Mitos e tabus alimentares no Brasil

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1. ­­­­­­­­RESUMO

Com o objetivo de conhecer um pouco mais sobre os mitos e tabus alimentares recorrentes no Brasil, de analisar as carências nutricionais associadas aos mesmos e a sua permanência nas gerações atuais, esse trabalho abordará, por meio da exposição e discussão dos resultados de uma pesquisa de campo (feita em uma plataforma online) e de pesquisas teóricas, dados que mostram o entendimento das pessoas em relação ao significado das palavras “mito” e “tabu”, junto da relação de conhecimento e crença nos mitos e tabus alimentares apresentados.

Palavras-chave: Mitos. Tabus. Alimentares.

ABSTRACT

Due to know more about food myths and taboos that happen on Brazil, to analyze the nutritional needs linked with it and the permanence at the actual generation, this assignment is going to encompass, by means of exposition and discussion of the results from a field research (made by an online platform) and theoretical researches, datas that show the people understanding with the regard to the meaning of the words myth and taboo, with the knowledge and belief relation showed.

Key words: Myth; Taboo; Alimentary

2. INTRODUÇÃO

“Narrativa de significação simbólica, transmitida de geração em geração dentro de determinado grupo, e considerada verdade por ele”. (AURÉLIO, 2009 p.558)

“Restrição costumeira ou tradicional a certos comportamentos que, se praticados, recebem forte reprovação moral e social.” (AURÉLIO, 2009 p.762)

Os mitos e tabus são criados por convenções sociais, religiosas e culturais. São meios de preservar os bons costumes da sociedade, mas também são uma forma de limitação de algumas práticas de determinados atos; por outro lado, ninguém sabe muito bem como um mito ou tabu começa, mas alguns deles se propagam em nossa cultura até hoje.

A alimentação é um tema que está ganhando força e também está se tornando cada vez mais atual, porém cercada por diversos mitos e tabus. Sendo assim, é comum falar sobre os alimentos e seus respectivos efeitos no organismo, mesmo não tendo muito embasamento científico.

Analisando o tema, há poucas informações. Observa-se que os mesmos não são muito debatidos, porém são praticados, muitas vezes, inconscientemente pelo brasileiro. Por esse motivo, a pesquisa do tema “Mitos e Tabus Alimentares no Brasil” é relevante, porque procura relacionar os efeitos da falta do consumo de certos alimentos na vida de quem os pratica. Ademais, buscou-se aprofundar os conhecimentos que se tinha acerca dos mitos e tabus alimentares. Sendo esses nem sempre verdadeiros, necessitando assim, de uma comprovação científica, para que possamos certificar tal crendice.

3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo Geral

Identificar e coletar diversos mitos e tabus alimentares conhecidos no Brasil, integrado ao esclarecimento de dúvidas e esclarecimento de ideias sobre o tema.

3.2. Objetivos Específicos

  • Pesquisar referências teóricas sobre o tema;

  • Elaborar questionário para levantamento da percepção e do entendimento das pessoas sobre o tema;

  • Escolher ferramentas adequadas para aplicação do questionário para o maior número de pessoas, relacionando tabulação à praticidade;

  • Ampliar o referencial teórico para descoberta das origens do tema;

  • Relacionar a pesquisa de campo aos referenciais teóricos;

  • Desenvolver o tema incluindo os fatores nutricionais aos dados antropológicos tabulados e pesquisados;

  • Concluir até que ponto os mitos e tabus alimentares podem influenciar o cotidiano do brasileiro.

4. DESENVOLVIMENTO

4.1. REVISÃO DA LITERATURA

Os mitos e tabus alimentares são um tema que, nos dias atuais, geram muitas contradições, sendo assim, foi necessário explanar os conhecimentos que se tem em relação a esse assunto para a realização do trabalho.

Justificando o nascimento dessas crenças, "As superstições proibitivas ligadas aos alimentos têm sua maioria no Brasil de origem portuguesa". (CASCUDO, 2004)

“Essas proibições são respostas culturais a problemas de adaptação ecológica. Muitos estudiosos de culturas e superstições afirmam que as sociedades proíbem certas classes de alimentos, pois classificá-las em comestíveis e não-comestíveis significa classificar uma experiência no mundo”. (HARRIS, 2004)

Tendo por base tais pontos de vista dos autores em relação a esse assunto, foi possível refletir sobre a influência dos mitos e tabus alimentares na situação nutricional de um indivíduo, em relação às carências nutricionais.

“As carências nutricionais ocorrem quando a oferta, biodisponibilidade e a utilização dos nutrientes são insuficientes para promover o crescimento e o desenvolvimento das funções normais do organismo”. (MARTINEZ, 2001)

Essas carências nutricionais podem estar relacionadas às vitaminas (como por exemplo A e C) e minerais (cálcio, por exemplo).

“Alguns estudos têm demonstrado a associação entre fatores relacionados a tabus e a exclusão de alimentos importantes, como os de fonte de vitamina A, principalmente os de origem vegetal, considerados como os mais acessíveis do ponto de vista financeiro”. (CASTRO, 1941; MOTA & PENNA, 1991)

Foi levantada uma hipótese, no decorrer do trabalho, de que os mitos e tabus alimentares podem influenciar, de algum modo, o bem-estar nutricional de um indivíduo, pois essas crenças podem fazer com que as pessoas deixem de consumir determinado alimento e, consequentemente, determinado nutriente. Sendo assim, a citação de CASTRO, 1941 e MOTA & PENNA, 1991 reafirma, indiretamente, a hipótese levantada.

Dito isso, com a confiança de que os mitos e tabus alimentares possam ser verdade, a população que acredita neles, passa a adotar certos tipos de comportamentos de aversão em relação a alimentos que façam parte dessas crenças. Dessa maneira, com o intuito de entender os fatores que permeiam essas influências, o trabalho apresenta estatísticas e informações referentes ao tema.

4.2. METODOLOGIA

Para chegar às verdadeiras conclusões que englobam o tema escolhido, a busca por diversas informações foi crucial, visto que as mesmas eram escassas. Dessa forma, para traçar o perfil do brasileiro sobre o tema foi necessário aliar uma pesquisa teórica a uma pesquisa de campo.

4.2.1. PESQUISA TEÓRICA

O embasamento teórico foi a primeira etapa da pesquisa. Vale ressaltar que foi através dessa etapa que o tema mostrou as suas primeiras problemáticas e diretrizes. Desse modo, a pesquisa teórica foi subdivida em duas fases.

4.2.2. Explanação do tema

Essa etapa ficou caracterizada pela busca de artigos científicos e de outras informações mais acessíveis como, por exemplo, dados encontrados na internet sobre o tema. Pode-se destacar que essa primeira fase se revelou extremamente importante, pois foi com a exploração do tema que se teve o caminho para a realização do trabalho.

4.2.3. Busca por dados antropológicos

Após a realização da primeira fase de pesquisas sobre o tema, surgiu a necessidade de buscar fontes mais aprofundadas sobre o mesmo, por isso a busca por dados antropológicos foi relevante, já que com ela foi possível entender um pouco mais a formação dos mitos e tabus alimentares na nossa população.

4.2.4. PESQUISA DE CAMPO

Para traçar o perfil do brasileiro, com relação aos mitos e tabus alimentares, realizou-se uma pesquisa de campo por meio da plataforma online “Google Forms”. A escolha desse meio online aliada à divulgação através de redes sociais (“Facebook”, “E-mail”, “Twitter”, “WhatsApp”) foi fundamental para realização da mesma, uma vez que pôde-se atingir um número maior de pessoas em um curto período de tempo. Além disso, a praticidade da plataforma também foi importante para sua escolha na aplicação, tendo em vista que a tabulação dos dados é precisa e automática, pois os gráficos já saem prontos ao final.

4.2.5. Itens da Pesquisa de Campo

Alcançando 1.103 entrevistados, a pesquisa de campo foi composta por cinco perguntas de múltipla escolha. Para elaborar as duas últimas perguntas, foi realizado um levantamento de mitos e tabus alimentares mais conhecidos pelo grupo e por seu círculo social. Nessas perguntas era possível assinalar mais de uma alternativa. O questionário preenchia os seguintes requisitos:

  • O entrevistado deveria ter no mínimo 13 anos (pois a partir dessa idade, o participante da pesquisa poderia compreender melhor o tema);

  • O nome do participante não era necessário;

  • A pesquisa deveria ter a duração de 1 mês (dia 29 de junho até o dia 29 de julho).

A partir disso, os dados coletados no decorrer dessa pesquisa foram utilizados para desenvolver e concluir algumas das problemáticas que estavam em torno do tema escolhido.

4.2.6. Questionário aplicado através da plataforma Google Forms

4.2.7. ANÁLISE DE DADOS

Configurada como uma das últimas partes práticas, a reunião de dados pode ser denominada como a parte mais importante da pesquisa e da realização do projeto, considerando que essa etapa uniu todas as informações, esclarecimentos e opiniões que contribuíram para a formação de uma conclusão sobre o tema.

4.3. DISCUSSÃO E RESULTADOS

Os mitos e tabus alimentares estão presentes no cotidiano do brasileiro, sendo que alguns deles não possuem origem específica. Entretanto, “as superstições proibitivas ligadas aos alimentos têm sua maioria no brasil de origem portuguesa” (CASCUDO, 2004). Além disso, alguns mitos e tabus alimentares têm origem africana e indígena.

“Tabus de procedência portuguesa, negra e indígena confluíram aqui no Nordeste. O homem desta região é um pobre ser tolhido por supertições as mais estranhas, relacionadas com todos os aspesctos da vida” (MELO, 1968).

Geralmente, esses mitos e tabus são levados de geração em geração através de nossos antepassados. Mesmo não acreditando, acabamos aderindo-os em nossas vidas, como se fossem uma a tradição a se seguir, deixando de lado aquilo que consideramos verdade.

Os mitos e tabus podem ser gerados por causas econômicas, culturais e sociais.

“Por outro lado, também (os tabus e mitos) podem ser vistos como elementos de harmonização das relações sociais e pessoais, tendo funções sociais, tais como ajudar o povo a refletir sobre si mesmo como uma comunidade à parte.” (HARRIS, 1978)

Quando deixamos de ingerir um alimento porque ouvimos algo ruim em relação a ele (sem base científica), ou dizemos que a combinação de determinadas substâncias alimentares faz mal, baseando-se em relatos negativos, há a possibilidade de sermos influenciados (induzidos) pelos mesmos.

Essa influência pode muitas vezes fazer com que o indivíduo restrinja o consumo de certos alimentos, o que o expõe a carências nutricionais, afetando diretamente a qualidade de vida do mesmo, podendo acarretar no desenvolvimento de doenças.

Através dessa pesquisa, também foi possível saber quais mitos e tabus são mais conhecidos pela população e quais os que as pessoas ainda acreditam.

Resultados da pesquisa de campo

Tabela da relação conhecimento e crença dos mitos e tabus alimentares

Mitos e Tabus

Mitos e tabus alimentares que você conhece

(nº de pessoas)

Mitos e tabus alimentares que você considera verdade

(nº de pessoas)

"Comer e depois deitar faz mal"

769

461

"Água com açúcar acalma"

852

406

"Comer carboidrato a noite engorda"

472

361

"Engolir chiclete cola as 'tripas'"

797

70

"Manga com leite faz mal"

867

83

"Comer bolo quente dá dor de barriga"

681

192

"Tomar sorvete no frio causa gripe"

676

171

"Comer pepino a noite faz mal"

244

64

"Comer doce pela manhã faz mal"

338

119

Não conheço/acredito nos mitos e tabus citados

10

229

Total: 1103 entrevistados

Obs.: Nessas duas perguntas, os participantes da pesquisa poderiam assinalar mais de uma das alternativas.

Legenda:

Primeiro tabu mais conhecido;

Primeiro mito mais conhecido;

Segundo mito mais conhecido;

Segundo tabu mais conhecido e o que as pessoas mais acreditam.

4.3.1. Discussão da pesquisa de campo

Na pesquisa percebeu-se por meio da pergunta “Qual a sua idade?”, que a maioria dos entrevistados eram jovens, pois as redes sociais em que o questionário foi divulgado, são predominantemente acessadas por esse público.

Através da pergunta “O que você acha que é ‘tabu?”, pôde-se constatar que a maioria dos entrevistados não sabia qual era o significado do termo, uma vez que assinalaram a resposta incorreta para essa pergunta (“Tabu’ é um mito criado pelas pessoas”). Vale salientar que, tabu, na verdade, é a proibição de algo.

Já na pergunta “O que você acha que é ‘mito?”, notou-se que a maioria dos entrevistados sabia qual era o significado de “mito”, pois assinalaram a alternativa correta (“Mito’ é algo utilizado para estabelecer fatos sem explicação”). Esse dado pode ser explicado, porque a definição de “mito” é mais divulgada do que a definição de “tabu”.

As duas últimas perguntas do questionário buscam estabelecer uma relação sobre o conhecimento e a crença que os entrevistados tinham sobre os mitos e tabus alimentares elencados nas alternativas. De acordo com os dados, foi constatado que grande parte dos entrevistados conhece os mitos e tabus alimentares citados, porém nem todos eles acreditam nos mesmos. Por isso, pode-se perceber que, mesmo com os diversos avanços tecnológicos e o fato das pessoas terem um maior acesso a informações, algumas continuam acreditando em alguns mitos e tabus alimentares e, por vezes, desprezando a verdade a que tem acesso. Porém, a outra parcela das pessoas que tem acesso às mesmas informações, escolhe não acreditar nos mitos e tabus alimentares, dando mais importância para aquilo que é comprovado cientificamente.

5. CONCLUSÃO

Ao iniciar o trabalho, tínhamos em mente, através de pesquisas teóricas, aprofundar um pouco mais o conhecimento sobre o tema, e essa intenção foi atingida. Pudemos perceber que, mesmo que esses mitos e tabus tenham tido maior impacto antigamente, muitos resquícios ainda se mostram presentes em nossa sociedade atual, inclusive entre os jovens e adolescentes. Tal resultado demonstra a influência que esta cultura ainda tem em nosso país.

Para atingir os nossos objetivos foi necessário desenvolver uma pesquisa de campo na plataforma online “Google Forms”. Nessa pesquisa, obtivemos êxito na coleta dos dados com o auxílio da ferramenta utilizada (“Google Forms”). Dessa forma, a pesquisa satisfez o que inicialmente pretendíamos, que era ter dimensão do conhecimento que as pessoas possuem sobre os mitos e tabus alimentares. Portanto, a pesquisa de campo foi muito útil para o grupo, pois com ela pudemos traçar os caminhos que deveríamos seguir.

No decorrer desse trabalho, o grupo percebeu que os mitos e tabus alimentares possuem pouca atenção dos estudiosos contemporâneos. Através de materiais disponíveis por historiadores e pesquisadores renomados na área, nosso trabalho decidiu aprofundar-se no assunto, focando na relação que existe entre os mitos e tabus alimentares e o cotidiano do brasileiro, para que exista mais um material sobre este tema tão familiar, porém pouco falado e divulgado.

Além das conclusões anteriores, existem também aspectos observados ao longo do trabalho que não podem deixar de serem citados, como por exemplo, a falta de acesso do grupo à origem dos mitos e tabus alimentares, pois não existe conteúdo bibliográfico específico relacionado a ela. Ademais, não foi possível relacionar diretamente o impacto dos mitos e tabus nas carências nutricionais, porque essa relação não é abordada em artigos científicos. Vale ressaltar que, de acordo com os resultados obtidos na pesquisa, os mitos e tabus alimentares não influem no cotidiano do brasileiro.

Mesmo que apresentem, muitas vezes, práticas pouco convencionais e sem comprovações científicas, os mitos e tabus alimentares fazem parte da identidade do brasileiro. Apesar de ser um assunto muito emocional e pouco racional, deve ser respeitado. E, tendo em vista a escassez de informações científicas, deve-se haver mais estudos sobre o tema, para que o conhecimento chegue à minoria que ainda acredita.

6. REFERÊNCIAS

CASCUDO, Luís da Câmara. História da alimentação no Brasil. 3.ed. São Paulo: Global, 2004.

RAYMUNDO, Gisele Pontaroli. APRENDE BRASIL. Tabus Alimentares: superstições que sobrevivem ao tempo? Disponível em:

<http://www.aprendebrasil.com.br/falecom/nutricionista_bd.asp?codtexto=262> Acesso em: 09 de mar. 2016.

MELO, Veríssimo de. Xarias e Canguleiros; ensaios de folclore e antropologia social aplicada. 3. ed. Rio grande do Norte: Impresa Universitária, 1968.

SILVA, Andréa Leme da. SCIELO. Comida de gente: preferências e tabus alimentares entre os ribeirinhos do Médio Rio Negro. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-77012007000100004&lang=pt>

MARTINEZ, H. Anais Nestlé 61: Má nutrição proteica energética. Vol. 61. São Paulo: 2004

MOTA, J.A.C., PENNA, F.J. Tabus alimentares. In: WEHBA, J. et al. Nutrição da criança. Rio de Janeiro : Fundo editorial BYK, 1991. p.257-268. Acesso em: 9 de mar. 2016


Publicado por: Renan Maureira Muniz de Mattos

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