Os sindicatos na gênese do peronismo (1943-1946)
índice
- 1. Resumo
- 2. Introdução
- 3. O movimento operário argentino anterior a 1943
- 4. Criação da CGT
- 5. Perón na Secretaria de Trabalho e Previdência Social
- 5.1 A Revolução de 1943
- 5.2 Primeiros contatos de Perón com os sindicatos
- 5.3 Captação dos dirigentes e repressão aos opositores
- 5.4 Virada dos trabalhadores para o peronismo
- 6. Outubro de 1945 e campanha presidencial
- 6.1 Mobilização da oposição e reação dos trabalhadores
- 6.2 Encarceramento e libertação de Perón
- 6.3 O Partido Laborista
- 7. Conclusão
- 8. Referências Bibliográficas:
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1. Resumo
O presente trabalho procurou compreender como o movimento operário argentino constituiu-se na base de apoio do Coronel Juan Domingo Perón. Na época do surgimento de Perón como figura pública, as lideranças sindicais hegemônicas eram socialistas, com participação minoritária dos comunistas. Perón era um militar filo-fascista que ocupou a Secretaria de Trabalho e Previdência Social da República Argentina de 1943 a 1945. Neste cargo, Perón construiu uma relação de liderança sobre a classe operária, antes da sua ascensão à Presidência da Argentina. A partir da observação da orientação ideológica de Perón e a origem política das lideranças sindicais, suscitou-se o interrogante sobre como posturas políticas tão dissimiles convergiram para a formação do movimento peronista. Para isso, foram consultadas fontes primárias e secundárias para estabelecer os processos históricos do período observado e analisaram-se tais processos em base às diferentes interpretações dadas pela bibliografia existente sobre o tema. Da análise dos processos históricos, verifica-se que houve pontos de convergência entre o projeto político de Perón e as reivindicações de um grupo de líderes sindicais. Enquanto isso, outro grupo de dirigentes sindicais foi hostil à política de Perón, mas estes dirigentes não tiveram a suficiente articulação política para confrontar o projeto peronista. Concluiu-se que existiram, de fato, linhas de continuidade nas lideranças do movimento operário argentino que explicam a adesão ao nascente peronismo.
Palavras-chave: Peronismo, Argentina, Juan Domingo Perón, Movimento Operário.
Resumen
El presente trabajo buscó comprender cómo el movimiento obrero argentino se constituyó como base de apoyo al Coronel Juan Domingo Perón. En la época del surgimiento de Perón como figura pública, las dirigencias sindicales hegemónicas eran socialistas, con participación minoritaria de los comunistas. Perón era un militar filofascista que ocupó la Secretaría de Trabajo y Previsión Social de la Nación Argentina de 1943 a 1945. En este cargo, Perón construyó una relación de liderazgo sobre la clase obrera, antes de su ascenso a Presidencia de la Argentina. A partir de la observación de la orientación ideológica de Perón y el origen político de las dirigencias sindicales, se suscitó el interrogante sobre cómo posturas políticas tan disímiles convergieron para la formación del movimiento peronista. Para eso, fueron consultadas fuentes primarias y secundarias para establecer los procesos históricos del período observado y se analizaron tales procesos en base a las diferentes interpretaciones dadas por la bibliografía existente sobre el tema. Del análisis de los procesos históricos, se verifica que hubo puntos de convergencia entre el proyecto político de Perón y las reivindicaciones de un grupo de líderes sindicales. Mientras tanto, otro grupo de dirigentes sindicales fue hostil a la política de Perón, pero estos dirigentes no tuvieron la suficiente articulación política para confrontar el proyecto peronista. Se concluye que existieron, de hecho, líneas de continuidad en las dirigencias del movimiento obrero argentino que explican la adhesión al naciente peronismo.
Palabras clave: Peronismo, Argentina, Juan Domingo Perón, Movimiento Obrero.
2. Introdução
No presente trabalho, procura-se estabelecer a participação do movimento operário argentino na gênese do peronismo; especificamente, no período que se iniciou com o golpe de Estado de 4 de junho de 1943, conhecido como Revolução de 43, até a eleição do Coronel Juan Domingo Perón como presidente da República Argentina, em 1946. Este período corresponde aos governos dos presidentes Pedro P. Ramírez e Edelmiro J. Farrell, nos quais Perón chegou a acumular os cargos de secretário de Trabalho e Previdência Social, ministro da Guerra e vice-presidente da República. Desde a Secretaria de Trabalho, Perón manteve-se próximo do ator social que lhe daria o maior sustento político pelo resto da sua vida: a classe trabalhadora. Nesse cargo, construiu uma forte liderança sobre os trabalhadores, atraindo os dirigentes sindicais atuantes no movimento operário. Esse processo encontrou seu grande ponto de virada em outubro de 1945, quando Perón foi obrigado a abandonar seus cargos pela pressão exercida por setores contrários a sua política trabalhista, e posteriormente foi preso. Em seguida, o movimento operário mobilizou-se em prol da defesa das conquistas obtidas durante a gestão de Perón, e no dia 17 de outubro de 1945, uma mobilização sem precedentes exigiu a liberdade do ex-secretário. A partir desse momento, o caminho para a ascensão de Perón à Presidência da República estava aberto, apoiado pelo recentemente fundado Partido Laborista, representante dos sindicatos.
De acordo com as versões clássicas, esse operariado, antes de 1943, tinha sua organização sindical baseada em um movimento homônomo, de lideranças surgidas dentro da própria classe e que se orientava de acordo com postulados classistas; e, posteriormente, sujeitou-se à heteronomia em torno da liderança de Perón, e a se orientar por postulados mais nacionalistas do que classistas. Todavia, existem interpretações que estabelecem, além das rupturas, as continuidades do sindicalismo anterior a 1943 na gestação da força política peronista.
O movimento operário argentino do início da década de 1940 estava hegemonizado pelos socialistas, com participação minoritária dos comunistas, e a presença dos sindicalistas revolucionários1. Segundo as versões clássicas, Perón impulsionou a ascensão de “novos dirigentes”, surgidos da massa dos trabalhadores recentemente incorporados ao operariado industrial urbano. Esses trabalhadores eram produto da migração do campo para a cidade, e têm sido chamados “novos trabalhadores2”. Enquanto isso, Perón reprimiu os “velhos dirigentes”, vindos de uma tradição sindical revolucionária e que não aceitavam se submeter à tutela de um Estado paternalista e autoritário que desmobilizava os trabalhadores. Esses “velhos dirigentes” seriam os representantes dos “velhos trabalhadores”, incorporados desde cedo à indústria urbana, e dentre os quais haveria um grande número de estrangeiros, que traziam as ideias revolucionárias da Europa, assim como filhos de imigrantes que chegaram entre finais do século XIX e inícios do XX, e que eram herdeiros da tradição das lutas socialistas e anarquistas. Não obstante, estudiosos revisaram tal visão, apontando para o papel desempenhado pela velha guarda na construção do apoio a Perón durante sua atuação na Secretaria de Trabalho e Previdência Social, por ele criada.
A questão que norteia este trabalho trata do modo como dirigentes oriundos de ideologias de esquerda construíram a base de apoio de um líder nacionalista proveniente da casta militar, que tinha uma concepção verticalista da organização social e política e opunha-se ao comunismo. De fato, Perón possuía um pensamento a favor da manutenção da ordem capitalista com inclusão da classe trabalhadora na distribuição da riqueza e rejeitava as ideias que visavam à subversão da ordem social. Construiu seu poder sobre o apoio da classe trabalhadora, mas, longe de agitar uma luta de classes ou procurar construir uma república sindicalista ou um Estado dominado por um partido de classe, patrocinou o projeto de uma sociedade em que os trabalhadores e sindicatos estivessem incluídos de um modo justo na distribuição dos benefícios sociais, mas subordinados à tutela do Estado. Perón almejava um modelo social ideal de “aliança de classes” e “sociedade organizada”, e possuía um forte sentimento nacionalista e anti-comunista.
No trabalho aqui apresentado, é abordada a atuação dos sindicatos no período anterior à consolidação do poder de Perón: o da construção de tal poder, quando Perón exerceu a Secretaria de Trabalho e Previdência. Mas será feita previamente uma apresentação da situação do movimento operário argentino em 1943 e das diferentes correntes ideológicas que disputavam a hegemonia do movimento. Para isso, será realizado um percurso histórico do movimento operário e suas ideologias concorrentes desde o surgimento do operariado organizado na Argentina3.
Após apresentar o histórico do movimento operário, será tratada a relação de Perón, como Secretário de Trabalho, com os dirigentes sindicais de tradições políticas de esquerda e como esses dirigentes se engajaram na construção da nova liderança política. Também serão analisadas as ações que Perón levou adiante para atrair esses dirigentes, assim como os conflitos apresentados entre os sindicatos e o governo ao qual Perón pertencia, e como foram resolvidos.
Finalmente, será descrita a gestação da jornada de 17 de outubro de 1945 e qual foi a participação dos sindicatos nesse ato e na fundação do Partido Laborista, que impulsionou Perón para a vitória na eleição presidencial de 24 de janeiro de 1946, até a intervenção e dissolução do partido em prol da liderança centralizadora de Perón.
3. O movimento operário argentino anterior a 1943
3.1. Linhas sindicais prévias a 1930
Desde o seu início, o movimento operário argentino esteve dividido em diversas linhas ideológicas. A primeira grande divisão foi entre anarquistas e socialistas, reflexo das divisões existentes na Associação Internacional de Trabalhadores. Posteriormente, o anarquismo perdeu poder entre a classe trabalhadora e apareceram outras correntes. Assim, entre 1930 e início dos anos 1940, o movimento operário estava dividido em socialistas, comunistas e sindicalistas.
A primeira tentativa de unificar os sindicatos argentinos em uma central4 operária foi a FTRA – Federación de Trabajadores de la República Argentina, em 1891, a qual reunia anarquistas e socialistas. As divergências entre os dois grupos dificultaram a continuidade desta organização, que não conseguia se manter unida, dissolvendo-se e tentando se reunificar sucessivas vezes. Em 1901, as lideranças das duas correntes, após fazer concessões nos seus princípios ideológicos, fundaram a FOA – Federación Obrera Argentina. Mas os desentendimentos entre anarquistas e socialistas fizeram com que, em 1902, os últimos abandonassem a FOA e, em 1903, fundassem a UGT – Unión General de Trabajadores. Em 1904, a FOA mudou de nome para FORA – Federación Obrera Regional Argentina; esta lideraria as lutas operárias até a década de 1910, apesar da violência com que eram reprimidos seus comícios e greves5.
Em 1905, apareceu uma nova corrente operária no seio da UGT: os sindicalistas revolucionários – ou simplesmente sindicalistas. Estes propugnavam uma maior autonomia da central com respeito ao Partido Socialista, colocavam a ênfase no plano econômico e concebiam a política como naturalmente burguesa e algo estranho e externo à classe operária. Então, foram expulsos da UGT por contrariar os princípios do PS, cuja política era a de vincular os sindicatos à ação partidária e não confrontar o governo, pois o partido atuava na esfera política6.
A UGT extinguiu-se rapidamente, mas em 1909, os sindicalistas e socialistas uniram-se novamente para formar a CORA – Confederación Obrera Regional Argentina. A CORA logo se uniu à FORA (antiga FOA), e a entrada dos sindicalistas na federação provocou uma nova ruptura entre estes e os anarquistas. Esta ruptura eclodiu no IX Congresso da central, em 1915, em que “os sindicalistas aprovaram resoluções frontalmente contrárias aos anarquistas7”, discrepando dos princípios que a FORA estabelecera no V Congresso em 1905. O movimento operário dividiu-se, dessa vez, em FORA do V Congresso e FORA do IX Congresso8. Em 1922, a FORA do IX Congresso adotou o nome de USA – Unión Sindical Argentina, enquanto a FORA do V Congresso voltou a ser simplesmente a FORA9.
Na década de 1920, não houve uma linha hegemônica no movimento operário. Nesse período, os anarquistas da FORA foram perdendo adesão, pois sua prédica radicalizada não encontrava boa receptividade entre as classes trabalhadoras, cansadas das greves violentas protagonizadas pelo anarquismo. Além disso, em 1916, a UCR – Unión Cívica Radical – chegou ao governo argentino, com a eleição de Hipólito Yrigoyen como presidente da República. Yrigoyen inaugurou um novo tipo de política estatal quanto à questão trabalhista. O diálogo aberto do governo com os sindicatos e a arbitragem do Estado para resolver os conflitos trabalhistas foram aproveitados pelos sindicalistas para obter as exigências dos sindicatos dominados por eles. Mas os sindicatos socialistas muitas vezes não viam suas demandas atendidas pelo governo da UCR por causa das divergências entre o governismo e o PS. De qualquer modo, os dirigentes sindicais começaram a enxergar um novo modo de obter conquistas através da negociação com o Estado10.
Apesar desta nova modalidade de resolução dos conflitos trabalhistas, não se pode deixar de mencionar os violentos episódios de repressão às greves por parte do governo da UCR. A maior acontecida em Buenos Aires foi a lembrada como Semana Trágica, em janeiro de 1919, a qual deixou um saldo de 800 mortos, 4.000 feridos e milhares de detidos. Na ocasião, participaram das represálias aos grevistas, além das forças policiais, grupos armados paraestatais formados por jovens de classe média e da grande burguesia. A explicação para tamanha repressão é que a política de proximidade do governo com os sindicatos e de concessões aos trabalhadores entrou em choque com os interesses dos setores patronais, e quando o governo de Yrigoyen teve que decidir, considerou que não era conveniente ganhar a oposição da classe média e da grande burguesia, optando pela repressão às greves quando as demandas não podiam ser satisfeitas11.
Nessa época, surgiram na cena sindical os comunistas, os quais nasceram de uma dissidência do PS chamada Partido Socialista Internacional, em 1918. Este se tornou Partido Comunista a partir de 1920, ao aderir à 3ª Internacional12. Os comunistas, alinhados com a URSS, se opuseram a todas as outras correntes sindicais. Foram contrários aos anarquistas da FORA porque estes não aceitavam a ditadura do proletariado. Disputaram cadeiras no parlamento, assim como os socialistas, mas, ao contrário destes, não promoviam o parlamentarismo, mas o utilizavam como contribuição “ao desprestígio das instituições parlamentárias burguesas13”. Apesar de que militavam na USA, também criticavam energicamente os sindicalistas, porque estes se opunham à vinculação do movimento operário a qualquer partido, enquanto os comunistas promoviam a filiação da luta dos trabalhadores ao partido de classe14.
Em 1926, os socialistas que militavam na USA romperam com esta e formaram a COA – Confederación Obrera Argentina.
Desde que as organizações sindicais argentinas apareceram no final do século XIX, as tentativas de unificar o movimento operário estiveram travadas pelos desacordos entre as correntes ideológicas dentro da classe trabalhadora. A partir da divisão entre anarquistas e socialistas, outras cisões aconteceram no operariado argentino. Assim, surgiram os sindicalistas revolucionários dentre os socialistas que não queriam submeter a ação sindical à do partido; e posteriormente, os comunistas, que procuravam unir a luta da classe trabalhadora ao novo movimento surgido na URSS. No final da década de 1920, o movimento operário argentino viu-se fragmentado em diversas centrais e correntes ideológicas sem poder canalizar as lutas dos trabalhadores em uma determinada direção. As tentativas de unificar a classe operária começariam a ver sua realização a partir de 1930 com a criação da CGT – Confederación General del Trabajo.
4. Criação da CGT
Em 27 de setembro de 1930, foi fundada a CGT – Confederación General del Trabajo, criada a partir da união das duas maiores centrais sindicais existentes na época: a COA, de linha socialista, e a USA, que alinhava anarquistas, sindicalistas e comunistas15. No entanto, a FORA, de tendência anarquista, não aceitou formar parte da nova central unificada. Os anarquistas rejeitavam a face política da CGT, já que havia nela grande quantidade de socialistas e comunistas16. Embora a FORA continuasse existindo como central, sua atuação tornou-se insignificante devido ao declínio do anarquismo naqueles anos; e, em 1919, os violentos episódios da Semana Trágica foram determinantes para sua decadência17.
A criação da CGT foi o resultado de um chamado à unidade sindical feito pela FOPA – Federación Obrera Poligráfica Argentina, entidade de trabalhadores gráficos criada em 1927, a qual declarava que o estado de divisão em que se encontrava o movimento operário atentava contra os interesses dos trabalhadores, principalmente quando, por causa da crise econômica mundial de 1929, as empresas procuraram se proteger retirando conquistas trabalhistas e reduzindo salários18.
A estrutura da COA era muito superior à da USA. A COA contava com poderosos sindicatos, como a UF – Unión Ferroviaria, La Fraternidad (ferroviários), Comerciários, Municipais e Estatais e tinha por volta de 100.000 filiados contribuintes; enquanto a estrutura da USA era muito menor, com 15.000 contribuintes. Mesmo assim, a distribuição de cargos no órgão máximo da CGT foi “desproporcionalmente igualitária” para as duas organizações: 15 cadeiras para cada uma delas e mais 10 para os sindicatos autônomos19.
A linha dominante na CGT, no seu início, foi o sindicalismo, o qual não opôs uma resistência política ao governo filo-fascista de José Felix Uriburu (1930-1932), atitude que foi fortemente recriminada por socialistas e comunistas. Na época, havia no movimento operário uma discussão entre reformistas e revolucionários. Durante a década de 1920 o movimento operário argentino foi perdendo seu caráter revolucionário e limitando-se cada vez mais à luta econômica com independência dos sindicatos com respeito aos partidos políticos; esta postura chamava-se prescindência política. Os promotores da prescindência política eram os sindicalistas, enquanto os socialistas e comunistas se opunham a ela, já que seus interesses estavam diretamente relacionados aos dos seus partidos. Os comunistas, especialmente, se opunham ao reformismo e insistiam na postura revolucionária e na luta de classes20. Para combater o reformismo, o PC criou, em junho de 1929, o CUSC – Comité Nacional de Unidad Sindical Clasista, que funcionou até 1930 como uma virtual central operária concorrente com as outras. Mas, com a criação da CGT, a supremacia desta foi inegável e o CUSC teve que reconhecer que não tinha como concorrer com ela e decidiu participar da unidade sindical, contrariamente à FORA, que se manteve intransigente21.
A proposta de unidade sindical também gerou uma divisão dentro do socialismo. Um grupo de socialistas discordava da prescindência política. Dentro deste grupo, predominavam os dirigentes da UOM – Unión Obreros Municipales, liderados pelo deputado socialista Carlos Pérez Leirós. Por outro lado, outro grupo, predominantemente os dirigentes da UF, era a favor de priorizar a unidade sindical e concordar com os sindicalistas para criar a CGT. Esta divisão se manifestou no XX Congresso Nacional do PS, em outubro de 1929, em que os partidários da unidade se impuseram e os socialistas respeitaram o princípio da independência entre os sindicatos e o partido para chegar a um acordo com os sindicalistas22.
Nos primeiros anos de existência, a CGT orientou-se pela linha sindicalista, e era a maior central operária que existira na Argentina até então23.
4.1. Hegemonia socialista na CGT
A história da CGT no período 1930-1943 pode ser dividida em duas fases: uma que vai até 1935, em que os sindicalistas mantiveram a hegemonia da central; e outra de 1935 em diante, em que a organização foi hegemonizada pelos socialistas com participação dos comunistas. Em 12 de dezembro de 1935, membros da Mesa Diretiva da UF, junto aos principais líderes de vários sindicatos tomaram a sede da CGT da Rua Independencia, e os dirigentes depostos tiveram que se transferir para a sede da FOET – Federación de Obreros y Empleados Telefónicos, na Rua Catamarca. Isto foi conhecido como golpe de 1935, o primeiro “golpe” operário na história da Argentina24. A partir de então, os sindicalistas perderam a hegemonia, mas não perderam totalmente o poder dentro da central operária25. As centrais ficaram conhecidas como CGT de Independencia – socialista com participação dos comunistas – e CGT de Catamarca – sindicalista. A primeira manteve a hegemonia na maioria dos sindicatos. Esta divisão foi consequência dos conflitos entre sindicalistas e socialistas. Entre as causas da ruptura, está a desigual representação nos órgãos da central, em que os sindicatos com maior número de filiados – predominantemente socialistas – não tinham a representação adequada. Outro motivo do desacordo foi a discrepância na elaboração do estatuto da CGT, em que a proposta sindicalista eliminava toda possibilidade de interferência do PS na política da central, em virtude do princípio da prescindência política, o que desagradou aos socialistas26.
Em 1937, a CGT de Catamarca adotou o nome de USA – Unión Sindical Argentina27, igual ao da antiga central sindicalista, enquanto a CGT de Independencia voltou a ser a CGT.
Após o golpe, surgiu uma nova divisão no seio da CGT de Independencia. Esta permitiu a participação de membros do PS e do PC em sua direção, mas sem que os partidos interferissem na política da CGT, nem que fizessem propaganda partidária nos sindicatos. Mas, precisamente porque o golpe foi visto como obra dos socialistas, a nova direção preferiu não vincular diretamente a central ao PS; ademais, como também era aceito o PC, a CGT devia se manter equidistante de ambos partidos. Assim, um grupo liderado por José Domenech, secretário-geral da CGT de Independencia, se declarava a favor da aceitação dos partidos, mas não de sua intervenção na política sindical, o que os aproximava da postura dos sindicalistas; por outro lado, o grupo liderado por Pérez Leirós, que era deputado nacional e mais vinculado ao PS, promovia a vinculação partidária dos sindicatos28.
Nesta nova fase da história do movimento operário, as reivindicações trabalhistas encontraram nexo com reivindicações nacionais. A partir de 1936, houve um movimento anti-imperialista por causa da atitude do governo argentino de conceder privilégios ao capital britânico, em especial, no que se refere ao monopólio inglês dos transportes públicos. Mesmo com suas discrepâncias, as diferentes organizações de trabalhadores convergiram no ataque ao imperialismo. Desse modo, gestou-se um sentimento nacionalista unido à luta sindical29.
Por seu lado, os comunistas consideravam que o movimento sindical devia acompanhar o político e sua ação devia estar unida à dos partidos, particularmente à do PC. Entretanto, os comunistas eram minoria no movimento sindical e sua ação não afetava significativamente a do movimento operário. Ademais, o comunismo baseava sua ideologia na luta de classes; esta ideia não encontrava adesão na sociedade argentina da época, devido à mobilidade social existente30.
A postura do movimento operário frente ao fascismo gerou outra divergência. Enquanto os socialistas e comunistas incitavam o discurso antifascista como modo de integrar a classe trabalhadora em uma luta política, além do plano puramente econômico, os sindicalistas não se pronunciavam sobre essa questão, ou o faziam timidamente. O comunismo argentino mudou para uma política de aproximação com os socialistas quando o comunismo europeu iniciou sua política de Frente Popular junto às forças democráticas contra o fascismo, e os socialistas aproveitaram a aliança com os comunistas para unir forças no enfrentamento com os sindicalistas da CGT de Catamarca. O discurso antifascista guiou o socialismo e o comunismo a uma luta pela defesa da democracia, aproximando-os de partidos “burgueses” de tendência pró-democrática, como a UCR e o PDP – Partido Demócrata Progresista31. A partir de 1939, a eclosão da Segunda Guerra Mundial acentuaria a defesa da democracia contra o fascismo. No caso dos comunistas, no início, o discurso era mais anti-imperialista do que antifascista, acusando tanto o nazi-fascismo como o capitalismo liberal de serem imperialismos; mas, com a entrada da URSS na guerra contra o Eixo, em 1941, o comunismo adotaria o discurso mais antifascista32.
Em março de 1943, um novo conflito dentro da CGT levou-a a se dividir novamente. A origem dessa nova divisão está no enfrentamento que existia entre os socialistas da CGT. A linha liderada pelo secretário-geral Domenech – que era socialista – defendia a independência da CGT com respeito ao PS. A outra linha, liderada por Pérez Leirós – também socialista, e apoiada pelos comunistas – posicionava-se a favor do envolvimento sindical com a política partidária. Na reunião de 10 de março do Conselho Confederal da CGT, elegeram-se novos dirigentes. Em um primeiro momento, a vitória foi para a chapa nº 2, de Pérez Leirós, por 23 votos a 22, derrotando a chapa nº 1, de Domenech. Um dos representantes da UF, chamado Marcos D. Lestelle e filiado à UCR, votou na chapa nº 2, contrariando a orientação do seu sindicato, pelo que a validade do seu voto foi questionada e a votação suspensa a pedido da UF. Lestelle foi substituído por Juan Rodríguez, que, em uma nova votação, votou na chapa nº 1, dando a vitória para esta por causa da diferença de um voto. Isto provocou a divisão da central em duas, que foram numeradas de acordo com o número das respectivas chapas. Assim, surgiu a CGT nº 1, liderada por Domenech, e a CGT nº 2, liderada por Pérez Leirós33.
O movimento operário, nessa situação, aguardava o resultado das eleições presidenciais de 1944, em que o socialismo e o comunismo apoiavam a formação da Unión Democrática junto a outros partidos de tendência democrática e antifascista. Porém, a Revolução de 1943 mudaria o rumo da história.
5. Perón na Secretaria de Trabalho e Previdência Social
5.1. A Revolução de 1943
Em 4 de junho de 1943, o Exército Argentino efetivou um golpe de Estado, conhecido como Revolução de 43, contra o governo do presidente Ramón S. Castillo. O golpe foi articulado por uma fraternidade dentro do Exército chamada GOU, sigla cujo significado mais provável era Grupo de Oficiais Unidos, a qual contava com elementos simpatizantes do nazi-fascismo. O ministro da Guerra do governo de Castillo, o Tenente-General Pedro Pablo Ramírez, era membro do GOU e um dos articuladores do golpe, e tornou-se presidente da República após a Revolução de 43. Também fazia parte do GOU o Coronel Juan Domingo Perón, cujo protagonismo nos anos subsequentes não era sequer imaginado naquele momento.
O governo deposto tinha um grande desprestígio em vários setores da sociedade. De fato, Castillo adotara um modo autoritário de governo que lhe fez perder adesões dentro da própria base governista, além dos grupos da oposição. Tanto o governismo como a oposição se inclinaram, naquele momento, pela intervenção militar34.
A posição da Argentina na Segunda Guerra Mundial também teve influência no golpe. A neutralidade argentina distanciava-a dos EUA. A potência norte-americana, que se encontrava em ascensão, proibiu a exportação de equipamentos elétricos, produtos químicos e outros artigos para a Argentina, após esta confirmar sua posição de neutralidade na Terceira Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas no Rio de Janeiro, em janeiro de 1942. Diante desta situação, um setor da burguesia formado pelos industriais, cerealistas e financeiros, que precisavam de maquinários e equipamentos, manifestavam a necessidade de se aproximar dos EUA; por outro lado, pecuaristas e fazendeiros, o setor dominante nos anos da restauração conservadora35, mostravam-se resistentes a essa aproximação. Entretanto, para as eleições presidenciais de 1944, o conservadorismo propôs a candidatura de Robustiano Patrón Costas, homem inclinado pela colaboração com os EUA e favorito para vencer o pleito eleitoral. Mas a Revolução de 43 fechou o caminho das eleições, e a aproximação dos EUA parecia ficar mais distante36.
A impopularidade de Castillo devia-se, em grande parte, a que era o continuador da “década infame”, ou da época da “restauração conservadora”, como foi conhecido o período de 1930 a 1943. Uma das características dessa época foi a chamada “fraude patriótica”, que consistia na manipulação das eleições por meios ilícitos para garantir que o conservadorismo permanecesse no governo. Nesse período, os conservadores governaram em favor das classes patronais, principalmente dos fazendeiros agropecuários, chegando a assinar tratados que violavam a soberania econômica argentina para preservar os negócios dos agroexportadores, em detrimento das demandas dos trabalhadores. Mesmo depois da recuperação econômica na segunda metade da década de 1930, não houve uma distribuição da riqueza que beneficiasse à classe trabalhadora e as manifestações operárias foram reprimidas na maioria das vezes.
A submissão aos capitais estrangeiros, principalmente britânicos, fez com que as reivindicações dos trabalhadores adquirissem um tom nacionalista e anti-imperialista. Nos anos prévios à Revolução de 43, os sindicatos se desenvolveram “no clima hostil da restauração conservadora37”. Isso contribuiu para que vastos setores da classe trabalhadora recebessem com beneplácito a revolução, cujos executores manifestavam um espírito nacionalista. O manifesto revolucionário afirmava que o governo de Castillo defraudara “as esperanças dos argentinos ao adotar como sistema a venalidade, o peculato, a fraude e a corrupção38”.
O movimento operário mostrou interesse na Revolução de 43, em contraste com a indiferença mostrada na Revolução de 193039. Tanto a CGT nº 1, quanto a CGT nº 2 e a USA receberam-na com muito entusiasmo. Uma delegação da CGT nº 2, integrada por Pérez Leirós e Ángel G. Borlenghi, entrevistou-se no dia 6 de julho com o ministro do Interior para exigir a liberdade sindical e a ruptura de relações com o Eixo40. Mas, em 10 de julho, o governo dissolveu a CGT nº 2, que estava mais fortemente vinculada aos partidos Socialista e Comunista, e começou a prender seus membros e fechar seus escritórios. Enquanto isso, a CGT nº 1 aproximou-se dos representantes governamentais, oferecendo-lhes apoio e colaboração. Pérez Leirós e Borlenghi seguiram os passos da CGT nº 1 e procuraram manter boas relações com o governo da Revolução de 4341. Finalmente, com o desaparecimento da CGT nº 2, a CGT nº 1 voltou a ser simplesmente a CGT.
No entanto, a aliança entre a CGT e o governo militar desmanchou-se rapidamente, devido às intervenções oficiais na política sindical. Quando os trabalhadores se afastaram do novo governo, este precisou de uma mudança na relação com o operariado. Essa mudança foi oferecida por Juan D. Perón42.
5.2. Primeiros contatos de Perón com os sindicatos
Perón iniciou sua trajetória no governo de Pedro P. Ramírez como chefe da Secretaria do Ministério da Guerra. Em 27 de outubro de 1943, assumiu a direção do Departamento Nacional do Trabalho, acumulando os dois cargos. Porém, desde junho já estava se articulando com os trabalhadores. Através de seu amigo e colaborador no Ministério da Guerra, o Tenente-Coronel Domingo Mercante, aproximou-se dos dirigentes ferroviários. Perón se conectou com os ferroviários por meio das vinculações de Mercante com Francisco Pablo Capozzi, membro de La Fraternidad, e seu irmão Hugo Mercante, membro da UF43.
“Perón via na CGT nº 1 um importante instrumento para atrair e controlar os sindicatos a partir do aparelho do Estado44”. A nova política social formulada por Perón despertou “a curiosidade de uns dirigentes sindicais preocupados com a sua sobrevivência, [e nesse projeto], os únicos que desertam, no seu começo, são os comunistas, que preferem denunciar os traços autoritários e as simpatias filo-fascistas do regime militar45”.
Um mês depois da designação de Perón para o Departamento Nacional do Trabalho, foi criada a Secretaria de Trabalho e Previdência Social, sendo Perón o seu primeiro titular. No final de outubro, o Tenente-Coronel Mercante foi nomeado interventor na UF e La Fraternidad46. Com a intervenção de Mercante, a UF reincorporou-se à CGT, pois havia sido afastada da central em agosto47.
A partir desse momento, estaria iniciada uma nova etapa nas relações entre sindicalismo e Estado; em termos políticos, abria-se o processo de origens do peronismo que, no plano sindical, estaria centralizado basicamente nas organizações que constituíram a CGT Nº 1 e a USA, com aportes importantes de alguns sindicatos filiados à CGT Nº 2 e a maioria dos sindicatos autônomos48.
Iniciou-se uma relação amigável entre Perón e os dirigentes sindicais, mas também de repressão aos que não aderiam à sua política.
5.3. Captação dos dirigentes e repressão aos opositores
Perón aproximou-se dos sindicatos atendendo a suas demandas, mas também iniciou uma repressão àqueles que não estavam dispostos a se engajar na sua base de apoio. O setor mais perseguido foram os comunistas. Como modo de solucionar uma greve dos trabalhadores de frigoríficos, Perón libertou José Peter, um dirigente comunista da FOIC – Federación de Obreros de la Industria de la Carne – que se encontrava preso. Isto foi suficiente para que os trabalhadores finalizassem a greve; mas, em 21 de outubro de 1943, Perón mandou fechar o escritório do sindicato grevista49. Sem que se saiba qual foi o motivo dessa decisão, é provável que haja sido tomada no contexto da repressão aos comunistas, muito ativos na FOIC. No mesmo mês, foi estabelecida uma lei segundo a qual “só os sindicatos reconhecidos oficialmente pelo governo podiam representar os trabalhadores nos convênios coletivos50”. Em dezembro, Perón suspendeu essa lei, mas a sua aplicação continuou vigorando.
Perón aspirava organizar um movimento popular que abrangesse vários setores da sociedade. No início do governo da Revolução de 43, procurou a aproximação com o setor mais popular da UCR, através de Amadeo Sabattini, um dos seus dirigentes que mais combateu o conservadorismo na década infame. Mas o regime da Revolução de 43 possuía traços autoritários e clericalistas que o identificavam com o nazi-fascismo – que na Europa estava em vias de ser derrotado. Isto fez com que Sabattini se mostrasse reticente à aproximação com Perón51.
De fato, desde o seu início, a Revolução de 43 mostrou sua face autoritária. Em outubro de 1943, por volta de uma centena de professores e funcionários acadêmicos – dentre os que se encontrava Bernardo Houssay (o qual seria Prêmio Nobel de Medicina em 1947) – foram demitidos por assinar um manifesto a favor da democracia representativa e de uma política de solidariedade americana. Em dezembro, os partidos políticos foram dissolvidos e o ensino religioso obrigatório foi estabelecido. Em 1944, “as prisões continuavam cheias de sindicalistas e militantes comunistas, e muitos sindicatos dessa tendência continuavam banidos52”.
Em janeiro de 1944, o presidente Ramírez rompeu relações com a Alemanha e o Japão. Por conta disso, teve que renunciar, forçado por seus pares do GOU. O novo governo, presidido pelo Tenente-General Edelmiro Julián Farrell, anulou a ruptura de relações com o Eixo e afastou mais a Argentina dos EUA e as forças aliadas. Nesse contexto, os sindicatos, divididos pelos conflitos entre socialistas, comunistas e sindicalistas, voltaram a manifestar a necessidade de unidade contra um regime que se mostrava empenhado em manipulá-los e coagi-los, enquanto as reformas trabalhistas avançavam timidamente53.
A UF estimulou a criação de uma comissão Pró-Unidade Sindical na CGT, a qual encaminhou um manifesto ao governo em 1º de março de 1944, com uma série de reivindicações, ao tempo em que se aproximava dos dirigentes da USA. Perante a falta de resposta e a ameaça de sanções por parte do governo, a CGT fez um chamamento a uma mobilização conjunta de todos os sindicatos para o ato de 1º de maio para manifestar sua oposição. Naquele momento, Perón decidiu apostar com mais força no apoio do movimento sindical, uma vez que fracassou no diálogo com Sabattini54.
O governo proibiu o ato de 1º de maio no último momento para evitar a confrontação com a oposição sindical; porém, naquele dia houve distúrbios na Plaza Once, que resultou em vários feridos e 36 presos, e que o governo atribuiu aos comunistas55. No seu discurso do Dia do Trabalhador, Perón aproveitou a oportunidade para se aproximar do operariado, anunciando uma série de medidas concretas em benefício dos trabalhadores e os setores de menores ingressos da sociedade, tais como a construção de moradias e a ampliação do benefício da aposentadoria a todos os setores trabalhistas56.
Apesar da enérgica oposição sindical, Perón encontrou, desde o início, um apoio firme na UF, sobre tudo no líder da CGT, José Domenech, “que tendia a conseguir as reivindicações propriamente operárias através da negociação com o governo, [e para quem] não havia muito que objetar à política de Perón, que ouvia as exigências dos trabalhadores mais do que qualquer outro antecessor encarregado da política trabalhista do governo57”. À medida que as reivindicações dos ferroviários eram atendidas, eram feitas outras exigências. Em março de 1944, a UF encaminhou ao governo uma lista de 16 pontos em que, além das reivindicações salariais e de condições de trabalho, faziam-se exigências políticas, como a intervenção na Administração Geral do Ferrocarril del Estado (Estrada de Ferro do Estado) ou a criação do Ministério do Trabalho, e que Perón fosse seu primeiro titular. No dia 20 de março, uma mobilização de 30 a 40 mil ferroviários na Plaza de Mayo apresentou a demanda dos 16 pontos, manifestando apoio ao governo, em um ato em que o próprio presidente Farrell saudou os trabalhadores desde a sacada da Casa Rosada58 (a Casa de Governo da Argentina). Essa não foi a única medida em favor dos trabalhadores tomada naqueles dias. Estabeleceram-se o Estatuto do Jornalista e o do Servidor Público; ampliaram-se as funções de assessoria jurídica da Secretaria de Trabalho e a UT – Unión Tranviarios – foi reconhecida como representante dos trabalhadores do transporte urbano. Além disso, dois antigos membros da Comissão Diretiva da UF – A. Fidanza e Luis Girola – foram designados representantes operários na Conferência Internacional do Trabalho59.
O setor sindical ferroviário estava, a essa altura, libertado da ética da prescindência política; mas surgiu dentro da UF uma discrepância entre um setor que aceitava as manifestações de apoio ao governo, liderado por Monzalvo, e outro que rejeitava esse tipo de participação política, liderado por Tesla. Ambos os líderes eram representantes da UF perante a CGT; portanto, essa discrepância dentro do sindicato ferroviário ficou vinculada estreitamente com a discrepância existente na CGT sobre o mesmo problema60.
Havia, em síntese, uma fratura no seio do movimento operário, em que o setor hegemonizado pelos socialistas mais vinculados ao PS e pelos comunistas não aceitava a subordinação a um governo autoritário em troca de concessões que consideravam irrisórias; e, pelo outro lado, o setor liderado por José Domenech, socialista sem maiores compromissos partidários, considerou oportuna uma aliança com Perón para obter benefícios trabalhistas. De qualquer maneira, Perón conseguiu neutralizar os sindicatos opositores apostando toda sua ação na satisfação das demandas trabalhistas, após o fracasso no diálogo com outros setores da sociedade.
O historiador japonês Hiroshi Matsushita aponta para uma polêmica acerca de se as medidas tomadas por Perón beneficiaram apenas os setores do trabalho organizados politicamente ou se abrangeram a todos os trabalhadores, mesmo àqueles não-organizados. Segundo Gino Germani, no sistema de previdência social de Perón, eram beneficiados igualmente os trabalhadores não sindicalizados61. Já para a pesquisadora canadense Louise M. Doyon, as concessões mais importantes foram para os setores que já estavam organizados, como os ferroviários, portuários, bancários, comerciários e gráficos62. De qualquer modo, Perón tinha uma preferência pelos trabalhadores organizados sobre os não-organizados. Esta preferência refletia-se no aumento do número de filiados às organizações trabalhistas e do número de sindicatos surgidos em 1944. Os trabalhadores sabiam da importância da sindicalização para a obtenção de benefícios e Perón sabia da importância de obter o apoio das organizações trabalhistas63.
Em 16 de junho de 1944, Perón decretou a intervenção da UOM – Unión Obreros Municipales, hegemonizada pelos socialistas partidários da vinculação entre o sindical e o político. Com esse ato, mais o controle sobre os dirigentes comunistas, “a linha que acentuava a politização do movimento operário com ideologização – seja o comunismo ou o socialismo – foi praticamente esmagada64”. No mesmo ano, Perón também emitiu vários decretos que fixaram aumentos de salários. Destaca-se o decreto nº 29.392/44, o qual determinou um aumento salarial de 10% para os ferroviários e anulava um decreto do governo de Agustín P. Justo (1932-1938) que ainda vigorava e era conhecido como laudo presidencial de 1934, que estabelecia uma série de medidas sobre a devolução de umas retenções praticadas aos ferroviários desde 1930, na época da crise, e que os trabalhadores o viam como mais prejudicial do que benéfico para eles. Este laudo foi combatido pelos sindicatos do setor por muito tempo. As melhoras não foram apenas no tocante ao salário, mas foram emitidos decretos para melhorar as condições dos trabalhadores no que diz respeito a aposentadoria, previdência social e jornada de trabalho, assim como a participação das organizações operárias nos órgãos de governo vinculados às questões trabalhistas65.
A política seguida por Perón era muito flexível e usava tanto a repressão quanto a atração frente às organizações e os dirigentes. Aqueles sindicatos que se opunham a suas intenções podiam ser desconhecidos ou ter a personalidade sindical cancelada; também podiam ser dissolvidos ou suprimidos (variava de acordo com o clima político, as orientações ideológicas, o grau de ameaça política, etc.). De qualquer maneira, nenhum sindicato que não mostrasse sua disposição de colaborar podia obter algo nos conflitos trabalhistas, na legislação, nos serviços sociais, etc66.
Perón atraiu para si vários dirigentes sindicais que lhe deram seu apoio em troca de benefícios para seus respectivos sindicatos; mas, em muitos casos, não o obteve com facilidade. Ángel G. Borlenghi, dirigente dos comerciários, no início do governo de Ramírez, em 1943, era próximo da posição de Pérez Leirós, para quem a “politização” do movimento operário significava sua vinculação partidária, em particular com o PS, do qual ambos os dirigentes faziam parte. Mas, diferentemente de Pérez Leirós, que fora deputado nacional durante grande parte do período 1932-1943, Borlenghi ocupava uma posição marginalizada dentro do partido. Esta frustração serviu para que Perón o atraísse a seu lado após o decreto 31.665/44, de aposentadoria para os comerciários. Outros apoios importantes foram o de Luis Gay, secretário-geral da USA desde 1939 e dirigente dos trabalhadores telefônicos, e o de Cipriano Reyes, dos trabalhadores de frigoríficos, os quais desempenharam papéis fundamentais na organização do sindicalismo peronista67. Reyes fundaria, em 1945, o Partido Laborista, o qual lançaria a candidatura de Perón, levando-o à Presidência da República em 1946.
Como dito acima, a partir de 1944 houve uma mudança radical na atitude do governo com os trabalhadores. A massa dos trabalhadores sentiu que a Secretaria de Trabalho e o resto dos órgãos estatais trabalhistas, na esfera nacional e das províncias, tornavam-se aliados da classe operária frente aos setores patronais; ao invés das anteriores administrações, em que os governos agiam como defensores dos interesses capitalistas, e o extinto Departamento Nacional do Trabalho era um “engavetador” das demandas operárias.
Mas essa atitude era um empecilho para procurar o apoio dos setores capitalistas, de que Perón também necessitava para seu projeto de conciliação de classes e unidade nacional. A Bolsa de Comércio criticou a política de aposentadorias. Além de tudo, a partir de julho, o governo argentino começou a suportar uma ação “desestabilizadora” do Departamento de Estado norte-americano, que denunciava a falta de colaboração da Argentina no enfrentamento contra o Eixo e fazia ataques à política interna pela falta de liberdades políticas, comparando-a ao nazismo. Assim, o governo militar logo veria que o seu único apoio da sociedade civil provinha do movimento operário68.
5.4. Virada dos trabalhadores para o peronismo
A partir de 1943, o socialismo e o comunismo foram perdendo a adesão dos trabalhadores, os quais manifestavam um crescente apoio a Perón, principalmente a partir de 1944, quando a política governamental em favor dos trabalhadores acentuou-se com a satisfação de demandas há muito tempo exigidas pelo operariado. Enquanto isso, os partidos Socialista e Comunista não encontraram recursos para impedir os trabalhadores de caírem no que eles consideravam ser a “armadilha de um líder demagógico”, e que identificavam com o nazi-fascismo.
A prescindência política fez com que o PS deixasse um vácuo de liderança no movimento operário. Os dirigentes socialistas só convocaram os trabalhadores para a ação política em 1943 para fazer frente ao perigo demagógico de Perón, mas sem sucesso, pois seus dirigentes “careciam de autoridade para fazer objetar a seus filiados as melhorias trabalhistas oferecidas por Perón69”, e os dirigentes socialistas que atuavam na esfera mais sindical do que partidária logo se viram atraídos pela atenção dada por Perón às questões trabalhistas.
A influência dos comunistas sobre o movimento operário nunca foi das mais fortes, mas se enfraqueceu ainda mais pela demasiada atenção dada aos acontecimentos no comunismo europeu e soviético. A virada do PC para a causa democrática por conta da entrada da URSS na guerra abalou a sua atividade sindical. Além disso, o partido sossegou seus ataques a o laudo presidencial de 1934, como visto anteriormente. O laudo só foi revogado por Perón em 1944, e a falta de oposição dos comunistas à referida medida tornou-os menos populares entre os trabalhadores70.
A carência de recursos de mobilização do socialismo e do comunismo esteve relacionada com o vácuo de liderança deixado pelos partidos Socialista e Comunista. A falta de articulação com os sindicatos devia-se, no caso do socialismo, ao princípio da prescindência política, que deixou os trabalhadores socialistas bastante independentes no campo sindical. A posição dos comunistas era contrária à prescindência política, mas sua falta de articulação com os trabalhadores devia-se à sua incapacidade organizativa71.
O peronismo classifica-se dentro do tipo de movimentos nacional-populares latino-americanos – também chamados “populistas”. As características autoritárias e corporativistas da liderança exercida por Perón fizeram com que o seu movimento fosse comparado ao fascismo europeu. Existe um modelo clássico de explicação das orientações das classes operárias. Segundo este modelo, a orientação dos trabalhadores industriais necessariamente conduz a movimentos inspirados em postulados classistas, sejam reformistas ou revolucionários, “nutridos por ideologias de ‘esquerda’ e fortemente impregnados de tendências para a defesa de sua autonomia em relação com as elites políticas de outra origem social72”. Mas o modelo apresenta um problema ao tentar explicar a heteronomia das classes operárias latino-americanas que aderem a movimentos “populistas” autoritários. Para contornar tal problema, o modelo clássico explica essa adesão como uma tendência ao autoritarismo de certos setores sociais, tornados massas “deslocadas” no processo de industrialização, e “disponíveis” para sua manipulação por uma elite. Enquanto que no fascismo europeu aceita-se que esse setor é a classe média baixa73, no nacional-populismo latino-americano a base social de apoio estaria na classe operária emergente típica do desenvolvimento industrial tardio. Existiria, assim, uma “fratura” no interior da classe operária, segundo a qual se faz uma distinção entre operários “velhos” e “novos”, sendo os primeiros majoritariamente de origem europeia e cuja orientação responderia ao modelo clássico, enquanto os segundos seriam os migrantes recentes do campo para a cidade, sem experiência de organização sindical e política, novos não só no trabalho industrial, mas na própria vida urbana, e seriam originários de populações rurais em que existem redutos de conservadorismo tradicional. Esses “novos” trabalhadores, atraídos pela mobilidade social da vida urbana, estariam mais impregnados das experiências de mobilidade ascendente – e isso inclui a ascensão experimentada na migração do campo para a cidade – do que pela “condição operária”; e os “velhos” trabalhadores se encontrariam incapazes de mobilizar e transmitir suas experiências classistas aos “novos” 74. Todavia, essa interpretação nega as continuidades no operariado argentino anterior e posterior a 1943 e os traços nacionalistas do operariado argentino que se registravam na década de 1930, mesmo antes da migração massiva dos “novos” trabalhadores, e parece ignorar o tom classista com que se manifestou o movimento de apoio a Perón a partir de 1945. Murmis e Portantiero relativizam a afirmação de uma ruptura de tradições sindicais no período 1943-1946 e apontam para uma continuidade do movimento operário na gestação do peronismo. Quanto ao movimento sindical que apoiou o populismo, os autores sustentam que, “em linhas gerais, o apoio dos sindicatos ao populismo foi instrumentalizado por uma estrutura sindical essencialmente pré-existente, sem que se possa falar de uma descontinuidade marcada com o passado imediato75”.
Não obstante, há um estereótipo de que o proletariado argentino anterior a 1943 tinha uma ideologia internacionalista, ateia e esclarecida quanto ao ideário marxista revolucionário, tal como o que Juan J. Taccone expressa:
Os atos sindicais daqueles tempos (antes de 1943) davam o entendimento da formação do sindicalismo; não se falava de Deus nem de Pátria, pois sua conformação era ateia e internacionalista: cantava-se a marcha da Internacional à qual o sindicato estava alinhado ideologicamente; hasteava-se a bandeira vermelha, símbolo da insurreição proletária; até o léxico utilizado carregava o mais puro estilo classista e ideológico76.
Perante o tipo de afirmação acima, deve-se atentar para o fato de que entre finais da década de 1930 e início dos anos 1940 já era cantado o Hino Nacional Argentino e era hasteada a bandeira argentina em certos atos de trabalhadores e que, através de decretos dos anos 1933 e 1938, era proibido o uso da bandeira vermelha nas manifestações operárias. Ademais, desde a segunda metade dos anos 30, a CGT e vários sindicatos advogavam pela nacionalização de setores da produção e o desenvolvimento da indústria nacional, e que a transformação do movimento operário foi “muito importante entre 1930-43 quanto a sua crescente tendência para a participação política e o despertar da consciência nacional77”.
Quanto ao pensamento de Gino Germani sobre essa visão estereotipada entre os “velhos” e “novos” setores de trabalhadores.
O velho setor aparecia, aos olhos desse autor (Germani), como naturalmente inclinado a ideologias de classe; majoritariamente descendente de uma imigração estrangeira, portava um caráter autônomo, possuía uma extensa tradição político-sindical e tinha uma relação de longa data com o mundo urbano e a produção industrial. Contrariamente, os novos trabalhadores, provenientes de uma migração interna desde as províncias rurais, mostravam-se carentes daquelas experiências78.
As afirmações precedentes atribuem um peso excessivo à participação dos trabalhadores “novos” na construção do peronismo. Esses trabalhadores “novos” estariam organizados por dirigentes “novos” sem experiência política, e estes dirigentes teriam constituído a base de apoio a Perón, por meio de um novo sindicalismo organizado a partir da estrutura do Estado. Deste modo, os “velhos” dirigentes teriam sido desbordados por essas massas de “novos” trabalhadores. Mas esse tipo de análise nega os processos históricos da origem do peronismo, em que os “velhos” dirigentes sindicais tiveram um papel fundamental79.
Sobre as afirmações acerca do movimento operário anterior a 1943, Hugo Del Campo observa que as primeiras histórias desse período escritas com finalidades ideológicas por militantes socialistas e comunistas
foram a principal fonte de inspiração e informação para quase todos os autores que, com ou sem motivações políticas manifestas, ocuparam-se posteriormente do tema. Só as escritas por militantes anarquistas ou sindicalistas trazem abundante informação sobre essas tendências80.
Mas, pela ausência de forças políticas reivindicatórias do anarquismo ou o sindicalismo, “poucos são os que tentaram retificar [...] uma imagem convencional da história de nosso movimento operário (o argentino) modelada sobre a interpretação socialista-comunista81”.
Nos anos anteriores a 1943 já se manifestavam as estruturas que possibilitaram o surgimento do peronismo. Ricardo Sidicaro explica a adesão da classe trabalhadora ao peronismo através de quatro conjuntos de referências conceituais. O primeiro é a crise de dominação social que se estabelecera na Argentina desde 1930. Esta crise correspondia com o “fim da hegemonia da grande burguesia agrária82”, sem que pudesse propor um projeto social que contasse com o consenso das classes subalternas. O segundo conjunto refere-se à ampliação da esfera de intervenção estatal nos anos 1930, com a criação de um Estado Intervencionista, a fim de preservar os interesses da grande burguesia agrária, e que o governo da Revolução de 43 acrescentou incorporando funções sociais do tipo welfare. Em terceiro lugar, nessas condições constituíram-se os primeiros setores políticos chamados promotores do peronismo; os quais convocavam a todas as classes sociais a se identificarem com o programa do novo governo, mas, no período 1945-46, acabou constituindo-se em uma nova força política que teve como base a classe operária industrial e outros setores subalternos. O quarto e último conjunto é o que diz respeito à intensa politização dos conflitos sociais presentes na sociedade argentina da época. Assim, os conflitos sociais existentes na sociedade argentina encontravam uma correspondência na esfera política83.
Em meados de 1944, a maioria dos sindicatos continuava sendo hostil à política de Perón. Mas, em maio de 1944, a Comissão Administrativa da CGT aceitou participar do ato oficial de 24 de maio, com motivo da comemoração da Revolução de Maio84. Esse ato significou uma mudança drástica na relação entre o movimento operário e o governo85.
6. Outubro de 1945 e campanha presidencial
6.1. Mobilização da oposição e reação dos trabalhadores
No final de 1944, percebia-se uma tensão entre a política trabalhista de Perón e o empresariado industrial. Uma nota da UIA – Unión Industrial Argentina, encaminhada a Perón em dezembro de 1944, dizia ao secretário de Trabalho que estava cometendo um erro com a política demasiado concessiva aos trabalhadores e não havia motivos suficientes para a mesma. Segundo a entidade, não havia na Argentina uma verdadeira luta de classes nem o perigo comunista como nos modelos europeus, enquanto Perón advertia aos industriais que “muitos sindicatos contavam com 40% de dirigentes comunistas ou comunizantes86”. Em 1945, os industriais mostraram-se cada vez mais intransigentes com a política governamental. No início de abril, foram demitidos em massa 12.000 trabalhadores da indústria frigorífica nas cidades de La Plata e Rosário87.
A CGT reagiu imediatamente convocando a todos os sindicatos para a defesa das conquistas trabalhistas. Muitos sindicatos que estavam fora da CGT se incorporaram com o objetivo de aumentar o tamanho da central, que na época estava diminuída. Naquele ano de 1945, a CGT começou a abandonar o conceito de aliança de classes e a esgrimir o discurso da luta de classes, em concordância com a polarização criada na política argentina em torno de Perón, o qual acentuou a crítica aos capitalistas e adotou um discurso mais pró-trabalhista. O próprio Perón dizia que “a Secretaria de Trabalho e Previdência entrará para a história como a ponte magnífica da evolução da burguesia ao domínio das massas88”. Porém, Perón não abandonava o conceito da aliança de classes.
Em 16 de junho de 1945, foi publicado em diversos jornais o Manifesto do Comércio e da Indústria, assinado por 300 entidades, em que a Secretaria de Trabalho e Previdência Social era acusada de ser a causante da “agitação social89”. O Manifesto causou a oposição dos trabalhadores, que se mobilizaram rapidamente.
Em 12 de julho de 1945, realizou-se um comício da CGT, em que, segundo Félix Luna, “os participantes se identificavam a si próprios como ‘peronistas’90”, inclusive levavam faixas com a inscrição “Perón Presidente”. No evento, os sindicatos fizeram uma demonstração de força como não se via desde o início do século XX, e “usavam a linguagem clássica do anarquismo de início do século91”, denunciando a ganância dos capitalistas. Também se afirmava a necessidade de que os trabalhadores gravitassem “na solução dos problemas políticos, econômicos e institucionais da República92”, como clamava Ángel Borlenghi, um dos oradores do comício. A partir desse momento, aumentou o número de sindicatos que exteriorizaram seu apoio a Perón, mas também gerou uma forte oposição em alguns setores do operariado, refletindo a polarização no movimento operário93.
Os sindicatos opositores a Perón criticaram o comício de 12 de julho pela politização do movimento operário, e afirmavam a necessidade de uma “prescindência leal na ordem política, por ser esta a única forma de conservar a unidade respeitando as divergências ideológicas pessoais94”. Em 5 de setembro, três sindicatos desfiliaram-se da CGT: La Fraternidad, o Sindicato Obrero Textil e o Sindicato del Calzado; enquanto a Confederación General de Empleados de Comercio (sindicato dos comerciários) retirou seus representantes da CGT95, em protesto pela colaboração da central com o autoritarismo do governo e por contrariar os princípios sindicais apoiando uma eventual candidatura de Perón96.
Chegou-se a uma situação de grande convulsão. Um correspondente do New York Times em Buenos Aires acusava Perón de incitar uma guerra civil, ao tempo que declarava que estava perdendo “o escasso apoio com que contava [e agora o governo procurava] chegar a um acordo com os comunistas [e que] milionários estão se unindo a anarquistas, comunistas e socialistas97”. O ex-senador socialista Alfredo Palacios, exilado no Uruguai, acusava Perón de usar a violência para dominar os sindicatos98.
Mas o desejo de participação política dos trabalhadores foi crescendo, e a realização desse desejo parecia ser possível através do alinhamento com Perón. Em uma declaração de 28 de julho, a CGT sugeria como exemplo de participação política operária o Partido Laborista britânico99, que ganhara as eleições daquele mesmo mês, vencendo o conservador Winston Churchill e elegendo Clement Attle como primeiro-ministro. Assim, ficava proposta a organização política do operariado peronista.
6.2. Encarceramento e libertação de Perón
Em meados de 1945, o clima de polarização crescia, não só na opinião pública, mas dentro do movimento operário entre o grupo pró-politização e o pró-prescindência. O fim da Segunda Guerra Mundial, com a derrota do nazi-fascismo, fez mudar os rumos do governo da Revolução de 43, que começou a procurar a normalização institucional, a ruptura do isolamento diplomático e a sucessão constitucional100. Em 6 de agosto, foi revogado o estado de sítio que fora assinado em 16 de dezembro de 1941 pelo então presidente Ramón Castillo. A medida foi anunciada pelo flamante ministro do Interior Hortensio J. Quijano, recentemente expulso da UCR por aceitar o cargo101. Em 1946, Quijano seria eleito vice-presidente da República junto com a eleição de Perón como presidente.
Após o fim do estado de sítio, a oposição se manifestou organizando a Marcha da Constituição e da Justiça em 19 de setembro de 1945. A manifestação marchou com o lema da entrega do governo à Suprema Corte de Justiça. O governo reagiu à Marcha restabelecendo o estado de sítio e ocupando policialmente as universidades. O restabelecimento da política repressiva atingiu, dessa vez, também os setores militares que compactuassem com a oposição civil e conspirassem contra o governo102.
Um setor militar ouviu as reclamações da oposição e, em 9 de outubro, um levante no quartel de Campo de Mayo liderado pelo General Eduardo J. Ávalos, comandante da unidade, exigiu a renúncia de Perón a todos os seus cargos103, pois era considerado o homem forte do regime. Perón decidiu acatar a exigência, apesar da insistência dos dirigentes sindicais para que resistisse; mas ainda ficaram no governo homens do seu entorno. Os sindicatos ficaram em estado de alerta, temendo perder as conquistas obtidas, e na mesma noite do dia 9, reuniu-se sigilosamente um grupo de 70 dirigentes e militantes sindicais no campo de esportes do Sindicato de Cerveceros na cidade de Quilmes. Na reunião, foi designada uma comitiva para se entrevistar com Perón. A entrevista aconteceu no dia seguinte e a comitiva sugeriu a Perón que se despedisse publicamente dos trabalhadores. No mesmo dia 10, Perón se despediu em um comício que, inclusive, foi transmitido pela rede estatal de rádio, o que mostrava as ambiguidades dentro do governo naqueles dias104.
Mas os confrontos entre o governo e a oposição continuaram. O General Ávalos tornou-se o novo ministro da Guerra e o homem mais poderoso do governo, pois o presidente Farrell perdera a autoridade. Ávalos decidiu pôr fim a todo resto de poder de Perón removendo do gabinete todos os homens de confiança do ex-secretário. No dia 13 de outubro, os sindicatos receberam a notícia de que Perón fora preso na ilha Martín García, onde funcionava um presídio que era destino comum dos presos políticos, e sentiram que já não contariam com o apoio do Estado na defesa das suas reivindicações. A cúpula da CGT solicitou uma entrevista com Ávalos para esclarecer o que estava acontecendo. O secretário-geral da central, Silverio Pontieri, obteve a entrevista em que o ministro declarou que Perón estava sob custódia e não preso, pois o governo temia por sua vida e que as conquistas trabalhistas seriam respeitadas e inclusive melhoradas. Pontieri não achou motivos para duvidar dessas palavras, pois Ávalos fora membro do GOU e um dos homens que acompanhou Perón na sua ascensão política105.
No dia 15, reuniu-se a CA da CGT para discutir a declaração de greve geral pela defesa das conquistas, enquanto solicitava uma entrevista com o presidente Farrell. Ao mesmo tempo, correu a notícia de que Perón fora transferido ao Hospital Militar aparentemente doente. Os partidários da greve espalharam a proposta nas empresas para sua discussão entre os trabalhadores. A CA da CGT aprovou a greve, marcada para o dia 18. No dia 16, reuniu-se o Comitê Central Confederal da central para deliberar sobre a greve, enquanto Pontieri se entrevistava com Farrell manifestando as inquietações dos trabalhadores pela nomeação de um novo gabinete conformado por membros das elites. Na reunião, o presidente pediu aos trabalhadores um prazo para normalizar a situação106.
No movimento operário, houve duas posturas: uma liderada por Pontieri e a direção da UF, que pedia cautela e a suspensão da greve para não atrapalhar as negociações com o governo; e outra, formada por vários sindicatos – federados na CGT e autônomos – que tinha como principal referente Cipriano Reyes e que pedia a imediata mobilização em defesa das conquistas, mostrando desconfiança nas declarações do governo. No dia 16, enquanto o CCC da CGT se reunia, grupos de trabalhadores mobilizados chegaram à Plaza de Mayo aguardando a definição do comitê. Inclusive, vários dirigentes se mostraram preocupados pelo grau de agitação e apreensão dos trabalhadores mobilizados, temendo perder o controle do movimento. Após saber que o CCC aprovara a greve, as colunas de trabalhadores se lançaram às ruas no dia 17 de outubro, antecipando a mobilização em um dia, em um acontecimento que foi interpretado de modos diversos. Para o jornal Crítica, tratava-se de “grupos isolados que não representam o autêntico proletariado argentino107”, enquanto que para o La Época, os manifestantes compartilhavam a “comum emoção de uma democracia em marcha108”. Ante tal mobilização, que exigia a liberdade de Perón, o governo libertou o ex-secretário, o qual exigiu a nomeação de homens da sua confiança no gabinete, em que Domingo Mercante foi nomeado secretário de Trabalho e Previdência Social109.
Existem, no meio acadêmico, duas versões acerca dos acontecimentos de 17 de outubro de 1945. Uma defendida por Germani, que sustenta a tese da espontaneidade dos trabalhadores naquela jornada, com uma participação pouco importante dos dirigentes e sindicatos “velhos”. Segundo Germani, “os dirigentes e as organizações foram desbordados pela ação coletiva das massas110”.
A outra versão destaca o caráter organizado da mobilização. No parecer de Torre, “quem pôs o acento na ‘espontaneidade’ dos acontecimentos de 17 de outubro, não reparou em um fato que se impõe de imediato e remete diretamente à obra de uma vontade organizadora: a sincronização da mobilização operária111”.
De fato, houve certa espontaneidade dos trabalhadores nos fatos de outubro de 1945, mas a CGT não foi alheia a esse movimento. Embora a CGT não tenha sido agitadora, cumpriu um papel canalizador da mobilização. Matsushita é crítico à análise de Germani, que caracteriza a mobilização de 17 de outubro, clamando pela liberdade de Perón, como a ação dos operários “novos”, migrantes do interior, os chamados cabecitas negras112; e em que os dirigentes “velhos”, em sua maioria estrangeiros ou filhos de imigrantes estrangeiros, e verdadeiros representantes do proletariado esclarecido e revolucionário, se opuseram à defesa de Perón. O esquema de Germani é simplista e carente de evidências firmes, e obedece mais a um estereótipo acerca dos operários “novos” e “velhos” na Argentina das origens do peronismo113.
6.3. O Partido Laborista
Em 24 de outubro de 1945 ficou formalmente fundado o Partido Laborista, sendo Cipriano Reyes seu chefe, depois de que no dia 18 já fosse manifestado o propósito de fundar um partido político dos partidários de Perón. O PL reuniu dirigentes provenientes do socialismo, como Borlenghi; do sindicalismo, como Gay; e outros como Reyes, de origem mais difusa114. Na oposição sindical a Perón convergiram socialistas, comunistas e sindicalistas. Os sindicalistas da linha mais tradicional, que sustentavam a prescindência política, se opuseram ao apoio a Perón por causa da demasiada politização que tal apoio significava. Os comunistas, por outro lado, se opuseram porque o peronismo não significava uma politização em torno de um partido classista revolucionário115.
As eleições, incialmente marcadas para abril de 1946, foram antecipadas para fevereiro, o que beneficiaria a Perón, pois dava à oposição menos tempo para se organizar116. O PL apresentou-se com um programa nacionalista e anti-imperialista que oferecia ao operariado a identificação com a ideia de independência econômica e política do país. “Tal desejo de participação e o sentimento nacional não foram impostos por Perón, mas já existiam no movimento operário antes de 1943117”.
A oposição política ao PL, formada por socialistas, comunistas e radicais, se aliou na UD – Unión Democrática, que apoiou José Tamborini como candidato a presidente. Os conservadores tiveram que apoiar a UD de fora, pois os radicais intransigentes desaprovaram a inclusão deles na coligação118.
Um fator determinante no resultado das eleições foi a ingerência da embaixada norte-americana, a qual atacou Perón, através de Spruille Braden, quem fora embaixador de maio a setembro de 1945. Em fevereiro de 1946, pouco antes das eleições, foi publicado o “Livro Azul”, em que a embaixada norte-americana acusava o governo, do qual Perón fizera parte, de colaboração com o nazismo, e que foi contestado pelo governo em uma mensagem radial pronunciada pelo ministro das Relações Exteriores, Juan Isaac Cooke, em que declarou serem falsas as acusações do Livro Azul veiculadas pela imprensa e que só tinham um propósito eleitoralista119. Esse intrometimento dos EUA serviu para que o PL firmasse seu caráter nacionalista, com o lema “Braden ou Perón”, e ganhasse mais adesão entre os trabalhadores.
Após a vitória eleitoral de 24 de fevereiro de 1946, Perón começou a expressar seu caráter autoritário. Para levar adiante os seus propósitos, Perón necessitou se livrar daqueles dirigentes que sustentavam a independência do movimento operário respeito da política. Para isso, precisou substituir esses dirigentes por outros mais comprometidos com os objetivos de Perón120.
Após as eleições, Perón ordenou a dissolução da coligação que levou à vitória do PL, que além deste, estava formada pela Unión Cívica Radical-Junta Renovadora (uma dissidência da UCR) e por diversos partidos independentes. Estes partidos deviam dissolver-se para formar o PURN – Partido Único de la Revolución Nacional. A justificativa disso era a criação de um partido organicamente estruturado e livre de fraturas internas121. O PL foi resistente à dissolução; por tanto, foi intervindo e seu chefe, Cipriano Reyes, encarcerado. Mas a resistência dentro da CGT à centralização de Perón foi esmagada em janeiro de 1947, quando o seu secretário-geral, Luis Gay, que procurava manter a central independente do governo, com Perón sendo já presidente, foi acusado de traição por supostamente querer vincular a CGT a uma central norte-americana. Gay teve que renunciar pressionado em 26 de janeiro, e retirou-se ao exílio no interior do país122.
7. Conclusão
Antes de 1943 já existia uma tendência nacionalista e anti-imperialista no movimento operário. Esta tendência, concordante com a defesa das reivindicações trabalhistas, colaborou para que os sindicatos manifestassem suas simpatias pela Revolução de 43. A insatisfação que o operariado sentia em suas demandas foi aproveitada por Perón para levar adiante uma política de aproximação dos sindicatos. Mas esta aproximação aconteceu com muitas dificuldades e conflitos. Ao tempo em que Perón atraía dirigentes sindicais ao seu lado oferecendo conquistas trabalhistas, reprimiu e perseguiu os que não estavam dispostos a colaborar. Assim, atraiu aqueles dirigentes mais pragmáticos, dentre os quais havia sindicalistas e socialistas que não possuíam fortes vínculos com o PS; enquanto, dentre os dirigentes opositores a Perón, estavam os comunistas, os socialistas mais vinculados ao PS e sindicalistas que se mostravam fiéis ao princípio da prescindência política.
Perón pretendia construir uma força política que abrangesse vários setores sociais. Não obstante, muitos setores, defensores da democracia representativa e pró-aliados, eram reticentes a ter trato com o governo da Revolução de 43, por este possuir características que o identificavam com o nazi-fascismo. Deste modo, para 1944, o governo só contava com o movimento operário como apoio civil.
Em 1945, Perón, exercendo três cargos, era o homem forte do governo, e a polarização em torno dele adquiriu seu ponto mais candente, tanto na opinião pública quanto no movimento operário. A oposição a Perón foi constituída pela burguesia, que considerava a sua política concessiva demais para os trabalhadores, e por um setor do movimento operário, que o achava um líder demagógico e que a mobilização em torno de sua liderança não representava uma autêntica politização trabalhista. Em contrapartida, outro setor dos trabalhadores via no apoio a Perón sua única oportunidade de participar da vida política do país e de defesa das conquistas obtidas.
Perón chegou à Presidência da República Argentina por meio de uma aliança com dirigentes que ansiavam engajar o movimento operário nos destinos políticos do país, mas, em seu projeto, os trabalhadores deviam estar subordinados à sua liderança. Por isso, ao chegar à presidência, procurou se desvencilhar daqueles dirigentes que não aceitavam tal subordinação e os substituiu por outros mais dispostos a acatar seu projeto.
Em síntese, os traços nacionalistas e pragmáticos dos dirigentes sindicais que construíram o apoio a Perón não representavam uma completa ruptura de tradições no movimento operário, que supostamente antes de 1943 seria classista, internacionalista e ideologizado em torno de um projeto revolucionário, como pretende o modelo clássico de esquerda. De fato, existiram dirigentes vinculados à esquerda mais ideologizada que foram contrários à influência de Perón sobre os trabalhadores, mas que não tiveram uma articulação suficiente com os sindicatos nem um projeto trabalhista alternativo que pudesse concorrer com o projeto peronista. Em suma, na gestação do sindicalismo peronista houve, mormente, uma continuidade de tendências que já se manifestavam no operariado antes de 1943.
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1 Deve se entender o termo “sindicalista” no sentido de “aderente à linha ideológica chamada ‘sindicalista’”.
2 Os autores referidos que utilizam os conceitos de “velhos” e “novos” aplicados aos dirigentes e trabalhadores, assim como os conceitos de “velha” e “nova” guarda sindical, são os referenciados neste trabalho, como Miguel Murmis e Juan Carlos Portantiero, Gino Germani, Juan Carlos Torre ou José Luis Bendicho Beired.
3 As principais fontes utilizadas para traçar o percurso histórico do movimento operário argentino foram as obras de H. Matsushita e J. L. B. Beired referenciados neste trabalho. Também foram de grande utilidade para o detalhamento histórico dos fatos as obras de J. C. Torre e H. Del Campo.
4 O substantivo “central” é utilizado neste trabalho no sentido de “central operária”, ou seja, uma associação de sindicatos.
5 BEIRED, José Luís Bendicho. O movimento operário argentino: das origens ao peronismo (1890-1946). São Paulo: Brasiliense, 1984, p.11-2.
6 Ibid., p.20-3.
7 Ibid., p.14.
8 Para compreender melhor as resoluções dos congressos da FORA e suas aproximações com os sindicalistas da UGT, cf. SANTILLÁN, Diego Abad de. La Federación Obrera Regional Argentina: Ideología y Trayectoria. Buenos Aires: Nervio, 1933.
9 MATSUSHITA, Hiroshi. Movimiento Obrero Argentino. 1930-1945: Sus proyecciones en los orígenes del peronismo. Buenos Aires: Hyspamérica, 1986, p.30-6.
10 BEIRED, op. cit., p.31-44.
11 Id.
12 A 3ª Internacional foi fundada em 1919 em Moscou com o objetivo de organizar o movimento comunista de tendência marxista-leninista ou pró-soviética.
13 La Internacional, VII, 906 (15-fev-1924), p.1, IX, 1240 (3-mar-1926), p.1. In: MATSUSHITA, op. cit. p.38.
14 MATSUSHITA, op. cit., p.37-9.
15 BEIRED, op. cit., p.55.
16 MATSUSHITA, op. cit., p.53-70.
17 GASPARRI, Mario. El Congreso General Constituyente de la Confederación General del Trabajo. Anuario del Instituto de Historia Argentina, nº 3, p.97-109, Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación, Universidad Nacional de La Plata, 2003, p.98.
18 MATSUSHITA, op. cit., p.53-4.
19 GASPARRI, op. cit., p. 99-100.
20 MATSUSHITA, op. cit., p.58-9.
21 CAMARERO, Hernán. La estrategia de clase contra clase y sus efectos en la proletarización del Partido Comunista Argentino, 1928-1935. In: AGUIRRE, Carlos (ed.). Militantes intelectuales y revolucionarios. Ensayos sobre marxismo e izquierda en América Latina. Raleigh, NC: A Contracorriente, 2013, p.46-7.
22 MATSUSHITA, op. cit., p.60-6.
23 Ibid., p.68-70.
24 Ibid., p.141-7.
25 BEIRED, op. cit., p.55-6.
26 MATSUSHITA, op. cit., p.141-7.
27 ZIMMERMANN, Eduardo A. Sindicatos y política en la Argentina (1900-1943). Revista Libertas 2 (mai-1985), Instituto Universitario ESEADE, p.23.
28 MATSUSHITA, op. cit., p.166-77.
29 Ibid., p.185-99.
30 Ibid., p.285.
31 Ibid., p.163-6.
32 Ibid., p.217-49.
33 Ibid., p.242-9.
34 TORRE, Juan Carlos. La vieja guardia sindical y Perón. Buenos Aires: RyR, 2011, p.39-42.
35 Foi chamado “restauração conservadora” o período 1930-1943, também conhecido como “década infame”, em que os governos conservadores procuraram restaurar o domínio da elite agropecuária após o período dos governos “populistas” da UCR (1916-1930).
36 ARAGÓN, Hernán. Historia Crítica del Sindicalismo. De los orígenes hasta el Partido Laborista. Buenos Aires: Ediciones IPS, 2009, p.75.
37 TORRE, Juan Carlos. Ensayos sobre movimiento obrero y peronismo. Buenos Aires: Siglo Veintiúno Editores, 2012, p.76-7.
38 TORRE. La vieja guardia…, p.39.
39 A Revolução de 1930 depôs o governo de Hipólito Yrigoyen, finalizando o período de governos da UCR (1916-1930) e iniciando a década infame.
40 TORRE, op. cit., p.77.
41 ARAGÓN, op. cit., p.77.
42 MATUSHITA, op. cit., p.259-62.
43 Ibid., p. 262-5.
44 BEIRED, op. cit., p.61.
45 TORRE, Ensayos sobre…, p.77.
46 MATSUSHITA, op. cit., p.265-6.
47 ALDAO, Los sindicatos ferroviarios y su influencia en la construcción de una identidad colectiva, p.32. In: DAMIN, Nicolás; ALDAO, Joaquín (comps.). Sociología, historia y memoria de los pueblos ferroviarios. La Plata: Archivo Histórico de la Provincia de Buenos Aires, 2015, p.23-56.
48 MURMIS, Miguel; PORTANTIERO, Juan Carlos. Estudios sobre los orígenes del peronismo. Buenos Aires: Siglo XXI Argentina Editores, 1ª ed., XXX p., 2004, p.151.
49 Ibid., p.262-3.
50 GERMANI, Gino. El surgimiento del peronismo: El rol de los obreros y de los migrantes internos. Desarrollo Económico. Revista de Ciencias Sociales, vol. 13, nº 51 (out-dez-1973), p.469.
51 TORRE, La vieja guardia…, p. 105-13.
52 DEL CAMPO, Hugo. Sindicalismo y peronismo. Los comienzos de un vínculo perdurable. Buenos Aires: CLACSO, 1983, p.138.
53 TORRE, La vieja guardia…, p.104-12.
54 Id.
55 DEL CAMPO, op. cit., p.139.
56 TORRE, op. cit., p.104-12.
57 MATSUSHITA, op. cit., p.268.
58 Ibid., p.268-9.
59 DEL CAMPO, op. cit., p.138.
60 MATUSHITA, op. cit., p.268-9.
61 GERMANI, op. cit., p.472-4.
62 DOYON, Louse M. Conflictos obreros durante el régimen peronista (1946-1955), D.E., vol. 17, nº 67 (out-dez, 1977), p.471-2. In: MATSUSHITA, op. cit., p.278.
63 MATSUSHITA, op. cit., p.277-9.
64 Ibid., p.276.
65 Ibid., p.276-7.
66 GERMANI, op. cit., p.469.
67 MATUSHITA, op. cit., p.279-80.
68 DEL CAMPO, op. cit., p.142-9.
69 MATSUSHITA, op. cit., p.285.
70 Ibid., p.283-4.
71 Ibid., p.282-6.
72 Cf. GERMANI, Gino. Política y Sociedad en una época de transición. Buenos Aires, p.131. In: MURMIS et PORTANTIERO, op. cit., p.113.
73 MURMIS et PORTANTIERO, op. cit., p.114. Acerca da adesão da classe média baixa ao fascismo, os autores sugerem: GERMANI, Política y Sociedad... LIPSET, S. M. El hombre político. Buenos Aires, 1964 e a versão mais difundida dessa interpretação, FROMM, Eric. El miedo a la libertad. Buenos Aires, 1958.
74 MURMIS et PORTANTIERO, op. cit., p.113-20.
75 Ibid., p.130.-5
76 TACCONE, Juan J. Crisis… Respuesta Sindical, Buenos Aires, 1971, p.58. In: MATSUSHITA, op. cit., p.248.
77 MATUSHITA, op. cit., p. 248-9.
78 CAMARERO, Hernán. Prólogo a: MURMIS et PORTANTIERO, op. cit., p.25.
79 MURMIS et PORTANTIERO, op. cit., p.113-32.
80 DEL CAMPO, op. cit., p.11.
81 Id.
82 A restauração conservadora de 1930, apesar de tentar devolver a hegemonia política à elite agropecuária, encontrou uma estrutura econômica mudada por causa da industrialização por substituição de importações, em que setores da burguesia industrial também fizeram sentir sua influência, além de aumentar as demandas trabalhistas do operariado urbano, dificultando o retorno ao modelo agroexportador anterior a 1916.
83 SIDICARO, Ricardo. Consideraciones sociológicas sobre las relaciones entre el peronismo y la clase obrera en la Argentina. 1943-1945. Boletín de Estudios Latinoamericanos y del Caribe, nº 31, Estado y clase obrera en Argentina y Chile. Perspectivas históricas (dez-1981), p.2-3.
84 A Revolução de Maio é comemorada no dia 25 de maio, mas, em 1944, as comemorações oficiais realizaram-se um dia antes.
85 MATSUSHITA, op. cit., p.272-4.
86 Ibid., p.286.
87 Id.
88 Revista de la Unión Industrial Argentina, LVIII, 913 (jan-1945), p.42. In: MATSUSHITA, op. cit., p.288.
89 La Prensa (16 jun. 1945), p.11. In: MATSUSHITA, op. cit., p.287.
90 MATSUSHITA, op. cit., p.288.
91 LUNA, Félix. El 45. Crónica de un año decisivo. Ariblack, 1968, p.344-51.
92 La Prensa (13 jul. 1945), p.10. In: MATSUSHITA, op. cit., p.288.
93 MATSUSHITA, p.288-9.
94 La Vanguardia (24 jul. 1945), p.4. In: MATSUSHITA, op. cit., p.288.
95 MATSUSHITA, op. cit., p.289.
96 TORRE, Ensayos sobre..., p.87.
97 CORTESI, Arnaldo. A ditadura ameaça desfechar a guerra civil na Argentina. O Jornal, Rio de Janeiro, 10 jul. 1945, p.1. Declarações de Arnaldo Cortesi, correspondente do New York Times em Buenos Aires.
98 Id.
99 MATSUSHITA, op. cit., p.289.
100 TORRE, Ensayos sobre…, p.75-6.
101 La Capital, Mar del Plata, ano XLI, nº 12.179 (7-ago-1945), p.1.
102 TORRE, op. cit., p.88.
103 Naquele momento, Perón era secretário de Trabalho e Previdência Social, ministro da Guerra e vice-presidente da República.
104 TORRE, op. cit., p.90-1.
105 Ibid., p.92-5.
106 Ibid., p.95-7.
107 Crítica, Buenos Aires, 5ª ed. (17-out-1945), p.1.
108 La Época, Buenos Aires, ano XXIX, nº 113 (18-out-1945), p.1.
109 TORRE, op. cit., p.75-107.
110 GERMANI. op. cit., p.479-80.
111 TORRE, op. cit., p. 98.
112 Cabecita negra é um termo depreciativo que era utilizado geralmente pelas classes médias e altas, sobre tudo de Buenos Aires, para se referir aos migrantes das regiões rurais, em alusão a sua cor do cabelo e tom de pele, pois eram majoritariamente de ascendência indígena.
113 MATSUSHITA, op. cit., p.290-6.
114 DEL CAMPO, op. cit., p.242.
115 MATSUSHITA, op. cit., p.296-7.
116 ANTECIPADAS as eleições na Argentina. Perón beneficiado. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 11 nov. 1945, p.2.
117 MATSUSHITA, op. cit., p.298.
118 ROMERO, Luis Alberto. História Contemporânea da Argentina. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p.97.
119 COOKE, Juan Issac. Respuesta al Libro Azul elaborado por Estados Unidos, Buenos Aires, 1946.
120 MATSUSHITA, op. cit., p.298.
121 DEL CAMPO, op. cit., p.242-3.
122 TORRE, op. cit., p.115-33. DEL CAMPO, op. cit., p.247-9.
Publicado por: Guillermo Oscar Abraham
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