Getúlio Vargas
1- Getúlio Vargas: uma figura controvertida
O líder do movimento que pôs fim à República Oligárquica, dando início a uma nova era na história política brasileira, foi, sem dúvida, uma figura polêmica. Aliás, a própria Revolução de 1930, reconhecida pela literatura especializada como um fato marcante da trajetória do país em direção à modernidade, foi também, ao longo do tempo, objeto de interpretações contraditórias, tal como nos mostra Boris Fausto, em seu conhecido livro A Revolução de 1930.
A partir da vitória da Revolução de 1930, quando projetou-se na política nacional para transformar-se no grande arquiteto de uma nova ordem econômica e social, as imagens progressivamente associadas a Vargas, são as mais diversas possíveis. É interessante notar que esta controvérsia atinge não só sua personalidade como líder político, mas também o seu papel histórico, o significado político de seus dois governos (1930-1945 e 1951-1954), ou ainda o teor de suas políticas nas áreas econômica, política, social e cultural.
No momento atual, finda a década de 1990, a chamada década neoliberal, essa controvérsia é retomada, reativando-se a discussão em torno do legado de Vargas. Lembremos que um dos objetivos declarados das reformas dos anos 90 foi o desmonte da Era Vargas, tal como explicitado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1994, em seu discurso de despedida do Senado. Entretanto, passados 50 anos de sua morte, a figura de Getúlio Vargas sobrevive a todos os ataques e sua memória permanece viva.
Em poucas palavras, podemos ordenar as principais linhas da controvérsia acima referida em torno de três pares de interpretações contraditórias.
Já o Vargas dos anos 50, presidente eleito para governar o país numa nova fase de sua história política, aparece sob uma nova luz. Aqui o que se enfatiza é a capacidade de comunicação direta com os setores populares, a sintonia com uma sociedade caracterizada cada vez mais pela presença das massas urbanas na política. O que se destaca, então, é seu papel como líder trabalhista à frente de um movimento nacionalista e popular que busca afirmar-se diante de uma elite arredia e conservadora, num contexto democrático e competitivo.
Observando-se este conjunto de visões contraditórias, vemos que as imagens associadas a Vargas refletem sentimentos polares de paixão ou ódio, mas nunca a indiferença.
2- A Era Vargas: visões divergentes
De forma similar, a Era Vargas inspirou interpretações contraditórias. Ora é vista como expressão de uma ruptura drástica com o passado de uma República de notáveis, como era, efetivamente, o sistema político da República Velha, representando, portanto, um passo decisivo na direção da modernização da sociedade brasileira, ora, ao contrário, é interpretada como um acordo entre as elites para conter mudanças inexoráveis e mais profundas, realizando apenas reformas superficiais, sem atingir os alicerces da estrutura de poder em vigor.
Na verdade, ao longo das várias fases em que se pode subdividir os quase vinte anos da Era Vargas – o governo provisório de 1930 a 1934, o governo constitucional de 1934 a 1937, a ditadura do Estado Novo de 1937 a 1945 e, por fim, o mandato pelo voto direto, iniciado em 1951 e tragicamente interrompido em 1954 – Vargas revelou todas essas facetas. Em seu pragmatismo, adaptou-se às circunstâncias cambiantes do contexto internacional e da política interna, movendo-se cautelosamente em função das crises e oscilações típicas daquele momento histórico.
Na verdade, Vargas foi, ao mesmo tempo, ou sucessivamente, progressista ou conservador, conciliador ou intransigente, autoritário ou democrata, elitista ou paternalista, intérprete das forças de continuidade ou de mudança, de acordo com sua própria leitura dos sinais do tempo. Por trás das várias faces, um projeto nacional de desenvolvimento se impunha, a despeito das resistências de diferentes matizes.
Retomando o argumento inicial, como explicar análises tão distintas e mesmo antagônicas? Qual a origem de tanta discordância?
Só é possível decifrar o significado de tais divergências, mediante o entendimento dos anos 30 como um período de transição, caracterizado por avanços e recuos e pelo embate de forças contraditórias. O que marcou esta transição foi a passagem de um sistema de base agro-exportadora para uma sociedade de natureza urbana e industrial.
Publicado por: andre muniz cardoso
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