O CANGAÇO NO BRASIL

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1. RESUMO

O presente trabalho procura mostrar algo que é de relevância e riqueza para a historiografia brasileira e nordestina salientando que outros deixaram de mostrar o que de fato aconteceu durante esse período  de conflito social no brasil, que é a história do Cangaço em especial na região nordeste e diretamente onde estamos subtraindo informações de relevância para este estudo,  por meio desse instrumento de pesquisa. E através desses fatos mostrar a realidade vivida por milhares de nordestinos por terem passados por grandes dificuldades,  diante desses fatos ocorridos naquela época. Um dos fatores de extrema foi à seca, gerando a fome, a cobrança de impostos e a ganancia dos coronéis e as dos cangaceiros. A classe latifundiária e o governo da república velha observava o cangaço com maus olhos, a ponto de estudar um meio de acabarem com essa insatisfação social gerada por esses dois fatores: primeiro, foi à coluna preste; segundo, o cangaço de lampião. É importante ressaltar esse fato histórico ocorrido no Brasil, como forma de abrir uma discussão em meio à sociedade. Como sabemos, milhares de pessoas perderam suas vidas em prol de uma causa. De um lado, a classe menos favorecida, que tinha o anseio por justiça. De outro lado, havia uma classe burguesa que não abria mão de seus territórios. A metodologia utilizada também se propõe a identificar, refletir e problematizar a memória do cangaço na cultura popular nordestina e cearense com o intuito de perceber as teias de inserção em um contexto específico. Esse embate de discursos levou a um processo representacional que propiciou a oscilação da imagem de Lampião de bandido sanguinário a um exímio patriota. Esse episódio da vida do “Rei do Cangaço”, além de ser um dos mais contraditórios, contribuiu na formação de uma cultura histórica em torno de Lampião e foi lapidar no processo de exaltação da figura do cangaceiro como símbolo caracterizador do Nordeste e da nordestinidade, de sua época e dos dias atuais.

Palavras chave:  Contexto, cangaço banditismo, coronelismo.

ABSTRACT

This paper seeks to show something that is of relevance and richness in the Brazilian Northeast and historiography stressing that others failed to show what really happened during this period of social conflict in Brazil, which is the story of Cangaço particularly in the northeast and right where we are subtracting information of relevance to this study, by using this search tool. And through these facts show the reality experienced by thousands of Northeasterners to have passed through great difficulties, in view of these facts at the time. One of the factors was of extreme drought, causing famine, tax collection and greed of the colonels and the outlaws. The landlord class and the government of the old republic watched the bandits with bad eyes, the point of studying a means of ending this social unrest generated by these two factors: First, the column was pay; second, the lamp of the highwaymen. Importantly, this historical event occurred in Brazil as a way to open a discussion in the midst of society. As we know, thousands of people lost their lives in support of a cause. On one hand, the least favored class, which had the yearning for justice. On the other hand, had a bourgeois class that would not give up their territories. The methodology also proposes to identify, reflect and question the memory of bandits in the northeastern Ceará and popular culture in order to realize the webs of inclusion in a specific context. This clash of discourses led to a representational process that led to the shifting of the image of the bloodthirsty bandit Lampião an eminent patriot. This episode in the life of the "King of Cangaço", besides being one of the most contradictory, contributed to the formation of a historical culture around Lampião lapidary and was in the process of exaltation of the figure of the bandit as a symbol characterizes the Northeast and nordestinidade, of his time and today.

Keywords: Context, banditry bandits, coronelismo.

2. Introdução

A historia é uma cocha de retalho cada pedaço se completa e dar novo espaço e nova tonalidade para aquilo que se quer construir. Pois queremos trazer questionamentos  e soluções e não só questionar o poder publico e a forma de fazer politica daquela época, e sim entender  cada individuo no seu espaço e lugar  esse é o papel do historiador sendo meramente impacial naquilo que busca. O cangaço surgiu entre o final do século XIX e começo do XX (início da república O período que vai de 1889 a 1930 que é conhecido como a República Velha). Surgiu, no Nordeste Brasileiro, grupos de homens armados conhecidos como cangaceiros. Estes grupos apareceram em função, principalmente, das péssimas condições sociais da região nordestina. O latifúndio, que concentrava terra e renda nas mãos dos fazendeiros, deixava às margens da sociedade a maioria da população, sem contar que os oprimiam. Se não já bastasse a seca predominante  na região nordeste , as cargas de impostos altíssimas que assolava o povo sertanejo.

A palavra cangaço  tem um significado bastante expressivo no meio rural, como podemos observar que essa palavra vem da palavra = canga ( peça de madeira usada para prender junta de bois a carro ou arado; jugo).  Que serveria para ara a terra ou fazer outro tipos de atividades. Podemos observar que a canga que é para serem colocadas em animais. Mas estavam sendo colocadas na populaçao pobre,  literalmente estava sendo colocadas nas costas da populaçao brasileira e especial na regiao nordeste a  exploraçao, era clara de si ver,  com a seca , fome e sem contar pelos altissimos impostos cobrados pelo governo brasileiro aos seus co-cidadaos. Os mais prejudicados eram os sertanejos. O governo sempre colocou a sua canga nas costas do povo e comtinua.

Para entermos melhor a cronologia historica dos fatos, que aparti disso o governo  federal coligado ao governo de acioly no ceará que era extremamente ligado ao padre cicero romao batista. O mesmo comunicou o interesse do entao presidende da republica velha de querer acabar com o  Carlos prestes, convidando virgulino a ser capitao do exercito aqui no nordeste brasileiro. A Coluna Prestes foi um movimento político, liderado por militares, contrário ao governo da República Velha e às elites agrárias. Este movimento ocorreu entre os anos de 1925 e 1927. Teve este nome, pois um dos líderes do movimento foi o capitão Luís Carlos Prestes.  Ele (lampiao) ganharia a patente de capitao, dinheiro, armas e muita munição, com o objetivo de acabar com a coluna prestes, mais isso nunca ocorreu. Com isso oficializou as açoes de lampiao na sua atividade  de justiceiro. Ele nunca ficou de frente com a coluna de Carlos preste. Ultilizou tudo que ganhou em favor de seus proprios interesses, passando a  sim a  ser  o senhor dos sertoes. Ou melhor, governador dos sertões nosrdestino. Lampião.

o destemido por todos. ‘’Aqui ainda lampiao nao era conhecido por suas açoes. O governo do presidente Artur Bernardes, sendo presidente do Brasil, Esse embate de discursos levou a um processo representacional que propiciou a oscilação da imagem de lampião de bandido sanguinário a um exímio patriota, adepto das armas para extirpar do solo nacional a “erva daninha” – a coluna prestes. Dai então o  que contou com a participação do governo nordestino como principal financiador.

O cangaço se caracterizou por ter como principal lider lampião (virgulino ferreira da silva). Os cangaceiros eram homens que andavam pelas cidades em busca de fazer justiça e de vingança. A falta de emprego tambem foi o que motivou a essa pratica do cangaço, da mesma forma alimentos que eram bastante escarço  e a cidadania que nao era  repeitados nem pelos cangaçeiros e nem tao pouco pelo governo.  Motivaçoes essas que saiu causando o desordenamento da rotina dos camponeses. Por exemplo: Motivo da pratica do cangaço:

  1. Alimentos que eram bastante escarço.
  2. Desemprego. 
  3. Fome.
  4. A cidadania que nao era  respeitados nem pelo governo e nem tao pouco  pelos cangaçeiros. 
  5. Impostos  altíssimos.
  6. A seca.

Estilo próprio de se vestir,

• Os cangaceiros usavam roupas e chapéus de couro,

Portanto Entender o cangaço, é entender a forma  que cada um  dos sertanejos foram obrigados a viver  com a realidade daquela época. Uns permaneceram em suas propriedades trabalhando para os coronéis, outros se debandaram nos bando do cangaço. Portanto, podemos entender o cangaço como um fenômeno social, caracterizado por atitudes violentas por parte dos cangaceiros, por parte das volantes. (policia militar hoje.) Estes, que andavam em bandos armados, espalhavam o medo e o terror pelo sertão nordestino. Os cangaceiros Promoviam saques a fazendas, atacavam comboios e chegavam a sequestrar fazendeiros para obtenção de resgates.

Aqueles que respeitavam e acatavam as ordens dos cangaceiros não sofriam mal algum, pelo contrário, eram muitas vezes ajudados. Esta atitude, fez com que os cangaceiros fossem respeitados e até mesmo admirados por parte da população da época. Os cangaceiros não moravam em locais fixos. Possuíam uma vida nômade, ou seja, viviam em movimento, indo de uma cidade para outrasempre pela a caatinga para não serem vistos pela volante. Ao chegarem às cidades pediam recursos e ajuda aos moradores locais. Aos que se recusavam a ajudar o bando, sobrava à violência. Como não seguiam as leis estabelecidas pelo governo, eram perseguidos constantemente pelos policiais (volantes). Usavam roupas e chapéus de couro para protegerem os corpos, durante as fugas, pela vegetação cheia de espinhos e galhos secos da caatinga. Além desse recurso da vestimenta, usavam todos os conhecimentos que possuíam sobre o território nordestino (fontes de água, ervas, tipos de solo e vegetação) para fugirem ou obterem esconderijos. O cangaço tinha a sua própria definição, regras. Como, os cangaceiros eram homens que andavam armados e em bandos pelo sertão nordestino nas primeiras décadas do século XX.Tinham suas próprias regras de conduta e suas próprias leis. Vagavam de um local para o outro (não possuíam residência fixa), vivendo de saques e doações. Eles eram temidos pelas pessoas e espalhavam o medo por onde passavam. Frequentemente enfrentavam as forças policiais do governo. Também tinham um estilo próprio de se vestir, de acordo com a época e a região que viviam, ou seja, que estavam inseridos. Os cangaceiros usavam roupas e chapéus de couro, pois andavam muito pela catinga. Este tipo de vegetação possui muitos espinhos e esta roupa fornecia proteção aos cangaceiros. Aqui não podemos deixar de falar que eles também tinham o seus lideres e que havia vários bandos, entre eles o que se destaca entre é o de Virgulino Ferreira da Silva. (o lampião).

3. Contextualizando e Entendendo os Fatos ocorridos no Cangaço

Segundo a Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco a Sr.ª Semira Adler Vainsencher, relata em sua pesquisa que, ‘’ Virgulino Ferreira da Silva nasceu no dia 7 de julho de 1897, na Fazenda Ingazeira, situada no município de Vila Bela (hoje, Serra Talhada), no sertão de Pernambuco. Foi o segundo filho de José Ferreira da Silva e de Maria Selena da Purificação. O seu nascimento, porém, só é registrado no dia 7 de agosto de 1900. Tinha como irmãos: Antônio, João, Levino, Ezequiel, Angélica, Virtuosa, Maria e Amália. Todos cresceram ouvindo e/ou presenciando estórias de cangaceiros, e Antônio Silvino lhes serve de exemplo maior.  Naquela época, o sertão quase não possuía escolas e estradas, viajava-se a pé, a cavalo, em burro e em jumento.   Dizer que os denominados coronéis (os proprietários de terras) imperavam sob o peso da prepotência como os verdadeiros chefes políticos, sem nunca sofrer represálias porque a força do Estado estava sempre do seu lado.

Neste sentido, eram eles que davam a palavra final, ou seja, elegiam, destituíam, perseguiam, condenavam, absolviam, torturavam e matavam. Em períodos de crises econômicas, os coronéis recebiam ajuda do Poder Público. Isto era uma recompensa, um benefício recebido, por causa dos eleitores que controlavam mediante os "votos de cabresto" - aqueles votos fornecidos a um candidato, e garantidos pela palavra-de-ordem dos poderosos, que impõem nomeações e asseguram a hegemonia da classe política local, sem se importar com a competência profissional dos nomeados.

Vale ressaltar que diante de todas as dificuldades imposta pelo sistema daquela época  a família de lampião era muito simples e trabalhadores certo que, Ele apesar de muito inteligente, Virgulino abandona a escola para ajudar a família no plantio da roça e na criação de gado. Ele trabalhou com o pai, na infância e parte da adolescência, cuidando de gado, com transporte de mercadorias em longa distância, utilizando burros como meio de transporte de carga. Trabalhou até os 20 anos de idade, como artesão. Torna-se famoso nas vaquejadas. Gosta muito de dançar, de tocar sanfona, compõe versos e adora um rifle. Sabe costurar muito bem em pano e couro e confecciona as próprias roupas.  

Ele tinha 19 anos quando entrou para o cangaço. Dizem que tudo começou através de disputas com José Saturnino, membro da família Nogueira e vizinha de terras. Lutando contra essa família durante muitos anos, Virgulino e seus irmãos já se comportavam como futuros cangaceiros, não tardando a entrar em conflito com a polícia. A decisão de viver e morrer como bandido, contudo, só foi tomada, mesmo, quando a polícia mata José Ferreira da Silva - o patriarca da família - enquanto ele debulhava milho. Disse virgulino: "vou matar até morrer" – prometeu ele, cheio de ódio e desejo de vingança. E assim agiu por quase três décadas. Em um das primeiras lutas do bando, na escuridão da noite, Antônio (um dos irmãos Ferreira), espantado com o poder de fogo do rifle de Virgulino, que expelia balas sem parar e mais parecia uma tocha acesa, gritou o seguinte: Espia Levino! O rifle de Virgulino virou um lampião! A partir desse dia, a alcunha do famoso cangaceiro passa a ser Lampião. Aqui podemos perceber que os cangaceiros não moravam em locais fixos. Possuíam uma vida nômade, ou seja, viviam em movimento, indo de uma cidade para outra.

Ao chegarem às cidades pediam recursos e ajuda aos moradores locais. Aos que se recusavam a ajudar o bando, sobrava à violência. Atuou em sete Estados Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, com fama de semear o terror e a morte no sertão. São famosos os fracassos dos  “macacos” do governo federal nas operações preparadas para capturá-lo e as o gradativo aumento do oferecimento de recompensas a quem o matasse, aumentavam sua fama. Admirado pela sua valentia e ousadia, acabou convertido em herói. Neste contexto surge Lampião, que subverteu a ordem imposta, mesmo que não fosse esse seu objetivo. Lutou contra os Latifundiários que por 4 séculos imaginavam-se intocáveis, passaram a ter medo de sua presença e o terror das consequências do não atendimento de suas exigências. 

Virgulino consegue realizar seu maior sonho, com a intermediação do Padre Cícero Romão Batista: adquirir a patente de capitão, no Batalhão Patriótico do deputado Floro Bartolomeu, o batalhão das forças legais. Além de alimentar sua vaidade pessoal, a patente funcionaria como uma espécie de salvo-conduto, permitindo o bando circular pelas divisas dos estados do Nordeste. Aproveitando aquela oportunidade, Virgulino solicita, também, para os companheiros Antônio Ferreira e Sabino Barbosa de Melo, os postos de 1o. e 2o. Tenentes. Acatada a solicitação, os membros do bando abandonam as roupas costumeiras, vestem a farda de soldado e, como autoridades constituídas, passam a ter o dever - por mais irônico que isto possa soar -, de defender a legalidade e proteger a população nordestina. Tudo isso foi redigido pelo Padre Cícero e assinado, a pedido deste, no dia 12 de abril de 1926, pelo engenheiro-agrônomo do Ministério da Agricultura, Dr. Pedro de Albuquerque Uchoa. Feliz da vida aos 28 anos de idade, o jovem Capitão Virgulino reúne a família para tirar fotografias.

Oficialmente, ele recebe a missão de combater a Coluna Prestes - A Coluna Prestes foi um movimento político, liderado por militares, contrário ao governo da República Velha e às elites agrárias. Este movimento ocorreu entre os anos de 1925 e 1927. Teve este nome, pois um dos líderes do movimento foi o capitão Luís Carlos Prestes grupo que vinha percorrendo o País durante o governo do presidente Artur Bernardes. No entanto, após se distanciar uns 6 quilômetros de Juazeiro, Lampião decide se embrenhar na caatinga, em busca de combates mais lucrativos, deixando para trás o prometido a Padre Cícero e as responsabilidades para com o Estado. E os soldados do governo foram chamados de "macacos", porque saíam pulando quando avistavam os cangaceiros.

Segundo Rui Facó (1936) no livro cangaceiros e fanáticos, na página, 48  no 3ºcapitulo, no 1º paragrafo, faz referencia ao cangaceiros e diz:  -  num meio  em que tudo lhe é  adverso, podia o homem do campo permanecer  inerte, passivo, cruzar os braços  diante  de  uma  ordem de coisas  que se esboroa  sobre ele? no 2º paragrafo, Euclides da cunha  já compreendera que “o homem  do sertão [...] esta em função direta da terra’’ (p.141). Se a terra é para ele inacessível, ou se quando  possui  uma  nesga de chão vê-se  atenazado  pelo domínio  do latifúndio oceânico, devorador  de todas as suas energias, monopolizadoras de todos os privilégios, ditador das piores  torpezas, que  fazer , senão  revoltar-se ?  pega  em  armas, sem objetivos  claros  sem rumos certos  apenas  para  sobreviver  no meio  que é o seu.

Dando continuidade ao pensamento de rui facó ele no 3º paragrafo diz  que, então espantados   os homens das classes dominantes  não  sabem  explicar  por que  ele se revoltou.  Ele , sempre cordato e humilde mesmo, que não falava ao senhor sem tirar da cabeça o largo  chapéu  de palha  ou de couro,  toma  de uma arma,  tornar-se um cangaceiro, arregimenta companheiros  de infortúnio e forma  um grupo  - um bando. Por quê?

Já na pagina 49 dando continuidade ao 4º parag. Da página 48,   nina  rodrigues a firmava  que ‘’ a criminalidade do mestiço brasileiro [está]  as mas condições  antropológicas da mestiçagem no Brasil   ‘’.(1957,P. 158). Vários autores nordestinos, sem dar atenção às causas  econômicas  e sociais, recorrem as explicações para eles  as  mais fácil, adotada por um cientista, a mestiçagem constituía  um fato  irremovível,  seus  resultados  no nordeste – o cangaço  e fenômenos  correlatos – jamais  teriam  remédios. Na pág. 49, parag. 2º  segundo o autor , diz  que é interessante  observar  como ate  mesmo conhecedores  da  situação local,  homens nascidos  e criados ali, narram fatos  e episódios diante  dos quais  se supõe  que tirarão  as conclusões  logicas ,  e no entanto  a conclusão  é contraria  à própria  realidade descrita .  é o caso , entre  outros ,  de Xavier de oliveira, filho do cariri. Reconhece  ele  textualmente : ‘’ o homem honesto e trabalhador  de outrora é um  bandido agora, por causa de uma questão  de terra,’’(1920, p. 24). Acrescentava  quanto as condições de trabalho: no cariri. Em certa cidade, há  o que  se chama  feira de trabalhadores. Centenas de homens, reunidos em praça publica,  enxada no ombro, prontos  para o trabalho. Chega  o fazendeiro, escolhe o mais robusto ( é como  se escolhesse bois  para o corte) e os leva  a roça .  Os outros, em numero de centenas, ficam sem trabalhar, sem comer, eles e suas mulheres  e seus filhos’’(ibid. ,. P ,28-29).

Estes homens é a conclusão logica  tinham forçosamente  que ser revoltados. sem terra, sem ocupação certa a mais brutal  exploração  de seu trabalho, revoltar - se -  iam qualquer que fosse  a dosagem   de seu sangue, sua origem racial,  o meio físico que  atuasse  sobre  seu organismo. Mas  o simples efeito  de causa  o autor vem apontar neste  1ºparag. Da pág. 51  onde continua dizendo que  as causas profundas:  de tudo isso a ausência da justiça,  analfabetismo, precariedade de comunicações  e transportes, baixos  salários – quando  tudo isto  já  resultava da tremenda desigualdade social,  do débil desenvolvimento do capitalismo, do lentíssimo incremento das forças  produtivas, da concentração da propriedade da terra,  que dava  poder  econômico ilimitado a uma insignificante minoria  da latifundiários.  A grande  massa dos  habitantes  da região  não dispunha de  recursos normais  para viver, nem mesmo  tinha  a possibilidade  de vender com segurança  sua força de trabalho.

Quando conseguia, era em condições  tais que  correspondiam  à semi–servidão.  Como  poderia  haver justiça, simples  recursos jurídicos, sem falar em  justiça social, para  explorados  e oprimidos  em  tais  condições ?   o aparelho da judiciário estava  sob o controle direto dos  sobas locais, os juiz lhe  era um dependente, muitas vezes menos do que  isso, um lado. Diz Xavier de oliveira, em 1919: No sertão não há lei, não há direitos, não  há justiça[...] Quanta vez,  ali, não é removido, de uma para outra comarca, um juiz que proferiu uma sentença contra um politico,  Influente , cabo eleitoral ou chefe de bando do presidente ou do governador do estado?  Oliveira,  1932, p. 22 . E narra  episódios  de demarcações de terras mandadas fazer por  certo magistrado sob uma chefia  local, e desfazia pelo mesmo magistrado quando  o município se encontrava  sob outro governo.) Segundo o autor rui facó   parag. 2º  da pag. 52     diz: como poderia, pois haver alfabetização, instrução , educação popular? Além disso, para que? O interesse do grande proprietário de terra é manter no lado obscuro a população local.  Ele quer braços servis e não cabeças que pensem. Ninguém necessita de saber ler e escrever para pegar numa enxada.  O bolso dos potentados local.  O governo do estado ou do município não dispunha de verbas  para gastar  com escolas . As verbas iam para os bolsos dos potentados locais,  Seus familiares e parentes. Mesmo que fundassem escolas uma ou duas na sede do município,  para os filhos dos ricos ou remediados, os filhos dos pobres não podia frequenta-las . Para os pobres segundo  rui faco eram  privados de comprar certos matérias, coisas elementares, como por exemplo: um par de sapato ou uma roupa. Quanto mais livros  e material escolar. E quando seus pais tinham  trabalhos garantidos  ou um lote de terra eles teriam que ajudar desde o mais velho ao mais novo , todos. Enfrentar os duros labores da terra.

Quanto aos meios de comunicação e transporte, como poderiam existir se o latifundiário era o feudo quase fechado, se  pouco produzia  ou produzia  apenas  para o consumo familiar  ou local? Os meios de transporte comuns eram os animais, o lombo do  burro ou o carro de boi, que passavam por  quaisquer caminho  qualquer  picada no campo. Ainda hoje  muitos acreditam  que foram  simplesmente as  estradas, o caminhão, que acabaram   com o cangaço. Esquecem  os jagunços  de floro Bartolomeu foram conduzidos de trem  de Iguatu a  fortaleza, que lampião  viajou  com seu bando em caminhões  e ocupou cidades servidas de telégrafo.

No entanto um bom conhecedor do nordeste  e lucido  estudioso de seus  problemas sociais  repetia nos anos,  de 1920, que ‘’a repressão [ ao cangaceirismo]  é neste   extenso território  um problema  de fácil  transporte ‘’( Almeida, 1937).segundo o autor faco  no 1º parag. da pag.53 na linha 9º  diz : desenvolvem-se, bem  ou mal  as forças  produtivas, e esse desenvolvimento, embora lentíssimo, é que constitui a força motriz  das transformações  operadas que atingem  o meio social. Não é que a estrada e o caminhão espantem  o cangaceiro. A estrada e o caminhão  trazem  para a cidade o cangaceiro de amanha.

A indústria o entrosa em suas engrenagens, os próprios meios de transporte o absorvem   ou o conduzem para os novos  cafezais que  se abrem  no norte do Paraná. A estrada  e o caminhão   já resultavam, eles mesmos, daquela mudança.  Por que não é só no monopólio da propriedade fundiária  que reside a matriz do cangaço; é em todo o atraso econômico. No isolamento do meio rural,  no imobilismo social, na ausência  de iniciativas outras  que não  fossem  as do latifundiário e as   deste eram quase nenhuma. Pode-se imaginar  o que  representou como fator de comoção  interna no cariri o surgimento de uma  cidade cuja  população  nos primeiros  vinte anos  de seu nascimento era maior  do que  a de meia dúzia  das cidades clássicas  do vale, como  aconteceu em juazeiro. Era  uma subversão para o latifúndio nordestino.

Segundo o  autor ele chama a atenção  dessa verdade que compartilha com todos nós hoje quando ele diz:  tem-se  opinado também  que o cangaceirismo  advinha  da ausência  de policiamento nas regiões  interioranas profundas.  Segundo  faco,  ele deixa bem claro que todos os fatos   provam  o contrario : quando a policia apareceu  para combater  o cangaço, teve  o mérito de exacerba-lo. Por todo  este interior  do brasil, onde  quer  que a policia tenha chegado  para perseguir cangaceiros ou ‘’fanáticos‘, praticou  contra as populações  rurais  crimes  mais hediondos  do que os cangaceiros mais sanguinários. A primeira coisa que fez foi colocar-se incondicionalmente a serviço de um  dos potentados locais , a serviço portanto de suas intrigas , seus ódios , suas perseguições.

Não se compreendia, ou não se queria compreender, pois que interesses  materiais  dos mais abjeto egoísmo  não o permitiam, que havia aquela  convulsão, abrangendo  tão grandes massas humanas por todo o nordeste  e não só no nordeste é que  deviam existir necessidades sociais  que as instituições  entorpecidas não podiam  satisfazer. Não se tratava de crimes individuais  não  era portanto um crime , mas um problema social a enfrentar. Não é ainda a revolução social, mas são  o seu prologo.  São os elementos regenerados daquela  sociedade estagnada, em processo de putrefação. Revivem-na,  dão-lhe sangue novo, põem-na em movimento, preparam-na para o advento de uma nova época. São ainda elemento unificador por excelência de uma região mais do que o nordeste, todo um imenso território interiorano que se  desagregava, dentro de si mesma, em feudos quase fechados e paralisados. Não era ainda uma luta diretamente pela terra, mas  era uma luta em função  da terra uma luta  contra o domínio do latifúndio semifeudal.

Segundo foco na pag. 56, nesse 3º cap. Diz os bandos de cangaceiros  que saem  dentre  aqueles  semi-servos vivem dispersos,  lutam por  objetivos isolados e, não  raro, enfrentam-se  uns aos outros, destroem-se mutuamente . Tornam-se presas de seus  próprios  inimigos de classe, os grandes  proprietários rurais, donos  de fazendas  de gado ou de lavras de minérios.  No surgimento e o incremento do cangaço são  a primeira replica á ruina e à decadência  do latifúndios semifeudal, de que também são resultante.

Naquela sociedade primitiva , com aspectos  quase medievais semibárbaros, em que  o poder do grande proprietário era incontestável, ate mesmo uma forma de rebelião  primaria, como era o cangaceirismo, representava  um passo á frente para  a emancipação dos pobres  do campo. Constituía  um exemplo de insubmissão . Era um estimulo  as lutas. O cangaço precede os grandes ajuntamentos de ‘’fanáticos ‘’que tiveram  seus pontos culminantes em canudos e no contestado.

No bando de  Lampião tinha indivíduos de todos os tipos: gordos, magros, ruivos, louros, morenos, altos, baixos, negros e caboclos. Alguns, inclusive, eram jovens demais: Volta Seca (11 anos), Criança (15 anos), Oliveira (16 anos). O mais idoso era Pai Velho, com 71 anos de idade. Lampião arranjava, facilmente, armamentos e munições, mas, como o fazia, era um segredo que não contava a ninguém. Uma parte das armas automáticas, para combater a Coluna Prestes, foi adquirida através do Deputado Floro Bartolomeu e do Padre Cícero. Os demais armamentos do bando foram arranjados mediante a intervenção de amigos.

Um acidente provocado pela ponta de um pau cega o olho direito do Capitão Virgulino, um órgão (olho), que, anteriormente, já se apresentava problemático devido à presença de um glaucoma. Enxergando com um olho, apenas, Lampião se vê obrigado a ficar sempre enxugando, com um lenço, as lágrimas que pingam do olho vazado. A despeito dessa deficiência, ele nunca deixou de ser um excelente estrategista. Dizem que foi uma brincadeira de mau gosto da família Ferreira (o corte da cauda de alguns animais) a gota d’água que desencadeou uma afronta irreparável com o fazendeiro José Saturnino, proprietário das terras vizinhas e membro da família Nogueira. Sendo mais numerosos e tendo o apoio do governo, essa família termina por expulsar os Ferreira de suas terras.

A partir de 1917, Virgulino e a sua família passam a conviver com intensos tiroteios e emboscadas, não podendo morar em um lugar específico: são obrigados a vagar pelo sertão e levar uma vida de nômades. Em meio às lutas e fugas, falece Dona Maria Selena, no Engenho Velho. E, no início de agosto de 1920, o patriarca da família - José Ferreira - é fuzilado pela volante do sargento José Lucena, enquanto debulhava milho. Naquele mesmo dia, então, os Ferreira fazem um juramento: o seu luto, até a morte, iria ser o rifle, a cartucheira e os tiroteios.

Quando sabia da existência de um coronel perverso, Lampião não perdia a oportunidade de queimar-lhe as fazendas e matar-lhe o gado. Nas incursões em vilas e povoados, o grupo saqueava, dizimava e matava. As violências cometidas pelo bando eram inúmeras: tatuagem a fogo, corte de orelha ou de língua, castração, estupro, morte lenta, entre outras. Muitos habitantes abandonavam definitivamente as suas propriedades, tornando desertas as caatingas, já que elas estavam entregues a soldados e cangaceiros. Virgulino Ferreira era bastante impulsivo.

Às vezes, passavam-se meses sem se ouvir falar nele, pensando-se, inclusive, que tinha morrido. Mas, de repente, ele surgia do nada com o seu bando, como um tremendo furacão, lutando contra as volantes, incendiando fazendas, roubando e matando com a maior naturalidade. Em algumas ocasiões, seus gestos eram generosos: confraternizava com as pessoas, organizava festas, distribuía dinheiro, pagava bebida para todos. Em uma de suas paradas para descansar, perto da Cachoeira de Paulo Afonso, conheceu Maria Déia, filha de um fazendeiro de Jeremoabo, na Bahia. Há cinco anos ela era casada com José de Nenén - um comerciante da região - mas nutria uma paixão platônica por Lampião, mesmo sem nunca tê-lo encontrado.

Alguns afirmam que foi a própria mãe de Maria Déia que segredou a Lampião sobre essa paixão. Já outros dizem que foi Luís Pedro - integrante do bando - que insistiu para o rei do cangaço conhecê-la. Na realidade, o fato é que Virgulino caiu de amores ao vê-la. E, impressionado com a sua beleza, passou a chamá-la de Maria Bonita.

Em vez de três dias, ficou dez na Fazenda Malhada da Caiçara. Com a concordância dos pais, que apoiavam o desejo da filha, Maria Deia coloca as suas roupas em dois bornais, penteia os cabelos, despede-se para sempre do marido, e parte com Lampião rumo à caatinga. Era o ano 1931 e ela tinha 20 anos. Pouco tempo depois, Maria Bonita engravida e sofre um aborto. Mas, em 1932, o casal de cangaceiros tem uma filha. Chamam-na de Expedita. Maria Bonita dá à luz no meio da caatinga, à sombra de um umbuzeiro, em Porto de Folha, no estado de Sergipe. Lampião foi o seu próprio parteiro.

Como se tratava de um período de intensas perseguições e confrontos, e a vida era bastante incerta, os pais não tinham condições de criá-la dentro do cangaço. Os fatos que ocorreram viraram um assunto polêmico porque uns diziam que Expedita tinha sido entregue ao tio João, irmão de Lampião que nunca fez parte do cangaço; e outros testemunharam que a criança foi deixada na casa do vaqueiro Manuel Severo, na Fazenda Jaçoba.

O Capitão Virgulino adora ser fotografado e filmado. Neste sentido, consente que Benjamim Abraão, um fotógrafo libanês, conviva durante meses com o seu bando e colete muito material sobre o cangaço. Esse fotógrafo, contudo, é assassinado por um coronel, e grande parte do seu acervo é destruída. Maria Bonita sempre insistia muito para que Lampião cuidasse do olho vazado. Diante dessa insistência, ele se dirige a um hospital na cidade de Laranjeiras, em Sergipe, dizendo ser um fazendeiro pernambucano. Virgulino tem o olho extraído pelo Dr. Bragança - um conhecido oftalmologista de todo o sertão - e passa um mês internado para se recuperar. Após pagar todas as despesas da internação, ele sai do hospital, escondido, durante a madrugada, não sem antes deixar escrito, à carvão, na parede do quarto: Doutor, o senhor não operou fazendeiro nenhum. O olho que o senhor arrancou foi o do Capitão Virgulino Ferreira da Silva, Lampião.

Além das emboscadas planejadas para liquidá-lo, cabe ressaltar que Lampião conseguiu sobreviver ao veneno e ao fogo. Do primeiro, contou com a dosagem fraca que lhe deu, somente, um inconveniente desarranjo intestinal; do segundo, apesar de chamuscado, conseguiu escapar pulando. Mas foi ferido à bala diversas vezes. Excetuando-se João, todos os irmãos de Virgulino morreram antes dele. Em 1926, Antônio foi morto em Serra Talhada, no encontro com uma volante pernambucana. Outra volante desse mesmo estado matou Levino Ferreira. O último a falecer foi Ezequiel, gravemente ferido pela polícia de Sergipe.

Mas, quando Lampião percebeu que seu irmão estava se ultimando e sofrendo, saca do próprio revólver e dispara um tiro de misericórdia bem em cima de sua testa. Em outra luta contra a volante pernambucana, na vila de Serrinha, próximo a Garanhuns, Maria Bonita foi baleada. Como estava perdendo muito sangue, Lampião deu ordem para encerrar a luta imediatamente: pega a amada nos braços e segue rumo ao município de Buíque, onde ela é tratada na vila de Guaribas. Vale deixar registrado que o bando de Lampião resistiu durante quase 20 anos, brigando com grupos de civis que o perseguiam e com a polícia de 7 estados nordestinos. Por todo esse tempo, assaltou propriedades de grandes fazendeiros, atacou  povoados, vilas e cidades, roubou, pilhou, torturou e matou os seus adversários.

Segundo a  revista eletrônica de ciências sociais - É impossível compreender a “Medicina” dos sertões sem conhecer da vida do sertanejo. Seu mundo estranho, suas crenças e, sobretudo o abandono ao qual essa parte do Brasil desde o império, até os dias atuais esteve submetida. Em “Os Sertões” Euclides da Cunha (S/d: 80) diz que “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Só um “gigante” seria capaz de sobreviver em um meio tão hostil: A luta pela vida assume o caráter selvagem dos combates constantes com a terra árida e infértil. Sem expectativas de chuva, resta ao pobre apegarem-se as novenas de S. José já que as autoridades só aparecem nas eleições, época de angariar voto.

Diante daquela trágica realidade dá-se a transformação do homem: Brutal e cruel como a seca, forte como mandacaru. Em quanto o mundo moderno progredia, restavam os nossos sertões estacionados. Condenados a um primitivismo social e individual, vivendo em casebres sem reboco onde barbeiros encontravam viveiro ideal para disseminação da doença de Chagas. Sem saneamento básico, submetidos às enfermidades que lhe tornavam a vida insuportável. Quando não morriam de gastroenterite na infância, cresciam magricelas, deficiente em vitaminas e alma sobrecarregada de decepções.

Acostumado à subalimentação crônica, à fome e à sede aguda, o jagunço adquire condições para não queixar-se quando lhe é dado enfrentá-las (Lima 1965). “Fez-se homem, quase sem ter sido criança. Salteou-o, logo, intercalando-lhe agruras nas horas festivas da infância, o espantalho das secas no sertão” (Cunha: S/d, 82). Um médico naquelas bandas, geralmente filhos das autoridades regionais, era quase um Deus. Diante da adversidade transfigura-se o homem, e da figura vulgar do tabaréu, surge inesperadamente um “titã acobreado”, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias (Ibid: 80).

Sejam na forma de jagunços, capazes de resistir em Canudos a inúmeras investidas do governo; seja na forma de Cangaceiros: Pereira, Brilhante, Silvino, Lampião, Corisco; que marcharam diretamente para a violência e atacaram sempre que julgaram necessário. "O itinerário de Lampião ‘bandido brasileiro’ é o de um revoltado social que se torna herói popular. Um revoltado incapaz, por falta de cultura, de teorizar sua própria prática de delinquente e de propor uma leitura política para ela. Mas um rebelde que se insurge concretamente, de armas na mão, contra a hierarquia do poder no sertão, contra a justiça de classe, contra a ordem dos ‘coronéis’, contra uma sociedade colonial, e que, na sua escala, opta por uma contra sociedade, a do cangaço” (Le Monde: 1999).

É assim constituída a alma do tabaréu: sujeito a agressividade permanente do clima e da terra e ao abandono sócio – econômico. Está a sua disposição uma “Medicina rústica”, permeável á crendices: onde médicos e remédios, são necessariamente substituídos por curandeiros, beatos, preparados “mágicos” ou rezas que em enumeras vezes bastavam ao sertanejo. Segundo historiador Frederico Pernambucano de Melo o isolamento fez com que o cangaceiro vivesse de forma medieval, no que diz respeito aos seus costumes, insensibilidade perante a morte e trato com o sangue.

O menino sertanejo habituado a auxiliar seu pai a sangrar os animais com facas rudimentares para obtenção do seu sustento, quando adulto utiliza o mesmo método para dizimar o inimigo: “(...) Lampião, por exemplo, sangrava uma pessoa como o jovem fazia para matar um bode. Quando o bando castrou um de seus inimigos, a assepsia foi a mesma aplicada aos animais: cinza, sal e pimenta” ( O Estado de São Paulo: 1998).

Essa insensibilidade e instinto em situações de emergência, aliados a certo tirocínio cirúrgico, demonstrado por alguns integrantes dos bandos de cangaceiros e ainda ao conhecimento básico da farmacopeia do sertão; foram fundamentais para manutenção da vida e reabilitação dos feridos de combates nos ermos da caatinga nordestina. Em Aglaê Lima (1970:131), Lampião representava o cirurgião, clínico, ginecologista, parteiro e até dentista do bando. Essa mesma idéia, fruto da imaginação recreativa de muitos autores e da fantasia popular permeada pela mítica do cangaceiro, foi difundida por inúmeros autores estudiosos do movimento: “Praticavam extrações dentárias com pontas de punhais e alicates.

Em seguida bochechos de mandacaru. Raspa de juá evitava o aumento da cárie. Lampião, Zé Baiano, Lavareda e Virgínio eram os cirurgiões do cangaço” (Ibid: 138). Dos remanescentes do Cangaço, uma figura peculiar e extremamente curiosa foi sem dúvida Dadá, companheira de Corisco; valente e destemida, deu contribuições significativas para o resgate histórico sobre a vida de Lampião e seu bando. Em depoimentos fornecidos ao escritor Antônio Amaury, um dos maiores pesquisadores do assunto, a cangaceiro declara que desconhece Lampião removendo balas, amputando membros, realizando partos complicados e muito menos arrancando dentes. “Arrancar um dente ainda não ‘amolecido’ pela piorreia é trabalho hercúleo (...)”. Portanto, afirmar que lampião ou qualquer outro cangaceiro era ‘dentista’ é pura balela.

O sertanejo, de um modo geral, tem dentição forte, bem calcificada, haja vista sua grande ingestão de cálcio, através de leite e derivados.

Pelo menos até aparecerem as afecções odontológicas endêmicas no sertão nordestino. Pois “um dente já sem sustentação, comido pela placa bacteriana e pela piorreia, esse até uma criança o arranca” ( Araújo e Fernandes: 2005, 80). Com base em relatos históricos podemos dizer que em inúmeros momentos, com um pouco de bom censo e muita coragem, vários procedimentos médicos improvisados, foram realizados de forma empírica e inclusive com algum êxito pelos cangaceiros; no entanto jamais poderemos nomeá-los “paramédicos”, mas seres munidos de um relevante instinto de sobrevivência e que atribuíam sua saúde ao fechamento do corpo, aos patuás e tinham ao seu dispor a farmacopeia aprendida com seus pais e avós.

Nesse particular, merece destaque a já citada Dadá que em muitos momentos mostrou habilidade cirúrgica admirável, apesar de nunca ter frequentado se quer uma escola de ensino médio. Em fevereiro de 1939, nas proximidades da fazenda Lagoa da serra-se, Corisco foi atingido por um projétil de arma de fogo que atravessou o braço direito e logo após o esquerdo, resultando em fraturas expostas e grande hemorragia. Passado algum tempo, começou a apresentar braços arroxeados pelos hematomas, edema e perda de consciência. Dadá aplicou-lhe uma mistura de pó de fumo nas feridas para aliviar a dor (Ibid: 25-36). A analgesia deu-se provavelmente devido ao encobrimento das terminações nervosas que estavam expostas.

Dadá afirma que posteriormente formou-se um abscesso na área lesada, fez uso de um emplasto com farinha de mandioca e quando o pus superficialismo procedeu a drenagem (Araújo:1969-1970). A farinha de mandioca quente funcionava como um vaso dilatador local, possibilitando uma maior irrigação sanguínea e chegada de células de defesa que ao liberar moduladores químicos contribuiriam para a resolução do quadro. “Depois Dadá flambou, na chama de uma vela, a lâmina de um canivete e fez uma incisão na altura do cotovelo esquerdo de corisco. A abundante secreção sanguinolenta vazou o braço do cangaceiro ‘desinchou’ e o alívio da dor foi quase completo” (Araújo e Fernandes: 2005 33). Embora a atitude corajosa de Dadá ao drenar os abscessos e desbridar os ferimentos de Corisco, livrou-lhe de uma septicemia, deixou a desejar do ponto de vista funcional.

A partir do episódio, o vingador de lampião só podia atirar com arma pequena, estava impossibilitado de segurar o fuzil (Ibid: 35). Lesões em abdome por arma de fogo ou arma branca eram fechadas com agulha de costurar couro (Oliveira: 1970 134). A retirada dos projéteis era feita sem anestesia: “(...) Zé Sereno notou um ‘caroço’ no pescoço de novo tempo e perguntou: Que caroço é esse no seu pescoço, cumpadi? Será a bala do Ontoím do pau preto? (...) Nisso, botou a faca no fogo, derramou cachaça no gume, espremeu o ‘caroço’ entre o indicador e o polegar e deu pequeno talho: A bala pulou longe!” (Araújo e Fernandes: 2005 68). Em Aglaê Lima (1970: 137) “Extraiam-se as balas a cru na ponta do punhal, a luz dos candeeiros.

Para a sede excessiva quando se sentia perder a visão, os lábios grossos, a boca espumante, conseguida a água, deveria ser servido aos goles, misturada com rapadura”. Uma entidade bem conhecida dos médicos em geral é o choque hipovolêmico. Síndrome decorrente da má perfusão tecidual, caracterizada pela diminuição da volemia, secundária a hemorragia, diarreia e trauma; o tratamento inicial consiste em debelar a fator causal e repor volume (Borges e Cols.: 2005 41-44). O tabaréu do sertão, empiricamente utilizava a água com rapadura para evitar o mal; ou ainda água de genuíno e arnica: “Andaram mais um pouco e Corisco teve uma lipotimia (sensação de desmaio) decorrente da hemorragia dos seus ferimentos. Pararam, Dadá deu-lhe uma dose de cachaça de quixabeira, misturada com arnica e água de genuíno. Logo a ferida voltou a si, criou forças e retomaram a caminhada” ( Araújo e Fernandes: 1995, 30).

Nesse caso, é pouco provável que o choque hipovolêmico tivesse se instalado, já que é fato, a impossibilidade de reverte o quadro já estabelecido sem no mínimo, uma reposição volêmica rápida com a substância predominantemente perdida, além de oxigeno terapia (Borges e cols.: 2005, 41-44).Em meados de 1927, Lampião fugiu para o Raso da Catarina na Bahia. Em suas andanças, chegou a uma das regiões mais secas e inóspitas do Brasil, o povoado de Santa Brígida, onde vivia Maria de Déa, que mais tarde seria conhecida como Maria Bonita: Primeira mulher a fazer parte do cangaço (Os Caminhos da terra: 1998).

A novidade abriu espaço para que outras mulheres acompanhassem os cangaceiros; trazendo consigo um grande problema para o bando, a gestação e o parto. “A gravidez no cangaço era uma grande preocupação para os grupos. Além de serem redobrados os cuidados com a segurança do bando, eles procuravam lugares ermos, fora da rota de volantes, mas próximos a costeiros de confiança e, eventualmente, de uma boa parteira” (Araújo e Fernandes:  1995, 87). As crianças não eram amamentadas pelas mães naturais, mas deixadas com amigos de confiança em coitos seguros.

Assim ocorreu com Expedita Ferreira, filha única de Lampião e Maria, que logo após o nascimento foi entregue pelo pai a um casal que já tinha onze filhos; durante os cinco anos e nove meses que viveu até o falecimento dos seus pais, só foram visitados três vezes (Os Caminhos da terra: 1998). A vida no cangaço já era perigosa e sacrificante para homens feitos; imagine para uma criança indefesa. Em Antônio Amaury e Leandro Cardoso (1995: 87-89), o auxílio de parteiras constituiu exceção no cangaço, a falta de assistência ao parto, em algumas situações implicou em óbito dos recém-nascidos. Assim das gestações de Maria Bonita, somente uma criança conseguiu sobreviver; justamente a que veio ao mundo pelas mãos de uma parteira.

O parto transvaginal, normalmente evolui de forma espontânea; para isso, é preciso que o canal, as contrações uterinas, musculatura abdominal e pélvica, além do feto e seus anexos interajam de forma harmônica. O surgimento de anormalidades nesses fatores pode levar a distorcias, determinando impossibilidade de progressão do parto por via natural, culminando com morte da mãe e, ou do concepto na ausência de assistência adequada (Borges e cols.: 2005 1190-1191).

Como exemplo, temos o de Adelaide de Criança que morreu em 1936 nas caatingas sergipanas, após uma provável distorcia ( Costa: 2002, 147-149). Segundo Aglaê Lima (1970: 137), os partos eram realizados em condições precárias e sem os mínimos cuidados com mãe e filho: “As bandidas tinham partos normais, sem nenhuma higiene”.

O umbigo do menino era cortado com unhas e não contraíam tétano”. Inúmeras afecções poderiam colocar em risco de vida a cangaceira grávida nos ermos da caatinga, sem médicos e assistência pré-natal: o abortamento e suas complicações, diabetes gestacional, trauma abdominal, hipertensão materna; além de descolamento prematuro da placenta, choque hemorrágico e apresentações anômalas3. Embora não tenha registros precisos, tudo leva a crer que a mortalidade materno-fetal nos bandos não era desprezível, já que não havia o mínimo de planejamento familiar, assistência pré-natal e assistência ao parto. Tripé esse responsável pela redução da morbidade e mortalidade perinatal nos dias atuais (Borges e cols.: 2005 1109). Os anais do cangaço registram ainda fatos curiosos; empiricamente os tabaréus eram capazes de perceber a gravidade de alguns quadros, realizavam diagnósticos e até prognósticos.

Dessa forma, quando um projétil de arma de fogo penetrava o abdome e o sangue saia de cor escura, significa gravidade, o que muitas vezes se confirmava pela morte do enfermo (Oliveira: 1970 134).

A explicação desse fato deve-se a uma provável lesão de uma veia calibrosa, como a veia cava ou veia hepática, ou ainda uma lesão de órgão maciço, como o fígado o que levaria a uma grande perda sanguínea e até morte por choque hipovolêmico (Araújo e Fernandes: 1995 90). Outra prática curiosa utilizada para o prognóstico de lesões no abdome era cheirar a ferida; no caso de cheiro de fezes o prognostico era sombrio. “Se os intestinos foram perfurados, tratava-se de preparar a rede para enterrar: fedeu a cocô, fede a defunto” (Oliveira: 1970 134).

As lesões do intestino grosso, em virtude da flora e das características anatômicas e fisiológicas do órgão são acompanhadas de índices consideráveis de mortalidade. Para se ter uma ideia, na Guerra Civil Americana a mortalidade devido as lesões de cólon estava próximo de 100% e durante a I Guerra Mundial ficou em torno de 60% (Erazo: 1998). Nesses casos, o material fecal leva a uma irritação do peritônio, ocasionando uma peritonite fecal, com evolução para septicemia e morte (Araújo e Fernandes: 1995 90-91).

4. A morte de lampião

A morte  de Virgulino Ferreira da Silva ocorreu  no dia 27 de julho de 1938, Conforme o costume de anos a fio, o bando acampou na fazenda Angicos, situada no sertão de Sergipe, esconderijo tido por Lampião como o de maior segurança. Era noite, chovia muito e todos dormiam em suas barracas. Na madrugada do dia 28, a volante chegou tão de mansinho que nem os cães pressentiram. Quando um do cangaceiro deu o alarme, já era tarde demais. 

Não se sabe ao certo quem os traiu. Entretanto, naquele lugar mais seguro, segundo a opinião de Virgulino, o bando foi pego totalmente desprevenido. Quando os policiais do Tenente João Bezerra e do Sargento Aniceto Rodrigues da Silva, abriram fogo com metralhadoras portáteis, os cangaceiros não puderam empreender qualquer tentativa viável de defesa. O ataque durou uns vinte minutos e poucos conseguiram escapar ao cerco e à morte.

Dos 34 cangaceiros presentes, 11 morreram ali mesmo. Lampião foi um dos primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente ferida. Alguns cangaceiros, transtornados pela morte inesperada do seu líder, conseguiram escapar. Bastante eufóricos com a vitória, os policiais saquearam e mutilaram os mortos. Roubaram todo o dinheiro, o ouro, e as joias. A força volante, de maneira bastante desumana, decepa a cabeça de Lampião. Maria Bonita ainda estava viva, apesar de bastante ferida, quando sua cabeça foi degolada.

O mesmo ocorreu com Quinta-Feira e Mergulhão: tiveram suas cabeças arrancadas em vida. Feito isso, salgaram os seus troféus de vitória e colocaram em latas de querosene, contendo aguardente e cal. Os corpos mutilados e ensangüentados foram deixados a céu aberto para servirem de alimento aos urubus. Guardadas as devidas proporções, após ter passado, praticamente, cento e cinquenta anos da Revolução Francesa, os brasileiros retrocederam ao século XVIII, decepando cabeças como fizeram com Luís XVI e Maria Antonieta.

Percorrendo os estados nordestinos, o coronel João Bezerra exibia as cabeças - já em adiantado estado de decomposição - por onde passava, atraindo uma multidão de pessoas. Primeiro, os troféus estiveram em Maceió e, depois, foram ao sul do Brasil. No Instituto de Medicina Legal de Maceió, as cabeças foram medidas, pesadas, examinadas, pois os criminalistas achavam que um homem bom não viraria um cangaceiro: este deveria ter características sui generis.

Ao contrário do que pensavam alguns, as cabeças não apresentaram qualquer sinal de degenerescência física, anomalias ou displasias, tendo sido classificados, pura e simplesmente, como normais. Do sul do País, apesar de se encontrarem em péssimo estado de conservação, as cabeças seguiram para Salvador, onde permaneceram por seis anos na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia. Lá, tornaram a ser medidas, pesadas e estudadas, na tentativa de se descobrir alguma patologia.

Posteriormente, os restos mortais ficaram expostos no Museu Nina Rodrigues, em Salvador, por mais de três décadas. Durante muito tempo, as famílias de Lampião, Corisco e Maria Bonita lutaram para dar um enterro digno aos seus parentes. O economista Silvio Bulhões, em especial, filho de Corisco e Dadá, empreendeu muitos esforços para dar um sepultamento aos restos mortais dos cangaceiros e parar, de vez por todas,  essa macabra exibição pública. Segundo o depoimento do economista, dez dias após o enterro do seu pai violaram a sepultura, exumaram o corpo e, em seguida, cotaram-lhe a cabeça e o braço esquerdo, colocando-os em exposição no Museu Nina Rodrigues.

O enterro dos restos mortais dos cangaceiros só ocorreu depois do projeto de lei no. 2867, de 24 de maio de 1965. Tal projeto teve origem nos meios universitários de Brasília (em particular, nas conferências do poeta Euclides Formiga), e as pressões do povo brasileiro e do clero o reforçaram. As cabeças de Lampião e Maria Bonita foram sepultadas no dia 6 de fevereiro de 1969. Os demais integrantes do bando tiveram seu enterro uma semana depois. Virgulino morreu aos 41 anos de idade.

No entanto, contabilizando-se os riscos enfrentados durante 20 anos de cangaço, a alimentação incerta, as emboscadas, os ferimentos, a falta de assistência médica, entre outros, pode-se afirmar que o rei do cangaço viveu mesmo muito tempo.

Vale registrar, por outro lado, que Lampião e Maria Bonita possuem parentes próximos em Aracaju: sua filha, Expedita, casou com Manuel Messias Neto e teve quatro filhos (Djair, Gleuse, Isa e Cristina). Por fim, a grande inteligência de Virgulino Ferreira da Silva, bem como o seu valor como estrategista valem a pena ser ressaltados. Mais de sessenta anos após sua morte, ele continua sendo lembrado na música, na moda, na literatura de cordel, no teatro, no cinema, em escolas, em museus, em conferências e debates.

O temido cangaceiro, indubitavelmente, o mais importante e carismático de todos, deixou gravado nas caatingas sertanejas um pedaço da história do Nordeste do Brasil.’’ . (Fonte: VAINSENCHER, Semira Adler. Lampião (Virgulino Ferreira da Silva). Pesquisa Escolar.), Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar>. Acesso em: 23/03/2014 As 15h30minhs.  Recife, 24 de julho de 2003. (Texto atualizado em 19 de março de 2008). O fim do cangaço realmente  aconteceu em um momento onde o Brasil estava envolvido pelo ideal nacionalista e autoritário de governar do Estado Novo, período republicano brasileiro de 1937 a 1945.

O governo classificou os cangaceiros como subversivos e reforçou as políticas de repressão a níveis federais. Em finais da década de 30, já era repelida de maneira significativa as ações dos bandidos. O próprio cangaceiro Lampião, maior sustentáculo do cangaço independente do período foi exterminado em 1938, tendo logo depois sua cabeça exposta em espaço público como sinal de coibição aos bandoleiros. Pouco depois, em 1940, morre um dos últimos grandes líderes, Corisco, conhecido também como “diabo louro”. Sua morte é reconhecida simbolicamente como o fim do cangaço. ( ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A Invenção do nordeste e outras artes. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2011. Pp. 143 – 144.).

5. A medicina popular do Cangaço

A medicina do cangaço não difere em nada, da utilizada pelo sertanejo em geral. Nas comunidades mais atrasadas, mesmo após o advento da indústria farmacêutica, que no Brasil só aconteceu no início do século XX, o alívio das dores era procurado nas qualidades terapêuticas de algumas plantas ditas medicinais. Até hoje o socorro médico está ligada a praticas rústicas aprendidas com negros, portugueses e índios.

Para Mario Souto Maior a medicina popular constitui consequência de uma preocupação humanista de aliviar o sofrimento humano. Atividade do curandeiro e de seus usuários decorre de uma vocação médica, de uma constante observação da fármaco-dinâmica de plantas, aliados a um conhecimento precioso a respeito de vegetais de efeitos medicinais maravilhosos, mas que mal utilizados podem trazer resultados danosos ao usuário.

Tal conhecimento é fruto de séculos de experimentações e ainda que permeados por erros e riscos se mostrassem muito útil ao tabaréu, visto que no sertão era rara a presença de um médico. Para se ter uma ideia, os cangaceiros só conheceram as propriedades do ácido acetila - salicílico em 1929, através do Capitão-Médico do exercito Eronildes de Carvalho que ofereceu um comprimido do analgésico para um bandoleiro com dor de dente (Araújo e Fernandes: 2005, 131). Não é incomum observamos uma estranha junção entre chás, lambedores, efusões, emplastos, defumadores; mas também benzeduras, simpatias e orações que os cangaceiros utilizavam para cura das suas doenças.

A farinha, além de alimento indispensável, era utilizada como emplastro, no tratamento dos  abscessos. Os matutos acreditavam que o emplastro quente com farinha, sobre regiões inflamadas evitava que a lesão “viesse a furo”. Para Araújo e Fernandes a melhora do quadro se devia à vasodilatação decorrente do calor local e consequente chegada de um maior número de leucócitos, o que em última instância abreviava o processo inflamatório. Já o fumo em pó era utilizado sobre feridas abertas, com objetivo de evitar infecções secundárias, ovo posição de moscas varejeiras e miasse. (Araújo e Fernandes: 2005 92-93).

“Segundo o ex - cangaceiro e escritor Joaquim Góis, Lampião e seus “cabras” traziam como parte integrante do seu “ carrego” uma botica improvisada com tintura de iodo, pó de Joanes, água forte, pomada de São Lázaro, linha e agulha, algodão, um estojo de perfumes com brilhantina, óleo extratos e essências baratas. (Góis: 1966, 37-40).Em depoimentos fornecidos por Dadá, a cangaceira relatou que ao abraçar a profissão ,os homens levavam “mezinhas”, plantas, misturas e alguns produtos como cachaça ,álcool e água oxigenada.

Para Araújo e Fernandes embora esses produtos não tenham eficácia comprovada, é notável a ação antimicrobiana do álcool e peróxido de hidrogênio, Principalmente contra o Clostridium tétano, causador do tétano. (Araújo e Fernandes: 2005,92).  O Juá e a arnica são elementos fundamentais para o sertanejo no tratamento de grandes traumatismos decorrentes de quedas, acidentes, esmagamentos, facadas ou tiros.

As empregadas colocavam cascas de jenipapo nas luxações, fraturas e contusões era uma prática comum. Em traumatismo ocasionado por coice de burro usavam um emplasto de mastruço, carvão moído e esterco de animal. O chá de quixabeira também era recomendado para cicatrização(Seraine:1983, 142-145). A raspa do pau de quixabeira era misturada com álcool ou cachaça e ingerida ou colocada sobre o ferimento; segundo os cangaceiros a ingestão dessa mistura reanimava e dava uma sensação de força ao doente. (Araújo e Fernandes: 2005,93).No ferimento à bala, aguardente, água oxigenada e pimenta malagueta seca eram introduzidos através do orifício de entrada. Segundo alguns sobreviventes, o tratamento era muito doloroso e mais angustiante do que a própria lesão. (Ibid: 92).

Na vida errante do cangaço a quantidade e qualidade da alimentação dependiam da situação: Quando perseguidos, se alimentavam às pressas, as colheres eram substituídas pelas mãos sujas em forma de concha, sem nenhuma higiene. Panelas de barro, latas e batatas de umbu eram utilizadas para cozinhar os alimentos; na maioria das vezes constituídos de carne seca de bode ou boi, rapadura e farinha. “Quando nos “coitos” livres dos “macacos”, os cangaceiros se alimentavam fartamente, após as refeições descansavam, contavam os “ causos” e gargalhavam. (Oliveira: 1970, 139-145). Mezinhas, amuletos e rezas eram utilizados para “fechar o corpo” contra os inimigos ou para espantar cobras e animais peçonhentos, além de recomendações no mínimo estranhas: dessa forma, mulher menstruada era impedida de entrar nos quartos dos feridos de guerra,” para não arruinar a ferida”.

O tratamento de doenças venéreas era feito com sumo de 12 limões bebido em jejum logo após o sol nascer. Não podia olhar para mato verde e nem para mulher; banho de rio nesses casos era proibido porque “ficava cego”, quando atingia os testículos ou em casos de “mula” (linfogranulomatose) o doente acocorava-se sobre o fogo. Se a afecção fosse o tétano, o tabaréu se vestia de preto, ficava em um cômodo escuro e incomunicável. Em lesões graves, dentre outros cuidados o doente devia evitar “pisar em rastro de corno”. (Ibidem: 131-139). No livro “Lampião, Cangaço e Nordeste”, a escritora Aglaê de Oliveira cita outros exemplos da farmacopeia cangaceira utilizada para o tratamento de enfermidades comuns nos bandos: Cefaleia: Folhas de algodão aquecidas e mascar o gengibre. Faringite: Chá de formiga e gargarejo com sal .

Doenças reumáticas: Banha de capivara, chá de osso de jumento, carne de cascavel. Otites com leu correia: Banha de traíra. Asma: Banha de ema. Constipação: Alecrim caseiro. Sinusite: Alecrim salobro. Diabetes: Jucá. Epistaxe: Cheirar algodão queimado. Otalgia: Tampões de folhas de algodão.

Entorses e luxação: Emplastro de clara de ovo batida com breu e untar o local atingido, com banha de ema. Mordedura de cobra: Queimava o local da picada imediatamente ou realizavam um corte com faca afiada para escorrer o veneno. Halitose: Mastigar folhas da goiabeira branca. Hemorragia: Suco de arnica. Cardiopatias e lipotímia: Chá de quiabo. Epilepsia: Chá de perna de garça. Ascaridíase: Erva de cruz. Difteria: Banhos de sândalo e alcaçuz. Hidrocele e hérnia: Banha de baiacu. Enterites: Chá de erva cidreira, Sapiranga. Escabiose: Raspa de côco misturada mistura com enxofre, passando 8 dias sem molhar.: Chá de velame, chá de cabeça de negro em jejum e água de arroz. À pimenta e ao caminho em jejum chamavam “mingau levanta homem”.

Para suspender a menstruação: Semente de manjiroba em infusão. Infusão de grão e café na aguardente, durante 9 dias. Febre alta: Suador de semente de melancia e a casca de angico em água serenada. “Fraqueza dos pulmões”: Leite de jumento pela manhã. Prisão de ventre: Chá de raiz da gitirana, retirada do nascente.

As marcas que lampião deixou  na vida e na memoria das pessoas tornando-se assim mito e herói onde a população o denominaram de  rei do sertão.

As histórias do cangaço ainda permanecem vivas nas cidades do Nordeste. Relatos tristes e alegres são contados pela lira dos repentistas, imortalizados por livros, filmes e melodias como “mulher rendeira”, enquanto as crianças romantizam a vida errante, o heroísmo das batalhas e as “brabezas” de Lampião por esses sertões. Mas a vida de quem escolhia o banditismo não era fácil, as fugas dos volantes, as refeições improvisadas, as enumeras noites insones em condições insalubres, as batalhas sangrentas, tornavam cada dia uma aventura árdua na luta pela sobrevivência. Lampião viveu 23 anos em guerra e passou por mais de 400 tiroteios, não é de admirar que tenha sofrido muitos ferimentos ao longo de sua vida de “fora da lei” (Araújo e Fernandes: 2005,167).

Em entrevista fornecida ao médico, Dr. Octacílio Macedo, durante sua visita a Juazeiro do Norte quando foi convidado pelo padre Cícero Romão para integrar o Batalhão Patriótico contra a coluna prestes, Lampião informou já ter recebido quatro ferimentos importantes, dos quais, um na cabeça foi considerado por ele o mais grave, referiu ainda sofrer de “ligeiros ataques reumáticos” (Observatório da imprensa: 1998).

A primeira lesão grave de Lampião se deu  quando ainda fazia parte do grupo do Sinhô Pereira, em 1922. Na ocasião foi atingido na região inguinal, no braço direito e recebeu um tiro de raspão na cabeça. Foi atendido e medicado pelo Dr. Mota, médico de Vila Bella-PE, recuperando-se sem nenhuma sequela( Fernandes e Araújo: 2005, 167-172). Em Março de 1924, nas proximidades da lagoa do  Vieira (divisa de Pernambuco e Paraíba), foi ferido no tornozelo direito, ao mesmo tempo em que o jegue no qual estava montado fora mortalmente atingido, prendendo-lhe ao cair, o membro machucado (Melo: 1993, 151). O tiro deixou-lhe uma sequela cicatricial devido a lesão importante no tendão de Aquiles, e, ou nos músculos flexores do pé direito.

A partir de então passou a utilizar calçados de rabichos, com reforço na parte do calcanhar. Dessa forma o seu rastro tornou-se inconfundível, sendo fácil para os rastejadores identificaram o Grupo de Lampião pela pisada (Araújo e Fernandes: 2005, 19-21).Em “Lampião o último Cangaceiro”, o escritor e ex-volante Joaquim Góis (Araújo:1969), refere que na Chacina em Angico, para certificar-se que um dos corpos de capitados pertencia ao cadáver de Lampião, valeu-se da cicatriz atrófica no pé direito de um dos mortos.

Esse fato deve ter dado origem à crença de que o grupo de Lampião usava as alpercatas de forma contrária com o objetivo de confundir a polícia. Na verdade o reforço na parte do calcanhar impedia que o calçado saísse do pé lesionado, durante a deambulação.  Dr. José Cordeiro de Lima, foi quem tratou do cangaceiro; a quem o médico se referia sempre como “capitão” devido à bravura e resistência demonstradas durante os procedimentos cruentos, nos quais Virgulino não esboçou se quer um gemido.

A figura do “monarca das caatingas”, com o olho direito esbranquiçado, usando seus óculos redondos, levanta uma polêmica há muito tempo discutida entre os estudiosos e amantes do cangaço: Seria lampião realmente cego do olho direito? Qual a patologia responsável pela lesão ocular? Em Maria Isaura Pereira de Queiroz é relatado a frequência que os jornais referíamos óculos de Lampião. Para alguns autores tratava-se de uma coqueteira utilizada para  esconder o olho cego e de “vidro”. Para outros, os óculos era uma necessidade, devido à fotofobia.

Em “O Povo”, de Fortaleza, é descrito na edição de 5 de agosto de 1928, os óculos de lentes escuras, usados para esconder uma doença que atingiu a córnea do olho direito. Em “Lampião”, o escritor Ranolfo Prata faz referência a o olho direito cego, por um garrancho de jurema, que lacrimejava constantemente. Leonardo Motta, célebre folclorista cearense, assim o descreve: “(...) o olho direito branco e cego, escondido pelos óculos pardacentos, de arcos dourados...” (in: Araújo: 1982, p.76).

A análise do laudo médico da cabeça de Lampião, feito em Maceió - Al, pelo médico-Legista da Polícia Militar, Dr. Lajes Filho, nos leva a concluir que Lampião era funcionalmente cego do olho direito: “(...) O olho direito apresenta um leucoma, atingindo toda a córnea...” (Rocha, 1998) Segundo o relato do oftalmologista alagoano Dr. Neves Pinto, na edição de 5 de agosto de 1938, a lesão era irreversível: “(...) leucoma adberente central, na maioria das vezes consequente de úlceras perfuradas de córnea, e em vista da extensão das lesões, poderia assegurar que o caso era incurável.”

Refere ainda um cristalino luxado no olho esquerdo, devido provavelmente aos violentos traumatismos sofridos pela cabeça de lampião.

Segundo Dona Mocinha, Virgulino já possuía baixa da acuidade visual, mesmo antes de entrar no Cangaço; assim como outros membros da família.  Sendo as afecções da córnea endêmicas no nordeste brasileiro não se pode afastar a possibilidade de uma etiologia infecciosa como sarampo, tracoma como causa do leucoma, fotofobia e lacrimejamento. (Araújo e Fernandes: 2005).

Para a neta do cangaceiro, a historiadora Vera Ferreira, em entrevista exclusiva a Agência Nordeste; a lesão se deu em um combate, quando um tiro atingiu uma planta e o espinho respingou no olho, já acometido pelo glaucoma (Diário do Nordeste: 1998). O glaucoma é uma patologia, na qual a pressão intraocular está em níveis tão elevados que pode resultar em dano do nervo óptico e perda do campo visual, sendo o seu diagnóstico um grande problema de saúde pública (Langston: 2001 301). È lamentável que mesmo nos dias de hoje, as populações nordestina percam a acuidade visual por causas que poderiam ser evitadas desde que medidas de diagnóstico e tratamento fossem implantadas pelas autoridades responsáveis.

Depois de sua morte segundo relata o autor aqui vai explicar o que fizeram com os restos mortais  ou seja com a cabeça nessa instituição de  medicina legal.  Na ocasião, Lampião foi tratado pelo médico José Cordeiro de Lima (destaque pela atuação na luta contra o tracoma no Cariri cearense), que retirou o corpo estranho do seu olho e como não se dispunha de antibióticos na época, provavelmente só foi realizada profilaxia de lesões secundárias e antissepsia, concorrendo para uma cicatrização descomplicada. (Araújo e Fernandes: 2005,43).

Diante dos depoimentos apresentados é bem possível que lampião não tenha nascido cego, mas teve problemas com seu olho direito: Traumático, infeccioso ou até carência (falta de vitamina A) na infância ou adolescência que mais tarde; precisamente em 21 de agosto de 1925, próximo à baixa do Juá, Pernambuco (Ibidem: 39-44), foram agravados pelo espinho certeiro que he atingiu o olho já doente. “(...) O olho cego do Capitão Virgulino Ferreira não o impediu de torna-se  uma figura polêmica, escrevendo com sangue e coragem a sua saga na memória histórica do Nordeste brasileiro, e de maneira muito singular no contexto sociológico do banditismo mundial.” (Ibidem: 44-45).

Sofreu ainda duas lesões leves: um ferimento a abala em 1926, em região escapular e outro no quadril em 1930, no município de Itabaiana - SE. (O girassol, 11 de fevereiro de 2006). Nas margens sergipanas do São Francisco; Angico-SE, 28 de julho de 1938 Lampião recebeu um tiro na região do tórax, outro no baixo ventre, e um terceiro a queima-roupa na cabeça (Araújo e Fernandes: 2005,171). O projétil de arma de fogo que atingiu o crânio fraturou o mandibular o frontal, o temporal e parietal direitos, levando-lhe a morte (Rocha: 1942 48-49). Para Aglaê oliveira os cangaceiros foram abatidos como bois.

A matança dos onze bandidos mostrava como era primitiva a vingança das autoridades contra as atrocidades cometidas pelos cangaceiros. As cabeças decepadas e insepultas passariam por um dos “espetáculos” mais tenebrosos vivenciado pela população brasileira. Acrescenta a autora: “(...) É inacreditável que, à semelhança de modernos giros, o Brasil ostente mais essa singularidade. País exibidor de crânios humanos, aos quais os filhos dos exibidos assistem como expectadores.” (Oliveira: 1970 377).para entendermos melhor aqui esta alguns aspectos medico legal do cangaço. Pois a existência de uma personalidade criminosa sempre foi uma polêmica para  psiquiatras, antropólogos e sociólogos.

A discussão que sempre existiu sobre a conduta humana se dá entre dois argumentos causais: Existiria um determinismo criminoso, galgado na constituição biológica, social e vivencial que levaria a pessoa a agir dessa ou daquela forma, ou haveria o livre arbítrio, o qual implica na consequência e punibilidade dos atos? Em 28 de julho de 1938, quinta-feira, no Angico, Lampião e mais 10 bandidos foram mortos e degolados. Suas cabeças não só foram exibidas em público para assombramento da população sertaneja, como também as fizeram de bola de futebol. (Araújo e Fernandes: 2005 171-172).

Maria Bonita foi ferida com dois tiros; o primeiro nas costas e o segundo no abdome, por José Panta de Godoy (Araújo: 1982 99-110). Para o médico Arnaldo Silveira, em entrevista concedida ao jornalista Cláudio Bojunga, a cangaceira foi degolada com vida (Jornal de Alagoas: 4 de agosto de 1938). Segundo os escritores Antônio Amaury e Fernandes é possível que Maria além de viva estivesse consciente, já que testemunhas do massacre relataram uma conversa entre a vitima já baleada e o cangaceiro Luis Pedro  (Amaury e Fernandes: 2005,173-174). A iniciativa de degolar os cangaceiros partiu do aspirante Ferreira de Melo. As cabeças foram salgadas e postas em latas de querosene, com aguardente e cal. Nos degraus capela nomeada “O monumento” de Santana do Ipanema  foram exibidas pela primeira vez, como troféus, enfeitadas com belos adornos, cartucheiras e punhais. Em seguida seguiram para Maceió, sendo expostas na Praça Velha da Cadeia, onde verdadeira multidão disputava o melhor lugar para assistir a cena.

Esse fato atesta que soldados e cangaceiros eram figuras praticamente indissociáveis, no que diz respeito às barbaridades praticadas no sertão nordestino. (Oliveira: 1970, 370). Após o acontecimento esdrúxulo foi enviada então a um cientista para ser analisada: era preciso descobrir o que havia ali, que teoria explicaria o comportamento muitas vezes bárbaro do rei das caatingas e de seus seguidores. Caberia a ciência dizer a última palavra. Em 1838 para designar certas formas de loucura Esquirol propôs o termo “Monomania Homicida”, uma desordem ética e moral que levava a prática de crimes. (Ballone revisto em 2002). A teoria da monomania homicida, apesar de não mais aceita influenciou no surgimento da Teoria da Degenerescência, desenvolvida por Morel em 1857 através da qual se desenvolveram as mais variadas teorias biológicas, psicológicas, sociológicas e antropológicas sobre o crime, criminalidade e criminoso que hoje conhecemos. Onde a degenerescência se definia como desvio de um tipo primitivo perfeito e transmitido hereditariamente.

Em 1870, V. Magnan (1835-1916) retomou Morel, Tentou reinterpretar a degenerescência à luz do evolucionismo, considerando-a um estado patológico, em que os desequilíbrios físico e mental do indivíduo degenerado interromperiam a evolução natural da espécie; (Ackerknecht, 1964; Bercherie, 1989; Serpa Jr., 1998). Os termos preconceituosos usados em relação aos sertanejos, fruto da miscigenação de índios, negros e brancos agora pretendiam ter fundamento científico. Partiam da degenerescência para explicar que à medida que se sucedessem as gerações nervosas gerariam neuróticos, que produziriam psicótico, que gerariam idiotas ou imbecis, até a extinção da linhagem defeituosa.

Nesse contexto surge o escritor italiano César Lombroso (1836-1909) criador de uma antropologia criminal, que relacionava crime e degeneração. Lombroso acreditava no criminoso nato, cujas características manifestar-se-iam no fenótipo do indivíduo. Essa teoria ganhou espaço entre legistas e psiquiatras, que tentavam identificar marcas somáticas para o crime, dentre elas citamos a fronte fugidia, proeminências ósseas, assimetria de face, caninos exagerados, mandíbulas possantes, proeminência occipital, orelhas em “abano”, o tubérculo darwiano de regressão ao macaco.

Medir e estudar crânio eram uma obsessão da época, vários cangaceiros tiveram suas cabeças decepadas e enviadas a médico-legistas da polícia militar alagoana em Maceió e à Faculdade de Medicina da Bahia para serem submetidas à cefalometria e à análise destas características (Lima: 1965 27-52). No Brasil, o médico maranhense Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), deu enormes contribuições à psiquiatria, medicina legal e antropologia estudavam as composições genéticas e comportamentais dos afrodescendentes e defendia que a loucura era um produto estrutural das raças e classes inferiores.

Instituindo um pensamento etnocêntrico como modelo de normalidade social. Contribui para a classificação das sociedades em normais e anormais (Revista Canudos: 2000,50). Nina Rodrigues, buscou cientificamente criar regras que avaliariam indivíduos cujo comportamento fosse doentio, além decidir quanto à sua imputabilidade penal e principalmente, sugerir meios preventivos para evitar a loucura e o crime. A ideia da degenerescência Lombrosiana como causa da doença mental, passou a ser vista pelos estudiosos modernos como retrógrada e ultrapassada; era preciso abandoná-la. Surgiam assim, os deterministas sociais: para os quais o meio, com seus fatores sociais e geográficos, seria suficiente para explicar a criminalidade.

Mais uma vez o livre arbítrio, a personalidade e os motivos do criminoso eram desprezados. Nesse sentido afirmava o professor Arthur Ramos: “No caso do cangaceiro ou do jagunço nordestino as coisas sociais predominam de muito sobre as coisas biológicas, orgânicas. O bandoleiro nordestino é um produto do seu meio social” (Jornal de alagoas: 1938). Para Euclides da Cunha o homem dos sertões está em função imediata da terra, sendo a perfeita tradução moral dos agentes físicos da natureza que o rodeia. Ela talhou-o a sua imagem: bárbaro, impetuoso e abrupto. É um retrógrado e não, um degenerado ( Cunha: S/d, 79-83). Por mais de um século houve apenas uma substituição de uma ideia determinista por outra. Inicialmente as constituições genéticas e hereditárias eram determinantes absolutas.

Posteriormente foi a vez do determinismo moral, onde o indivíduo podia já nascer degenerado. Em seguida, o determinismo psicológico pregava que as maneira da pessoa reagir era imutável e, finalmente, o determinismo social, onde as circunstâncias sociais empurravam invariavelmente a pessoa para o crime. (Ballone, 2002). O pensamento determinista só foi atenuado com a teoria fenomenológica de De Greeff,em meados do século XX.

De Greef leva em conta a necessidade de se conhecer profundamente a personalidade específica do criminoso; seus motivos, caráter, instinto, antecedentes sociais e não mais uma personalidade geral e própria dos Homens Criminosos. Debuyst trouxe o conceito de periculosidade; o qual incluía três elementos: a situação perigosa, a importância sociocultural do ato cometido e de volta, a personalidade  Criminosa.

Mais tarde, Digneffe propôs que o indivíduo é plenamente responsável pelos  seus atos. Hoje as principais teorias psicológicas da criminalidade poderão ser agrupadas em dois grupos: Um deles centrado nas diferenças que caracterizam a Personalidade Criminosa, específica do criminoso e determinador do ato delinquente (Pinatel, Le Blanc), e outro, o da análise do percurso do indivíduo na sociedade, sob o ponto de vista fenomenológico (Debuyst).

A criminologia moderna acredita que não exista diferença entre personalidade de delinquentes e não delinquentes; dessa forma, a “personalidade criminosa” seria uma interação de fatores genético, neuropsicológico, afetivo, cognitivo, político e vivencial. (Ballone revisto em 2002). O professor Estácio de Lima, em seu livro “O Estranho Mundo dos Cangaceiros” nos traz observações do biótipo, segundo a classificação de Kretschmer, além do perfil psíquico dos cangaceiros com quem conviveu e análises detalhadas das cabeças decepadas. Segundo  o pesquisador , o homem pícnico, gordo, alegre, falador, calvo, expansivo e bonachão é incompatível com a profissão de bandoleiro das caatingas.

Quanto aos leptossômicos, a este cabe a frieza, a introspecção, irritabilidade, a agilidade, guardando com mais facilidade as ofensas. Neste último, se tem delineado um possível cangaceiro (Lima: 1965 27-52).

No exame médico-legal da cabeça de Lampião, Dr. José Lages Filho conclui que embora presente alguns estigmas físicos na cabeça de Lampião, não há uma relação absoluta entre os caracteres somáticos encontrados e a figura moral do cangaceiro. Acrescenta o perito: “Faltam às deformidades cranianas, o prognatismo das maxilas e outros sinais aos quais Lombroso tanta importância emprestava para a caracterização do criminoso nato”(Rocha:1942, 48-49). Para Lages na busca da constituição delinquencial de Maria Bonita, seria importante um estudo psicológico da sua personalidade: “Não denunciam eles a existência de quaisquer estigmas de generescênça ou signas atávicos (....). Em verdade uma conclusão definitiva poderia ser tirada da apreciação physiopsichyca e biográphica da victima, único meio de revelar suas tendências criminosas mesmo se despertadas estas pela paixão e pelo amor”. (Jornal de Alagoas: 1938).

Ao contrário do que afirmava sombroso, os cangaceiros também não apresentavam duas das características esperadas em um criminoso nato: a covardia e a indiferença amorosa. A sua fisionomia é a do sertanejo comum, sem quaisquer diferenças ou anomalias (Lima: 1965, 27-52).

Para Oliveira (1970: 374), somos resultantes de uma complexa mistura entre negros, índios e brancos. Se Lucas Ferreira era um negro desalmado e Zé Baiano um cruel ferrador de suas vitimas, Corisco era louro, de olhos azuis, cabelos finos e um demônio, não menos perverso. Acrescenta a autora que os jovens sertanejos cheio de ilusões e ímpetos, testemunhas de bandos armados bem vestidos e alimentados, ingressavam nos bandos, independentemente de sangue de “valentão”, de ser negro, índio ou vesgo. Sua presença era um protesto contra a parcialidade existente na justiça.

A análise da gênese do cangaceiro é polêmica e complexa. Para alguns autores eles foram vitimas de um meio hostil, suas atitudes constituíam uma resposta a profunda crise pela qual a população sertaneja passava, como também um protesto contra a sociedade que os esquecia de e marginalizava. Para outros, entretanto, o cangaço era uma atividade extremamente lucrativa e Virgulino um perverso que alimentava sua megalomania de imperador do sertão, sendo temido tanto por coronéis como pelas classes mais miseráveis.

Não podemos, entretanto negar a força do mito do herói-bandido que ao mesmo tempo fascina e assusta os estudiosos do seu universo peculiar. A peculiaridade social e econômica do sertão nordestino possibilitou uma sociedade bastante criativa, onde se gerou uma cultura popular de muita riqueza temática e histórica. 129 Sua medicina singular é naturalmente fruto de uma religiosidade extrema; superstições, folclore e conhecimento empírico que conjugados formam uma fascinante mistura. Os exemplos citados demonstram que os sertanejos na ausência de socorro médico, usavam os elementos que estavam ao seu dispor. Na enfermaria improvisada das caatingas, colhiam seus remédios, tratavam seus doentes e quando a morte não podia ser evitada, restava-lhes enterrar os seus companheiros, embalados por rezas, cantigas e cachaça.

É fato o assombramento e despojamento que a caatinga nordestina provoca-nos que nela habitam. Qualquer julgamento dos cangaceiros necessita de uma interpretação do seu universo singular e extraordinário; dos seus costumes, código de honra, sem desprezar as influências do meio hostil que endurece o homem. Embora a vida errante do cangaço muitas vezes era a única opção de subsistência para o sertanejo, cairíamos no reducionismo se afirmássemos que as condições sociais foram às únicas responsáveis por atos muitas vezes cruéis dos bandoleiros.

A chacina de Canudos, assim como a dos cangaceiros, reflete uma mancha na nossa história, uma página sem brilho da qual não podemos nos orgulhar; parafraseando o escritor Euclides da Cunha ( S/d, 352): “É que ainda não existe um Maudsley para as loucuras e crimes da nacionalidade.”

6. O CANGAÇO NO CEARÁ

Monarquia para a  República - Contudo  no Ceará a seca também é fator importante nessa busca por informações, que nelas consiste a anciã  de justiça do povo cearense. Sabemos que a vinda de lampião ao ceara , foi em volto de mistério, quase não se tem relatos da passagem do  cangaceiro chefe, por essas terras. Os relatos do cangaço remontam a 1777 durante a grande seca, quando "Cabeleira" assombrou os sertões de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, com suas violências e maldades.

O movimento ganhou força e renome a partir de 1870 e foi até 1940, com a destruição do bando mais famoso, o de "Lampião". Durante a seca de 1877 um cangaceiro se destacou na região do Cariri, foi "João Calangro", que organizou um bando e dominou toda a área. João Calangro era apenas um capanga do grupo de "Inocêncio Vermelho", bando aliciado e sustentado pelo juiz municipal do município de Jardim, chefe político local, com o objetivo de manter a ordem, até Inocêncio ser morto pela polícia em 1876. Calangro, que se gabava de ter cometido 32 assassinatos sem haver sofrido nenhum processo, tornou-se seu sucessor. Com a seca de 1877 e as desordens regionais que ela ocasionava - bandos de retirantes invadindo e saqueando povoados - várias autoridades e chefes políticos reclamaram contra a forma com que Calangro combatia os "grupos de malfazejos", que eram apenas miseráveis que procuravam não morrer de fome.

O Cariri, rico oásis, era particularmente visado pelos retirantes, diante dos quais fugiam os ricos fazendeiros e autoridades. O bando de João Calangro era conhecido como "Calangros" ou "Calangos". Conta-se que, para fugir da polícia, Calangro obrigava seus homens a calçar os chinelos com as pontas voltadas para o calcanhar. Após vencer muitos rivais, Calangro se intitulou "Gal. Brigadeiro de Sousa Calangro". Do Ceará fugiu para o Piaui e nada mais se soube dele. Fonte: Jornal Diário do Nordeste - Texto da Profª Tania Maria de Sousa Cardoso / Sociedade brasileira: Uma história através dos movimentos sociais (Rubim Santos Leão de Aquino).

No III Cap.  pág. 26,28,29. Parag. 2/3/4º.  Segundo a autora, do livro de olho em lampião, a Sr.ª Isabel Lustosa ela diz  que  Diante   a proclamação da República em 15 de novembro de 1889, onde marca o inicio de uma fase  de nossa historia em que  o controle  do poder  no Brasil passou a ser exercido  pela classe  econômica  mais poderosa  os produtores de café  de são Paulo.  Durante o governo de campos Sales  foi adotada  chamada ‘’politica dos governadores’’ . O sistema baseava-se  no total apoio do presidente da republica  aos governadores , que passavam a ter  autonomia absoluta sobre os estados.  Este por sua vez, comprometiam-se a garantir  que as bancadas de seus estados na câmara dos deputados votassem sempre a favor  da politicas  presidenciais.  O sucesso da ‘’politica dos governadores’’ dependia da  adesão dos chefes  políticos locais  estes eram em geral latifundiários  e chefes  das oligarquias  estaduais : famílias  que controlavam  toda a maquina  politica  e econômica  de uma  localidade,  de um município e ate  mesmo de  todo estado. Essas pessoas que teriam este tipo de poder eram chamado de coronéis. 

A autora a Sr.ª Isabel Lustosa, relata em seu livro que desde a monarquia, a guarda nacional uma corporação  militar sem nenhuma atividade marcial , concedia patentes de coronel e major puramente honorificas a quem por elas mais pagasse. Aqui se começa onde queremos chegar. A principal clientela dessas patentes era compostas por fazendeiros do nordeste que ostentavam como titulo  quase equivalente  ao de barão. De fato suas propriedades eram verdadeiros baronatos  em que eram mantidas por milícias para garantir  a ordem  interna e a segurança  externa  de determinados territórios onde dominavam.

Muitas vezes no interior dessas propriedades, surgiam pequenos  povoados  que eram totalmente controlados por  esses barões rústicos. Pág. 28/29 Parag. 5/6º. A autora a Sr.ª Isabel Lustosa, diz  que desse modo os primeiros anos de  nossa historia republicana legitimaram e deram  mais forças e durabilidade ao poder  de fato dos coronéis. Estes aderiram ao  novo sistema,  pois estavam interessados em conservar as boas  relações com o chefe do governo estadual, o que lhes permitia  manter o controle sobre  a destinação dos cargos públicos, tais como os de delegado e juiz das vilas e cidades que ficavam em sua área  de influencia. Nos primeiros anos da republica, os coronéis valeram – se do vácuo institucional e da falta  de tradição  constitucional de suas regiões  para aumentar ainda mais  seus poderes, privilégios e riquezas.

Durante  o governo  de Hermes da Fonseca (1910 a 1914), a ‘’politica das salvações’’ que propunha a ‘’moralizar  os costumes e reduzir as desigualdades sociais’’ foi uma tentativa  de tirar  os oligarca do comando  de alguns estados  para substitui-los  por interventores militares .

No Ceará a destituição  da oligarquia Acioli, que   desde 1892, detinha o poder , provocou uma  guerra cujo protagonista  foi o padre Cicero. Principal líder religioso do  sertão cearense  e prefeito de juazeiro do norte, cidade  que existia  quase em torno  do mito de santidade que o cercava. O  padre Cicero era aliado  da oligarquia dos Acioli. Também insatisfeito com a destituição do presidente da província e com o próprio afastamento do cargo de  prefeito, ele mesmo mandou homens armados  invadirem e saquearem cidades vizinhas. Por  outro lado, no Cap. VIII da pág. 60 parag. 1º do livro de olho em lampião. Segundo  a autora, ela conta que   durante a primeira fase da carreira de lampião, a área que atuava seu bando compreendia ser região de fronteira entre os sertões de  Pernambuco, Alagoas e Paraíba. Ele não atacava o Ceará por que era terra simpática  a lampião pois durante aos assaltos as cidades vizinhas as autoridades cearenses nada fazia contra ele.

Contudo a principal causa da simpatia de lampião ao povo e estado cearense era por que era amigo do lendário padre  Cicero com fama de milagreiro era  então a maior personalidade do sertão  e constituirá, em juazeiro do norte uma cidade que sustentava basicamente na devoção que as pessoas simples  tinha  por ele. Por outro lado, na mesma pág. 60 parag. 2º do livro de olho em lampião. Segundo  a autora, ela diz que lampião era devoto e místico parava tudo que estivesse fazendo para rezar, se ajoelhava  ao meio dia e a meia noite fazendo suas orações . Jejuava as sextas feiras e, durante  a semana santa não  comia carne e suspendia suas operações. Nunca matou ou maltratou nenhum padre.

E acreditava realmente em ter o corpo fechado, graças a famosa oração  da pedra cristalina.  Que dizia o seguinte – ‘’ Meu Deus! Eles não mim farão mal,  pois  com o manto  da Virgem  sou coberto e com o sangue  de meu senhor jesus cristo sou protegido’’. Rezava diariamente e infinidades de medalhas, escapulários, além do rosário que trazia no pescoço. Antônio Gurgel, que  na  qualidade de refém conviveu com o bando  por alguns  dias  e em situação  de grande perigo. Manchetes do jornal  o nordeste, de 08 de março de 1926: diz : lampião homizia-se no juazeiro. Romaria  para a visita  o celebre bandido – autógrafos  do cangaceiro.  Atendendo aos desejos de padre  Cicero, aquele  chefe  de malfeitores  nada faz ao Ceará. Na Pág. 61,62ss parag. 1º do livro de olho em lampião.

Segundo  a autora ela diz que diante dos fatos levantados aqui que  o caráter mundano da atuação do padre Cicero, sua  ligação  com os poderosos  da área, seu franco  apoio ao sistema e a oligarquia   estabelecida  no poder,  nada disso  perturbava a fé dos sertanejos na  santidade do padre. E alma sertaneja de lampião  estava em sintonia com esse sentimento.    Pág. 62/ss parag. 1º do livro de olho em lampião.

Segundo  a autora descreve que ate 1926 lampião não havia tido oportunidade de avistar o santo de  sua devoção, mais em decorrência da coluna prestes um ano antes em 1925, vendo que esses revolucionários estavam avançando pelo interior do nordeste, o governo federal, não podendo contar com o contingente  que se aliaram ao movimento tenentista o governo de Artur  Bernardes  resolveu apelar por outros meios  incitando os chefes políticos do nordeste a convocar  mercenários para combater a coluna prestes, sem fazer nenhumas restrições aos antecedentes criminais de que fossem chamados.

Com base a essa ordem que o chefe politico e afilhado do padre Cicero, floro Bartolomeu, mandou  recado a lampião e a seu bando para que se apresentassem em juazeiro para receber  armas e  munições  e assim  juntarem-se  aos  batalhões patrióticos.  Só em 03 de março de 1926 finalmente lampião e seu bando se apresenta no juazeiro mais a coluna preste  já tem deixado o Ceará. Pág. 63/ss parag. 2º do livro de olho em lampião.

Lampião Passou alguns dias em juazeiro e sua passagem pelo lugar é talvez a  mais documentada. Consta que mais de 4 mil pessoas  foram ate a fazenda onde estava hospedado  para vê-lo. Ele e seu bando circulavam livremente pela cidade sempre cercado por uma multidão de curiosos, a qual divertiam  cantando  em coro  ‘’mulher rendeira’’ todo o seu bando foram ao barbeiro e também mandaram confeccionar  novas vistosas roupas. Finalmente lampião deixa ser fotografado, o mais inusitado ele distribui essas fotos um tanto  que serio em forma de autografo para a população e fez questão de pousar ao lado de sua família. Pois Seu  irmão mais velho e suas irmãs tinham pedido e obtido  a proteção do padre Cicero para se estabelecer em juazeiro. Em consequência a isso lampião concede a sua primeira entrevista ao jornal o Ceará em 17 de março de 1926. Uma reportagem  no jornal  o ceara , de 17 de março de 1926 , sobre  lampião e seu bando  Entrevista  com o chefe dos cangaceiros. Coisa curiosa: o facínora devido o peso dos apetrechos bélicos que conduz Caminha  um pouco  corcunda. O que não impedi de irradiar saúde e mocidade,  não aparentando mais de vinte e dois anos de idade. 

- que idade  tem?

- Vinte e sete anos.

- há quanto tempo esta nessa vida?

- há nove anos, desde1917, quando me ajuntei ao grupo de senhor pereira.

- não pretende abandonar a profissão ?

A esta pergunta, lampião respondeu com outra:

- si o senhor  estiver  em um negocio e for  se dando bem com ele, pensará por  ventura em abandoná-lo?

- esta claro que não!

- pois é exatamente o meu caso ; porque  vou  me dando bem  com este  ‘’negocio’’ ainda não pensei em abandona-lo.

- em todo caso  espera  passara vida  toda  neste  ‘’negocio’’?

- não sei .... talvez ... preciso, porem, trabalhar ainda uns três anos . tenho alguns amigos  que visitar, o que ainda não fiz  esperando uma oportunidade.

- e depois , que profissão  adoptarár?

- talvez  a de negociante.

- não, se  comove em extorquir  dinheiro  e avariar  propriedades alheias?

- oh! Mas eu  nunca  fiz  isto. Quando preciso de algum dinheiro, mando pedir amigavelmente a alguns camaradas.

-  nesta  altura,  chego  um tenente  do batalhão  particular . De volta  avizou-nos  a fazer  o facínora):

- só continuo  a fazer  este depoimento  com ordem do meu superior .(sic!).

- quem é  o seu superior ?

- !!!.

- esta direito.    

Ele pode se encontrar com padre Cicero, que  lhe deu alguns  concelhos no único  encontro que tiveram. Na Pág. 65 parag. 1º. Do livro de olho em lampião.  Segundo  a autora ela diz que foi o padre Cicero que lhe deu a patente de capitão do batalhão patrióticos que havia sido prometida por floro Bartolomeu. O padre delegou um funcionário do ministério  da agricultura,  Pedro Albuquerque Uchoa, que era agrônomo  que por acaso encontrava-se trabalhando em juazeiro, por ele ser funcionário do governo federal  era dever dele, lavrar e  assinar em nome  do Governo da Republica  dos Estados Unidos do Brasil este documento concedendo a patente. Lampião nunca saqueou  o Ceará pelo contrario havia Na Pág. 69 Linha 5 do parag. 1º. Do livro de olho em lampião. 

Segundo  a autora ela diz , mais foi ataque a grande e progressista cidade de Mossoró que  marcou o declínio de suas atividades do lado pernambucano do são Francisco. Lampião teria sido  convencido  a tentar a empreitada pela insistência, mais  também  pelo apoio material  de um fazendeiro do Ceará interessado nos lucros da empresa.   Na Pág. 71 parag. 1º. Do livro de olho em lampião. Segundo  a autora, lampião chega a limoeiro do norte, no Ceará. Ele manda uma mensagem dizendo que as autoridades policiais ficassem distantes e prontamente foi atendido o seu pedido. o intuito deles estarem em limoeiro era tratar do resgate deu sequestro que lampião fez em Mossoró da dona Maria Jose Lopes de 63 anos e de seu marido o coronel e comerciante Antônio Gurgel. Ainda no parag. 1 na 10ª linha os cangaceiro de lampião entra na cidade dando viva ao Ceará, ao governador Moreira da Rocha e ao padre Cicero. 

Foi bem recebido pelas as autoridades e pelo povo. Lampião logo tranquilizou a população dizendo que seus homens eram disciplinados e que a população estava em segurança. Logo fora negociado o valor do resgate que a cidade deveria pagar e logo em seguida ele e seu bando foram as compras  no comercio local, e a igreja  para rezar dando a todos, a  exemplo do líder, generosa esmolas. Antes de escurecer posaram  para  um fotografo  local, em grupo  no qual  também aparece  os dos reféns, a dona Maria  e o coronel Antônio Gurgel. A noite  os informantes de lampião lhe avisa que  pelo telegrafo de que estava na cidade vizinha um destacamento   assim eles deixam a cidade e fogem. Aqui esta um telegrama  que fora feito e aqui esta como registro da passagem relâmpago de lampião em limoeiro do norte Ceará.

Apenas ficou na cidade durante 3hs. Das 15h às 18hs. ‘’ passagem de lampião no Ceará – aqui foi na cidade de limoeiro do norte. A história do cangaço é revivida hoje, em Limoeiro do Norte, após 80 anos da passagem do bando pelo município.  Limoeiro do Norte. Poucos acontecimentos de apenas algumas horas perpetuam na História do Ceará, como a passagem de Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”, por Limoeiro do Norte, há exatamente 80 anos. O cabra foi posto para correr de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde até hoje festejam a resistência ao cangaceiro.

Depois de receber a “chuva de balas” dos potiguares, aceitou os cumprimentos “tensos” dos limoeirenses, no dia 15 de junho de 1927.  O rebuliço foi consolado pela “visita em paz” do rei do cangaço nas terras de seu Padim Ciço. Nunca mais Limoeiro foi o mesmo. “Prefeito de Limoeiro, Urgente. Lampião acaba de atacar Mossoró. Depois de forte resistência conseguiu rechaçá-los, ficando um morto outro prisioneiro. Saudação. Rodolfo Fernandes, Prefeito Municipal”. O recado do prefeito de Mossoró chegou em telegrama às mãos de Custódio Saraiva, Juiz de Paz em Limoeiro e responsável por defender o município, dada à ausência do prefeito. Naquela hora seu Custódio almoçava, não comeu mais. Telegrafou para a Secretaria de Polícia, em Fortaleza, que devolveu a batata quente para que “agisse como pudesse”.

A cidade foi evacuada imediatamente. Como era de seu feitio, Lampião entrou no Ceará guiando os fios do telégrafo. Lampião era destemido e temido, mas o certo é que estava cercado pelos cearenses.  Do telefone do Telegrafo, do qual se “apossou” para mandar seus avisos, ouviu o soar da corneta em Russas. Era a Polícia que já estava pronta para ir para Limoeiro. Não podendo mais esperar a chegada dos 80 contos de réis de resgate dos reféns, os cangaceiros fugiram pela banda dos Morros, onde havia umas pedras identificadas como “Gruta de Lampião”.

No município de Palhano, abandonaram os dois reféns, quando do embate contra os volantes da Paraíba e Rio Grande do Norte.

Em seguida, Lampião deixava a região jaguaribana rumo ao Cariri de seu Padim Ciço, dado como o “salvador” do povo de Limoeiro. O “cabra” cavalgou com seus quarenta e tantos homens (o número é incerto) pela Estrada da Solidão, na Chapada do Apodi.  Anísio Batista, morador da Lagoa do Rocha, teria sido o primeiro a ver Lampião e, inclusive, anunciado sua chegada. “Então disse Lampião/ vá até Limoeiro/ pergunte às autoridades/ se recebe um forasteiro/ desprovido de maldades/ como um nobre cavalheiro”, poetizou Irajá Pinheiro, memorialista local e também membro da Academia Limoeirense de Letras, sobre o encontro inusitado. Lampião fugiu de Mossoró carregando dois reféns: Dona Maria José do Catolé do Rocha e o Coronel Gurgel, sogro do gerente do Banco do Brasil potiguar.

O cangaceiro queria, telegrafando de Limoeiro, cobrar de Mossoró 80 contos de réis como pagamento do resgate dos reféns. “Passei o telegrama para Mossoró, em caráter de urgência, e dentro de poucas horas obtive a resposta: ‘prefeito de Limoeiro, urgente. Seguiu portador, montado a cavalo, conduzindo numerário resgate prisioneiros’”.

Segundo A informação é do próprio Custódio Saraiva, juiz de Paz, em entrevista ao boletim “Campus”, da Universidade Estadual de Londrina, em 1979, 52 anos depois da visita “ilustre”. O bando de cangaceiros famintos foi “presenteado” com jantar no Hotel Lucas, no Largo da Igreja Matriz. A Prefeitura mandou matar um boi e sinhá Arcanja, escrava de Custódio, ficou de servir a tropa. Lampião, que não era besta nem nada, mandou gente da cidade provar da comida, pois poderia estar envenenada. Até pensaram em colocar algum negócio no “vinho”, mas desistiram que bandido é cabra esperto. Lampião, então, admirador que era de Napoleão Bonaparte, era “gato escaldado”. Na Pág. 72 na linha 9ª do  parag. 1º. do livro de olho em lampião. Segundo  a autora, Acontece um forte combate no dia 20 de junho de 1926, na região do vale do  Jaguaribe – CE. Houve mais um confronto nesse  enfrentamento ficou conhecido como  a batalha de macambira. Na Pág. 72 do  parag. 2º. Do livro de olho em lampião.

Segundo  a autora, lampião chega a cidade de aurora. Nessa cidade buscou abrigo na fazenda do fazendeiro arruda no dia 07 de julho, mas o  arruda havia preparado uma armadilha, havia avisado do seu paradeiro a policia.  O mesmo que havia estimulado atacar Mossoró. a casa logo foi cercado 15 soldados da  policia e cem jagunços de arruda. A comida que o arruda há via oferecido estava envenenado  e logo lampião  matou a todos os empregados que havia oferecido a comida. Arruda mandou tocar fogo na casa e na mata, para que eles não fugissem, mais mesmo assim lampião e seu bando conseguiram escapar.

Com isso o apoio que ele tinha no Ceará esse apoio foi desaparecendo.  Na Pág. 73 do  parag. 1º. Do livro de olho em lampião. Segundo  a autora diz aconteceu  que  a perseguição  que sofria era agora de todos os lados inclusive do Ceará. Muitos membros do  bando  desanimados e  assustados preferiram  abandonar o cangaço. No fim de março de 1928 reaparece lampião no cariri. Na fazenda de um antigo coiteiro o Antônio piçarra. Que, no entanto havia alertado a policia.

Ou seja, tinha entregado lampião a policia. Diante do que fora contado aqui nesta cidade antes pela autora do livro de olho em lampião a senhora Isabel, Lustosa para reforçar o que a autora citada pouco, aqui trago uma entrevista do blog  de Aurora e do Site Cariri de Fato. Onde os Pesquisadores do Cangaço no Cariri Município de aurora ceara entrevistam senhor que presenciou Lampião em 1927 Os pesquisadores do cangaço José Cícero (Aurora) e Sousa Neto (Barro) visitaram no último domingo (15) o senhor Elias Saraiva dos Santos de 97 anos - uma das últimas pessoas ainda vivas que tiveram contato com Lampião, quando da sua passagem pela região, mais precisamente pelo riacho das Antas e no acampamento do bando na serra do Diamante no município de Aurora no ano de 1927.

Seu Elias Saraiva hoje residente na cidade de Milagres (CE) nasceu e cresceu no sítio Diamante de Aurora e, juntamente com seu pai esteve por várias vezes na presença de Lampião e todo o seu bando, quando este por mais de uma semana ficou arranchado no sopé da famosa serra. E de lá derivou para o serrote do  Cantis e fazenda Ipueiras quando do primeiro encontro com Isaías Arruda, Zé Cardoso, Massilon Leite com vistas a planejar a invasão e saque da cidade de Mossoró- RN. Na época com a idade de 10 anos de idade, disse ele que chegou a levar comida da sua casa para o rei do cangaço no esconderijo do Diamante. Algumas vezes na companhia do seu pai, outras, sozinho.

Lembra inclusive, do dia que levou algumas pamonhas feitas por sua mãe - uma oferta segundo ele para o bandoleiro. Ao receber a encomenda, recorda ainda hoje que Lampião sorridente pôs a mão sobre sua cabeça e disse algo o elogiando pela sua esperteza de menino. Decerto, num claro gesto de agradecimento pelo seu trabalho e tantas idas e vindas pelas veredas da caatinga, entre a sua casa e o local onde Virgulino ficara acoitado com seus comandados.

Lembra igualmente que ele (Lampião) metera a mão no bornal que levava a tira colo e, em seguida colocou na sua mão umas moedas dizendo que era para pagar o presente da sua genitora. De maneira que até hoje ainda tem Lampião como uma pessoa simpática e respeitadora. Era corrido o ano de 1927, época que historicamente ficou marcada por uma série de acontecimentos relacionados a invasão de Mossoró, seguido do episódio relativo a suposta tentativa de envenenamento do bando Lampiônico, que redundou no cerco, tiroteio e incêndio da fazenda Ipueiras de Aurora.

A famosa traição do coronel Izaías ao seu amigo Lampião. Trama ao que tudo indica, arquiteta pelo coronel Arruda e Zé Cardoso, tendo como pano de fundo o major Moisés Leite de Figueiredo – comandante das volantes que desde o malogro de Mossosó e, dentro do Ceará, ficará no encalço do bandoleiro.

O plano de suposta traição seria, primeiro a suposta infiltração de alguns elementos (jagunços do coronel) e soldados disfarçados no bando de Lampião. Desconfiado, Lampião junto com os seus não concordaram com a idéia. Veio então, depois o plano B, o oferecimento da comida envenenada que ficou a cargo de Miguel Saraiva, tido em alguns escritos lampiônicos como vaqueiro de Zé Cardoso. Na verdade ele era um dos proprietários da região do Diamante e, por conseguinte, amigos do coronel Izaías Arruda e de Zé Cardoso da Ipueiras e Cantins.

Depois Coxá. Tipi, Monte Alegre, Izaíras e Taveira... Mas não era vaqueiro de profissão. Há quem diga inclusive, que conhecera Lampião e privou da sua consideração e confiança primeiro que os donos da Ipueiras. Sendo, portanto, apontado como o homem que primeiro em Aurora fez a ponte que levara o rei do cangaço sob os interesses de Massilon Leite ao célebre coronel, nascendo daí por uma série de outros interesses dos potentados da época, a terrível trama com vistas a invasão a cidade norte-rio-grandense. Conhecera Massilon um pouco antes, em face da amizade daquele com os cangaceiros da terra, moradores do riacho das Antas, Coxá lá pelas imediações do Diamante. Sendo Massilon Leite, como se sabe, um dos principais artífices da empreitada com vistas a invasão de Mossoró.

Antes mesmo de Lampião beirar as terras da Ipueiras, alguns cangaceiros do riacho das Antes dentre os quais Zé de Lúcio, José Cocô, Zé de Roque e Antônio Soares já haviam incursionado nos bandos de Massilon, Décio Holanda do Pereiro e do Próprio Isaias Arruda, na época sob o comando do seu vaqueiro e conhecido homem de confiança de Missão Velha. Seu Elias Saraiva – era filho de Zeca dos Santos - e este primo carnal de Miguel Saraiva.  A fazenda Ipueiras – foi palco de um dos episódios mais emblemáticos e notórios da história de Lampião, quando da sua incursão pelo Cariri cearense. O que culminou com a polêmica traição do coronel Isaias Arruda a Lampião. Fato ocorrido no começo da tarde do dia 7 de julho de 1927.

Estando, portanto, por uma série de fatores, intimamente ligada ao acontecimento de Mossoró.  Certa feita, disse Seu Elias que estando Lampião com parte do seu bando na região de Cuncas no município do Barro onde participariam de um grande almoço oferecido por um rico fazendeiro do lugar, chega a notícias que o cangaceiro “Bom de veras” que vinha ao encontro de Lampião, acabara de assassinar um cidadão de bem nas proximidades da vila de Rosário. Simplesmente porque o tal cidadão, resistira em entregar seu cavalo ao cangaceiro.

As pessoas assassinada era também compadre do dono da fazenda. Ao saber da notícia Lampião ficou indignado. E mesmo com fome ordenou para que todo o bando se preparasse para partir. Ninguém comeria mais nada para que todos pagassem pela desfeita de “Bom de veras”. - Não quero cabra covarde e nem malvado no meu bando, - dissera o bandoleiro e logo, em seguida partiu contrariado, deixando as terras do Barro para trás. Foi um conversa das mais proveitosas com o decano do Milagre o Sr. Elias Saraiva. Sobretudo para aqueles que sempre estão dispostos há aprender um pouco mais acerca da nossa verdadeira história. Além de prestar uma palpitante entrevista o Sr. Elias ainda se deixou fotografar ao lado dos dois pesquisadores. 

Segundo seu Elias essa participação de lampião no Ceará foi a ultima que fez.   Nunca mais o  rei dos cangaço voltou ao Ceará. E justamente nesse capitulo refere-se à morte de lampião em angico como conta a autora. No cap. 9º  paragrafo 4º onde Segundo  a autora do livro de olho em lampião diz que, os partos eram feitos por lampião, valendo-se  de sua  experiência  de vaqueiro  acostumado a ajudar os animais dar cria. Isso ele o fazia com as mulheres de seu bando. Ajudar as mulheres terem os filhos.

Depois que os tinha, como não podia permanecer no bando as crianças eram entregues aos coiteiros ou algum tipo de autoridades para cuidar dessas crianças.  No capit. 13º  paragrafo 2º onde Segundo  a autora do livro de olho em lampião diz que  O bando de lampião só iria começar a ser tratado  com seriedade pelo governo da revolução  de 1930 quando chegaram  ao conhecimento de Vargas os detalhes  da morte  do delegado Herculano Borges, foi morto, pelas mãos de  corisco. No dia 22 de setembro de 1931, Herculano Borges, delegado da vila de santa rosa, região de Bonfim, Bahia, foi pendurado pelos pés  numa vara e, ainda vivo, teve a pele retirada do corpo. Corisco cotou-lhes os pés e as mãos  as orelhas, o esquartejou e enfiou as varias partes do seu corpo em estacas. 

A forma que foi morto causou indignação ao governo federal.  No 13º capit.  6º parag. onde Segundo  a autora do livro de olho em lampião diz:  que seria  apenas  com o estado novo, implantado em 10 de novembro de 1937, que o reinado de lampião teria fim. Depois do golpe, a ditadura  estabelecida por Getúlio Vargas, sob o pretexto de impedir manifestações  de desordem no território nacional, deu inicio à intensa perseguição aos chamados ‘’ extremistas’’:  tanto os de esquerda (comunista)  quanto os de direita (integralista). Lampião  e seus cangaceiros  não eram  nem uma coisa e nem outra, mas  foram assim  mesmo incluídos na categoria de ‘’extremistas’’, como inimigos do regime.  Em 1938 Chega o fim do cangaço em angicos

7. Relação dos cangaceiros com os coronéis

Apesar das descrições dadas pelos autores aos cangaceiros sertanejos rebeldes com o estereotipo de homens pobres, os chefes dos grupos de cangaceiros vinham de fato de famílias que possuíam propriedades. Os cangaceiros chefes Jesuíno Brilhante e Sebastião Pereira (Sinhô Pereira) provinham de famílias importantes. Antônio Silvino também tinha ascendentes ilustres, entre eles os Brilhante. Lampião veio de uma família  um pouco menos importante, mas que pertencia ao mesmo meio. Sua família, os Ferreira, eram os inimigos de seu vizinho José Saturnino. Este último contava com o auxílio dos Nogueira, pois era casado com uma mulher da família dos Nogueira.

Pode-se perceber que uma das causas do surgimento do cangaço foram as longas lutas de famílias. Certamente algumas dessas lutas podem ter durado  gerações, pois algumas lutas remontam às vezes à época colonial, como a que opunha os Monte e os Feitosa, no Ceará; a luta entre os Carvalho e os Pereira, em Pernambuco, data do século XIX e se prolongou por uma boa parte do século XX; os Brilhante lutaram contra os Limões, no Rio Grande do Norte; Silvino Ayres e Antônio Silvino lutavam pelos Dantas-Cavalcanti Ayres combatendo contra os Carvalho Nóbrega, dos quais Liberato Nóbrega era um dos representantes. Até recentemente, as querelas das famílias continuaram no Nordeste.

No estado de Alagoas, os Calheiros combateram os Omena, durante os anos 80, em pleno centro de Maceió. Em Pernambuco, em Exu, uma pequena vila do sertão, a luta entre os Alencar de um lado contra os Sampaio e os Saraiva de outro, eclodiu primeiro em 1949 até os anos 80, com assassinatos e sem o conflito cessar, a tal ponto que o estado de Pernambuco, por meio de um alto dignitário da Igreja, se encarregou de resolver os problemas entre as famílias, em vão.

A justiça, por sua vez, não pode tomar um partido, pois se um processo vai aos tribunais, o assassino fica livre por falta de provas. Assim, as vinganças continuaram. Uma ilustração do vigor das querelas é um depoimento do coronel Antônio Pereira. Encarcerado em 1917 na penitenciária de Fortaleza e solto em seguida por uma ordem de habeas-corpus, este homem falou sobre a luta de sua família contra os Carvalho, em uma entrevista publicada no Correio do Ceará e citada na obra de Leonardo Mota: “... não há governo que dê jeito à minha luta com os Carvalho. Isto é uma questão de sangue! Só quando Deus acabar com o último Pereira, é que Carvalho 22 deixa de ter inimigo neste mundo... o sr. Quer saber de uma coisa? Lá no meu Pajeú, quando um menino da família Pereira começa a crescer, vai logo dizendo: Tomara já ficar homem, pra dar cabo de um Carvalho! A mesma coisa dizem os meninos deles. É o que eu digo: é uma questão de sangue!”1 Se uma mulher da família Carvalho se casasse com alguém da família Pereira ou vice-versa - isso ocorria ocasionalmente – a mulher automaticamente se torna membro da família de seu marido. Só os homens das famílias podiam permanecer entre os seus.

Atualmente, os Carvalho e os Pereira não se matam mais, mas não mantém relações de amizade e não entram em uma loja onde um membro da família inimiga é proprietário. Na família era considerada também a parentela: faz-se parte da família pelos laços de sangue, incluindo as crianças não – legitimas e também aqueles que se uniam pelo casamento e pelo compadrio.

O coronel era o chefe da família e, através do compadrio, seus empregados faziam parte da família. O compadrio, ao envolver fazendeiros e sitiantes se convertia em um instrumento de dominação, mas ao mesmo  tempo cria uma aparente igualdade entre compadres. O próprio tratamento igualitário fazia parte da trama de dominação. Trocava-se auxílio econômico por filiação política: compadres e outros sitiantes eram votantes incondicionais dos fazendeiros e dos candidatos indicados por eles.

Essa dominação tinha como um dos seus pressupostos o constante refazer de contraprestação de serviços, impondo um limite à arbitrariedade do dominante: fidelidade e lealdade apoiados em um esquema de favores recíprocos terminavam por anular totalmente a possibilidade dos dominados se auto representarem, se constituírem como entidades dotadas de interesses e existência autônoma.

Não é possível a descoberta de que sua vontade está presa à do superior, pois o processo de sujeição tem lugar como se fosse natural e espontâneo. Assim, a dominação pessoal transforma aquele que a sofre numa criatura domesticada: proteção e benevolência lhe são concedidas em troca de fidelidade e serviços. As promessas dos coronéis para com os agregados tinham uma obrigatoriedade restrita: quando necessário e conveniente aos fazendeiros, rompiam-se facilmente as obrigações decorrentes das associações morais em favor das ligações de interesse, expulsando-os de suas terras.

Este rompimento expunha a fragilidade das obrigações 1 MOTA, Leonardo. Violeiros do Norte, poesia e linguagem do sertão nordestino. Fortaleza, Imprensa Universitária do Ceará, 1962, 3ª ed., pp. 219-220. 23 pessoais e abria-se um possível caminho para a sua libertação. Postos à margem do arranjo estrutural e dos processos essenciais à vida social e econômica, os agregados foram os mais qualificados para enfrentar a ordem estabelecida. Sendo o chefe da família, o coronel era considerado como o responsável por todas as demais pessoas.

Em contrapartida, os empregados se comprometiam em servir à família, defendendo-a em caso de necessidade. Para as populações sertanejas, o acesso à terra tinha uma importância fundamental. Os homens livres dependiam dos fazendeiros, para terem acesso à terra. Para os fazendeiros, a presença desses agregados em suas terras também era importante: além da ocupação e conseqüente aproveitamento do solo, esses agregados podiam vir a ser armados, constituindo-se em instrumentos de poder a serviço dos diversos interesses das camadas dominantes, nas suas disputas por terras e poder político.

Assim, o acesso à terra é a fonte sobre a qual se ergue a dominação. A terra, por si só, não é um meio de produção suficiente. Para os sertanejos nordestinos a água também é fundamental. A propriedade das fontes de água é crucial no sertão, principalmente durante os períodos de seca prolongada. Na realidade ocorria Um processo de monopolização, por parte dos coronéis que possuíam em suas Propriedades as mais abundantes fontes de água. Para que os sitiantes e agregados usassem da água que se encontrava nas terras dos fazendeiros era necessária a permissão destes últimos.

Assim, a água, em determinados momentos, convertia-se também num instrumento de dependência. As querelas de família vinham da rivalidade pela conquista de poder político ou através de disputas que se intensificaram entre vizinhos pela reivindicação de direitos sobre a mesma propriedade ou de parte dela. No sertão, onde a água é raramente abundante, um ribeiro situado entre dois proprietários podia ser causa de sérios problemas durante as épocas de seca. Os limites entre as propriedades inexistiam, pois não havia muros ou cercas e os animais andavam livremente.

Os vaqueiros se encarregavam na tarefa de reconduzir os animais extraviados e de encaminhá-los aos proprietários. Essa “recuperação” de animais extraviados tornouse causa de conflitos sérios no Nordeste entre muitos proprietários, assim como o roubo de cavalos, que era considerado pior ainda. Por outro lado, matar o gado de seus inimigos também era comum e era uma maneira de satisfazer sua vingança. A querela entre os Ferreira (família de Lampião) e seu vizinho José Saturnino teve inicio nas  declarações dos Ferreira de que um morador de José Saturnino tinha roubado uma de 24 suas cabras.

Mas nesse ponto, é interessante passar a analisar a reportagem de Luciano Carneiro intitulada “Porque Lampião entrou no cangaço”, publicada na Revista “O Cruzeiro” de 3 de outubro de 1953.2 Pode-se questionar porque uma revista com circulação nacional como “O Cruzeiro”, reconhecida como uma das maiores publicações brasileiras em sua época áurea, publicaria em suas páginas reportagens sobre Lampião, mesmo passados quinze anos após a morte do cangaceiro, que ocorreu em 1938. Primeiramente, ressalte-se que a reverência dedicada ao cangaceiro é de certa forma um mito, pois para muitos ele era um paladino-justiceiro-salteador ao mesmo tempo, considerado até como um tipo de “Robin Hood” nordestino.

A entrevista concedida por João Ferreira, (o único irmão de Lampião que não entrou para o cangaço como os demais) foi a fonte principal do repórter Luciano Carneiro. Percebe-se também que os dados históricos e cronológicos sobre a entrada de Virgulino no cangaço, dados estes que Luciano Carneiro obteve de João Ferreira, são fragmentados. Contudo, todas as análises que consultei são unânimes em afirmar que o âmago da questão foi um vizinho dos Ferreira, José Saturnino.

O repórter Carneiro pretendia conhecer a história de João sobre a família Ferreira, examinando cada detalhe de seu depoimento com os demais sobreviventes da época, inclusive com as autoridades daquele tempo e com os inimigos da família Ferreira. Não aceitando esta proposta de Carneiro, João só concordou em falar se o repórter não comparasse e misturasse sua entrevista com uma entrevista de José Saturnino, que ainda vivia em 1953. Ademais, o repórter chegou a sugerir que João e Saturnino fossem entrevistados juntos, coisa que João não aceitou, declarando que nunca ficaria próximo do responsável pela desgraça de sua família, nem numa entrevista.

Sertanejos dificilmente perdoam ou “engolem” afrontas. João só concordou em ser entrevistado se o repórter não entrevistasse Saturnino e, assim, a entrevista ocorreu. Os Ferreira moravam em Serra Vermelha, município de Serra Talhada, em Pernambuco. Dedicavam-se à agricultura e à criação de animais. José Ferreira, o pai de Virgulino, era adversário político de seu vizinho José Saturnino, mas ambos 2 CARNEIRO, Luciano. Porque Lampião entrou no cangaço. In: Revista semanal “O Cruzeiro”. Rio de Janeiro, 3 de outubro de 1953, ano XXV, número 51, pp. 38-41, cont. 36, 42,88 e 6. 25 mantinham boas relações. A inimizade entre os Ferreira e Saturnino começou em 1916, quando Virgulino contava 19 anos de idade.

As causas citadas para esta inimizade foram invasões de propriedade pretensos roubos de animais. Grandes brigas entre famílias sertanejas nasciam de tais incidentes. As fazendas não eram cercadas e, apesar disso, os fazendeiros demonstravam um exagerado senso de honra quando se tratava de proteção de seus rebanhos.  Os Ferreira acusavam um dos moradores de Saturnino de estar roubando suas cabras. Por seu lado, Saturnino entendeu que a vinda às suas terras de um parente dos Ferreira, que era chefe de polícia, assim como as acusações, eram uma afronta.

Também acusou os filhos dos Ferreira de maltratarem seus animais e avisou-os para se afastarem de suas terras. É difícil julgar quem tinha razão. Se os Ferreira eram culpados das acusações, talvez seus atos tenham sido em represália pelo roubo de suas cabras. Ademais, os filhos de José Ferreira já eram conhecidos por sua valentia e não estavam dispostos a recuar. Um sertanejo nordestino se sente rapidamente insultado: uma palavra considerada como ofensa, uma dança recusada, ou pior, um membro da família assassinado, uma filha ou irmã violentadas (um fato muito sério no Nordeste daquela época, onde um homem com o mínimo de respeito não se casava com uma mulher que já tivesse tido relações sexuais, ainda mais se foi uma mulher forçada).

Nos casos citados acima, de acordo com a “proteção” que dispunha, o infrator era absolvido ou condenado. Ademais, um homem nordestino que não defendia sua honra e a de sua família não era verdadeiramente respeitado. Das acusações trocadas entre as duas famílias passaram-se aos insultos; dos insultos, como conseqüência lógica, à violência. Segundo João Ferreira, foi Saturnino quem estimulou seus moradores e agregados a hostilizarem os Ferreira. Houve revanche por parte dos Ferreira e ocorreram ferozes tiroteios entre os membros da duas famílias.. José Ferreira, ao que tudo indica, era um homem pacato e honesto, sem a valentia de seus filhos.

Portanto, procurou entrar em acordo com Saturnino, esperando assim evitar mais violência. Os acordos entre litigantes para a solução de problemas de justiça, não eram fora do comum, numa terra onde as instituições públicas eram fracas e geralmente corruptas.

João Ferreira afirmou que seu pai, contando com menos prestígio político, foi desfavorecido e praticamente obrigado a vender sua próspera fazenda e se mudar.  A esta mudança seguiram-se outras, todas motivadas pelo conflito com Saturnino e com 26 os parentes deste, os Nogueira. Entretanto, antes desta primeira mudança as autoridades patrocinaram um acordo entre os Ferreira e Saturnino: ficou combinado que os Ferreira não pisariam mais em Serra Vermelha e que Saturnino não iria mais a Nazaré aonde os Ferreira iriam se estabelecer.

A situação parecia ter voltado ao normal até o dia em que Saturnino, acompanhado por um Nogueira, quebrou o acordo e foi à feira de Nazaré, com o pretexto de cobrar uma dívida. Ambos foram vistos por Virgulino e Manoel Lopez (um tio que vivia com os Ferreira) que acharam que a violação do acordo era uma afronta. Então, Virgulino e seu tio se retiraram para tocaiar Saturnino. A vingança tem para o sertanejo a força de um dever, um código de honra onde o verbo perdoar não existe e onde é covarde aquele que apanha ou é ultrajado e não reage. Na reportagem, João Ferreira declarou que Virgulino e Manoel atiraram em Saturnino “só para assustar”. Na verdade não se sabe se Virgulino e seu tio queriam amedrontar seus inimigos ou matá-los. O certo é que ninguém se feriu neste incidente.

Enfurecido, Saturnino deu o troco no dia seguinte, reunindo mais ou menos quinze homens e atacando a fazenda dos Ferreira. Estes reagiram e travou-se um forte tiroteio. Os atacantes se retiraram, com um ferido.  O ataque assustou os Ferreira, visto que colocava em perigo a segurança de toda a família. Mostrou-lhes claramente o risco que corriam. Daí em diante, os irmãos Antônio, Livino e  Virgulino só andavam armados, começando a adquirir reputação de cangaceiros, inclusive trajando-se como tal e sendo particularmente influenciados pelo bando de Sebastião Pereira, o “Sinhô Pereira”, como era mais conhecido.

Os Ferreira ficaram ainda mais complicados, depois de terem entrado em conflito com as famílias dominantes de Nazaré (conflito motivado pelo fato dos irmãos Ferreira não aceitarem andar desarmados e serem acusados de perturbar a ordem pública). Os maiorais de Nazaré conseguiram que um destacamento policial fosse instalado e esse destacamento agiria de acordo com eles, pois naquela região era rara a imparcialidade da polícia. As autoridades policiais insistiram em desarmar os Ferreira e como estes não cederam, abriu-se o fogo. Foi o primeiro atrito do futuro Lampião com a polícia. Deste confronto armado, Livino saiu ferido e foi preso pela polícia. Novo acordo, nova mudança forçada: Livino seria libertado se os Ferreira se retirassem de Nazaré e assim ocorreu.

A nova sede da família Ferreira foi uma fazenda alugada em Água Branca, em Alagoas. Esta mudança foi feita provavelmente em 1920 e os Ferreira já não estavam 27 bem de vida como antes, pois as mudanças tinham abalado as finanças da família. Infelizmente, a paz que José Ferreira procurava para sua família, também não seria encontrada em Alagoas. Segundo João Ferreira, seus irmãos já estavam exaltados e não queriam desistir de se vingarem de Saturnino. Além disso, os três irmãos Ferreira mais velhos estavam ligados a Antônio Matilde, que também fora obrigado a se afastar por causa de Saturnino e dos Nogueira.

De qualquer modo, parece que nem Matilde nem os Ferreira queriam esquecer e em uma ocasião voltaram a Pernambuco para atacar as fazendas de Saturnino, matando o gado, tocando fogo nas casas e causando terror entre os moradores de Saturnino. Algum tempo depois, o mesmo grupo atacou as fazendas dos Nogueira, em Pernambuco.  Em vista destes acontecimentos, a polícia de Água Branca começou a suspeitar de Matilde e dos Ferreira. Segundo João Ferreira, o comissário civil da vila de Pariconhas foi à fazenda onde os Ferreira haviam se estabelecido e revirou tudo, com a  alegação de procurar armas e objetos furtados. Geralmente a polícia sertaneja era brutal e buscas como estas citadas por João Ferreira significavam a destruição quase total do conteúdo das casas, além de maus tratos e espancamentos aos moradores.

Por sorte, a família Ferreira não se encontrava em casa na hora da batida policial. Mas as represálias policiais não pararam por aí. Quando o próprio João teve que ir a Água Branca comprar remédios, a polícia o prendeu, um claro ardil para intimidar os Ferreira. Virgulino, Antônio e Livino partem à procura do irmão e são emboscados pelo delegado de Água Branca. Reagem e conseguindo escapar, enviam um aviso ao delegado que se João não fosse solto, eles tocariam fogo na cidade. Pode-se perceber que ousadia não faltava ao futuro Lampião e a seus irmãos, pois mesmo em inferioridade numérica, pareciam dispostos a enfrentar toda a polícia de Água Branca. Isto não ocorreu e João foi solto. Como não podiam mais ficar em Água Branca, José Ferreira mais uma vez foi obrigado a se mudar, “fugir”, segundo João. Entretanto, para José, o problema de seus três filhos mais velhos era o mais premente no momento e assim decidiu que os três deixariam Alagoas e que procurassem a família mais tarde. 

Durante a viagem de José Ferreira e os filhos restantes para Mata Grande, falece Maria, esposa de José. Triste e desanimado, José aceitou a hospitalidade de um amigo da família, Fragoso, e ficaram na casa deste último, num lugar chamado Engenho. 28 Eis que antes de partirem e para se vingar, os três irmãos Ferreira, juntamente com Antônio Matilde, surram o comissário de Pariconhas e arrebentam a mercearia deste. Também humilharam o delegado, amarrando-o em um poste. Assim, conseguiram armar uma grande encrenca com a polícia alagoana. É interessante notar que algumas das testemunhas nesta época já se referiam a Virgulino como Lampião, de acordo com João Fereira.

Naquele tempo já tinha adquirido o apelido com o qual ficaria famoso. A origem deste apelido é muito discutida entre os autores, mas a versão mais aceita é a de que Virgulino tinha muita habilidade ao atirar com um rifle de repetição, que chegava a dar a impressão de uma luz contínua na escuridão. No entanto, os apelidos entre os cangaceiros eram muito comuns e, às vezes, eram dados sem nenhuma razão aparente. Lampião pagou caro por esta fama adquirida, como veremos abaixo. O ataque à cidade de Pariconhas ocorreu no dia 9 de maio de 1921. Nove dias depois, José Ferreira morreria pelas mãos de uma volante policial chefiada pelo sargento José Lucena, que buscava prender os irmãos Ferreira. Esta força policial cercou a casa de Fragoso e assassinou José Ferreira e o proprietário Fragoso.

Por sorte, João contou que ele e os irmãos menores estavam no campo e sobreviveram. Para se justificar, a polícia declarou que tinha encontrado na casa objetos roubados em Pariconhas. Se tiver sido verdade essa versão policial, os rapazes devem ter visitado o pai depois do ataque a Pariconhas. Este é um ponto crítico na discussão, pois o ataque à casa de Fragoso não foi justificado por nenhum acontecimento anterior e,  consequentemente, a entrada definitiva de Lampião para o cangaço foi devido ao assassinato de seu pai pela polícia.  Naturalmente, João Ferreira seguiu aquele ponto de vista. Entretanto, João não se lembrou se foi em 1920 ou 1921, nem também a sequência exata dos acontecimentos.

A morte de José Ferreira foi uma das maiores tragédias na vida de Lampião. Na ocasião da morte de José, seus filhos mais velhos estavam voltando para Mata Grande para encontrarem o pai e os demais irmãos. Com a notícia da morte do pai, os rapazes acorreram à propriedade de Fragoso para traçar os novos rumos da família. Segundo  conta João, já a essa altura Virgulino tinha ascendência sobre os irmãos mais velhos e foi Virgulino quem incumbiu João de levar para Pernambuco e cuidar dos outros quatro irmãos menores.

Assim, João partiu e nunca acompanhou seus irmãos no cangaço. Virgulino declarou a Antônio e Livino que tinham perdido propriedades e 29 criações com as mudanças forçadas, que a mãe morrera de tanto sofrer e o pai fora assassinado pelos próprios homens que tinham a obrigação de protegê-lo.

Para Virgulino, Antônio e Livino a sorte estava lançada: já que haviam perdido tudo, iriam lutar e matar até morrer. Nesse ponto, encerra-se a entrevista de João Ferreira cedida ao “O Cruzeiro” sobre a entrada de Virgulino no cangaço.  Qualquer probabilidade de que as vidas dos integrantes da família Ferreira pudessem ser conduzidas por caminhos pacíficos estava agora irremediavelmente perdida. Pelos ataques a seus inimigos e as encrencas com a polícia, os irmãos Ferreira já estavam marcados como criminosos.

Já tinham traçado um caminho sem volta., Resolvendo viver do crime e lutar contra a polícia para vingar a morte do pai eles abandonaram qualquer esperança de poder voltar a uma vida normal e, dali em diante, teriam que viver somente do cangaço. Embora a entrada de Virgulino no cangaço possa ser atribuída ao contexto das condições da sociedade em que viveu e o exame de seus atos possa explicar em parte suas razões para este passo, há muitas perguntas sem respostas. O acontecimento pode sempre fugir à compreensão total.

É difícil explicar porque alguns homens se tornam criminosos, enquanto outros (como João, por exemplo), vivendo dentro das mesmas condições sociais e sujeitos às mesmas tribulações, não se tornam. Na verdade, a diferença parece estar na interação dos acontecimentos e condições com o temperamento individual. Talvez tenha sido a ousadia de Virgulino e também um pouco de perversidade, combinadas com sua crescente frustração, que o impeliram a seguir o caminho que iria pôr em perigo a vida de sua família e que no fim, quando outros poderiam ter recuado, o levaram a cruzar o limite e entrar no cangaço. Talvez tenha sido uma mistura de caráter e circunstância que transformou o sertanejo Virgulino no cangaceiro Lampião. Por ironia da sorte, Lampião e seus irmãos não conseguiram vingar satisfatoriamente a morte de seu pai.

Os dois homens que eles diziam serem mais responsáveis, José Saturnino e o sargento José Lucena, sobreviveram aos Ferreira, por muitas décadas. Era realmente difícil punir os responsáveis pelo crime, pois estes eram protegidos por fortes grupos armados. Também é possível que Lampião e seus irmãos tenham abandonado a idéia de eliminá-los, pois logo tiveram que procurar mais em defender suas próprias vidas. Contudo, a meta declarada de Lampião de vingar a morte de seu pai, deu à sua carreira de fora da lei uma razão que ajudou a criar a lenda do cangaceiro justiceiro e vingativo. 

Assim como Lampião, Jesuíno Brilhante, Antonio Silvino e Sinhô Pereira são todos considerados chefes cangaceiros, porque suas famílias se encontraram em certo momento como a oposição. Nos casos de Silvino e de Lampião, ambos tiveram seu pai morto e, como os assassinos eram protegidos, essas mortes trouxeram desejo de vingança. Para poder analisar as relações entre cangaceiros e coronéis, é importante também definir os cangaceiros, a razão pela qual alguém era considerado cangaceiro, a sua posição social e a sua situação perante o coronel.

Maria Isaura Pereira de Queiroz distingue dois tipos de cangaço: o de vingança, o banditismo vingador, tradicional entre as lutas de famílias; e o cangaço como modo de vida, devido a fatores socioeconômicos, o qual continuou advindo das querelas entre as famílias, mas constituiu-se como única saída para o sertanejo pobre na conjuntura sócio-econômica deste período (1900-1930), isto ao menos fora das fileiras da polícia.

Amaury de Souza distingue também dois tipos de cangaço, sendo o primeiro tipo classificado por este autor como o cangaceiro herói e o segundo como um bandido profissional, que se limitava e não era um rebelde contra o sistema estabelecido.4 Segundo Amaury de Souza, os pequenos proprietários, uma vez inseridos no cangaço, tinham que preservar um mínimo de prestígio social; para eles, era quase impossível  abandonar o cangaço, como fizeram Sinhô Pereira e Luís Padre, que pertenciam a famílias importantes e podiam ser apoiados em uma vida pós-cangaço. Voltando a tratar dos tipos de cangaço, as definições de Frederico Pernambucano de Mello5 parecem estar mais corretas.  Este autor distingue três tipos de cangaço: o cangaço-meio de vida, o cangaço de vingança e o cangaço-refúgio. Estes dois últimos tipos se enquadram no banditismo vingador considerado por Maria Queiroz.

A maior parte dos cangaceiros (entre eles os quatro chefes de bando já mencionados) entrou neste meio para se vingar por uma razão ou por outra: desejo de vingança pela morte de um membro de sua família - que foram os casos de Antonio Silvino e de Lampião – ou porque queriam satisfazer sua vingança, mas tinham a necessidade de se manter sob proteção contra as autoridades. 3 QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Os cangaceiros. São Paulo: Duas Cidades, 1977, pp. 207-208. 4 SOUZA, Amaury de. O cangaço e a política da violência no Nordeste brasileiro. São Paulo: Revista Dados, nº 10, 1973, pp. 97-125. 5 MELLO, Frederico Pernambucano de. Guerreiros do Sol - Violência e banditismo no Nordeste do Brasil. Recife: A Girafa, 2005, p. 140.31 Um exemplo desse tipo de cangaço- refúgio é o cangaceiro Ângelo Roque da Costa, o Anjo Roque, membro do grupo de Lampião, que assassinou o estuprador de sua irmã e em seguida foi vítima de represálias de uma poderosa família.

As duas últimas categorias (refúgio e vingança) podem ser consideradas como uma só, como Mello dá a entender em sua obra. Os grandes protótipos do cangaço de vingança foram Jesuíno Brilhante e Sebastião Pereira, o Sinhô Pereira. Pelo cangaço-meio de vida, os exemplos são Antonio Silvino e Lampião. Estes dois últimos foram, num primeiro instante, vingadores e posteriormente adotaram o cangaço como meio de vida, para se manterem na lucrativa “profissão”. A questão evidente está em saber se chefes cangaceiros como Silvino e Lampião experimentaram o desejo de deixar o cangaço, se avaliaram uma possibilidade real de mudar seu modo de vida (como fez Sinhô Pereira) sem correr riscos para eles mesmos e seus homens, ou se ficavam efetivamente entre os cangaceiros.

Ao cometerem uma série de violências em busca de vingança ou para se imporem, os cangaceiros criaram novos inimigos, que por sua vez, desejavam defender sua honra e poder, se aliando as forças policiais, conhecidas como volantes, e lutando nas mesmas condições de seus adversários cangaceiros. Os participantes mais engajados nas volantes eram aqueles que haviam ingressado na luta por razões pessoais, entre estas, os abusos sofridos por parte dos cangaceiros nos saques e pilhagens. 

Para os sertanejos, a brutalidade da polícia, que seguia os grupos de cangaceiros, era muitas vezes pior do que aquela sofrida quando da passagem dos bandidos, porque as batidas das volantes eram permitidas pelas autoridades. O que levou ao um grande número de sertanejos a tomarem uma decisão: irem engrossar às fileiras dos cangaceiros, aderindo ao banditismo ou ingressarem nas volantes policiais para perseguir os bandidos. A distinção entre o cangaço de vingança e o cangaço meio de vida é importante. O chefe cangaceiro Sinhô Pereira é considerado como um cangaceiro vingador, limitando-se a combater pelas causas de luta de sua família. Mais: não precisava de “contribuições” de terceiros, pois sua família abastada garantia a sua manutenção e de seu bando. A situação era bem diferente para Silvino e Lampião. Estes precisavam das “contribuições”, extorquindo valores de grandes proprietários em troca de seus serviços.

A maior necessidade era manter-se a si e a seus homens com armas e munições  suficientes e, para isto, os cangaceiros se aproximavam de fontes ligadas à polícia, os  32 coronéis. Por este intermédio, os cangaceiros tiveram acesso a armas de uso exclusivo militar, como as do tipo Winchester, que foram utilizadas principalmente pelos cangaceiros do grupo de Lampião. Além de armas e munições, recebiam uniformes e  abrigo desses coronéis, em caso de perseguições. 

Uma proteção semelhante só poderia ser fornecida pelos coronéis, o que implicava que o cangaceiro, apesar de sua situação de independência, era realmente dependente de seus protetores, se não todo o tempo, ao menos momentaneamente. E porque interessava aos coronéis cooperar com os cangaceiros? As razões variam. Um coronel podia agir por receio de ser atacado ou por pragmatismo, uma vez que por um tempo significativo no sertão os bandidos demonstraram um poderio maior do que a polícia.

Os grupos de cangaceiros também podiam ser cooptados e utilizados na execução de vingança contra inimigos políticos. Portanto, não é possível sustentar a hipótese de antagonismo entre cangaceiro e coronel, tendo prosperado uma tradição de simbiose entre essas duas figuras, representada por gestos de auxílio recíproco, porque assim lhes apontava a conveniência. Ambos se fortaleciam com a celebração de alianças de apoio mútuo, representando, para as duas partes, condição de maior poder. Por força dessas alianças, o bando colocava-se a serviço do fazendeiro ou chefe político, que se convertia, em  contrapartida, naquela figura responsável pela conservação do caráter endêmico de que o cangaço sempre desfrutou no Nordeste, que foi o coiteiro.  Muitos coronéis mantiveram bom relacionamento com os cangaceiros, chegando a protegê-los e acolhê-los em suas fazendas, embora sua motivação para isso não fosse exatamente bondade ou simpatia. Seus interesses pessoais sempre falaram mais alto que qualquer sentimento.Os coronéis visavam suas próprias vantagens e lucros e não era nenhum acontecimento incomum abrigar um cangaceiro e em seguida traí-lo.

Por outro lado, visto que a proteção foi de interesse vital para os cangaceiros, estes últimos não  podiam atacar sem discernimento. Um equilíbrio delicado entre amigos e inimigos foi necessário para que os grupos de cangaceiros pudessem sobreviver por tanto tempo. O padre José Kherle, confessor e amigo pessoal de Lampião e de sua família desde a década de 20, em uma entrevista concedida a Revista Manchete e publicada em 29 de abril de 1972, chegou mesmo a afirmar: “Lampião sempre foi protegido por chefes políticos e grandes donos de terras.  Deles, em troca de serviços, Lampião recebia armas e mantimentos” As relações políticas de Lampião com pessoas poderosas, como de resto ocorre com o cangaço em geral, foram necessárias para a preservação do bando.  Alguns pontos de vista um pouco imprecisos relativos à independência de Lampião e dos demais bandidos são tão comuns como os que os compreendem como armas de aluguel. Arthur Shaker entende o cangaço de Lampião como superior em poderio aos coronéis.

Do lado oposto - coronéis como superiores em poderio a Lampião está o livro de Chiavenato.8 Shaker sugere que a fonte de poder de Lampião seria a fraqueza do coronelato em sua área de influência e que os potentados locais não teriam força suficiente para combatêlo, e que, por isso, submetiam-se às suas exigências e procuravam colaborar. Já para Chiavenato, Lampião não passou de um joguete nas mãos dos coronéis que o utilizaram para depor seus inimigos políticos e eleger seus aliados. Segundo este autor, o cangaço durou enquanto manteve o braço armado na fazenda, enquanto houve necessidade de defendê-la dos interesses de uma massa trabalhadora insatisfeita e porque as novas leis eleitorais permitiram que os coronéis controlassem as eleições através dos votos de cabresto, com a morte por encomenda substituindo as guerras de família. 

A própria história rural recente é uma refutação à argumentação deste autor. Quanto a Shaker, sua hipótese parece esbarrar em problemas factuais da própria época em questão, pois há evidências de que existiram muitos coronéis e fazendeiros que, com homens e armas, tentaram se defender dos possíveis ataques realizados por cangaceiros, como no ataque frustrado de Lampião a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, em 1927, quando o grupo de cangaceiros foi derrotado e repelido por grupos de moradores armados. Ressalte-se ainda que em momentos em que o poder dos cangaceiros era reconhecidamente inferior, abria-se a possibilidade de homens autônomos dos bandos viverem como jagunços ou manterem-se sob a proteção de um chefe de jagunços.

Isto comprova que, regra geral, o cangaço de Lampião tinha uma relação que não comportava superioridade ou inferioridade constantes com os seus protetores, até mesmo os mais ilustres. Estas situações dependiam das circunstâncias do momento. 6 Idem, p. 317. 7 SHAKER, Arthur. Pelo espaço cangaceiro. São Paulo: Símbolo, 1979. 8 CHIAVENATO, Júlio. Cangaço, a força do coronel. São Paulo: Brasiliense, 1990. 34 Deve ficar claro que o relacionamento entre cangaceiro e coronel não produzia vínculo de subordinação exclusiva para qualquer das partes.

A característica principal do cangaceiro, o traço que o faz único, é a ausência de patrão. Mesmo quando ligado a fazendeiros, por força de alianças celebradas, o chefe de grupo não assumia compromissos que pudessem tolher-se à liberdade. A convivência entre eles fazia-se de igual para igual, agindo o cangaceiro como um fazendeiro sem terras, cioso das prerrogativas que lhe eram conferidas pelo poder das armas. Em março de 1926, atendendo ao pedido de Padre Cícero e do deputado federal Floro Bartolomeu, Lampião se dirigiu a Juazeiro do Norte, a fim de receber a patente de “capitão” e lutar contra as forças da Coluna Prestes. Durante sua estadia em Juazeiro, Lampião concedeu uma entrevista ao jornalista Otacílio Macedo, que foi publicada no jornal O Ceará, edição de 17 de março de 1926.  Passemos agora a analisar o conteúdo dessa entrevista, que é considerada pelos historiadores como fundamental para melhor conhecimento do cangaço. Foram adaptaram os termos regionais à linguagem corrente.

Lampião começou dizendo: “Chamo-me Virgolino Ferreira da Silva e pertenço à família Ferreira, do riacho de São Domingos, município de Vila Bela. Meu pai por ser perseguido pela família Nogueira e em especial por José Saturnino, nosso vizinho, resolveu retirar-se para o município de Águas Brancas, no estado de Alagoas.” Nesse trecho inicial da entrevista, pode-se perceber que as informações dadas por Lampião coincidem com as prestadas por João Ferreira à Revista O Cruzeiro, descritas acima. Lampião continuou: “Mesmo assim as perseguições não cessaram. Em 1917,em Águas Brancas, meu pai, José Ferreira, foi assassinado pelos Nogueira e Saturnino. Não confiando na ação da justiça pública, porque os assassinos eram protegidos pelos grandes resolvi pela vingança. Não perdi tempo. Juntei meus recursos e enfrentei a luta dali em diante. Não escolhia a quem matar, bastando que pertencesse a famílias inimigas e sei que reduzi bastante o número delas.”

Apesar de Lampião assegurar que sua entrada no cangaço deve-se ao desejo de vingança pela morte de seu pai e de que ele reduziu bastante o número dos integrantes das famílias inimigas, ele e seus irmãos não conseguiram vingar satisfatoriamente a morte de seu pai, pois os dois homens que eles diziam serem os mais responsáveis pelo assassinato de seu pai, José Saturnino e o sargento José Lucena, sobreviveram aos 35 Ferreira, por muitas décadas. 

No entanto, esta meta declarada de Lampião de vingar a morte de seu pai, deu à sua carreira de bandido uma razão que ajudou a criar a imagem do cangaceiro justiceiro e vingativo.  A interessante categoria de “escudo ético” apresentada por Mello9 está já contida na tábua de valores do sertanejo e este o identifica nos atos de Lampião. O escudo ético é a forma através da qual o cangaceiro profissional justifica a sua adesão à vida criminosa. Mas a sua própria conduta já não condizia com seu discurso; ao não se vingar dos assassinos de seu pai, já era possível identificar nas ações de Lampião o perfil do bandido comum, utilizando o cangaço como meio de vida. Lampião fez a opção pelo caminho do cangaço para poder sobreviver, sob o pretexto de vingar-se dos assassinos de seu pai.

Não optou pela liderança e organização de lavradores revoltados e de trabalhadores explorados porque não tinha formação política alguma.  Lampião nunca foi um líder de rebeliões ou um modelo que servisse para a formação de consciência política para camponeses revoltados. Na seqüência da entrevista, Lampião não deixou de mencionar seu mentor dizendo: “Já pertenci ao grupo de Sinhô Pereira, a quem acompanhei durante dois anos. Muito me afeiçoei a este meu chefe, porque é leal e valente batalhador.

Se um dia voltasse ao cangaço, eu iria ser seu cabra.” Nesse ponto da entrevista, Lampião refere-se ao período exatamente anterior à formação de seu próprio grupo de cangaceiros, quando por dois anos pertenceu ao grupo chefiado por Sinhô Pereira, e que, quando este último resolveu abandonar o cangaço em 1922 e exilar-se em Goiás, coube a Lampião assumir a liderança do bando. Sobre suas andanças e seus perseguidores declarou:  “Tenho percorrido os sertões de Pernambuco, Paraíba e Alagoas e uma pequena parte do Ceará”. Com as polícias desses estados já entrei em combate inúmeras vezes.

A polícia de Pernambuco é disciplinada e valente, e muito cuidado me tem dado. Mas a polícia da Paraíba é covarde e insolente. “Atualmente há um contingente da força pernambucana de Nazaré que está praticando as maiores violências por aí, comportando-se como a polícia paraibana costuma fazer.” 9 MELLO, Frederico Pernambucano de. op. cit., pp. 132-133.36 Os perseguidos pela polícia procuravam proteção - quando não a tinham em seu lugar de origem - na migração.Quando a perseguição de uma força policial de um Estado aumentava muito, os grupos de cangaceiros se deslocavam para outros Estados do Nordeste, se aproveitando de uma constituição federalista que proibia forças policiais perseguidoras de cangaceiros, de entrarem em outros estados, a fim de continuarem suas perseguições aos cangaceiros. Referindo-se a seus coiteiros, Lampião esclareceu que: “Não tenho tido propriamente protetores”.

A família Pereira, de Pajeú, é que tem me protegido mais ou menos. Em toda parte encontro bons amigos que tudo me facilitam e que me escondem quando a perseguição dos governos aumenta muito.  “Se não tivesse necessidade de procurar meios para a manutenção dos meus companheiros, poderia ficar oculto, sem nunca ser descoberto pelas forças que me perseguem.” A lógica que presidiu as relações entre cangaceiros e coiteiros estava cabalmente implantada no contexto sócio-cultural de sua referência, apenas tendo sido incorporada e rearticulada em novas condições, de modo a favorecer aqueles a quem em geral cabia o maior ônus resultante destas relações de aliança.

Para os sertanejos, Lampião foi o “outro”, mas apesar de diferente, os sertanejos absorveram-no, criando com Lampião laços de proximidade, estendendo-lhe relações no seio de sua comunidade de parentes, compadres e aliados. Nessas relações, cabia a Lampião, pelo poder por ele exercido de forma contextualmente inteligível, uma posição de dominância. Seus atos e os de seus homens representaram um novo status, uma inserção em outro segmento.

Ainda que não oficialmente reconhecido como tal, esse segmento do cangaço contou com o reconhecimento social, de modo que dele se podia esperar certas atitudes, a ele recorreu-se em determinadas situações e com ele estabeleceram-se certas relações. Assim, Lampião impôs uma alteração profunda nas relações sertanejas, dando um salto  na hierarquia informal de poder. Também fica claro nesse trecho da entrevista a necessidade de aproximação dos cangaceiros com coiteiros poderosos, como os coronéis, para a “manutenção” dos companheiros de Lampião e dele próprio.

Na seqüência da entrevista, Lampião fez uma ressalva importante no que diz respeito a suas relações com os coronéis, ao dirigir crítica ao coronel José Pereira Lima e ao falar de sua “profissão”: 37“De todos  meus protetores, só um me traiu miseravelmente. Foi o coronel José Pereira Lima, chefe político de Princesa. É um homem perverso, falso e desonesto, a quem servi durante anos, prestando os mais vantajosos favores de nossa profissão.” Os relatos acerca das relações entre Lampião e o coronel José Pereira Lima, chefe político de Princesa, na Paraíba, deixam entrever alguma distancia entre os dois.

A proteção dada a Lampião por este último teria sido intermediada por outros chefes menos importantes, sendo exercida diretamente por Marçal Diniz, sogro de José Pereira. No entanto, os ataques desferidos pelos cangaceiros chefiados por Antonio, irmão de Lampião, a cidade de Souza (área de influencia do coronel José Pereira) seguidos de saques e pilhagens, acabaram por irritar José Pereira que não só retira a sua proteção como começa a perseguir o bando de cangaceiros, insuflando a polícia paraibana a persegui-los. Também fica claro que as relações de proteção envolvendo coronéis e cangaceiros eram momentâneas, dependendo dos interesses de cada um dos envolvidos.

Outro ponto importante a ser salientado neste trecho da entrevista é que o próprio Lampião admite necessitar de protetores como os coronéis, aos quais o rei do cangaço afirma prestar vantajosos favores de sua “profissão”, como assassinatos e intimidação de inimigos políticos, saques, extorsão e seqüestros. A respeito da maneira como vivia, Lampião disse: “Consigo meios para manter meu grupo pedindo recursos aos ricos e tomando à força daqueles que se negam a prestar-me auxílio.

Tudo quanto tenho adquirido em minha vida de bandoleiro mal tem chegado para as enormes despesas com meu pessoal. Gasto muito comprando armas e munições e tenho gasto distribuindo esmola aos necessitados.” Um dos enganos muito comuns quando se trata de cangaceiros, é afirmar que todos eram pessoas sem terra, deserdados da vida, que não tinham nada e que por isso eram forçados a permanecer naquela vida de crimes. Este pensamento está longe da verdade. O próprio Lampião era proprietário de algumas fazendas. Sobre as perseguições e suas fugas, deixou claro: “Tenho conseguido escapar da tremenda perseguição que me movem os governos, brigando e correndo quando vejo que não vou conseguiu resistir ao ataque.  Além disso, sou muito vigilante e, se confio, é sempre desconfiando.

Nunca conseguirão apanhar-me em campo aberto. Recebo muitas informações de meus amigos, sendo sempre avisado sobre o movimento das tropas. Meu serviço de espionagem é útil.” 38 Lampião demonstra ter confiança nos seus coiteiros e informantes que lhe avisavam sobre a movimentação das forças policiais. Seu comportamento mereceu comentários bastante francos: “Tenho cometido violências e depredações, vingando-me dos que me perseguem. Costumo respeitas as famílias, por mais humildes que sejam. Quando acontece de alguém do meu grupo desrespeitar uma mulher, castigo severamente. Até agora não desejei abandonar a vida de armas, com a qual já me acostumei e sinto-me bem assim. Mas mesmo que não fosse assim não conseguiria deixar este tipo de vida, porque os inimigos não se esquecem de mim. Por isso, eu também não posso nem devo deixá-los tranqüilos.

Poderia retirar-me, indo para algum lugar longínquo, mas acho que isso seria uma covardia e não quero nunca passar por covarde.” Aqui Lampião afirma ser perseguido e, por isto, procura justificar seus atos de violência e vingança. Outro aspecto interessante destacado por Lampião era sobre as relações dos cangaceiros de seu grupo com mulheres: estupros e assédio a mulheres casadas não eram permitidos, sendo punidos.

Lampião também se refere a um possível afastamento da vida de cangaceiro, mas considera ser difícil deixar sua “profissão”, como veremos mais adiante. Sobre as pessoas que tinha contato: “Geralmente gosto de todas as classes.  Tenho alguma preferência pelas classes mais conservadoras, como agricultores, fazendeiros,  Comerciantes e outros, por serem homens que trabalham. Tenho veneração e respeito pelos padres, porque sou católico.  Sou amigo dos telegrafistas, porque alguns têm me salvo de grandes perigos. Acato os juízes, que são homens da lei e não atiram em ninguém. Só detesto realmente uma classe: a dos soldados, que são meus constantes perseguidores. Reconheço que muitas vezes eles me perseguem porque são obrigados e só por isso é que ainda poupo alguns quando os encontro fora do campo de luta.” Neste trecho da entrevista que concedeu, constata-se que Lampião lutava contra o poder público corporificado enquanto Estado, não contra as elites dominantes representadas politicamente por esse mesmo Estado.

Lampião mostrou-se conservador nos costumes, com  referências claras pelas classes dominantes e no modo de vida que gostaria de levar longe do cangaço. Percebe-se claramente que Virgulino Ferreira da Silva não pretendia subverter a ordem injusta e opressiva vigente no sertão. Sobre seus companheiros: 39 “Este grupo que me acompanha é composto de quarenta e nove homens, todos bem armados e municiados, custando-me bastante sustentá-los como os sustento. Meu grupo nunca fui muito reduzido, variando sempre entre quinze e cinqüenta homens.” São pequenos grupos; no máximo, Lampião teve grupos formados por cinquenta homens. 

Em raras ocasiões, ele comandou cem cangaceiros, como no assalto fracassado a cidade de Mossoró, mas, no geral, ele comandou grupos formados entre quinze e vinte homens. Mas Lampião no seu grupo particular tinha quase sempre doze, que era o número que ele costumava trabalhar. E como são pequenos grupos num espaço imenso, numa região que tem polícia, que tem exército, que tem outros tipos de bandoleiros, esses pequenos grupos seriam facilmente sufocados, esmagados e destruídos se eles não se aliassem ao poder. A sobrevivência durante um longo tempo dos grupos de cangaceiros, principalmente do grupo de Lampião, deve-se as alianças celebradas com os grandes latifundiários. Sobre o padre Cícero, Lampião foi bastante específico: “Sempre respeitei e continuo a respeitar o estado do Ceará, porque nele não tenho inimigos.

Nunca me fizeram mal e, além disso, é o estado do Padre Cícero. Como já disse, tenho a maior veneração por este santo sacerdote, porque é o protetor dos humildes e infelizes, protegendo há muitos anos minhas irmãs que moram aqui em Juazeiro. Tem sido para elas um verdadeiro pai. Eu ainda não conhecia o Padre Cícero, pois esta é a primeira vez que venho a Juazeiro.” Os cangaceiros, assim como boa parte da população sertaneja, acreditavam fielmente naquilo que Padre Cícero dispunha, pois acreditavam que este Padre era capaz de fazer milagres. 

No entanto, nota-se que o próprio Padre Cícero foi um grande proprietário de terras no Ceará, além de coiteiro de cangaceiros.

O fenômeno do Padre Cícero é um fenômeno não tanto de fanatismo religioso, mas um fenômeno de paternalismo que se exercia por meio da religião e que servia a uma estrutura de poder que sustentava grupos ligados ao Padre Cícero.  A respeito de sua presença ali, explicou: “Tive um combate com os revoltosos da Coluna Prestes, entre São Miguel e Alto de Areias.  Informado de que eles passavam por ali e sendo eu um legalista, fui atacá-los, havendo forte tiroteio. Depois da luta e estando com apenas dezoito companheiros, vi-me forçado a recuar, deixando para trás inimigos feridos. Vim agora ao Cariri porque desejo prestar meus serviços ao governo da nação.

Tenho a intenção de incorporar-me às forças patrióticas do Juazeiro e com elas dar combate aos rebeldes.” 40 Convocado pelo padre Cícero para dar combate aos rebeldes da Coluna Prestes, Lampião aceitou a patente de capitão, mas na sequência ao ser atacado por volantes pernambucanas, que não reconheciam sua patente, Lampião esquivou-se do enfrentamento com os tenentes guerrilheiros. Sabia não ter explicação o combate a  inimigos do mesmo governo que queria aniquilá-lo.

A uma pergunta do repórter sobre a razão de não abandonar o cangaço, Lampião respondeu lançando outra pergunta: “Se o senhor estiver em um negócio e foi-se dando bem com ele, pensará em abandoná-lo”?” Está claro que não”,  respondeu o jornalista.  O bandido então arrematou: “Pois é exatamente o meu caso, estou me dando bem com esse negócio e não pretendo abandoná-lo. Não sei se vou passar a vida toda nele. Depois, talvez me torne um comerciante.” É possível afirmar-se que os maiores cangaceiros, entendidos estes como os chefes de grupo de maior expressão, gostavam da vida do cangaço. Num sertão profundamente conturbado pelas disputas entre chefes políticos e lutas de famílias, o cangaço representava uma ocupação aventureira, um ofício epicamente movimentado, um meio de vida.

Por isso, não se deve considerar o cangaço como despido de atrativos. A figura do cangaceiro, homem sem patrão fixo, vivendo das armas, era razoavelmente bem aceita naquele meio, o que favoreceu e incentivou o ingresso de muitos sertanejos nos grupos de cangaceiros. O próprio Lampião declarou que considerava o cangaço como um bom meio de vida.

Chegaria mesmo a defini-lo como um “negócio” nesta passagem da entrevista. Aqui termina a entrevista concedida por Lampião em Juazeiro do Norte. Lampião fez-se capitão em Juazeiro, por ordem do Padre Cícero e por ocasião do combate à Coluna Prestes e, se pouco tardou para que o erro dessa nomeação fosse reparado com o recrudescimento de sua perseguição pelas volantes, o cangaceiro jamais renunciou a seu título.

Ao não renunciar ao seu título de capitão, Lampião demonstra que sua meta era a conquista de uma posição social como a desses seus coiteiros poderosos e de outros tantos líderes locais com quem fez aliança.  O ingresso de Lampião e de seu grupo nos chamados Batalhões Patrióticos, formados com o propósito de lutar contra a Coluna Prestes, concedeu aos cangaceiros um retorno à legalidade, porém de curta duração, pois a aposta de Padre Cícero no poder de Lampião esbarrou em muitos obstáculos sendo certamente o mais grave de 41 todo o seu fama. Nem o sertão nem as capitais nordestinas se conformariam com o bandido munido não apenas da sua patente, como também de uniformes militares, munição em abundancia e moderno armamento bélico, tudo isso em número suficiente para equipar todo seu bando.

Nesse episódio há algo que merecer ser analisado: o escândalo que essa atitude provocou. Ora, para a expulsão dos revoltosos os cangaceiros não foram os únicos sertanejos com passado criminoso pronto a contribuir, pois as milícias privadas dos coronéis também foram acionadas sem provocar impacto semelhante na opinião pública. A frequência do nome de Lampião em jornais terá gerado em seu caso. um impasse insuperável, mas tanto a fama já alcançada quanto ao escândalo resultam da singularidade de sua força armada, isto é, da sua autonomia.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Concluímos que a historia é como se fosse uma cocha de retalho, cada pedaço tem a sua importância e que  se completa e dar novo espaço e uma  nova tonalidade para aquilo que se quer construir( Genilson Alves 12/042009 – 00h30m ). Trago aqui uma reflexão e uma conclusão de termino de curso sobre, o cangaço e seus reflexos no processo de ensino e aprendizagem. Apesar das inúmeras pesquisas, teses, dissertações, etc. Sobre o fenômeno do Cangaço no Nordeste do Brasil, quase nada disso foi levado às salas de aulas dos ensinos médio e fundamental. O tema ficou quase que restrito aos aspectos turísticos e, de certo modo, folclóricos. Os acadêmicos (as universidades) não repassaram os resultados de tantas e tantas elucubrações sobre o assunto, que também sempre foi tido como tabu pela sociedade ou pelo poder político regional.

Não se trata apenas da questão do mito Lampião, mas da discussão sobre uma realidade política e social inerente à característica peculiar de todo um povo, o nordestino da época.  Em outras palavras, em se falando de Cangaço, o saber escolar não acompanhou o saber histórico porque isso poderia significar, entre outras coisas, transformação. Isso, desde tempos passados até os dias atuais. A questão do Cangaço é tão “relevada” propositadamente no Brasil que, por incrível que pareça, praticamente não há um só documentário, analítico, completo e independente sobre o tema.

Ficamos a mercê de um “Globo Repórter” ‘’Rede Globo de Televisão’’ e outras reportagens do tipo, que sempre terminam por trazer algumas informações tendenciosas sobre o tema, sem o íntegro compromisso com a verdade histórica. Lembrando que o processo ensino-aprendizagem ocorre a todo o momento e em qualquer lugar. Questiona-se então neste processo, qual o papel da escola? Como esta deve ser considerada? E qual o papel do professor? É função da escola realizar a mediação entre o conhecimento prévio dos alunos e o sistematizado, propiciando formas de acesso ao conhecimento científico.

Nesse sentido os alunos caminham, ao mesmo tempo, na apropriação do conhecimento sistematizado, na capacidade de buscar e organizar informações, no desenvolvimento de seu pensamento e na formação de conceitos. O processo de ensino deve, pois, possibilitar a apropriação dos conteúdos e da própria atividade de conhecer.

Não que o tema cangaço tenha que ser matéria obrigatória para os alunos dos ensinos médio e fundamental. Porém, seria muito importante que os jovens do Brasil em geral e do nordeste em particular tomassem conhecimento do que foi e do que representou o fenômeno Cangaço na vida e no cotidiano sertanejo. Quais as mudanças que o cangaço proporcionou para estas regiões (se boas ou ruins). Assim como é importante para os jovens estudar e conhecer as histórias das insurreições que ocorreram no Brasil, em diversos momentos e em diversas regiões do país, acho da máxima importância os jovens nordestinos conhecerem e discutirem o fenômeno do cangaço e a sua importância na construção da identidade regional da região.

Longe de querer fazer uma apologia ao cangaço, tampouco querer enaltecer a figura do cangaceiro Lampião ou de outro cangaceiro qualquer. Temos que louvar, entender, estudar e, inclusive, contextualizar o cangaço naqueles idos de 20 e 30, onde um fenômeno mais aterrador que o cangaço e até mesmo, que a seca, dominava o nordeste. ‘’Nessas circunstâncias, os cangaceiros do século XX, em sua análise - eram bem distintos e tinham intenção final de constituir uma forma de viver e sobreviver profissionalmente do cangaço. No sertão nordestino da república velha, onde o homem comum vivia numa encruzilhada de relações coronelísticas e “não tinha saídas, nem opção por novos caminhos, mesmo a fuga representava, quando possível, ligar-se a outro coronel. As únicas saídas possíveis foram por muito tempo, o misticismo e o cangaço”. (JANOTTI, 1992: 61.).

As motivações para a entrada no cangaço eram diversas, condessar uma específica seria superficial. Alimentos que eram bastante escarço. O Desemprego. A fome. A cidadania que nao era respeitados nem pelo governo e nem tao pouco  pelos cangaçeiros. Impostos altíssimos, e a seca. Para alguns eses foram à motivaçoes criadas para se entrar no cagaço. Diferente da motivaçao de lampiao.  Porém, aqui, em terras onde a honra prevalece, uma ganha destaque, era o da vingança. Já dizia o profundo conhecedor dos sertões, Gustavo Barroso: “No sertão quem não se vinga está moralmente morto” Sabemos como é complexo o caminho percorrido por um pesquisador em busca das respostas para os seus questionamentos, esse tem que ao longo do percurso se acercar de toda a documentação possível e tomando a função de um detetive esmiuçar os fatos, “violar” identidades, interpretar documentos, construir “verdades”, frente a um passado que não tem mais como ser revivido a não ser pela documentação e vestígios deixados.

O cangaceirismo advinha  da ausência  de policiamento nas regiões  interioranas profundas. ‘’Como explicar a vitória de um pequeno bando sobre a polícia de oito estados se não pelos “superpoderes” dos cangaceiros? Ou seja, a própria polícia, muitas vezes subornada pelo movimento, supervalorizava a “valentia” cangaceiros para encobrir sua deficiência. “Não é muito diferente do que vemos nas favelas brasileiras atualmente...”, comentou o colecionador Evandro Domingues.

A permanência na atualidade de um poder paralelo, da corrupção policial e da conivência popular com a criminalidade têm origem na herança do coronelismo e do Cangaço, afirma também o pesquisador Rostand de Medeiros. Para ele, o que estava em jogo era o interesse econômico: “Sua organização era baseada no dinheiro, na propina dada aos policiais e autoridades que lhe forneciam armas. No Rio de Janeiro, traficante não dura muito, por que então Lampião viveu 18 anos no Cangaço? Serão apenas suas habilidades guerreiras? Sua invencibilidade? Corpo fechado? Nada disso, apenas lampião buscava a si próprio, nunca lutou por se quer  um objetivo para a sua coletividade. 

A Região Nordeste do Brasil sempre foi esquecida  pelo poder publico entregue a própria sorte, entregue a vontade  de vários oportunistas como por exemplo: do poder local, dos coronéis, da igreja e por fim dos cangaceiros, de acordo com os estudos realizados. A palavra cangaço  tem um significado bastante expressivo no meio rural, como podemos observar que essa palavra vem da palavra = canga ( peça de madeira usada para prender junta de bois a carro ou arado; jugo).  Que serveria para ara a terra ou fazer outros tipos de atividades.

Podemos observar que a canga que é para serem colocadas em animais, mas estava sendo colocadas na populaçao pobre sertaneja,  literalmente estava sendo colocadas nas costas da populaçao brasileira e especial na regiao nordeste. Era usado tambem o votos de cabresto. Uso do governo local a mando do governo federal que era executado pelos os coronéis em suas regiões especificas. em todo Brasil essa pratica era usada especialmente na região Nordeste. A grande  massa dos  habitantes  da região Nordeste não dispunha de  recursos normais  para viver, nem mesmo  tinha  a possibilidade  de vender com segurança  sua força de trabalho.

Quando conseguia, era em condições  tais que  correspondiam à semi–servidão. Como poderia  haver justiça, simples  recursos jurídicos, sem falar em  justiça social, para explorados e oprimidos  em  tais  condições? Como poderia, pois haver alfabetização, instrução , educação popular? Além disso, para que? O interesse do grande proprietário de terra é manter no lado obscuro a população local.  ‘’Ele quer braços servis  e não cabeças que pensem. Ninguém necessita de saber ler e escrever para pegar numa enxada’’. As verbas iam para os bolsos dos potentados locais,  Seus familiares e parentes.

Mesmo que fundassem escolas uma ou duas na sede do município,  para os filhos dos ricos ou remediados, os filhos dos pobres não podia frequenta-las . Para os pobres segundo  rui faco eram  privados de comprar certos matérias, coisas elementares, como por exemplo: um par de sapato ou uma roupa. Quanto mais livros  e material escolar. E quando seus pais tinham  trabalhos garantidos  ou um lote de terra eles teriam que ajudar desde o mais velho ao mais novo , todos. Enfrentar os duros labores da terra. Não é que a estrada e o caminhão espantem  o cangaceiro. A estrada e o caminhão  trazem  para a cidade o cangaceiro de amanha.

A indústria o entrosa em suas engrenagens, os próprios meios de transporte o absorvem   ou o conduzem para os novos  cafezais que  se abrem  no norte do Paraná. A estrada  e o caminhão   já resultavam, eles mesmos, daquela mudança.  Por que não é só no monopólio da propriedade fundiária  que reside a matriz do cangaço; é em todo o atraso econômico. Contudo a principal causa da simpatia de lampião ao povo e estado cearense era por que era amigo do lendário padre Cicero com fama de milagreiro era  então a maior personalidade do sertão  e constituirá, em juazeiro do norte uma cidade que sustentava basicamente na devoção que as pessoas simples  tinha  por ele.

Concluo  que aprendi muito em tudo que vi , diante de relatos mesmos  em livros sobe a cultura nordestina sertaneja .mas por outro lado  percebo que lampião nunca lutou por objetivo algum sempre visava seus próprios interesse. A policia da época nunca fez esforços para capturar  dá-lhe uma sentença justa sem ter sido sentenciado a morte, se a justiça fosse mais eficaz e competentes, se os governadores governassem para o povo e não para os seus anseios, se as pessoas sertaneja simples não fosse conivente com o cangaço, mais não ser conivente com os cangaceiros ou com os policiais que muitas vezes eram pior do  que os cangaceiros. Quais os cangaceiros de hoje?  Que tipo de ação eles praticam? Podemos afirmar que existem cangaceiros no Brasil de hoje? E no nordeste existe algum tipo de cangaceiro?   Os  cangaceiros dos tempos atuais estão sendo os políticos estão fazendo saques em nossas consciência , estuprando os nossos direitos e acabado  com os direitos dos cidadãos,  os cangaceiros de hoje eles não vestem roupa de couro e sim terno e gravata, não anda de cavalo  e sim de carros importados  pagos com os impostos cobrados dos cidadãos os mesmos impostos que o governo cobrava dos sertanejos. Também não podemos deixar de falar na falta de compromisso do governo para com o cidadão comum e o prestigio para com o empresário. Será que temos  uma vida de qualidade?  Os  governantes governam para o  seu povo? Será? 

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10. Anexo

Imagens da cabeça do rei do cangaço, maria bonita  e seus companheiros mortos  em uma escadaria em,  angico sergipe . as cabeças cortadas, as armas e os objetos pessoais de lampiao  e seu bando depois do combate em angico, 1938.

 Lampião e Maria Bonita
Lampião e Maria Bonita

Lampião, a direita, com sua  família, em juazeiro, no Ceará. foto de Lauro  Cabral de oliveira, março de 1926.
Lampião, a direita, com sua  família, em juazeiro, no Ceará. foto de Lauro  Cabral de oliveira, março de 1926.
Bado de corisco, á esquerda corisco, e ao lado do cangaceiro, sua companheira  Dadá. Foto de Benjamin Abrahao Botto,  1936.
Bado de corisco, á esquerda corisco, e ao lado do cangaceiro, sua companheira  Dadá. Foto de Benjamin Abrahao Botto,  1936.
As cabeças dos cangaçeiros posta na escadaria de pirtanhas.
As cabeças dos cangaçeiros posta na escadaria de pirtanhas.
Vestido usado por Maria Bonita.
Vestido usado por Maria Bonita.

Publicado por: Genilson Alves

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