Geografia e Futebol - o esporte como produtor de novos espaços urbanos

RESUMO

Este estudo centrou-se na busca do resgate da importância do esporte, de maneira específica, do futebol no município de Vitória da Conquista. Procuramos não focar a discussão unicamente sobre os benefícios do esporte para a saúde do ser humano, mas, tratá-lo a partir das muitas possibilidades que proporciona dentro de uma sociedade, permitindo uma apreensão ampla e múltipla da realidade, onde o futebol passa a ser um fator gerador de novos espaços no urbano da cidade, como instrumento transformador e criador de novas relações para a sociedade em diferentes aspectos. Nos permitiu durante o processo de pesquisa identificar diversas práticas que se apropriaram da cidade e da mesma forma foram por ela apropriadas. O esporte pode ser tratado como um gerador de renda, integração, mobilidade social e também como uma proposta de mudança de vida, pois a partir dele muitos têm a possibilidade de buscar novos horizontes e perspectivas. Analisamos o caso do Esporte Clube Vitória da Conquista, que surgiu a partir de um trabalho social e conseguiu em menos de três anos uma ascensão no cenário esportivo estadual e representa fonte geradora de novas relações na sociedade que reflete diretamente em sua economia, lazer, cultura, enfim, criando um novo mapa dentro da cidade, revelando, por todos os lados a sua influência e cumplicidade com a população.

Palavras-Chave: Esporte, Saúde, Cidade, Cotidiano, Urbano, Acessibilidade

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é compreender a importância do esporte, de maneira especial o futebol, dentro do cotidiano da cidade, a sua influência na mobilidade espacial e as transformações no espaço urbano, a partir da prática do mesmo.

Para atingir o objetivo proposto, a análise se deu a partir de um território delimitado: o município de Vitória da Conquista, localizado no sudoeste do Estado da Bahia.

Enquanto metodologia de trabalho procurou-se refletir o tema iniciando com o resgate histórico do esporte, com ênfase no futebol, com a consulta em bibliografia específica e através de entrevistas com os apaixonados e responsáveis pela pratica esportista do futebol.

O futebol não foi analisado simplesmente como prática esportiva que trás benefícios à saúde, mas como opção de lazer, gerador de empregos temporários durante a realização de competições e impulsionador de desejos e sonhos, onde as diferenças enfrentadas hoje, as discriminações sofridas, sejam amenizadas ou deixem de existir a partir de uma vida vitoriosa como futebolista.

Enquanto tema relevante para o estudo da Geografia, destacou-se as políticas públicas no município voltadas para esta prática, no sentido de atender principalmente as comunidades de baixa renda, as carências e perspectivas para uma melhoria no desenvolvimento deste trabalho.

Foram ouvidas opiniões daqueles que praticam, vivem como profissionais do esporte, personalidades que foram precursores e permanecem como referência até os dias atuais, a sua influência na vida das novas gerações, pessoas que projetam o futebol para o futuro da cidade e de maneira especial, mostrando aspectos relevantes sobre as mudanças proporcionadas pelo futebol dentro da realidade urbana.

Abordamos questões como o esporte na sociedade, a origem de diversos esportes e o futebol de maneira especial como transformador e criador de novos espaços da cidade.

No primeiro capítulo, foi feita uma abordagem a respeito dos benefícios da prática esportiva para o ser humano, a origem desta prática em todo o mundo, no Brasil e de forma particular no município de Vitória da Conquista, falando um pouco de suas origens, a época de ouro nos esportes e a busca do resgate do futebol profissional no município, depois de experiências fracassadas que deixaram a cidade no ostracismo dentro do cenário estadual.

No capítulo segundo, demos ênfase ao Futebol como veículo de transformação do espaço local, não como um mero coadjuvante na realidade atual, mas relatando aspectos culturais, econômicos, sociais e políticos, que, de uma maneira ou de outra repercutem no espaço. As políticas públicas implementadas no município, a população atendida, o que isso gera para a sociedade e a experiência de quem conseguiu, a partir destes trabalhos, se destacar e aparecer para o cenário esportivo nacional. Retratamos ainda neste capítulo os equipamentos para prática esportiva existentes e disponíveis para a comunidade, o esporte como gerador de renda e de acessibilidade através de programas governamentais. Desde a implementação das políticas voltadas para o esporte na década de 70 do Século XX, quando teve início o “Esporte para Todos”, muitas mudanças aconteceram, inclusive quando a Constituição Federal de 1988 transformou-o em Direito do Cidadão. Foram criadas Leis para incentivo ao esporte, de proteção aos atletas, Bolsa-Atleta, e, mais recentemente, o Diagnóstico Esportivo Nacional e a Conferência Nacional dos Esportes (2004). Buscou-se relatar de maneira detalhada quais destas polícias são aplicadas em Vitória da Conquista, a população atendida e o que isso representa para este público. Apresentamos alguns relatos de pessoas que conseguiram sair de bairros pobres da cidade através da prática do esporte e hoje são destaques no cenário esportivo nacional.

O capítulo final dedicamos ao Esporte Clube Primeiro Passo de Vitória da Conquista, clube que surgiu no ano de 2005 e que começou a disputar competições oficiais em 2006. Neste percurso conquistou torcedores, mas, muito alem, disso, gerou divisas para a cidade em vários aspectos como empregos, arrecadação de impostos, transporte coletivo, entre outros. Destacamos ainda neste capítulo ao projeto do clube, que tem propostas ambiciosas para o futuro e tem levado consigo uma multidão de pessoas que acreditam e tem investido neste “sonho” alviverde.

CAPÍTULO I

ESPORTE: VALORIZANDO O SER HUMANO E CRIANDO NOVAS PERSPECTIVAS

A prática esportiva

Definir a prática esportiva, ou o esporte, poderia ser feito de maneira simples, bastando para isso a consulta de um ou dois dicionários, mas não mostraria a magnitude do que esta atividade representa e se faz ver em toda a parte.

Podemos partir da idéia de que o esporte é toda atividade física praticada que tenha a capacidade de produzir a satisfação e o prazer ao que se dedica a ele. Alem disso, é possível afirmar que esporte é uma atitude saudável e capaz de dar melhor condição de vida ao praticante.

O ser humano sente a necessidade de exercitar seu corpo para obter além de uma melhor condição física, uma saúde melhor e por que não um equilíbrio psíquico.

Existe uma infinidade de práticas esportivas diferenciadas, todas exigem esforço físico ou habilidade e podem ser praticadas individual ou coletivamente. Tais práticas ajudam ao esportista melhorar e buscar qualidades inclusive espirituais como a coragem, a disciplina e a constância.

Os limites estabelecidos em cada modalidade, os recordes, os melhores resultados, a vitória sobre os adversários foram se tornando uma finalidade concreta, passando a existir a partir destas constatações, os campeonatos, torneios e desafios esportivos.

A origem

Os esportes surgiram com as civilizações. No Egito e China já se praticavam alguns esportes, mas foi na Grécia o desenvolvimento dessas atividades aconteceu com uma maior clareza.

Na Grécia, entre os jogos celebrados, os Jogos Olímpicos eram os mais famosos, sendo uma homenagem a Zeus e aconteciam a cada quatro anos. As modalidades disputadas eram lutas, corridas, saltos em distância, lançamento de disco e dardo. As mulheres, além de não participar, ainda eram proibidas de assistir. Os campeões se torvavam verdadeiros heróis.

A “invenção” da bola influenciou na grande difusão do esporte, principalmente entre os egípcios, gregos, persas, romanos e índios americanos.

Dando um salto para os tempos mais atuais, chegamos a Europa, no Século XIX, onde o crescimento populacional despertou o interesse pelas atividades físicas, possibilitou a criação de equipes e posteriormente a organização de competições, com regras determinadas, com entidades para reger estas disputas e mesmo a organização destas entidades em ligas, federações e confederações. Os Jogos Olímpicos voltaram a ser realizados em 1896, sendo um grande impulsionador de competições internacionais, tendo como articulador o barão Pierre de Coubertin.

Relevância do Esporte

Além da produção da satisfação e prazer, o esporte passou a ser avaliado a partir de uma outra vertente, um caráter político-participativo e transformador. O esporte ganhou importância na formação dos indivíduos, proporcionando a compreensão de valores como respeito, solidariedade, participação, companheirismo, espírito de equipe e outros, da mesma forma importantes para o desenvolvimento humano.

Essa valorização culminou em 2005 com o estabelecimento de uma Política Nacional do Esporte, que trás em seu texto a importância do aspecto sócio-educativo, como direito social e de promoção do bem estar na sua perspectiva emancipatória. O documento diz ainda que “formular e implementar políticas públicas inclusivas e de afirmação do esporte e do lazer como direitos sociais dos cidadãos, colaborando para o desenvolvimento nacional e humano”. (BRASIL, 2005, p. 6). A Política Nacional do Esporte contou com o envolvimento de 83 mil pessoas na construção do texto, por meio da 1ª Conferência Nacional do Esporte nas fases municipais, regionais, estaduais – e nacional.

Já com base na nova política, os programas e ações do Ministério do Esporte priorizam o apoio ao fortalecimento da prática esportiva dentro da escola pública de ensino fundamental e médio, levando saúde, desenvolvimento humano e o referencial do esporte de alto rendimento, a favor das modalidades esportivas e para-esportivas.

O esporte deixa de lado a simples busca de resultados e superação de limites e passa a ver o lado educativo e do bem estar social.

O esporte pode ser entendido de três formas: o esporte-educação, voltado para a integração social e desenvolvimento do praticante; o esporte-performance, praticado em busca de rendimento visando a conquista de resultados e o esporte-participação, praticado simplesmente como lazer, livre de outras intenções ou interesses.

Através da prática esportiva muitas pessoas, especialmente os jovens conseguem ter uma vida mais saudável e muitas vezes, deixando de lado vícios como a bebida, as drogas ou mesmo a marginalidade.

Fabiana Tanajura Ferreira, atualmente praticando Tênis e Mountain Bike, ex-atleta da seleção conquistense de Vôlei, destaca o esporte como formador do cidadão.

Vejo a pratica do esporte como um diferencial na formação de um cidadão, na construção de uma sociedade mais saudável em todos os sentidos, contribuindo na integração do mundo e do individuo. Mas infelizmente estas outras praticas citadas em alguns casos levam os jovens a serem imaturos, inseguros, indecisos, menos integrados e menos felizes.

Luciana Moura Araújo Cardoso Pontes, uma das atletas de maior destaque na história do basquete em Vitória da Conquista, dá um depoimento a respeito da importância da prática esportiva.

Como depoimento pessoal gostaria de dizer que a prática de esporte desenvolveu em mim a auto-estima, a disciplina, o respeito ao próximo, a garra em superar minhas limitações, além dos benefícios físicos que tenho o privilégio de usufruir. Não importa a idade, o tipo de esporte, a companhia ou a disponibilidade de tempo para a sua prática. O que realmente interessa é dar o passo inicial e usufruir os benefícios que o esporte proporciona. Como máquina que somos (a mais bem elaborada do planeta), não fomos feitos para acumular energia, e sim para produzi-la em prol das nossas necessidades. Portanto, mãos a obra.

O Esporte em Vitória da Conquista

Pensar na influência que o esporte exerce dentro do município de Vitória da Conquista, leva-nos a fazer uma busca a um passado não tão distante, mas ainda assim especial e vitorioso, por vários aspectos. Pegando-se como parâmetro as três últimas décadas do século passado percebemos o quanto a prática esportiva mudou vidas, criou novos espaços na cidade, transformou a realidade de locais e mesmo proporcionou para muitas pessoas a retomada de suas vidas a partir de novas perspectivas.

Entre as décadas de 70 a 90, houve uma efervescência nos esportes, nas mais diversas modalidades e locais. Havia, principalmente nos colégios, uma preocupação com o incentivo ao esporte, o que atraía grande número de rapazes e moças para a prática de diversas modalidades esportivas e a partir daí surgindo inúmeras competições no âmbito local, intermunicipal e mesmo estadual. Os campeonatos intercolegiais de vôlei, basquete, handebol, futsal e tantos outros esportes, movimentavam milhares de pessoas todos os anos não só praticando, mas prestigiando estas competições, que se tornaram tradição.

Essas disputas revelaram um grande número de atletas, que aos poucos foram sendo “garimpados” e reunidos em seleções municipais, passando assim a buscar novos horizontes, representando a cidade em outros municípios da Bahia e de outros estados.

Fatos importantes e até mesmo curiosos marcaram para sempre esse período. Em 1982, por exemplo, o grupo Atividades Massicas conquistou um título no mínimo inédito. O time foi o primeiro campeão baiano de Vôlei de Praia, numa competição que envolvia 166 equipes e era a única equipe do interior, justamente de uma cidade não tem praia. Era formada por estudantes conquistenses que moravam em Salvador.

O destaque conquistado acontecia graças ao trabalho importante e heróico de um grupo de abnegados professores e promotores esportivos, que não tinham sequer uma praça esportiva que pudesse “abrigar” essas esportivas e dar uma condição ainda maior de desenvolvimento do esporte na cidade. Somente em 1981 a cidade ganhou um Ginásio de Esportes, com capacidade para três mil pessoas. Nesse momento histórico, grande parte daqueles que alavancaram a prática dos mais diversos esportes na cidade, já não mais praticavam esportes competitivamente e passaram a freqüentar este local como meros espectadores. Mas, uma geração de novos atletas foi sendo descoberta ao longo deste período e eles puderam desfrutar da nova praça esportiva.

Mas o que poderia ser uma alavanca para o progresso do esporte acabou abandonado por muitos anos, chegando a ser interditado devido a sérios problemas estruturais. O problema afetou tão profundamente a prática esportiva na cidade que nem mesmo a instalação de novas praças esportivas conseguiu reverter essa derrocada do esporte competitivo na cidade, ficando Vitória da Conquista longe das competições por muito tempo. Um ou outro atleta conseguia seu espaço, mais por um esforço pessoal do que um apoio conseguido. Quando tinha uma qualidade superior à média, buscava por conta própria seu espaço, principalmente fora da cidade, bancados na maioria das vezes pelos próprios pais ou empresários amigos.

Na opinião de Germínio Vieira, um dos atletas que ganhou destaque no basquete de Conquista no final dos anos 70 e anos 80 e também um treinador vitorioso do basquete feminino que revelou grandes atletas que chegaram a quebrar recordes nacionais e conquistar títulos brasileiros

“é impressionante que naquela época só tinha o Ginásio de Esportes e nós tínhamos esporte. Hoje nós temos 11 ginásios, fora as quadras cobertas e acabou o esporte em Conquista. Eu não sei o que aconteceu, mas acabou o esporte. Só para dar um exemplo: a TV Sudoeste faz um campeonato de Futsal, e não realizou em Conquista onde é sede da TV, porque não tinha equipe e espaço e ela foi realizar em Planalto, Cândido Sales e Barra do Choça, com todo respeito a essas cidades, mas Conquista não realizar um campeonato de Futsal, imagine Handebol, Basquete e outros esportes”.

Quem também se queixa desse esfriamento das competições tradicionais e que mobilizavam a juventude é o desportista Pedro Alexandre Jardim, conhecido por Massinha.

“A cidade se movimentava. Era Juvêncio Terra, São Tarcisio, Escola Normal, Abdias Menezes, Sá Nunes, Maria Viana, Centro Integrado, Paulo VI, Diocesano e tantas escolas. Cadê essas competições? Primeiro era na AABB e Clube Social, porque nós não tínhamos Ginásio de Esportes. Depois se constrói o ginásio, a gente sai da neblina que impossibilitava muitas vezes os treinos por causa do vento e do frio, tínhamos casa cheia para as competições e de repente tudo acabou”.

E o questionamento de Pedro Massinha continua:

“Eu não quero ser tão radical, mas eu não tenho ouvido falar dessas competições. Cadê nossos atletas. Parece que hoje ainda há um destaque nas piscinas, nos tatames, mas são atividades particulares de academias, é uma pena. Onde estão os campeonatos dos bairros, que eram tão participados, na Ester, o próprio campeonato do Bairro Brasil que nós organizávamos os campeonatos das Urbis, do Viaduto, acabaram... isso não pode acontecer. É preciso que a política, que tanto absolve do esporte nas épocas de eleições patrocinando troféus, medalhas e jogos de camisa, mas isso depois passa. Nada mais importante do que investir no esporte que é investir na juventude”.

Futebol, ainda o mais popular no Brasil

Falar de futebol como parte efetiva da vida urbana é um desafio. Desafio de buscar dentro do cotidiano de uma população, tratar deste esporte, não como uma mera diversão, mas como um transformador de espaço e por que não dizer, um gerador de nova espacialização.

Voltando um pouco no tempo, em busca da origem deste esporte, percebemos que a primeira dificuldade é estabelecer com clareza a sua origem. Historiadores descobriram que culturas antigas já praticavam esportes semelhantes ao futebol, pois tinham a bola como parte efetiva do jogo, mesmo que sem as regras e formato que o futebol tem na atualidade.

A simplicidade e as regras fáceis de assimilação podem ter sido a principal razão para que, ao longo do tempo despertasse tanto interesse e chegasse a ser hoje uma paixão não só brasileira, como também em cantos mais longínquos do planeta.

Não existe um espaço rígido para se praticar este esporte, nem mesmo equipamentos especializados ou vestes exclusivas para o futebol. Uma pequena área, uma bola de meia e pelo menos dois atletas e aí está um ambiente propício a prática deste esporte.

Na China Antiga, cerca de 3 mil anos antes de Cristo, os chineses jogavam um esporte onde a “bola” era a cabeça de inimigos derrotados nas guerras. Com o tempo, substituíram por bolas de couro com revestimento de cabelos e jogava-se entre equipes formadas por oito pessoas onde o objetivo era passar a bola de pé em pé sem deixar cair no chão até uma trave formada por duas estacas ligadas por um fio de cera.

Ainda no oriente, o Japão Antigo foi palco de um esporte também muito semelhante ao futebol, que levava o nome de Kemari. A bola era feita de broto de bambu e o campo tinha aproximadamente duzentos m², também com equipes de oito jogadores.

Na Grécia existiu o Episkiros, datado do século I a.C. com equipes de nove jogadores e num terreno retangular e com bola confeccionada de bexiga de boi. Em Esparta, os campos eram maiores e as equipes tinham quinze jogadores cada.

Na Idade Média estes esportes tomaram uma conotação violenta e normalmente eram praticados por militares divididos em duas equipes, uma de atacantes e outra de defensores, sendo permitido usarem socos, pontapés, rasteiras e outros golpes violentos, com equipes de vinte e sete jogadores. Eram comuns as mortes dentro de campo.

No século XVII o futebol propriamente dito surge a partir da criação de regras para o esporte praticado em outros países, especialmente na Itália, sendo as principais a delimitação do tamanho do campo, do número de atletas, e passou a ser praticado por nobres e estudantes. Surgem as traves e a bola de couro. Foi ganhando espaço entre a população, tendo suas regras estabelecidas em 1848, em conferência realizada na cidade de Cambridge. Em 1871 surge o goleiro, então chamado de guarda-redes. Quatro anos mais tarde foi estabelecido o tempo de 90 minutos e em 1891 criado o pênalti, para punir falta dentro da área. Em 1907 foi estabelecida a regra do impedimento.

Criada em 1904, a FIFA (Federação Internacional de Futebol Association) é a entidade que até hoje organiza o futebol mundial.

Futebol no Brasil

No Brasil, consta que o principal responsável pela chegada do futebol é o inglês Charles Miller, que após retornar da Inglaterra onde foi para estudar, trouxe uma bola em sua bagagem e as regras para a prática deste esporte. O registro da primeira partida de futebol no país consta de 15 de abril de 1895 num jogo entre funcionários de empresas inglesas do Funcionários da Companhia de Gás x Cia. Ferroviaria São Paulo Railway.

Incialmente funcionando como apenas mais um modismo importado dos ingleses, prática restrita aos poucos jovens da elite republicana, o futebol se popularizou rapidamente. Sua difusão espacial expressiva permitiu que se tornasse uma poderosa instituição nacional. (CALDAS, 1990; WITTER & MEIHY, 1979).

O primeiro time criado no Brasil foi o SÃO PAULO ATHLETIC, fundado em 13 de maio de 1888. Foi um esporte criado para atender apenas a elite, sendo excluídos os negros. O Vasco da Gama foi o primeiro time a admitir em seus quadros um jogador de cor negra, no ano de 1918 e com isso abriu caminho para que os outros clubes seguissem esse caminho. O Fluminense chegou a ter em seus quadros um jogador negro que pintava seu rosto de pó de arroz para atuar sem ser discriminado, daí o apelido que se dá aos torcedores do clube das Laranjeiras.

O Futebol no município de Vitória da Conquista

Em Vitória da Conquista o futebol chegou em 1917, com a criação de dois times: o Clube Ipiranga e o Clube Guanabara, que faziam a festa dos torcedores se enfrentando num campo localizado na rua Sete Casas.

No futebol profissional registra a existência de vários clubes defendendo as cores da cidade, sendo eles o Conquista E.C., Humaitá, Serrano, Conquista F.C., Serranense e atualmente o Esporte Clube Primeiro Passo de Vitória da Conquista.

A cidade, que nas décadas de 60 e 70 presenteou a Bahia com belíssimos jogadores de futebol, como Piolho, Jaimilton, Naldo, Neves, Tolica, Detinho, agora vive um novo momento, em que jovens da cidade e da região conquistam seu espaço e levam o futebol mais uma vez a se tornar uma paixão quase que incontrolável na cidade. O Esporte Clube Primeiro Passo de Vitória da Conquista, fundado em 2005, participou de sua primeira competição oficial em 2006, conquistando no mesmo ano de maneira invicta um campeonato estadual da segunda divisão e, em 2008, uma participação brilhante na divisão principal do futebol estadual, terminando a competição na terceira colocação e com a segunda melhor campanha entre os 12 participantes e garantindo participação na edição do Campeonato Brasileiro da Série C.

A nova fase do futebol na cidade trás à tona não só este esporte mas, desperta em crianças e jovens anseios até então adormecidos, de conquistar, através do esporte, seus sonhos mais distantes, como o crescimento como cidadão e como esportista, o sucesso profissional e a melhoria da qualidade de vida através do futebol.

Os campinhos de pelada, até há pouco relegados a segundo plano, estão muito mais movimentados. Os nomes dos ídolos, até então de outros cantos do país e do mundo, agora mais próximos. Ao invés de Pato, Tatu; Rafael em lugar de Ronaldinho; Rodrigues ao invés de Dida. E assim novos e apaixonados adeptos vão aparecendo a cada dia.

Roberto Ferreira, ex-diretor do Departamento Técnico da Federação Bahiana de Futebol é um dos que acredita no potencial esportivo da cidade.

“Tenho certeza absoluta que Vitória da Conquista tem um grande potencial. Digo isso por conhecer hoje bem melhor o nosso estado e outros estados na área esportiva. Temos aqui promotores de esporte e pessoas apaixonadas pelo esporte e que gostam de promover eventos desportivos com condições de sair daqui e ir para qualquer Federação ou órgão maior como gestor de esporte e se sair muito bem, porque competência os conquistenses tem demais”.

O Estádio Municipal Lomanto Júnior, construído em meio a um bosque de Eucaliptos, que tem capacidade para 15 mil torcedores, sendo 11.500 sentados e mais 3.500 nas áreas livres, em toda a sua história nunca foi tão visitado. Os bons resultados fazem com que o pequeno alviverde se torne grande e supere em presença de público os gigantes estaduais Bahia e Vitória.

Percebe-se aí também outra mudança. Pessoas de todas as idades, sexos, religiões; pobres ou ricos, negros ou brancos, unidos na defesa das cores da cidade, que, em outras épocas já foi azul e branco, verde e vermelho e agora é o verde e branco.

É uma opção de lazer que transforma e cria novos espaços, como define SANTOS (1985, p.49).

“O espaço não é estático; pelo contrário, encontra-se em constante processo de modificação e interação com o meio.(...) o espaço constitui uma realidade objetiva, um produto social em permanente processo de transformação. O espaço impõe sua própria realidade; por isso a sociedade não pode operar fora dele. Consequentemente, para estudar o espaço, cumpre apreender sua relação com a sociedade, pois é esta que dita a compreensão dos efeitos”.

Já SAMBUCETTI (1998) dentro dessa visão do esporte como gerador de novos espaços, afirma:

“no que tange à configuração territorial, os esportes merecem a observação cuidadosa (...), posto que sua prática implica transformações significativas na forma e na dinâmica territoriais. Primeiramente, o esporte deve ser encarado como uma atividade econômica, particularmente quando realizado em caráter oficial, de competição, e oferecido à sociedade (público espectador) como um artigo de consumo. Enquanto atividade econômica voltada para o entretenimento comercializado, o esporte precisa ser oferecido em lugares apropriados. São estádios, ginásios, pistas diversas, enfim, um amplo conjunto de equipamentos fixos na paisagem e geralmente de grande porte físico, o que resulta em maior capacidade de permanência. São também objetos de grande visibilidade na paisagem urbana, comparecendo assiduamente no repertório imagético da sociedade, como por exemplo nos mapas mentais”.

Das poucas centenas que começaram a prestigiar essa nova fase do futebol conquistense em 2006, aos 7.863 por partida no ano seguinte e os 9.015 em média a cada jogo no campeonato estadual deste ano, os espectadores fazem do “Lomantão” o seu lugar de encontro, lazer, relacionamento, namoro, comércio enfim, um espaço onde se encontram pessoas de várias classes sociais e que tem no futebol um elo de ligação, fazendo surgir este novo espaço inserido no urbano de Vitória da Conquista.

Os grandes estádios, por exemplo, são planejados de forma a facilitar o grande afluxo de espectadores em dias de importantes eventos, quando o longo silêncio das estruturas de concreto armado cede lugar ao delírio da multidão. Desta maneira, tendem a se inserir em áreas bem servidas de meios e vias de transporte, ou ainda, segundo tendência mais recente, localizar-se fora da área mais densamente urbanizada, de modo que o próprio equipamento crie a demanda de investimentos de melhoria da acessibilidade. Neste caso, não diferem de outros grandes objetos geográficos detentores de poder de reorganizar a base territorial circundante, como os modernos shopping centers. (MASCARENHAS, 2004, Revista Digital, Ed. 78)

Não dá para pensar mais o futebol sem falar no “bode do sudoeste”, como é conhecido o clube graças a seu mascote Zé Bodinho. A alegria contagiante nas arquibancadas como nunca a cidade tinha visto em sua história, leva aos bairros uma nova realidade para os garotos, que tem agora uma nova meta, um sonho renovado: ser um grande jogador de futebol. São dezenas, centenas de garotos, que todos os meses entram em contato com o clube em busca de uma vaga na escolinha ou nas categorias de base, correndo atrás de uma oportunidade de fazer parte dessa agremiação.

O estádio, na maioria das vezes tendo como público principal jovens e adultos, na maioria do sexo masculino, passa a experimentar uma nova configuração, com muitas mulheres, de variadas idades, e principalmente, é invadido por milhares de crianças, empolgadas com o time e com a possibilidade de ver de perto seus novos ídolos.

E essa “invasão” ultrapassa os limites do Estádio, passando para os campinhos de pelada, quadras e mesmo as ruas nos mais diversos bairros.

O lazer “barato” das crianças pobres, tem agora um objetivo maior: mudar de vida. Seguindo o exemplo dos jovens atletas do “seu time”, muitos passam então a desejar um futuro melhor a partir do futebol. Ele trás esperança e leva aos cantos mais carentes da cidade, uma expectativa de melhoria de qualidade de vida, da conquista de espaços, de ser alguém.

Um lugar que consegue através do futebol, criar um espaço para geração de empregos, mesmo que temporários, de construção de relações sociais, culturais e urbana e que, sobretudo, leva a imagem da cidade para outros cantos do país.

É impossível deixar de lado a presença contagiante do futebol no cotidiano do município, dos torcedores que vibram às tardes de domingo ou outro dia qualquer, às resenhas nos bares, a volta do até então esquecido radinho de pilha aos ouvidos do lavrador na zona rural e de maneira intensa, desfilando nos meios jornalísticos em suas matérias escritas, faladas e televisadas, eletrônica ou impressa. A vida cotidiana agora tem novo ponto de partida. O calendário de cada cidadão passa pelo calendário futebolístico. “Ele demarca os tempos e os horizontes da vida cotidiana”. (JESUS, 1996).

José Maria Areas, ex-atleta e treinador de esportes como basquete, futebol, handebol e outros esportes acha que existe organização, uma boa estrutura, mas alguma coisa precisa ser feita para despertar muitos jovens para essa prática tão importante.

Eu acho que hoje tem uma organização, tem tudo montado, tem uma secretaria, tem coordenação, mas me parece que os tempos são outros. A gente não pode criticar quem está comandando, porque eu acho que os tempos mudaram e alguma coisa terá que ser feita para ver se volta aquele tempo em que a gente jogava nas quadras abertas que ficavam lotadas, Conquista era muito mais fria, chovia demais e o esporte era bastante vivo. Hoje é diferente, os meninos vão para a Lan House, uma série de fatores que representam essa mudança, mas a estrutura é boa. Nenhuma cidade tem o material humano e a estrutura que Vitória da Conquista tem. O que precisa agora é se sentar, debater e descobrir maneiras que o esporte possa realmente voltar ao apogeu como era antigamente.

Diante deste quadro, Roberto Ferreira, um dos que crê neste potencial esportivo, recorda que para o sucesso ser ainda maior é necessária uma estruturação dos órgãos responsáveis pela promoção do esporte.

Acho que precisamos estruturar os organismos responsáveis pelo esporte na cidade para que os nossos atletas sejam não só descobertos, mas aprimorados e valorizados, já que levam o nome da nossa cidade aos mais diversos cantos. Nós temos por exemplo Minotouro e Minotauro, que são conquistenses, reconhecidos em todo o mundo e o esporte que praticam não é valorizado aqui na cidade. Outro exemplo é um clube de futebol em Vitória da Conquista. Pela primeira vez nós estamos tendo uma equipe de futebol toda estruturada, com muita seriedade, com um poder administrativo muito grande e deu certo, sabe porque, porque as outras equipes que já existiram tinham um dono, uma pessoa ou duas que trabalhavam e não se organizavam. Não tinham controle do que gastavam, do que arrecadavam e sempre resultou em fracassos. Acho que Ederlane teve uma visão muito importante, criando uma escolinha, trabalhando ali por vários anos, mas pensando no futuro e estruturando o clube profissional.

Vitória da Conquista - terceiro maior município do Estado da Bahia

Vitória da Conquista é a terceira maior cidade do estado da Bahia em termos populacionais, com cerca de trezentos e vinte mil habitantes e está entre os municípios que mais crescem economicamente na Região Nordeste. Em sua micro região, é considerada a cidade mais importante, com destaque principalmente para o comércio, indústria e agricultura. Está localizado na Micro Região do Planalto da Conquista, Sudoeste do Estado a uma altitude superior a 900 metros. Faz limite ao Norte com Anagé e Planalto; ao Sul com Encruzilhada e Cândido Sales; ao Leste com Barra do Choça e Itambé e ao Oeste com Anagé e Belo Campo. Vitória da Conquista possui as seguintes coordenadas geográficas: 14º 50´53” de latitude Sul e 40º 50´19” de longitude Oeste.

A distância em linha reta para Salvador é de 313 Km e por via rodoviária 512 Km. Possui área de 3.743 Km² divididos em 11 distritos, 284 povoados e a sede. A população atual, segundo estimativa do IBGE é de 308.204 habitantes (2007), mas, um fato significativo a ser destacado é o aumento da Densidade Demográfica que saltou de 83,08% em 2001 para 96,19% em 2007, que faz do município um dos 10 que mais crescem na região Nordeste do Brasil. Confira na tabela abaixo essa comparação ano a ano.

Tabela 1 - Demografia População estimada e densidade demográfica do município de Vitoria da Conquista

2001 -2007

Ano
População
Densidade Demográfica (hab/km²)
2001
267.189
83,08
2002
270.364
84,38
2003
274.016
85,52
2004
281.684
87,91
2005
285.927
89,23
2006
289.772
90,43
2007
308.204
96,19

Fonte: IBGE

Vitória da Conquista possui clima tropical, que, devido a sua localização geográfica é amenizado sendo um dos municípios com temperaturas mais amenas no estado da Bahia. Aqui já foram registradas temperaturas inferiores a 5ºC.

Devido a sua localização privilegiada e com a implementação da BR 116 e a Rodovia Ilhéus Lapa, pôde integrar as diversas regiões do estado e norte de Minas Gerais, sendo hoje um centro polarizador de mais de 100 municípios que utilizam-se dos diversos serviços oferecidos pelo município, como educação, saúde, comércio e serviços.

A distribuição de sua população se dá da seguinte maneira: 85% está localizada na zona urbana e 15% na zona rural, segundo dados do SAD - Secretaria de Estado de Administração (2001). Com relação ao salário médio pago no município, a PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (2000) afirma que, em 1996 era superior em 79% ao salário nacional mínimo vigente no país.

De pólo agrícola na década de 70, quando tinha o café como seu principal produto à pólo industrial na década seguinte, foi uma transformação importante que deram à cidade uma nova dinâmica econômica local. Segundo Silva (1996)

“as atividades econômicas introduzidas faziam parte de um esforço dos Governos Federal e Estadual, em diversificar as formas de geração do produto na economia do Estado, que estava a época concentrado na petroquímica, exploração petrolífera, limitada à região do recôncavo, e na cultura do cacau, praticada na região do baixo sul, com forte concentração produtiva e de capitais nos Municípios de Itabuna e Ilhéus’.

Mas a cidade, em constante transformação saltou nos anos seguintes para uma economia de serviços, principalmente no que diz respeito ao setor de educação, que oferece hoje seis unidades de ensino superior (UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UFBA – Universidade Federal da Bahia, CEFET - Centro Federal de Educação Tecnológica, FTC – Faculdade de Tecnologia e Ciências, Fainor Faculdade Independente do Nordeste e FJT - Faculdade Juvêncio Terra) que atendem há 9.143 estudantes (ADTR 2008), além de dezenas de outras instituições de ensino superior à distância, os chamados EADs.

Tabela 2 - Ensino Superior

Vitória da Conquista, Bahia -2000 -2007

Fonte: ADTR/PMVC - Abril 2008. Dados coletados junto às secretarias de cursos das IES

Além da educação, desenvolveu-se nos últimos anos os setores de saúde, logística, além do comércio varejista e atacadista que atende à população de grande parte do estado.

Mas, vale a pena destacar que em meio a esse desenvolvimento, também firmou-se como um setor que impulsiona a economia local a chamada Economia Solidária e Popular, que, em meio à crise capitalista internacional conseguiu não só gerar emprego e renda, mas integrar diversos setores da sociedade, muitas vezes marginalizados dentro dessa lógica do capital. As primeiras iniciativas são datadas do sinal da década de 90, quando foram criados o Banco do Povo e o Grupo de Economia Popular, seguindo-se, nos anos seguintes de outras iniciativas solidárias.

Vitória da Conquista não é considerada uma cidade turística, mas, apesar disso, recebe todos os anos um grande número de visitantes para os grandes eventos realizados, como por exemplo, a Micareta, Exposição Agropecuária, São João, Natal, Festival de Inverno, entre dezenas de outros com menor estrutura, mas, com participação de um grande número de pessoas.

CAPITULO II

O Futebol e as transformações do espaço local

O esporte futebol não é um mero coadjuvante na realidade atual. Além de ser um dos esportes mais praticados em todo o planeta, trás em si aspectos culturais, econômicos, sociais e políticos, que, de uma maneira ou de outra repercutem no espaço.

Além de divertir, ele transforma-se em uma fonte de geração de renda, não só para o clube através de seus patrocinadores e torcedores, mas, para todos os que exercem atividades relacionadas com o mesmo. Ele pode ser inclusive fonte turística.

Segundo o Professor José Alberto Afonso Alexandre, da Universidade de Aveiro (Portugal),

[...] a evolução do fenômeno futebolístico anda a par com a evolução das práticas turísticas e de lazer que cada vez mais caracterizam as sociedades modernas. O futebol considerado o desporto "rei", arrasta multidões para os estádios, provoca calorosos debates, além da sua importância econômica, social e espacial, pois gera fontes de riqueza e altera o ordenamento dos espaços. O futebol é espacial por natureza, pois cria uma identidade territorial, cobrindo de forma organizada todo o país, apresentando uma desigual implantação geográfica.

Em se tratando de política públicas, existem hoje diretrizes nacionais para o desenvolvimento do esporte, tendo como prioridade a democratização de acesso ao mesmo pelas diversas populações, financiamento do esporte e transformá-lo numa política pública essencial que transponha os limites de um governo, consolidando assim essa prática como uma política de Estado.

Essas políticas vêm sendo implementadas desde a década de 70, quando teve início o “Esporte para Todos”. Depois, em 1988, a Constituição Federal o transformou em Direito do Cidadão. Foram criadas Leis para incentivo ao esporte, de proteção aos atletas, Bolsa-Atleta, e, mais recentemente, o Diagnóstico Esportivo Nacional e a Conferência Nacional dos Esportes (2004).

O Esporte passa a ser visto a partir de três aspectos, conforme descrito pela própria Política Nacional do Esporte:

Esporte Educacional - Praticado nos sistemas de ensino e em forma assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer”

Esporte Lazer ou Recreativo – Prevalecer o sentido lúdico, caracterizado pela livre escolha, busca da satisfação e construção pelos próprios sujeitos envolvidos, dos valores ético-políticos a serem materializados.

Esporte de Alto Rendimento – Busca a máxima performance em busca de resultados e recordes. A maximização do rendimento é alcançada a partir da prática sistemática, própria do processo de formação esportiva, treinamento e aperfeiçoamento técnico de atletas e paraatletas.

A Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer de Vitória da Conquista, desenvolve um projeto denominado “Segundo Tempo”, que é financiado pelo Governo Federal que tem como objetivo dar acesso à prática esportiva, por meio de atividades esportivas e de lazer realizadas no contra-turno escolar crianças e adolescentes expostos aos riscos sociais, colaborando assim para a inclusão social, bem-estar físico, promoção da saúde e desenvolvimento intelectual e humano, e assegurar o exercício da cidadania.

Cada núcleo deste programa deve ter no mínimo 200 alunos e a carga horário diária nunca inferior a 2 horas, além de acompanhamento pedagógico, alimentação, reforço escolar, atividades culturais, entre outras. Este programa oferece atividades como futebol, futsal, handebol, basquete, atletismo, natação, vela, tênis de mesa, dança, capoeira, e outras, mas nos prenderemos apenas ao futebol, tema em questão neste projeto.

No município de Vitória da Conquista, segundo números fornecidos pela Divisão de Esportes da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer, são atendidas 6.700 crianças e adolescentes, com faixa etária entre 8 e 15 anos, em trinta núcleos divididos, dos quais dezesseis são na zona rural.

As crianças que participam do Programa Segundo Tempo freqüentam as atividades esportivas no contraturno escolar e recebem também um reforço alimentar.

Na cidade existem inúmeras escolinhas de futebol, e duas delas são pertencentes ao município, sendo uma no Edivaldo Flores e outra no Ginásio de Esportes. As duas atentem a 80 alunos, possuindo dois monitores.

Segundo consta na proposta do programa, os principais impactos diretos desejados são:

• Interação entre os participantes e destes com a sua realidade local;

• Melhoria da auto-estima dos participantes;

• Melhoria das capacidades e habilidades motoras dos participantes;

• Melhoria das condições de saúde dos participantes;

• Aumento do número de praticantes de atividades esportivas educacionais;

• Melhoria da qualificação de professores e estagiários de educação física pedagogia ou esporte envolvidos.

E os indiretos:

• Diminuição no enfrentamento de riscos sociais pelos participantes;

• Melhoria no rendimento escolar dos alunos envolvidos;

• Diminuição da evasão escolar nas escolas atendidas;

• Geração de novos empregos no setor de educação física e esporte nos locais de abrangência do Programa;

• Melhoria da infra-estrutura esportiva no sistema de ensino público do país e nas comunidades em geral.

Diante do investimento na estrutura municipal através da modernização das praças esportivas e dos equipamentos públicos à disposição da sociedade, vê-se a mudança que vem acontecendo a partir da prática esportiva. Locais, antes baldios ou inúteis, hoje tem a afluência de centenas de garotos, que, à despeito de ter que percorrer longas distâncias entre as suas residências e os locais onde são aplicados esses projetos, vêem nesta luta diária uma oportunidade ímpar de ter a sua vida transformada a partir de um esporte.

Aquele lugar não é mais um ambiente distante ou desconhecido, mas, passa a representar para estes jovens “sonhadores” um lugar importante e essencial para a construção de sua vida, na busca da dignidade e oportunidades a partir da prática de um esporte.

Não é fácil, mas a persistência e o talento revelam atletas que, trabalhados por seus monitores e técnicos, ganham destaque e partem para uma nova missão, em um novo local.

Na escolinha de futebol do município, que tem como treinador o ex-jogador Piolho , entre outros nomes, destacamos alguns dos mais importantes revelados, conforme o próprio Piolho:

Trabalho com uma escolinha de Futebol da Prefeitura há 15 anos e já revelei vários jogadores, como Leandro Domingues que jogou no Vitória e hoje está no Cruzeiro, Cleiton, que está no Vitória, Danilo Santos, que jogou no Figueirense, Sport, Vitória da Conquista, CRAC de Goiás, São Caetano, Guaratinguetá e hoje está no Criciúma/SC, tem o Bruno que está jogando no Rio Grande do Sul.

Leandro Domingues Barbosa , ou simplesmente Leandro Domingues, tem 25 anos, e com passagens por grandes clubes como Vitória, Cruzeiro e Fluminense/RJ. Após conseguir destaque no trabalho da escolinha de futebol, foi levado para as categorias de base do Vitória em 1995, com apenas 12 anos de idade, tendo sido promovido ao time profissional em 2001. Depois de seis temporadas como profissional, o garoto, que saiu da periferia de Vitória da Conquista, a essa altura já despertava a atenção de clubes do sudeste e acabou em 2007 sendo contratado pelo Cruzeiro de Belo Horizonte. Permaneceu por mais de um ano no clube mineiro e no final de 2008 foi negociado com o Fluminense F.C. do Rio de Janeiro, seu clube atual.

O irmão de Leandro, Kleyton Domingues, cinco anos mais novo, também segue os mesmos passos e já está no time profissional do E.C. Vitória.

Outro que merece destaque é Danilo Meira Santos , que saiu da escolinha de Piolho direto para o Figueirense de Santa Catarina, onde jogou por algumas temporadas. Depois, teve passagens pelo Sport Clube do Recife, Marília/SP, Vila Nova/GO, Juventus/SC, CRAC/GO, Guaratinguetá/SP, São Caetano/SP e atualmente defende o Criciúma/SC.

São exemplos das inúmeras possibilidades que o futebol proporciona a garotos, que, mesmo oriundos de famílias simples e de bairros periféricos, tem as mesmas possibilidades, “dentro das quatro linhas” de vencer como praticante desta modalidade.

Os garotos revelados nas escolinhas muitas vezes não tinham a oportunidade, mas, a partir do renascimento do futebol profissional no município, no ano de 2006, com o surgimento do Esporte Clube Primeiro Passo de Vitória da Conquista, estes horizontes se abriram. A escolinha de futebol que originou o Projeto Primeiro Passo e posteriormente o clube profissional, passou a ser muito mais procurada do que antes, e, novos nomes já se destacam. Outras escolas surgiram, as existentes foram estruturadas para receber essa garotada, abrindo novos espaços para a prática do futebol.

Parque Esportivo

A reforma do Ginásio de Esportes Raul Ferraz com a criação de campos de futebol dentro de sua área proporcionou a implementação de novas atividades, deu um novo ritmo e transformou o local num centro de convergência da garotada.

Agora, não só o velho estádio Edivaldo Flores representa um espaço para a busca de um futuro melhor. O Ginásio de Esportes faz parte, podemos dizer, de um novo mapa do esporte local, onde para lá estão as atenções da sociedade.

A principal política pública é o Programa Segundo Tempo – Conquista Solidária, mas existem as escolinhas para formação de atletas que funcionam no Ginásio de Esportes Raul Ferraz e no Estádio Edvaldo Flores, nas seguintes modalidades: futsal, vôlei, basquete, karatê, judô, kung-fu, handebol e futebol.

As praças esportivas existentes na cidade são muitas. São dois ginásios de esportes do município e mais uma dezena em escolas e universidades, oito quadras poliesportivas nos bairros (Bairros Jurema, Urbis VI, Kadija, Brasil, Ibirapuera, Vila Serrana, Urbis I, Jardim Valéria) e quatro na zona rural (Povoados do Batuque, Cercadinho, Lagoa das Flores e São Sebastião), três estádios Municipais, sendo um (Lomanto Júnior) de utilização exclusiva para o futebol profissional e o Edivaldo Flores para a prática do futebol amador. O Estádio da Zona Oeste encontra-se abandonado, sem a menor condição de utilização.

Esses locais não servem apenas como praças esportivas, mas, valorizam áreas, que, em outros aspectos são desprezadas, mas, através do esporte dão uma nova dinâmica territorial, através da implementação de atividades econômica, geração de empregos temporários e lazer para a comunidade.

"São estádios, ginásios, pistas diversas, enfim, um amplo conjunto de equipamentos fixos na paisagem e geralmente de grande porte físico, o que resulta em maior capacidade de permanência. São também objetos de grande visibilidade na paisagem urbana, comparecendo assiduamente no repertório imaginético da sociedade, como por exemplo, nos mapas mentais, aquele que procuram sintetizar a percepção humana em uma cartografia subjetiva, calcada em sentimentos do homem comum diante dos lugares". (MASCARENHAS, 1999, p.50)

Percebe-se aí que o desenvolvimento do esporte tem papel importante dentro de uma sociedade, não só porque proporciona os benefícios já citados, mas, como instrumento transformador do espaço e criador de novas relações para a sociedade em diferentes aspectos. “Estes equipamentos [...] tendem a penetrar no imaginário, nos mapas mentais das pessoas, estabelecendo um diálogo durável com a sociedade e também com o seu entorno, além de constituir uma grande referência para a área” (MATOS)

Geração de renda

Foto: Google Earth

Estádio Lomanto Júnior

Pegando-se como referência o estádio Lomanto Júnior como praça esportiva utilizada para a prática do futebol profissional na cidade, existe um comércio variado e com geração de renda por no mínimo 10 meses por ano tomando-se por base o ano de 2008, quando o Esporte Clube Vitória da Conquista e o Serrano Sport Club utilizaram o “Lomantão” para mandar seus jogos nas competições que participaram. O número de vendedores ambulantes cadastrados junto aos clubes supera o número de 50. A maioria deles contrata pelo menos mais um ajudante para trabalhar no estádio, totalizando, no mínimo 100 empregos temporários. Além disso, do lado de fora do estádio, dezenas de ambulantes com suas barracas ou bancas improvisadas, aproveitam para vender seus produtos como bebidas, cachorros quentes, picolés, acarajé, pipoca, água mineral, amendoim, chaveiros, souvenirs e outros produtos.

Independente da importância da partida, eles estão sempre por lá, oferecendo suas mercadorias e ganhando o seu dinheiro.

A mobilidade de torcedores que se dirigem ao estádio é outro ponto que merece destaque. Milhares de pessoas, de todas as idades, se deslocam dos bairros rumo à praça esportiva, tendo como principais os mais populares como Patagônia, Guarani, Alto Maron, Brasil e Jurema. São milhares de pessoas, que se deslocam através das linhas fixas, mas também das linhas de transporte coletivo que são colocadas à disposição nos dias de jogos, saindo direto dos bairros para o estádio e no sentido contrário ao final das partidas.

Outra forma de geração de renda em torno desse novo lugar dentro do cotidiano da cidade é com os estacionamentos. Não só na porta da praça esportiva, onde dezenas de pessoas trabalham como “guardadores” de veículos, mas os próprios moradores da região, muitas vezes colocam “à disposição” terrenos e garagens para os torcedores guardarem seus veículos.

São multidões mobilizadas a cada dia do calendário esportivo, dos mais diversos lugares, mas todos em torno deste no espaço criado dentro da cidade, a partir da identidade criada em torno da prática esportiva. A vida ganha uma dimensão real a partir da constituição desta rotina.

Portanto, o plano do lugar pode ser entendido como a base da reprodução da vida e espaço da constituição da identidade criada na relação entre os usos, pois é através do uso que o cidadão se relaciona com o lugar e com o outro, criando uma relação de alteridade, tecendo uma rede de relações que sustentam a vida, conferindo-lhes sentido. É assim, por exemplo, que a cidade – enquanto articulação de lugares – produz-se e revela-se no plano da vida e do indivíduo, criando identificações. (CARLOS, 2004)

Além da perspectiva do comércio, a mobilização em torno desta praça esportiva trás dividendos ao município em forma de impostos. Somente com a arrecadação de impostos com as arrecadações nas partidas realizadas pelo Vitória da Conquista nos Campeonato Baianos da 2ª e 1ª Divisão entre 2006 e 2008 chegaram a R$ 73.137,25, distribuídos conforme tabela abaixo:

Tabela 3 - Total de Impostos arrecadados com ISS no Estádio Lomanto Júnior

2006/2008

Fonte: Borderôs da Federação Bahiana de Futebol e ASCOM ECPP Vitória da Conquista

Estes impostos são arrecadados diretamente na venda de ingressos ou troca da promoção Sua Nota é um Show e são valores referentes apenas ao imposto municipal.

Garantia de Acessibilidade

Criado pelo governo do Estado para proporcionar uma maior arrecadação fiscal, o Programa Sua Nota é um Show tem sido um importante aliado dos clubes para manter o estádio com uma boa presença de torcedores, mas, o aspecto mais importante a ser analisado é o benefício que ele significa para a população carente, que vê, na troca das notas fiscais por ingressos, a oportunidade de participar dos eventos.

A média de público nos estádios ficou significativamente maior a partir da implementação deste programa, ficando visível já em 2006, quando o ECPP Vitória da Conquista disputou o campeonato baiano da 2ª divisão. A média de público por partida que era de 1.127 torcedores por jogo subiu para 4.810. Em 2007, primeiro ano na principal divisão do futebol, a média de público foi de 7.863 torcedores por partida, o que cairia para 2.863 sem os ingressos do programa. O ano de 2008 foi o de maior presença de público. Foram 9.013 torcedores por partida, somando a venda de ingressos e a promoção Sua Nota é um Show. Tirando os ingressos da promoção, esta média cairia para 4.230 torcedores em cada espetáculo de futebol.

A acessibilidade da população dos bairros populares às competições significou um aumento substancial da arrecadação do clube e uma maior visibilidade da cidade como uma das praças mais visitadas do cenário esportivo baiano.

Sem dúvida o esporte mobiliza uma multidão de pessoas dentro da cidade, transformando espaços, antes sem significado, em lugar comum.

Nesta perspectiva, o processo de produção do espaço revela modos de aproximação da realidade social, produto modificado pela experiência do lugar, e a partir dele em sua relação com o mundo, relação múltipla de sensação e de ação, mas também de desejo e, por conseqüência de identificação com a projeção sobre o outro. (CARLOS, 2004)

A autora ainda lembra que as relações que criam os sentidos dos lugares.

[...] porque o lugar só pode ser compreendido em suas referências, que não são específicas de uma função ou de uma forma, mas produzidos por um conjunto de sentidos, impressos pelo uso. Tal fato significa que o cidadão não habita, indefinidamente, a metrópole, mas os lugares articulados por seus trajetos, realizados em “lugares da metrópole”, vividos conhecidos e reconhecidos em todos os cantos e dimensões, logo identificados. (CARLOS, 2004)

CAPÍTULO III

ECPP Vitória da Conquista: Planejamento para alcançar metas

O futebol em todo o planeta vive tempos em que não se admite mais a figura daqueles personagens, que, como os coronéis da política nas pequenas cidades, fazem dos clubes seus currais, onde mandam e desmandam, compram e vendem, em outras palavras, são os donos da bola e não tem a quem prestar contas.

Por essa prática, totalmente ultrapassada, o futebol brasileiro, de modo especial, passou por uma crise histórica, que fez com que nossa credibilidade e mesmo, os nossos resultados no cenário mundial ficasse reduzido apenas às lembranças de uma geração passada.

A partir do momento da quase falência do futebol em nosso país, em alguns casos a falência propriamente dita de clubes até então considerados sólidos, aos poucos começou-se a pensar neste esporte como algo a ser tratado com profissionalismo, partindo-se do planejamento não só para formar as suas bases, mas para realizar contratações, como disputar as competições, organização de calendário, entre outras medidas.

Alguns clubes se adaptaram rapidamente e conseguiram se sobrepor aos demais, sendo hoje destaque no cenário esportivo brasileiro pela estrutura conquistada. Outros, aos “trancos e barrancos” ainda correm atrás desta mudança para alcançar uma estabilidade, diante de um mundo esportivo cada vez mais exigente e cruel com aqueles que não se adaptarem à nova ordem.

Fazendo futebol no interior

Se “fazer” futebol é difícil para os grandes clubes, que experimentam estas mudanças, para os clubes do interior, mesmo aqueles mais estruturados, é muito mais complicado. O calendário, para muitas desta equipes dura apenas enquanto acontece a fase preliminar dos campeonatos estaduais. Depois, é desfazer o elenco, fechar as portas e esperar pelo próximo ano.

Não existe investimento nas categorias de base, que formam atletas e podem significar a independência financeira do clube e o seu crescimento no cenário nacional, permitindo uma maior organização e a participação em competições durante todo o ano.
Clubes como a Catuense, que surgiu na década de 80 do Século XX na Bahia, sustentada por um empresário do Transporte Rodoviário parecia ser o ideal. O clube ganhou um certo destaque no estado, revelou algumas dezenas de bons atletas e chegou a disputar competições secundárias no calendário futebolístico brasileiro como a Série C, ainda neste período.

Mas, o tempo passou, a safra de atletas-revelação foi acabando e a organização do clube não aconteceu. O resultado desta falta de investimento numa adaptação da gestão administrativa e financeira do clube foi tomar o mesmo caminho dos demais, que ficam de portas fechadas a maior parte do ano. Melancolicamente o referido clube, a Catuense, se despediu do Campeonato Estadual da 1ª Divisão da Bahia no ano de 2007, rebaixado depois de uma pífia campanha, onde, o seu eterno presidente, o empresário Antonio Pena, revelou em conversa enquanto aguardava a partida entre seu clube e o Vitória da Conquista, no estádio Lomanto Júnior, que estava com sua empresa praticamente falida, não tinha mais condições de sustentar o clube como sempre o fez e que, se fosse rebaixado, poderia até mesmo fechar definitivamente as portas.

O rebaixamento veio e no campeonato seguinte, a Catuense não se inscreveu para disputar o campeonato de acesso, o mesmo acontecendo em 2009. Não se sabe se ainda é o fim. Falou-se numa parceria com o outro clube da cidade, um antigo rival que pode se tornar a salvação da pátria para o Bem-te-vi.

Fusões fazem parte da história do futebol mundial. Muitas deram certo, como o Paraná Clube, que nasceu da união do Colorado e do Pinheiros, dois clubes intermediários do futebol paranaense, que hoje, junto com Coritiba e Atlético é considerado um dos principais times daquele estado.

Experiência do Futebol Profissional em Vitória da Conquista

Ao longo da história do futebol profissional no município de Vitória da Conquista, nunca se conseguiu criar um clube que se firmasse dentro do estado. A cidade não possui um título estadual da primeira divisão, apenas dois títulos da segunda divisão. Nos anos de 1980 do século passado, nasceu o Serrano Sport Club, que, em sua primeira temporada teve uma participação apenas discreta, mas chamou a atenção pela presença de público. Foi o campeão de público do interior e tinha, neste apoio da população, uma possibilidade de se erguer como uma possível terceira força do futebol no estado.

Ficou apenas na vontade do torcedor. O caminho tomado foi o mesmo dos demais clubes e o fracasso aconteceu alguns anos depois. Entre rebaixamentos e ascensões, o rubro-verde acabou sucumbindo e ficou esquecido numa “gaveta” da segunda divisão estadual. Ainda luta até os dias atuais para voltar a “elite” do futebol baiano.

O único dirigente esportivo que continua atuando em um clube profissional que participou da administração do Serrano no seu primeiro ano é o empresário José Roberto de Souza Silva, atualmente Vice-Presidente de Administração e Patrimônio do ECPP Vitória da Conquista. Para ele, o sucesso da atual experiência está na forma de administração que foi implementada, além da mudança na conscientização em relação ao futebol profissional.

A diferença entre estes dois momentos é a visão dos gestores, mas também tem outra grande mudança: naquela época a Prefeitura ajudava com um pouco e o empresariado não ajudava em nada. O futebol não era visto como um divulgador da marca. Você ia de loja em loja pedindo ajuda para viajar, ajuda para alimentação dos atletas, então eram pessoas físicas que ajudavam. Só que isso cansa. Ou o dirigente cansava ou quebrava, por isso muitos abandonavam os clubes. Se a administração não ocorrer como o Vitória da Conquista está fazendo na atualidade não funciona. Precisamos amadurecer, cometemos erros, mas estamos no caminho correto. Precisamos utilizar mais o Marketing, valorizar as divisões de base, senão é impossível administrar.

Outras experiências fracassadas foram as do Conquista Futebol Clube e da Associação Atlética Serranense, que aproveitando-se da decadência do Serrano tentaram, cada uma em um período, ambas na década de 90, reerguer o futebol da cidade, mas, o resultado foi o mergulho do “nosso” futebol num profundo descrédito, onde não se acreditava mais numa volta, pelo menos por tão cedo.

Uma luz no fim do túnel

Durante o tempo em que o futebol profissional alegrava as tardes de domingo no “Lomantão”, alguns atletas conseguiram aparecer para o futebol brasileiro e mesmo mundial. Nomes como Edelvan (que chegou a jogar pelo Santos), Claudir (campão brasileiro pelo Bahia), Nade (com vários títulos defendendo o Paysandu/PA) Kel e Zó, os irmãos gêmeos que chegaram ao América/RJ e Kel com passagem rápida pelo Corinthians/SP), e Ederlane Amorim, que mesmo não sendo conquistense, foi daqui que ele partiu em 1984 rumo ao Esporte Clube Vitória em busca de um lugar ao sol.

Em 1982, recém chegado de Itambé, fui convidado por Dalmo, amigo que hoje mora em Jundiaí e fui treinar no Bahia de Guimarães. Em 1984 fui sozinho fazer um teste no Vitória. Eram mais de 200 garotos, tive a felicidade de poder passar, as dificuldades são muitas, mas hoje está mais fácil, pois existem mecanismos que solidificam uma estrutura melhor para os atletas, seja na parte de alimentação, saúde, ensino escolar etc. em compensação aumentou a concorrência.

Depois de aprovado nos testes, deu início a uma bela carreira, com direito a jogar na Alemanha, Peru, Equador, Chile e por vários estados brasileiros. Ederlane encerrou a carreira como atleta em 2002, no Serrano Sport Clube e assumiu como treinador do time, levando a equipe conquistense a se classificar para a 1ª divisão de 2004. O time subiu em 2004 e melancolicamente, já com outro comando, foi rebaixado no campeonato seguinte.

No momento em que parou a jogar como atleta profissional, Ederlane já tinha a intenção de executar um projeto diferente, organizado e planejado por um grupo de pessoas com credibilidade na cidade e sem ligação com qualquer tipo de experiência anterior do futebol na cidade. Em 2005 deu início ao projeto da criação do ECPP Vitória da Conquista.

Surge o Primeiro Passo

O Primeiro Passo começou suas iniciou em 2001, num trabalho voltado para a inclusão social, por onde já passaram, mas de 2.000 mil crianças e jovens, oportunizando o acesso a cidadania e revelando novos atletas. Esta proposta foi consolidada com a participação exitosa em vários campeonatos na cidade e com a expansão do então Projeto Primeiro Passo para outras regiões do estado.

Quatro anos depois, em janeiro de 2005, fundou-se então o Esporte Clube Primeiro Passo de Vitória da Conquista, como equipe profissional e que tem como seu principal objetivo

trazer Vitória da Conquista de volta ao cenário das grandes jornadas esportivas, fazendo um futebol competente não só gerando resultados, mas acima de tudo, apaixonando torcedores e revelando novos cidadãos e profissionais de talento, capazes de devolver a alegria nas tardes de domingo a nossa cidade e região. (Projeto ECPPVC)

Buscou-se mobilizar lideranças locais, representando vários segmentos da sociedade conquistense

imbuídas do mesmo espírito de companheirismo, compromisso, transparência e certos da necessidade em modernizar a prática do futebol em nossa cidade, rompendo de vez com os vícios da cartolagem, tão comum e ainda presente nos clubes de futebol pelo Brasil afora. (Projeto ECPP VC)

Mas o projeto do clube não é diferente apenas na organização de sua diretoria ou na estruturação dos seus departamentos. Existem metas a serem cumpridas e que não podem ser consideradas fáceis, como a conquista de um título estadual da primeira divisão até 2010 e a participação na Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro da Série C (o que foi alcançado em 2008).

O Esporte Clube Vitória da Conquista, nasce de um projeto com foco no trabalho de inclusão social de jovens, respeito às pessoas e com um objetivo arrojado de contribuir para a modernização na gestão do futebol profissional da Bahia, além de conquistar títulos é claro, já que este é o principal desejo da torcida. Surgimos como agremiação profissional em um cenário completamente adverso, onde a forma de gerir e relacionar com jogadores, instâncias superiores e arbitragem são totalmente contaminado pelos resquícios do jeitinho brasileiro e da consolidada lei do Gerson, práticas condenáveis desde a chegada desse esporte em nosso país no século XIX. (Eduardo Moraes, Vice-Presidente do ECPP VC)

Retomar a credibilidade do futebol na cidade foi uma das metas mais ousadas, já que são décadas de descrédito. Mas, passo a passo, o alviverde tem mostrado que a transparência e a seriedade dos seus diretores tem recebido o devido retorno da cidade, que não tem mais a desconfiança tão comum anteriormente por conta das fracassadas experiências, e, isso, impulsiona o alviverde a buscar o cumprimento com seus objetivos.

Mostra da credibilidade que foi sendo alcançada foi o convite para a participação do time de Juniores na Copa Maceió de Futebol, competição nos moldes da Copa São Paulo de Futebol Juniores, que teve a participação de equipes de todo o Nordeste.

Apesar do pouco tempo, já foram revelados atletas como Rafael, Tatu, Artur, Kleber, Lima, Diego, Claudemir, William, Bode, e vários outros, que hoje atuam em outras equipes da Bahia e de outros estados do Brasil.

Ainda em seu primeiro ano como clube profissional, conseguiu alcançar algo até então inédito na cidade, quiçá em outra cidade do interior baiano que foi a aquisição, em forma de comodato por um período de 20 anos, de um prédio de quatro andares, nunca utilizado anteriormente, onde funciona a Sede Administrativa, o alojamento para atletas de fora e o refeitório, o que significa para o clube, além de uma estrutura de qualidade, uma economia significativa em despesas como hospedagem e alimentação dos seus funcionários.

Mas, dentro de uma perspectiva de se tornar uma força do futebol do Nordeste, o ECPP Vitória da Conquista começou a executar um projeto ousado, mas que promete ser o diferencial assim que entrar em funcionamento: o Centro de Treinamento Toca do Bode. O clube adquiriu um terreno de 131.000m² na rodovia Conquista/Barra do Choça (BA 265), seis Km após o anel rodoviário e já deu início a construção dos primeiros campos, onde passará a treinar tanto nas categorias de base como profissional.

O projeto deve custar, em sua totalidade, cerca de R$ 3 milhões, mas será construído em etapas. Primeiro os campos, depois a parte administrativa e toda a estrutura restante. Para isto, já estão sendo buscadas parcerias com empresários, inclusive de outros estados, que reconhecem neste projeto um bom produto ara o investimento.

A expectativa é que esse equipamento revolucione toda a cidade e os arredores onde o centro está localizado oportunizando iniciativas de inclusão social para crianças e jovens que habitam na redondeza. Defendo que o Centro de treinamento funcione como uma indústria, onde se transforma matéria prima abundante em toda a Região e capacite os demais profissionais necessários na preparação de futuros atletas de um novo perfil, que cuide do seu corpo e mente como instrumentos alavancadores para o sucesso pessoal, do clube onde estiver atuando, se enxergando e gerenciando a sua carreira de jogador para um mercado cada vez mais havido por profissionais que além de jogar futebol compreenda o mundo onde atua e vive. Creio que o trabalho deve ter como vetor, quatro pilares 1-Centro de treinamento, 2-Equipe competitiva, 3-Títulos e 4-Ídolos para fazer consolidar as demais etapas do projeto, e ai sim alcançar a disputa de títulos. (Eduardo Moraes, Vice-Presidente ECPP VC)

Os parceiros do Vitória da Conquista desde a primeira participação em 2006 são unânimes em afirmar a sua satisfação com este investimento.

José Luis Marinho, diretor do Grupo Marinho de Andrade, uma das primeiras empresas a apoiar o projeto do ECPP Vitória da Conquista, afirma:

Na realidade, enxergamos no Vitória da Conquista a oportunidade tanto de devolver à comunidade conquistense o lazer, já que futebol é uma paixão do brasileiro, como também de agradecer o apoio ao longo destes 50 anos de existência da nossa empresa. É também uma forma de retribuir o carinho e a fidelidade que o conquistense tem para com os nossos produtos. É importante observar ainda que o nosso apoio iniciou bem antes da equipe profissional. Somos parceiros desde a época em que o presidente do clube, Ederlane Amorim, iniciou a escolinha no Edivaldo Flores com o objetivo de estimular crianças carentes a praticar esporte objetivando não somente o seu desenvolvimento como atleta, mas também como cidadão.

Outra empresa que tem demonstrado satisfação em realizar esta parceria é a Viação Salutaris, conforme palavras do seu Gerente Regional, Nilton Cunha.

Com o ECPP Vitória da Conquista em nenhum momento nós visamos lucro financeiro, mas esta parceria foi medida e teve excelente resultado no que tange a divulgação de nossa marca. [...] Nós investimos quase 50 mil quilômetros com o clube com o qual estamos muito satisfeitos com essa parceria. Todos nós hoje temos orgulho de falar que a Salutaris patrocina o time de Vitória da Conquista. [...] para nós é motivo de alegria, isso valoriza o funcionário e ele se sente presente do meio da sociedade, vendo que sua empresa está participando estadual e até nacionalmente. Isso nos deixa muito orgulhosos.

O Sucesso dentro das quatro linhas e em sua estrutura como Clube de Futebol surpreende os próprios envolvidos no projeto, como o Vice-Presidente Eduardo Moraes.

São apenas quatro anos de existência e nos surpreendemos com os números alcançados até aqui, seja de camisas vendidas nas lojas, número de visitas ao site oficial do clube, número de público presente no estádio, as crianças e jovens que estão deixando de torcerem por clubes de outros estados etc. Além de contribuir para a paz social na cidade, pois em dias de jogo as pessoas ao invés de estar em outros lugares nocivos a sua integridade ou de terceiros, estão no estádio torcendo, curtindo sua liberdade de expressão, dirigindo ou até mesmo escalando o seu time E para projetar uma cidade, produto ou marca, nada melhor que o futebol. Acho, portanto que tem sido um casamento perfeito.

Ainda segundo Moraes, além de oferecer à cidade uma opção de lazer e de divulgação do município em todo o mundo, já que a internet é um meio de poderoso de divulgação de suas atividades, o clube proporciona um ganho considerável na economia local. Ele lembra que, em pouco tempo, o uniforme oficial do alviverde se tornou o mais vendido. Mas não é só isso.

Sem sombra de duvidas a partir do surgimento do Vitória da Conquista enquanto equipe profissional em muito agregou-se a economia local, além de incluir socialmente centenas de jovens, gerando empregos, renda, ocupação e grandes negócios em cadeia, já que o futebol compõe hoje a grande Indústria do lazer, que mexe com o seguimento calçadista, alimentos, vestuário, construção civil, saúde, educação, hotelaria, restaurantes, bares, ambulantes, transporte, meios de comunicação, etc., Aqui em Vitória da Conquista, acredito muito tem se perdido em função de incompreensão dessas possibilidades e potencialidades. Ainda a uma certa desconfiança do empresariado e gestor publico em abraçar este trabalho, contribuindo definitivamente para colocar a nossa cidade no centro desse negócio inclusive aproveitando a grande oportunidade com a realização da copa do mundo de futebol no Brasil em 2014.

Os números de uma paixão

Esporte Clube Vitória da Conquista em 2006

No ano de sua primeira participação em uma competição oficial, o ECPP Vitória da Conquista disputou o Campeonato Baiano da 2ª Divisão.

Foto: Júnior Patente

Estádio Lomanto Júnior
em dia de futebol

O campeonato, que teve a participação de oito equipes e um total de arrecadação de R$ 297.979,00, sendo R$ 136.059,00 só no estádio Lomanto Júnior, ou 46% do total arrecadado no campeonato (renda bruta). O público total da competição foi de 92.806 expectadores, com 33.675 só no Lomantão (37%).

Tabela 4 - Total de Renda e Público do ECPP Vitória da Conquista

 

Jogo
Renda
Público Pagante
Publico Nota
Publico Total
Total Geral
1x1 Cruzeiro
R$ 7.165,00
1.337
0
1.337
1.337
2x0 Guanambi
R$ 5.454,00
917
0
917
2.254
0X0 Astro
R$ 11.765,00
823
3.000
3.823
6.077
3x0 Cruzeiro
R$ 12.115,00
892
3.000
3.892
9.969
2X0 Jacuipense
R$ 21.550,00
2.790
3.000
5.790
15.759
3x1 Galícia
R$ 17.030,00
1.821
3.000
4.821
20.580
1x1 Jacuipense
R$ 60.980,00
10.095
3.000
13.095
33.675
 
R$ 136.059,00
18.675
15.000
33.675
 

Fonte: ASCOM ECPP VC

Vitória da Conquista em 2007

Campeão invicto da segunda divisão, o EC Vitória da Conquista se tornou conquistou uma grande torcida e viveu um ano de expectativa quanto a sua participação pela primeira vez num campeonato da primeira divisão.

O time sentiu a falta de experiência e não alcançou a sua meta que era chegar ao quadrangular final da competição e buscar uma vaga no Campeonato Brasileiro. Mas, o alviverde mostrou a sua força que vinha das arquibancadas. Nos 11 jogos que realizou dentro do seu mando de campo, levou 86.493 torcedores ao estádio, numa média de 7.863 por partida, média superada apenas por Bahia e Vitória. Tanto a média de arrecadação como de público do time conquistense foi superior a média geral do campeonato.

Tabela 5 - Total de Renda e Público no Campeonato Baiano

Ano 2007

TIME
Renda em R$
Público
Jogos
Bahia
1.502.716,50
243.356
14
Vitória
877.984,00
167.748
14
ECPP
412.987,00
86.493
11
Atlético
408.002,00
95.234
14
Poções
274.250,00
73.019
14
Fluminense
243.075,00
70.592
11
Colo Colo
235.120,00
64.452
11
Itabuna
218.348,00
60.536
11
Juazeiro
211.838,00
61.805
11
Ipitanga
182.675,00
62.573
11
Catuense
155.080,00
52.036
11
Camaçari
150.341,00
49.665
11
 
4.872.416,50
1.087.509
144

Fonte: ASCOM ECPP VC

A hora de se firmar

Depois de uma primeira temporada apenas regular, o alviverde se armou para fazer um grande campeonato em 2008. Fez várias contratações, montou um excelente elenco e contou com a experiência de uma temporada entre os principais clubes baianos, somando-se ainda a isso a febre alviverde na cidade e a paixão do torcedor. Entre 2006 e 2007 a média de público aumentou mais de 60%, saindo de 4.811 para 7.863 e a expectativa era ainda maior para esse novo ano.

E ninguém segurou a maré verde e branca, que virou destaque em toda a imprensa estadual e até nacional, com matérias circulando pelos principais portais como UOL, Terra, Lancenet, entre outros, além de reportagens em programas como o Globo Esporte e Esporte Espetacular em edição nacional.

E o time não deixou por menos. Chegou à fase final conquistando a terceira colocação do campeonato, disputando o título até a última rodada. A média de torcedores no estádio foi de 9.015, a maior da competição, superando inclusive Bahia e Vitória que ficaram com 3.710 e 7.965 respectivamente. Foram 126.213 torcedores nas 14 partidas realizadas em seu mando. Quanto à média de público em relação à primeira temporada (2006) o crescimento foi de 87%. Em arrecadação ficando em segundo lugar, atrás do Vitória. A média de renda do campeonato foi pouco mais da metade da média do Vitória da Conquista.

Tabela 6 - Total e média de Renda e Público no Campeonato Baiano

Ano 2008

Fonte: ASCOM ECPP VC

A busca pelo cumprimento deste projeto continua na pauta do dia. A competição deste ano está em andamento e o clube continua fazendo dos seus dias de jogos uma grande mobilização popular.

A paixão do conquistense, assim como a maioria dos brasileiros, pelo futebol e a presença do ECPP Vitória da Conquista em todas as conversas a respeito de futebol, dá-nos essa certeza da grande mobilização que este esporte provoca dentro da cidade, não se fechando apenas na prática do esporte É, portanto um novo gerador de novas relações na sociedade que reflete diretamente em sua economia, lazer, cultura, enfim, criando um novo mapa dentro da cidade, revelando, por todos os lados a sua influência e cumplicidade com a população, que não mede esforços para estar em seu novo espaço criado, o estádio de futebol.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo a respeito do esporte, especialmente o futebol, não só como atividade que proporciona aos praticantes uma melhor qualidade de vida e saúde, mas verificar tudo o que ele proporciona dentro de uma cidade, no caso específico, o município de Vitória da Conquista.

No primeiro momento, procuramos resgatar a história do esporte na humanidade, trazendo para a realidade brasileira e finalmente local, onde pudemos, através do relato de diversos atletas e promotores de eventos esportivos na cidade perceber que, apesar de a cidade ser rica em atletas de qualidade, aconteceu como que um adormecimento nas práticas esportivas nas décadas finais do século XX, onde conseguiram se destacar poucos atletas, a maioria destes por esforço pessoal, ao contrário do que ocorria antes, quando equipes inteiras de diversos esportes, tinham uma qualidade que chamava a atenção.

Mas percebemos que a partir da implementação de uma política do esporte voltada para as crianças carentes, o resgate do gosto pela prática esportiva começou a acontecer e isso levou às escolinhas de diversos esportes um grande número de atletas. A cidade possui hoje uma quantidade de equipamentos esportivos que atende há vários bairros da cidade, mas percebemos que ainda é insuficiente para atender à demanda. Apesar disso, creio que seria importante o avanço nestes programas e em novos que atendam às crianças e jovens, pois, apesar desta retomada da prática esportiva, estamos ainda longe de ver os grandes campeonatos intercolegiais, que mobilizava jovens de toda a cidade para assistir às competições e fazer, que envolvia até professores, muitas vezes de outras áreas, que deixavam a sala de aula e levava a sua turma para vivenciar experiências novas em um novo lugar.

Sentimos falta de uma presença forte de Vitória da Conquista nos Jogos Abertos do Interior, no Campeonato Intermunicipal de Futebol e mesmo de uma infraestrutura que proporcione a estes atletas as condições de representar a cidade. Necessário se faz o resgate do velho estádio Edivaldo Flores, que hoje não tem sequer gramado e necessita de muitas melhorias para voltar a ser palco dos grandes embates esportivos dos finais de semana e revelador de novos atletas.

Creio que, outro fato que proporcionou a retomada da prática esportiva na cidade foi o surgimento do Projeto Primeiro Passo, inicialmente como uma escolinha de futebol que atendia a crianças carentes, mas posteriormente transformando-se no clube profissional Esporte Clube Primeiro Passo de Vitória da Conquista.

O clube virou uma mania na cidade e acabou provocando alterações no espaço local, não como um mero coadjuvante na realidade atual, mas revelando aspectos culturais, econômicos, sociais e políticos, que, de uma maneira ou de outra repercutem no espaço. O estádio, antes abandonado, ou subutilizado, hoje é lugar freqüentado por pessoas de vários bairros, fazendo com que seja considerado um novo lugar dentro da realidade do município, com seu significado e importância. Alimentou não só a prática do lazer, mas o comércio, o transporte coletivo urbano, o comércio através da venda de camisas e outros artigos esportivos e outras mudanças muitas vezes ainda nem calculada.

O ECPP Vitória da Conquista, a quem dedicamos um dos capítulos deste trabalho, é sem dúvida um projeto ousado, pela realidade do futebol no interior do Brasil, realizado através de planejamento antecipado, com metas a serem alcançadas e títulos a se conquistar. A sua missão está apenas começando, falhas aconteceram neste planejamento, mas, a mudança da mentalidade em relação a gestão esportiva é sem dúvida o grande diferencial do trabalho.

Um maior investimento nas divisões de base do clube poderá ser o ponto crucial para a sua afirmação como uma grande força do futebol e mobilizador social em nosso estado e essa estrutura ainda é muito pequena. Não existe trabalho com garotos com idade anterior à categoria Juniores, por isso a dificuldade em montar uma base para as competições e isso tem se refletido nos resultados, já que as participações nos campeonatos até o momento, a excessão de 2006, quando foi vice-campeão baiano de juniores da segunda divisão, tem sido sempre modestas.

O Estádio Lomanto Júnior precisa urgentemente de modernização. As melhorias feitas para atender às exigências da Federação Bahiana e Confederação Brasileira de Futebol foram muito pequenas para a verdadeira necessidade da praça esportiva. É necessária uma melhoria nas cabines de rádio, tribuna de imprensa, lanchonetes, pavimentação da parte externa, construção de uma sala de imprensa, construção de novos vestiários, melhoria na iluminação, entre outras, que dariam uma maior visibilidade do nosso município.

O principal está acontecendo, o esporte está mais uma vez começando a mobilizar a cidade, novos lugares surgem na cidade e eles precisam ser planejados para que evoluam, mas, ainda é necessário abrir mais este leque, para que o esporte faça parte definitivamente da vida dos cidadãos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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História do futebol: origens do futebol, chegada do futebol no Brasil, Charles Miller, FIFA, Copa do Mundo. Disponível em http://www.suapesquisa.com/futebol/. Acessado em 10 Set 2008

LOPES, Aníbal Viana, Revista História de Conquista. 1982 Páginas 600-605. Brasil Artes Gráficas. Volume nº. 2. Vitória da Conquista – Bahia- BA.

O Esporte. Disponível em http://www.cdcc.sc.usp.br/escolas/juliano/profissoes /esporte.html. Acessado em 10 Set 2008.

LONGUINHOS, M. A. A. Análise do programa de municipalização da saúde: o caso do município de Vitória da Conquista – BA. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002.

MASCARENHAS, Gilmar. A Geografia e os Esportes: uma pequena agenda e amplos horizontes. Conexões: Educação, Esporte, Lazer. Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), junho de 1999, p. 46-59.

MATOS, Marcelo. Em busca por uma geografia dos esportes. Disponível em http://www.tempopresente.org/index.php?option=com_content&task=view&id=113&Itemid=83.

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Ministério do Esporte. Uma Política Nacional de Esporte. Disponível em http://www.esporte.gov.br/boletim_email/boletim_politica_nacional.asp. Acessado em 01 Nov 2008

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RAGO, Margareth. A INVENÇÃO DO COTIDIANO NA METRÓPOLE: Sociabilidade e Lazer em São Paulo, 1900-1950. Disponível em www.ufscar.br/~cec/arquivos/referencias/texto%20refeito%202004.doc. Acessado em 10 Set 2008;

Revista Economia e Sociedade. ECONOMIA SOLIDÁRIA: uma outra economia acontece. Adtr, n. 01, nov. 2008.

Revista Digital. A cidade e os grandes eventos olímpicos: uma geografia para quem? Disponível em http://www.efdeportes.com/efd78/geo.htm - Buenos Aires - Ano 10 - N° 78 – Novembro de 2004. Acessado em 12 de novembro de 2008.

RODRIGUES, Marilita Aparecida Arantes. Constituição e enraizamento do esporte na cidade: uma prática moderna de lazer na cultura urbana. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, Belo Horizonte, 2006.

RUBIO, Kátia; SILVA, M. Lúcia. Superação no esporte: limites individuais ou sociais? Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto - v.3 - n.3 – 2003.

SAD. Relatório de Atividades Anual. Vitória da Conquista, Secretaria de Administração do Município, 2002.

SEI. Indicadores Econômicos dos Municípios do Estado da Bahia. Secretaria da Indústria e Comércio, www.seiba.gov.br, 2002.

ICONOGRAFIA

Gerações do futebol em Conquista. No alto, o Humaitá de 1959, ainda amador. Na foto central o Conquista de Ninha Brito (Final da década de 70), com o destaque para os jogadores Claudir, Zó e Kel, que depois se tornaram Profissionais. E abaixo uma seqüência especial de Gerações de jogadores: Jaimilton, Claudir, Naldo e José Maria Areas.

Vitória da Conquista sempre revelou bons atletas. Nas fotos acima, um dos exemplos. Na foto do alto, Edelvan, atacante do Serrano (último agachado à direita) e abaixo, ele no Santos/SP em 1987.

No alto, os novos nomes de destaque do futebol conquistense. Danilo Santos (hoje no Criciúma), Leandro Domingues (Fluminense/RJ) e Kleyton Domingues (Vitória). Ao centro Jaimiltom, quando jogador do Conquista e atualmente. E abaixo a Seleção de Conquista do ano de 1962, onde Piolho (penúltimo agachado à direita) já despontava.

No alto, o primeiro time de Handebol de Vitória da Conquista, criado no Instituto de Educação Euclides Dantas em 1971. Depois dele, o esporte se expandiu na cidade e os intercolegiais fizeram sucesso nas décadas seguintes.

No Vôlei de praia, Vitória da Conquista, através do Massicas foi o primeiro Campeão Baiano, em 1982. Entre os 166 times era o único oriundo de cidade que não tinha praia. Abaixo, o Vôlei feminino em 1986, um time que deu muitas alegrias nas competições estaduais.

Antes era apenas o Ginásio de Esportes. Atualmente, o Centro Esportivo de Vitória da Conquista tem, além do Ginásio, uma pista de skate e vários campos, onde funcionam algumas escolinhas da prefeitura.

O Estádio Edivaldo Flores (acima) é palco das grandes disputas do futebol amador na cidade. A foto foi feita no dia da final do Campeonato da LCDT de 2007.

Acima, do lado esquerdo, o radialista Hélio Gusmão entrevistando um atleta do Vasco, durante a inauguração do Estádio Lomanto Júnior 1966. Do lado direito o treinador Elias Borges, que foi atleta profissional de futebol defendendo o Serrano e clubes do interior paulista. Em 2006 sagrou-se Campeão Baiano da 2ª divisão como treinador do Vitória da Conquista e em 2008 foi eleito o melhor treinador do Campeonato Estadual da 1ª Divisão.

Antonio Jesuíno da Silva, o Piolho, ex-jogador profissional nas décadas de 60 e 70 do século XX, um dos maiores ídolos do futebol conquistense em todos os tempos. Acima, o trabalho que desenvolve no Estádio Edivaldo Flores com jovens carentes, já tendo revelado nomes como Leandro Domingues e Danilo Santos. Ao centro,uma foto atual do ex-jogador e abaixo o encontro com contemporâneos: José Maria Areas, Jaimilton e Naldo.

Um dia histórico: 28/10/2006. De todos os lados da cidade os torcedores foram chegando, mais de 14 mil e lotaram as arquibancadas do Estádio Lomanto Júnior para ver o Vitória da Conquista sagrar-se Campeão Baiano da 2ª Divisão daquele ano, de maneira invicta, com 7 vitórias e 7 empates.

Quem vê as fotos do alto, não percebe na frieza das arquibancadas vazias o que ocorre nos dias de futebol, como nas fotos seguintes. É local de lazer, mas também de trabalho, como está registrado na foto n° 3.

ÍNDICE DE FOTOS

Fotos 1 e 2 – cedidas por Guimarães Viana 56

Fotos 3, 4 e 5 – Júnior Patente 56

Foto 1 – Cedida por Guimarães Viana 57

Foto 2 – Internet: site www.fanaticosantista.com.br 57

Foto 1 – Júnior Patente 58

Foto 2 – Site oficial Fluminense F,C. (fluminense.com.br) 58

Foto 3 – Blog WE Creator (wecreator.blogspot.com) 58

Foto 4 - Cedida por Guimarães Viana 58

Foto 5 - Júnior Patente 58

Foto 6 – Cedida por Guimarães Viana 58

Foto 1 - Cedida por Guimarães Viana 59

Foto 2 – Cedida por Pedro Massinha 59

Fotos 1 e 2 – Cedida por Pedro Massinha 60

Fotos 1, 2, 3 e 4 – Júnior Patente 61

Foto 1 – Cedida por Zanata 62

Foto 2 – Cedida por Guimarães Viana 62

Foto 3 – Júnior Patente 62

Foto 1 – Shesterriane Lima 63

Fotos 2 e 3 - Júnior Patente 63

Fotos 1, 2, 3 e 4 – Júnior Patente 64

Foto 1 – Google Earth 65

Fotos 2, 3 e 4 – Júnior Patente 65


Publicado por: Junior Patente

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