A Importância do Patrimônio Histórico Como Instrumento de Preservação da Memória

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1. RESUMO

É sabido que o Patrimônio Histórico faz parte da identidade de uma sociedade, quanto suas características, costumes, seu comportamento, além de ser um registro fundamental para seus sucessores. Esta pesquisa é o resultado de um estudo sobre a preservação do Patrimônio Histórico e da Memória, onde veremos inicialmente qual a importância da memória coletiva e individual na formação de uma sociedade e como a preservação influencia diretamente em uma reinterpretação sobre novos olhares históricos. Entenderemos o que é Patrimônio e as transformações sobre o conceito da palavra ao longo do tempo, para que serve e qual a finalidade do tombamento, mais a diante vamos conhecer o objeto de estudo e algumas transformações ocorridas em nome do crescimento populacional e econômico , observando que alguns acontecimentos do passado que tiveram grande importância , ficaram restritos ao passado e a determinados grupos que se interessam pelo assunto.

Palavras-chave: 1.Patrimônio 2.Memória 3.Preservação

2. INTRODUÇÃO

Existe uma crescente preocupação entre alguns pesquisadores, historiadores, empresas, instituições e simpatizantes sobre a questão da Preservação da Memória e Patrimônio Histórico. Essa discussão pode ser apreendida através de debates, simpósios, fóruns, grupos de discussões, além de uma vasta gama de livros, artigos e outros materiais que levantam a importância do assunto. Esta preocupação está relacionada aos danos causados a memória e identidade histórica que conserva certas informações para que o passado não seja completamente esquecido.

O presente trabalho tem como proposta trazer uma reflexão teórica sobre a importância da Preservação do Patrimônio Histórico, ressaltando a importância da preservação da memória e identidade histórica da Cidade de São Paulo. A partir dessas reflexões, o objetivo é identificar os impactos causados nas Edificações da Rua Barão de Itapetininga, com a expansão do comércio a partir da década de 1950, entender os danos ocasionados na memória através das adaptações sofridas nas edificações ao longo desse período acompanhado pelo progresso econômico, crescimento gradual da cidade e a modernização para receber as novas exigências.

Segundo alguns historiadores como Jacques Le Goff (1990 ), Michael Pollak (1989 e 1992 ) e Pedro Paulo Funari (2009 ), a importância da Preservação do Patrimônio Histórico pode ser associada a memória coletiva e individual, pois é através da memória que nos orientamos para compreender o passado, o comportamento de um determinado grupo social, cidade e nação . O avivamento da memória também contribui para a formação de identidade, resgate de raízes, está ligada formação cultural e econômica de um povo.

Segundo dados obtidos por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, a preocupação em preservar nossa identidade histórica e cultural surge no início do século XX , onde as primeiras medi- das aprecem em 1936 com a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN, projeto criado por Mário de Andrade e alguns intelectuais da época que definia o Patrimônio Histórico e Artístico Nacional um conjunto de bens móveis e imóveis do país onde conservação é do interesse público , quer por sua vinculação a fatos da História do Brasil, por seu excepcional valor arqueológico, etnográfico , bibliográfico ou artístico.

A História é construída, a consciência da história e a memória são parte de uma construção que se fixam ao longo do tempo e dá identidade a um ser humano. O resgate da memória é envolvido por sentimento que estimula e alimenta a necessidade do homem saber sobre si, sobre seu passado, sobre seu presente, sobre suas conquistas, sendo então a memória um combustível da história.

Entender a ligação entre os danos ocasionados nas edificações do Centro Histórico de São Paulo, em específico a Rua Barão de Itapetininga, que é o objeto de estudo com a expansão comercial e urbana da cidade, requer uma breve análise partir do final do século XIX para compreendermos os fatores que levaram a tais mudanças.

A urbanização, a industrialização, abrem portas para a expansão do comércio e a remodelação do espaço, ocorrendo assim falhas na preservação de identidade Histórica e Cultural da cidade, levando muitas vezes ao desaparecimento e destruição do Patrimônio. A problemática desse trabalho é mostrar, como os interesses econômicos se sobrepõem aos interesses de organização e preservação da Memória e Patrimônio Histórico?

Quando se fala sobre Preservação da Memória e Patrimônio Histórico, automaticamente somos direcionados a um conceito de identidade, seja ele cultural, social, econômico, artístico ou até mesmo religioso. Desta forma segundo o historiador francês Jacques Le Goff (1990 ) , a memória acaba por estabelecer um vinculo entre as gerações humanas e o tempo histórico que as acompanha. Esse vinculo que se torna afetivo, possibilita que essa população passe a se enxergar como sujeitos da história, que possuem assim direitos como, também deveres para com a sua localidade. Nessa mesma linha, a perspectiva de Pollak (1992), que reflete sobre a memória no sentido não só do que ocorreu no passado, mas no tempo presente e em seus conflitos.

Assim, os objetivos dessa pesquisa foram identificar os fatores associados às mudanças e descaracterizações da arquitetura e memória coletiva das edificações da Rua Barão de Itapetininga, localizada no Centro Histórico de São Paulo, por meio de alguns questionamentos sobre como ocorreu a expansão do comércio e as transformações da sociedade no período histórico em questão. Identificar a existência de atuais projetos e medidas que colaboram com a preservação da memória e patrimônio, comparar algumas as mudanças nas características das edificações através das adaptações. Analisar os desdobramentos do processo de crescimento econômico da cidade de São Paulo e a consequente urbanização , verificar as mudanças ocorridas dentro da sociedade com a vinda do progresso , comparar algumas alterações ocorridas nas edificações de imóveis para identificar os possíveis danos causados ao patrimônio.

Em resposta a problemática, esclarecemos que essa pesquisa parte da hipótese da descaracterização das edificações na Rua Barão de Itapetininga, para recepcionar as novas exigências do progresso, como a expansão comercial e crescimento urbano a partir do século XX , desse modo afetam a preservação de sua Memória , Patrimônio Histórico e diretamente a Memória Coletiva , envolvendo a perda de identidade histórica e impossibilita no- vos estudos e interpretações no espaço.

O presente estudo é caracterizado através de pesquisa historiográficas e documental, visando ampliar o grau de conhecimento sobre o problema em obras e teorias que abordam o mesmo gênero afim de conhecer e analisas as principais contribuições teóricas sobre o assunto.

Na perspectiva de Michale Pollak (1898 e 1992), utilizaremos o conceito sobre a importância da memória individual e coletiva e a construção de identidade social. Nessa mesma linha na perspectiva Jacques Le Goff (1990), utilizaremos os conceitos sobre os vínculos de memória entre as gerações humanas. Na perspectiva de Pedro Paulo Funari (2009), utiliza- remos os sobre a construção do conceito de patrimônio histórico e cultural.

3. A IMPORTÂNCIA DA MEMÓRIA COLETIVA

Quando falamos em centro histórico ou cidades históricas, devemos pensar que isso significa uma forma de escrever história, tanto a cidade quanto a escrita sobre ela fazem parte de um processo de memorização individual e coletiva. A memória da arquitetura urbana cumpre o papel de reproduzir as experiências construídas por uma sociedade, isso inclui visão de mundo, influências, cultura, economia, gestão de trabalho, desenvolvimento e outros fatores. Se observarmos a história das grandes civilizações como Gré- cia, Roma, Egito, teremos uma visão mais apurada da importância pela preservação da memória e patrimônio, hoje algumas ruinas ajudam a recontar a história do que em outrora fora sinônimos de poder econômico, ar- te, força e religiosidade. As Pirâmides no Egito, o Partenon em Atenas, os Castelos Medievais Europeus, o Coliseu em Roma, nos permite questionar e conhecer através dos historiadores as características de uma sociedade. Segundo Michel de Certeau (1998), Roma conhece a arte de envelhecer curtindo todo seu passado.

O historiador francês Jacques Le Goff (1994), reflete sobre a imortalização da memória coletiva para ele existe uma associação entre os documentos segundo a escolha do historiados e os monumentos como herança do passado. Por tanto um monumento histórico representa as marcas da evolução de uma determinada sociedade ou indivíduos, que reflete sobre a mentalidade e potencialidade dessa sociedade que os produziu.

No texto Memória, esquecimento, silêncio, Michael Pollak (1989) nos mostra pontos importantes para a construção de uma memória coletiva de modo que os vestígios e experiências de uma pessoa, grupo ou nação , ignorados ou esquecidos em determinados momentos tornam –se pontos de referência para um estudo histórico, entre os tais vestígios está o patrimônio arquitetônico com sua estética que por muitas vezes decifram questões como: posição política, econômica e poder. Segundo Pollak (1992) a metodologia de Durkheim, sociólogo positivista, analisa os fatos sociais como coisas e que os pontos de referências empíricos de uma memória coletiva ajuda a conserva a consciência do passado , perceber o que os diferenciam uns dos outros ( classes sociais ) além de fortalecer a ideia de pertencimento, portanto há uma estrutura para a construção desse tipo de memória e está vinculada à hierarquias e classificações de um grupo.

Sabemos que o trabalho de interpretação de fatos ou eventos históricos é um campo muito delicado, pois a história é uma coleção de momentos, vivências e pontos de vista diferentes, verdades, omissões, ideologias, dominações e interesses que são colocados a partir do que se deseja construir. Ao iniciar uma investigação de fatos supostamente ocorridos deve-se levar em conta também as experiências e narrativas de pessoas comuns, esquecidas ou silenciadas pelas elites, (E. P. Thompson,1987). Michel Pollak(1992) nos fala sobre a memória individual ou lembranças individuais, também conhecidas como História Oral, são histórias de vida ( individual ou grupo ), usadas hoje como uma nova área de pesquisa feitas através de relatos, dentro dela encontra-se as memórias vividas por tabela, que se dá quando não se vivencia de fato a um acontecimento, mas foram vividos por um grupo a qual a pessoa pertence, tornando-se uma espécie de memória herdada , principalmente se o acontecimento ou período marcou a sociedade de forma negativa.

É impossível visitarmos o centro histórico ou centro velho de São Paulo e não nos depararmos com sua formosa arquitetura que reúne beleza, representa e identifica a cidade em momentos diferentes. Quando Pollak(1992), elucida sobre os acontecimentos vividos por tabela, podemos associar a alguns exemplos de edificações , pois são uma espécie de ligação entre o passado e o presente. O antigo edifício do Dops - Departamento de Ordem Política e Social, localizado próximo a estação da Luz, inaugurado em 1914, inicialmente utilizado para abrigar armazéns e escritórios da Cia So- rocabana, tornou-se cenário de prisão e tortura aos presos políticos no período do Regime Militar no Brasil (1964 – 1985). Hoje, o local abriga o Memorial da Resistência, para manter viva a memória podendo ela ser coletiva, individual ou quase herdada de um período severo da política brasileira que não pode ser esquecido, de fato ao observarmos sua arquitetura, não conseguimos desvincula-la ao período.

São acontecimentos dos quais a pessoa nem sempre participou mas que, no imaginário, tomaram tamanho relevo que, no fim das contas, é quase impossível que ela consiga saber se participou ou não. Se formos mais longe, a esses acontecimentos vividos por tabela vêm se juntar todos os eventos que não se situam dentro do espaço-tempo de uma pessoa ou de um grupo. É perfeitamente possível que, por meio da socialização política, ou da socialização histórica, ocorrido um fenômeno de projeção ou de identificação com determinado passado, tão forte que podemos falar numa memória quase que herdada. (Pollak,1992)

3.1. A formação de conceitos sobre Patrimônio Histórico e Individual

Segundo Pedro Paulo Funari e Sandra C A. Pelegrini (2009), quando falamos em patrimônio individual, automaticamente somos remetidos a ideia de tudo aquilo que transmitimos como herança, que variam de bens imóveis, monetários a pequenos objetos com valores sentimentais ou conhecimentos passados a gerações. Já o patrimônio coletivo discorre a ideia de que devido a multiplicidade de pontos de vista, ou seja, o que é patrimônio para uns, não é para outros, que os interesses sociais entre os governantes e a sociedade muitas vezes não coincidem, sugere uma breve análise sobre como o patrimônio foi visto ao longo do tempo e dos grupos sociais.

Patrimônio, de origem latina Patrimônium era utilizada pelos antigos romanos , e se referia tudo que pertencia ao pai da família ou senhor, logo, além dos bens moveis e imóveis, mulheres, filhos e escravos também faziam parte do patrimônio legado em testamento. Uma vez que a maioria da população romana não era proprietária, podemos concluir que tratava-se de uma transmissão de valores patriarcais e aristocráticos.

A predominância do cristianismo ainda no final do século XV, acrescenta ao patrimônio aristocrático o caráter religioso, com a valorização de relíquias e santos, valores espirituais, materiais, lugares e cultos. Ainda que o patrimônio fosse restrito a aristocracia, a religiosidade colabora com a elevação de uma ideia de pertencimento entre a população, o culto religioso trouxe as pessoas comuns um sentimento de participação desse patrimônio , em resposta as elites se encarregam de demarcar as diferenças dominando as paisagens físicas e espirituais com a criação de igrejas monumentais e ca- tedrais. A chegada do Renascimento trouxe uma iniciativa dos humanistas em fundar o que conhecemos até hoje como Antiquários, a busca por vestígios da Antiguidade resgata os valores da cultura greco-romana , mas é considerado apenas como um colecionismo entre os intelectuais , não caracteriza mudanças no conceito de patrimônio, e tão pouco inclui a massa como pertencente a ele.

Até o século XVIII, os Estados europeus ainda eram religiosos e monárquicos, os reis eram escolhidos pela Igreja Católica como uma espécie de intervenção divina, os moradores dos reinos não eram propriamente cidadãos uma vez que os reinos eram compostos por pessoas de diferentes regiões, eram apenas súditos e deviam fidelidade ao rei. Assim, a cultura desses habitantes eram diversificadas, muitas vezes nem falavam a mesma língua, entre eles estavam os fidalgos, clérigos, nativos, plebeus e nobres. Desse modo o patrimônio não fazia parte de um coletivo, permanecia de maneira privada para os colecionadores aristocráticos, conceito que mudaria com a formação dos Estados Nacionais, principalmente após a Revolução Francesa, que destruiria os fundamentos dos reinos antigos. A partir de então com criação de um novo modelo de governo era necessário a criação de cidadãos que compartilhassem o mesmo solo , falassem a mesma língua e tivessem valores incomum , criando uma nova identidade e firmando o nascimento de um Estado Nacional, com isso, o conceito que temos de patrimônio até os dias de hoje está fundamentado nesses princípios de coletividade de um povo e não mais nas mãos de um grupo privado de colecionadores aristocráticos.

O Estado Nacional surgiu, portanto, a partir da invenção de um conjunto de cidadãos que deveriam compartilhar uma língua e uma cultura, uma origem e um território. Para isso, foram necessárias politicas educacionais que difundissem, já entre as crianças, a ideia de pertencimento a uma nação.(Funari,2011)

Os modernos Estados Nacionais, seguem dois modelos jurídicos, o Roma- no e o Consuetudinário. Resumidamente o consuetudinário anglo saxão, dá ao proprietário o direito sobre os bens encontrados na propriedade privada podendo ser vendidos mesmo que contenham valor histórico. Já no direito Romano, a propriedade privada está sujeita a restrições que derivam dos direitos dos outros e da coletividade em geral, a França se enquadra neste modelo.

Na França, em pleno período de revolução criava-se uma comissão para a preservação dos monumentos nacionais, que alcançou sua amplitude apenas no século XX, essa comissão visava preservar o patrimônio e proteger os monumentos da cultura francesa, logo essas medidas legais tomaram uma proporção que passou a definir mesmo nas propriedades privadas o que era considerado como patrimônio nacional.

Entre os anos de 1914 a 1945, período de guerras, cresce o desejo de uma identidade nacionalista, alguns vestígios considerados como parte dos antepassados das nações, principalmente aos ligados a dominação eram vinculados a essa construção.

Assim, os italianos usavam os vestígios dos romanos para construírem uma identidade calcada nesse patrimônio, restaurado, glorificado, exaltado como o exemplo do domínio do mundo pelos romanos e seus herdeiros, os italianos. Não foi a toa que o nacionalismo italiano usava símbolos materiais do poder romano, como o feixe, do qual deriva o próprio nome do movimento nacionalista, o fascismo.(Funari,2006)

No período pós-guerra, com a derrotas dos regimes nacionalistas fascistas na Itália, Alemanha e Japão, surgem novas interpretações culturais e patrimoniais, criação da criação da ONU – Organizações das Nações Unidas e da Unesco - Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura que fortalece as ações sociais e política, além do objetivo de manter a paz e a segurança entre países definem regras de proteção ao patrimônio histórico e cultural da humanidade. Essas novas interpretações ao reconhecerem as diversidades etnocêntricas e culturais, trouxeram mudanças significativas, mas inegavelmente mesmo quando falamos em dissolu- ção de ideologia nacionalista ainda encontramos resquícios eurocêntricos, grosso modo introjetados de maneira geral. Ainda no período pós–guerra, podemos observar o surgimento de vários movimentos em prol da adversidade, de grupos e interesses sociais diversificados, caracterizando o que poderíamos chamar de conflitos sociais internos, aparece também a luta em defesa do meio ambiente que em 1950, por meio de legislação as áreas escolhidas por suas características, estéticas ou científicas passam a ser prioridade nos processos de preservação para as futuras gerações, tornando-se assim Patrimônio Ambiental ou Natural.

Notoriamente, o processo de globalização colabora e facilita as relações culturais, os avanço tecnológico como a internet por exemplo, trouxe a oportunidade da integração de pessoas de diversos lugares do mundo a participarem de movimentos ,Ongs , discussões ,debates , entre outros meios sobre a conscientização da preservação do Patrimônio, seja ele Histórico, Cultural , Ambiental, Material e Imaterial.

Segundo dados do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural - Iphan , em 1972 ocorre a primeira convenção geral da Unesco referente a preservação do Patrimônio Mundial, Natural e Cultural da Humanidade entre eles encontram-se os monumentos, pinturas, sítios naturais, obras arquitetônicas, formações geológicas entre outros.

3.1.1. Patrimônio Histórico no Brasil

No Brasil, os rumos dos programas e atividades voltados a proteção patrimonial oscilam em sua transparência, podemos pressupor que os interesses econômicos atrelados ao progresso de certo modo sobressaem aos interesses de preservação. As medidas para a proteção do patrimônio cultural brasileiro passa a fazer parte do tema das cartas constitucionais a partir de 1930. A constituição republicana de 1934 declara o impedimento da retirada das obras de arte do território nacional e modera o direito de propriedade nas cidades históricas mineiras desde que as propriedades tivessem uma função social. O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN, surge em 1936 e em 1937 o Decreto-lei n.1937, viabilizava o pro- cesso de tombamento dos bens considerados de interesse coletivo.

Conforme informações do Conselho Regional de Arquitetura de São Paulo - Creasp, o tombamento é conjunto de ações realizadas pelo poder público sob legislação específica que visa preservar os bens de valor garantir a preservação dos bens culturais, da memória coletiva e, consequentemente, da identidade cultural dos grupos sociais, impedindo a sua destruição e/ou descaracterização. O nome Tombamento, tem origem em Portugal, vem da Torre do Tombo, ou do Arquivo localizado em uma das torres do Castelo de São Jorge, onde eram guardados documentos importantes que hoje fazem parte do Arquivo Central do Estado Português. O Tombamento é uma medida legal conveniente e segura, particularmente em relação a bens ameaçados pela descaracterização, destruição e pela especulação imobiliária.

Art. 6º. O tombamento de coisa pertencente à pessoa natural ou à pessoa jurídica de direito privado se fará voluntária ou compulsoriamente.

Entre os anos de 1940 a 1960 a administração do patrimônio conservou-se, permaneceu submetida ao Estado Brasileiro, como declara a Constituição de 1946. Em 1961, após uma campanha humanista do intelectual paulista Paulo Duarte, foi aprovada a única lei de proteção do patrimônio arqueológico, assim a Carta Constitucional de 1967 estabelece novas categorias de bens para a preservação, classificando também como patrimônio sítios arqueológicos vistos até então apenas como espaços com valor histórico.

Art 1º Os monumentos arqueológicos ou pré-históricos de qualquer natureza existentes no território nacional e todos os elementos que neles se encontram ficam sob a guarda e proteção do Poder Público, de acordo com o que estabelece o art. 175 da Constituição Federal.

Em 1973, o Governo Federal trouxe grandes contribuições nas políticas de preservação como Programa de Reconstrução das Cidades Históricas, houve também durante o governo Médice, o Programa de Ação Cultural (PAC). Já no final da década de 1970, criou-se a Fundação Nacional Pró- Memória (1979), na década de 80 foi priorizada a preservação dos espaços de convívio e a preservação de monumentos isolados.

As políticas de incentivo fiscal voltadas para a cultura reforçaram essa ampliação da noção dos bens a serem preservados. Conhecida como Lei Sarney, esta constitui um impulso significativo no âmbito da proteção do patrimônio, mas propiciou o desenfreado desenvolvimento do marketing cultural, que se consolidou nos anos de 1990. As políticas de preservação adotadas no Brasil daquele período sucumbiram à noção de cidade- espetáculo, ou seja, a transformação de cidade histórica em objeto de consumo (FUNARI; PELEGRINI, 2006).

Desse modo, os espaços seguem adaptados para novos usos, muitas vezes não resultando como proposto pelas Cartas Patrimoniais, mas como propõe as novas necessidades vindas com o progresso.

3.1.2. A Cidade de São Paulo: Da reestruturação à metrópole

Quando observamos nossa cidade, imaginamos como teria sido o processo de seu desenvolvimento para chegar ao nível que se encontra. Nada mais justo em meio a tantas ideias e pensamentos olharmos para sua arquitetura e retrocedermos alguns anos para entendermos um pouco sobre a construção de nossa identidade social, política, cultural e étnica. Ao compreendermos essas questões começamos a nos conscientizar sobre o valor pela preservação de tudo o que hoje faz parte de nossa memória individual coletiva.

Sabemos então, que a memória coletiva faz parte de nossa construção histórica, que o Patrimônio Histórico é o conjunto de bens materiais e imateriais que conferem uma certa identidade a um universo social, entendemos como se deu o processo das transformações sobre os valores e pensamentos atribuídos ao patrimônio no decorrer da história, bem como algumas políticas de preservação elaboradas, cabe-nos então analisarmos como tais conceitos pesquisados explicam nosso objeto de estudo.

Ao longo de seu desenvolvimento desde sua fundação em 1554, São Paulo passou por diversas transformações que remodelou a cara da cidade. Essas mudanças acompanharam as exigências do progresso que inevitavelmente definem as novas estruturas em diversos aspectos como as alterações nas edificações de prédios, ruas e casarões.

Um breve passeio na zona Central de São Paulo, nos revela as transformações em sua arquitetura e reestruturação do espaço para recepcionar as necessidades de uma nova composição social e cultural que envolvem o avanço da urbanização. Numa vi são panorâmica sobre as ruas do Centro, percebemos a beleza imponente de um edifício do século XIX que sobrevive ao tempo e contrasta com sinuosidade do concreto e modernidade do Edifício Copan, um verdadeiro encontro de fases do progresso.

Segundo a historiadora Mônica Raisa Schpun (2007), o ciclo do café no Brasil, iniciado no século XVIII, ganhou uma importância econômica nacional a partir do século XIX, principalmente no interior paulista, em meados de 1870 a 1930. Esse fator foi de extrema importância para a vinda da elite paulistana fazendeira (cafeicultores) para a capital, nesse período, a cidade de são Paulo que já passava por um grande processo de urbanização abriga os novos moradores e com eles as surgem exigências de adaptações e reorganização do espaço.

Esses novos moradores iniciaram uma remodelação do espaço, adaptando a cidade aos novos gostos e ao ideário dessas elites, detentoras do poder político estadual e nacional. Essa transformação gerou uma São Paulo que exibiu, na organização dos espaços e na forma de ocupação da cena urbana, toda a complexidade de um crescimento extremamente brusco e veloz, todos os conflitos sociais que a atravessam e toda a diversidade de sua população. A metrópole que surgiu dessa metamorfose passou a ser marcada por grandes contrastes, uma cidade de inúmeras fronteira ( SCHPUN,2007)

A modernidade por parte dessas elites conflita com o passado tradicional e sem elegância da cidade, logo, este modelo espacial não mais condizia com o ritmo de crescimento em que a cidade se encontrava, pois as grandes metrópoles como Nova York, Chicago e Londres, apresentavam uma outra lógica urbanística, assim, São Paulo para adequar-se á sua nova realidade como metrópole efetivamente deveria passar por transformações para apagar os aspectos ligados a seu passado provinciano. As demolições, as construções e as transformações foram efetivamente criando um novo cenário: prédios mais altos, trilhos de bondes seguindo a eletrificação, ruas mais largas, parques e praças em estilo art-nouveau, viadutos de metal e arquitetura eclética, composta de elementos neoclássicos, empregando novas técnicas e materiais de construção. ( SCHPUN,2007).

O encontro do passado e o moderno articulava fortemente no inicio do século XX, as torres de antigas igrejas coloniais, as torres de fábricas e as torres dos arranha- céus, sinalizavam o crescimento urbano e as novas construções da memória, já não mais interessava uma identidade rústica, mas sim moderna. Obviamente, essas transformações na estrutura urbana não ocorre da noite para o dia , a velocidade do crescimento e a falta de planejamento geraram um descompasso visível entre a urbanização e as exigências criadas pela explosão demográfica ( SCHPUN,2007).

A segunda fronteira que salta aos olhos é a social. Os lugares onde vivem e circulam as elites são testemunhas de seu sucesso econômico, tão grande quanto recente. O grupo construiu, para si mesmo, e a seus olhos, uma cidade verdadeiramente moderna, provendo o espaço paulistano de todos os equipamentos, inclusive de lazer, que permitissem a seus membros se reconhecerem como grupo dominante e se orgulharem de sua obra. Assim, o processo de transformações do espaço urbano combinou o crescimento caótico com uma política paralela que organizou, para as elites, uma cidade dentro da cidade, circuitos exclusivos e diferenciados. ( SCHPUN,2007).


Teatro Municipal de São Paulo de 1911/Arq. Estadão

Na perspectiva de SCHPUN (2007), entre 1900 e 1910 a paisagem urbana da cidade já havia se transformado completamente, ela ressalta também que os projetos do prefeito na época Antônio Prado e o plano Bouvard , colaboraram com a abertura de novas ruas, praças, inclusive a reforma da praça da República e a construção da nova Catedral da Sé, em 2013, nessa mesma linha, a cidade incorpora ares europeus com gramados bem aparados, a criação de parques como o do Anhangabaú convidava a passeios sofisticados e o Teatro Municipal (1911), inspirado na Ópera de París, complementa o glamour sobre a nova ótica da cidade.

O centro concentrou, nos novos e ecléticos palacetes, o mercado financeiro, o comércio sofisticado e os espaços de lazer destinados às famílias ricas e aos homens de negócios. O chamado Triângulo, delimitado pelas ruas Direita, São Bento e 15 de Novembro, aliou-se às demais áreas refeitas, para compor o circuito voltado às elites. Foram afastados todos aqueles que não podiam enfrentar uma inflação imobiliária exorbitante: entre 1916 e 1936, o preço do metro quadrado aumentou 450% na parte mais valorizada do centro e 364% nos outros setores centrais, menos procurados. ( SCHPUN,2007).

No processo de urbanização a separação das zonas de comércio e residência foram organizando seus espaços, logo, as regiões residenciais foram delimitadas, a instalação das elites nas regiões mais altas considera- das de bom gosto como por exemplo os Campos Elíseos e centro foi se caracterizando como área comercial e financeira, adaptando seus casarões e edifícios para receber o comércio, entre tanto com as especulações imobiliárias na região central, empurrou as habitações populares para as zonas periféricas ou baixas próximas aos rios sofrendo os reflexos das cheias. O lazer também foi segregado, com fronteiras bem delimitadas, do lado das elites, os clubes exerceram um papel chave: eram espaços privados que garantiam sociabilidade exclusiva. Alguns se destacavam por sua sofisticação, como o Jockey Club de São Paulo (1876), o Club Athlético Paulistano (1900), o Automóvel Clube (1908), a Hípica Paulista (1911) e o Harmonia (1930). (SCHPUN,2007).

Esse panorama das transformações iniciais da cidade trazidas pela urbanização, mostram as alterações sofridas não só na arquitetura, mas também a separação de classes, além disso, notoriamente o conceito de memória coletiva, vai sendo construída no decorrer das mudanças e entre elas os interesses das classes dominantes.


Hipódromo da Mooca, 1930 : Acervo/Estadão

4. A RUA BARÃO DE ITAPETININGA

Segundo dados do Arquivo Histórico de São Paulo, da Subprefeitura da Sé, Joaquim José dos Santos Silva o Barão de Itapetininga, nasceu em São Paulo aos 16/11/1799, filho do Coronel Joaquim José dos Santos e de Antônia Josefa Mendes da Silva e faleceu no dia 11/06/1876. Foi grande capitalista e proprietário em São Paulo, residiu durante muito tempo em um prédio de sobrado na atual Rua Líbero Badaró, que foi desapropriado para a construção do Viaduto do Chá. Casou-se pela primeira vez com Ana Eufrôsina Pereira Mendes ou Ana Pereira dos Santos, com a qual teve a filha Maria Hipólita dos Santos, casada com o Barão de Rio Claro e, depois, com o Marquês de Três Rios. Em 1861, o Barão de Itapetininga casou-se pela segunda vez com Cerina de Souza e Castro, com a qual teve a filha Antônia dos Santos. O título de Barão foi-lhe concedido por D. Pedro II aos 23 de Dezembro de 1863, O Barão possuía uma propriedade herdada de seu tio, Cel. Francisco Xavier dos Santos, conhecida como "Chácara do Chá", localizada no também Morro do Chá, cujos limites eram o Vale do Anhangabaú, Largo da Memória, Rua Sete de Abril, Av. Ipiranga e Praça da Re- pública até a Av. São João e desta, até o Vale do Anhangabaú. No ano de 1862 a Câmara Municipal foi autorizada a abrir uma rua que ligasse a Praça da República à Rua Formosa, após protestar, o Barão impediu que esta rua fosse aberta. No ano de 1875, porções de terras foram desapropriadas no Morro do Chá para a abertura desta rua que deveria chamar-se "Rua do Chá". No dia 07/05/1875, o vereador José Homem Guedes Portilho, propôs que a rua recebesse o nome de Barão de Itapetininga, o que foi aprovado, nome oficializado pelo ATO nº 972, de 24 de agosto de 1916. No ano de 1904, a Prefeitura concedeu favores fiscais para os proprietários de terre- nos nesta rua para que pudessem edificar, visando a ocupação de espaços vizinhos ao Teatro Municipal, a partir da década de 40, a rua Barão de Itapetininga passou a ser uma das mais elegantes da cidade.

A rua somente foi aberta 1875, após a morte do Barão, funciona como eixo de ligação entre as importantes ruas da Rua como a Rua Direita, Largo do Arouche, passando pela Praça da República.

A Rua Barão de Itapetininga nas primeiras décadas do século XX foi uma das mais elegantes ruas da cidade. Personalidades ilustres da sociedade paulistana, nomes da alta costura feminina como Maison Madame Rosita, especializada em artigos de pele, endereços conceituados como Confeita- ria Fasano e seu serviço requintado de decoração impecável com lustres de cristal, a Casa Levy de Pianos, a Casa Los Angeles de artigos esportivos finos.


Rua Barão de Itapetininga 1905 Fonte: Pinteret

A confeitaria e casa de chá Vienense instalada no Edifício da Paz , número 262 da Rua Barão de Itapetininga, construído em 1913, também foi ponto de encontro de grandes e intelectuais da época, o mesmo local abrigou Es- cola de Danças e Boas Maneiras Madame Poças Leitão, fundada em 1915 por Madame Poças Leitão, professora de dança, francês e boas maneiras para a elite paulista, figura importante na história da Dança de Salão no Brasil.

Entre outras personalidades temos Monteiro Lobato e seu sócio e escritor da Editora Brasiliense Caio Prado Júnior, fundada em 1943, instalada no Edifício Jaraguá número 93 da Barão de Itapetininga e funcionou no endereço até meados de 1980. O local também foi residência de Monteiro Lobato, que viveu no 13º andar em seus últimos anos de vida. Hoje é simbolicamente homenageado no local apenas por uma placa em memória fixada na entrada do prédio, mencionando sua passagem, sem grandes detalhes. O apartamento que lhe serviu como moradia está descaracterizado e abriga uma agência de empregos.


Placa Homenagem Monteiro Lobato / Priscila Mendes

Segundo informações da ANPUH - nos Anais do XXI Encontro Estadual de História de 2012 , Monteiro Lobato teve uma grande participação na história do Brasil , não só por seu destaque na literatura , mas também em outros aspectos, vale lembrar que em sua carreira como escritor literário sofreu perseguição pela Igreja Católica , quando foi denunciado pelo padre Sales Brasil , por sua obra “História do Mundo Para as Crianças” , como sendo um livro que incitava o comunismo às crianças. Em 1927, foi nomeado pelo presidente Washington Luís, como Adido Comercial do Brasil em Nova Iorque. No período em que morou nos Estados Unidos (1927-1931) elaborou propostas para o desenvolvimento do Brasil e tentou colocá-las em prática das quais se destacam a produção de ferro e a exploração do petróleo. Em seu regresso ao Brasil, constata a lentidão do desenvolvimento brasileiro, inaugura empresas de ferro e petróleo para fazer perfuração, e assim tentar dar um salto na economia do país , mas em 1935, Monteiro Lobato, escreve uma carta a Getúlio Vargas, criticando a visão unilateral dos nacionalista em relação a entrada do capital estrangeiro e defendendo a necessidade de uma revolução econômica, o que culminou alguns anos depois (1941) com a sua prisão, por delito contra a Segurança Nacional. Na verdade outras provocações ocorreram antes de sua prisão, uma delas foi a publicação de um artigo no jornal O Estado de São Paulo, falando sobre o escândalo do petróleo onde Monteiro Lobato, fazia acusações do governo Vargas.

No antigo número 70 da Barão de Itapetininga, esquina com a Praça da República , também foi palco de acontecimentos históricos.

Foi ali que ocorreu a célebre manifestação de 23 de maio de 1932, que terminaria com quatro mortos : Euclides Bueno Miragaia, Antônio Américo de Camargo Andrade e Mário Martins de Almeida. Dráusio Marcondes de Sousa, de apenas 14 anos atingido durante a troca de tiros. As siglas de seus nomes e sobre nomes MMDC, foram oficializadas através de um decreto em agosto do mesmo ano pelo então do governador Pedro de Toledo, como entidade do movimento constitucionalista.


Arquivo Jorna Estado de São Paulo

De acordo com informações da Associação Nacional de História - Seção São Paulo - Santos – ANPUH, em Anais Eletrônicos XXII Encontro Estadual de História, no início dos anos 50, a Rua Barão de Itapetininga ainda era endereço e palco de comércio sofisticado da cidade de São Paulo, o luxo sedutor das vitrines era um convite para uma circulação mais lenta, para olhares mais pausados e mesmo para o footing: era um lugar para ver e ser visto. No entanto, junto àquele glamour, os jornais chamavam a atenção para o crescimento assustador do número de pedintes na capital, para uma “verdadeira invasão” de mendigos que o centro vinha sofrendo. Este contraste mostra o conflito quase que permanente com relação à circulação e à ocupação dos espaços da cidade, principalmente no que se refere ao centro, (Mariza Romero, 2014).

A Rua Barão de Itapetininga , a partir da década de 50 , passa a concentrar os comércios e os serviços profissionais orientados para o atendimento as camadas de mais alta renda (Vilaça, 2007).

Segundo estas informações obtidas no site da Prefeitura de São Paulo, nos anos 50 São Paulo, viu sua população passar de pouco mais de 2 milhões de habitantes para mais de 3,5 milhões. O dinamismo da economia refletia- se então no aumento da população: a cidade crescia impulsionada pelo movimento de expansão do setor industrial. As correntes migratórias respondiam por grande parte do crescimento demográfico e eram geradas especialmente na região Nordeste, trazendo mais e mais pessoas, atraídas pela possibilidade real de incorporação dos recém chegados ao mercado de trabalho, seja nas fábricas, seja na construção civil. Na segunda metade da década a indústria automobilística tornou-se o motor do crescimento econômico, com as novas fábricas instaladas em municípios vizinhos ao da capital, na região que ficou conhecida como ABC (Sto. André, S. Bernardo e S. Caetano do Sul). A região central de São Paulo fora ocupada pelos arranha-céus, tanto na porção de seu núcleo histórico, a leste do vale do Anhangabaú, conhecida como Centro Velho - abrigando especialmente sedes de bancos e instituições financeiras como na porção oeste do vale, em direção à praça da República e conhecida como Centro Novo – onde se instalaram sobretudo atividades comerciais e de serviços, em ruas como Barão de Itapetininga, Xavier de Toledo, Conselheiro Crispiniano, 24 de Maio, Dom José de Barros.

Nos anos que se segue, a cidade tornou-se assim, o centro de consolidação da sociedade urbano-industrial, de surgimento de uma sociedade de massa, de concentração das forças que estimulam a modernidade da cidade e da emergência de camadas populares, tanto as camadas de trabalhadores inclusos no mercado de trabalhos formais, quanto informais sobreviviam às custas de trabalhos criativos como os serviços de camelôs, disputam palmo a palmo os espaços nos centros urbanos.

A preservação do Patrimônio, quanto as características arquitetônicas que em outrora representou a identidade de uma sociedade, hoje perde espaço para empresas de diversos segmentos. A rua Barão de Itapetininga em específico, ainda tem como concorrente em seu espaço, os anunciantes ambulantes de compra e venda de ouro e oferta de emprego, as empresa de Call Center, que crescem absurdamente e empregam um número significativo dos moradores da cidade, empresas do ramo alimentício como os fast foods, bancos, agências de empregos, lojas de diversos segmentos, ganham espaço na Rua Barão de Itapetininga, bem como em todo centro histórico de São Paulo, sem grandes preocupações com a preservação, mas apenas com a expansividade do comércio e seus lucros.

No Brasil, a má preservação do patrimônio histórico, causa danos irreversíveis cada vez um patrimônio é demolido ou descaracterizado. Mesmo com o reconhecimento das autoridades responsáveis sobre a importância do patrimônio histórico, ainda não conseguem responder de forma adequada mantendo ou recuperando os prédios, monumentos e antigos conjuntos industriais. Ações da sociedade civil ao menos têm conseguido alertar sobre a importância do patrimônio histórico, de seu valor material, estético, que conserva em si fragmentos da história de um lugar, comportamentos, conquistas, derrotas, entre outros os fatores que constroem uma sociedade. É por muitas vezes difícil não reconhecer que a há incompatibilidade de al- guns imóveis com o crescimento contínuo da cidade, porém, ainda em no- me da construção da memória, da reinterpretação ou manutenção do passado podemos dizer que os projetos e a luta pela preservação do patrimônio quanto sua identidade sempre esbarrará em interesses de poder e manipulação de dados com teor histórico numa contínua discussão sobre o que se quer preservar e o que se quer esquecer. A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma a que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens. (LE GOFF, 2003).

5. CONCLUSÃO

Ao lançar um olhar para o passado, é possível enxergar uma nova perspectiva que talvez nunca tenha sido observada. É a possiblidade de dar vozes àqueles que não a tem mais e a possibilidade de dar luz à caminhos antes escuros, sombreados pelo tempo e esquecimento. A busca por vestígios para a reconstrução de um passado tal qual ele foi, seria impossível, mas sim uma representação capaz de nos fazer perceber o quão importante ele foi e ainda é.

O presente trabalho levantou as questões sobre a importância da preservação da memória coletiva e individual que está diretamente ligada a preservação do patrimônio histórico. Quando falamos em patrimônio histórico, falamos também de uma forma de escrita, pois a cidades contam sua própria história, através de sua arquitetura, seus monumentos, sua estrutura, tudo isso colabora como vestígio e objeto de estudo que leva ao historiador tentar compreender as transformações de uma sociedade e contribuição na formação de sua identidade. Conforme mencionado na pesquisa, de acordo com Le Goff (2003), a memória por conservar certas informações, contribui para que o passado não seja completamente esquecido. O passado é capaz de trazer identidade e sentido, é como olhar a Praça da Sé, e não compreender sua importância para nossa cidade.

As mudanças ocorridas com o progresso desenfreado da cidade, em especial a partir de 1950, trouxe mudanças significativas para o Centro Histórico de São Paulo. O abandono da Elite quanto moradores e o crescimento da especulação imobiliária, tornou o centro um ponto comercial que gerou e ainda gera uma disputa acirrada para o uso do espaço em vista do número elevado da circulação de pessoas e instalação de empresas de diversos segmentos ao longo dos anos. A Rua Barão de Itapetininga, que em outros tempos abrigou o glamour da mais alta sociedade, hoje, conforme dados colhidos, ainda é uma rua bastante frequentada, mas seu público é restrito a empresários e trabalhadores, além do comércio informal e pedintes. De acordo com essa pesquisa e respondendo nossa problemática, a Rua Barão de Itapetininga, sofreu algumas transformações arquitetônicas e com elas a perda de parte de registros históricos, a exemplo o apartamento de Monteiro Lobato, que sofreu drásticas mudanças, ou uma descaracterização total para o comércio e não um memorial em seu nome.

A rua foi cenário de alguns movimentos populares, serviu de trajeto para a Marcha da Família com Deus pela Liberdade antecedeu o Golpe Militar de 1964, teve como morador o ilustre príncipe dos poetas Guilherme de Almeida, integrantes da Semana de Arte Moderna de 1922. Além de imóveis, a rua também abrigou um o cinema que sobreviveu até o final do século XIX, o teatro porém pela dificuldade encontrada em fontes de pesquisa confiáveis, não foi possível abordar o assunto no trabalho.

No mais, a importância pela preservação do Patrimônio histórico é extremamente relevante, e o que esperamos é que o trabalho colabore para a compreensão ao menos inicial do que foi e ainda é a Rua Barão de Itapetininga e a importância da preservação da memória.

6. REFERÊNCIAS

FUNARI, P. P.; PELEGRINI, S. C. A. Patrimônio Histórico e Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006

GIARD, Luci. História de uma pesquisa. In: CERTEAU, M. de. A invenção do cotidiano: 1, Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994.

LE GOFF, Jacques, 1924 História e memória / Jacques Le Goff; tradução Bernardo Leitão ... [et al.] -- Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990..

POLLACK, Michael. Memória, Esquecimento, Silencio; IN: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989.

POLLAK, Michael. Memória e Identidade Social. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 5.n. 10,. 1992, p. 200-212).

ROLNIK, Raquel. O que é Cidade. 3ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2004.(Coleção Primeiros passos; 203)

THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa. 3 vols. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.

6.1. Sites consultados:

http://www.webartigos.com/artigos/a-historia-vista-de-baixo/103228/Acesso Aceso em: 10/09/2018

http://www.unesco.org/new/pt/http://www.cultura.sp.gov.br/portal/site Acesso em: 17/10/2018

http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,sp-identificara-edificios- tombados,20011121p8655

Acesso em: 22/10/2018

http://blogs.odiario.com/bahr-baridades/2012/12/02/confeitaria-vienense-marcou-sao-paulo/ Acesso em: 23/10/2018

http://www.anparq.org.br/dvd-enanparq/simposios/190/190-766-1-SP.pdf Acesso em: 23/10/2018

http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,sp-identificara-edificios- tombados,20011121p8655 Acesso em:23/10/2018

Acesso em:23 /10/2018 http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/d475b_37_T_Vale_do_Anhangabau.pdf Acesso em: 24/10/2018

http://guia.folha.uol.com.br/passeios/2014/02/1411177-galerias-de-rua-abrigam-chapelarias- discos-e-botequins-em-predios-historicos-de-sp.shtml

Acesso em: 24/10/2018

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/6a04b_11_Lista_imoveis_do_Parque_do_Anh angabau.pdf

Acesso em: 25/10/2018

http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2012/01/passeio-literario-no-centro-de-sp-resgata- historia-de-escritores.html Acesso em 25/10/2018

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/arquivo_historico/ Acesso em: 26/10/2018

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/arquivo_historico/arquivo_historico /index.php?p=1116 Acesso em: 26/10/2018

http://www.encontro2012.sp.anpuh.org/resources/anais/17/1336581885_ARQUIVO_CelsoCa rvalho_Textocompleto_ANPUH2012_DOC.pdf

Acesso em: 26/10/2018

http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,a-memoria-da-revolucao-de-32-nas-ruas-de- sp,10000061803

Acesso em: 26/10/2018

http://www.encontro2014.sp.anpuh.org/resources/anais/29/1406912950_ARQUIVO_ANPUH NordestinosemSaoPaulonosanos1950.pdf

Acesso: 27/10/2018

http://www.labcom.fau.usp.br/wp-content/uploads/2015/05/1_cincci/013.pdf Acesso em: 27/10/2018

http://colunas.cbn.globoradio.globo.com/platb/miltonjung/2010/02/23/barao-de-itapetininga- 37-um-endereco-para-a-historia/Acesso em 28/10/2018

6.2. Fontes:

  • Jornal – Folha de São Paulo
  • Jornal – Jornal do Brasil. - Site consultado: http://bndigital.bn.br/hemeroteca-digital/

  • Jornal Tribuna da Imprensa

7. ANEXO A - IMAGENS RUA BARÃO DE ITAPETININGA

7.1. Imagem I

Viaduto do Chá 1890


Foto269/Fotos Corporativas
Disponível : http://hagopgaragem.com/sp_comparativo5.html

7.2. Imagem V

Fundada em 1904 pelos irmãos Luiz e Fortunato , na rua Barão de Itapetininga 37,  empresa que começou fabricando carruagens de tração animal para transportes na cidade. Por Pedro Bizani/ Arquivo Jornal CBN.


Disponível: http://colunas.cbn.globoradio.globo.com/platb/miltonjung/2010/02/23/barao-de-itapetininga-37-um- endereco-para-a-historia/

7.3. Imagem II

Barão de Itapetininga , vista da Praça da República


Disponível: http://tudoporsaopaulo1932.blogspot.com.br/2011/05/tiros-na-praca-da-republica.html


Publicado por: Priscila Carvalho Mendes de Sousa

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