Racionalismo Moderno e Fé
RACIONALISMO MODERNO E FÉ
Introdução
O Racionalismo foi um movimento cultural situado entre os séculos XVI e XIX. Mais do que mais uma doutrina gnosiológica ou teoria do conhecimento, o Racionalismo foi uma perspectiva cultural global. Foi uma das correntes filosófico-científicas do homem da Idade Moderna.
Para o Racionalismo, o homem pode chegar pela razão, a verdades de valor absoluto. Seja a partir de fatos, os quais, ultrapassando a mera força dos sentidos, o homem pode, com a força da razão, abstrair e atingir condições transcendentais do mundo; seja a partir da pura intuição, que prescinde dos fatos.
O que o Racionalismo buscava, na verdade, era conhecer a essência. Por isso, não se prendia aos fatos ou ao mundo sensível, mas afirmava que a razão humana poderia transcender e chegar ao conhecimento de realidades transcendentes. Pela força da abstração e das concatenações racionais.
Essa corrente se aproximava, assim, da metafísica, de Platão. Não se pode, entretanto, incorrer no erro de achar que o Racionalismo é apenas uma corrente teórica. Ao contrário, terá conseqüências também na ética e, mesmo, na política como veremos a seguir. Procuraremos também fazer a relação entre o Racionalismo e a Fé, mostrando como seus principais expoentes, Descartes, Kant e Hegel, trataram da problemática acerca de Deus e da religião, tema central das discussões filosóficas medievais, agora com as contribuições do homem moderno.
1. Contexto Histórico do Racionalismo
Ao longo de toda a história do conhecimento humano e da Humanidade em si, vê-se que o homem sempre tentou compreender o mundo que o cercava. Desde o mito até a atual era da técnica, esse é um problema longe de ser esgotado.
Das cosmogonias e cosmologias gregas chegou-se ao Cristianismo Ocidental medieval. Nesses 10 séculos, sob a hegemonia da Igreja Católica, a Teologia estava em voga e tinha ao seu serviço a Filosofia. A concepção de mundo do homem medieval era teocêntrica e profundamente marcada pela religiosidade, ainda que nem sempre fosse aquela oficial ditada pela Igreja, haja vista que o povo simples camponês, não entendia o culto oficial e, portanto, criava o seu próprio, com mitos, superstições etc.
Entretanto as coisas começaram a mudar e já entre os séculos XIV e XV se percebia que o feudalismo entrava em crise, por razões que não nos cabe analisar aqui. O fato é que, a Idade Média Ocidental compreende aquele período de mais ou menos 10 séculos, entre a queda de Roma e a queda de Constantinopla. Predominava a Igreja, o feudalismo era o sistema que organizava a sociedade em si, herdara-se a Filosofia grega, o direito e o idioma romanos.
Falar de declínio do período medieval, não é falar, portanto, de declínio só de um dos aspectos acima. A queda do sistema feudal foi se dando por mudanças no homem e na sociedade (ao mesmo tempo em que também gerava essas mudanças), o que afetou também a hegemonia clerical.
Como acontecera na Grécia Antiga, o homem precisava agora de outras explicações para a realidade à sua volta. Com o advento das Grandes Navegações, os horizontes se expandiam. O comércio foi refervilhando aos poucos, possibilitou-se o acesso a outras culturas através de suas obras literárias, que foram sendo traduzidas. A Grécia Clássica era redescoberta e as artes sofriam efervescência. Claro que tudo isso com o patrocínio da burguesia, que queria ascender, primeiro socialmente, depois politicamente, não só com benefícios, mas com participação (se não, com detenção mesmo) do poder.
As mudanças queridas, patrocinadas e efetivadas pela burguesia foram se dando aos poucos. Nada disso aconteceu de uma hora para outra, mas com o passar das décadas e dos séculos, culminando na Revolução Francesa.
Outro aspecto a ser ressaltado é que, essa mudança de mentalidade, acarretou mudanças em todas as esferas da sociedade. Das cinzas do Feudalismo, foi se configurando o Capitalismo. Da hegemonia da Igreja Católica, veio o cisma do Ocidente. A nova ética protestante casava muito bem com o espírito do capitalismo e, portanto, com o ideal da burguesia.
Pela própria índole do Capitalismo, a expansão dos mercados era necessária. Era mister que houvesse um espírito aventureiro e científico que possibilitasse a concretização do que se almejava. O homem voltou a ser o centro e a medida das coisas. Era o que pregava o Racionalismo. Não se pode, entretanto, presumir que com isso se nega Deus. Ao contrário, a raiz desse movimento ainda se encontrava na Idade Média. Ele assemelha-se mais à metafísica que ao Empirismo nesse ponto. O próprio Descartes, tido como o pai do Racionalismo, vai procurar justamente afirmar e provar a existência de Deus.
Também não se pode confundir o Racionalismo com o pensamento medieval. A diferença está justamente no sujeito. O Racionalismo devido ao contexto histórico no qual ocorre, procura olhar o mundo com a razão, já não mais dependente da Fé como no período medieval, mas confiando mais no ser humano e suas potencialidades: o enfoque é antropológico. O que se busca não é negar Deus, e sim afirmar o homem, enquanto ser diferente e superior aos demais, porque racional.
2. René Descartes
2.1 A vida
René Descartes nasceu em 1596 e morreu em 1650. Era católico convicto. Por isso, o que pretende é a fundamentação filosófica para uma ordem sócio-política que não findasse num ateísmo ou materialismo. Essa fundamentação tinha de ser filosófica porque, com o cisma no Cristianismo, já não poderia mais ser puramente pela fé.
Descartes recebeu educação escolástica no Colégio Jesuíta La Fleche. Se mais tarde, duvidou de tudo e de todos, não vai, em momento algum, renegar seus preceptores, ou sua Fé e sua religião. O que ele busca é justamente afirmar isso com uma certeza absoluta, coisa que não se tinha conseguido até então. O problema está, pois, no método.
2.2 O método cartesiano
Se o Discurso do Método:
“parecer demasiado longo para ser lido de uma só vez, poder-se-á dividi-lo em seis partes. E, na primeira, encontrar-se-ão diversas considerações atinentes às ciências. Na segunda. As principais regras do método que o Autor buscou. Na terceira, algumas regras da Moral que tirou desse método. Na quarta, as razões pelas quais prova a existência de Deus e da alma humana, que são os fundamentos de sua metafísica. Na quinta, a ordem das questões de Física que investigou, e, particularmente, a explicação do movimento do coração e algumas outras dificuldades que concernem à Medicina, e depois também a diferença que há entre nossa alma e a dos animais. E, na última, que coisa crê necessárias para ir mais adiante do que foi na pesquisa da natureza e que razões o levaram a escrever”1.
Assim está pois disposta a tão famosa obra do autor. O Discurso do Método foi, sem dúvida, inovador. Não só pelo conteúdo e o que propunha, mas, antes de tudo, pelo idioma. Na Idade Média e até então, toda obra de Filosofia era escrita em Latim. O Discurso, entretanto, foi escrito em vernáculo, o francês, para mostrar que não importa o idioma, mas a idéia que se quer transmitir. Descartes alcançava assim mais pessoas, pois não só as doutas poderiam ler sua obra.
O método de Descartes é o método da dúvida: a dúvida metódica ou dúvida cartesiana. Para a razão bem funcionar, é necessário limpar o terreno da mente de todo preconceito, é preciso, num primeiro momento duvidar de tudo, principalmente o que já se tem estabelecido como verdade absoluta. A partir de então, devem-se buscar verdades elementares, verdades que se bastem a si, e não precisem de outras verdades precedentes. Pois, duvidando de tudo, aquilo que conseguir se estabelecer como verdade depois disso, ter necessariamente que ser uma verdade absoluta. O que se quer com esse método é a garantia de idéias claras e distintas.
Descartes resume a Lógica e enumera apenas quatro regras, quatro passos a serem dados no caminho de seu método:
“O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção. E de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida”.
O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las.
O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros.
E o último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir”2.
É assim que Descartes analisa como verdadeira a frase “Penso, logo existo”. Para ele essa é uma afirmação clara e distinta, sem nenhuma obscuridade ou confusão, pois, é impossível alguém dizer que pensa, sem simultaneamente se dar conta de que existe. Assim, Descartes confirma categoricamente a dicotomia corpo-alma. Conclui, no entanto, que é mais importante a alma (pensamento) pois, é possível imaginar-se pensando sem um corpo, mas não o contrário, pois senão, já não se seria ser humano, mas coisa. A essência do homem é portanto, sua alma.
Nessa alma, que Descartes afirma ser imortal, é possível percebermos muitas perfeições e sinais de perfeições. Contudo, também se percebe claramente várias imperfeições. Sendo assim, ele conclui que, se a alma apresenta imperfeições, as perfeições que apresenta simultaneamente não pode ter sua origem na própria alma, pois se esta fosse perfeita, não apresentaria imperfeição alguma. Dessa forma, essas perfeições têm origem externa à alma humana. Alguém as colocou aí. Esse alguém é, portanto, necessariamente perfeito, senão, não haveria perfeição alguma na alma criada. Esse alguém perfeito, para Descartes é Deus. Deus realmente existe. Se Deus é perfeito, então ele tem que existir, pois a perfeição maior está em existir na realidade e não apenas na idéia. Logo, Deus existe e não é apenas uma idéia.
3. Emanuel Kant
3.1 A vida
Emanuel Kant nasceu em Koenigsber, na Prússia Oriental, em 22 de abril de 1724, de uma família pobre, mas recebeu uma profunda educação religiosa. Kant cursou a universidade de sua terra natal, dedicando-se especialmente à filosofia e as ciências naturais. Em 1755, começa a concentrar-se nos problemas filosóficos, sem deixar de lado o estudo da ciência e da matemática. Em 1769 expõe a hipótese fundamental do seu sistema: O fenômeno e o Númeno, e ainda varias outras conjecturas como: a Dissertação sobre a forma e os princípios do mundo inteligível. Mais tarde publica a Critica da Razão Pura, Prolegômenos a toda metafísica futura; Fundamento metafísico dos costumes: Crítica à Razão Pratica; Crítica do Juízo; A religião nos limite da razão pura.
3.2 O pensamento
Diante de todos os estudos que Kant realizara, uma das coisas mais importante é a questão do conhecimento humano. Antes o problema do conhecimento empírico dava respostas contraria ao racionalismo. Por isso, Kant não vê outra saída senão empreender uma crítica do conhecimento da razão para determinar se ela pode ir mais além dos limites da experiência. Por isso, emprega seu original “método transcendental”, consistente em buscar quais condições fazem possíveis um “juízo sintético a priori”, e dizer que é um juízo cientifico, já que a outra classe de juízo seja, “sintético a posteriori” que não é senão constatação feitos (empirismo), seja o “analítico a priori”.
Então, Kant explicita esse conhecimento por meio da crítica da razão pura distinguindo duas formas básicas:
1.- Conhecimento empírico (a posteriori) - aquele que se refere aos estudos fornecidos pelos sentidos, isto é, que é posterior à experiência.
2.- Conhecimento puro (a priori) – aquele que não depende de quaisquer dados dos sentidos, ou seja, que é anterior à experiência. Nasce puramente de uma operação racional. É uma afirmação universal. Além disso, é uma afirmação que, para ser válida, não depende de nenhuma condição específica. Trata-se de uma afirmação necessária.
O conhecimento puro, portanto, conduz a juízo universais e necessários, enquanto o conhecimento empírico não possui essas características. No entanto, os juízos, por sua vez, são classificados em três espécies: analíticos, sintéticos a posteriori e a priori.
a) juízos analíticos, nos quais o predicado exprime uma noção já contida no sujeito-juízo necessariamente verdadeiros, mas de pouca utilidade para o progresso da ciência, por não serem extensivos, mas apenas explicativos do saber. Os juízos analíticos são a priori, independentes da experiência. a relação entre sujeito e predicado é pensada por identidade e não por contradição. Neste ponto de vista serve para tornar mais coerente, e explicitar melhor aquilo que já se conhece do sujeito. Não dependendo da experiência sensorial, é universal e necessário. Mas, a rigor é pouco útil, no sentido de que não conduz conhecimentos novos.
b) juízos sintéticos a posteriori – cujo predicado não está contido na idéia do sujeito, mais lhe é atribuído em virtude de uma experiência. Particulares e contingentes, os juízos a posteriori não têm nenhum alcance cientifico. Nesses juízos acrescenta-se ao sujeito algo novo, que é o predicado. Assim, os juízos sintéticos enriquecem nossas informações e ampliam os conhecimentos. Está diretamente ligado à nossa experiência sensorial. Tem uma validade sempre condicionada ao tempo e ao espaço em que se deu a experiência. Não produz, portanto, conhecimentos universais e necessários.
c) juízos sintéticos a priori-sintéticos, porque não se achando a noção do predicado encerrado na compreensão do sujeito, a união dos dois termos se faz por uma verdadeira síntese mental; a priori, por ser universal e necessário e como tais não pode provir da experiência singular e contingente. A última categoria de juízos pertence às proposições cientificas. Explicar-lhes a origem e o valor será, pois, explicar a possibilidade da ciência. Segundo Kant a matemática e a física são disciplinas cientificas por trabalharem com juízos sintéticos a priori. O conhecimento, portanto, é o resultado de uma síntese entre o sujeito que conhece e o objeto conhecido. É impossível conhecermos as coisas em si mesmas (o ser em si). Só conhecemos as coisas tal como percebemos (o ser para nós).
Kant não procura transcender à razão humana. Não aceita a razão divina como mediadora. O mundo empírico não tem explicação do mundo ideal. Portanto, o fundamento último do discurso humano é a própria racionalidade, sem apelar para Deus. Ao mesmo tempo Kant faz a formulação de um discurso preliminar, isto é, determinante, que mostra que a razão é juíza de si mesma. Neste caso, as normas dos processos da síntese pertencem ao sujeito. E só conhece o que pode ser empiricamente experimentado. Visto que, o conhecimento humano é marcado pela intuição sensível. Cada um tem a sua própria intuição de conhecimento. Enquanto, a metafísica não o é, e se torna apenas uma ciência ilusória.
Kant com o seu agnosticismo moderno tornou-se o centro e a base de toda filosofia. A sua crítica consiste no poder da razão em geral, em relação a todos os conhecimentos, independente de qualquer experiência. Suas teses fundamentais sobre gnosiologia têm como ponto de partida a incogniscibilidade da essência das coisas. Entretanto, há uma distinção entre númeno e fenômeno. O númeno nós não podemos conhecer as coisas em si. Já o fenômeno surge como uma coisa para nós, através de sua manifestação exterior da coisa em si, tal qual se apresenta à consciência.
Kant diante de sua visão teleológica passa da ordem do mundo até seu ordenador. Mas esta argumentação também carece de um valor objetivo, de modo que as provas da existência de Deus redundam em idéia ou ilusão transcendental. Ele diz que é impossível fazer uma demonstração da razão referente à existência de Deus. Somos incapazes de juízos científicos sobre Deus porque ele não ocorre no espaço e no tempo.
Kant não quer afirmar uma oposição de agnósticos ou de ateu. A critica de Kant não significa resignação da razão, e sim a convicção ético-religiosa de que devem ser respeitados os limites da razão. Assim a distinção das provas existência de Deus não destrói a fé em Deus nem funda o ateísmo. Kant afirma que a razão humana tem a tendência natural de ultrapassar esses limites. Em outras palavras, afirma uma necessidade metafísica arraigada no ser do próprio homem. Nesta perspectiva, a idéia de Deus permanece como idéia, como conceito teórico necessário e limite. Assim o que não se pode provar pela razão pura torna-se um postulado da razão prática. Depois de eliminar Deus da ordem do pensamento e da realidade, postula a existência de um Deus justo que fundamente a relação entre virtude e felicidade.
O postulado da razão prática é a imortalidade. Se o mundo inteligível não está sujeito às formas do espaço e do tempo nem das categorias, a vontade pura justifica a crença na imortalidade. Como, no mundo da consciência moral, não há diferença entre o ideal e o real, entre o que efetivamente sou e o que queira ser, ao contrario do mundo fenomênico, no qual os valores morais- justiça, bondade etc. Não estão realizados, é necessário que além deste mundo haja um mundo metafísico no qual o que é seja idêntico com o que deve ser. Este é um postulado que requer uma unidade sintética superior entre esse ser e o dever ser. A essa síntese unitária Kant chama Deus. Além do mundo fenomênico deve haver, pois, um entre no qual nossa aspiração se realize. Tal entre é deus. Enfim, a primazia da razão prática sobre a teoria permite-nos o acesso à verdade metafísica. Enquanto a razão teorética nos permite conhecer este mundo real fenomênico, a razão pratica nos conduz até Deus, ao reino das almas livres e imortais.
4. Fredrich Hegel
4.1 A vida
Filósofo alemão, nasceu em Estugarda, aos 27 de agosto de 1770. Aos 18 anos de idade ingressou no seminário protestante de Tubinga, para estudar teologia, onde conheceu e foi amigo de Schelling (1775-1854) e Holderlin. O pietismo, uma das correntes gnósticas do protestantismo, influenciou profundamente o seu pensamento.
Hegel foi um ilustre professor universitário de filosofia. Iniciou a sua atividade de professor em Berna, na Suíça, entre 1793 e 1796, e depois em Frankfourt, de 1797 a 1800. Foi depois mestre de conferências na Universidade de Lena (1801-1806), professor e reitor num colégio de Nuremberga (1808), depois professor em Heidelberg e finalmente em Berlim (1817-1831), onde permaneceu até à morte.
4.2 O Pensamento
Hegel concebeu o modelo de análise da realidade que maior influencia teve ao longo de todo o século XIX e XX, nomeadamente em pensadores como Schopenhauer, Nietzsche, Marx, Kierkegaard ou Jean-Paul Sartre. A sua filosofia, que recusa a concepção filosófica de Kant, assumiu um caráter enciclopédico. Hegel debruça-se sobre domínios tão diversos como lógica, direito, religião, arte, moral, ciência ou a história da filosofia e em todos eles vê a manifestação do Espírito Absoluto que se materializa e revela através da História da Humanidade.
Hegel é considerado por muitos pensadores como difícil, porque buscou compreender a realidade a partir do idealismo absoluto. Segundo Mondin, Hegel estruturou seu pensamento idealista pelo modelo intelectual que recebeu no seminário teológico de Tubinga, sua formação foi de grande escala teológica.
“De fato, já nos escritos juvenis está explicitamente expressa a intuição determinante de todo o sistema hegeliano, a intuição da alienação do real em relação ao ideal, do particular em relação ao universal, do homem em relação a Deus. Esta intuição Hegel a teve certamente ao ler a narração bíblica do afastamento (alienação) do homem em relação a Deus; desde o começo ele considerou o conceito bíblico como princípio hermenêutico absoluto da realidade como tal, transformando assim uma verdade teológica particular em princípio filosófico universal. Como princípio filosófico, a alienação toma forma de movimento dialético” (...) (Mondin 1981-1983. p. 34).
A filosofia que Hegel propôs é uma tentativa de considera todo o universo como um todo sistemático. O sistema é baseado na fé. Na religião cristã, Deus foi revelado como verdade e como espírito. Como espírito o homem pode receber esta revelação. Na religião a verdade está oculta na imagem; mas na filosofia o véu se rasga, de modo que o homem pode conhecer o infinito e ver todas às coisas em Deus.
O sistema hegeliano é assim um monismo espiritual mas um monismo no qual a diferenciação é essencial. Somente através da experiência pode a identidade do pensamento e o objeto do pensamento serem alcançadas, umas identidades na qual o pensar alcança a inteligibilidade progressiva que é seu objetivo. Assim, a verdade é conhecida somente porque o erro foi experimentado e a verdade triunfou; e Deus é infinito apenas porque ele assumiu as limitações de finitude e triunfou sobre elas. Similarmente, a queda do homem era necessária se ele devia atingir a bondade moral. O espírito, incluindo o Espírito infinito, conhece a si mesmo como espírito somente por contraste com a natureza.
O sistema é monista pelo fato de ter um tema único: o que faz o universo inteligível é vê-lo como o eterno processo cíclico pelo qual o Espírito Absoluto vem a conhecer a si próprio como espírito (1) através de seu próprio pensamento; (2) através da natureza; e (3) através dos espíritos finitos e suas auto-expressões na história e sua autodescoberta, na arte, na religião, e na filosofia, como um com o próprio Espírito Absoluto.
O compêndio do sistema de hegeliano, a "Enciclopédia das Ciências Filosóficas", é dividida em três partes: Lógica, Natureza e Espírito. O método de exposição é dialético. Acontece com freqüência que em uma discussão, duas pessoas que a princípio apresentam pontos de vista diametralmente opostos depois concordam em rejeitar suas visões parciais próprias, e aceitar uma visão nova e mais ampla que faz justiça à substância de cada uma das precedentes. Hegel acreditava que o pensamento sempre procede deste modo: começa por lançar uma tese positiva que é negada imediatamente pela sua antítese; então um pensamento seguinte produz a síntese. Mas esta síntese, por sua vez, gera outra antítese, e o mesmo processo continua uma vez mais. O processo, no entanto, é circular: ao final, o pensamento alcança uma síntese que é igual ao ponto de partida, exceto pelo fato de que tudo que estava implícito ali foi agora tornado explícito, tudo que estava oculto no ponto inicial foi revelado.
Assim o pensamento propriamente, como processo, tem a negatividade como um de seus momentos constituintes, e o finito é, como a automanifestação de Deus, parte e parcela do infinito mesmo. O sistema de Hegel dá conta desse processo dialético em três fases:
Lógica: O sistema começa dando conta do pensamento de Deus "antes da criação da natureza e do espírito finito", isto é, com as categorias ou formas puras de pensamento, que são a estrutura de toda vida física e intelectual. Todo o tempo, Hegel está lidando com essencialidades puras, com o espírito pensando sua própria essência; e estas são ligadas juntas em um processo dialético que avança do abstrato para o concreto. Se um homem tenta pensar a noção de um ser puro a mais abstrata categoria de todas, ele encontra que ela é apenas o vazio, isto é, nada. No entanto, o nada "é". As noções de ser puro e a noção de nada são opostas; e no entanto cada uma, quando alguém tenta pensá-la, passa imediatamente para a outra. Mas o caminho para sair dessa contradição é de imediato rejeitar ambas as noções separadamente e afirmá-las juntas, isto é, afirmar a noção do vir a ser, uma vez que o que ambas vem a ser é e não é ao mesmo tempo. O processo dialético avança através de categoria de crescente complexidade e culmina com a idéia absoluta, ou com o espírito como objetivo para si mesmo.
Natureza: A natureza é o oposto do espírito. As categorias estudadas na Lógica eram todas internamente relacionadas umas às outras; elas nascem umas das outras. A natureza, no entanto, é uma esfera de relações externas. Partes do espaço e momentos do tempo excluem-se uns aos outros; e tudo na natureza está em espaço e tempo e assim é finito. Mas a natureza é criada pelo espírito e traz a marca de seu criador. As categorias aparecem nela como sua estrutura essencial e é tarefa da filosofia da natureza detectar essa estrutura e sua dialética; mas a natureza, como o reino da "externalidade", não pode ser racional seqüencialmente, de modo que a racionalidade prefigurada nela torna-se gradualmente explícita quando o homem aparece. No homem a natureza alcança a autoconsciência.
Espírito: Aqui Hegel segue o desenvolvimento do espírito humano através do subconsciente, consciente e vontade racional. Depois, através das instituições humanas e da história da humanidade como a incorporação e objetivação da vontade; e finalmente para a arte, a religião e filosofia, na qual finalmente o homem conhece a si mesmo como espírito, como um com Deus e possuído da verdade absoluta. Assim, está então aberto para ele pensar sua própria essência, isto é, os pensamentos expostos na Lógica. Ele finalmente voltou ao ponto de partida do sistema, mas no roteiro fez explícito tudo que estava implícito nele e descobriu que nada senão o espírito é, e espírito é pura atividade.
Nos trabalhos políticos e históricos de Hegel, o espírito humano objetiva a si próprio no seu esforço para encontrar um objeto idêntico a si mesmo. A Filosofia do Direito cai em três divisões principais. A primeira trata da lei e dos direitos como tais: pessoas isto é, o homem como homem, muito independentemente de seu caráter individual são os sujeitos dos direitos, e o que é requerido delas é meramente obediência, não importa que motivos de obediência possam ser. O Direito assim é um abstrato universal e portando faz justiça somente ao elemento universal na vontade humana. O indivíduo, no entanto, não pode ser satisfeito a menos que o ato que ele faz concorde não meramente com a lei mas também com suas próprias convicções conscientes. Assim, o problema no mundo moderno é construir uma ordem política e social que satisfaça os anseios de ambos. E assim também, nenhuma ordem política pode satisfazer os anseios da razão a menos que seja organizada de modo a evitar, por uma parte, a centralização que faria os homens escravos ou ignorar a consciência e, por outra parte, um antinomianismo argumentação que se desenvolve por meio de antinomias: as proposições mutuamente excludentes que iria permitir a liberdade de convicção para qualquer indivíduo (liberalismo) e assim produzir uma licenciosidade que faria impossível a ordem política e social.
Para Hegel, o Estado que alcançasse essa síntese, haveria de apoiar-se na família e na culpa. Seria talvez diferente de qualquer Estado existente nos dias de Hegel; é uma forma de limitada monarquia, com governo parlamentarista, julgamento por um júri, e tolerância para judeus e dissidentes. Seria diferente de qualquer Estado existente nos dias de Hegel.
Na Filosofia da História Hegel pressupôs que a historia da humanidade é um processo através do qual a humanidade tem feito progresso espiritual e moral e avançado seu autoconhecimento. A história tem um propósito e cabe ao filósofo descobrir qual é. Alguns historiadores encontraram sua chave na operação das leis naturais de vários tipos. A atitude de Hegel, no entanto, apoiou-se na fé de que a história é a representação do propósito de Deus e que o homem tinha agora avançado longe bastante para descobrir o que esse propósito era: ele é a gradual realização da liberdade humana.
O primeiro passo era fazer uma transição da vida selvagem para um estado de ordem e lei é a revolução. Em muitos pontos o pensamento de Hegel serviu aos fundamentos do marxismo, e um deles é sua concepção de que os Estados têm que ser encontrados por força e violência pois não há outro caminho para fazer o homem curvar-se à Lei antes dele ter avançado mentalmente tão longe suficiente para aceitar a racionalidade da vida ordenada. Alguns homens aceitarão as leis e se tornarão livres, enquanto outros permanecerão escravos. No mundo moderno o homem passou a crer que todos os homens, como espíritos, são livres em essência, e sua tarefa é, assim, criar instituições sob as quais eles serão livres de fato.
Os princípios básicos do sistema hegeliano
Hegel construiu um sistema rigorosamente cientifico, ou seja, um sistema que aproveite todos os dados inegavelmente adquiridos pelas ciências, organizando-os de modo a tirar deles a história universal do Espírito Absoluto. Mas, para ele poder considerar os dados das ciências como elementos desta história, precisou postular alguns princípios que ultrapassam a esfera científica e pertencem à esfera filosófica.
No entanto, em primeiro lugar, apresenta dois princípios lógicos: o de identidade do ideal e do real e o de contradição. No princípio de identidade do ideal e do real afirma que (tudo que é racional é real e tudo que é real é racional). Pensamento e coisa não podem ser entendidos como esferas opostas e conflitantes; se fosse assim, a realidade seria incognoscível. Porém o pensamento é capaz de aprender as coisas. Pois as leis da mente, da lógica, são também leis da realidade: lógica e metafísica são a mesma coisa. O princípio de contradição diz que na realidade não existe nada que seja idêntico a si mesmo, porém tudo estará sujeito à dialética da afirmação e da negação.
A dialética
Pelo método dialético a realidade é perfeita racionalidade; não uma racionalidade estática, mas dinâmica, em constante desenvolvimento. Para Hegel, o único método adequado para o estudo de uma realidade em constante devir é o método da lógica especulativa ou dialética. Os diálogos de Platão constituem o exemplo e a prova da validade deste método, ou seja, uma personagem afirma uma teoria, outra a nega e, através do diálogo fechado, desenvolve uma doutrina onde os interlocutores acabam concordando.
Desta mesma forma se dar o processo do absoluto: ele progride pondo a si mesmo (tese), negando o que pôs (antítese) e unindo o que foi posto ao que foi negado (síntese).
O método dialético hegeliano consta, pois de três momentos: tese, antítese e síntese. A tese é o momento do ser em si; ele põe, afirma uma parte da realidade, negando implicitamente uma outra parte da realidade, porque toda afirmação inclui uma negação. A antítese é o momento do ser extra se, (fora de si); ela contrapõe, afirmando-a, à parte da realidade implicitamente negada pela tese. Não se trata, de função puramente negativa; mas essencialmente afirmativa; é neste sentido que Hegel fala do poder portentoso do negativo. Portanto, pertence, de fato, à negação manifestar o que foi obscurecido pela tese, e libertando a realidade dos limites da estaticidade para mostrar sua riqueza interior. A síntese é o memento da união das partes postas pela tese e pela antítese num todo única, o qual anula as imperfeições dos momentos anteriores, porém conserva a positividade deles “ser em si e para si”. Na síntese se encontra a sublimação e a elevação.
4.3 Deus como fundamento da religião
Para Hegel, na religião, o homem sabe-se determinado por Deus e a ele está relacionado. Por isso Deus é o princípio a partir do qual se constitui a religião. Portanto, isso pressupõe que, de alguma forma, Deus seja acessível ao homem. Porém esse não é tão evidente pelo simples fato de alguns não crerem nele.
No entanto a porta de entrada no pensamento hegeliano é o fenômeno do amor. Nele, por primeiro, descobre o caráter dialético da realidade. O ponto de partida é o fato da auto-alienação na realização do amor: o amor, esquecendo-se a si mesmo, sai da existência amoroso e vive no outro. No amor, o homem perde-se a si mesmo e encontra-se no outro.
Para Hegel aquilo que acontece no amor só é possível de compreensão a parti de um todo. Na dialética do amor realiza-se á vida. O amor é modificação da vida. E a vida é o que anima todos os viventes. Também a vida a partir de sua essência, é dialética. Na origem é uma; dividi-se na multiplicidade dos viventes para, finalmente, reencontrar-se na unidade. Aí Hegel encontrou o princípio teológico de sua filosofia. Se o divino é pura vida, também a divindade tem caráter dialético. O fato de atingir o divino, permite-lhe tomar posição no absoluto. Portanto Deus não é o momento conclusivo de seu sistema mas o ponto de partida.
Contudo Hegel não tenta demonstrar a existência objetiva de Deus. No entanto indaga como o homem pode chegar a pensar Deus. Faz uma interpretação a partir da confluência das possibilidades humanas. O processo é a consciência da própria divindade. Com isso o homem só chega a Deus como presente, na imanência, não ao Deus transcendente.
De acordo com Hegel, Deus deve ser como aquele que passa por uma história e nela se revela. Este é o tema fundamental apresentado em sua obra filosófica, a Fenomenologia do Espírito. Para ele, em todos os problemas do homem o do mundo, em ultimo caso se trata do próprio Deus. Fundamenta a questão de Deus como único fundamento de tudo e o principio do ser e do conhecer.
4.4 Como Hegel relaciona religião e filosofia?
Em um de seus fragmentos juvenil Hegel, fala de elevação à vida infinita e esta elevação é a religião, portanto, Hegel atribui tal elevação à religião e não a filosofia. A filosofia é a religião compreensiva porque refletem sobre idéias, pensa em termos de oposição. A religião se opõe a ela porque pensa em termos de totalidade. Pela religião a vida finita se eleva à vida infinita, isso é possível porque o próprio finito é vida.
No entanto, o jovem Hegel dá preferência à religião. Porém na maturidade esse pensamento faz a inversão, não atribui o acesso ao infinito à religião, e sim a filosofia. Busca a superação da oposição entre filosofia e religião. Nesta nova síntese do pensamento pensando o pensado estabelece uma nova unidade entre Deus e o homem. O espírito é o todo a partir do qual Deus e homem, ambos espíritos, se tornam compreensíveis. Na juventude situa a possibilidade de pensar o absoluto através da elevação da religião, com a maturidade parte da própria filosofia. A razão ocupa o lugar que era ocupado pela elevação da religião. Contudo, a religião ocupa o segundo momento do devir do espírito absoluto.
Em (El concepto de religión, p. 95) diz que:
“Deus não é espírito vazio, mas o espírito. E o espírito não é o só puro nome, determinação superficial, mas um ser cuja natureza se desenvolve, concebendo a Deus como essencialmente tríplece na unidade”.
Com efeito, Deus se torna consciente na autoconsciência do homem pela concepção ontológica:
“O homem conhece Deus só em quanto Deus se conhece a si mesmo nos homens. Este saber é a autoconsciência de Deus, mas também o saber que Deus tem dos homens, e tal saber é o saber que os homens têm de Deus” (Enciclopédia, 564).
No entanto, Hegel preferiu uma atitude crítica em relação à religião. Não queria acabar como a religião, mas procurou renová-la dentro da sociedade moderna como autêntica religião do povo, fundada na razão, pois não queria uma religião acrítica, porém não defendeu uma razão sem tradição. Por isso, ele não via a religião como campo privado e sim como valor educativo.
Vejamos o que diz Hegel citado por Zilles em (Filosofia da Religião, p. 77):
“A religião consumada é aquela na qual o conceito de religião retorna a si --- onde a idéia absoluta, Deus, enquanto espírito segundo sua verdade e seu caráter manifesto, constitui o objeto da consciência. As religiões anteriores nas quais a daterminabilidade do conceito é menor, mais abstrata e defeituosa, são religiões determinadas que constituem etapa de transição do conceito de religião até seu acabamento. Esta religião revelada é, pois, a cristã. A religião cristã mostra-se nos como a religião absoluta” (El concepto de religión, p.126).
Desenvolve o tema da alienação do homem pela religião, e diz que o homem não é capaz de construir a sua vida moral por si mesmo, está sempre em busca de resposta no além e apoiando-se numa pessoa, ou seja (Cristo).
“Entretanto, para Hegel, como já vimos,o centro do mistério cristão não é Jesus Cristo, mas a Trindade. Como o espírito absoluto é o pensamento e como tal se distingue de si mesmo, também Deus não é uma unidade indiferenciada, mas trindade de pessoas em sua infinita vida espiritual. Essa trindade corresponde aos três momentos da dialética da idéia do espírito; o Pai é o permanecer imutável de Deus, como idéia em si; o Filho ou deus-homem, é a manifestação de Deus fora de si na natureza; o Espírito Santo é o retorno do mundo a Deus e sua reconciliação com ele” (ZILLES, 1991, p. 77).
Para Hegel no cristianismo o indivíduo renuncia o direito de determina por si mesmo o que é verdadeiro, bom e justo, aceitando o que imposto pela fé. E a alienação é sinônima de escravidão e opressão e caracteriza a religiosidade judaico-cristão como a relação senhor escravo Deus Transcendente para ele, é o senhor dominador, o homem é o escravo. Hegel chama estas realidades infinitas, as totalidades divinas de idéia, que se manifesta na realidade se realizando na múltipla vida, esta vida criadora chama de Deus que deve ser concebido como espírito.
Entretanto, para Hegel há dois caminhos para conhecer Deus: o empírico (todos os homens têm consciência de Deus), parte do ponto de vista da consciência finita, ou seja, o caminho empírico procede do conhecimento imediato pelo sentimento passando pela representação até o pensamento reflexivo, mesmo assim não pode conhecer Deus, pois a subjetividade impede esse acesso. Por isso é necessário outro caminho, o especulativo (quando Deus torna-se uma questão problemática. É a través de um princípio filosófico do próprio ato do conhecimento que a consciência do homem compreende Deus). É aí que está situada a religião. Sua forma é absoluta, isto é, nela a verdade aparece como é em si e para si. Para Hegel só se pede conhecer Deus pelo caminho especulativo.
Contudo, o espírito absoluto desde o começo se apresenta em toda realidade como em todas as ciências. Entretanto Hegel afirma que o espírito absoluto está mais bem revelado na arte, na religião e na filosofia.
Segundo Mondin citando Hegel em (El concepto de religión,p. 96) diz que:
“Religião e filosofia coincidem em um só e mesmo objetivo porque o conteúdo da religião é a verdade universal e absoluta, e a filosofia chama de idéia ao ser supremo e absoluto. Deus é a verdade absoluta. Deve ser representado como universal absolutamente concreto”
Deus é o ponto de partida, é unidade é amor. O amor o faz transcendência. Esta é portanto, a dialética do Absoluto. “Hegel não tenta demonstra a existência objetiva de Deus, antes indaga como o homem chega a pensar Deus” (ZILLES. p.64)
O problema religioso para Hegel o (Absoluto). A dialética hegeliana: o Pai (totalidade divina),tese; o Filho (homem finito) antítese e Espírito Santo (reconciliação) síntise. O dogma da Trindade: o Pai realidade uma, o Filho realidade separada e o Espírito realidade reunificada, reconciliada o finito com o infinito, ou seja a superação da alienação.
Segundo Mondin:
“o método dialético conta, portanto, de três momentos: tese, antítese e síntese. A tese é o momento do ser em si (an sich sein); ela põe, afirma uma parte da realidade, negando implicitamente uma outra parte da realidade, porque toda afirmação inclui uma negação. A antítese é o momento do ser extra se” fora de si (ausser sich sein); ela contrapõe, afirmando-a, a parte da realidade implicitamente negada pela tese (...). A síntese é o momento da união das partes postas pela tese e pela antítese num todo único, o qual anula as imperfeições dos momentos anteriores, mas conserva a possibilidade deles (na sich und für sich sein, “ser em si e para si” )” (MODIN 1981, p. 41).
Todavia, é pela síntese que se chega à sublimação ou elevação. O sistema hegeliano é de certa forma uma apresentação de todo o real como expressão e automanifestação do absoluto por meio das três fases da dialética.
Conclusão
Após essas reflexões, verifica-se a amplitude não só do Racionalismo em si, mas de sua contribuição para a Filosofia e para a maneira de ver o mundo que se seguiu.
Percebe-se, que diferente de outros movimentos que se proclamam racionais, o Racionalismo não nega, nem tampouco procura negar, a Fé, a religião, ou Deus, embora com críticas à sua época e aos homens de seu contexto.
No Racionalismo, o que se procura não é deixar Deus de fora, mas apenas não “perturbá-lo” quando se pode utilizar o que Ele mesmo nos deu: a razão. Como que se coloca Deus na “sala de espera”, mas sem expulsá-lo. Herda-se ainda a Fé da Idade Média, entretanto, no centro está a razão, e o homem é sujeito, é ativo no processo, não apenas mero “fantoche” da graça divina, como propunham Tomás e Agostinho.
Bibliografia
DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo: Abril Cultura, 1973. Col. Os Pensadores, vol. XV.
LARA, Tiago Adão. A Filosofia Ocidental – do Renascimento aos nossos dias. 5ed. Petrópolis: Vozes, 1993.
MONDIN, Battista. Curso de filosofia. 4 ed. São Paulo: Paulinas.
ZILLES, Urbano. Filosofia da Religião. São Paulo: Paulinas.
1 Advertência ao leitor no Discruso do Método.
2 Discurso do Método, 2ª parte.
Publicado por: Saulo Maurício Silva Lobo
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