Educação patrimonial em História: Os patrimônios históricos como objeto de ensino e aprendizagem para novas dinâmicas do ensino de História

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1.  RESUMO

Apresentação do trabalho de graduação realizado para o Projeto de Ensino, tendo como área de concentração Dinâmicas do Ensino de História, onde pretende-se a abordagem do tema da Educação Patrimonial e História Regional, tendo os patrimônios históricos como objeto de ensino e aprendizagem, apresentando a relevância do tema, tendo como objeto de análise a cidade de Itaguaí, localizada na região da Costa Verde, região sul do Estado do Rio de Janeiro, onde seus elementos históricos possibilitaram uma análise referencial, através de pesquisas e resultados, sobre abordagem pedagógica através da História Local, sendo utilizadas também as experiencias obtidas durante o período de estágios, tecnologias da comunicação e informação no ensino de história durante o período da pandemia, tendo como subsídios pedagógicos referentes ao desenvolvimento da tese através dos PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais e BNCC – Base Nacional Comum Curricular, analisando os resultados da pesquisa no processo de ensino-aprendizagem atual através dos Métodos do Estudo de Caso e Método Estatístico, onde é possível fundamentar e concluir, tendo diversos autores como referência, que o Ensino de História é uma Ciência que ainda detêm diversas possibilidades de inovações no processo de ensino e aprendizagem.

Palavras-chave: Educação Patrimonial. História Local. História Regional.

2. INTRODUÇÃO

Tendo como base a área de concentração “Dinâmicas do Ensino de História”, este Trabalho de Graduação pretende abordar o tema: Educação Patrimonial – Os patrimônios históricos como objeto de ensino e aprendizagem.

Sua relevância se mostra importante no sentido de se buscar uma análise mais específica sobre o uso da História local e Regional como referência de ensino para a disciplina de História no currículo básico escolar, bem como em temas transversais e atividades didático-pedagógicas que trabalhem com as concepções de interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, e pluridisciplinaridade, contribuindo para um contexto de polidisciplinaridade do currículo escolar no desenvolvimento do conceito de saber e conhecimento.

Este trabalho tem como objeto de análise a relevância dos patrimônios históricos e sítios históricos e arqueológicos da cidade de Itaguaí, localizada na região da Costa Verde do Estado do Rio de Janeiro, compondo juntamente com Mangaratiba, Angra dos Reis e Paraty a região sul deste Estado, região historicamente importante desde o período do Brasil colonial (e segundo diversos estudos, pré-colonial também). Talvez por ocasião de sua localização ou pelo próprio desenrolar dos acontecimentos históricos, Itaguaí sempre esteve presente em diversos momentos importantes da História do Brasil, principalmente nos períodos colonial e do Brasil Império. A região onde a Cidade está localizada foi testemunha participativa desde o início da colonização e acompanhou vários processos importantes da História.

O problema de pesquisa surge na questão de, apesar do vasto material e recursos que possibilitariam o seu uso no processo de ensino e aprendizagem, esse material é pouco utilizado na disciplina de História e passa despercebido pelo aluno, que residem em uma região histórica, mas desconhecem seus significados, além de não compreenderem que através de seus patrimônios históricos podem adquirir conhecimento e saberes em diversos outros temas. Essa questão nos indica um caminho na busca de respostas, através de pesquisas bibliográficas e de campo, sobre os motivos pelos quais esses recursos não são utilizados, dando também exemplos de sua utilização no processo de ensino e aprendizagem, contribuindo e apresentando propostas para novas dinâmicas do ensino de História.

Os objetivos educacionais desta atuação profissional pretendem apontar como o uso de elementos da Educação Patrimonial e História Regional, através dos patrimônios históricos materiais e imateriais, podem ser instrumentos eficazes no processo de ensino e aprendizagem, na aquisição de conhecimento em História e na abordagem de temas transversais, para os anos iniciais, anos finais e ensino médio da Educação Básica.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Desde o início do aprendizado como estudantes universitários e durante o ensinamento de diversas disciplinas que compõem a graduação de Licenciatura em História, sempre nos é salientado o uso de elementos históricos da realidade local para a contextualização de temáticas históricas mais abrangentes. Nesse sentido, a História talvez seja uma das poucas disciplinas em que se permite poder perpassar por diversas outras disciplinas e temas transversais, fazendo da História uma disciplina “plural”, no sentido pedagógico da palavra.

Não é novidade o uso da realidade local no processo pedagógico brasileiro, pois, desde o Manifesto dos Pioneiros, com Anísio Teixeira em 1932 e principalmente através do Educador Paulo Freire, essa proposta vem sendo debatida e implementada em nosso processo de ensino.

Em vez do aprendizado mecânico e de letras e palavras descontextualizadas da vida dos educandos, o método freireano propõe partir da realidade dos alunos e de seu universo (...) mediante a discussão de suas experiências de vida, de seus problemas e de questões do cotidiano. (REDAÇÃO, 2017)

Nesse sentido, a História, como disciplina no ensino fundamental e ensino médio, pode ser um importante elemento no uso da realidade dos alunos como instrumento de um melhor aprendizado. Temos em diversas Cidades do Brasil e nesse caso, na Cidade de Itaguaí, diversos elementos históricos que possibilitam um estudo e aprendizado sobre a História do Brasil, da América Latina e do Mundo, a partir da realidade histórica local, agindo como um facilitador no processo da aquisição de conhecimento por parte do aluno.

Citamos como exemplo prático dessa teoria, um trecho importante da História de Itaguaí: A Estrada da Calçada, também conhecida como “Estrada Real” ou “Caminho do ouro”:

“O chamado “caminho do ouro” e “Estrada real” foi uma importante via terrestre que garantia a comunicação do Rio de Janeiro com São Paulo e Minas Gerais, sua construção de tornou necessária por causa dos naufrágios e da pirataria que era constante na rota marítima: Parati – Sepetiba – Rio de Janeiro. A Estrada foi o eixo principal do processo de urbanização de Itaguaí, surgindo no caminho, povoamentos com ranchos, roças, casas de comércio e estalagens, era utilizada por tropeiros, comitivas, aventureiros e viajantes que queriam alcançar as minas da São Paulo e Minas Gerais em busca de riquezas minerais e ainda utilizada pelo Imperador D. Pedro para chegar até uma dessas regiões. Ele também utilizou esse caminho quando se dirigia a São Paulo na ocasião em que proclamava a Independência do Brasil. A Coroa portuguesa resolveu fazer a estrada usando os recursos dos proprietários mais ricos da região, a obra sofreu oposição, desses e dos jesuítas, que pediam aos índios para atrapalhar as obras, que só foi concluída com uma forte intervenção do governador. Usada como ligação da rota do ouro e para escoar a produção de cana de açúcar e café, foi usada também para abastecer as demais regiões com produtos e escravos africanos que desembarcavam no Porto de Itaguahy, que depois passou a se chamar Porto Imperial de Itaguahy, que teve oficialmente suas operações iniciadas em 22 de março de 1841...A Companhia Itaguahyense de Navegação ocupava uma importante posição nas décadas de 1840 e 1850. A estrada era usada também como rota de distribuição de escravos para as fazendas. A Estrada Faz parte da Rota da Independência, sua construção é datada no séc. XVIII, mas sendo usada desde o séc. XVII. O caminho de Itaguaí em direção à trilha do ouro, aparece na carta topográfica do sargento-mor, editada em 1767. Com a criação das estradas de ferro sua importância na rota do comércio teve uma queda significativa, porém, continuou sendo utilizada por muito tempo e hoje faz parte importante da História do Brasil”. (PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAGUAÍ, 2010, pág. 106)

Através desse trecho da História de Itaguaí, o professor pode ser estimulado ao desenvolvimento de diversos temas em relação à História do Brasil a da América em diversos períodos: Colonial, Imperial e República. Pode-se também trabalhar em temas transversais ou diversos outros tais como: escravidão indígena e africana, economia, transportes, agricultura, meio ambiente, entre outras. Esses exemplos são citados, dentre diversos outros possíveis, que abrangem a História de Itaguaí como forma de usar elementos históricos da realidade local no processo de ensino.

O uso da realidade local no ensino e aprendizagem possibilita ao aluno um sentido de pertencimento e apropriação, pois, através do conhecimento de sua história, dos locais que ele conhece e convive, é possível um melhor aprendizado e “fixação” de conteúdo. Quando o aluno reconhece o espaço em que vive através de sua história local, sua importância e seu significado em sentido regional e em muitos casos nacional, o sentido de apropriação e pertencimento se torna significativo fazendo com que diversos temas que tenham correlação possam ser uma melhor identificação e se transformem em conhecimento adquirido. Esse conhecimento acaba por fazer com que esse aluno, em muitos casos, se transforme em um agente multiplicador, pois, ao levar para a sua casa e seu bairro esse conhecimento, ele retransmite para sua família, seus colegas e amigos, atuando de forma espontânea como agente ativo da História, Cultura e Cidadania, inclusive no resgate do saber histórico, nas tradições culturais e no exercício da Cidadania. Oriá (2006, p. 134) considera que “(...) a história para formação do cidadão deve levar o aluno a: compreender quem somos, para onde vamos, o que fazemos (...), pois é revelador e referencial para a construção de nossa identidade histórico-cultural”. Nesse processo de construção da Cidadania, O ensino de História, através de referenciais históricos locais, possibilita uma melhor compreensão, pois, parte de uma realidade conhecida pelo aluno.

Outra questão importante, de acordo com os PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental de História (1998): “é o papel do Professor também como um pesquisador e produtor de conhecimento, que não se atenha apenas ao material didático pré-estabelecido”. É preciso também que o corpo docente esteja atento aos diversos temas transversais que podem e devem ser explorados, para que esse saber possa ser ampliado para outros níveis de atividades e conhecimentos.

O papel do Professor de História se torna fundamental como norteador no processo de construção de uma escola cidadã, onde o aluno possa realmente ter um referencial de vida social e cultural, conhecendo a sociedade em suas diversas formas e tempos, refletindo e podendo pensar de forma crítica sobre os caminhos para a sua própria vida, de sua comunidade e região.

(...) a História Local propicia ao pesquisador uma ideia muito mais imediata do passado, permitindo que a memória nacional possa ser encontrada ou reencontrada, ouvida, lida nas esquinas, nas ruas, nos bairros.... Fazer história, e mais, fazer história local, é estabelecer relações entre a micro e a macro-história; é privilegiar o particular, sem desprezar o geral, numa complementação entre ambas. (JUNGBLUT, 2011, p. 45)

Nesse sentido, é preciso que se considere a criação de propostas para novas dinâmicas do ensino de História nas escolas, como inserir essas propostas na sua metodologia de ensino, como o Professor de História está inserido nesse contexto e como é (ou não) desenvolvida a prática interdisciplinar e os temas transversais, desenvolver e produzir materiais didáticos para um ensino mais amplo e aprofundado que oriente os professores e se os alunos, parte principal desse processo, poderão participar como sujeitos ativos na aquisição de conhecimentos e através dessa aquisição, conhecendo a sua realidade histórica, sejam também cidadãos com pensamento crítico e transformadores da sociedade. Como os patrimônios históricos, a História Regional e Local, podem ser abordados junto ao corpo docente e discente, pois, em todas as orientações do PNE – Plano Nacional de Educação, PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais e BNCC – Base nacional Comum Curricular, sempre se propõe como uma das diretrizes, a aproximação da vida local e social do aluno em relação a disciplina. Todas as regiões e cidades do Brasil possuem uma História que fornece diversos subsídios para seu aprofundamento no ensino e aprendizagem, tanto no ensino fundamental como no ensino médio, principalmente na construção e resgate de sua identidade.

Dentre os diversos aspectos, destacamos também a importância do resgate da Memória histórica e cultural. É preciso inserir o sentido de valorização e preservação da Memória em seus diversos aspectos, incluindo o folclore e tradições da região e nesse sentido é necessário detectar o nível de conhecimento de professores e alunos, para que se possa traçar estratégias de aprendizado, como apontam os PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais:

Um compromisso fundamental da História encontra-se na sua relação com a Memória, livrando as novas gerações da “amnésia social” que compromete a constituição de suas identidades individuais e coletivas. O direito à memória faz parte da cidadania cultural e revela a necessidade de debates sobre o conceito de preservação das obras humanas. A constituição do Patrimônio Cultural e sua importância para a formação de uma memória social e nacional sem exclusões e discriminações é uma abordagem necessária a ser realizada com os educandos, situando-os nos “lugares de memória” construídos pela sociedade e pelos poderes constituídos, que estabelecem o que deve ser preservado e relembrado e o que deve ser silenciado e “esquecido”. (...) Introduzir na sala de aula o debate sobre o significado de festas e monumentos comemorativos, de museus, arquivos e áreas preservadas, permeia a compreensão do papel da memória na vida da população, dos vínculos que cada geração estabelece com outras gerações, das raízes culturais e históricas que caracterizam a sociedade humana. Retirar os alunos da sala de aula e proporcionar-lhes o contato ativo e crítico com as ruas, praças, edifícios públicos e monumentos constitui excelente oportunidade para o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa. (BRASIL, 1998, p. 26)

Em uma sociedade cada vez mais dividida, onde manifestações de intolerância beiram quase ao fundamentalismo, é preciso que a História exerça o seu papel de elucidação e esclarecimento dos fatos e é na escola, em um ambiente que desperte a indagação e as perguntas, promova o debate e os questionamentos desenvolvendo o senso crítico, que crianças e jovens poderão iniciar o exercício de cidadania:

(...) espera-se que o conhecimento histórico seja tratado como uma forma de pensar, entre várias; uma forma de indagar sobre as coisas do passado e do presente, de construir explicações, desvendar significados, compor e decompor interpretações, em movimento contínuo ao longo do tempo e do espaço. Enfim, trata-se de transformar a história em ferramenta a serviço de um discernimento maior sobre as experiências humanas e as sociedades em que se vive. (BRASIL, 2020, p. 401)

No momento atual é preciso cada vez mais estar atento ao processo educativo e que na prática, as Leis, Planos e parâmetros sejam cumpridos, sendo de fundamental importância que escolas e professores, estejam comprometidas com uma Educação inclusiva, crítica e cidadã, que formem agentes transformadores da sociedade, onde a liberdade de pensamento e suas escolhas sejam respeitadas, onde o conhecimento seja acessível para todos.

Principalmente nesses tempos, em que a pandemia do Corona Vírus Covid 19 alterou o modo e o estilo de vida das sociedades, a Educação foi uma das instituições mais prejudicadas, ocasionando uma mudança repentina e brusca em todas as escolas, no corpo docente e discente, que passaram a conviver, em sua maioria sem experiência, com tecnologias de ensino a distância e educação remota, em um trabalho de readequação a nova realidade.

Alguns efeitos críticos da pandemia da COVID-19 sobre a educação formam que merecem destaque se referem aos impactos negativos manifestado pelo comprometimento do processo de ensino-aprendizagem e pelo aumento da evasão escolar, os quais demandaram ações estratégicas de curtíssimo prazo para a eventual continuidade dos estudos, bem como o esforço de um planejamento de resolução de problemas para a normalização dos ciclos escolares no médio prazo. (SENHORAS, p. 6)

As tecnologias de informação e comunicação no ensino não são um fato novo, fazendo parte inclusive, de uma das disciplinas na graduação em História, porém, mesmo sendo abordado nas universidades e sendo tema de debates e discussão nos meios acadêmicos, a realidade escolar está longe de ver a sua implementação na prática, principalmente nas escolas públicas, sem investimentos e apoio das esferas governamentais. Em entrevista concedida ao jornal O Estado de São Paulo, o Ministro da Educação afirmou:

Para Milton Ribeiro, alunos sem acesso à internet “não são problema do MEC” (...). As declarações foram feitas em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

RIO — O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou que a desigualdade no acesso ao ensino remoto durante a pandemia da Covid-19 não é responsabilidade de sua pasta e que, por ele, as escolas retornariam às atividades "na semana passada". Quando questionado pelo jornal sobre a desigualdade no acesso a tecnologias entre os estudantes brasileiros, o que dificultou a adesão de alunos de baixa renda a modalidades de ensino remoto, o ministro afirmou que os problemas na educação durante a pandemia não são de competência do MEC:

— É o estado e o município que têm de cuidar disso aí. Nós não temos recurso para atender. Esse não é um problema do MEC, é um problema do Brasil. Não tem como, vai fazer o quê? É a iniciativa de cada um, de cada escola. Não foi um problema criado por nós. A sociedade brasileira é desigual e não é agora que a gente, por meio do MEC, vai conseguir deixar todos iguais. (O GLOBO, 2020)

Como consequência das declarações acima, diversos segmentos da educação já apontam os problemas decorrentes:

Grupo protesta contra queda nos investimentos e falta de articulação do governo federal durante a pandemia.

Mais de 3 mil professores, pesquisadores, estudantes e ex-ministros divulgaram nesta quinta-feira (1º) uma carta aberta à sociedade brasileira, denunciando o risco de o Brasil viver um "apagão educacional". A iniciativa foi coordenada pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).

Entre outras questões, a carta critica:

- a queda nos investimentos em educação;

- a falta de coordenação do governo federal durante a pandemia;

- a regulamentação da educação domiciliar como uma prioridade;

- a ênfase em projetos conservadores e negacionistas;

- o veto ao projeto de lei que buscava garantir internet a professores e alunos da rede pública

"O Brasil tem caminhado na contramão dessa trajetória de conquistas, promovendo a desarticulação entre diferentes entes federados e o desmonte das políticas construídas nos últimos trinta anos", afirma um trecho da carta.

"Neste momento de múltiplas crises, os prejuízos da falta de coordenação entre diferentes ações e do desmonte das políticas já em curso se traduzirá, em médio e longo prazos, em prejuízos ainda maiores para aqueles que historicamente foram excluídos do direito à educação." O documento pede que, para evitar um "apagão educacional", o MEC respeite a Constituição, comprometa-se a reduzir as desigualdades sociais e tenha senso de urgência na resposta aos desafios educacionais impostos pela pandemia. (G1, 2021)

Como podemos perceber, torna-se urgentemente necessária, uma ampla discussão referente ao tema e que apontem caminhos e ações, para que o ensino de novos temas com novas tecnologias sejam uma realidade homogênea em todo o Brasil.

Nesse sentido, o trabalho pedagógico tendo com objeto de ensino e aprendizagem, os patrimônios históricos de uma cidade, funciona como elemento fixador de imagem, já que é reconhecido pelo aluno, sendo um facilitador, como objeto a ser usado no processo pedagógico. Outra questão importante e já salientada na disciplina de Metodologia do Ensino da História é o uso da disciplina de História e seus elementos, para o ensino e aprendizagem em diversas outras disciplinas e temas transversais:

(...) A justificativa primordial para que se contemple a realidade dos estudantes nos planejamentos e conteúdos está na ideia de que estes percebam o meio histórico que os circunda; que componham todo um repertório histórico e cultural; que reconheçam os elementos de identidade/semelhança e diferença/alteridade que os compõem, que está latente no outro, e nos demais indivíduos que compõem a diversidade dos grupos sociais nos espaços de socialização, tanto de referência religiosa, étnica, política, artístico, desportivas, entre outros. (FOCHI, 2015, p. 77)

Estamos vivenciando um período em que diversas questões e conflitos estão vindo à tona, principalmente no Brasil, onde percebemos diariamente atitudes de racismo e preconceito social em relação ao Direitos Humanos, diversos crimes ambientais e crimes contra o patrimônio histórico. Esses conflitos fazem parte da crise contemporânea em que o mundo e o Brasil vêm enfrentando e faz parte das ciências humanas, em nosso caso da História, perceber e pesquisar instrumentos de ensino aprendizagem para a abordagem desses temas:

Diante das crises contemporâneas (terrorismo, guerrilhas, as crises econômicas, a fome, a miséria, o desequilíbrio climático) os profissionais da História não podem fugir da possibilidade de transformação e superação da realidade e do compromisso com a vida. Glenisson (1991) arrola que é necessário tomarmos consciência de nossa responsabilidade como historiadores, como professores de História, como indivíduos e cidadãos estas são reais, comprometem o homem na sua totalidade, que precisa de razão, justificativa e sentido. (FOCHI, 2015, p. 14).

Torna-se importante salientar que na abordagem de temas transversais tendo como objeto de ensino e aprendizagem os patrimônios históricos, também auxiliam com elementos para o trabalho pedagógico. Como exemplo, tendo como base o tema transversal Meio Ambiente, citamos o patrimônio histórico da Serra do Mar, na parte pertencente a Cidade de Itaguaí, que compõe a área da Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro, tombada pelo INEPAC – Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural, conforme Processo de Tombamento: E-18/000.172/91:

A Mata Atlântica na época do Descobrimento revestia uma faixa contínua de 350 mil km do território brasileiro. Foi palco e fonte para o desenvolvimento da colonização e exploração predatória de nossas riquezas. Dessa convivência resultou, nos últimos 500 anos, a destruição progressiva das reservas florestais em todo o país. Hoje a área está reduzida a cerca de 3% de sua extensão original, abrigando raridades da fauna e flora, além de se constituir em habitat de espécies ameaçadas de extinção. A Serra do Mar é marcada pelas formas esculturais do seu relevo, verdadeiros monumentos geológicos recobertos pela exuberância e diversidade da floresta tropical. Ora no interior, ora avançando sobre o oceano, recorta o litoral com suas escarpas abruptas, baías sinuosas, restingas, lagunas, manguezais e deslumbrantes praias. Nesses cenários surgiram as primeiras cidades fluminenses, influenciando o modo de viver, os hábitos e costumes das populações locais. O tombamento pretende reconhecer e agregar valores de cunho cultural e humanista a esse legado da natureza, valorizando a importância do seu caráter documental como testemunho na construção de nossa história social. Com aproximadamente 656.700 hectares, o trecho correspondente ao tombamento no Estado do Rio de Janeiro estende-se por 38 municípios. (INEPAC, 1991, s.p).

Através do patrimônio Histórico da Serra do Mar, pode-se trabalhar com diversos temas relacionados ao Meio Ambiente tais como: abordando em relação a devastação da Mata Atlântica, as queimadas, a questão da terra indígena (fato documentado na História da cidade) e a pesca ilegal que vem ocasionando a morte da fauna marinha, entre outros, principalmente devido ao fato da parte costeira da cidade ter boa parte de seu território ocupando a mata atlântica, além de ter uma parte dessa área pertencendo ao Parque Estadual Cunhambebe:

FIGURA 1 – PARQUE ESTADUAL CUNHAMBEBE

Fonte:http://www.inea.rj.gov.br/cs/groups/public/documents/document/zwew/mdez/~edisp/inea0013646.jpg Acesso em 24 ago. 2020.

Os diversos patrimônios históricos da História Regional e dentro da realidade local do corpo discente, nos permitem trabalhar pedagogicamente com os temas transversais propostos, dentro de diversas Unidades Temáticas e Objetos de Conhecimento da BNCC para o Ensino Básico, conforme citação a seguir.

PARQUE ESTADUAL CUNHAMBEBE Criação: Decreto Estadual nº 41.358, de 13 de junho de 2008 Área: aproximada de 38 mil hectares Abrangência: partes dos municípios de Angra dos Reis, Mangaratiba, Rio Claro e Itaguaí TEM COMO OBJETIVOS BÁSICOS: Assegurar a preservação dos remanescentes de Mata Atlântica da porção fluminense da Serra do Mar, bem como recuperar as áreas degradadas ali existentes; possibilitar a conectividade dos maciços florestais da Bocaina e do Tinguá; manter populações de animais e plantas nativas e oferecer refúgio para espécies raras, vulneráveis, endêmicas e ameaçadas de extinção da fauna e flora nativas; preservar montanhas, cachoeiras e demais paisagens notáveis contidas em seus limites; oferecer oportunidades de visitação, recreação, aprendizagem, interpretação, educação, pesquisa, e relaxamento; estimular o turismo e a geração de empregos e renda; assegurar a continuidade dos serviços ambientais. (INEA, s.d., s.p.)

Os patrimônios históricos nos mostram diversas possibilidades como instrumento de ensino e aprendizado em História e nos Temas Transversais, unindo conceitos de Memória Histórica e Cultural, material e imaterial desses patrimônios.

A Metodologia do Ensino da História nos indica que é preciso abordar a Disciplina de História em um sentido mais amplo, em um processo aberto e não fechado, conforme Fochi (2015, p. 34) “(...) e que, nesse processo, todos possuem significado e importância. Possibilita significar e contextualizar os estudos históricos do ponto de vista da História individual/particular, na esfera da história local, regional e nacional. ”

Nesse sentido são inúmeras as possibilidades de ensino em aprendizagem, pois, diversos são os instrumentos de que dispõe o professor para o trabalho pedagógico tendo como objeto de ensino os patrimônios de uma cidade:

A ideia é entrar em contato, visitar, ensinar e aprender com os mais diversos espaços no interior das comunidades e cidades, como museus, praças, centros históricos, ou sítios arqueológicos, em regiões específicas de acesso. De maneira ampla, as atividades que podem envolver os espaços, os objetos, as expressões histórico-culturais tendo em vista a ideia de se constituir em processo de ensino e aprendizagem pelo viés da educação patrimonial. Fonseca (2003) apresenta que o estudante pode deparar-se com a história ao sair de casa, dobrando a esquina e descendo a rua, pode ouvir os seus ecos no mercado, advinda das memórias dos antigos moradores, ler o grafite nas paredes, seguir suas pegadas no campo, nos quintais, nas construções, nos monumentos, nos nomes das ruas, dos espaços públicos e privados. (FOCHI, 2015, p. 155)

Pode-se perceber que através dos patrimônios históricos abrem-se diversas oportunidades de pesquisa, trabalhos, engajamentos e atividades, onde o aluno pode exercitar e despertar o sentido de pertencimento e de apreensão da sua própria História, podendo despertar conceitos de preservação e valorização de sua memória cultural e repetimos, dos patrimônios históricos de sua região.

Por todos os períodos e disciplinas que compõem a graduação, podemos perceber um caminho amplo e até certo ponto, pouco utilizado, onde é possível “explorar”, pesquisar e “descobrir”, novas dinâmicas para o ensino de História.

3.1. A FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E AS PRÁTICAS VIVENCIADAS NOS ESTÁGIOS

Diversas são as experiências vividas e adquiridas durante a realização dos Estágios Curriculares Obrigatórios I, II e III, pois, é na prática escolar, em seu trabalho pedagógico diário, na interação com os alunos, corpo discente, coordenação pedagógica e direção da escola, que a teoria em que se pretende desenvolver como objeto de ensino e aprendizagem, se “transforma” em prática pedagógica. É preciso que se registre o impacto da epidemia do Coronavírus Covid-19 no decorrer de todos os processos de realização dos estágios, onde foi necessário o estudo e aprendizado como graduandos, em relação as TCIs – Tecnologias da Comunicação e Informação, principalmente em relação ao ensino de história, pois, o conhecimento adquirido no uso de novas tecnologias proporciona a aquisição de habilidades fundamentais para todo o processo vivido.

3.1.1. Práticas vivenciadas no estágio I

A opção de escolha da Área de Concentração “Dinâmicas de Ensino de História”, vem de encontro ao objetivo de buscar, pesquisar e propor novos métodos de ensino aprendizagem em História. Ao longo da jornada acadêmica até este momento, através de diversas disciplinas e principalmente na Disciplina de Metodologia do Ensino de História, salienta-se a importância dessa busca por métodos, elementos e didáticas que possam contribuir para o objetivo de um ensino aprendizagem mais eficiente. Outra questão também importante é o uso de instrumentos pedagógicos que venham de encontro a realidade do docente, ao ambiente em que se vive, onde o aluno possa se reconhecer como parte integrante desse processo e não apenas um mero espectador. O município de Itaguaí detém uma rica História em seu passado, através de patrimônios culturais, sítios históricos e documentos, que se trabalhados pedagogicamente podem ser importantes aliados nessa perspectiva de ensino em História.

Durante o processo de escolha do material a ser produzido, percebeu-se que em grande parte, as visitas realizadas aos patrimônios históricos são tratadas como momento de lazer e passeio, sem que haja uma abordagem mais pedagógica e de contribuição para o processo de ensino. Outra questão importante é a percepção de que não existe um trabalho de conscientização na preservação desses patrimônios, ocasionando uma falta de comprometimento e pertencimento, fatores que podem ocasionar depredações e vandalismos, como temos percebido em diversas situações noticiadas pela mídia em geral.

Como melhor opção, principalmente devido ao período de isolamento por ocasião da pandemia e tendo como “nova realidade” as aulas remotas, foi realizada a produção de uma videoaula, tendo como objeto de ensino os patrimônios culturais e sítios históricos e arqueológicos de Itaguaí, onde através da história desses locais, de acordo com o currículo escolar, foram desenvolvidos temas referentes a História do Brasil, segundo a BNCC – Base Nacional Comum Curricular, para os anos iniciais do Ensino Fundamental, tendo como objeto de ensino e aprendizagem a Unidade Temática: As pessoas e os grupos que compõem a cidade e o município; Objetos de Conhecimento: Os patrimônios históricos e culturais da cidade e/ou do município em que vive e Habilidades: (EF03HI04) Identificar os patrimônios históricos e culturais de sua cidade ou região e discutir as razões culturais, sociais e políticas para que assim sejam considerados. Também foi objeto de ensino e aprendizagem a Unidade Temática: O lugar em que vive; tendo como Objetos de Conhecimento: A produção dos marcos da memória: os lugares de memória (ruas, praças, escolas, monumentos, museus etc.) e Habilidades: (EF03HI05) Identificar os marcos históricos do lugar em que vive e compreender seus significados; (EF03HI06) Identificar os registros de memória na cidade (nomes de ruas, monumentos, edifícios etc.), discutindo os critérios que explicam a escolha desses nomes.

Não foi encontrada dificuldade em relação ao material para produção do trabalho, pois, o município dispõe de razoável acervo bibliográfico, além de acesso aos patrimônios culturais e sítios arqueológicos.

O grande desafio se transformou em coletar todo o material teórico e transformá-lo em um vídeo que tivesse características didáticas, que não fosse percebido como apenas um vídeo de passeio virtual, enfim, produzir um trabalho em vídeo, com elementos didáticos, que contribuísse para o processo de ensino aprendizagem de História, que se aproximasse da realidade do entendimento do aluno. Considera-se necessário destacar a emoção gratificante de receber o primeiro exercício realizado por uma aluna, trabalhando de forma bem eficiente, explicando através de desenhos, os períodos da História do Brasil em relação aos patrimônios que foram objetos do ensino aprendizagem.

O Estágio Curricular Obrigatório I foi concluído com a sensação de um caminho bem consciente em relação ao bom resultado do trabalho e o alcance que ainda pode ter, mas também cientes de que há um grande caminho ainda a ser percorrido. Pode-se perceber que a História oferece um grande acervo de possibilidades de ensino e o pouco aprofundamento quanto a utilização de elementos da Educação Patrimonial e da História Regional como objeto de ensino.

3.1.2. Práticas vivenciadas no estágio II

Continuando com a área de concentração “Dinâmicas do Ensino de História”. O projeto foi desenvolvido através do programa de extensão Metodologias e Estratégias de Ensino/Aprendizagem e do projeto Práticas Pedagógicas na Educação Básica em tempos de Ensino a Distância, trabalhando com o tema transversal Meio Ambiente, tendo como parâmetro a BNCC, através do tópico Ciências no Ensino Fundamental – Anos Finais, com as unidades temáticas, objetos de conhecimento e habilidades pertinentes ao tema proposto.

A produção da videoaula foi realizada através de visitas, pesquisas através da internet, pesquisas em jornais locais, órgãos públicos, entrevistas com ONGS – Organizações não governamentais que atuam na defesa do meio ambiente local e regional, além de entrevistas com ativistas ambientais e pescadores moradores da região.

Dentre os vários patrimônios históricos da cidade e seus sítios arqueológicos, destacou-se como instrumentos de ensino e aprendizado a serem utilizado neste tema transversal, a Fortaleza da Praia do Gato, localizada na Ilha de Itacuruça (parte pertencente ao município de Itaguaí) e área integrante do Parque Estadual Cunhambebe e da região da Mata Atlântica do Estado do Rio de Janeiro, já citado anteriormente:

Sítio arqueológico da Fortaleza da Praia do Gato na Ilha de Itacuruça (parte de Itaguaí): Local onde existia a maior aldeia Tamoio da região e após a destruição da aldeia pelos portugueses foi construída uma Fortaleza para proteger a região de invasores e índios inimigos da Coroa portuguesa, construção datada do séc. XVI. Posteriormente, segundo historiadores, no séc. XIX, foi transformada em uma fábrica de cal. Este local foi palco de um conflito entre os indígenas e o Reino de Portugal no período colonial, que prometeu a doação das terras para os índios, mas não cumpriu o acordo, ocasionando diversas disputas entre os índios e a coroa portuguesa. (PREFEITURA MUNICPAL DE ITAGUAÍ, 2010, p. 12)

Trabalhando com Tema Contemporâneo Transversal, a Educação Ambiental e como referência a BNCC – Base Nacional Comum Curricular, para os anos finais Ensino Fundamental, tendo como objeto de ensino e aprendizagem a macro área temática Meio Ambiente. Tema: Mata Atlântica (período colonial/tempos atual), como objetivo: A questão do tempo, sincronias e diacronias: reflexões sobre o sentido das cronologias: Habilidade: (EF06HI01): Identificar diferentes formas de compreensão da noção de tempo e de periodização dos processos históricos (continuidades e rupturas). Tema: Mata Atlântica, parte pertencente a região; Objetivo: Vida e evolução, Diversidade de ecossistemas; Habilidade: (EF07CI07) caracterizar os principais ecossistemas brasileiros quanto à paisagem, à quantidade de água, ao tipo de solo, à disponibilidade de luz solar, à temperatura e correlacionando essas características à flora e fauna específicas. Objetivo: Fenômenos naturais e impactos ambientais; Habilidades: (EF07CI08) Avaliar como os impactos provocados por catástrofes naturais ou mudanças nos componentes físicos, biológicos ou sociais de um ecossistema afetam suas populações, podendo ameaçar ou provocar a extinção de espécies, alteração de hábitos, migração etc. Objetivos: Ideias Evolucionistas; Habilidade: (EF09CI13) Propor iniciativas individuais e coletivas para a solução de problemas ambientais da cidade ou da comunidade, com base na análise de ações de consumo consciente e de sustentabilidade bem-sucedidas.

A realização deste trabalho, assim como na realização do Estágio Curricular Obrigatório I, nos mostra diversos desafios a serem superados. Na realização do Estágio I o maior desafio foi o uso de novas tecnologias tais como: a produção de videoaula, a participação em Educação Remota e a interação virtual com alunos e professores. Na realização do Estágio Curricular Obrigatório II, o grande desafio se mostrou na sua adequação, pois, exige que realize uma pesquisa bem aprofundada sobre quais questões a serem abordadas e como elaborar um projeto de ensino e aprendizagem tendo como tema transversal o meio ambiente na Disciplina de História.

É importante salientar os poucos exemplos de materiais didáticos “práticos” sobre metodologias de abordagens pedagógicas no referido tema. No momento atual, se dispõe de grande acervo e material “teórico” sobre os Temas Transversais, porém, percebem-se poucos exemplos de sua abordagem na prática educativa. Se por um lado essa questão se mostrou desafiadora na elaboração das aulas, por outro parâmetro nos indica um campo ainda a ser descoberto e pesquisado, um caminho ou linha de pesquisa no ensino e aprendizagem que nos possibilita novas inciativas, aquisição de conhecimentos e de novas tecnologias de ensino. Percebe-se que o trabalho pedagógico com Temas Transversais ainda é algo “novo” dentro da Educação e estimula positivamente na criação de metodologias que possam contribuir nessa prática pedagógica, principalmente neste caso, nas disciplinas da área de ciências humanas.

3.1.3. Práticas vivenciadas no estágio III

Considera-se importante o desenvolvimento de temas transversais que se colocam como uma realidade vivida atualmente pela sociedade, onde é percebida através das experiências diárias dos próprios alunos e famílias, em torno de diversas questões ambientais e sociais. Para o Estágio Curricular Obrigatório III, continuou-se tendo como referência a cidade de Itaguaí, na área dos Temas Transversais, tendo como objeto de ensino e aprendizagem o Patrimônio Histórico da Serra do Mar, onde o Parque Estadual Cunhambebe está inserido, desenvolvendo a temática dos Direitos Humanos através da História indígena de Itaguaí, tendo início com os índios Tamoios, habitantes desta região antes da chegada dos portugueses, que tinham na figura de Cunhambebe seu líder máximo e depois com a aldeia dos Itingas, com índios Carijós e Tupiniquins trazidos pelos jesuítas que fundaram a cidade que hoje se chama Itaguaí.

Estamos em um período de intensos conflitos sociais, onde questões como racismo, preconceito e etnocentrismo, se compõem como elementos estruturais históricos em nossa sociedade, onde convivemos em nosso dia a dia e acompanhando os noticiários, vivenciando diversas atitudes que ferem os direitos de cidadania, leis de proteção e os Direitos Humanos. Nesse sentido a Educação tem sido um importante instrumento de inclusão, de reconhecimento e conscientização em relação aos direitos de todos os cidadãos e da igualdade desses mesmos direitos. Como graduandos, sempre temos em nosso processo de aprendizagem, questões que são salientadas em diversas disciplinas em relação aos conceitos, formas de abordagem e planejamento de trabalhos e projetos pedagógicos em temas como: inclusão, diversidade, igualdade, equidade e outros, onde percebemos que se torna fundamental adequarmos nosso futuro trabalho como professores em relação a uma educação mais equitativa, onde todos possam, em iguais condições, terem acesso ao conhecimento e ao esclarecimento. A disciplina de Tópicos Especais, em seu livro, nos indica sérios questionamentos que precisam ser abordados na construção desse pensamento:

A diversidade cultural brasileira se deu pelo processo de miscigenação entre brancos, índios e negros e foi marcada por uma série de crenças, hábitos, costumes e conceitos contraditórios, alimentando assim uma discussão permanente a respeito dos direitos e deveres dos seres humanos. Principalmente no combate aos preconceitos remanescentes e oriundos dessa relação, que perdurou por séculos, trazendo sérias consequências a uma imensa população de oprimidos, incluindo-se aí os negros, os índios, os pobres, os portadores de algum tipo de deficiência, tipos de preferências, relações e diferenças sexuais, doenças crônicas, dentre outras formas de relações consideradas por uma boa parte da sociedade como algo fora da normalidade e, por esse motivo, não aceitável. (SANTOS, 2018, p.21).

A Educação brasileira detêm um importante instrumento legal, na Lei 11.645/2008 que inclui na rede oficial de ensino, a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” e essa lei vem no sentido de implementar políticas, projetos e ações pedagógicas que contribuam para o conhecimento histórico e de valores, da cultura e do respeito, um importante instrumento contra o etnocentrismo, o racismo e o preconceito, ocasionados muitas vezes, segundo diversos pensadores, estudiosos e pedagogos, devido à falta de comprometimento histórico da educação em tempos passados, onde temáticas relacionadas ao negro africano escravizado, afro-brasileiro e o indígena eram abordados inseridos na temática do Folclore ou em datas específicas de celebração.

A realização deste trabalho, assim como na realização dos estágios anteriores, nos mostra diversos desafios a serem superados. Na realização do Estágio I o maior desafio foi o uso de novas tecnologias tais como: a produção de videoaula, a participação em Educação Remota e a interação virtual com alunos e professores. Na realização do Estágio Curricular Obrigatório II, diversos novos desafios se apresentaram no decorrer de sua realização, principalmente em relação ao tema proposto e materiais práticos disponíveis. Para a realização do Estágio Curricular Obrigatório III, o maior desafio foi a elaboração de uma trilha pedagógica que abrangesse a temática pretendida para o ensino e aprendizagem, pois, para o ensino médio, busca-se uma abordagem mais profunda no desenvolvimento e despertamento do senso crítico e de análise dos alunos.

Como questão importante percebida foi o fato de a história regional ainda ser, até certo ponto, algo “novo” dentro do ambiente escolar, principalmente pela falta de materiais didáticos como referência. É importante destacar o interesse despertado nos professores da escola que buscam materiais adequados, sem contar no profundo interesse dos alunos, que até então, desconheciam diversos fatos históricos sobre os indígenas de Itaguaí e sobre os patrimônios e sítios históricos referentes ao tema e isso proporciona estímulo na criação de metodologias que possam contribuir nessa prática pedagógica, principalmente, nesse caso, nas disciplinas das áreas de ciências humanas.

Importante salientar mais uma vez a recepção positiva da Direção, da Coordenação Pedagógica e do Corpo Docente do Centro Educacional Travessia, quanto a realização do estágio e o material pedagógico produzido e a participação na Educação Remota, no grupo de mensagens da turma, participando ativamente no desenvolvimento do ensino e aprendizagem dos alunos. Essa disposição possibilita um sentimento de pertencimento a Educação e à Docência, ou seja, o sentimento de pertencimento a profissão e de sermos considerados “professores”. A participação dos alunos através das atividades desenvolvidas nos mostram também que é possível a obtenção de resultados positivos.

No momento atual através das informações fornecidas por pesquisadores e cientistas, pode-se perceber que a pandemia do coronavírus Covid 19 através das variantes que surgem a cada dia, nos mostra que ainda devemos conviver com essa “nova realidade” por bastante tempo. Mesmo com a flexibilização gradual, ocasionada pela vacinação da população brasileira, os cientistas e estudiosos apontam que o Brasil é um dos países mais afetados, ainda longe dos índices de imunização e que é preciso continuar no desafio da criação de novos meios e metodologias, pois, a Educação foi e ainda é um dos segmentos mais afetados. Percebeu-se nesse estágio, a coragem, iniciativa e criatividade das escolas em busca de criar meios de manter o compromisso do conhecimento e do ensino em nossa sociedade.

Cabe aqui ressaltar neste sentido, a iniciativa da UNIASSELVI em disponibilizar opções para a realização dos estágios e através dessas opções torna-se interessante para o graduando em licenciatura, perceber a possibilidade de se aperfeiçoar em novas metodologias de ensino, se preparando para os desafios que a “nova” educação ainda nos aponta. A experiência na educação remota nos exemplifica na prática os enunciados e estudos de disciplinas como: Metodologia da História; Tópicos Especais; Teorias e Práticas do Currículo e Tecnologia da Informação e Comunicação no Ensino de História. Todo graduando em Licenciatura que está tendo a possibilidade de realizar seu estágio de forma remota, está também, se capacitando para o uso de TCIs em suas graduações e se qualificando para uma realidade que será cada vez mais presente nas escolas, principalmente neste momento.

Diante de toda experiencia adquirida há que se destacar o sentimento e a certeza do aprendizado e se ter apreendido o desafio de se pertencer a uma profissão. Usando um termo popular para exemplificar, o sentimento de estar no “olho do furacão”, causa estímulo e coragem.

4. MATERIAL E MÉTODOS

As metodologias aplicadas consistiram em sua base inicial, na pesquisa e revisão bibliográfica de livros, artigos e documentos referentes aos patrimônios históricos e sítios arqueológicos de Itaguaí, sendo o material coletado, através de pesquisas no Arquivo Nacional, Biblioteca Nacional, IHGB – Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Artigos de periódicos, Centro de Memória de Itaguaí e livros publicados, dentre outros, no que se refere aos subsídios históricos. Para os subsídios pedagógicos referentes ao desenvolvimento da tese e do tema, em relação ao processo de ensino e aprendizagem, foram utilizados e pesquisados os PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais e BNCC – Base Nacional Comum Curricular.

Para a sistematização pedagógica objetivando a catalogação dos patrimônios e sítios arqueológicos foi utilizado o Método Histórico e para a análise de utilização pedagógica dos patrimônios históricos no processo de ensino-aprendizagem, foi utilizado o Método do estudo de caso e Método Estatístico através de pesquisa.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como resultado em termos pedagógicos, indicamos como exemplo, a abordagem do patrimônio histórico denominado “Igreja matriz de São Francisco Xavier”, localizado no município de Itaguaí, na região da Costa Verde, no litoral Sul do Estado do Rio de Janeiro. Procurou-se elaborar uma relação entre o local e seus períodos históricos, além de inserir exemplos de possíveis temas a serem trabalhados no ensino-aprendizagem, tendo como orientação pedagógica a BNCC – Base Nacional Comum Curricular. Na figura 2, podemos ver uma das fotos mais antigas, onde ainda aparece o convento dos jesuítas

FIGURA 2 – IGREJA MATRIZ DE SÃO FRANCISCO XAVIER

Fonte: Acervo pessoal do acadêmico

Na figura 2, podemos ver no momento atual, sem o convento.

FIGURA -3 IGREJA MATRIZ DE SÃO FRANCISCO XAVIER ATUALIZADA

Fonte: Acervo pessoal do acadêmico

A construção da igreja de Itaguaí está relacionada ao antigo convento dos jesuítas conforme afirma José Araújo.

Origem da Vila de São Francisco Xavier de Itinga (depois Tagoahy, Itaguahy e Itaguaí), a igreja é remanescente do antigo convento jesuítico edificado entre os anos de 1718 e 1729. Por volta de 1646 os jesuítas transferem a aldeia para o local chamado de morro da “cabeça seca”, próximo ao rio Itaguaí (antes chamado Tagoahy e depois Itaguahy). Essa mudança foi necessária para manter a proximidade com a Fazenda Santa Cruz. O livro dos Batismos da Aldeia de Ytinga é datado de 1688. Trinta anos após o primeiro batismo, começa em 1718 a construção de uma nova Igreja, que será concluída em 1729 e denominada Igreja Matriz de São Francisco Xavier de Itaguahy (Em alguns mapas antigos e publicações citam “Ytinga”, “Itinga” ou Tagoahy). O primeiro batismo da nova Igreja foi de uma menina chamada Fabiana, filha de Apolinário dos Santos e de sua mulher Jozefa Maria. (ARAÚJO, 1946, tomo IV, p. 43 e 44, tomo V, p. 99 e 100).

Podemos também descrever algumas características da Igreja segundo pesquisas realizadas:

Construção em pedra e cal, com grossas paredes. A igreja é de pequeno porte, com linhas e características coloniais. A fachada principal apresenta porta original em folha dupla de madeira almofadada. Na altura do coro há duas janelas. Acima, frontão triangular com óculo central, encimado por cruz de madeira. Na lateral esquerda, torre sineira, com cúpula prateada e dois sinos, sendo um com símbolo eucarístico e outro com o símbolo da cruz latina. Na parte interna acima da porta, havia um coro, o qual foi retirado devido a sua má conservação. Do outro lado direito da entrada, nicho com pintura em tela, representando o batismo de Nosso Senhor, assinado Pinto em 10/5/1961. Do lado esquerdo da nave, púlpito, com insígnia em alto relevo. Separando a nave, grande arco em pedra, tendo nas laterais dois altares diagonais em madeira pintada, com a imagem de Nossa Senhora do Rosário em madeira. O acesso ao alto-mor é feito em escadas de três degraus em pedra. Do lado esquerdo, pia batismal também em pedra feita pelos escravos. O alto-mor, em madeira pintada com 4 colunas, tem o sacrário dourado simbolizando a comunhão. Possui três imagem em gesso: São José, São Sebastião e São Francisco Xavier. Do lado direito do alto-mor, encontra-se a sacristia que possui um móvel antigo, original, para guardo de vestimentas eclesiásticas. Com a expulsão dos jesuítas, a igreja de Itaguaí foi transformada em paróquia pela provisão de 15 de novembro de 1759. Pertencem também à Igreja o Patronato São José e o Cemitério secular, com riscos e antigos mausoléus de mármores e figuras simbólicas. Um deles pertence ao conde de Itaguaí e seus descendentes. (PREFEITURA DE ITAGUAÍ, 2010, p. 117).

Através desses breves trechos históricos e de suas descrições podemos perceber diversos elementos pedagógicos passíveis de serem trabalhados como objeto de ensino e aprendizagem em História: História do Brasil Colonial; História do Brasil Império; História indígena, História da Arte (barroco), História afro-brasileira, dentre outros, podendo também serem utilizados em outras disciplinas como: matemática, geografia, sociologia, filosofia e temas transversais tais como: meio ambiente e direitos humanos. Diversas também são as competências e habilidades que podem ser trabalhadas no ensino básico, como exemplo, foram enumeradas algumas habilidades, desde o 3º ano do Ensino Fundamental até o Ensino Médio:

QUADRO 1 – RELAÇÃO ENTRE OS ANOS E AS HABILIDADES

Ensino Fundamental

Habilidades

3º ano

EF03HI01; EF03HI02; EF03HI03; EF03HI04

4º ano

EF04HI01; EF04HI03; EF04HI06; EF04HI09

5º ano

EF05HI01; EF05HI02; EF05HI03; EF05HI04; EF05HI05; EF05HI07; EF05HI08

6º ano

EF06HI01; EF06HI02; EF06HI05; EF06HI08; EF06HI14

7º ano

EF07HI07; EF07HI08; EF07HI09; EF07HI10; EF07HI12

8º ano

EF08HI11; EF08HI12; EF08HI14; EF08HI21; EF08HI27

9º ano

EF09HI04; EF09HI07; EF09HI09; EF09HI21; EF09HI26

Ensino Médio

Habilidades

1º, 2º, 3º

EM13CHS101; EM13CHS102; EM13CHS103; EM13CHS104; EM13CHS106; EM13CHS201; EM13CHS206; EM13CHS502; EM13CHS504; EM13CHS601; EM13CHS605

FONTE: Elaborado pelo acadêmico (2021)

Como pode-se perceber existem diversos trabalhos e ações pedagógicas e termos de ensino e aprendizagem, envolvendo várias habilidades a serem desenvolvidas, tendo como exemplo apenas um dos vários patrimônios históricos existentes na cidade.

Nesse momento consideramos aqui a seguinte pergunta: Se em apenas um patrimônio histórico citado como exemplo, é possível o trabalho de ensino e aprendizagem em História de diversas habilidades, por que esse objeto de aprendizado não é utilizado?

Com objetivo de elucidação dessa questão, foi realizada uma pesquisa referente ao nível de conhecimento da população em relação aos patrimônios históricos da cidade de Itaguaí e seus sítios históricos e arqueológicos. Por ocasião da pandemia do Coronavírus Covid-19 a pesquisa foi realizada através de grupos virtuais da cidade disponíveis na rede social Facebook. A pesquisa foi realizada entre os dias 31 de marços a 21 de abril de 2021:

Pergunta 1: Você tem conhecimento sobre os Patrimônios Históricos de Itaguaí ou de seus sítios históricos e arqueológicos?

GRÁFICO 1 – RESULTADO DA PESQUISA REFERENTE A PERGUNTA 1.

FONTE: Elaborado pelo acadêmico (2021)

Pelo resultado acima podemos perceber que a grande maioria das pessoas que participaram da pesquisa desconhecem os patrimônios históricos da cidade de Itaguaí.

Assim como acontece em diversas cidades do Brasil, a cidade de Itaguaí carece de projetos e trabalhos que incentivem o conhecimento e o resgate dos patrimônios históricos e memória. Apesar de haver um local destinado a salvaguardar a História de Itaguaí, denominado Centro de Memória de Itaguaí, carece de divulgação junto ao grande público e nas escolas. Mesmo tendo um acervo valioso em termos históricos, a população desconhece o local, que até o início da pandemia recebia visitas esporádicas de poucas escolas e que são denominadas como “visitas de lazer”, voltadas para o “passeio”, sem abordagem pedagógica.

Nesta outra pesquisa também foi perguntado aos participantes que responderam “sim” ao conhecimento de algum patrimônio histórico, sobre qual patrimônio eles conheciam e de que forma vieram a conhecer:

GRÁFICO 2 – RESULTADO DA PESQUISA REFERENTE A PERGUNTA.

FONTE: Elaborado pelo acadêmico (2021)

Links da pesquisa

https://www.facebook.com/groups/158422598149242/permalink/779206349404194/

https://www.facebook.com/groups/228813624181936/permalink/1313780712351883/

Neste gráfico pode-se perceber aspectos interessantes sobre as respostas dos participantes, devido ao fato de terem sido citados mais da metade de alguns patrimônios históricos inseridos na pergunta, porém, isso pode se dever ao fato de que a proximidade destes locais serem localizados no centro da cidade ou serem utilizados para prática esportiva e em eventos ambientais, além de alguns, como no caso das ruínas do Forte de Coroa Grande, terem sido eventualmente citados pela mídia local em seus canais de comunicação. Atenta-se para uma questão interessante no caso da Estação Ferroviária de Itaguaí, atual Casa de Cultura de Itaguaí, construção datada de 1910, localizada no centro da cidade e que não foi citada por nenhum dos participantes.

Pode-se perceber através do resultado da pergunta acima, o fato de, apesar de serem citados vários patrimônios, apenas uma pequena margem de participantes indicou o conhecimento de algum desses patrimônios. A próxima abordagem da pesquisa nos mostra algumas análises que podem colaborar na elucidação e esclarecimento da referida questão.

A pergunta abaixo foi direcionada aos participantes que responderam “sim” ao conhecimento dos patrimônios históricos e o gráfico nos mostra os resultados:

GRÁFICO 3 – RESULTADO DA PESQUISA REFERENTE A PERGUNTA

FONTE: Elaborado pelo acadêmico (2021)

Links da pesquisa

https://www.facebook.com/groups/158422598149242/permalink/779206349404194/

https://www.facebook.com/groups/228813624181936/permalink/1313780712351883/

A questão mais importante que se considera apontar é que o conhecimento desses patrimônios por parte dos participantes se deve, em sua grande maioria, a indicação de amigos (80%), seguido da internet (10%) e outros (10%), onde a escola, local onde se esperava o maior índice de conhecimento, nos indicar nenhum apontamento. Essa questão nos esclarece e aponta diversas questões.

Com base nesses resultados podemos perceber o quanto torna-se importante o trabalho de Educação Patrimonial nas escolas e essa constatação aponta para os objetivos e relevância deste Projeto de Ensino e Trabalho de Graduação, propondo novas dinâmicas do ensino de história tendo como objeto de ensino e aprendizagem os patrimônios históricos.

O passado visto como processo histórico nos permite organizar as experiências humanas em formações sociais distintas, identificando as diferentes velocidades das transformações e as várias temporalidades inseridas nos acontecimentos. Na história, vista como um processo, os acontecimentos sociais são resultantes de um conjunto de ações humanas interligadas, de duração variável, sucessivas e simultâneas, em vários espaços do convívio social, motivadas por desejos ou necessidades de mudança ou de resistência, pela busca de soluções para problemas, por disputas e confrontos entre agrupamentos de indivíduos, o que gera tensões, conflitos e rupturas e delineia os movimentos da transformação histórica. Sob essa perspectiva, quando nos referimos ao passado, não estamos nos referindo de modo impreciso a todas as coisas que aconteceram antes do momento presente, e sim ao passado construído pelas ações humanas em diferentes épocas e espaços, valorizando, portanto, o papel dos indivíduos como criadores de realidades e agentes das transformações a partir das relações sociais que constroem entre si. É esse conjunto, portanto, que constitui o objeto da História. (BRASIL, 2006, p. 70)

Acreditamos que a Educação, através da escola, deveria assumir esse papel de protagonismo no despertar de alunos, comunidade e população para o conhecimento de sua história e valorização dos exemplares e expressões do patrimônio histórico, contribuindo para o sentido de pertencimento, preservação e apropriação cultural. Fornecer elementos à renovação dos temas e perspectivas da História local e regional enquanto disciplina e saber e conhecimento.

6. CONCLUSÃO

Durante todo o processo de graduação, a maioria das disciplinas que compõem a Licenciatura em História sempre propuseram ao graduando a reflexão e análise em novas formas de ensino e aprendizagem que refletissem principalmente uma maior aproximação do ensino em adequação à realidade dos alunos.

Nesse sentido, a Educação Patrimonial e a História Regional se tornam instrumentos fundamentais na obtenção de resultados pedagógicos positivos, pois, atuam diretamente com elementos locais e próximos da realidade dos estudantes.

Pesquisando o espaço de ação, local onde os homens desenvolvem suas relações sociais, políticas, econômicas e culturais, a História Regional possibilita através de sua abordagem um tipo de saber histórico que oportuniza conhecer uma ou mais destas dimensões nessa região, que pode ser analisada tanto no que concerne aos seus desenvolvimentos internos, como no que se refere à sua inserção em dimensões mais amplas. (JUNGBLUT, 2011, p. 7)

Ao longo de todo o processo de ensino e aprendizagem pelos quais a graduação possibilitou, também fica evidente a necessidade de se criar novas metodologias e dinâmicas no ensino de História, pois, através a realização dos estágios, pode-se perceber o desconhecimento de alunos e professores em relação aos patrimônios históricos existentes na região na qual foi o objeto de pesquisa. Entre diversos fatores, esse desconhecimento possivelmente se dá, por falta de material didático adequado para a instrumentalização do professor, que em muitos casos, não é morador da região, sendo concursado e oriundo de outras cidades. A maioria das cidades, através de suas secretarias de educação, carecem de material didático-pedagógico tendo como referência os patrimônios históricos, centros culturais, paisagens culturais, patrimônios imateriais e sítios históricos e arqueológicos de sua região como objetos de ensino e aprendizagem. Este trabalho de graduação pretende ter como objetivo, a busca da criação deste material, através de trabalhos de pesquisa, catalogação criação e aprimoramento destes campos da História que são a Educação Patrimonial e a História Regional, pretendendo ter, como salientado durante a graduação, uma atitude de “professor-historiador-pesquisador”, como nos indica Fochi (2020):

(...) você, enquanto professor, deve encontrar e desenvolver a própria linguagem, metodologia e construir a sua forma de desenvolver atividades de educação patrimonial, de abordar as os bens, exemplares e expressões de patrimônio histórico e cultural, dito de outro modo, construir sua própria história na implementação de ações de educação patrimonial junto aos seus estudantes nos contextos escolares. (FOCHI, 2020, p. 245)

O trabalho pedagógico através dos patrimônios material e imaterial, possibilitam a abordagem de temas relacionados a História do Brasil e do mundo, em diversos períodos e épocas, além de possibilitarem a abordagem de diversos temas transversais, em atividades multidisciplinares e pluridisciplinares, integrando o fazer pedagógico, transportando o ensino e aprendizagem para uma realidade mais próxima do aluno.

Salienta-se também a importante questão da valorização da cultura regional, da memória local e das raízes históricas e culturais, em um período onde se mostra de fundamental importância, ações que despertem a preservação e a salvaguarda da História através destes mesmos patrimônios, muitas das vezes abandonados ou negligenciados, despertando o sentido de apropriação e pertencimento, de bens históricos que preservam a memória local e regional.

Na transposição do conhecimento histórico ao universo escolar é de salutar importância que os profissionais da história ultrapassem o uso apenas do livro didá­tico e que se utilizem dos mais diferentes materiais, ferramentas, recursos, contextos, metodologias e abordagens e, como aqui se propõe, dos itens, artefatos e os mais diferentes objetos da cultura material.

Uma vez que os itens, objetos e artefatos passam a ser abordados no contexto de possibilidades de ensino e aprendizagem em que seu valor histórico, tecnológico, simbólico e cultural é destacado, as chances de estes serem salvaguardados, conser­vados e transmitidos de uma geração à outra aumentam de forma significativa. (FOCHI, 2020, p. 139-140)

Nesse mesmo sentido, a educação trabalha com materiais didáticos abordando patrimônios de expressão nacional e mundial que não contemplam as expressões de patrimônio local ou regional, contribuindo para o “esquecimento” da própria história local.

Diante do período atual por que passa a Educação, com diversos debates e discussões acerca de “revisionismos”, intencionais “esquecimentos” e conceitos abstratos, onde as ciências humanas em diversas situações são negligenciadas em detrimento de uma educação claramente tecnicista e com disputas político-ideológicas, a História se torna elemento de resistência e agregação de valores culturais que precisam ser transmitidos.

Os bens, as expressões de patrimônio histórico e cultural devem ser per­cebidos na sua dimensão interrelacional, ou seja, na dimensão entre os seres e entre os seres e as coisas, criador e criatura, pois é neste processo que os valores e os significados lhe são atribuídos. Contextualizar, trazer para o campo da ação o que o bem cultural pode oferecer diante de uma situação que existe na reali­dade, descrever os sentidos e significados, estimular o movimento de recriação, reinterpretação das informações, dos significados e sentidos, ou seja os bens e as expressões culturais abordados como geradores e motivadores de reflexões. (...) Dentre os principais riscos e vulnerabilidades que podem se abater sobre os bens culturais é possível mencionar o esquecimento, a não continuidade da prática, a decomposição do conjunto ao qual pertence, a descaracterização causada pela ação de tanto espontânea como intencional, usos não apropriados, vandalismos, roubos, além da ação abrasiva impingida pelo sol, chuva e vento e demais fenômenos naturais. (FOCHI, 2020, p. 62)

É nesse sentido e com esse objetivo que se propõe a nossa atuação como graduados e professores de História: investigando, explorando, pesquisando e buscando o aperfeiçoamento, na possibilidade de contribuir, como professor-historiador-pesquisador, na criação de novas Dinâmicas do Ensino de História.

Em nossa opinião, acreditamos, assim como diversos autores citados, que o ensino de História é uma ciência que ainda nos mostra diversas perspectivas e caminhos de pesquisa e desenvolvimento de novas metodologias.

Nesse sentido é preciso ressaltar o PPC – Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em História da UNIASSELVI – Centro Universitário Leonardo da Vinci, que ao longo de toda a graduação proporcionou um aprendizado instigante, aprofundado e enriquecedor, além de qualificado e inovador, principalmente no período de enfrentamento da pandemia do Covid-19, onde Disciplinas como Metodologia do Ensino de História e Tecnologia da Informação e Comunicação no Ensino de História, foram fundamentais na ocasião dos Estágios realizados através da Educação remota.

Levamos conosco o agradecimento a UNIASSELVI – Centro Universitário Leonardo Da Vinci, através de seus Tutores, Professores e toda a equipe, pela construção dessa jornada acadêmica, com seus desafios, resistências e acima de tudo: qualidade de ensino. Podemos perceber que a Educação nos mostra diversas possibilidades e perspectivas positivas, além da certeza de que ainda há um grande caminho a ser percorrido.

A História continua, sempre.

7. REFERÊNCIAS

ARAÚJO, José de Souza Pizarro e. Memórias Históricas do Rio de Janeiro. Tomo 5º. Rio de Janeiro: Impressão régia em 1820; Imprensa Nacional, 1946.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: história / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC / SEF, 1998. 108 p.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#medio/a-area-de-ciencias-humanas-e-sociais-aplicadas Acesso em: 14 abr. 2020.

BRASIL. Lei 11.645/08 de 10 de março de 2008. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília: <http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.645-2008?OpenDocument

BRASIL, Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN+). Ciências Humanas e suas tecnologias. Brasília: MEC, 2006.

FOCHI, Graciela Márcia. Metodologia do ensino de história/ Graciela Márcia Fochi. Indaial : UNIASSELVI, 2015. 184 p.: il.

FOCHI, Graciela Márcia. Educação patrimonial. / Graciela Márcia Fochi. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 262 p.; il.

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Publicado por: Eduardo de Almeida Vieira

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