AS ESTRATÉGIAS DO GRUPO ESTADO ISLÂMICO PARA MANTER SUA RELEVÂNCIA APÓS O DECLÍNIO DO AUTODECLARADO CALIFADO (2016-2017)

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1. RESUMO

O Estado Islâmico é um grupo terrorista que em seus dias de glória conseguiu conquistar vários territórios e levar terror a vários locais do mundo. Nos últimos anos ele sofreu com a repreensão dos Estados potências, o que o fez perder territórios, poderio militar e combatentes. Precisando então, mudar suas estratégias militares e midiáticas. O presente estudo irá abordar as estratégias do grupo terrorista Estado Islâmico para manter sua relevância após o declínio do seu autodeclarado Califado entre 2016 e 2017. Essas estratégias serão descritas e analisadas com o intuito de entender porque e como foram aplicadas. O referencial teórico será o da Escola de Copenhague, mais precisamente o seu estudo sobre securitização. Os elementos textuais dessa monografia estão divididos em: introdução, desenvolvimento (capítulos I a III) e considerações finais, assim facilitando a compreensão do estudo proposto.

Palavras chave: Estado Islâmico. Estratégias militares e midiáticas. Declínio do Califado. Relevância.  Escola de Copenhague. Securitização.

ABSTRACT

The Islamic State is a terrorist group that in its glory days has succeed to conquer various territories and bring terror to many places in the world. In recent years he suffered from the rebuke of the power States, which made him lose territories, military power, and combatants. With that, he had to change his military and media strategies. This study will address the strategies of the Islamic State terrorist group to preserve their relevance following the decline of its self-declared Caliphate between 2016 and 2017. These strategies will be described and analyzed in order to understand why and how they were applied. The theoretical reference will be that of the Copenhagen School, more precisely its study on securitization. The textual elements of this monograph are divided into: introduction, development (chapters I to III) and final considerations, thus facilitating the understanding of the proposed study.

Keywords: Islamic State. Military and media strategies. Decline of the Caliphate. Relevance. Copenhagen school. Securitization.

2. INTRODUÇÃO

O grupo terrorista Estado Islâmico conquistou territórios, levou sua propaganda de terror para todo o mundo e se autodeclarou um Estado (Califado). Entretanto, ele entrou em declínio após uma coalizão de várias nações que conseguiram o desestabilizar. Com isso o grupo teve que adaptar seus objetivos a sua nova realidade.

Esse estudo abordará as estratégias que o ISIS utilizou entre 2016 e 2017 para manter sua relevância após o declínio do seu autodeclarado Califado. O trabalho está voltado para o tema da Segurança Internacional, mais precisamente, o estudo do terrorismo sobre o olhar da Escola de Copenhague.

Para a construção desse estudo, será levado em conta as novas abordagens que a Escola de Copenhague trouxe para o campo dos estudos de segurança, onde seus teóricos indicam novas seções além da militar que esses estudos devem prestar mais atenção. Também será levado em conta os estudos de Direito Internacional sobre a conceituação do terrorismo, já que até hoje não existe um conceito que seja aceito globalmente.

Sendo essas novas estratégias do ISIS o tema desta monografia, portanto, o problema de pesquisa que deve ser respondido é: quais as estratégias que o grupo Estado Islâmico utilizou para manter sua relevância após o declínio do autodeclarado Califado entre 2016 e 2017?

Procurando responder ao problema de pesquisa, quatro hipóteses foram levantadas nesse trabalho: I) o ISIS passou a priorizar a realização de ataques pulverizados e pontuais em detrimento da ocupação territorial, já que agora eles têm dificuldade de ocupar os territórios por conta das baixas dos seus combatentes; II) o ISIS optou por uma terceirização dos ataques terroristas após a perda de seus territórios, empoderando pequenos grupos a realizarem novos atentados globalmente; III) houve uma diminuição na quantidade de conteúdos de mídia criados pelo ISIS nos últimos anos, sendo que antes ele utilizava o terrorismo virtual para promover a vida sob o Califado como uma utopia, e agora mais de 90 por cento da sua produção de mídia é somente sobre a jihad; IV) o grupo mudou sua estratégia midiática, que antes era focada em recrutar soldados, por priorizar sua propaganda em instruções operacionais para suas células ao redor do mundo.

Como objetivo geral, esse trabalho busca descrever e analisar quais as estratégias que o grupo Estado Islâmico usou para manter sua relevância após o declínio de seu autodeclarado Califado entre 2016 e 2017. Entre os objetivos específicos estão: I) explicar a história do autodeclarado Estado Islâmico e seu declínio; II) explicar o que é uma guerra assimétrica e como ela está sendo utilizada pelo grupo terrorista ISIS; III) ressaltar as particularidades do ISIS em comparação com Al Qaeda; IV) descrever como o ISIS, após o declínio, optou por trocar sua principal estratégia, conquista de territórios, para priorizar ataques pulverizados e pontuais; V) descrever como o terrorismo digital propagado pelo grupo Estado Islâmico através de suas mídias foi modificado após o declínio do autodeclarado Califado; VI) descrever como o grupo Estado Islâmico passou a terceirizar seus atentados após a perda de seus territórios, empoderando pequenos grupos a realizarem novos ataques globalmente.

Sobre a historia do grupo terrorista ISIS, é necessário saber que ele foi criado em meados de 2003, mas atingiu seu sucesso alguns anos após a Primavera Árabe (2011), quando países do Oriente Médio foram desestabilizados politicamente com os protestos populares. O ISIS soube aproveitar a situação para invadir e dominar territórios em alguns desses países em crises, a fim de proclamar um Califado islâmico sunita. Em 2014, isso aconteceu; o Califado foi autodeclarado e a sociedade internacional conheceu um novo grande inimigo (NAPOLEONI, 2015, p. 15).

Sobre seu declínio, Ibáñes (2017, p 578) afirma que, com o crescimento desse Califado e da propaganda de terror feita pelo mesmo, as potências mundiais consideraram o ISIS um grande perigo para a sociedade internacional, percebendo assim a necessidade de trabalhar em conjunto para deter o grupo terrorista. Primeiro, as potências mundiais negaram o reconhecimento do Califado, depois criaram uma coalizão para desestabilizá-lo, somente em 2016 essa batalha começou a gerar vitórias e o Estado Islâmico começou a perder territórios.

No fim de 2017, após uma série de ofensivas bem sucedidas nos territórios dominados no Iraque, o governo do país informou que o ISIS tinha sido expulso das suas fronteiras, tendo permanecido em uma pequena área da Síria (IBÁÑEZ, 2017, p. 585).

Novos grupos terroristas podem se formar a qualquer momento em todo o mundo, principalmente na região do Oriente Médio. A maioria desses grupos assume caráter religioso, geralmente islâmico. O grupo Estado Islâmico é o que aparece em evidência na atualidade, em seus dias de glória ele conquistou mais do que muitos outros grupos terroristas já conseguiram alcançar, ultrapassando em questão de conquistas territoriais até mesmo a Al-Qaeda, o grupo terrorista que o inspirou.

Atualmente o ISIS se encontra muito fragilizado por conta da perda de vários territórios e baixas em suas tropas, mas ainda não deve ser considerado como vencido pelos Estados ocidentais. O projeto de construir um estado islâmico foi derrotado, mas a organização não (BURKE, 2017).

Por esta ser uma discussão necessária, atribui-se de relevância para o meio acadêmico de Relações Internacionais. É então, percebida a necessidade de trazer para o centro das discussões essas estratégias, para que no futuro exista um conhecimento maior sobre elas, ajudando os atores internacionais a aperfeiçoarem suas ações contra o ISIS e futuros grupos terroristas que venham a impactar a sociedade internacional. Nessa conjuntura, uma monografia sobre “As estratégias do grupo Estado Islâmico para manter sua relevância após o declínio do autodeclarado Califado (2016-2017)” se torna necessária e pertinente.

O grupo Estado Islâmico utiliza do terrorismo — conceito que será analisado no capítulo 1 — dessa monografia, em suas ações a fim de atingir seus propósitos.  Com isso, acaba buscando atingir as vulnerabilidades de seus inimigos em vez de enfrentá-los diretamente (MELLO, 2017), geralmente a parte vulnerável é a população civil.

É preciso salientar que, graças à sua atuação com as populações dos territórios dominados, o ISIS ainda dispõe de grande influência ideológica na região e ainda pode se reerguer. Além disso, ele serviu e ainda servirá de inspiração para novos grupos que irão surgir, ou já existentes, que podem utilizar da experiência estratégica do ISIS em seus atos (CHARLEAUX, 2017).

O campo de pesquisa das Ciências Sociais possui uma heterogeneidade natural, sendo possível atestar diversos pensamentos do que é apropriado em sua realização. Por intermédio da revisão de literatura, bem como da análise do tema feita a partir do referencial teórico, à luz de teóricos da Escola de Copenhague, foram encontradas informações e diversas perspectivas sobre o tema proposto.

Portanto, é certo que a Teoria da Escola de Copenhague e o seu conceito de securitização se colocam como os mais bem preparados para ajudar a explicar o problema de pesquisa, dando uma importância para que o trabalho tenha credibilidade dentro da necessidade de descrever e explorar as estratégias do grupo terrorista.

Explorar essas estratégias é o ponto inicial para a elaboração dessa pesquisa, por isso a tipologia empregada será exploratória, ou seja, terá como objetivo explorar as estratégias do ISIS após o declínio. Utilizando também a revisão bibliográfica para estruturar a pesquisa. Em uma pesquisa exploratória a finalidade é ampliar, elucidar e transformar conceitos e idéias, pretendendo elaborar problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para novos estudos (GIL, 2008, p. 27).

Após estudo bibliográfico será empregado um método de pesquisa qualitativo com o aprofundamento no entendimento das estratégias do grupo terrorista, usando revisão bibliográfica e coleta de dados para criar um estudo de caso. Oliveira (2009, p. 6) explica que, o estudo de caso é um tipo de pesquisa qualitativa, que irá estudar um único caso. As novas estratégias do grupo terrorista Estado Islâmico serão, no primeiro momento exploradas e depois, delimitadas para estudo e a coleta de dados; e no fim, ocorrerá uma análise sistemática do assunto.

O método hipotético-dedutivo será empregado nessa pesquisa. Nele, o pesquisador, por meio do uso de uma observação meticulosa, cria algumas hipóteses sobre o tema interessado e passa a testá-la, no fim refuta as hipóteses consideradas falsas, obtendo novas considerações sobre o tema (GIL, 2008, p. 12). Isso será necessário para o entendimento das novas estratégias do ISIS.

A divisão dessa pesquisa está em três capítulos. O primeiro começa explicando os conceitos de Terrorismo e Estratégia, e como eles estão relacionados com o grupo Estado Islâmico. Depois será aprofundado o Referencial Teórico através do viés da Escola de Copenhague e o seu conceito de securitização, analisando como a teoria retrata o terrorismo para assim compreender melhor o tema central da pesquisa;

No segundo capítulo serão abordadas as duas Estratégias Militares que o ISIS utilizou, para assim criar um estudo sobre quais foram elas, como foram aplicadas e quais as suas limitações. Sendo elas: a probabilidade que o ISIS evite grandes disputas no campo de batalha e, em vez disso, recorra a ataques terroristas pulverizados no Oriente Médio, em outras zonas de conflito e no Ocidente; e a terceirização dos ataques terroristas do ISIS para grupos locais, somente fornecendo o suporte logístico e operacional.

O último capítulo da pesquisa, o terceiro, irá tratar das Estratégias Midiáticas que grupo terrorista ISIS utilizou após seu declínio, as expondo e analisando. São elas: a diminuição na quantidade de conteúdos de mídia criados pelo ISIS após o declínio do Califado, a qualidade também caiu, já que ele usava o seu terrorismo virtual para promover a utopia da boa vida dos moradores do Califado, mas depois do declínio buscou focar mais na jihad; a mudança na sua estratégia midiática do ISIS de recrutar soldados para lutarem no Califado por um tentativa de terceirizar seus ataques terroristas, incentivando novos grupos e dando apoio logístico e operacional através do ambiente virtual.

Por fim, nas considerações finais os resultados do estudo serão recapitulados a partir da visão do referencial teórico da Escola de Copenhague. A pesquisa será revisada, apresentando os resultados e afirmando ou negando as hipóteses, dessa forma, respondendo ao problema de pesquisa. O estudo será analisado, considerando as suas principais dificuldades e explicando quais contribuições se espera com ele. Dessa forma, será concluída a presente monografia.

3. TERRORISMO, ESTRATÉGIA E ESCOLA DE COPENHAGUE

A raiz da palavra terrorismo vem do substantivo “terror”. Nas Relações Internacionais esse termo é muito conhecido, sendo utilizado para retratar atos de extrema violência física ou psicológica direcionados a populações civis ou Estados, a fim de gerar pânico e medo para alcançar objetivos. Um dos propósitos do terrorismo é a modificação do status quo nos países em que está inserido com um preciso uso da violência, que é ampliada utilizando meios de comunicação; na atualidade, os grupos terroristas não respeitam as fronteiras dos Estados, podendo levar suas ações para um nível global (FERREIRA; LIMA; ANDRADE, 2014, p. 3).

Em relação às definições acadêmicas para o terrorismo, grande parte destaca a uso de violência, política, sociologia e psicologia; é considerada também a ameaça de violência além, é claro, da violência real (BRUCE, 2013, p. 27).

A chegada da globalização abriu espaço para uma nova fase do terrorismo. Os grupos terroristas cresceram e se transformaram em atores transnacionais no sistema internacional, se tornando também verdadeiras redes globais de terror. Eles aprenderam como usar o poder da mídia global para transportar sua propaganda de terror ao redor do mundo, executando ataques cautelosamente calculados, algumas vezes até os gravando e depois distribuindo para as redes de televisão e sites on-line (SARFATI, 2005, p. 325). Todas as ações planejadas por um grupo terrorista devem ser consideradas como parte de sua estratégia.

[...] defino a globalização como o do avanço tecnológico, que possibilita intensa troca de informações entre as pessoas no mundo. Esse fenômeno é observado virtualmente em todos os aspectos das relações humanas, incluindo não somente a economia, como também cultura, meio ambiente, educação, imprensa etc. (SARFATI, 2005, p. 318).

Conforme citado acima, o avanço tecnológico trouxe uma diminuição nas barreiras entre as pessoas de diferentes lugares do mundo. Portanto, a globalização também ajudou os novos grupos terroristas a expandirem a sua mídia de terror, já que grande parte das estratégias dos novos grupos, como o ISIS, está voltada para um terror midiático com forte presença nas redes sociais a fim de difundir suas ideias e recrutar novos membros assim ampliando o medo globalmente.

Após a análise do conceito de terrorismo e estratégia, será apresentada a Escola de Copenhague e o seu conceito de securitização, o aplicando às estratégias do grupo terrorista Estado Islâmico.

3.1. OS CONCEITOS DE TERRORISMO E ESTRATÉGIA

Segundo Leheny (2003, p. 58), sob o olhar das relações internacionais, o terrorismo nunca foi considerado um objeto central de estudo sobre segurança internacional, deixando esse debate no campo estadocêntrico. Assim, grande parte das teorias de Relações Internacionais prefere conceituar esse debate como um problema único dos Estados que protegem ou não conseguem banir esses grupos terroristas de suas fronteiras. Sendo necessário que a academia de Relações Internacionais procure, nos próximos anos, solucionar a carência intelectual sobre o terrorismo.

We should not be surprised that scholars of international politics have largely avoided terrorism as a topic; by its nature, terrorism has fit poorly with the emphasis in international relations on interstate conflict. Additionally, the difficulty of pursuing research on terrorist movements makes them less attractive subjects—especially for graduate students—than states, which have secrets but have to pursue most of their activities in public (LEHENY, 2003, p. 61).[1]

O autor deixa claro na citação que o terrorismo era subestimado como tópico de estudo nas Relações Internacionais, principalmente pela dificuldade de se realizar pesquisas sobre o mesmo. Isso deixava o terrorismo na sombra dos conflitos intraestatais, de certa forma o subestimando, ao não estudá-lo a partir de uma visão global.

Philpott e Thomas (2002; 2005 apud BUZAN; HANSEN, 2009, p. 227) afirmaram que após os ataques terroristas de 11 de setembro, todavia, a literatura existente sobre terrorismo recebeu maior destaque nos estudos sobre segurança internacional na academia de Relações Internacionais, além de também estimular uma preocupação com a questão religiosa que já vinha começando a ser mais discutida.

This is not to say that 9/11 brought academic or political consensus to ISS, or to foreshadow the conclusion that ISS was thoroughly changed by it. But it does mean that the GWoT functioned for parts of ISS as a set of dominating common events constituting a shared focal point for debate. Whatever else the GWoT did or did not accomplish, it certainly created a boom in the literature on terrorism […] (BUZAN; HANSEN, 2009 p. 227).[2]

Ou seja, os ataques trouxeram um consenso acadêmico ou político para os estudos de segurança internacional, mas trouxe um choque de realidade para os acadêmicos de Relações Internacionais, já que um grupo terrorista tinha conseguido agredir fortemente a maior economia do mundo, Estados Unidos, qual exerce uma hegemonia sobre todas as outras nações do globo. Gerando assim um aumento na produção de estudos sobre a atuação do terrorismo na segurança internacional.

O Al-Qaeda foi o grupo responsável por planejar e executar os atentados de 11 de setembro. Esse grupo terrorista é considerado como uma inspiração para o ISIS, qual, no começo foi formado por alguns filiados da Al-Qaeda e ao planejar suas estratégias seguiu alguns exemplos do grupo (NAPOLEONI, 2015, p 11).

Por isso é importante reafirmar que o terrorismo existe e afeta a todo o sistema internacional, direta ou indiretamente. O problema é que o próprio sistema internacional ainda não conseguiu criar uma definição globalmente aceita para o conceito de terrorismo.

De acordo com Bruce (2013, p. 26 – 27), isso enfraquece as medidas antiterroristas, que só poderão ser mais eficazes se todos os países cooperarem para definir o que são grupos terroristas, seus representantes e suas estratégias. E por conta disso, a ONU vem tentando viabilizar uma definição há algum tempo. Em 1972, após o massacre nas Olimpíadas de Munique, buscou criar um acordo universal, mas não conseguiu. Em 2001, formou a Convenção Internacional sobre a Supressão de Atentados Terroristas com Bombas, mas mesmo assim não chegou a definir o que é o terrorismo, a Convenção cobriu apenas uma perspectiva limitada do conceito, chegando somente a produzir um esboço provisório de definição. Em 2010 a chefe da Diretoria Exclusiva do Comitê de Combate ao Terrorismo chegou a dizer que a ausência de uma definição global do que é o terrorismo ainda representava um desafio.

O que geralmente acontece é que cada Estado tende a conceituar o terrorismo de sua maneira, assim países absolutistas têm a tendência de utilizar da definição de terrorismo para diminuir direitos individuais de seus cidadãos, desta forma, aumentando o poder do governo em nome do antiterrorismo. Segundo Bruce (2013, p. 28):

There are many examples of perversion of definition by authoritarian states, such as the labelling of French and Greek Resistance fighters as “terrorists” by Nazi Germany and the March 2012 description of Syrian civilians as “terrorists” by Syrian President Bassar al Assad while they are being killed by Syrian Government agents.[3]

Conforme os exemplos do autor na citação, é possível perceber que a falta de uma definição global do terrorismo gera, de certa forma, um perigo para as instituições democráticas e consequentemente, um perigo para o sistema internacional, já que o uso errado pode gerar consequências sociais e políticas de grande alcance (BRUCE, 2013, p. 28).

 O grupo Estado Islâmico utiliza do terrorismo em suas ações a fim de atingir seus propósitos; seus sucessos foram muitos; conquistou vários territórios e chegou a se autodeclarar um Estado. De acordo com Napoleoni (2015, p. 62):  

[...] o Estado Islâmico, com seus recursos de propaganda de alta tecnologia e seus mitos fascinantes, empreendeu uma vitoriosa guerra de conquista usando estratégias terroristas — uma guerra travada sob a bandeira ideológica de uma jihad, de uma guerra santa.

Conforme presente na citação, o ISIS soube utilizar dos avanços da tecnologia para aprimorar suas técnicas militares e midiáticas e assim, favorecer as suas conquistas. O estudo presente pretende descrever e analisar as estratégias do grupo terrorista Estado Islâmico para manter sua relevância após o declínio do autodeclarado Califado. Portanto, os dois próximos capítulos serão focados nas estratégias militares e midiáticas. Para isso serão utilizados artigos, notícias de periódicos nacionais e internacionais. Primeiramente é necessário compreender as definições de estratégia e relevância, o que será feito abaixo.

Para Gray (2007, p. 90 - 91), a estratégia corresponde ao ato de ameaçar ou empregar a força com uma finalidade dada por fins políticos. Portanto, a política é o que determina a estratégia, que por sua vez, é responsável por alcançar resultados que satisfaça a política. Mas, se a política exigir um resultado maior do que as suas forças conseguem alcançar, então é a política que deve mudar.

No seu auge, o ISIS possuía grande força e a empregava para seus objetivos políticos. O maior deles era a conquista de territórios através de suas estratégias. Com do declínio de seu Califado, suas forças diminuíram consideravelmente, fazendo com que o grupo terrorista mudasse os seus objetivos políticos, criando assim novas estratégias que se adequavam as forças que eles possuíam.

Segundo Gray (2007, p. 1), a história das Relações Internacionais nos últimos dois séculos:

[…] lends itself all too easily to understanding within the framework provided by military strategy. The strategic perspective does not explain everything, but it does capture the major currents of change and continuity, provides for a unity of interpretation, and certainly offers by far the most persuasive explanation of what happened, why and with what consequences.[4]

Portanto, considerando a idéia do autor na citação, um estudo das novas estratégias militares e midiáticas do ISIS ajudará a compreender o que mudou ou não, para assim entender melhor os motivos de suas mudanças e seus possíveis resultados.

Manter a relevância para o Estado Islâmico seria sobreviver em um cenário no qual antes atuava como propagador do terror pelo mundo, conseguindo chocar facilmente a opinião pública, mas agora tem sido considerado derrotado após a perda de suas capitais e territórios (CHARLEAUX, 2017).

A intenção do ISIS agora seria de mostrar ao mundo que o grupo terrorista ainda vive, pois apesar de suas perdas ele ainda conta com Soft Power para atrair novos combatentes ao redor do mundo com seu terrorismo digital, onde utiliza das tecnologias de comunicação para divulgar seus ideais (BURKE, 2017). Dessa forma é possível perceber a necessidade do grupo terrorista de se manter temido globalmente, mantendo sua relevância, para isso as novas estratégias foram aplicadas.

Existe então a necessidade de um estudo mais aprofundado dessas novas estratégias, nesse quesito, acredito que os teóricos da Escola de Copenhague são os mais apropriados para ajudar a dar base para essa pesquisa.

3.2. ESCOLA DE COPENHAGUE

A Escola de Copenhague trouxe uma nova agenda que renovou os estudos de segurança internacional separando da lógica estatal e abrindo espaço para o entendimento de novos tipos de ameaças. Três pontos chaves marcam os estudos da Escola de Copenhague: juntou acadêmicos que se preocupavam com a dimensão setorial da segurança internacional; procurou introduzir bases conceituais autônomas a fim de retratar sobre a segurança européia, saindo um pouco da visão norte-americana, que esteve em foque durante a guerra fria; ela gerou um debate sobre teoria das relações internacionais dirigido para abordagens mais críticas, como o construtivismo, distanciando-se dos costumes norte-americanos, que vinculavam os estudos estratégicos a visões objetivistas da política de poder (VILLA; SANTOS, 2010, p. 117 - 118).

A Escola de Copenhague foi responsável pelo aumento nos estudos na área de segurança nas Relações Internacionais, principalmente por ter sido criada ainda durante a Guerra Fria, onde o mundo se encontrava em estado de alerta para a possibilidade de uma guerra nuclear. Desse modo, a escola ousou ao destacar aspectos não militares, chamando a atenção dos Estados para novos riscos que poderiam atingir o sistema internacional.

O livro considerado principal pela Escola de Copenhague é o Security: A New Framework for Analysis escrito por Buzan, Wæver e Wilde (1998, p. 1 - 3), nele, os autores criticam as ideias tradicionalistas de limitar a segurança a somente um setor nas Relações Internacionais, militar. Então eles determinam que agora, após o fim da Guerra Fria, existem cinco setores para os estudos de segurança, sendo eles: militar, político, econômico, ambiental e social.

Consequentemente, a Escola de Copenhague foi responsável pela criação do conceito de securitização; a ação de securitizar seria realizada a partir do momento que é apresentada uma ameaça existencial que necessita de providências emergenciais, assim legitimando ações fora dos limites da finalidade política (TANNO, 2003, p. 57 – 58).

É necessário compreender que no processo de securitização existem:

[...] (I) os objetos referentes, aquilo que é percebido como objeto de uma ameaça existencial; (II) o ator securitizador, que não se reduz ao Estado, podendo incluir os grupos sociais, os indivíduos, organizações e os grupos transnacionais, que reivindicam a existência de uma ameaça para objeto referente - o ator securitiza a ameaça; e (III) os atores funcionais, que não pertencem a nenhuma da duas categorias anteriores mas que direta ou indiretamente têm papel relevante nas dinâmicas de segurança de um setor, a exemplo de uma grande empresa multinacional em setores como o meio ambiente, a economia e a política (VILLA; SANTOS, 2010, p. 122).

Portanto, segundo o autor na citação, para a existência de um processo de securitização é necessário que exista um objeto para ser securitizado, um ator para o securitizar e atores funcionais que participaram direta ou indiretamente de todo o processo. E, conforme afirmado por Buzan, Wæver e Wilde (1998, p. 26), nesse processo, há o entendimento de que a ameaça é tão urgente que se caso nenhuma atitude for realizada, será tarde demais e então não existirá solução para a falha

The Copenhagen School – partly about widening the threats and referent objects, especially societal/identity security, partly about paying more attention to the regional level, but mainly about focusing on securitisation (the social processes by which groups of people construct something as a threat), thus offering a Constructivist counterpoint to the materialist threat analysis of traditional Strategic Studies. Particularly strong in Scandinavia and Britain, and influential in most of Europe (BUZAN; HANSEN, 2009, p. 36).[5]

Após o 11 de setembro, o terrorismo tomou uma nova forma, a de ator transnacional e as políticas de segurança mundiais foram altamente aperfeiçoadas, gerando assim a “guerra contra o terror” (BUZAN; HANSEN, 2009, p. 227). Dessa forma, o ator securitizador, EUA, securitizou os grupos terroristas a fim de alertar o sistema internacional sobre suas ações, gerando uma coalizão para combatê-los. Atores transnacionais seriam atores não governamentais que ultrapassam as barreiras dos Estados e que direta ou indiretamente interferem no sistema internacional, como os grupos terroristas.

Para iniciar o processo de securitização é necessário que o ator securitizador chame atenção para uma questão da segurança, gerando assim um speech act. Porém, a securitização para obter sucesso, não depende somente pela ação do ator, mas sim pela aceitação pública do discurso de segurança, ou seja, o público deve consentir que existe uma ameaça (BUZAN; WEAVER; WILDE, 1998, p. 31).

Então, é possível entender que, após os atores internacionais securitizadores reconhecerem o Estado Islâmico como uma ameaça, implementaram ações de securitização contra o grupo terrorista, o que levou a perda de territórios, combatentes, etc. Isso fez com que o ISIS percebesse a necessidade de adotar novas estratégias alternativas para manter sua relevância.

Dessa forma, é possível se compreender que as novas estratégias do ISIS devem ser vistas como uma ameaça ao sistema internacional, já que ao utilizar do terrorismo em suas ações para atingir as partes mais vulneráveis dos seus inimigos, normalmente a população civil, ele mostra que mesmo fragilizado ainda pode se reerguer e voltar a ter a relevância que já possuiu um dia, quando chegou a dominar grandes territórios e se autodeclararou um Estado. Assim, havendo então a necessidade de securitizar essas novas estratégias que serão expostas nos capítulos seguintes.

4. ESTRATÉGIAS MILITARES

Estratégia, na guerra, é a arte de implementar todos os recursos militares, políticos, econômicos e outros para alcançar os objetivos. A estratégia militar é a qual planeja a condução de uma guerra. Esse tipo de estratégia geralmente abrange: planejamento estratégico, técnicas para aplicar forças em um conflito, domínio de territórios, uso de conflitos paralelos ou em sequência afim de atingir propósitos maiores e planejamento para atingir propósitos políticos (COHEN, 2017).

Neste capítulo serão descritas duas estratégias militares utilizadas pelo grupo terrorista ISIS para manter sua relevância após o declínio do autodeclarado Califado.  São elas:

- O ISIS passou a priorizar a realização de ataques pulverizados e pontuais em detrimento da ocupação territorial, já que agora o grupo terrorista têm dificuldade de ocupar os territórios por conta das baixas dos seus combatentes.

- O ISIS optou por uma terceirização dos ataques terroristas após a perda de seus territórios, empoderando pequenos grupos a realizarem novos atentados globalmente.

4.1. ATAQUES PULVERIZADOS

Como explicado na introdução dessa pesquisa, o grupo Estado Islâmico em seus dias de glória dominou territórios, travou guerras e conseguiu autodeclarar um Califado. Nessas ações suas estratégias militares foram essenciais para o sucesso do grupo, mas em meados de 2016, depois de uma série de ofensivas, provenientes de vários Estados ocidentais, as estratégias militares do ISIS começaram a se tornar obsoletas. Isso fez com que o Califado caísse e a maior parte de seus territórios fossem perdidos, fazendo o grupo terrorista mudar suas estratégias, principalmente as militares (DEMPSEY, 2018).

Portanto, com o fim do Califado físico, as táticas do ISIS estão evoluindo e é cada vez mais provável que ele evite grandes disputas no campo de batalha e, em vez disso, recorra a ataques terroristas pulverizados no Oriente Médio, em outras zonas de conflito e no Ocidente. Em outras palavras, uma guerra assimétrica (DEMPSEY, 2018).

Ibáñez (2017, p. 580 - 581) em seu artigo afirma que já que agora o ISIS tem dificuldade de ocupar os territórios por conta das baixas no número de combatentes, ele passou a priorizar a realização de ataques calculados e individuais em detrimento da ocupação territorial, fazendo com que o novo objetivo do grupo terrorista fosse uma guerra assimétrica.

Segundo, Paul F Herman Jr. (1997 apud BERMÚDEZ, 2006, p. 19) a guerra assimétrica:

É um conjunto de práticas operacionais que têm por objeto negar as vantagens e explorar as vulnerabilidades (da parte mais forte), antes que procurar confrontos diretos. Os conceitos e movimentos assimétricos procuram usar o meio ambiente físico e as capacidades militares em formas que são atípicas e provavelmente não antecipadas por estruturas militares bem estabelecidas, tomando-as, portanto desbalanceadas e não preparadas.

Ou seja, a guerra assimétrica é utilizada por quem está numa posição de inferioridade militarmente, em comparação ao seu oponente; então, para tentar equilibrar o jogo de forças a assimetria seria utilizada; por proferir sua atenção nas populações civis através da violência, o lado mais forte considera a guerra assimétrica como um modelo ilegal de violência, enquanto o lado mais fraco a considera um modelo de combate (BERMÚDEZ, 2006, p. 76).

Grupo terrorista ISIS é o lado mais fraco nesse jogo de poder, pois ele está competindo com Estados que possuem uma força militar bem maior. Assim, o ISIS em seus ataques terroristas tende a se direcionar a população civil desses Estados, gerando assim uma guerra assimétrica.

Por exemplo, em 22 de maio de 2017 o ISIS realizou um ataque em uma arena durante um show da cantora Ariana Grande na cidade de Manchester, no Reino Unido. O atentado matou 22 civis e feriu outros 59, no outro dia o grupo terrorista assumiu a autoria, deixando todo o planeta em choque e em alerta para novos ataques (AGÊNCIA BRASIL, 2017).

Esses atentados não irão recuperar os territórios perdidos no Oriente Médio, mas ajudarão a manter a relevância do grupo terrorista no cenário mundial, projetando sua força para fora de sua linha de frente geograficamente definida, buscando assim compensar os seus fracassos (CHARLEAUX, 2016).

Segundo Dempsey (2018), em janeiro de 2018 o Estado Islâmico publicou uma lista celebrando quase 800 ataques terroristas suicidas isolados e operações de isolamento durante 2017, esses ataques foram prioritariamente contra: os militares iraquianos, as forças curdas na Síria e o regime de Assad e seus aliados, bem como algumas dezenas contra grupos de oposição moderados na Síria. Dessa forma:

[…] it’s clear that ISIS leaders view this type of strike as the group’s best battlefield option for the foreseeable future. Indeed, the early January ISIS drone attack on Russian military facilities in Syria is another concrete example of the group’s desire to inflict as much pain as possible on its enemies while avoiding large-scale direct military engagement. Even ISIS itself recognizes that the days of seizing and holding cities are behind it (DEMPSEY, 2018).[6]

Na citação, o autor afirma que o ISIS deseja atingir o máximo possível seus inimigos, enquanto evita um confronto militar de larga escala. Deixando claro que, o grupo depois da perda da maior parte de seus territórios e das baixas no número de seus combatentes, modificou sua estratégia militar que antes era focada na conquista de novas terras e cidades, por priorizar ataques pulverizados e pontuais contras seus inimigos.

Esses tipos de ataques trouxeram também uma nova característica para as ações do ISIS, a terceirização dos atentados para pequenos grupos globalmente.

4.2. A TERCEIRIZAÇÃO DOS ATAQUES TERRORISTAS

Como informado no primeiro capítulo, a chegada da globalização gerou uma pluralização dos atores transnacionais, como os grupos terroristas, que aumentaram suas atuações nas redes globais (SARFATI, 2005, p. 325). É certo que as novas tecnologias ajudaram o terrorismo a se expandir, aumentando assim seu Soft Power para conquistar novos membros, podendo facilmente se estabelecer células e produzir ataques em vários países ao mesmo tempo (ROSS, 2016).

O ISIS soube aproveitar de seu Soft Power para levar a sua mídia do terror para todo o mundo, buscando obter novos membros e alimentar o medo na sociedade internacional (WINTER, 2017), como será explanado no próximo capítulo. Porém, isso não quer dizer que ele deixou de usar o seu Hard Power, pois mesmo após o declínio do autodeclarado Califado criou novas estratégias e aumentou os seus ataques terroristas buscando manter sua relevância.

O grupo Estado Islâmico vem adotando um modelo similar ao utilizado pela Al-Qaeda, terceirizando os seus ataques terroristas para grupos locais, como o Boko Haram, somente fornecendo o suporte logístico e operacional (ESTADÃO, 2019); é esperado então que ele continue a expandir essa estratégia e se relacione com mais grupos globalmente, possibilitando um crescimento nos números de ataques.

Segundo Chacra (2017), para comparar, os atentados da Al-Qaeda, antes, possuíam mais sofisticação, planejando com maior antecedência, produzindo bombas e treinando melhor os terroristas como o ataque de 11 de setembro que foi muito bem elaborado; em contrapartida o ISIS não buscou treinar bem os terroristas e nem planejar por muito tempo os seus atentados, um exemplo seria o de Barcelona em 2017, onde só foi preciso um carro e um motorista e mesmo assim conseguiu gerar medo e um resultado midiático enorme para o grupo que continua perdendo cada dia mais batalhas e territórios na Síria e no Iraque .

Esse tipo de atentado é conveniente para o ISIS, já que:

Basta inspirar pelas redes sociais jovens radicalizados em algum lugar da Europa e incentivá-los a pegar um veículo e lançá-lo contra pedestres. Foi assim em Londres duas vezes, foi assim em Berlim e foi assim em Nice. [...] Basicamente, talvez tenha apenas inspirado. Nada mais. O resto é completamente terceirizado para o terrorista. Ele pode alugar um carro ou usar o próprio e simplesmente atropelar pessoas inocentes em uma tarde ensolarada (CHACRA, 2017).

Conforme informado pelo autor na citação, a facilidade de terceirizar os atentados beneficia o ISIS, pois, a sua forte presença nas redes sociais já ocorre a muito tempo e agora tende a ser mais explorada, como será mais explanado no capítulo três.

O ISIS tem buscado destacar a continuidade das suas proezas operacionais do Estado Islâmico e visado outros grupos religiosos enquanto se posiciona como o verdadeiro defensor da fé, incentivando a violência indiscriminada contra os "inimigos do Islã" (DEMPSEY, 2018).

No início, o ISIS e o Al-Qaeda tinham objetivos diferentes. O grupo de Bin Laden manteve uma estratégia internacional para planejar atos terroristas em territórios estrangeiros, ocidentais, sem pretensão estatal; o ISIS desde o começo visou implantar um Califado. Atualmente, os dois grupos estão diretamente em concorrência.

Em 21 de abril de 2019, domingo de páscoa, uma data comemorativa para as religiões cristãs, consideradas “inimigas do Islã”, um atentado no Sri Lanka deixou 321 mortos e mais de 500 feridos, dias depois, o ISIS assumiu a autoria.

Após investigações, foi confirmado que o grupo Thowheeth Jamaath Nacional (NTJ) foi responsável por planejar e realizar os ataques. Este grupo terrorista foi formado há mais ou menos três anos atrás, por jovens muçulmanos radicais vindos de outros grupos terroristas. Mas muitos especialistas em contraterrorismo defendem que um atentado dessa magnitude não poderia ser realizado por grupo terrorista tão jovem e inexperiente; por isso que houve forte suspeitas que o ISIS buscou cooperar com o NTJ nesse ataque (ESTADÃO, 2019).

Dois dias depois dos ataques o Amaq, a agência de notícias do ISIS, reivindicou a autoria afirmando que tinha como alvo, cristãos e cidadãos de países pertencentes à coalizão tentam combater o Estado Islâmico. A agência também divulgou que os agressores eram "combatentes do Estado Islâmico". Um vídeo liberado pelo Amaq confirmou que o NTJ tentou se assegurar que a violência fosse cometida em nome do ISIS, que exigia constantemente ataques a igrejas, sobretudo depois do atentado em uma mesquita na Nova Zelândia.

É importante frisar que o ISIS também tem a tendência de reivindicar ataques em que não foi autor direto, simplesmente foram realizados por simpatizantes de suas idéias. Nesse caso, não houve confirmação de uma comunicação direta ou orientação do NTJ com o ISIS, mas revela que os combatentes seguiam a ideologia e o modus operandis que o ISIS costuma utilizar para realizar ataques (DEAN, 2019).

Sobre esse comportamento do ISIS, Dempsey (2018) afirma:

Without its operating base in Raqqa from which to plot overseas operations, ISIS is less likely to launch centrally directed and coordinated attacks (as was the case in Brussels in 2016 and Paris in 2015), and instead will likely focus on encouraging and claiming credit for a series of “inspired” attacks similar to the ones in New York City late last year.[7]

Portanto, de acordo com a citação acima, o grupo terrorista deve realmente buscar reivindicar atentados que foram inspirados na sua forma de atuação, principalmente após a perda da capital do autodeclarado Califado, Raqqa.

Conforme informado no jornal Estadão (2019), o Estado Islâmico sabe de suas vulnerabilidades e entende que dividir para conquistar deve ser parte de sua nova estratégia militar, formando alianças com grupos extremistas locais para cometer atentados em seu nome, ganhando espaço nos países com presença muçulmana ao estimular conflitos; assim reconquistando sua relevância no Oriente Médio e na Ásia após os fracassos na Síria e no Iraque.

A estratégia também indica uma nova tendência dos grupos jihadistas sunitas, principalmente do EI. Por décadas, o jihadismo sunita se caracterizou pelo terrorismo transnacional e por ataques suicidas. Esses pilares não parecem ser tão firmes como antes. Segundo analistas, a transformação está ocorrendo em vários países, incluindo Afeganistão, Iêmen, Mali, Bangladesh e Filipinas (ESTADÃO, 2019, on-line).

Logo, conforme citado acima, essa tendência pela terceirização dos ataques não é exclusiva do ISIS, pois vem sendo utilizada por diversos grupos terroristas, mas ele é o que vem obtendo maior sucesso.

Dessa forma, o ISIS também chega a revolucionar o terrorismo, já que a maior parte desses novos atentados não são realizados com muita complexidade e mesmo assim conseguem impactar a sociedade internacional (CHACRA, 2017), usando sua extensa rede internacional de simpatizantes para estimular múltiplos ataques globalmente (ESTADÃO, 2019).

Portanto, cabe ao sistema internacional lidar com essas novas estratégias militares do ISIS, alertando para as suas conseqüências. Dessa forma, o conceito de securitização dos teóricos da Escola de Copenhague pode ser utilizado para criar novos planos de ações para a defesa dos Estados e sua sociedade civil, que é o principal alvo do grupo terrorista.

A utilização do ambiente virtual e produção de mídia nessas recentes estratégias do ISIS são muito importantes. Por conta disso, o próximo capítulo será focado nas estratégias midiáticas do grupo Estado Islâmico.

5. ESTRATÉGIAS MIDIÁTICAS

As estratégias midiáticas estão essencialmente ligadas aos meios de comunicação, gerando mídias para TVs, internet, rádios, jornais, etc. Essas estratégias, dentro de um cenário de guerra, geralmente têm a finalidade de propagar ideias, manipular informações e aumentar o apoio público. O grupo terrorista Estado Islâmico soube utilizar de várias estratégias midiáticas desde o seu início, mas após a queda do autodeclarado Califado viu a necessidade de alterá-las.

Neste terceiro capítulo duas estratégias midiáticas aplicadas pelo ISIS para manter sua relevância após a queda Califado serão descritas.  São elas:

 - A diminuição na quantidade de conteúdos de mídia criados pelo ISIS após o declínio, antes ele utilizava o terrorismo virtual para promover a vida sob o Califado como uma utopia, e agora mais de 90 por cento da sua produção de mídia é somente sobre a jihad.

- O grupo mudou sua estratégia midiática, que antes era focada em recrutar soldados, por priorizar sua propaganda em instruções operacionais para suas células ao redor do mundo.

5.1. PRODUÇÃO DE MÍDIA

Durante o seu auge, entre 2014 e 2015, o ISIS manteve uma grande produção de mídia focada na importância histórica do Califado. Nessa época eles tentavam retratar o Califado como um lugar escolhido por deus, divulgando imagem das suas escolas, agricultura, qualidade de vida e até conservação de pássaros para atrair novos combatentes, afirmando que aquele era um lugar para viver e prosperar e não só morrer como um mártir (WINTER, 2017).

Neste capítulo são utilizadas principalmente pesquisas de alguns autores que tem forte conexão com os papéis das mídias para o ISIS, são eles: Charlie Winter, um pesquisador sênior do Centro Internacional para o Estudo da Radicalização, ele estuda terrorismo, insurgência e inovação, com foco na comunicação estratégica on-line e off-line, além de ser membro associado do Centro Internacional para Contraterrorismo em Haia, para realizar sua pesquisa sobre as mídias ele ficou quatro anos imerso nas redes virtuais do ISIS (WINTER, 2017), sendo uma ótima referência para essa monografia; Jade Parker, uma importante pesquisadora da área de segurança cibernética e uso terrorista da Internet, a sua pesquisa foi realizada em conjunto com Winter e nela eles discutem a reinicialização do Califado Virtual do ISIS, ajudando a compreender melhor as novas estratégias do grupo terrorista.

É necessário compreender que segundo os ideais da religião islâmica Deus é onipotente e onipresente, por isso, só deve existir vida nos limites de sua autoridade. Para os muçulmanos o primeiro Califado, o Estado Islâmico original, foi formado no século VII por Maomé, ele seria então a expressão política da vontade de deus (NAPOLEONI, 2015, p. 11). Quando o ISIS anunciou a criação de um novo Califado, uma onda ideológica pairou sobre muitos seguidores do islamismo, gerando uma crescente onda de migração para os territórios dominados pelo ISIS, sendo representada como uma obrigação religiosa pelo seu líder. Na época, atraiu mais de 40 mil pessoas de 110 nações e durante seu auge chegou a controlar uma população de aproximadamente oito milhões de pagantes de impostos (SARNO, 2018, p. 356 - 357).

Portanto, a tentativa do ISIS de promover a vida no Califado através das suas mídias como uma utopia ajudou muito o início da estruturação do grupo terrorista. Para ajudar na organização dos seus conteúdos de mídia, o ISIS criou a Amaq, uma agência de notícias que atua como uma forma de “comunicação estatal” do grupo. Ela é a responsável por publicar suas atualizações e mensagens oficiais, geralmente com as traduções em inglês e árabe. Também, quando acontece um atentado ela é a primeira a divulgar a reivindicação do ISIS para  as mídias globais (SARNO, 2018, p. 358).

Entretanto, o cenário mudou, o ISIS perdeu territórios e também um grande número de combatentes, hoje as representações da “utopia” do Califado nas suas produções de mídia praticamente nem existem mais (WINTER, 2017). 

Segundo Ibáñez (2017, p. 578):

La presión militar ejercida sobre Daesh por una combinación de enemigos diversos (ejércitos de Siria, Irak y Rusia, milicias chiíes, kurdas, etc.), desarrollada mediante duras secuencias de bombardeos aéreos y ulteriores operaciones terrestres, han arruinado además la imagen de organización eficaz e invencible que sus portavoces y su propaganda se esforzaron en fomentar, [...] de este modo, la estructura yihadista más potente en el mundo durante los últimos años ha sido despojada de las bazas fundamentales sobre las que descansaba su propio poder.[8]

Portanto, conforme citado pelo autor na citação acima, as ofensivas militares de vários Estados contra o ISIS tiveram resultados e o grupo terrorista perdeu tanto territórios, quanto parte da sua reputação de invencível, qual ele tanto reafirmava em suas propagandas nas mídia sociais.

Com isso, mais de 90 por cento da sua propaganda passou a ser somente sobre a jihad. Também, nos últimos anos, houve uma queda na taxa de criação de conteúdo do ISIS, para comparar, em agosto de 2015 ele realizou quase 900 envios e após a queda da capital do Califado, em novembro de 2017, foram aproximadamente 100 envios (WINTER, 2017). 

A queda nos conteúdos de mídia não foi só em relação à quantidade, foi também em relação à qualidade. Com o declínio do Califado, o ISIS parou de investir nas capacidades editorias de suas produções de mídia, antes os conteúdos eram traduzidos para vários idiomas e eram divulgados diariamente em uma rádio e publicado nas redes sociais, os boletins passaram a serem raros e geralmente somente em árabe (WINTER, 2017).

Após entrevistas com combatentes do ISIS, Miller e Mekhennet (2015) afirmaram que no auge do Califado, existia um exército de meios de comunicação e os profissionais da mídia eram tratados com a mesma patente que os militares, sendo envolvidos em todas as decisões estratégicas do grupo. Também recebiam os maiores salários e tinham os melhores carros, já que eram considerados o braço mais importante da organização terrorista.

Isso mudou, com o declínio do grupo, o orçamento para as mídias foram reduzidos, assim acabou perdendo os funcionários mais qualificados e a presença on-line do ISIS cada vez mais se aproxima dos grupos terroristas tradicionais. A parte midiática do ISIS tem ficado na mão de voluntários amadores on-line chamados de munasirum. Quais não possuem a mesma competência técnica dos antigos oficiais, principalmente agora em um cenário onde as grandes empresas tecnológicas vem aumentando suas proteções anti terroristas em seus sites, complicando as divulgações de grupos como o ISIS. Mas os munasirum são de muita importância para o grupo, pois sem eles produção de mídia já estaria silenciada há tempos atrás (PARKER, J; WINTER, C., 2018).

As ofensivas realizadas por uma coalizão de Nações contra o grupo Estado Islâmico tiveram várias consequências, uma delas foi atingir o braço de propaganda do Califado. Então é possível perceber os fortes efeitos do declínio do Califado para a produção de mídia do ISIS, já que para o grupo a comunicação não é só uma ferramenta, mas sim uma forma de governar e também parte do seu planejamento militar. Pois foi por meio de sua propaganda que ele conseguiu confortar sua base de apoio, questionar a legitimidade de seus rivais islâmicos, conquistou credibilidade e travou uma guerra psicológica contra seus inimigos (WINTER, 2017).

Portanto, uma das novas estratégias do grupo Estado Islâmico após o declínio do seu autodeclarado Califado, entre 2016 e 2017, realmente foi a diminuição da quantidade de seus conteúdos de mídia após o seu declínio e a transformação mais de 90% da sua produção de mídia somente sobre guerra.

Dentro dessas novas estratégias do ISIS, houve também, uma priorização para sua propaganda em instruções operacionais para suas células ao redor do mundo.

5.2. PROPAGANDA DO TERROR

Como pode ser visto acima, a mídia do ISIS é a mais profissional e abrangente entre os movimentos jihadistas e islâmicos em geral. Desde a sua expansão para a Síria em 2013, a organização se concentrou em fortalecer seu lado da mídia, sabendo que a guerra da mídia não é menos importante do que a guerra nos campos de batalha e planejamentos militares.

O grupo realmente moldou sua narrativa midiática, entre 2014 e 2015, em torno do significado histórico do Califado físico e da obrigação religiosa dos muçulmanos de apoiá-lo, para assim atrair novos combatentes. Essa estratégia mudou, é certo afirmar que o ISIS está focado apenas na sua sobrevivência e possivelmente, após avaliarem a sua situação atual e suas limitações, perceberam que o direcionamento de suas forças para o ambiente on-line focando na jihad seria a melhor saída para o grupo (WINTER, 2017).

Foi nas redes sociais que o grupo Estado Islâmico se apoiou para criar o seu império midiático. Segundo Sarno (2018, p. 360) “As redes sociais, em particular, são essenciais na comunicação do grupo [...] sua natureza descentralizada e fragmentada é ideal para a divulgação do material produzido por este, com uma narrativa adequada a cada audiência”. Assim as redes sociais são ideais para a promoção do ISIS, ajudando a conquistar novos combatentes para sua causa e levar a sua propaganda de terror para todos os lugares do mundo.

De acordo com Napoleoni (2015, p. 54 - 55):

Al-Baghdadi e seus seguidores entendem a importância da vida em ambientes virtuais e nossa tendência em agir irracionalmente ao lidarmos com questões misteriosas e terrificantes, tais como o terrorismo. [...] eles investiram uma quantidade extraordinária de energia em redes sociais para divulgar profecias assustadoras, sabedores de que elas produzirão um efeito que se realizará por si mesmo [...] ainda hoje, dentro e fora do Califado, a máquina de propaganda está em constante funcionamento, espalhando, entre jovens, mitos de um exército cada vez mais forte e bem-sucedido, tanto no exterior quanto internamente

Na citação, a autora reflete e alerta sobre o modo como o grupo usa os ambientes virtuais a seu favor. O ISIS moldou sua técnica de atrair seguidores para cativar jovens da geração milenar, usando uma linguagem mais moderna que a maioria dos grupos terroristas, como a Al-Qaeda, por exemplo. Essa linguagem consiste em misturar imagens de filmes, programas e videogames populares com esse público mais jovem, com a ideologia do grupo terrorista numa tentativa de atraí-los. (SARNO, 2018, p. 362). Um exemplo disso foi uma notícia publicada por Murphy (2015), onde um dos principais líderes do ISIS postou em 2014 na sua conta do Twitter uma mensagem incentivando novos simpatizantes a se tornarem combatentes do grupo terrorista, e ao mesmo tempo, relacionando com um famoso jogo de videogame chamado Call of Duty. A mensagem dizia: “You can sit at home and play Call of Duty or you can come here and respond to the real call of duty . . . the choice is yours” (Murphy, 2015)[9]. Assim, chamando os jovens a responderem o chamado do seu dever.

Isso ocorre por conta da evolução tecnológica que as redes sociais trouxeram e segundo Lesaca (2017, p. 30):

La seductora narrativa transmedia del grupo terrorista Dáesh está elaborada para ser transmitida mediante eficaces técnicas de marketing digital directo a sus audiencias potenciales, sin tener en cuenta a los medios de comunicación tradicionales. Estado Islámico es el primer grupo terrorista de la historia que fundamenta y condiciona su acción violenta a este nuevo contexto de construcción de la opinión pública. Y lo hace de una forma estructural y sistemática, consciente de que se trata de su mejor arma para promover el cambio de comportamiento de sus audiencias.[10]

Conforme citado acima, o grupo terrorista foi pioneiro na questão de usar o ambiente virtual para promover a sua violência e seduzir novos aliados. O ISIS busca então incentivar o sentimento rebelde desses jovens através das redes sociais e então convertê-los para sua ideologia, ganhando assim novos soldados (SARNO, 2018, p. 362).

Por conta do foque na jihad, a mudança na estratégia gerou o surgimento de um terrorismo ainda mais violento. Com o declínio do Califado, os munasir, atuais responsáveis pelo braço de mídia do ISIS, começaram a aumentar sua presença on-line. Foram divulgados materiais protestando contra o Islã moderado e atacando os inimigos ideológicos do ISIS, além de também defender e incentivar o uso de violência contra a população civil dos mesmos (WINTER, 2017).

Nas redes sociais e nas plataformas de mensagens, os munasir começaram a investir em conversas com simpatizantes dos ideais do ISIS. Entre alguns tópicos discutidos, eles defendiam que o Estado Islâmico continuará, não importa o que aconteça, minimizando a questão da perda de territórios e dizendo que o grupo estava longe de ser considerado vencido, pelo contrário, eles estariam agora no caminho certo (PARKER, J; WINTER, C., 2018). Essas declarações têm como objetivo de inspirar seus membros e simpatizantes, assim garantindo a continuidade de suas células globais.

Os durūs, um tipo de seminários virtuais realizados pelos munasir para passar lições e propaganda do ISIS. Eles acontecem duas ou três vezes por semana em bate-papos criptografados, onde discutem os ideais islâmicos, louvores, como cada um pode contribuir para a jihad global, orientações de logística para atos de terror, entre outros assuntos (ARGENTINO; GAGNÉ. 2017). Por exemplo, de acordo com Parker e Winter (2018), alguns conteúdos encontrados em sites mostram o ISIS ensinando várias receitas de bombas e venenos. Além disso, eles também fornecem explicações com base na religião Islâmica sobre como matar civis é permitido e aconselhamentos sobre criptografia e segurança da informação (WINTER,2017).  Esses esforços do grupo no ambiente on-line geraram o chamado Califado Virtual.

Virtual durūs are used as a way to validate members within the group; if it’s not done, members will leave the group. The Islamic State caters to the members’ self-esteem in order to keep them faithful and strengthen their sense of belonging (ARGENTINO; GAGNÉ. 2017).[11]

É possível perceber também uma mudança nos ideais do ISIS, já que ao chamar novos apoiadores para ingressar nesse Califado Virtual, ele retira a obrigação, que colocava antes para seus simpatizantes, de se deslocarem para os territórios dominados (Califado) a fim de entrarem na organização terrorista. Agora esse recrutamento aconteceria virtualmente, gerando um novo ramo do terrorismo, que pode ser considerado ainda mais preocupante, o terrorismo retributivo. Nesse cenário pós-declínio, o Estado Islâmico demonstra que esse o Califado Virtual está sendo utilizado para ocupar o vazio logístico que ficou após a ausência de suas publicações oficiais (PARKER, J; WINTER, C., 2018).

Estratégia parecida já foi utilizada pelo grupo terrorista Al-Qaeda, em 2010 ele criou uma revista em inglês chamada Inspire para tentar inspirar simpatizantes a cometer ataques em nome do grupo. A revista era geralmente lançada três vezes por ano e continha orientações de como construir bombas, planejar ataques e quais deveriam ser os alvos. Para controlar a leitura da revista, alguns países, como o Reino Unido e a Austrália proibiram a leitura mesmo de um único capítulo dela, com pena de prisão para quem os lesse (BAMFORD, 2015).

O ISIS, por sua vez, usa o seu braço de mídia para levar suas orientações logísticas para seus membros globalmente espalhados, assim promovendo mais ataques terroristas. Segundo Parker e Winter (2018), os atentados terroristas do grupo Estado Islâmico são divididos em tipos. As operações direcionadas, onde as redes dos munasir desempenham pouco ou nenhum papel, e as operações favorecidas e operações inspiradas pelo ISIS, onde sua contribuição é mais presente, fornecendo um apoio logístico personalizado.

Fato que faz relação com a estratégia militar tratada no capítulo anterior, onde mostra que o ISIS buscou uma terceirização dos ataques terroristas ao empoderar pequenos grupos a realizarem novos atentados globalmente.

The Islamic State also uses online structures and mechanisms for on-the-ground logistics and administrative activities. This digital infrastructure facilitates financing and material support and provides a formal intra-organizational communication network that connects geographically disparate Islamic State-affiliates, allowing them to coordinate official media operations, recruitment, and other tasks central to the bureaucratic functions of the offline side of the organization. The resource allocation and logistics-focused facets of the virtual caliphate are central to supporting the Islamic State’s longer-term objectives; because of its importance to the organization, there can be little doubt that they remain active today (PARKER, J; WINTER, C., 2018).[12]

Nesse cenário, os atentados realizados ou inspirados pelo ISIS são de extrema importância para o grupo manter sua relevância. Antes do seu declínio, um ataque vitorioso era um bônus tático, hoje é uma necessidade estratégica. Por isso que investir em educação operacional e propaganda para suas redes globais é tão importante para sua sobrevivência (PARKER, J; WINTER, C., 2018).

Portanto é necessário ficar de olho nessa nova estratégia do grupo terrorista ISIS, pois o seu Califado evoluiu para o meio virtual, onde não há fronteiras. Isso também demonstra que ele mesmo fragilizado militarmente, ainda possui uma capacidade de produzir e inspirar ataques ao redor do mundo, além de cativar grupos simpatizantes para receber apoio logístico em suas ações.

Nessa questão, a securitização dessas estratégias midiáticas se torna realmente necessária, pois os aumentos dos ataques globalmente impactam na segurança do sistema internacional e principalmente nos Estados considerados “inimigos do Islã” pelo ISIS.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde o início do declínio do seu autodeclarado Califado e suas grandes perdas de territórios, o ISIS vem implantando uma serie de estratégias para manter sua relevância em um cenário onde, claramente, se encontra em desvantagem.

Essa pesquisa buscou trazer para o centro de discussão essas novas estratégias, militares e midiáticas, que o ISIS implantou, através um olhar da academia de Relações Internacionais. Como já foi dito no primeiro capítulo, o terrorismo demorou de ser considerado um assunto importante para a academia, principalmente por conta da dificuldade de se encontrar informações sobre esses grupos, mas nos últimos 20 anos essa realidade mudou. Hoje, graças à globalização o acesso a informação ficou mais fácil e democrático, tanto que os próprios grupos terroristas, como o ISIS, utilizam das novas tecnologias para atingir seus propósitos.

A princípio, foram encontradas muitas dificuldades para a execução deste trabalho, principalmente por conta do tema ser bem atual, o que complica a coleta de dados. Não existindo uma boa quantidade de pesquisas científicas que falem das estratégias do grupo Estado Islâmico no período pós-declínio, o que permitiria uma análise mais precisa. Mas, depois de várias pesquisas e leituras de artigos disponibilizados on-line, principalmente os publicados por periódicos internacionais, as dificuldades foram superadas e a pesquisa se viabilizou.

Esse trabalho teve como sua principal finalidade, responder ao problema de pesquisa: quais as estratégias que o grupo Estado Islâmico utilizou para manter sua relevância após o declínio do autodeclarado Califado entre 2016 e 2017? Para isso, foram apresentadas quatro hipóteses, cada um delas uma estratégia, que foram divididas entre militares e midiáticas a fim de facilitar as suas descrições e análises.

Na primeira hipótese, que foi discutida no segundo capítulo, sobre a estratégia militar do ISIS de priorizar a realização de ataques pulverizados e pontuais em detrimento da ocupação territorial entre 2016 e 2017, foi confirmada após a leitura de vários estudos. Pois, agora eles têm dificuldade de ocupar os territórios por conta das baixas dos seus combatentes, sendo uma guerra assimétrica sua prioridade.

A segunda hipótese, também presente no segundo capítulo, qual abordava a estratégia militar do ISIS, de optar por um plano de terceirização de seus ataques terroristas após a perda de seus territórios, empoderando pequenos grupos a realizarem novos atentados globalmente, foi confirmada por meio da leitura de pesquisas e descoberta de exemplos da ação do grupo terrorista.

Na terceira hipótese, encontrada no terceiro capítulo, uma estratégia midiática do ISIS foi apresentada e analisada. Ela afirmava que houve uma diminuição na quantidade de conteúdos de mídia criados pelo ISIS após o declínio de seu califado, sendo que antes ele utilizava o terrorismo virtual para promover a vida sob o Califado como uma utopia, e agora mais de 90 por cento da sua produção de mídia é somente sobre a jihad. Essa hipótese foi confirmada após o levantamento de um estudo sobre as produções de mídia do grupo terrorista, levando em consideração as palavras de autores como Winter (2017), que se dedicou a realizar várias reportagens sobre as ações virtuais do ISIS.

A quarta e última hipótese, presente no terceiro capítulo, focou-se novamente em uma estratégia midiática do ISIS. Nela, o grupo terrorista teria mudado sua estratégia midiática, que antes era focada em recrutar soldados, por priorizar sua propaganda em instruções operacionais para suas células ao redor do mundo. Ela também foi confirmada, pois os estudos revelaram como o grupo terrorista modificou suas ações e ideias no ambiente virtual, assim promovendo sua propaganda de uma forma distinta da qual costumava fazer.

Portanto, após a análise e confirmação de todas as estratégias contidas nas hipóteses, a pergunta de pesquisa foi respondida. Com isso, o objetivo principal da monografia, de descrever e analisar as novas estratégias do ISIS também foi realizado. Em relação aos objetivos específicos, eles foram apresentados ao longo de todo o texto da pesquisa.

No primeiro capítulo, o conceito de terrorismo foi discutido, chegando à conclusão que a falta de um conceito globalmente aceito afeta a possibilidade da realização de um plano de ação global conduzido pelo sistema internacional para enfrentar com uma maior perspicácia o terrorismo. Neste capítulo também foi explicado o conceito de estratégias, mostrando como elas são dependentes dos objetivos políticos. Esses objetivos podem mudar ao depender do cenário, quando o cenário muda, os objetivos políticos são reajustados, assim também modificando as estratégias.

No final do primeiro capítulo foi apresentada a Escola de Copenhague e os estudos de seus teóricos sobre o conceito de securitização. Os teóricos vêem o terrorismo como um ato que deve ser securitizado por ser uma ameaça ao sistema internacional. Dessa forma, as novas estratégias do grupo terrorista Estado Islâmico também devem passar por um processo de securitização, já que elas tendem a trazer ainda mais desequilibro e medo a sociedade internacional como um todo.

Este trabalho teve como intenção, abrir caminhos para novas pesquisas que poderão vir a tratar das estratégias utilizadas pelo ISIS entre 2015 e 2016. Atualmente, no final de 2019, o líder desta organização terrorista, Abu Bakr al-Baghdadi, acabou de ser assassinado durante uma operação militar dos EUA na Síria. Isso significa uma perda enorme para o ISIS, mas também abre os horizontes para que futuros trabalhos possam ser produzidos tratando das estratégias que o ISIS irá utilizar após a morte de seu líder. 

Entende-se que existe muito o que comemorar sobre as vitórias sobre o grupo Estado Islâmico, mas ele não deve ser subestimado, pois este já mostrou com suas estratégias que é um inimigo resiliente e adaptável. Sua capacidade de inspirar novos grupos globalmente ainda é muito forte e por isso é necessário que, não apenas os Estados que sofrem com as violências do ISIS, mas sim todo o sistema internacional reconheça o novo estágio ainda mais perigoso do grupo terrorista e busque criar novas políticas para controlar as ações do seu Califado Virtual.

Contudo, as estratégias utilizadas pelo ISIS no período pós-declínio, como explicado nessa pesquisa, realmente ajudaram o grupo a manter sua relevância e a não sair dos noticiários. Muita coisa aconteceu de 2017 até hoje, vários atentados foram realizados pelo ISIS e em seu nome, causando mortes e destruição. O grupo Estado Islâmico passou por altos e baixos, mas é certo que ele ainda gera uma grande preocupação para o sistema internacional.

7. REFERÊNCIAS

AGÊNCIA BRASIL. Estado islâmico assume autoria do atentado de Manchester. Brasília, 23 mai. 2017. Disponível em: . Acesso em: 10 nov. 2019.

ARGENTINO, Marc-André ; GAGNÉ, André. How the Islamic State uses ‘virtual lessons’ to build loyalty. The Conversation. 2017. Disponível em: https://the conversation.com/how-the-islamic-state-uses-virtual-lessons-to-build-loyalty-86917?utm_medium=amptwitter&utm_source=twitter>. Acesso em: 8 nov. 2019.

BAMFORD, James. Reading This Magazine Could Land You in Jail. Foreign Policy. 2015. Disponível em: . Acesso em: 10 nov. 2019.

BERMÚDEZ, Brúmmel Vazquez. A guerra assimétrica à luz do pensamento estratégico clássico. Revista de Escola de Guerra Naval, 2006. Disponível em: .  Acesso em: 2  nov. 2019.

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[1] Não devemos nos surpreender que estudiosos da política internacional tenham evitado amplamente o terrorismo como tópico; por sua natureza, o terrorismo se encaixa mal com a ênfase nas relações internacionais em conflitos interestaduais. Além disso, a dificuldade de realizar pesquisas sobre movimentos terroristas os torna assuntos menos atraentes - especialmente para estudantes de pós-graduação - do que estados que têm segredos, mas precisam realizar a maioria de suas atividades em público (LEHENY, 2003, p. 61, tradução nossa)

[2] Isso não quer dizer que o 11 de setembro trouxe consenso acadêmico ou político à ISS ou prenuncia a conclusão de que a ISS foi completamente alterada por ela. Mas isso significa que o GWoT funcionou para partes da ISS como um conjunto de eventos comuns dominantes, constituindo um ponto focal compartilhado para o debate. O que mais o GWoT fez ou não conseguiu, certamente criou um boom na literatura sobre terrorismo […] (BUZAN; HANSEN, 2009 p. 227, tradução nossa).

[3] Há muitos exemplos de perversão da definição de estados autoritários, como a rotulagem de caças franceses e resistência grega como “terroristas” pela Alemanha nazista e a descrição março 2012 de civis sírios como “terroristas” do presidente sírio Bassar al Assad, enquanto eles estavam  sendo mortos por agentes do governo sírio (BRUCE, 2013, p. 28, tradução nossa).

[4] [...] presta-se com muita facilidade ao entendimento dentro da estrutura fornecida pela estratégia militar. A perspectiva estratégica não explica tudo, mas captura as principais correntes de mudança e continuidade, fornece uma unidade de interpretação e certamente oferece de longe a explicação mais persuasiva do que aconteceu, por que e com quais consequências (GRAY, 2007, p. 1, tradução nossa)

[5] A Escola de Copenhague - em parte sobre ampliar as ameaças e os objetos referentes, especialmente a segurança social / de identidade, em parte sobre prestar mais atenção ao nível regional, mas principalmente sobre o foco na securitização (os processos sociais pelos quais grupos de pessoas constroem algo como ameaça), oferecendo assim um contraponto construtivista à análise de ameaças materialista dos estudos estratégicos tradicionais. Particularmente forte na Escandinávia e na Grã-Bretanha e influente na maior parte da Europa (BUZAN; HANSEN, 2009, p. 36, tradução nossa).

[6] [...] está claro que os líderes do ISIS veem esse tipo de ataque como a melhor opção de campo de batalha do grupo no futuro próximo. De fato, o ataque de drones do ISIS no início de janeiro às instalações militares russas na Síria é outro exemplo concreto do desejo do grupo de infligir o máximo de dor possível a seus inimigos, evitando o envolvimento militar direto em larga escala. Até o próprio ISIS reconhece que os dias de tomada e posse de cidades estão atrasados (DEMPSEY, 2018, tradução nossa).

[7] Sem sua base operacional em Raqqa, a partir da qual planejar operações no exterior, o ISIS tem menos probabilidade de lançar ataques direcionados e coordenados centralmente (como foi o caso em Bruxelas em 2016 e Paris em 2015) e, em vez disso, provavelmente se concentrará em incentivar e reivindicar crédito por uma série de ataques "inspirados" semelhantes aos da cidade de Nova York no final do ano passado (DEMPSEY, 2018, tradução nossa)

[8] A pressão militar exercida sobre o Daesh por uma combinação de diversos inimigos (exércitos da Síria, Iraque e Rússia, milícias xiitas, curdos etc.), desenvolvidos através de duras sequências de bombardeios aéreos e operações terrestres subsequentes, também arruinou a imagem de uma organização eficaz e invencível que seus porta-vozes e sua propaganda se empenhassem em promover, [...] dessa maneira, a estrutura jihadista mais poderosa do mundo nos últimos anos, sem os bens fundamentais sobre os quais repousava seu próprio poder (IBÁÑEZ, 2017, p. 578, tradução nossa)

[9] Você pode sentar em casa e jogar Call of Duty ou pode vir aqui e responder ao verdadeiro call of duty. . . a escolha é sua" (MURPHY, 2015, tradução nossa)

[10] A narrativa transmídia sedutora do grupo terrorista Dáesh foi projetada para ser transmitida por meio de técnicas eficazes de marketing digital diretamente a potenciais audiências, independentemente da mídia tradicional. O Estado Islâmico é o primeiro grupo terrorista da história que baseia e condiciona sua ação violenta a este novo contexto de construção da opinião pública. E ele faz isso de maneira estrutural e sistemática, consciente de que é sua melhor arma para promover a mudança no comportamento de seu público (LESACA, 2017, p. 30, tradução nossa)

[11] Durūs virtuais são usados como uma maneira de validar membros dentro do grupo; se não for feito, os membros deixarão o grupo. O Estado Islâmico atende à auto-estima dos membros, a fim de mantê-los fiéis e fortalecer seu senso de pertencimento (ARGENTINO; GAGNÉ, 2017, tradução nossa).

[12] O Estado Islâmico também usa estruturas e mecanismos on-line para atividades administrativas e logísticas em campo. Essa infra-estrutura digital facilita o financiamento e o suporte material e fornece uma rede formal de comunicação intra-organizacional que conecta afiliados do Estado Islâmico geograficamente díspares, permitindo que eles coordenem operações oficiais de mídia, recrutamento e outras tarefas centrais das funções burocráticas do lado off-line da organização. A alocação de recursos e as facetas focadas em logística do califado virtual são fundamentais para apoiar os objetivos de longo prazo do Estado Islâmico; devido à sua importância para a organização, há poucas dúvidas de que elas permaneçam ativas hoje (PARKER, J; WINTER, C., 2018, tradução nossa). 


Publicado por: Jorge Flamarion Ramos de Souza Junior

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