POLÍTICA NA SALA DE AULA: Estudo sobre a compreensão política dos alunos de Ensino Médio

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O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

1. Resumo

O objetivo desse trabalho é identificar como os alunos de ensino médio entendem a política e como a didática pode interferir no processo de construção da consciência política do estudante. O debate político cresceu muito nos últimos anos e com isso discursos errôneos ou conceitos equivocados são vinculados em sua maioria por jovens recém inseridos na política. Para compreender melhor isso, foi feito um levantamento utilizando questionários onde foi possível filtrar o perfil político dos alunos, quais veículos de informação eles estão utilizando para complementar o conhecimento não adquirido em sala, suas posições acerca de assuntos como estado laico, homofobia, machismo e racismo, bem como à crítica a falta de debate sobre política na escola. O trabalho propõe compreender onde se encontra a fraqueza didática que não alcança o objetivo de formar cidadãos capazes de reflexões politicas eficientes. É necessário entender como pensa um aluno do Ensino Médio sobre política para que a partir disso, possa ser criado mecanismos adequados a esta abordagem, dando base para os alunos desenvolverem suas opiniões críticas.

Palavras-chave: Ensino Médio, Política, Educação

2. INTRODUÇÃO

O trabalho foi realizado utilizando-se o método de pesquisa exploratória onde foi oportunizada a observação a respeito da compreensão dos estudantes do ensino médio sobre política. Considera-se pois que no quadro social político atual do nosso país seja relevante o entendimento da colaboração que a didática ode conceder ara a construção de uma política consciente e participativa. Ara tanto, faz-se necessário a avaliação das lacunas existentes nos discursos dos estudantes sobre esse tema. Esse trabalho busca demonstrar as principais lacunas e refletir sobre como a didática é capaz de intervir positivamente para suprir as carências de informações e de oportunidades de debates.

2.1. TEMA

Estudo sobre a compreensão política dos alunos do ensino médio do país no ano de 2017.

2.2. PROBLEMA

Como a didática interfere no processo de construção da consciência política do estudante?

3. JUSTIFICATIVA

É observada hodiernamente que o número de pessoas debatendo sobre política tem aumentado em virtude da crise política social mundial e com isso, discursos errôneos de conceitos como esquerda, direita, fascismo, liberalismo, comunismo, se elevaram com a mesma proporção. A maior adversidade é que esses discursos errôneos estão sendo propagados em maior número por jovens de ensino médio que estão atualmente em sala de aula. A ideia do projeto é compreender quais as falhas didáticas para evitar e minimizar as dúvidas dos alunos sobre esses temas, compreender que tipo de conteúdo eles estão consumindo fora de sala de aula, como a escola e o professor de história pode contribuir para desenvolver no aluno senso crítico e autonomia para defender suas bases políticas sem interferência errônea de conceitos externos.

A maioria dos alunos do Ensino Médio já tem idade para votar e por isso o debate político deve ser primordial nessas turmas, eles serão a base da sociedade e construirão os pilares que irão embasar o futuro.

Muitos alunos se identificam politicamente com alguma vertente devido a algum discurso imediatista ou devido a uma pressão do grupo em que está inserido. Graças a internet e sua fácil disseminação de informação, é cada vez mais simples e acessível qualquer tipo de conteúdo, seja em vídeo ou documental, entretanto nem todo conteúdo na internet tem base acadêmica ou referências, e muitos são propositalmente feitos para induzir ao erro. Isso faz com que aumentem o número de pessoas comentando sobre algum assunto equivocado e repetindo o erro incessantemente. A falta de credibilidade nos professores também é algo percebido na maioria das turmas de ensino médio, onde para eles é mais aceito como “verídico”, textos e artigos publicados na internet do que livros ou documentos indicados pelos professores em sala. Aumentando assim a desvalorização do profissional da educação. E foi pensando nisso que escolhi este tema para trabalhar, na tentativa de compreendendo onde encontra-se os défices educacionais, nos capacitemos de maneira a contribuir para um melhor resultado.

4. OBJETIVOS:

4.1. Objetivo geral

Analisar como os jovens pensam a política e assim, identificar onde se encontra a fraqueza didática que não alcança o objetivo de formar cidadãos capazes de reflexões politicas eficientes.

4.2. Objetivos específicos:

Identificar quais falhas didáticas dificultam a compreensão dos alunos sobre política. Verificar quais veículos de informação os alunos estão tendo acesso para complementar o conhecimento não adquirido em sala. Compreender a importância da política e da construção de uma consciência crítica para a formação dos cidadãos.

5. METODOLOGIA

Para facilitar a compreensão acerca do objeto investigado, foi utilizado uma pesquisa do tio Exploratória, considerando que o projeto se propõe a ter resultados imediatos e como se trata de comportamento, são dados mutáveis e variáveis ao longo do tempo. A proposta é identificar os patrões e melhor compreender o pensamento dos alunos acerca da política. O projeto foi desenvolvido como uma pesquisa descritiva, pois tem como objetivo principal a descrição das características dos alunos.

Os métodos de coleta de informações utilizado foi o de levantamento de dados em campo, a abordagem quantitativa foi a que mais atendeu as expectativas, pois caracteriza-se pelo uso da quantificação tanto na coleta quanto no tratamento das informações. “O método quantitativo constitui-se em quantificar dados obtidos pelas informações coletas por meio de questionários, entrevistas, observações e utilizações de técnicas estatísticas” (OLIVEIRA,2007).

Foi utilizado para a coleta de dados um formulário digital online elaborado exclusivamente para permitir que os alunos de todo o Brasil respondessem anonimamente as informações pedidas. Este formulário foi divulgado em redes sociais, grupos de bate-papo e por alguns professores em sala.

Além do formulário digital, foi disponibilizada uma plataforma online onde os alunos, também de forma anônima, puderam expor suas opiniões quanto ao tema em questão, com isso auxiliando ainda mais a percepção de como eles o compreendem.

Utilizando os critérios e especificações da classificação das pesquisas, posso caracterizar a área do conhecimento da pesquisa como social, pois apesar de ter um cunho educacional, a abrangência da temática propõe um reflexo posterior no âmbito social.

A forma de raciocínio utilizada foi a dedutiva, pois baseia-se na análise dos fatos e fenômenos concretos, estabelecendo uma relação entre a teoria e os casos particulares. As técnicas indiretas utilizadas foram as documentais, que servem de base fundamental para sustentar os dados da pesquisa. A pesquisa exploratória também foi utilizada como objetivo imediato.

6. DESENVOLVIMENTO

Utilizando textos como base referencial, não é difícil encontrar suporte para afirmar o quão importante para a formação social do cidadão é a formação política. A política faz parte da nossa sociedade contemporânea e intervém diretamente nas nossas vidas, como afirmava o filósofo iluminista francês Jean-Jacques Rousseau:

Rousseau pensa a sociedade como uma agregação de indivíduos e a educação como necessária à formação do cidadão livre e, ao mesmo tempo, sujeito às leis. Em decorrência, seu ideal educativo [...] preocupa-se com que o indivíduo esteja preparado para participar da vida política (RIBEIRO, 2002, p. 119).

No texto Identidade Nacional e Ensino de História no Brasil a historiadora e professora Circe Bittencourt explana bem a importância deste debate nunca fugir da urgência: “O ato educacional é, fundamentalmente, um ato político, nos advertiu sempre Paulo Freire, e se tal prática é válida para qualquer disciplina escolar, no caso de História, esta é muito evidente, sem poder jamais ocultar essa sua essência e base cultural.”

O ideal seria uma proposta metodológica que valorize a problematização e análise crítica da sociedade, Fidelis (2011,p.4) afirma que “esta visão não tornou-se um padrão nas escolas em todo o país e a discussão sobre como formar o cidadão na disciplina História ainda é um hiato na discussão sobre os currículos atualmente”.

O professor deve explorar os conhecimentos prévios dos alunos, como afirma ROCHA(2002), é papel do professor e da instituição de ensino elaborarem uma metodologia que alcance a curiosidade do aluno, e que assim, torne a narrativa histórica um conhecimento significativo para o aluno em sua vida acadêmica e social.

Sobre o estudo da história contemporânea e como ela é vista pela “Nova História Política”, o autor Marcos Napolitano comenta:

Esse campo desviou o estudo da esfera e das relações de poder na sociedade do fato político em si e por si para a análise dos conceitos políticos, das representações simbólicas e dos imaginários e dos sentimentos e paixões catalisados pela política. O novo campo da História Política vem dando uma grande contribuição a História Contemporânea uma vez que permite articular objetos e problemas típicos do século XX, como a ação da propaganda e dos meios de comunicação sobre a esfera política, cultura e social das sociedades em questão. (NAPOLITANO, 2015, p. 170).

Com isso podemos perceber qual a percepção dos alunos a sobre “consciência política”, a propaganda, a mídia, as paixões, fazem muito mais sentido do que reflexões teóricas e conceitos estruturais. É bem comum ouvir deles frases insinuando que um movimento não age como a doutrina diz que deveria agir.

6.1. QUESTIONÁRIO

Para a elaboração do questionário [Anexo1] foi utilizado a plataforma Google Forms, que possibilita a criação de formulários e sua divulgação por meio de link, e-mail ou por redes sociais. Apesar de alguns alunos terem se identificados, a maioria das respostas foram feitas de forma anônima. As perguntas foram objetivas e de múltipla escolha, além um espaço onde o aluno pudesse tecer comentário livre.

Ele foi respondido por 170 alunos de todo o Brasil no período de 5 dias, entre 8 a 12 de Maio de 2017. Possuindo quinze perguntas e um espaço de livre comentário. Segue abaixo as respostas em gráficos quantitativos.

A maioria dos alunos que responderam o questionário tem entre 16 e 17 anos como podemos ver na FIGURA 1.

Figura 1 – Faixa etária dos alunos que responderam o questionário;

De acordo com os dados do PNAD 2013 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), os jovens entre 15 e 19 anos são as pessoas mais conectadas do Brasil, segundo o estudo Acesso à Internet e à Televisão e Posse de Telefone Móvel Celular para Uso Pessoal, divulgado pelo IBGE.

A maioria dos alunos que responderam o questionário são do sexo masculino e apenas 5 alunos, compreendendo 5% do total, não se identificam como binários, como podemos ver na Figura 2;

Figura 2 – Gênero dos alunos que responderam o questionário;

Sobre a Figura 3, fica perceptível que a maior parte dos alunos que responderam ao questionário são do Nordeste, isso se dá devido a minha rede de comunicação ser majoritariamente da minha região, por isso a diversidade não é maior, apesar disso a participação de alunos de outras regiões foi expressiva.

Figura 3 – Região dos alunos que responderam o questionário;

Para uma melhor identificação, uma das questões propostas era de informar qual o ano cursavam, podemos ver na Figura 4 que a maioria dos alunos são do 3º Ano, que é o último ano do ensino médio, esses alunos em maior parte estão se preparando para vestibulares e para o ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio, e precisam expandir seu conhecimento de mundo para que possam construir boas redações e assim ingressarem no ensino superior de maneira satisfatória.

Figura 4 – Ano de estudo dos alunos que responderam o questionário;

Uma particularidade que percebi foi a grande participação de alunos da rede pública de ensino (Figura 5), muitos deles comentaram que além de estarem defasados sobre o tema em questão, há uma falta de docentes nas escolas o que prejudica muito o aprendizado, devido à falta de conteúdo aprendida, fazendo com que esses alunos já comecem com défice nos exames em contraponto aos alunos de ensino privado.

Figura 5 – Qual a modalidade da escola em que os a alunos que responderam o questionário estudam;

No espaço livre um dos alunos, de forma anônima, comentou sobre o ensino público. Segue a transcrição literal do seu comentário;

A educação pública está muito fraca porém alguns professores se dedicam e conseguem ensinar seus alunos citando vários assuntos e conhecimentos mas a maioria realmente não liga para a educação dos alunos. Além de tudo professores também tem de entender que alunos são humanos, tem problemas, responsabilidades e sentimentos também, assim como os alunos com os professores. O conhecimento e o amor ao próximo é o que move o mundo, precisamos parar de ser ignorantes e também estudar questões sociais para não sermos tão conservadores achando que só o que você pratica esta certo e deve ser respeitado! E alem de tudo também barrar todo tipo de preconceito, discriminação e ensinar que esta é uma luta de todos, não só de alguns!” (ANÔNIMO).

A aluna Maria Antônia do Rio Grande do Sul, que decidiu se identificar, também comenta um pouco sobre os défices educacionais no ensino público:

Atualmente, no Brasil, a taxa de falta de professores é bem alta, na minha escola, por exemplo, falta 10 professores, contando com os três turnos (manhã, tarde e noite) e também a merenda está em falta. Os funcionários público [sic] não estão sendo pagos, e se forem, o salário está sendo parcelado, por isso as greves, e tem gente que acha que é vandalismo, mas isso é a resposta do povo para os que estão no poder, e sinceramente, acho que um dia de greve não adianta nada, tinha que ser uma semana ou duas, pra ser efetivo. E pra vocês que acham que foram privilegiados com o chefe dando carona ou pagando o uber, vocês realmente não tem noção do estado que o país está, e quem não vai se aposentar vai ser vocês.”

Quando foi perguntado aos alunos, qual o nível de conhecimento sobre política, houve uma diversidade considerável de respostas. A maioria marcou a opção Bom [Figura 6], enquanto as outras opções ficaram divididas entre si. Esse entendimento pode compreendido devido a facilidade de busca de informações sobre os temas na internet, quando um aluno tem alguma dificuldade com algum tema em específico, ele coloca no buscador online e tem à disposição uma vasta lista de textos e vídeos que falam sobre o assunto. O grande problema está na verificação da qualidade desses materiais, já que por ser uma rede livre, qualquer tipo de informação pode ser disseminado como correta.

Figura 6 – Qual o grau de conhecimento sobre política que os alunos que responderam o questionário consideram ter;

No que diz respeito aos veículos de informações que os alunos mais utilizam para pesquisa e se manterem atualizados sobre política, a opção quase unânime foi Internet [Figura 7], seguido de escola e livros. É preciso perceber com isso a importância do suporte didático do corpo docente escolar, de forma a dar suporte até mesmo extra curricular mente, esclarecendo duvidas e estimulando a crítica. A escola estando em segunda opção, demonstra a falta de debate sobre esse assunto no ambiente escolar, bem como a falta de credibilidade com os professores.

Esse problema pode ser exemplificado pelo comentário anônimo de um dos alunos:

Acredito que deveria ter um espaço aberto ao aluno na escola para o debate, seja com professores ou com outros alunos. Acontece o seguinte nas escolas: o professor fala e todo mundo fica calado, talvez por falta de oportunidade, por medo de ser julgado mesmo que desconcorde com o que ele diz, (muitos professores se acham Deus na sala de aula) algo muito robótico ao meu ver. Como vamos aprender a debater e até mesmo aprimorar nossos argumentos ou conhecer outros pontos de vista se não temos liberdade e promoção de debates nas escolas?”. (ANÔNIMO)

A partir desse comentário fica relativamente fácil compreender o porquê de muitos alunos estarem optando por pesquisas online do que recorrer aos professores ou escola.

Figura 7 – Quais os veículos de informações que os alunos que responderam o questionário mais utilizam;

Sobre as vertentes políticas, as escolhas foram divididas em proporções parecidas. Os alunos de posicionamento a esquerda se mostraram em maioria, já os de posições extremistas tanto de esquerda quanto de direita foram minorias com a mesma quantidade. Uma surpresa foi o número grandes de alunos que se identificaram como anarquistas, tendo em vista que é uma vertente à partidária que que é contra qualquer forma de governo. Um número relativamente grande de alunos não souberam opinar, isso pode caracterizar tanto o desconhecimento sobre das linhas políticas, quanto o descontentamento com a atual política brasileira, gerando assim uma apatia ideológica em inúmeras pessoas, inclusive nos jovens, onde não se veem representados nem sentem credibilidade para se afirmarem de uma ou outra vertente. Um aluno comentou anonimamente “Seria bom diferenciar as vertentes políticas em economia e sociedade pq por exemplo no Brasil a economia de direita vem com o direito de minorias ignorado e tal”, com isso é entendido que o desconhecimento sobre política pode sim ser um dos fatores que contribuem para a apatia social. Como podemos perceber na Figura 8 a seguir:

Figura 8 – Quais as vertentes políticas nas quais alunos que responderam o questionário mais se identificam;

A questão de número nove, pretendia identificar se os alunos percebiam a necessidade do debate sobre política em sala, como podemos ver na FIGURA 9, a grande maioria dos alunos escolheu SIM, e apenas 2,4% escolheram a opção NÃO.

Figura 9 – Quantitativo de alunos que acham que deveria haver mais debate sobre política na escola;

Os comentários dos alunos foram retirados da opção Comentários Livres, onde eles diziam respeito a essa questão excepcionalmente:

bom, eu tenho certeza que as escolas deveriam fazer mais debates sobre a política no Brasil e a situação econômica. Assim como deveria haver grêmios estudantis em todas as escolas, porque é direito do aluno ter boas condições de estudos, por exemplo, você(s) sabiam que toda escola pública deveria ter porte de shoppings? E que é direito do estudante ter merenda e ter uma higienização escolar adequada (no caso, sabonete, toalhas de papel e papel higiênico).” (Maria Antônia);

As escolas deveriam abordar mais política, é muito comum ver analfabetismo político e isso gera uma tendência à alienação. Com discussões (imparciais) evitaria isso, abriria mentes à novidades e trabalharia o respeito à opiniões divergentes.” (Anônimo)

É necessária que hajam profissionais que consigam ensinar sobre todas as ideologias sem tomar partido de nenhuma, o professor como formador de opinião não pode entrar neste âmbito, apenas possibilitar o debate com conhecimento” (Anônimo)

Acho fundamental para o crescimento do aluno como estudante e cidadão o acesso a discussões a respeito de política e economia.” (Anônimo)

Com esses comentários é fácil perceber que há um grande interesse dos alunos em debates e na oportunidade de aprender mais sobre política e cidade, porem a preocupação dos alunos em relação as informações serem guiadas e com cunho partidário é algo presente entre eles, há sempre um receio e muitos exemplos de alunos que relatam terem sido acuados em sala ou evitam debater algum assunto com receio de que seu pensamento por ser diferente do professor, possa ser mal interpretado ou que leve até mesmo a perseguição.

Partindo dessa perspectiva, questionei aos alunos sobre o que eles achavam do projeto de lei, que atualmente caminha no Senado, chamado Escola sem Partido.

Este projeto, que tem como relator no Senado o Senador Cristovam Buarque, e de acordo com seu site oficial, informa que é uma proposta de lei que torna obrigatória a afixação em todas as salas de aula do ensino fundamental e médio de um cartaz informando os deveres dos professores, como ode ser visto no Anexo 2. Ainda no site é informado que “...o único objetivo do Programa Escola sem Partido é informar e conscientizar os estudantes sobre os direitos que correspondem àqueles deveres, a fim de que eles mesmos possam exercer a defesa desses direitos, já que dentro das salas de aula ninguém mais poderá fazer isso por eles.”.

De acordo com o jornal online G1, atualmente há diversos projetos de lei em tramitação em câmaras municipais, assembleias legislativas e no Congresso Nacional que falam sobre os direitos e deveres dos professores dentro da sala de aula, os direitos dos pais na decisão sobre o conteúdo da educação dos filhos e regras para a definição de livros didáticos a serem adotados pelas escolas. A maioria dos projetos de lei apresentados recentemente seguem os moldes do anteprojeto elaborado pelo ‘Escola sem Partido’. Os projetos de lei do "Escola sem Partido" pretendem especificar os limites da atuação dos professores, impedindo que eles promovam suas crenças particulares em sala de aula, incitem estudantes a participarem de protestos e denigram os alunos que pensem de forma distinta. Além disso, o projeto dá o direito dos pais de escolherem como será o ensino de religiões distintas das suas (“direito dos pais dos alunos a que seus filhos recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com as suas próprias convicções”).

Um dos alunos que respondeu a pesquisa e concorda com o projeto comentou: “realmente defendo escola sem partido, o professor de história e sociologia eles alienam os alunos, eles não mostram os caminhos que devem ser seguidos, eles simplesmente coloca (sic) os alunos para seguir tal caminho, acho isso errado.” (Anônimo)

Porém apesar de muitos alunos demonstrarem preocupação com que tipo de conhecimento irão receber dos professores, na Figura 10, podemos ver que a maioria dos alunos consideram o projeto ruim e 19,2% não sabiam opinar.

O aluno Marcus Cavalcante fez um comentário muito pertinente sobre o projeto que demonstra o porquê que mesmo os alunos concordando com o receio da “doutrinação” em sala de aula, discordam do projeto:

O projeto "Escola Sem Partido", possui uma ideia interessante! Acredito que realmente, por parte de raros professores que compartilham de ideias extremistas, existe alguma doutrinação. Poderia citar o caso do meu professor de história do IF, que analisa toda a história que ensina sob o viés Marxista. Passamos o conteúdo sobre a idade antiga INTEIRO discutindo como as formas que estávamos discutindo eram uma luta do opressor contra o oprimido. N histórias, professores que vivem falando "Não há caminho pela direita, o único é pela esquerda...". Nesse sentido, sim há doutrinação no ensino médio. Mas claro, como eu disse antes, isso é devido a uma. MINIMA parcela dos professores. Porém, todavia, contudo e entretanto. O projeto atual atende a um projeto de poder bastante específico. Quer dizer, ele parece bem intencionado mas acerta pro lado em que não estamos olhando, como se estivesse combatendo o que queremos combater, a doutrinação, mas na realidade combate apenas as ideias que seriam "Esquerdistas". E, logicamente, isso não pode ser permitido de maneira alguma, o espaço deve ser de discussão sobre TODOS os vieses. Além disso, é contraditório quando diz que "o aluno é a parte mais fraca no aprendizado", dando a entender que ele é facilmente influenciável. Porém, esse mesmo projeto da ao aluno, que até então era facilmente influenciável, o poder de punir o professor por ELE não considerar o que está sendo ensinado justo.” (Marcos Cavalcante)

O aluno Marcos, tem 19 anos e é aluno de Eletrônica no IFRN – Campus Natal Zona Norte. Os Institutos técnicos federais em sua maioria incluem um quarto ano no ensino médio, pois ele tem sua grade curricular mista com disciplinas técnicas especificas.

Figura 10 – Quantitativo do que os alunos que responderam o questionário pensam sobre o PLS 193, chamado de Escola sem Partido.

A seguinte questão, que corresponde a Figura 11, indagava os alunos sobre a o interesse deles em assistirem palestras sobre vertentes políticas diferentes das quais eles se alinham e a grande maioria deles afirmou que sim, mesmo com algumas ressalvas. O comentário a seguir representa um pouco sobre essa perspectiva: “Sobre assistir uma palestra de vertente política diferente da qual eu me alinho: eu aceito se a palestrar mostrar as opiniões e fatos embasados de sua vertente, e se não haver discurso de ódio algum disfarçado de opinião.” (Anônimo);

Figura 11 – Quantitativo de alunos que estariam dispostos a assistirem palestras sobre vertentes políticas diferentes das quais se alinham;

Devido a uma pesquisa recente do Ibope – Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, aceca do aumento do conservadorismo no Brasil e a conclusão de que há um aumento de ideias conservadoras, senti a necessidade de questionar aos alunos suas ideias acerca da interferência da religião na criação de leis, se eles percebem traços de preconceitos sociais como homofobia, racismo e machismo no país e que por isso deveria haver um maior debate no ambiente escolar.

De acordo com o colunista José Toledo, nas questões comportamentais, o conservadorismo não cresceu. Os mesmos 78% de 2010 continuam se declarando contrários à legalização do aborto, mas a taxa dos favoráveis cresceu de 10% para 17% (os “nem contra nem a favor” caíram de 10% para 4%). E aumentou significativamente a aceitação do casamento entre pessoas do mesmo sexo: de 25% para 42%. Agora há um empate técnico com os contrários (estes caíram de 54% para 44%).

E realmente esse resultado foi expressivo nas respostas, na questão religiosa (Figura 12), a maioria dos alunos discordou da utilização do Cristianismo como base ética para as criações de leis, alguns alunos tem concepções errôneas sobre a criações de leis como a do casamento homoafetivo, e acredita que a sua aprovação obrigaria as igrejas a realizarem casamentos religiosos de casais do mesmo sexo, como por exemplo do dos comentários recebidos: “sobre ter leis no Brasil com base no cristianismo é algo errado, mas você não pode liberar o casamento gay só porque você quer, isso são regras da igreja e não podem ser alteradas..”.

Figura 12 – Quantitativo do que os alunos acham sobre a utilização do Cristianismo como base ética para as criações de leis;

As figuras 13,14 e 15 correspondem questões acerca da homofobia, racismo e machismo nesta sequência, nas três questões a maioria dos alunos marcou SIM, para a opção que concorda que esses problemas existem no país e que debates e discussões em sala podem reduzir esses índices, houve um dos comentários anônimo de um aluno em tom de desabafo: “O preconceito na minha escola é muito grande e isso acaba fazendo eu ficar desanimada pra sair de casa mas não posso falar com meus pais porque eles acham que é frescura”. Este é um dado muito preocupante, saber que existem jovens vulneráveis e que não se sentem a vontade para debater com os familiares ou parentes e que por isso muitas vezes se tornam alvos de bullying e violência.

Figura 13 – Quantitativo de alunos que acham que há homofobia no Brasil, e por isso deveria haver mais debate sobre esse assunto na escola;

Figura 14 – Quantitativo de alunos que acham que há racismo no Brasil, e por isso deveria haver mais debate sobre esse assunto na escola;

Figura 15 – Quantitativo de alunos que acham que há machismo no Brasil, e por isso deveria haver mais debate sobre esse assunto na escola;

7. CONCLUSÃO

O trabalho em questão teve como tema central o estudo e compreensão política pelos alunos do ensino médio do país no ano de 2017, com base nisso utilizei uma pesquisa bibliográfica e também um questionário amplo com abertura para colher comentários e opiniões dos próprios alunos sobre diversos temas que englobam a política e consciência social.

O objetivo geral do projeto era a análise de como os jovens pensam a política e assim, identificar onde se encontra a fraqueza didática que não alcança o objetivo de formar cidadãos, capazes de reflexões politicas eficientes. Creio que consegui alcançar esse objetivo, apesar de a coleta de dados não ter sido tão vasta, mas sua diversidade e abrangência proporcionou uma compreensão da realidade que auxiliou muito no entendimento proposto.

A identificação dos veículos de informação mais utilizados pelos alunos, serviu apenas para confirmar o que já esperava, mas me surpreendeu que muitos alunos ainda consideram a escola como uma fonte de conhecimento importante, a utilização da internet como fonte primária será um grande desafio dos professores das futuras gerações. Como afirma o autor José Carlos Antônio:

Temos hoje em dia tecnologias capazes de gerir enormes quantidades de informação e de facilitar a análise desses dados por meio da computação. O termo computador tem em si mesmo o significado de algo que faz cálculos, que computa dados. Não utilizar um computador como parte natural da atividade de gestão do professor, tendo um à sua disposição, é o mesmo que escrever com caneta de pena e tinteiro tendo à disposição uma caneta esferográfica, ou recorrer a um retratista da renascença para ter uma imagem da família ao invés de tirar uma simples fotografia com uma câmera digital. E, no entanto, ainda temos muitos professores que possuem computadores e não os utilizam. E, nesses casos, a desculpa mais comum é de “não sabem como utilizá-lo”. (ANTONIO, 2010)

É um desafio constante e que irá ficar cada vez mais fácil de assimilar, já que os novos professores utilizam cada vez mais tecnologias, mas ao mesmo tempo mais desafiador, já que a cada momento novas tecnologias aparecem e cada uma delas mais atraentes e que facilitam a compreensão dos alunos. Este pode ser uma salvação e um martírio para os professores.

O problema geral a ser resolvido era a identificação de como a didática poderia interferir no processo de construção da consciência política do estudante. A principal falha didática encontrada que dificulta a compreensão dos alunos sobre política é a explicação sobre as vertentes de maneira imparcial com abertura de debate. O professor pode utilizar diversas formas de conduzir esse debate, como mediador, dividindo a sala entre vertentes políticas para que debatam entre si, dentre várias técnicas de debate. A utilização de dinâmicas de avaliações também podem ser excelentes ferramentas utilizadas em sala, de acordo com Tavares e Lira, essa é o tipo de dinâmica que contribui para que, após as atividades, os participantes avaliem o desenvolvimento do estudo, assim como a apresentação de sugestões para possíveis melhoramentos. Como são alunos de ensino médio, a faixa etária ajuda no melhor desenvolvimento e interação com o projeto.

Com o trabalho consegui compreender a importância da política e da construção de uma consciência crítica parta a formação dos cidadãos, percebi que é nessa idade que se inicia as ideias críticas e posições políticas, estas podem ser modificadas ao longo dos anos, porém com uma base sólida de conhecimento, serão modificadas baseadas em pesquisas e estudos, e não apenas em achismos ou informações errôneas. É também nessa idade que se inicia a apatia e a desmotivação que gera uma sociedade indiferente aos problemas sociais que a permeiam, dando assim margem para que cada vez mais se alastre a corrupção e que os direitos sejam violados indiscriminadamente.

8. ANEXOS

8.1. ANEXO



8.2. ANEXO

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTONIO, José Carlos. O uso das TICs na gestão pedagógica do processo de ensino e aprendizagem. Professor Digital, SBO, 23 abril 2010. Disponível em: <http://professordigital.wordpress.com/2010/04/23/o-uso-das-tics-na-gestao-pedagogica-do-processo-de-ensino-eaprendizagem/&gt> Acessado em 18 de Janeiro de 2013.

BITTENCOURT, Circe. Identidade nacional e ensino de história no Brasil. In: Karnal, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2015, p. 185-203.

ESCOLA sem partido. Disponível em: <http://www.programaescolasempartido.org/> Acessado em 28 de maio de 2017.

FIDELIS, T. História Política, Ensino de História e Cidadania: Caminhos Entrelaçados. Camine: Caminhos da Educação, v. 3, p. 1-15, 2011.

GLOBO.COM. Entenda a Polêmica entorno do ‘Escola sem Partido’. Disponível em: < http://g1.globo.com/educacao/noticia/entenda-a-polemica-em-torno-do-escola-sem-partido.ghtml >. Acesso em: 28 maio de 2017.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatística. PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2013.Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/00000021542204122015225529461268.pdf.> Arquivo consultado em 30 de Maio de 2017.

NAPOLITANO, Marcos. Pensando a estranha história sem fim. In: Karnal, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2015, p. 163-184.

OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer pesquisa qualitativa. Petrópolis: Vozes, 2007.

RIBEIRO, Marlene. Educação para a cidadania: questão colocada pelos movimentos sociais. Educ. Pesqui.,  São Paulo ,  v. 28, n. 2, p. 113-128,  jul.  2002 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022002000200009&lng=pt&nrm=iso>. Acessado em   10  nov.  2016. 

ROCHA, Ubiratan. Reconstruindo a História a partir do imaginário do aluno. In: NIKITIUK, Sônia L. (org). Repensando o ensino de história. SP: Cortez, 2002.

TAVARES, C.; LIRA, N. (Orgs.). Construindo uma cultura de paz: oficinas pedagógicas. Recife, 2001. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/dados/cartilhas/dht/mundo/cartilhas_paz/paz_cartilha.html#_ftn2> Acessado em 11/1/2013.

TOLEDO, José Roberto de. Conservadorismo na Medida. ESTADÃO – Portal do Estado de São Paulo, 22 de Dezembro de 2016. Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/blogs/vox-publica/conservadorismo-na-medida/.> Arquivo consultado em 25 de Maio de 2017.


Publicado por: Enelyne de Lucena Maia

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