 2007.
ROSSI, C. O que é jornalismo. 10 ed. São Paulo: Brasiliense, 1995.
SANTOS, I. V. A. dos. Direitos Humanos e as Práticas de Racismo. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2012.
SODRÉ, M. O negro no mass-media. Anais do primeiro colóquio de semiótica. Rio/São Paulo: Puc/RJ – Edições Loyola, 1980.
_________. Claros e escuros: Identidade, Povo e Mídia no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.
SOUZA, A. L. S. et al. De olho na cultura: pontos de vista afrobrasileiros. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2005.
Publicado por: Carmem Ribas Casseb
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.