Jair Bolsonaro: As construções de sentidos nas reproduções de notícias por sites jornalísticos

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1. RESUMO

A reprodução de discursos em nossa sociedade cada vez mais conectada é algo constante quando se fala em rede mundial de internet. Valendo-se de recursos linguísticos-discursivos, a presente pesquisa tem por objetivo geral investigar as construções de sentidos pelos sites Brasil 247 e República de Curitiba nas postagens e matérias jornalísticas que reproduzem notícias acerca da figura do presidente Jair Bolsonaro. As contribuições teóricas de Agamben (2005), Deleuze (1996), Foucault (2014), Gregolin (2003), dentre outros, são tomadas como fundamentos para análises, cuja metodologia empregada considera a pesquisa de cunho descritivo-comparativo e de natureza qualitativa, visto que se interessa em comparar as diferentes maneiras de se narrar um mesmo acontecimento. A constituição do corpus do presente estudo é feita a partir de 4 (quatro) postagens e de 2 (duas) matérias jornalísticas relacionadas à figura do presidente da república Jair Bolsonaro, levando em consideração as reverberações de seus discursos enquanto sujeito político, reproduzidas pelos sites Brasil 247 e República de Curitiba. Os resultados mostram, mediante análise linguístico-discursiva, que diante do crescente número de posicionamentos políticos no que toca ao conteúdo jornalístico e a heterogeneidade discursiva a respeito de acontecimentos relacionados ao presidente em questão, a maneira como um fato é noticiado pode mudar de sentido, visto que isso está intrinsecamente relacionado ao posicionamento político assumido por quem noticia. Nesse sentido, os sites de notícias são dispositivos midiáticos que colocam em cena posições político-partidárias. No jogo de saber-poder-subjetividade, os sites Brasil 247 e República de Curitiba utilizam em seus conteúdos jornalísticos elementos verbo-imagéticos que tentam satirizar ou positivar a figura do Presidente Jair Bolsonaro. E é por intermédio dos interdiscursos que esses discursos prenhes, de diferentes ideologias, podem contribuir para a reverberação e a reduplicação de narrativas de um mesmo fato.

Palavras-Chave: Brasil 247. Dispositivo midiático. República de Curitiba. Reprodução de notícias. Jair Bolsonaro.

ABSTRACT

The reproduction of discourses in our increasingly connected society is something constant when talking about a worldwide internet network. Using linguistic-discursive resources, this research has as general objective to investigate the constructions of meanings by the sites Brasil 247 and República de Curitiba in the posts and journalistic articles that reproduce news about the figure of President Jair Bolsonaro. The theoretical contributions of Agamben (2005), Deleuze (1996), Foucault (2014), Gregolin (2003), among others, are taken as foundations for analysis, whose methodology is considered descriptive-comparative research and qualitative in nature, since it is interested in comparing the different ways of narrating the same event. The constitution of the corpus of this study is made from 4 (four) posts and two (2) journalistic articles related to the figure of the President of the Republic Jair Bolsonaro, taking into account the reverberations of his speeches as a political subject, reproduced by the sites Brasil 247 and República de Curitiba. The results show, through linguistic-discursive analysis, that in view of the growing number of political positions regarding journalistic content and discursive heterogeneity regarding events related to the president in question, the way a fact is reported can change meaning, since this is intrinsically related to the political position assumed by those who report. In this sense, news sites are media devices that put political-party positions on the scene. In the game of knowledge-power-subjectivity, the sites Brasil 247 and República de Curitiba use in their journalistic contents verbo-imagery elements that try to satirize or positive the figure of President Jair Bolsonaro. And it is through interdiscourses that these prenhesive discourses, of different ideologies, can contribute to the reverberation and reduplication of narratives of the same fact.

Keywords: Brasil 247. Media device. República de Curitiba. News reproduction. Jair Bolsonaro.

2. INTRODUÇÃO

Os avanços intelectuais obtidos pelo movimento Iluminista, entre os séculos XVII e XVIII, proporcionaram uma mudança de pensamento científico, social e político nas sociedades ocidentais no que tange à plena liberdade da criticidade em detrimento das tradições religiosas e do alto clero. Os desejos pela autonomia do conhecimento e da verdade tornaram-se espontâneos na medida em que os métodos de reprodução de discursos procuravam a razão para a obtenção de respostas a perguntas antes não respondidas (SANTOS, 1987). Assim, houve avanços significativos na intenção de solucionar as contradições que envolviam a sociedade e o pensamento dos sujeitos que constituíam a conjuntura social estabelecida.

Em um regime democrático, é natural que os indivíduos expressem o seu ponto de vista e sejam livres para a manifestação do pensamento e para opinar sobre os mais diversos temas que abarcam a contemporaneidade (MACHADO 2014). Esse pilar basilar do estado democrático de direito é garantido pela nossa Constituição Federal de 1988, no seu artigo quinto, que é tido como cláusula pétrea (BRASIL, 1988). A (re)produção de discursos e a sua duplicidade são algo recorrente em nossa sociedade, principalmente no que tange a assuntos políticos, sob os quais sujeitos tentam materializar as suas ideologias através de discursos, em um processo descontínuo, por intermédio de práticas interdiscursivas[1].

Desse modo, a heterogeneidade discursiva que costumamos nos deparar em nossos dias é algo responsável pelas diferentes maneiras de produção de sentidos acerca de deliberado acontecimento. Visto que a produção de sentidos é uma prática social, uma execução interativa e coletiva (SPINK; MEDRADO, 1999), no ambiente virtual, os sites de notícias são encarregados de nos informar, através de seus conteúdos, sobre os mais variados assuntos do nosso cotidiano. Diante do exposto, é notório que não há neutralidade no discurso (FOUCAULT, 2014) e que o processo linguístico-discursivo sofre influência direta da visão de mundo transitória que o sujeito tem a partir da ideologia que constitui a sua formação discursiva. A reprodução de uma notícia sobre determinado acontecimento pode sofrer interferências em seus enunciados pela posição ideológica assumida pelo site que se dispõe a propagar o acontecimento a partir de sua percepção do fato e do seu posicionamento político (ORLANDI, 2001).

As posições políticas assumidas por grupos que polarizam o debate de ideias na sociedade brasileira contemporânea mostram uma fragmentação de discursos dos espectros ideológicos de direita (conservadora) e de esquerda (progressista), que basicamente “[...] são termos antitéticos que [...] têm sido habitualmente empregados para designar o contraste entre as ideologias [...], eminentemente conflitual, do pensamento e das ações políticas.” (BIBBIO, 1995, p.31). Partindo disso, é importante identificarmos que o debate bipolar de ideias entre esses dois grupos, direita e esquerda, mostra como o processo linguístico-discursivo pode ser utilizado para que (BAKHTIN, 1979 apud BRANDÃO, 2004) a ideologia representativa dos respectivos espectros políticos possa ser materializada por meio de seu(s) discurso(s), visto que são posições políticas antagônicas entre si.

O campo virtual, por conseguinte, é encarado como um espaço de disputas discursivas, ocasionando em uma esfera das mais variáveis formas de manifestações do discurso, seja por meio de textos verbo-imagéticos, formando assim uma fragmentação de opiniões a respeito de diversos assuntos que repercutem na sociedade. A expansão do dispositivo midiático dispõe de uma cadeia de informações que tecem determinados pontos de vistas a partir da ideologia dos elementos que os constituem, assim propagando a heterogeneidade de discursos acerca de um mesmo acontecimento que é reproduzido com diferentes descrições (LEVY, 1996).

Dessa maneira, o objeto de estudo que compõe esta pesquisa trata das construções de sentidos por meio da reprodução de notícias a partir das diferentes posições ideológicas presentes no dispositivo midiático, gerando discursividades que são representativas de determinados grupos defensores de posições políticas distintas. E visando à heterogeneidade discursiva na composição dessas matérias jornalísticas, que geram diferentes sentidos, foram selecionadas quatro (4) postagens e duas (2) notícias que se remetem ao Presidente da República, Jair Bolsonaro, estas últimas acerca de sua visita ao estádio do Maracanã, em jogo entre as seleções do Brasil e do Peru, válido pela final da Copa América de 2019, pelos sites Brasil 247 e República de Curitiba.

A abordagem deste assunto se dá pela influência que os dispositivos midiáticos exercem em nossa sociedade contemporânea, globalizada e conectada à internet, que busca a todo momento permanecer informada acerca de assuntos multipolarizados que abarcam o centro dos debates, e por meio da interação instantânea, tornam-se um centro de aglomeração de discursos no qual sujeitos por meio de suas ideologias, que estão em constante (trans)formação, reproduzem e compartilham notícias à maneira de suas opiniões formadas sobre determinados assuntos. A concepção de dispositivo, conceituado por Michel Foucault, pode nos trazer uma compreensão acerca dos artifícios que os elementos do dispositivo midiático utilizam para que tal subjetividade seja gerada, juntamente com a distinção de notícias sobre um mesmo acontecimento.

É por meio do discurso dos sujeitos, ainda que sejam caracterizados pela descontinuidade, que podemos analisar como uma sociedade está constituída na sua formação ideológica e como estão estabelecidas as suas relações histórico-sociais. Através da materialidade ideológica, por meio da prática linguístico-discursiva, podemos identificar o antagonismo dos diferentes grupos que formam os mais distintos tipos de ideologias que permeiam e polarizam o debate político em nossa contemporaneidade. Diante dessa multipolaridade discursiva e do constante crescimento do espaço cibernético, surge a motivação para a produção desta pesquisa, no que se refere a construções de sentidos por meio da reprodução de determinados fatos no ambiente virtual, por meio de websites que utilizam métodos verbo-imagéticos correspondentes a sua própria noção de verdade.

Os sites, blogs e portais de notícias complementam uma importante área do campo do dispositivo virtual, que se dispõe a manter as pessoas informadas acerca de diversos assuntos e disponibiliza categorias variadas de notícias, visando à reprodução de matérias que geram impactos subjetivos e diversas compreensões (GREGOLIN, 2007) acerca de assuntos que são permeados de recursos textuais, imagéticos e audiovisuais, formando assim determinado enunciado. Pelas razões supracitadas, é inevitável que sites notícias vinculados a conteúdos políticos e de militância partidária gerem diferentes sentidos acerca de um mesmo acontecimento, sobretudo acerca de fatos que envolvam ideias ou lideranças políticas, buscando enfatizar o lado negativo e/ou positivo do fato a ser reproduzido. Mediante as razões supracitadas, e em consonância com o apoio teórico de Michel Foucault no que se refere à Análise do Discurso (AD) e de Deleuze acerca do conceito de dispositivo, é que as seguintes indagações nos aparecem: De que forma os sites de notícias estão organizados dentro do dispositivo midiático? A reprodução de uma notícia no dispositivo midiático, por meio de sites de notícias identificados com militâncias partidárias, pode sofrer influência de aspectos ideológicos a partir dos elementos linguísticos-discursivos? Como a reduplicação de uma mesma notícia pode destacar aspectos negativos e/ou positivos ao se tratar de um determinado líder político? São indagações como essas que promovem discussões entre estudiosos das mais diversas áreas.

Dessa maneira, diante de todo o avanço tecnológico, da abrangência cada vez mais gradativa do espaço cibernético e do crescente número de sites, páginas e portais que narram acontecimentos do nosso quotidiano em forma de notícia, é que se é questionado acerca de tamanha expansão dessas ferramentas de uso informativo e discursivo: como os sites de notícias utilizam recursos verbo-imagéticos distintos para se noticiar um mesmo acontecimento a partir de diferentes visões? Além do mais, como as dimensões do dispositivo midiático possibilitam as diversas construções de sentidos acerca de um mesmo fato?

Assim sendo, por meio da “noção de discurso, encontra-se a noção de sentido compreendida como um efeito de sentidos entre sujeitos” (FERNANDES, 2005, p.13), tem-se por objetivo principal deste trabalho monográfico  investigar as construções de sentidos por meio de postagens e de reproduções de notícias sobre a visita do presidente Jair Bolsonaro ao Maracanã, através de recursos linguísticos-discursivos dentro do dispositivo midiático a partir da posição político-partidária dos sites Brasil 247 e República de Curitiba. De modo específico, os nossos objetivos abarcam: a) descrever o dispositivo midiático na perspectiva da Análise do Discurso de linha francesa para a compreensão do encadeamento da reprodução de notícias; b) apresentar os métodos de construções de sentidos por meio de elementos linguísticos-discursivos que geram a subjetividade e; c) analisar a reduplicação de notícias vinculadas ao sujeito presidente Jair Bolsonaro por meio dos posicionamentos políticos adotados pelos sites Brasil 247 e República de Curitiba.

A natureza desta pesquisa nos proporciona entender como a reprodução de uma notícia vinculada a figuras/ideias políticas pode sofrer alterações de sentido a partir dos posicionamentos políticos e ideológicos dos sites que se propõem a propagá-la. Através disso, trazer o já mencionado objeto de estudo para este trabalho monográfico, isto é, quatro (4) postagens e duas (2) notícias dos sites Brasil 247 e República de Curitiba, abre a possibilidade de se abrir trajetos e caminhos que explorem ainda mais o assunto da reduplicação de notícias dentro da noção de dispositivo conceituado por Michel Foucault.

O anseio de buscar a compreensão e o entendimento de grupos que polarizam o debate político no país (direita versus esquerda) por meio de suas práticas linguístico-discursivas é estudado em diversas áreas do saber científico, destacando a importância do estudo do discurso e relacionando essa junção de sujeito e de sociedade através das formações discursivas. Assim sendo, este estudo não trabalha de maneira aprofundada acerca das ideologias que constituem a opinião de sites de notícias, mas a relação de construções de sentidos e a heterogeneidade de discursos dentro do dispositivo midiático acerca das notícias que compõem o nosso corpus de análise.

Em vista disso, este estudo se refere ao tipo de pesquisa documental, visto que iremos trabalhar com matérias de sites de notícias, por meio da metodologia descritiva-comparativa, isto é, descritiva pela indispensabilidade de descrevermos visões sobre determinado fato estabelecido (GIL, 2008) e; comparativa pela necessidade de investigar os métodos de construções de sentidos por meio de postagens e de reproduções de notícias em sites com posições políticas distintas.

No que se refere à natureza do presente estudo, classifica-se em natureza qualitativa, pois a seleção do objeto de estudo para a presente pesquisa depende do desempenho interpretativo dos meios das práticas discursivas que nos levam a compreender os enunciados das notícias por meio do discurso que é produzido no conteúdo constitutivo das matérias jornalísticas. Através dos procedimentos que este trabalho se disponibiliza a analisar e o conteúdo que constitui o corpus de pesquisa, o método selecionado para a abordagem será o dedutivo, pois mediante o aparato teórico será feita a análise do processo de reduplicação de notícias por meio de sites jornalísticos.

A composição do nosso corpus de análise é formada por quatro (4) postagens e por duas (2) matérias jornalísticas correspondentes aos sites Brasil 247 e República de Curitiba respectivamente. A ocasionalidade da coleta do corpus supracitado se dá pelo fato de que os recursos linguísticos-discursivos, que constituem os enunciados do acontecimento a ser noticiado, levarem a interpretações diferentes diante do fato de se tratar de um episódio que envolve o sujeito presidente Jair Bolsonaro, a depender dos posicionamentos políticos assumidos pelos sites que reproduzem a eventualidade. Os dois sites são dedicados a destacar notícias sobre política do Brasil e do mundo, mas com posições partidárias que se distinguem uma da outra.

A presente pesquisa inclui-se aos estudos na disciplina de Análise do Discurso de Linha Francesa e conta com o auxílio de principais teóricos para o seu embasamento, entre eles: Gregolin (2007), Foucault (2014), Fernandes (2005), Lévy (1996), Orlandi (2001), Maingueneau (1996) entre outros que foram de fundamental importância para a produção deste estudo.

Dessa maneira, o nosso trabalho se encontra subdividido de forma estrutural em dois capítulos. O primeiro capítulo, denominado por “Discurso, campo virtual e sites jornalísticos: as construções de sentido nas reproduções de notícias” traz em seu texto a importância do campo virtual no processo comunicativo, juntamente com os sites de notícias que o constituem, e a sua relevância para o método de reprodução de notícias e propagação discursiva, sendo encarado, o campo virtual, como um dos grandes marcos da evolução dos meios comunicativos da história da humanidade. As sociedades passaram a ter um universo alternativo ao mundo físico estando conectadas ao campo virtual, onde suas interações e práticas discursivas funcionam de maneira instantânea, prática e com inúmeras possibilidades para a veiculação de discursos que carregam consigo suas marcas ideológicas e suas causas partidárias.

E no segundo intitulado de “As construções de sentidos e a reduplicação de notícias sobre JAIR BOLSONARO: a batalha discursiva dos sites Brasil 247 e República de Curitiba” são apresentadas as análises de 4 (quatro) postagens e de 2 (duas) notícias acerca da figura do Presidente Jair Bolsonaro sob a ótica dos sites Brasil 247 e República de Curitiba. Neste capítulo é feita uma abordagem de como esses sites utilizam os seus conteúdos jornalísticos para emitirem opiniões favoráveis ou contrárias à figura de Bolsonaro, e como tais posicionamentos podem ocasionar em uma possível parcialidade ao noticiarem determinado fato relacionado ao então Presidente da República.

Mediante as discussões supracitadas, esta pesquisa poderá auxiliar para a exploração de uma estrutura teórica para estudos futuros que envolvem o processo de reprodução de notícias por sites jornalísticos, levando em consideração que existe um número baixo de estudos na área de Análise do Discurso que trata da temática abordada neste trabalho. Além disso, pode auxiliar como ponto de partida para estudos relacionados às áreas do discurso, do jornalismo, da comunicação e de outras áreas de caráter informativo e tecnológico, visto que a temática aqui trabalhada aborda conteúdos na área de discursos, notícias, sites jornalísticos e campo virtual.

3. DISCURSO, CAMPO VIRTUAL E SITES JORNALÍSTICOS: AS CONSTRUÇÕES DE SENTIDO NAS REPRODUÇÕES DE NOTÍCIAS

3.1. Contexto histórico e conceitos fundamentais da Análise do Discurso

Por meio da linguagem o homem se estabelece como animal inteligente e através dela se constitui como ser de interação social. Desde os primórdios da história que a raça humana sempre buscou maneiras de se comunicar, seja através de pinturas, códigos e gestos, o homem procurou incansavelmente por meio da língua/linguagem materializar o seu cotidiano, crenças e ideologias. (ROSENSTOCK-HUESSY, 2002). A linguagem foi objeto de estudo ao longo da Antiguidade, mas somente em meados do século XX, com a fundação da Linguística, é que esse objeto foi alvo de estudos científicos. (NEGRÃO, 2013). No entanto, os estudos linguísticos proporcionados pelas dicotomias de Ferdinand Saussure não possibilitaram um estudo aprofundado acerca da fala (parole) como elemento gerador de sentidos, ignorando assim a competência do sujeito de discursar por meio de sua formação ideológica que está em constante transição. (BRANDÃO, 2004)

No âmbito da Linguística, é possível situar a Análise do Discurso quando se trata de realização de pesquisas que se tem por objeto de estudo o próprio discurso. Atenta-se, pois, em estudar como o homem se manifesta por meio da linguagem e como os sentidos são gerados por meio dos processos de formação discursiva e ideológica.

De acordo com Orlandi (2001), o discurso pode ser compreendido como uma prática social de interação, na qual um sujeito pode expressar a sua opinião a respeito de determinado assunto por meio da construção de pensamentos e de sentidos acerca da conjuntura social, histórica, econômica e política de sua época, ainda que de forma transitória e descontínua. Assim:

A Análise do Discurso, como seu próprio nome indica [...] trata do discurso. E a palavra discurso, etimologicamente, tem em si a ideia de curso, de percurso, de correr por, de movimento. O discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando. [...] Por esse tipo de estudo se pode conhecer melhor aquilo que faz do homem um ser especial com sua capacidade de significar e significar-se. (ORLANDI, 2001, p.15)

Nesse sentido, pode-se entender por discurso a prática social entre sujeitos que envolvem a interação sociável permeada por formações ideológicas provenientes de uma conjuntura social em constante mudança, na qual esses mesmos sujeitos estão inseridos. Nessa mesma direção, o discurso pode nos possibilitar a identificar determinada visão de mundo e as concepções que tal sujeito carrega consigo acerca dos diversos assuntos que abarcam a sua contemporaneidade (FERNANDES, 2005). Dessa maneira, o discurso possibilita carregar consigo elementos da exterioridade (interdiscurso) para a sua constituição e reprodução, “com isso, dizemos que discurso implica uma exterioridade à língua, encontra-se no social e envolve questões de natureza não estritamente linguística [...]” (FERNANDES,  2005, p.12) e a Análise do Discurso se encarrega de estudar a constituição do discurso, considerando a noção de sentidos que permeiam a prática discursiva e os símbolos que formam esses sentidos.

Na segunda metade da década de 1960, surge, na França, a Análise do Discurso (AD), com contribuições de grandes intelectuais franceses, contando ainda com as influências da Retórica Clássica, de Aristóteles, no que se refere à persuasão em contexto histórico-social que marcariam a argumentação; dos formalistas russos, que através de estudos sobre o discurso narrativo (verossimilhança, literalidade, intertextualidade etc.) puderam dá significativa parcela de contribuição para o progresso da Análise do Discurso (SILVA e VIEIRA 2002); e o estruturalismo, que apesar das críticas, foi a base de sustentação para uma reflexão a fim de relacionar a “palavra” aos estudos da Linguística (Ferdinand Saussure), da teoria marxista (Karl Marx) e a psicanálise (Sigmund Freud) para integrar o seu arcabouço teórico (BRANDÃO, 2004).

Com o passar do tempo, a Análise do Discurso passou por reformulações e revisões em sua estrutura teórica, passando a reavaliar alguns de seus conceitos e assim mudando de forma evolutiva o seu arcabouço. Essas reconfigurações perduraram por anos e são responsáveis para compreendermos a divisão da disciplina em três fases fundamentais, que de acordo com Fernandes (2005) compreende: a primeira fase (AD1), que tinha o discurso gerado por condições estáveis de produção e contava também com a homogeneidade discursiva. Nesta fase inicial, a disciplina voltava suas análises para discursos políticos e religiosos, cujo conceito era de uma maquinaria discursiva fechada, e o sujeito era assujeitado discursivamente, pois tinha a impressão de ser dono (origem) de seu próprio discurso (FERNANDES 2005).

Na segunda fase (AD2), os conceitos de formação discursiva e de interdiscurso são formulados por Michel Foucault, logo a noção de uma maquinaria discursiva passa a ser questionada, visto que as formações discursivas são concebidas por outras formações discursivas. O sujeito, no entanto, dá continuidade ao papel de um indivíduo que preenche a função no discurso por intermédio de dependência(s)/filiação(ões) ideológica(s) que são carregadas consigo mediante sua formação discursiva, que nunca é fixa e permanece em um processo de transformação descontínua. (FOUCALUT, 2009).

Na terceira fase da Análise do Discurso (AD3), consoante Fernandes (2005), seria então descartada a concepção de uma maquinaria discursiva, de modo a modalizar que as formações discursivas são permeadas pelo interdiscurso, uma vez que os discursos de uma formação discursiva são independentes, mas também são intrínsecos à interdiscursividade, surgindo assim a ideia de um sujeito constituído de heterogeneidade discursiva, heterogeneidade essa que se subdivide em: constitutiva (havendo presença de vozes implicitamente) e mostrada (havendo marcas nas vozes de um sujeito explicitamente).

Como já fora falado anteriormente, a Análise do Discurso de linha francesa conta com a contribuição  de grandes intelectuais europeus do século XX, dentre os quais podemos destacar os trabalhos de releituras e elaborações de teorias que constituem o arcabouço da disciplina como a conhecemos: Louis Althusser (teses de Marx acerca de ideologias), Jacques Lacan (teses de Freud sobre o inconsciente), Mikhail Bakhtin (dialogismo da linguagem) e Michel Foucault (com as concepções de prática, formação e memória discursivas e a interdiscursividade). Por meio dessas contribuições acerca do estudo discursivo, entende-se que “o discurso é um jogo estratégico e polêmico, por meio do qual constituem-se os saberes de um momento histórico [...]” (GREGOLIN, 2011, p.14).

Gregolin (2011) ainda observa que a formulação desses saberes, por meio das práticas discursivas, é influenciada diretamente pelo(s) contexto(s) histórico-social de determinada sociedade, e que esses saberes são as bases fundamentais para a materialidade das práticas discursivas e para o processo de formação discursiva e ideológica. Quanto às regras de formações discursivas, a autora reafirma que são inseridos em seu interior os elementos que são denominados de dizeres e fazeres, esses que são conduzidos por regras de formações estabelecidas. Observa ainda que a produção dos discursos é controlada por métodos de controle que tem o objetivo de selecionar, dominar, organizar e distribuir determinados assuntos que podem ou não serem ditos em certos momentos históricos (GREGOLIN, 2011)

Por conseguinte, percebe-se a íntima relação língua-história-ideologia para a formação do discurso, visto que as práticas discursivas giram em torno desses três elementos que moldam o pensamento de uma específica conjuntura social. Em outras palavras, o sujeito quando profere determinado discurso, fá-lo por meio do assujeitamento que esse tem em relação ao seu contexto sócio-histórico, de modo a desenvolver a sua formação discursiva de maneira ideológica, subjetiva e descontinuada, construindo assim os mais variáveis sentidos, como aponta Gregolin (1995):

O discurso é um suporte abstrato que sustenta os vários textos (concretos) que circulam em uma sociedade. Ele é responsável pela concretização, em termos de figuras e temas, das estruturas semio-narrativas. Através da Análise do Discurso é possível realizarmos uma análise interna (o que este texto diz? como ele diz?) e uma análise externa (por que este texto diz o que ele diz?). Ao analisarmos o discurso, estaremos inevitavelmente diante da questão de como ele se relaciona com a situação que o criou. A análise vai procurar colocar em relação ao campo da língua (suscetível de ser estudada pela Linguística) e o campo da sociedade (apreendida pela história e pela ideologia (GREGOLIN,1995, p. 17).

Dito isso, as condições de produção que permeiam o discurso de um sujeito vão depender da materialidade discursiva que transpassa a sociedade na qual esse mesmo sujeito está inserido, visto que os processos semânticos/constitutivos da prática discursiva são permeados por aspectos históricos e sociais que delimitam o que se pode, onde e quando pode ser dito determinado enunciado, visto que a formação discursiva de determinados sujeitos é influenciada por filiações ideológicas e verdades subjetivas que esses reproduzem.

Diante dessa multiformidade, Moura (2018) nos informa de que a Análise do Discurso complementa o conceito de formação discursiva e “classifica os processos de construção do discurso em parafrásticos” e que também, da mesma maneira, “a partir desse jogo entre paráfrases e polissemia, os sujeitos e os sentidos movimentam e transformam-se [...], sendo, [...] a condição de existência destes dois” (MOURA, 2018, p. 22). Há, assim, uma gama de entendimentos fornecidos pela própria disciplina acerca da subjetividade da formação discursiva dos sujeitos.

Portanto, são inseridas nas palavras do sujeito, por meio de uma rede de discursos, materialidades correspondentes às posições de poderes que constituem certa conjuntura social, sob influências de mecanismos de objetivação e de subjetivação que são constituintes da formação de um sujeito inserido em determinado momento histórico, atrelado à formação de uma identidade que ele admite como sua, (PEZ, 2008) e por meio do processo linguístico-discursivo é que são abertas as diversas oportunidades de construções e de reproduções de sentidos, levando em conta também a capacidade que os dispositivos proporcionam para tais fenômenos, atrelados ao campo virtual, que veremos a partir do aprofundamento de nossas discussões.

3.2. Discursos, campo virtual e a ciberespaço: o papel das mídias digitais nas construções de sentidos

Um dos grandes marcos da humanidade na era contemporânea foi a expansão da comunicação pelos mais diversos meios possíveis, seja por meio de cartas, telefone, fax e pela rede mundial de computadores. Importantes avanços nesse sentido surgiram, principalmente em meados dos anos 60 do século XX. No auge da Guerra Fria, confronto político-ideológico-econômico-cultural travado entre os Estados Unidos da América (capitalista) e a extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (socialista), superpotências emergentes do pós-Segunda Guerra Mundial, protagonizaram avanços significativos em diversas áreas, entre elas, a área da comunicação (CASTELLS, 2003). A internet, criada com propósitos militares, foi se expandindo gradativamente entre a sociedade civil, tornando possível a criação de mais um campo discursivo, embora com significativas limitações até então.

Com a economia capitalista cada vez mais dominante, aquela ferramenta que fora criada para fins estratégicos e de comunicação de uma possível guerra foi se tornando um mercado proveitoso e lucrativo.  Na medida em que se propagava o seu consumo, a internet se tornara cada vez mais um campo consolidado para discussões acerca dos mais variados assuntos da atualidade. Em meados do fim do século XX e começo do XXI, a comunicação instantânea passou a firmar seus pilares nos campos dos discursos (WERTHEIN, 2000).

Ainda de acordo com Werthein (2000), os avanços tecnológicos possibilitaram o avanço da comunicação de forma gradativa, à medida que as mídias digitais estariam se disseminando e criando esse cenário/campo para discursos. Acerca disso, é possível conceber o ambiente da internet como “campo virtual” que está em constante expansão, visto que tal qual o universo observável insere-se, num modo de interação instantânea, um espaço de fragmentação discursiva coletiva, como aponta Lévy (1999):

O ciberespaço (que também chamarei de "rede") é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. [...] Um mundo virtual, no sentido amplo, é um universo de possíveis, calculáveis a partir de um modelo digital. Ao interagir com o mundo virtual, os usuários o exploram e o atualizam simultaneamente. Quando as interações podem enriquecer ou modificar o modelo, o mundo virtual torna-se um vetor de inteligência e criação coletivas. (LÉVY, 1999, p.17 e 75)

Por consequência, o ciberespaço, conceituado por Lévy, é a expansão do próprio mundo material e concreto, a distinguir que aquele é uma forma de mundo pragmático e de representações consideravelmente latentes, enquanto este é caracterizado por ser palpável, observável e material. Em ambos os espaços, isto é, no real e no virtual, as formações discursivas seguem padrões idênticos, em que sujeitos, por meio de suas práticas discursivas e subjetividades, proferem seus discursos motivados por ideologias.

Ao se falar de ciberespaço ou de campo virtual, pode se falar em uma espécie de “sociedade de rede”, de modo que os setores que constituem a sociedade do mundo real e concreto, desde a área do direito, economia e política até a do entretenimento, das artes e da educação estão presentes nesse novo mundo instantâneo e conectado. (CASTELLS, 1996). Essa interação virtual tem possibilitado que grupos possam se manifestar acerca de determinados assuntos, encontrando assim uma alternativa de interação à realidade, porém, com instantaneidade contínua. (PITTA, 2008). Assim, “a sociedade em rede pode ser entendida como uma estrutura social, construída em redes de informação” (XAVIER, 2004, p.24).

Desse modo, as relações pessoais, por meio do campo virtual, tornaram-se cada vez mais fragmentadas na medida em que esse espaço se amplia por meio de novas tecnologias, o acesso cada vez menos desigual à internet e a aquisição de informações cada vez mais progressiva e em tempo real (RECUERO, 2009) contribuem para que os mais diferentes grupos se reúnam por meio de discursos com os quais se identificam ideologicamente. Podemos falar assim, (MARTELETO, 2001) num conjunto de redes dentro do campo virtual, que fazem parte dessa superestrutura discursiva e geradora dos mais diversos tipos de sentidos que compõem o mundo da internet.

E diante de toda a engrenagem social que se tornou o mundo da internet, é natural que entre os elementos que formam a sua conjuntura existam aqueles que são norteadores de discursos que propagam determinadas ideologias político-partidárias, e isso é algo cada vez mais amplo no campo virtual, visto que vivemos em um mundo, em termos de opiniões políticas, multipolarizado, que acaba por tornar o conceito de “política” algo muito genérico, como aponta Martino (2014):

A extensão do conceito de “política” nas mídias digitais e no ciberespaço é tão grande quanto o mundo offline. [...] De maneira ampliada, a noção de política está ligada às questões de poder e direito na vida cotidiana. [...] As mídias digitais possibilitam ao mesmo tempo uma transposição e uma transformação dessas noções de política. Na medida em que se misturam com a vida e alteram as relações sociais, se articulam também com as possibilidades de ação política nos vários sentidos da palavra, agregando novas dimensões à questão. (MARTINO, 2014, p. 85)

Logo nota-se que o campo virtual tem se tornado um lugar muito fértil para que discussões acerca de temas que norteiam o nosso quotidiano ganhem mais visibilidades e construções de sentidos à proporção que assuntos como política e relações sociais são cada vez explorados por intermédio da troca de interação e de conhecimentos. Esses temas vão ganhando assim diversas definições sob a ótica de variados grupos que estão concentrados nesse ciberespaço, espaço esse que é diversificado pelo desenvolvimento de comunidades virtuais que consolidam esse campo como algo amplamente explorável no ponto de vista cultural, político, científico, dentre outros. (SANTAELLA, 2004)

Ainda de acordo com Santaella (2004), o ciberespaço é um “espaço informacional multidirecional que depende da interação [...], permite a este o acesso, a manipulação, a transformação [...] de seus fluxos codificados de informação” (SANTAELLA, 2004, p. 44). E esse universo virtual, tal qual o universo real, está em constante expansão, visto que 51% da população mundial têm acesso à internet[2] (ONU, 2019)[3], mas ainda com significativas limitações de classes sociais, econômicas e regionais.

Por meio dessa amplificação, os diversos tipos de discursos são (re)produzidos a cada momento, consolidando-se assim a noção de interdiscursos, que por sua vez é fundamentado por “já-ditos”, que de acordo com Fernandes (2005) é a retomada de memórias discursivas fragmentadas na psique dos sujeitos e que se remetem ao meio social, ocasionando a inter-relação de formações discursivas. A Análise do Discurso conceitua, por meio das contribuições de Michel Pêcheux, os dois tipos de esquecimentos que constituem o discurso. O esquecimento primeiro (atribui-se àquela ilusão de o sujeito ter a convicção de ser ele o dono de seu próprio discurso) e; o segundo esquecimento (por conseguinte, alude a diversas construções de paráfrases discursivas e a particularidade de falar dos sujeitos) (ORLANDI, 2001).

Atrelado às noções de interdiscursos, o ciberespaço torna-se um sofisticado meio de propagação dos mais diversos tipos de discursos, e por meio da liberdade de expressão, que é uma garantia constitucional fundamental, vedado o anonimato (BRASIL, 1988), a sociedade faz o uso dessas poderosas ferramentas que são as mídias digitais e ao expressarem suas visões políticas e ideológicas, fazem isso tendo a ideia de que estão em um campo de batalha discursiva, e que por meio de poderes fragmentados pela argumentação, podem defender e confrontar os mais diversos posicionamentos discursivos. Essa fragmentação discursiva pode ser percebida como uma forma dissipada de poder, que é transmitida pelos sujeitos, pois segundo Foucault (2004):

O poder deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, como algo que só funciona em cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali, nunca está nas mãos de alguns, nunca é apropriado como uma riqueza ou um bem. O poder funciona e se exerce em rede. Nas suas malhas os indivíduos não só circulam, mas estão sempre em posição de exercer este poder e de sofrer sua ação; nunca são o alvo inerte ou consentido do poder, são sempre centros de transmissão. Em outros termos, o poder não se aplica aos indivíduos, passa por eles. (FOUCAULT, 2004, p. 193)

Para Foucault (2004), essa fragmentação e subdivisão do poder, os micropoderes, é algo dissipado entre os sujeitos e que esses exercem poder de forma contínua. Ao considerarmos essa noção foucaultiana de micropoderes para o campo dos discursos, podemos pensar que no campo virtual, principalmente em páginas de conteúdo voltado para política, a polarização de discursos e as construções de seus diversos sentidos são atributos que se destacam neste campo. De outro modo, são na acepção de Gregolin (2004), os próprios sujeitos exercendo seus micropoderes por meio do discurso, em um mundo virtual onde a materialidade ideológica se reproduz por meio de recursos verbo-imagéticos.

Partindo da perspectiva de que a sociedade se encontra cada vez mais conectada à internet e sendo norteada em tempo real pelos mais variados conteúdos discursivos, Carlón (2015) usa o termo de “sociedade hipermidiatizada” para descrever o processo pelo qual as mídias digitais se fazem presentes no quotidiano dos cidadãos modernos, que buscam o tempo todo se manterem atualizados sobre assuntos pertinentes e adjacentes as suas convicções político-ideológicas. A hegemonia que o campo virtual vem alcançando ao longo das décadas está atrelado ao pleno desenvolvimento tecnológico, digital e o acesso cada vez mais facilitado à internet. (CARLON, 2015).

Por meio dessa construção instantânea discursiva, com os plenos avanços dos meios tecnológicos e a crescente hegemonia das mídias digitais, os discursos (re)produzidos no campo virtual nada mais são do que a própria representação das ideologias presentes no mundo material e abstrato. De forma mais contundente, o discurso propalado nas plataformas digitais deve ser encarado como atribuição de diversos sentidos, pois se trata de um produto cultural no qual se firmam e afirmam valores e costumes, concepções políticas e crenças que constituem os comportamentos das pessoas ao longo do tempo, como destaca Fiorin (1993):

O discurso transmitido contém em si, como parte da visão de mundo que veicula, um sistema de valores, isto é, estereótipos dos comportamentos humanos que são valorizados positiva ou negativamente. A sociedade transmite aos indivíduos - com a linguagem e graças a ela – certos estereótipos, que determinam certos comportamentos. [...] Pode-se dizer que o discurso é [...] modelador de uma visão de mundo. (FIORIN, 1993, p. 55 e 56).

Mas em sua essência, o discurso proferido nas mídias digitais corresponde exatamente o que fora conceituado por Fiorin (1993), de que ele, o discurso, carrega em si traços das visões de mundo, costumes, crenças, concepções políticas e filosóficas acerca de um fato inserido em um dado momento histórico.

Os sites de notícias voltados para conteúdo de política podem se revestir de materialidades ideológicas para reproduzirem suas matérias jornalísticas e, ao abordarem fatos, podem inserir em suas redações elementos que remodelam como um fato é visto e noticiado, por meio da liberdade que eles, os websites, têm para tal (TROMPSON, 2002),  e a construção de sentidos gerados em seus conteúdos são advindos da formação discursiva, que tal qual como o mundo material, norteia o mundo virtual, este último sendo instantâneo e a nível planetário. (LEMOS, 2005).

Com efeito, as mídias digitais exercem papel fundamental na materialidade e (re)produção de discursos, pois a crescente aparição de novas tecnologias e de novos espaços dentro do campo virtual contribuem para que esse universo latente se expanda de maneira progressiva, gerando diversos sentidos e discursos acerca de um determinado acontecimento.

3.3. Dispositivo midiático, sites jornalísticos e reduplicação de notícias

O homem procura se manter informado acerca dos mais variados assuntos que norteiam a sua vida cotidiana, principalmente sobre temas relacionados à política. No universo do campo virtual, como já fora abordado nas subseções anteriores, diversos sites se propõem à divulgação de conteúdos políticos, seja em suas próprias páginas, seja em suas redes socais, ambientes esses que por meio de recursos verbo-imagéticos constroem discursos informativos-midiáticos a fim de transmitir matérias jornalísticas aos seus visitantes/usuários/leitores (SLIMOVICH, 2016).

Dessa maneira, é por meio de suas particularidades discursivas que os sites de notícias procuram criar sentidos diversos sobre um mesmo fato a ser noticiado, pois por meio da formação, elaboração e manipulação de signos é que são criados os mais diversos sentidos (CHARADEAU, 2013), e é exatamente por meio dessa distinção discursiva que podemos identificar o posicionamento político-partidário de determinados sites jornalísticos.

Assim, com a ideia de que discurso é o ato de falar, produzir, transmitir e articular ideias (FOUCAULT, 1987), os sites de notícias produzem os seus conteúdos à maneira como acham convincentes a depender de seu público leitor, que se identifica com determinada visão ideológica ou posição político-partidária e que consomem essas matérias mostrando, sempre ao noticiar o fato, o posicionamento do site a ser visitado.

Desse modo, o nosso objeto tem como corpus 4 (quatro) postagens e 2 (duas) matérias jornalísticas correspondentes aos sites Brasil 247 e República de Curitiba, que noticiaram o fato do presidente Jair Bolsonaro ter visitado o estádio do Maracanã para assistir ao jogo de futebol entre as seleções do Brasil e do Peru, na Copa América de 2019, ocasião onde o chefe do poder executivo Federal foi alvo de várias formas de manifestações, situação essa em que fora tanto ovacionado e aplaudido por seus apoiadores, como também vaiado e hostilizado por seus adversários, todos fragmentados no público que constituía a torcida para a referida partida de futebol.

Os sites Brasil 247 e República de Curitiba são conhecidos por seus posicionamentos políticos incisivos com relação à polarização política entre direita e esquerda e ao reproduzirem suas matérias, buscam, segundo Foucault (2014), por meio de recursos verbo-imagéticos e dos procedimentos de controles internos do discurso, materializar e reproduzir suas posições partidárias, com as quais são utilizadas a fim noticiar fatos a partir de seus respectivos posicionamentos políticos.

E quando os referidos sites se predispõem a noticiar determinado acontecimento a partir de sua percepção/visão de mundo, fazem-no se valendo da noção de comentários, noção essa em que o discurso produz a figura do comentador, este que por sua vez procura por mensagens e até mesmo discursos dentro do próprio discurso a ser proferido, articulando e expondo tais coisas que não estão sendo ditas com tanta clareza, expandindo assim o discurso geral para um mais específico, criando algo novo.

Em primeiro lugar, o comentário. Suponho, mas sem ter muita certeza, que não há sociedade onde não existam narrativas maiores que se contam, se repetem e se fazem variar; fórmulas, textos, conjuntos ritualizados de discursos que se narram, conforme circunstancias bem determinadas [...] (FOUCAULT, 2014, p.22)

Em consonância com Foucault (2014), percebe-se que a expansão de determinado discurso vai se caracterizar pela exploração das particularidades que a figura do comentador terá ao explorar o discurso, procurando mensagens e signos que não estão ditos com tanta clareza. Desse modo, criam-se assim diversas outras formas de reproduzir um mesmo fato, do mesmo discurso, de maneiras diferentes.

As matérias jornalísticas que constituem o objeto desta pesquisa são influenciadas pelos procedimentos internos de controle do discurso, detalhados por Foucault, visto que o mesmo acontecimento, isto é, a visita do Presidente da República, Jair Bolsonaro, ao estádio do Maracanã, no final da Copa América de 2019, gerou, por meio do discurso geral, diversas construções de sentidos, sobretudo pelo cunho político-partidário ligados à figura do Presidente, atrelado às dinâmicas dos dispositivos e da midiatização dos discursos políticos (VERÓN, 2001).

No processo de construção de sentidos que o nosso objeto se delimita a ser analisado, devemos recapitular que os dispositivos midiáticos estão em avanços constantes, seja no meio tecnológico, seja no meio da propagação discursiva. Assim, a noção de dispositivo levando em conta a sua heterogeneidade por definição, que é descrito, de acordo com Foucault (2009), como:

um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode tecer entre estes elementos (FOUCAULT, 2009, p. 244)

Diante dessa heterogeneidade no que concerne à definição de dispositivo, atrelado às dinâmicas dos dispositivos midiáticos, que são os mais preponderantes (GREGOLIN, 2016), as postagens e matérias jornalísticas dos sites Brasil 247 e República de Curitiba são (re)produzidas por meio de elementos linguísticos-discursivos que constituem os elementos heterogêneos, assim, criando possibilidades de diferentes formas de construções de sentidos para noticiarem o acontecimento da visita de Jair Bolsonaro ao Maracanã, no final da Copa América de 2019, a partir da posição político-partidária correspondente aos sites supracitados.

De acordo com Deleuze (1996), embora seja caracterizado por toda a heterogeneidade, todo dispositivo tem em sua constituição o conceito de 4 (quatro) dimensões que são fundamentais para o entendimento/funcionamento deste conjunto acarretador de discursos, que, segundo o autor, divide-se em:

a) Curvas de visibilidade: pode ser entendido como um regime de forças que é exercido por meio de linhas de luz, isto é, um método que possibilita a iluminação e a visibilidade de determinado objeto através do domínio/poder do próprio dispositivo, moldando as formas de como se o ver e de como torná-lo enunciável e visível à maneira de deliberado dispositivo, ou seja, esse mesmo dispositivo decide o que deverá ser mostrado e o que deverá ser ocultado do alcance de visibilidade do público. (DELEUZE, 1996; MARCELLO, 2004).

b) Curvas de enunciação: tal qual as regras das visibilidades, as de enunciabilidade diz respeito àquilo que o dispositivo diz excessivamente e aquilo que ele, o dispositivo, oculta/apaga de maneira também excessiva. Pode-se denominar de jogo de “dizer e não-dizer” dos enunciados é o que constitui esta dimensão do dispositivo (DELEUZE, 1996).

c) Regimes de luz e de enunciabilidade: maneira pela qual o dispositivo leva algo a se tornar superexposto e também de ocultar algo excessivamente a depender do objeto a ser mostrado/ocultado. Já no que se refere à enunciabilidade, seria a capacidade de repetição de determinados enunciados obsessivamente enquanto outros (enunciados) são omitidos da mesma maneira, levando em consideração a construção do objeto a ser exibido/escondido (DELEUZE, 1996).

d) Linhas de força: pode ser definido como os poderes controladores do que se pode dizer ou aquilo que não se pode dizer dentro de determinado dispositivo. As linhas de forças são comparadas pelo autor como “flechas que não cessam de entrecruzar as coisas e as palavras, sem que por isso deixem de conduzir a batalha” (DELEUZE, 1996, p.1).

e) Linhas de subjetivação: são os efeitos de sentido, isto é, as subjetividades como resultado de todos os jogos do que é dito e não dito, mostrado e ocultado, e são denominados como linhas de fuga, pois se remetem a identidades em constante (trans)formação, ou seja, os dispositivos vão criando as subjetividades como algo sempre em transição e reelaboração (DELEUZE, 1996; MARCELLO, 2004).

As mídias digitais passam a ocupar um papel essencial no que concerne aos avanços discursivos em nossa contemporaneidade, por meio do dispositivo midiático, que “é a rede que se estabelece entre esses elementos” (AGAMBEN, 2009, p.9) e se pode entender assim que os elementos que constituem essa rede virtual, que formam o dispositivo midiático, enquadram-se também os sites de notícias, pois por meio deles é que os discursos ganham mais visibilidade e espaço no espaço virtual (GREGOLIN, 2016). Ainda em conformidade com Gregolin (2016), os dispositivos nos possibilitam a fazer análises não apenas de discursos textuais, mas também discursos imagéticos e não somente os dizeres, mas também as práticas da sociedade.

Levando em consideração essa grande rede que forma o dispositivo midiático, que interligam discursos e geram suas (re)produções no dispositivo virtual, os sites de notícias estão interligados e conectados, tanto de forma direta, quanto indireta, produzindo assim uma rede de comunicação em que se operam dinâmicas interativas (LUZ, CAIADO e FONTE, 2017) com o objetivo de compartilhar determinados fatos a maneira que lhes convêm.

E ao levarmos em consideração que os sites de notícias são elementos que estão inseridos dentro do dispositivo midiático, e que sua principal característica é a de reprodução de sentidos por meio das práticas discursivas, devemos lembrarmos de que Foucault (2009) aponta que os discursos são caracterizados de forma primordial por meio de sua disseminação, a qual a Análise do Discurso se encarrega de os descrever, destrinchá-los e de determinar as particularidades de cada discurso, seja de sua construção/materialidade, seja pela propagação/(re)produção.

Considerando isso, os sites de notícias Brasil 247 e República de Curitiba, por sua vez, acentuam as discussões que são geradas no campo virtual, por meio dos dispositivos midiáticos, pois a partir de uma notícia é que será constituída a formação discursiva correspondente à(s) visão(ões) de mundo de determinado(s) sujeito(s). Por tanto, convém aprofundarmos no próximo capítulo acerca das construções de sentidos que esse espaço virtual possibilita, levando em conta o conceito de dispositivos midiáticos e os elementos que constituem essa grande rede de informações e de reprodução discursiva.

3.4. O jogo saber-poder-subjetividade na composição discursiva das mídias digitais

Ao nos referirmos à tríade saber, poder e subjetividade, é importante a discussão acerca da relevância desses conceitos para a compreensão do processo de práticas discursivas e acerca da própria junção dessas concepções a fim entendermos as transformações, ainda que descontinuadas, e as posições assumidas pelos sujeitos ao proferirem discursos em determinada conjuntura social.

E se formos levar em consideração esse processo descontínuo de (re)construção dos sujeitos, devemos lembrar que a Análise do Discurso compreende que as suas formações dependem de uma série de fatores subjetivos e sociais atravessados pelo poder. Acerca do saber, pode-se compreender que se trata de um agrupamento organizado de enunciados e de funções enunciativas, das quais há seleções do que poderá ou não poderá ser dito.

Um saber é aquilo de que podemos falar em uma prática discursiva que se encontra assim especificada: o domínio constituído pelos diferentes objetos que irão adquirir ou não um status científico [...]; um saber é, também, o espaço em que o sujeito pode tomar posição para falar dos objetos de que se ocupa em seu discurso [...]; um saber é também o campo de coordenação e de subordinação dos enunciados em que os conceitos aparecem, se definem, se aplicam e se transformam [...]; finalmente, um saber se define por possibilidades de utilização e de apropriação oferecidas pelo discurso [...] (FOUCAULT, 2008, p. 204).

De acordo com Foucault (2008), o saber é a fonte de um agrupamento desordenado que acaba por ser ordenar em determinado momento/contexto histórico em virtude de práticas tanto discursivas quanto não-discursivas, e por intermédio das mais diversas camadas sociais que se correlatam, e a sua formação dar-se-á a partir do momento em que determinado ponto de dominação da sociedade estará em confronto com outro(s) ponto(s). Há assim, uma luta para a compreensão de imposições de maneiras para se observar determinada coisa como essa tem que ser vista, em outras palavras, de se assimilar as coisas como essas devem ser.

O homem moderno é criado para obedecer e seguir leis, regras e regulamentos estabelecidos por instituições que exercem poder sobre a sociedade, e em muitas ocasiões, esse homem moderno é criado em resposta a todo esse sistema, pois, segundo Foucault (2009) quaisquer formas de saberes são capazes de produzir poderes. A noção de saber, para Courtine (2014), surge com Foucault em 1969 através de Arqueologia do Saber, por meio de indagações acerca das circunstâncias histórico-sociais e discursivas em que os sistemas de saberes são/estão estabelecidos e definidos pelo filósofo francês.

O saber não é uma soma de conhecimentos — pois destes sempre se deve poder dizer se são verdadeiros ou falsos, exatos ou não, aproximativos ou definidos, contraditórios ou coerentes; nenhuma dessas distinções é pertinente para descrever o saber, que é o conjunto dos elementos [...] formados a partir de uma só e mesma positividade, no campo de uma formação discursiva unitária (FOUCAULT, 1994, vol. I, p. 723).

Desse modo, para Foucault (1994), os discursos, advindos de práticas discursivas, atravessam estabilidades que operam para as composições do saber, esse que é permeado em sua totalidade pelo poder que o constitui. O saber seria composto por meio das práticas discursivas, e os seus variados objetivos seriam formados por intermédio dessas mesmas práticas.

Ao levarmos em consideração que o poder é algo multifacetado e que tem a circulação livremente nas relações sociais dos sujeitos, lembraremos que para Foucault (2014) não importa em que lugar esteja o poder, ele será exercido de maneira fragmentada pelos sujeitos, por meio das relações de saber e de poder, manifestando-se assim as forças do poder.

Assim, em consonância com Foucault (2004), o saber e o poder estão intimamente imbrincados e inseridos dentro da coletividade, pois para o pensador o discurso que rege a sociedade é, de maneira inequívoca, aquele (discurso) detentor do poder. O filósofo também aponta que o sujeito é aquele que sempre estará estabelecido por ideias e discursos emanados pela classe superior, em termos ideológicos, que compõe determinada conjuntura social.

O funcionamento das relações de poder [...] não é em si mesmo uma violência que, às vezes, se esconderia, ou um consentimento que, implicitamente, se reconduziria. Ele é um conjunto de ações sobre ações possíveis; ele opera sobre o campo de possibilidade onde se inscreve o comportamento dos sujeitos ativos; ele incita, induz, desvia, facilita ou torna mais difícil, amplia ou limita, toma mais ou menos provável; no limite, ele coage ou impede absolutamente, mas é sempre uma maneira de agir sobre um ou vários sujeitos ativos, e o quanto eles agem ou são suscetíveis de agir. Uma ação sobre ações (FOUCAULT, 2014, p. 243).

Em suma, o poder possui, de acordo com Foucault (2014), fragmentações no que se refere à sua formação, visto que ele não tem apenas um atributo de uso repressivo, como muitos costumam associar, mas possui também características de (re)construção e de (re)elaboração das práticas discursivas dos sujeitos, visto que esses estão em constante descontinuidade e em plena (trans)formação a depender do momento histórico/social em que estão inseridos, moldando-se assim à coletividade.

Do mesmo modo, as mídias digitais, através de suas redes que constituem o dispositivo midiático, exercem um papel heterogêneo em termos de discursividades, visto que se tratam de um campo de representações do próprio mundo real, servindo como uma espécie de extensão e como reflexo da realidade concreta (NAVARRO, 2010). E em meio a essa possível representação do mundo material através de uma rede virtual de páginas, sites e portais, temos uma espécie de realidade ampliada/continuada (LÉVY, 2011), visto que todos os atributos correspondentes ao saber-poder, descritos por Foucault (2004), estão inseridos também no campo virtual tal qual no real.

E diante dessa dinâmica que envolve as mídias digitais dentro do dispositivo midiático e da dispersão de poderes por meio das práticas discursivas, Foucault (2004) nos fala acerca da disseminação das relações de poderes que envolvem não somente as leis e instituições, mas também os sujeitos. Para o pensador, “os poderes se exercem através e a partir do próprio jogo da heterogeneidade” (FOUCAULT, 2004, p.106) e se levarmos em consideração que o dispositivo midiático é caracterizado sobretudo pela heterogeneidade (DELEUZE, 1996), perceberemos que a dissipação dos poderes por meio dos sites de notícias se concretiza através da reprodução de acontecimentos, por meio de suas particularidades pelo processo de formação discursiva.

Assim, por meio da disseminação de discursos, da heterogeneidade e da amplificação das mídias digitais, provenientes das relações de poder, o campo virtual foi crescendo ao longo dos anos de maneira gradativa, levando em consideração a expansão dos meios de comunicação e dos avanços tecnológicos que progridem em velocidade acelerada, atado à execução dos poderes, esses que são em níveis diversificados e não fixados em determinado ponto específico, funcionando como uma rede de dispositivos (FOUCAULT, 2004).

Acerca de tais circunstâncias, Cesar, Costa e Pereira (2017) entendem que:

A chegada do mundo digital promoveu transformações [...] nas relações sociais, propiciando novas formas de ver o mundo [...], abrindo espaço para novas vozes, reinterpretando outros sujeitos e viabilizando um sistema democrático muito mais participativo, real e interacional como jamais experimentado em tempos passados. (CÉSAR, COSTA & PEREIRA, 2017, p.69).

De acordo com os teóricos, com a facilidade do acesso à internet, juntamente com os avanços tecnológicos, diversas vozes foram ganhando espaço nisso que chamamos de campo virtual, propiciando a propagação de discursos e possibilitando reinterpretações entre os próprios sujeitos, ocasionando de forma inevitável modificações nas relações sociais e fragmentando as visões de mundo nesse espaço.

E como as relações saber-poder estão interligadas, é através dessa vinculação que surgem as subjetividades dos sujeitos. Os saberes e os poderes não eram o centro dos estudos realizados por Michel Foucault (DELEUZE, 1986), mas sim a questão do sujeito, pois o filósofo francês acreditava que as subjetividades seria o resultado das relações de forças que cria os saberes, e tais saberes, tidos como práticas discursivas, seriam modos de subjetivação que comporiam as subjetividades dos sujeitos.

Ainda sobre dos elementos geradores de subjetividades, os estudos de Foucault acerca dos dispositivos têm “o objetivo [...] de investigar os modos concretos em que as positividades (ou os dispositivos) atuam nas relações, nos mecanismos e nos “jogos” de poder” (AGAMBEN, 2005, p.11), pois a partir das dinâmicas, exercidas pela heterogeneidade, os dispositivos possibilitam as relações de poderes entre os sujeitos por meio do coletivo e essas relações são geradoras de saberes por intermédio das práticas discursivas, gerando assim subjetividades.

Os dispositivos midiáticos, de acordo com Gregolin (2007), possuem em sua composição uma natureza versátil, estando constantemente em processo de (re)configurações e (re)adaptações em sua estrutura, podendo serem transpassados e penetrados por outros dispositivos, produzindo assim subjetividades, de forma que o sujeito constitui-se de maneira ativa e passa a se reconhecer através das técnicas de si e por intermédio de olhares de outros sujeitos. A subjetividade, ainda segundo Gregolin (2007), não está situada na esfera individual, antes disso, está nos procedimentos de interação social e de produção material.

A respeito das subjetividades em relação à heterogeneidade dos dispositivos, Deleuze (1996) destaca:

Por todos os lados, há emaranhados que é preciso desmesclar: produções de subjetividade escapam dos poderes e dos saberes de um dispositivo para colocar-se sob os poderes e os saberes de outro, em outras formas ainda por nascer.” (DELEUZE, 1996, p. 158).

Como aponta Deleuze (1996), as subjetividades estão em processo de constante transformação a depender da dinâmica desempenhada pelos dispositivos, esses que estão intimamente ligados à heterogeneidade, produzindo, a todo momento, saberes e poderes sob os sujeitos e as suas interações sociais. Essas interações podem se concretizar tanto no campo material quanto no virtual, por meio da rede que interliga todo o dispositivo.

Por isso, os sites de notícias desempenham, conforme Lévy (2011), um papel fundamental para o processo de construções de sentidos e de subjetividades, pois essas páginas da internet sendo elementos constituintes do dispositivo midiático estão, por meio da propagação discursiva e através de recursos verbo-imagéticos, criando e reduplicando narrativas à maneira de suas próprias subjetividades.

3.5. Discurso político e mídias digitais: uma relação inerente no campo discursivo virtual

Como já foi visto na primeira subseção deste capítulo, a Análise do Discurso em seu advento se encarregava de ter o discurso político como seu objeto de pesquisa. A íntima relação dos discursos políticos com a mídia faz com que, de acordo com Passeti (2008), essa dinâmica se torne um campo muito fértil para pesquisas que envolvam os estudos discursivos.

De maneira gradativa, Wattenberg (1998) nos diz que a mídia vem se modernizando ao longo do tempo, possibilitando, progressivamente, que a sua exploração com o objetivo da comunicação, interação e propaganda seja cada vez mais requisitada, muito em conta de sua instantaneidade para o compartilhamento de informações, ideias e discursos, levando a muitas pessoas, grupos, partidos políticos e instituições a exporem suas ideologias através da rede de mídias digitais.

O autor também nos informa que o acesso à mídia para o uso de propaganda e divulgação de discursos políticos substitui o modelo tradicional de fazer política e aproxima a elite política dos cidadãos, que estão cada vez mais conectados e familiarizados com as mídias digitais, modernizando o debate político e lapidando cada  vez mais a maneira de se fazer política (WATTENBERG, 1998).

Desse modo, foi criando-se a necessidade de os políticos utilizarem essa ferramenta, a internet, com o intuito de aproximar, aprimorar e divulgar os seus discursos para o maior alcance possível de pessoas, gerando assim uma revolução no que se refere à maneira de se fazer política em nossos tempos, através da instantaneidade que as mídias digitais podem possibilitar:

As relações entre governantes e governados sempre ocorreu de forma contínua, sendo a mídia um dos principais intermediadores entre eles. [...] No mundo contemporâneo, as mudanças sociais e tecnológicas fazem com que o discurso político venha a ter cada vez mais um maior alcance. Nesse sentido, o discurso de mídia contribui para esse avanço, fazendo surgir novas formas para que políticos possam se comunicar com o seu público alvo (ALVES, SCHNEIDER, SILVA, 2017, p. 86 e 87).

Em um mundo cada vez mais globalizado e conectado, o papel da mídia, principalmente a digital, é de extrema importância para o processo de interação e de divulgação de ideais políticos que tem como a finalidade atingir o maior número de sujeitos. É inevitável assim que o mundo da internet seja utilizado como ferramenta de divulgação de ideias, propagandas e de discursos políticos, estes últimos que norteiam os debates no campo virtual e geram conflitos discursivos entre determinados grupos de sujeitos.

Assim, por meio desse aprimoramento nas práticas discursivas, os discursos políticos, nas mídias digitais, ganham cada vez mais dinâmicas, pois através de recursos verbo-imagéticos eles estão habilitados a (re)construírem diversos sentidos acerca de determinado fato a ser reproduzido, carregando consigo os traços ideológicos dos sujeitos que constituem àquela determinada filiação político-partidária:

O discurso midiático, portanto, tem como característica fundamental a imposição e a fixação de sua ideologia em um determinado setor da sociedade. [...] Vale destacar que não estamos trabalhando com o modelo de “manipulação”, mas sim de “persuasão” [...] Aproveitando-se disso, as reportagens manipulam fatos para influenciar o leitor a se manter com esse ponto de vista e transmiti-lo por via de um discurso igualmente espetacularizado. É uma jogada ideológica e também mercadológica (MONTALVÃO, 2018, p. 133).

Logo, percebemos que as estratégias que articulam os discursos políticos midiáticos estão carregadas de signos e de codificações que se rementem à ideologia do determinado grupo que os propagam, particularizando assim cada discurso, para deliberados grupos de sujeitos, estruturando, por ocasião, uma dinâmica no modo de fazer e de reproduzir discursos nos tempos atuais.

Em vista disto, percebe-se também que as relações de saber e poder, já descritas por Foucault (2014), estão sendo exercidas por meio dessas reproduções discursivas fabricadas nas mídias digitais, visto que o engajamento e a interação entre os sujeitos fazem com que um determinado discurso seja reelaborado e reduplicado, gerando assim subjetividades no interior do próprio dispositivo midiático.

Os vínculos entre discurso e política são permeados de maneira igualitária pelas relações de poder, em que a palavra é usada na prática discursiva propriamente dita, com a finalidade de exibir e de determinar esse poder, de modo que é plausível a compreensão que o processo discursivo tem em uma consistência histórica e social, sobretudo no que se refere à política (FOUCAULT, 2004).

Desse modo, fica notória a percepção de que os discursos que circulam nas mídias digitais, principalmente os políticos, carregam consigo uma certa individualidade no que se refere às características de grupos dominantes no meio social, pois a partir dele, do discurso, é que os poderes desses grupos são exercidos e materializados por meio das práticas discursivas e de suas subjetividades.

Os discursos que circulam nos meios de comunicação de massa, na sociedade contemporânea, tendem a acentuar o individualismo e, consequentemente, a forjar a identidade como criação de uma individualidade, de um eu singular e único. (GREGOLIN, 2004, p. 01).

Esse aparente individualismo caracteriza assim as particularidades de grupos que fazem parte do debate político propiciado pelas mídias digitais, podendo acarretar aprofundados debates e discussões acerca de determinado acontecimento, levando em consideração essa marca da individualidade correspondente a essas coletividades que se veem como independentes e exclusivas para defenderem suas ideias/ideologias por meio do confronto discursivo.

Dessa maneira, os discursos políticos tentam se adaptar aos novos meios de comunicação e às dinâmicas dos dispositivos midiáticos (SARGENTINI, 2011), procurando estabelecer entre o público leitor/eleitor uma proximidade possível para estabelecer comunicação, interação e debates, contribuindo assim para a expansão gradativa da rede heterogênea que constitui tal dispositivo.

À vista disso, diante de todo o progresso tecnológico que já fora visto neste capítulo, as mídias digitais possibilitaram um progresso sem precedentes, tanto na maneira de nos comunicarmos, quanto na maneira de nos mantermos informados acerca dos acontecimentos contemporâneos. Os sites de notícias, principalmente aqueles associados a conteúdos políticos, ganharam notoriedade com a multipolaridade discursiva em torno de fatos que podem ser reinterpretados a partir das posições políticas e ideológicas assumidas pelos sujeitos, esses que são consumidores dos conteúdos desses sites.

Mediante essa batalha discursiva que é exercida nesses espaços virtuais, fazem-no necessários aprofundamentos no próximo capítulo a respeito das reproduções de notícias e as produções de sentidos acerca de um mesmo acontecimento, por meio das filiações político-partidárias assumidas pelos sites jornalísticos Brasil 247 e República de Curitiba.

4. AS CONSTRUÇÕES DE SENTIDOS E A REDUPLICAÇÃO DE NOTÍCIAS SOBRE JAIR BOLSONARO: A DISPUTA DISCURSIVA DOS SITES BRASIL 247 E REPÚBLICA DE CURITIBA

Como fora visto no capítulo antecedente, o processo de socialização entre os sujeitos foi e é descontinuado ao longo dos tempos. Com o advento da internet e a expansão do campo virtual, as práticas discursivas passaram a ser instantâneas, técnicas e multipolarizadas. Baseado em um dos pilares fundamentais das sociedades democráticas, a liberdade de expressão, o espaço jornalístico, que há décadas limitava-se à maneira impressa, televisiva e radiofônica, passou a ganhar proporções incalculáveis na medida em que o espaço cibernético se amplia, e sites de notícias passam a ter mais autonomia e independência para produzirem seus conteúdos. Com a produção de novas tecnologias, como computadores, celulares, tablets e outros, o acesso à internet vem se tornando cada vez mais facilitado e instantâneo, em que sujeitos passam a ter a mesma atuação social através de suas práticas discursivas, embora que virtual, proporcionando a compreensão de suas relações sociais e a constante e descontínua transformação de seus discursos.

Diante desse contexto, os sites de notícias passam a ter um papel incisivo nesse processo de propagação discursiva, pois ao constituírem elementos do dispositivo midiático, tornam-se uma arena para disputas discursivas que não se furtam de assumirem posições ideológicas com as quais são fundamentais para o posicionamento político-partidário que esses veículos de comunicação virtuais, os sites de notícias, assumem ao reproduzirem seus conteúdos em suas páginas.

Mediante o exposto, como já fora referido, o nosso estudo objetiva de maneira geral investigar as construções de sentidos acerca da visita do Presidente da República, Jair Bolsonaro, ao estádio do Maracanã, no final da Copa América de 2019, acontecimento esse que fora noticiado pelos sites de notícias Brasil 247 e República de Curitiba. De maneira específica, conceituamos o dispositivo midiático na perspectiva da Análise do Discurso para a compreensão do encadeamento da reprodução de notícias. Apresentamos, pois, construções de sentidos por meio de elementos linguísticos-discursivos que geram subjetividade ao analisarmos postagens e a reduplicação de notícias vinculadas ao sujeito Presidente da República Jair Bolsonaro por meio de recursos verbo-imagéticos pelos sites já referidos.

Levando em consideração que 4 (quatro) postagens e 2 (duas) matérias jornalísticas dos sites de notícias Brasil 247 e República de Curitiba se constituem como corpus de análise da nossa pesquisa, faz-se necessário falarmos acerca desses websites como espaços veiculadores de notícias onustos de elementos constitutivos do que possam se chamar de dispositivos midiáticos, sem deixarmos de levar em conta sua(s) heterogeneidade(s) discursiva(s), porque a produção de seus conteúdos constitui visões política-ideológicas antagônicas no que se refere aos espectros políticos que acirram os debates discursivos no país.

O Brasil 247, site criado em 13 de março de 2011, pelo jornalista Leonardo Attuch, é especializado em análises e informações de cunho político progressista[4], voltado para a defesa de causas sociais. É considerado por muitos especialistas[5] e simpatizantes[6] como sendo um dos maiores portais de espectro de esquerda do Brasil. O website Brasil 247 se intitula “independente, progressista e para todos” e se dedica “24 horas por dia, 7 dias por semana” a publicar charges, sátiras, vídeos, textos e fotos com o intuito de caracterizar o(s) seu(s) discurso(s) à posição política assumida abertamente pelo site, isto é, progressista.

Já o República de Curitiba, site autointitulado como “uma ferramenta independente” e de “apoio à Lava Jato[7]”, foi criado inicialmente como página no Facebook em 18 de março de 2016, vindo a se tornar um website de fato no ano seguinte. O nome do portal faz alusão a uma fala[8] do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011) em discurso contrário à operação Lava Jato. O portal também se adjetiva como um canal defensor das ideias do espectro político de direita[9] e de apoio a figuras políticas que constituem a liderança antagônica às lideranças políticas com ideias progressistas (esquerda), abordando também conteúdos provenientes de charges, sátiras, entrevistas, textos, fotos e vídeos.

Os sites de notícias além de serem ferramentas práticas e de eficiência instantânea para a construção/(re)produção discursiva, são também norteados pela heterogeneidade do discurso, uma vez que nesses elementos que constituem o dispositivo midiático inserem-se as mais diferentes formas de se noticiar um mesmo acontecimento. No caso desta pesquisa, as postagens e as matérias a serem analisadas pelas construções de sentidos por meio de recursos verbo-imagéticos estão relacionadas à figura do presidente Jair Bolsonaro e acerca da sua visita ao estádio do Maracanã, no final da Copa América de 2019. Tais postagens e matérias inscrevem posições político-partidárias dos pelos websites Brasil 247 e República de Curitiba em que é possível captar a descontinuidade e a transformação discursiva da notícia veiculada ao Presidente através das características constituintes dos discursos antagônicos dos sujeitos, que estão em constante (trans)formação.

De acordo com a revista Isto É[10] (2018), os sites de notícias são as ferramentas de maior credibilidade no que se refere ao compartilhamento e reprodução de notícias, principalmente aqueles que se dedicam a conteúdos políticos e partidários. Por meio dessa multiplicidade de possibilidades de se (re)produzir discursos, essas ferramentas vêm confirmar os conceitos de dispositivo midiático, por meio de seus elementos, ao reproduzirem, à maneira de sua filiação ideológica, os fatos a serem analisados.

Assim, para a compreensão de como são reproduzidas as matérias dos sites de notícias e das suas construções de sentidos, atrelados aos dispositivos midiáticos, utilizamos a metodologia de análise descritiva-comparativa para aprofundarmos a nossa discussão acerca das construções de sentidos nos conteúdos abordados nesta pesquisa, conteúdos esses dos portais de notícias Brasil 247 e República de Curitiba.

As matérias veiculadas por esses sites constituem o nosso corpus, que foram analisadas nas seguintes etapas: na primeira subseção intitulada “As posições políticas assumidas por sites de notícias: um fator de influência na reprodução discursiva”, trabalharemos o modo como os sites Brasil 247 e República de Curitiba utilizam seus conteúdos para divulgarem os seus posicionamentos por meio de 4 (quatro) postagens com relação à figura do Presidente da República, Jair Bolsonaro, e de como esses comportamentos em seus conteúdos podem ser fundamentais para a reprodução de suas matérias jornalísticas.

Na segunda subseção, denominada “Os sites de notícias e as matérias jornalísticas: a polarização discursiva na maneira de se noticiar no dispositivo midiático”, serão trabalhadas as análises de 2 (duas) matérias jornalísticas dos sites Brasil 247 e República de Curitiba, associadas às distintas construções de sentidos, por meio de recursos verbo-imagéticos-discursivos, acerca de um mesmo acontecimento: a visita do Presidente Jair Bolsonaro ao Estádio do Maracanã, em jogo de futebol válido pela final da Copa América de 2019, entre as seleções do Brasil e do Peru.

4.1. Posições políticas assumidas por sites de notícias: um fator de influência na reprodução discursiva

Os sites jornalísticos, como já visto no capítulo anterior, são ferramentas dinâmicas e instantâneas para a reprodução de notícias e das construções de sentidos por meio de seus recursos verbo-imagéticos. Esses portais online carregam consigo a objetividade de noticiar e posicionar-se acerca dos mais variados assuntos que acontecem em nossa sociedade. No caso dos sites de notícias, com seus conteúdos voltados para a política (SANTAELLA, 2004), essas ferramentas podem sofrer influências de suas posições políticas-partidárias-ideológicas ao publicarem suas matérias, sejam pelos lados positivos, sejam pelos negativos, criando diversas discursividades acerca de um mesmo fato.

Com tudo isso, pessoas públicas são alvo de divulgações de matérias jornalísticas, principalmente figuras de grande relevância no país, entre essas figuras, destaca-se a do cargo de Presidente da República, que atualmente (2020) é exercido por Jair Messias Bolsonaro. A figura do Presidente é associada incessantemente aos seus discursos e posições políticas assumidas enquanto sujeito e representante do povo, o que ocasiona relevante repercussão sobre o que é dito por ele.

Levando isso em consideração, sites jornalísticos de categoria política tentam retratar constantemente o presidente à maneira de suas posições político-partidárias, utilizando-se, em determinadas ocasiões, do humor ou da crítica para caracterizarem a representação do Presidente. Dada a visibilidade desse sujeito enquanto figura pública, discursiva e política, vejamos a publicação do site Brasil 247:

Figura 1: Panelaço

Fonte: Brasil 247

A matéria da Figura 1 aborda, por meio de uma charge do colunista Nando Motta, uma matéria em tom de crítica ao Presidente Jair Bolsonaro, em que por meio de recursos de imagens e de texto, cria um discurso de crítica e em tom humorístico à figura do político. Fazendo associação aos panelaços que o Presidente é alvo ao discursar em cadeia nacional de rádio e televisão[11], o site Brasil 247 pede a saída de Bolsonaro do cargo, mostrando a insatisfação assumida pelo próprio site em relação ao chefe de Estado e de governo da nação. O que chama a atenção na imagem também é o uso de maneira errada de uma máscara de proteção, fato protagonizado pelo Presidente em alguns momentos durante a pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2).[12] O discurso contido na matéria é composto pelo uso de ironia e de crítica, levando em consideração a rejeição que o presidente tivera por parte do eleitorado nacional[13].

Ao retornarmos ao pensamento de Fiorin (1993), de que os discursos são transmissores de posições ideológicas e de visões de mundo de quem os veicula, entendemos que o próprio discurso em si é um atributo modelador de como as sociedades encaram e interpretam deliberado acontecimento. O autor também nos mostra que certos comportamentos são justificados pela carga de conteúdo(s) que os discursos carregam consigo e esses conteúdos podem ser tanto positivos quanto negativos, justificando assim determinados acontecimentos e estereótipos no meio social.

Desse modo, na matéria jornalística da Figura 1, representada por uma charge, temos uma posição assumida de contrariedade do site Brasil 247 à figura de Jair Bolsonaro, que por meio de uma animação é mostrado o apoio ao “panelaço”, que é um ato de manifestação de adversidade ao Presidente do Brasil. Além do apoio ao ato contrário ao chefe do executivo federal. O panelaço é encarado como uma forma de protesto social em países da América Latina e se tem conhecimento desse ato desde a década de 1970[14]. O site também destaca o verbo “fora!” no modo imperativo afirmativo, emitindo assim uma opinião favorável à descontinuidade do mandato presidencial de Jair Bolsonaro. Tal posicionamento poderá ser fator determinante para comprometer a imparcialidade do site Brasil 247 ao noticiar fatos e acontecimentos relacionados ao Presidente da República.

Por ter posição política admitida e de demonstrar isso em algumas de suas matérias, o site Brasil 247, uma mídia digital de notícias políticas, adjetiva-se como um “jornal progressista”, isto é, o portal possui posição política autodefinida e o seu público-alvo são os sujeitos que comungam com a filiação política-ideológica do website. A Figura 2 nos traz mais um posicionamento de caráter político e que pode repercutir nas redações de suas matérias:

Figura 2: Lula livre novamente

Fonte: Brasil 247

A liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva[15] (2003-2011), ocorrida em 08 de novembro de 2019, foi amplamente noticiada pelos meios de comunicação de todo o planeta. Na matéria da Figura 2, também representada por meio de uma charge, essa do colunista Carlos Latuff, o site Brasil 247 traz, por meio de recursos visuais, imagens que se remetem: ao ex-presidente Lula; ao presidente Jair Bolsonaro; e ao então ministro de Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro; o mapa do Brasil (demonstrando felicidade); um exemplar da Constituição Federal (representando o bater de asas de um pássaro); e uma gaiola (simbolizando o cárcere). Através do jogo de imagens, é possível perceber: o discurso em forma de charge com um tom otimista pela soltura de Lula; a possível alegria de todo um país; a insatisfação de Bolsonaro e de Moro; e a Constituição fazendo analogia a possível inconstitucionalidade da prisão do ex-presidente.

Na Figura 2, a soltura do ex-presidente Lula é percebida como algo, deveras, positivo a partir da percepção de quem reproduz a matéria, utilizando-se assim de recursos verbo-imagéticos para remeter tanto à questão da polarização política existente entre os dois políticos (Bolsonaro e Lula) como também à provável alegria de todo o país com a liberdade de Lula. A cor vermelha, na camisa vestida por Lula na charge, possivelmente se remeteria à cor do Partido dos Trabalhadores[16], partido em que o ex-presidente permanece filiado e no qual foi eleito duas vezes ao cargo de Presidente da República (2002 e 2006). Percebe-se, portanto, que o site de notícias Brasil 247 assumiu um posicionamento político explícito com relação ao fato a ser noticiado, exibindo tanto o lado positivo (encenado pela caricatura de Lula, do mapa do Brasil e da Constituição), tanto negativo (representado pelos desenhos com expressões de decepção, que se remetem a Bolsonaro e a Sérgio Moro).

Ao retornarmos ao conceito de Trompson (2002) no que se refere à relação que os sites jornalísticos de conteúdos voltados à política, será possível denotar que essas ferramentas digitais costumam se revestir das materialidades ideológicas e partidárias quando decidem reproduzir determinado acontecimento. O teórico prossegue afirmando que os sites podem fazer uma remodelação da maneira de narrar o fato para tentar inserir dentro dos discursos elementos que possibilitem reelaborar a percepção do fato a partir de sua posição política-ideológica.

Continuando a nossa abordagem acerca dos posicionamentos dos sites de notícias, o site República de Curitiba traz na Figura 3 uma matéria também emitindo a sua posição política em relação à figura do presidente Jair Bolsonaro. Na matéria, composta apenas por uma foto de Bolsonaro ao lado de Sérgio Moro e com uma legenda de apoio a ambos, o site utiliza os métodos de construções de sentidos semelhantes aos utilizados nas figuras 1 e 2, do site Brasil 247: um posicionamento que representa a determinada parcela da população brasileira com relação ao Presidente da República. Segue a Figura 3 de postagem do República de Curitiba:

Figura 3: A luta apenas começou

Fonte: República de Curitiba / Instagram

O site de notícias República de Curitiba traz na Figura 3 as figuras de dois dos políticos mais populares do país atualmente, o presidente Jair Bolsonaro e o então ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, ambos fazendo o gesto de continência[17], que no meio militar representa subordinação e respeito a autoridades. Posteriormente, percebem-se as legendas que vêm abaixo da foto, remetendo-se à “luta” e aos “soldados”, que seria a representação dos eleitores e simpatizantes de Bolsonaro e de Moro. A Figura 3 carrega em si uma gama de características de um momento histórico e político da sociedade brasileira: as narrativas acerca da luta por um “país melhor”, e a convocação de cidadãos, analogamente remetidos à palavra “soldados”, que se identificam com a causa proposta por Bolsonaro e por Sérgio Moro. Isso nos diz daquilo que fala Charadeau (2013) acerca das particularidades discursivas que os sites de notícias têm para criar e reproduzir sentidos em suas matérias, o teórico aborda que é por meio da elaboração e da manipulação de signos que essas mídias digitais, isto é, os sites, (re)constroem as suas distinções discursivas acerca de determinado fato e por meio disso se pode perceber o posicionamento político-partidário de determinados sites de notícias. Logo, denota-se que os elementos linguísticos e imagéticos utilizados pelo site República de Curitiba, na Figura 3, tenta transformar Jair Bolsonaro e Sérgio Moro em comandantes de um possível exército, que teria como missão a luta por, na visão do portal, um país melhor. Os atributos que consolidam o discurso presente na Figura 3 se remetem a interdiscursos, isto é, discurso que produz seu sentido por meio de outros sentidos já existentes anteriormente ao vigente, provenientes da cristalização de ideias e de opiniões legitimadas por parcelas da sociedade, ideias e opiniões essas que são retomadas por meio do intradiscurso.

A imagem do presidente, em determinadas ocasiões, é remetida a sua simpatia ao Regime Militar do Brasil (1964-1985) e a sua profissão antes de entrar no meio político, que era a de capitão do Exército brasileiro (1977-1988). Sérgio Moro também vira um comandante ao lado do presidente na Figura 3, muito em virtude de sua função como juiz federal, que exercia antes de se tornar ministro do governo Bolsonaro. Moro[18] foi ganhando notoriedade dentro e fora do país em virtude de suas sentenças na Operação Lava Jato, ganhando diversos prêmios como possível reconhecimento de seu trabalho, foi também alvo de críticas e de elogios no meio jornalístico e jurídico. O site República de Curitiba fez uso das características supracitadas para construir sua matéria dando enaltecimento as duas figuras políticas destacadas, fazendo assim, como já mencionado por Charadeau (2013) o uso de signos verbo-imagéticos para exibir o seu posicionamento político-partidário, conforme vimos na Figura 3.

Continuando a nossa discussão acerca dos posicionamentos políticos assumidos por sites jornalísticos, trazemos mais uma postagem, também do site República de Curitiba, que compõe a Figura 4. Esta matéria se remete ao fato de na época em que Jair Bolsonaro era então candidato à presidência da República ter ido a um canal de televisão com a palma da mão rabiscada com algumas palavras[19]. Ao ser questionado por um dos entrevistadores o que estava escrito em sua mão, o então candidato mostra para a câmera os rabiscos que fizera minutos antes do início da entrevista. A postagem em forma de charge publicada pelo site República de Curitiba se segue:

Figura 4: Deus, família, Brasil

Fonte: República de Curitiba / Instagram

Nessa postagem, da Figura 4, há o apelo em destacar algumas das pautas de cunho ditos “conservadores” que alavancaram a campanha do então candidato Jair Bolsonaro para a corrida presidencial. Tal imagem é justificada pelos discursos do candidato que se reverberaram durante o pleito eleitoral de 2018, visando ao alcance das classes conservadoras por meio de conjuntos de crenças, de valores e do patriotismo, pautas que fizera parte das construções discursivas de Bolsonaro e de seus simpatizantes/eleitores. A matéria faz também um trocadilho com um vício de linguagem[20] do Presidente ao se referir à indagação “tá ok?” (talkey)[21], comumente falado por Bolsonaro em suas entrevistas, conversas e debates. O República de Curitiba, ao decidir fazer propaganda de tais posições e pautas do candidato, fá-lo assumindo um posicionamento político e ideológico em consonância com as características dos discursos que são propagados pelo atual (2020) presidente. Acerca dessa construção de sentidos para a publicação da matéria da Figura 4, Foucault (2014) entende que em uma sociedade há discursos e narrativas que se contam repetidamente, através de recursos textuais e imagéticos e por meio da ritualização de discursos que são narrados de acordo com circunstâncias bem estabelecidas.

Dessa maneira, o site República de Curitiba apropriou-se do momento histórico e social – a corrida presidencial e o engajamento das pautas conservadoras – para publicar o conteúdo da Figura 4, posicionando-se, pois, de forma política para reproduzir uma matéria jornalística. Ao mesmo tempo, enaltece os aspectos vistos como positivos para a campanha presidencial, vindo a defender/apoiar de maneira explícita um candidato. Essa lógica chama a cena a descontinuidade e a formação discursivas que constituem os sujeitos que apoiam a agenda que era, à época, propagada pelo então candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro. Pode-se então denotar que a composição da matéria da Figura 4 utiliza-se do elemento dos intradiscursos para reafirmar certos valores tradicionais e ditos “conservadores” a fim de propalar um discurso já estabelecido por determinada parcela da sociedade brasileira, levando a impressão de heterogeneidade discursiva por meio da regularização, embates e recuperação de discursos já reverberados por parte do corpo social.

4.2. Os sites de notícias e as matérias jornalísticas: a polarização discursiva na maneira de se noticiar no dispositivo midiático

Em 7 de julho de 2019, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, ao visitar o estádio do Maracanã, foi alvo de manifestações por parte da torcida, em jogo de futebol válido pela final da Copa América de 2019[22], entre as seleções do Brasil e do Peru, ocasião onde estava um público fragmentado, dividido entre apoiadores e críticos do/ao chefe do governo Federal. A visita de Bolsonaro foi amplamente noticiada pelos veículos de comunicação, inclusive em diversas plataformas das mídias digitais, como por exemplo em sites jornalísticos de categoria política. Diversas foram as maneiras de se noticiar esse acontecimento, visto que cada site/portal sempre carrega consigo marcas de suas filiações ideológicas e posições políticas, principalmente quando a notícia é relacionada à figura de um Presidente da República, em que o debate polarizado se faz presente na formação discursiva dos sujeitos que constituem deliberados grupos, compondo assim a conjuntura social. Quando nos referirmos à maneira de se exercer o discurso, remetemo-nos aos enunciados que são produzidos por indivíduos atuantes em contextos sociais/históricos, em que esses indivíduos se apropriam dos lugares de sujeitos, e quando os sujeitos assumem esse papel, fazem-no com valor de equivalência a estarem atuantes no processo de produção desses discursos (MAINGUENEAU, 2001).

Partindo disso, seria natural que o fato da visita de Jair Bolsonaro ao estádio fosse alvo de manifestações por parte dos presentes na torcida, visto que a polarização política faz parte dos debates mais acalorados acerca das principais pautas de assuntos no país. E estando Bolsonaro em um lugar cuja aglomeração é composta por pessoas das mais diferentes visões de mundo e opiniões políticas, como é o caso de um público que forma uma torcida dentro de um pequeno lugar com arquibancadas, seria um ato espontâneo a manifestação do público ao saber da presença no local de uma figura que gera inúmeros debates em virtude das reverberações de seus discursos acerca dos mais diferentes assuntos que fazem parte do quotidiano brasileiro. Dessa maneira, o site de notícias Brasil 247 se encarregou de reproduzir esse acontecimento, isto é, a visita do Presidente ao estádio, e as manifestações ocorridas em virtude disso, da maneira como se segue na Figura 5.

Figura 5: Bolsonaro foi vaiado e caiu durante final da Copa América

Fonte: Brasil 247

A notícia da Figura 5 traz consigo uma série de signos linguísticos e imagéticos para construir um sentido negativo acerca da presença do presidente para assistir ao jogo no estádio. Essa construção de sentido desfavorável ao político começa pelo próprio título da matéria intitulado “Bolsonaro foi vaiado e caiu durante final da Copa América”, quando o site decide dá maior visibilidade às vaias sofrida por Bolsonaro, e também sobre o tombo que ele sofre ao comemorar um dos gols da Seleção Brasileira sobre a do Peru. O enfoque dado à manifestação contrária ao presidente é algo que o site destaca de maneira nítida, levando em consideração, como já fora visto na subseção anterior, o seu posicionamento, contrário ao presidente, que acaba por influenciar na maneira de como o fato é noticiado.

Deleuze (1996) nos diz que todo dispositivo traz consigo, em uma de suas dimensões, apesar de sua heterogeneidade, as curvas de visibilidade. Essa dimensão – curvas de visibilidade – nada mais é do que o procedimento que funciona dentro de um dispositivo à maneira como ele trabalha, isto é, há determinados objetos que ganham excessiva visibilidade e o outros que são excessivamente ocultados. Levando em consideração que o momento histórico atual torna o dispositivo midiático o mais predominante entre os dispositivos – muito em virtude dos avanços tecnológicos e da democratização, mesmo que em passos lentos, da internet – essas curvas de visibilidade ganham mais funcionalidade nos sites de notícias ao reproduzirem acontecimentos de cunho político, principalmente quando se posicionam de maneira partidária para defenderem ou desaprovarem ideias e figuras políticas. O site Brasil 247 faz uso desse atributo disponibilizado pelo dispositivo midiático ao destacar a imagem do exato momento em que presidente Bolsonaro leva um tombo ao comemorar um dos gols da Seleção do Brasil, ou seja, houve a excessiva visibilidade desse instante acidental que pode ser visto como algo negativo, e por meio de sua autonomia jornalística, o site expõe, por meio de imagem, essa ocasião como destaque em sua matéria. Do mesmo modo, Gregolin (2016) nos informa que os dispositivos nos possibilitam realizar uma análise do discurso não somente pelos meios textuais, mas também por meio de imagens e de comportamentos dos sujeitos que os proferem.

As mídias digitais podem ser compreendidas como um influente dispositivo de reprodução de subjetividades, visto que a sua rede de elementos se interliga e constitui um importante campo para o processo de práticas e construções discursivas. Os sites são alguns desses elementos que formam o dispositivo midiático e por meio deles é que diversos saberes são (re)construídos e estabelecidos em determinado(s) momento(s) histórico-político-social. A Figura 6 nos traz em sua materialidade a continuação do fato a ser noticiado em sua redação:

Figura 6: Recorte da matéria “Bolsonaro foi vaiado e caiu durante final da Copa América”, extraído do site Brasil 247

Fonte: Brasil 247

A partir do texto acima, Figura 6, pode-se denotar que o site Brasil 247, ao noticiar a visita de Jair Bolsonaro no Maracanã, redigiu sua matéria trazendo informações acerca de situações negativas ligadas à figura do político. Conforme a leitura do texto, fica perceptível a materialidade de um discurso antagonista ao presidente, visto que a redação da notícia traz o enfoque para as vaias sofridas sempre que a imagem de Bolsonaro aparece no telão do estádio. Destaca também que em determinada ocasião, ao comemorar um dos gols da seleção do Brasil, Bolsonaro se desequilibra e quase cai, e mais à frente frisa que esse momento (o momento da queda) era o “que todos esperavam” que seria “o Bolsonaro caindo”. Na oração “o momento que todos esperavam”, com o verbo conjugado na terceira pessoa do plural, do tempo pretérito imperfeito, do modo indicativo, denota que pessoas esperavam por aquele momento, e esse grupo é caracterizado, na visão do site Brasil 247, como sendo os adversários do presidente Bolsonaro.

Acerca dos procedimentos internos de controles do discurso, que para Foucault (2014) serve para organizar e reproduzir o discurso, a figura do comentador se faz importante, pois esse é responsável por revisitar o discurso e procurar nele, isto é, no discurso, coisas que não estão ditas de maneira clara, expondo essas coisas que poderiam estar ocultadas e também seria encarregado pela a ampliação (visibilidade) desses objetos que estão submersos à abordagem discursiva, colocando foco em detalhes que não teriam sido focados pelo discurso originário. Assim, percebe-se que o site Brasil 247, ao noticiar a visita do presidente Bolsonaro ao Maracanã, nas imagens 5 e 6, faz isso utilizando-se dos procedimentos de rarefação do discurso ao dar enfoque a determinadas situações, adversas ao presidente, que constituem a sua matéria jornalística. A exemplo disso, podemos citar as vaias sofridas por Bolsonaro, o seu desequilíbrio ao comemorar um dos gols e que esse o momento era, segundo a redação da matéria, esperado por algumas pessoas, posicionando-se assim de maneira contrária ao governante, visto que o presidente além de vaiado foi também aplaudido pelo público e também participou da entrega das medalhas para os jogadores da Seleção Brasileira.

O site, portanto, optou assim por ocultar, por meio das curvas de visibilidade e de enunciabilidade descritas por Deleuze (1996), fatos positivos à imagem de Bolsonaro e deu destaque aos aspectos negativos, que já foram mencionados, e que tiveram relevante visibilidade tanto em aspectos textuais como imagéticos, levando em consideração a relação que os fatos têm com a imagem do político, e com o posicionamento político adverso do site Brasil 247 no que se refere ao presidente, utilizando-se assim da noção de comentário já descrito por Foucault (2014).

Diversas podem ser as maneiras de se noticiar um mesmo acontecimento como já temos visto neste estudo e levando isso em consideração, continuamos a nossa análise ainda com relação ao processo de reduplicação de notícias a partir do posicionamento político de sites de notícias. Trazemos, na Figura 7, mais uma matéria relacionada ao mesmo acontecimento aqui analisado: a visita do Presidente Jair Bolsonaro ao estádio do Maracanã pela final da Copa América de 2019. Abordamos na figura seguinte a matéria reproduzida pelo site República de Curitiba:

Figura 7: Brasil é campeão da Copa América; Moro e Bolsonaro são ovacionados pela torcida e pelos jogadores

Fonte: República de Curitiba

Na Figura 7, em matéria reproduzida pelo site República de Curitiba, acerca da visita de Bolsonaro ao Maracanã, assim como na Figura 5, traz consigo uma série de signos textuais e de imagem que correspondem a um aspecto positivo em comparação à notícia reproduzida pelo site Brasil 247 nas figuras 5 e 6. Tais signos, que constituem o conteúdo da matéria propagada pelo presente site, carregam consigo elementos que fortalecem a imagem do político Jair Bolsonaro ao ser noticiado, juntamente com o seu então ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro. Por meio de um discurso geral, que seria a visita do presidente Bolsonaro ao estádio para assistir ao jogo de futebol, obtém-se mais uma maneira distinta de se noticiar tal acontecimento em comparação com a maneira como foi reproduzida a notícia pelo site Brasil 247, nas figuras 5 e 6, que visou a aspectos os negativos em sua notícia. O República de Curitiba, em oposição ao posicionamento político do site anterior, Brasil 247, construiu a sua matéria jornalística pautada na visibilidade de aspectos e de características positivas para a figura de Jair Bolsonaro. Essa construção de sentidos, atrelada às dinâmicas dos dispositivos, conforme tratada por Verón (2001), possibilitou, por meio da midiatização do discurso, a construção de um sentido que se identifica com a posição político-partidária que o site República de Curitiba tem com relação a Jair Bolsonaro, que como já vimos na subseção anterior, utiliza métodos e recursos que procuram enaltecer a figura do presidente e do seu ministro à época perante as publicações de suas matérias.

No título da publicação, palavras que no campo semântico se remetem a situações de positividades e de conforto para Bolsonaro e Moro: “Brasil é campeão da Copa América; Moro e Bolsonaro são ovacionados pela torcida e pelos jogadores”. A maneira como o site República de Curitiba articula a sua construção de sentidos para passar uma imagem positiva e de enaltecimento de Bolsonaro e de Moro perante o público e jogadores pode ser encarada como uma forma de exaltação do presidente e do seu então ministro. Acerca da elevação da imagem do presidente e do seu empoderamento na matéria pelo site, devemos levar em consideração que o poder, de acordo com Foucault (2014), é algo que está dissipado e fragmentado no corpo social e que circula entre os sujeitos, e ao nos remetermos ao seu pensamento de que o poder é exercido por meio de relações, denota-se que as mídias digitais, sobretudo os sites de notícias, é um campo de abrangência instantânea e que esses micropoderes se dissipam e são exercidos sobre/por sujeitos. Quando analisamos a Figura 7 e visualizamos a imagem do presidente ao centro, segurando a taça junto aos jogadores da Seleção Brasileira, percebe-se um certo enaltecimento da figura de Jair Bolsonaro, e a celebração do momento de alegria e de comemoração, bem diferente do momento que fora noticiado na Figura 5, pelo Brasil 247, no momento do tombo e das vaias sofridas pelo presidente ao comemorar um dos gols do Brasil.

Acerca do texto que prossegue descrevendo a matéria reproduzida pelo site República de Curitiba, na Figura 7, a Figura 8 traz em sua produção textual um conjunto de signos escritos que, por meio da harmonia de sentidos, descreve a situação a ser noticiada. O método de construção de sentidos assemelha-se ao da Figura 6, com a ressalva de que naquela o site Brasil 247 tentou destacar aspectos negativos à figura do Presidente, enquanto nesta o site República de Curitiba procurou dar ênfase a momentos e características positivas que nortearam a figura do presidente em sua matéria jornalística. Segue a Figura 8:

Figura 8: Recorte da matéria “Brasil é campeão da Copa América; Moro e Bolsonaro são ovacionados pela torcida e pelos jogadores”, extraído do site República de Curitiba

Fonte: República de Curitiba

Por meio do texto exibido na Figura 8, o site de notícias República de Curitiba traz em matéria, vinculada à notícia em destaque da Figura 7, acerca da visita do presidente Bolsonaro ao Maracanã para assistir a um jogo de futebol, elementos de construção de sentidos acerca do fato a ser noticiado. Na redação, são utilizados elementos textuais para descrever, de maneira resumida, o desfecho do jogo: vitória da Seleção Brasileira por 3 a 1 sobre a Peruana e a conquista do título da Copa América de 2019. Aproveitando a ocasião, descreve também a visita de Jair Bolsonaro ao estádio, acompanhado do então ministro de seu governo, Sérgio Moro. No texto, em seu primeiro parágrafo, é descrito que o presidente foi ovacionado durante o jogo e durante a entrega das medalhas aos jogadores da Seleção do Brasil. Destaca também que “a população reconhece” o trabalho do chefe do poder executivo Federal, juntamente com o seu, como é descrito na matéria, “super ministro da justiça”. Os adjetivos “ovacionado” e “ ministro” são adjetivos que podem ser denotados como características positivas atribuídas aos sujeitos em questão, mostrando a objetividade de noticiar o fato e deixando evidente o posicionamento político do site República de Curitiba.

No texto, o fragmento “a população reconhece” é denotado como um elemento referencial dêitico para se referir aos apoiadores que ovacionaram o presidente durante esse evento. Inseridos nesses grupos há, consoante Foucault (2014), uma dinâmica consequente das práticas discursivas que, através da historicidade e do processo de relações de poder e saber, gera as subjetividades desses sujeitos através dos dispositivos inseridos no corpo social. Tomemos então o dispositivo midiático para caracterizar o elemento gerador de subjetividade do site República de Curitiba para noticiar esse acontecimento, isto é, a visita de Bolsonaro ao estádio, dando enfoques a situações que visam a positivar a imagem do presidente e do seu ministro. Por meio disso, pode-se afirmar que através do jogo saber-poder, inseridos no dispositivo midiático, é que as construções de sentidos com enfoque positivo são criados por meio da subjetividade para narrar o fato sob à ótica do posicionamento político-partidário que o  site em questão carrega consigo em suas matérias, como já fora abordado na subseção anterior, resultando assim na inserção de situações representadas pela imagem da matéria e também por sua redação que tornam a situação do presidente, no estádio, favorável à vontade dos simpatizantes e apoiadores do Governo Bolsonaro.

Nos parágrafos posteriores, o texto continua a descrição do apoio dado ao presidente, que sob aos gritos de “mito” (um bordão dos apoiadores de Bolsonaro para lhe referirem) e com registros de manifestações favoráveis, recebera bastantes aplausos. O texto tenta destacar que houve também manifestações contrárias ao presidente, mas informa de maneira superficial e sem fornecer mais detalhes. Deleuze (1996) nos diz que há dispersões de produções de subjetividades em todos os lugares, escapando-as dos poderes e dos saberes que são possibilitados em determinado dispositivo, e levando em consideração o dispositivo midiático, fica notório que as subjetividades dos sujeitos ficaram dispersas em meio ao acontecimento a ser noticiado como também a própria notícia reproduzida pelo site República de Curitiba.

Ao decidir mostrar mais os aspectos positivos – que fora aplaudido, ovacionado, apoio da população, chamado de “mito” – e ocultar os aspectos negativos – que houve manifestações contrárias e vaias – o site utilizou-se de uma das dimensões do dispositivo, apesar de sua heterogeneidade, conceituada por Deleuze (1996) e por Marcello (2004), chamada de linhas de subjetivação para causar os efeitos de sentido entre o jogo do dito e do não-dito, daquilo que foi exibido e escondido, por meio da (trans)formação de subjetividades que o próprio dispositivo possibilita fazê-lo.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa foram analisadas as construções de sentidos possibilitadas pelas composições de matérias e de conteúdos jornalísticos dos sites de notícias Brasil 247 e República de Curitiba, sites esses identificados com posicionamentos políticos antagônicos com relação à imagem do presidente Jair Bolsonaro. Tais posições ideológicas carregadas por esses portais são caracterizadas através dos interdiscursos contidos em seus textos, charges, imagens e demais conteúdos, o que ocasiona a reprodução de suas matérias a partir de diferentes visões sobre um mesmo acontecimento. O fato que foi analisado em questão, noticiado por ambos os sites, refere-se à visita do Presidente da República, Jair Bolsonaro, ao estádio do Maracanã, em jogo válido pela final da Copa América de 2019, entre as seleções do Brasil e do Peru.

Desse modo, por se tratar de um elemento constituinte do dispositivo midiático e que possibilita a heterogeneidade discursiva entre os mais diferentes tipos de sujeitos, os sites de notícias contribuem para que o campo virtual se torne um espaço cada vez mais explorável e amplo para diversas pesquisas acerca dos mais variados assuntos. Tal heterogeneidade contribui para que diversas sejam as construções de sentidos acerca de um mesmo acontecimento, a depender do posicionamento ideológico, político e partidário assumido por cada site que se propõe a narrar determinado fato, o que, por meio dos interdiscursos intrínsecos em seus conteúdos, carreguem consigo a ideia de que o discurso sempre carrega consigo marcas ideológicas e as (trans)formações que acontecem em determinado momento histórico, assim, jamais sendo neutro.

Entretanto um possível problema a ser localizado através da coleta do corpus diz a respeito de que as postagens e matérias analisadas nesta pesquisa referem-se à figura do presidente Jair Bolsonaro, e embora ouvindo os dois lados da polarização discursiva política do Brasil contemporâneo, devemos nos ater ao fato de que outras figuras públicas também são capazes de gerar diversas construções de sentidos acerca da criação de postagens e de reprodução de notícias, por intermédio dos posicionamentos políticos e ideológicos dos sites e portais jornalísticos que se dispõem a narrarem acontecimentos vinculados a deliberadas figuras públicas/políticas.

De maneira preliminar, foi percebido, de acordo com as dinâmicas propiciadas pelo jogo de saber-poder-subjetividade dentro do dispositivo midiático, que os sites Brasil 247 e República de Curitiba utilizam em seus conteúdos jornalísticos elementos verbo-imagéticos que tentam satirizar ou positivar a figura do Presidente Jair Bolsonaro nas mais diversas situações em que o foco da notícia se volta para o político em questão. Por meio de artifícios verbo-imagéticos que se remetem a situações em que o presidente se destaca, foram utilizados recursos que tentam de maneira incisiva exibir o posicionamento político dos respectivos sites com relação ao chefe do poder executivo Federal. Essas construções de sentidos são provenientes da fragmentação de poderes advindos dos sujeitos que reproduzem e dos que consomem a notícia a ser veiculada sobre a referida figura pública. Por meio da constante descontinuidade desses sujeitos e de suas transformações, que dependem de momento histórico e social, é que esses saberes são (re)formulados e reproduzidos por meio da prática discursiva, por intermédio do interdiscurso pertencente a grupos desses respectivos sujeitos, marcados pela heterogeneidade discursiva.

Em sequência, as dinâmicas provenientes do dispositivo midiático possibilitam que essa rede de comunicação, que são os sites de notícias, possa, por meio de suas dimensões – curvas de visibilidade e de enunciação, regimes de luz e de enunciabilidade e linhas de força e de subjetivação – circunscrever sobre quais aspectos um acontecimento pode ser noticiado, quais objetos podem ter visibilidade ou não, através de suas curvas de visibilidade e quais conteúdos podem ser descritos ou ocultados, por meio das curvas de enunciação. Por conseguinte, as ideologias dos respectivos sites, Brasil 247 e República de Curitiba, podem a ser materializadas em suas matérias jornalísticas, exibindo, dessa maneira, posicionamentos durante o procedimento de reprodução de uma notícia, para determinado público, em determinado momento histórico.

Dessa forma, podemos concluir que os sites de notícias vinculados a conteúdos político-partidários podem materializar seus discursos em suas matérias jornalísticas através de símbolos, imagens, textos e vídeos que se remetam aos posicionamentos políticos desses veículos de comunicação do campo virtual, levando em consideração as diferentes possibilidades de narrar um mesmo fato sob à ótica de diferentes filiações ideológicas. Então, é por intermédio dos interdiscursos, provenientes das práticas discursivas que norteiam os discursos e as memórias discursivas dos sujeitos, que estão em constante descontinuidade e (trans)formação, que esses discursos norteados por diferentes ideologias podem contribuir para a reverberação e a reduplicação de narrativas de um mesmo fato.

Destarte, por intermédio da amplitude documental e descritiva-comparativa deste estudo, e de natureza qualitativa, devemos lembrar de que a nossa investigação acerca do processo de reduplicação de notícias dentro do dispositivo midiático, através de suas dimensões, precisa ser explorada em diversos estudos futuros, levando em consideração as diversas e numerosas possibilidades de produções científicas que esse tipo de pesquisa pode proporcionar à área, visto que o processo de reprodução de notícias por sites jornalísticos conta com momentos históricos e sociais para ocorrer, principalmente quando se refere a aspectos de conteúdos políticos, abrindo assim um leque de possibilidades de se trabalhar o assunto em questão sob as mais diferentes perspectivas.

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[1] “A memória, por sua vez, tem suas características, quando pensada em relação ao discurso. E, nessa perspectiva, ela é tratada como interdiscurso. [...] O interdiscurso é todo o conjunto de formulações feitas e já esquecidas que determinam o que dizemos [...].” (ORLANDI, 2001, p.31-33-34).

[2] Disponível em: https://www.correioBrasiliense.com.br/app/noticia/economia/2019/11/04/internas_economia,803503/51-da-populacao-mundial-tem-acesso-a-internet-mostra-estudo-da-onu.shtml

[3] Organização das Nações Unidas

[4] Disponível em: https://www.brasil247.com/equipe/brasil247

[5] Disponível em: https://www.brasil247.com/brasil/ciro-diz-que-247-e-dcm-sao-o-gabinete-do-odio-da-esquerda

[6] Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lLmY3YlmIe8&ab_channel=TV247

[7] Com marco inicial em 17 de março de 2014, a operação Lava Jato é um conjunto de operações investigatórias e processuais, algumas consideradas controversas, em andamento, executado pela Polícia Federal do Brasil que cumpriu até o presente ano (2020) um número superior a mil mandados de busca e apreensão, prisões temporárias, prisões preventivas, prisões em flagrante retardado e de condução coercitiva buscando a apuração de um esquema de corrupção, lavagem e desvios de dinheiros públicos dentro e fora do país (Ministério Público Federal, 2020).

[8] “Eu, sinceramente, tô assustado com a República de Curitiba. Porque a partir de um juiz de primeira instância [Sérgio Moro], tudo pode acontecer nesse país”, afirmou Luiz Inácio Lula da Silva em conversa telefônica com a presidenta Dilma Rousseff no dia 4 de março (de 2016). (EL PAÍS, 2016).

[9] Disponível em: https://republicadecuritiba.net/sobre/

[10] Disponível em: https://istoe.com.br/sites-de-noticias-sao-fonte-mais-confiavel-na-web/

[11] Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/03/bolsonaro-e-alvo-do-15o-panelaco-seguido-em-meio-a-novo-pronunciamento-na-tv.shtml

[12] Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/03/18/em-coletiva-bolsonaro-e-ministros-usam-mascaras-de-forma-errada.ghtml

[13] Disponível em: https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/05/12/cntmda-rejeicao-de-bolsonaro-sobe-e-brasileiro-fica-mais-pessimista.ghtml

[14] Disponível em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-panelaco-e-as-formas-do-protesto-social/4/33657

[15] Disponível em: https://istoe.com.br/liberdade-de-lula-e-destaque-na-imprensa-internacional/

[16] Disponível em: https://www.cut.org.br/noticias/resquicios-da-guerra-fria-a-fixacao-na-bandeira-vermelha-2b05

[17] Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/continencia/

[18] Disponível em: https://www.euqueroinvestir.com/juiz-sergio-moro-historia/

[19] Disponível em: https://veja.abril.com.br/politica/em-entrevista-ao-jornal-nacional-bolsonaro-volta-a-usar-cola-na-mao/

[20] Disponível em: https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2019/05/capa-2637.jpg

[21] Disponível em: https://www.redebrasilatual.com.br/blogs/diario-do-bolso/2019/02/procurei-uma-palvra-no-dicionario-nao-achei-mas-o-mourao-me-deu-aula-de-ingles/

[22] Disponível em: https://www.poder360.com.br/governo/bolsonaro-recebe-vaias-e-aplausos-durante-final-da-copa-america-no-maracana/


Publicado por: Walisson Jonatan de Araújo Maia

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