GERENCIAMENTO DE PROJETO E CICLO DE VIDA DO PRODUTO: DESCONTINUIDADE DE FABRICAÇÃO DE CARROCERIAS TIPO PERUA NO BRASIL

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1. RESUMO

O presente trabalho se propõe a apresentar o ciclo de vida dos veículos tipo perua no Brasil assim como os motivos que levaram a descontinuidade da produção deste segmento no mercado nacional. O tema apresentado procura discorrer sobre o gerenciamento de projeto deste tipo de automóvel, onde abordaremos sobre o surgimento deste tipo de veículo, suas características e aspectos particulares, a evolução histórica, tecnológica e comercial. Serão apresentadas as estratégias do processo de descontinuidade, apresentação de informações sobre o cenário de produção e vendas nos últimos anos, a identificação dos tipos de automóveis que ocuparam o espaço desse nicho no mercado nacional, apontando as tendências do consumidor de acordo com seu perfil e preferências. Portanto, procura-se demostrar ao leitor a importância do gerenciamento e ciclo de vida de um produto para uma empresa, pois são atividades aplicadas com a finalidade de manter sua competitividade no mercado com a inovação e disposição de novos produtos ao público.

Palavras-chave: Automóvel; Descontinuidade; Desenvolvimento; Indústria; Perua. 

ABSTRACT

The present work aims to present the life cycle of the station wagon vehicles in Brazil, as well as the reasons that led to the discontinuation of the production of this segment in the internal market. The presented theme seeks to discuss about the project management of this car’s type, where we will discuss about the appearance of station wagons vehicles, their features and particular aspects, and their historical, technological and commercial evolution. It will be shown the strategies for the discontinuance process, presentation of information on the production and sales scenario in recent years, an identification of the other car types that occupied the space of this niche in the internal market, pointing out the consumer tendencies according to their profile and choices. Therefore, intends to the reader demonstrate the importance a product's management life cycle for a company, because there are activities applied in order to maintain market competitiveness through innovation and the disposal of new products to the public.

Key-words: Automobile; Discontinuance; Development; Industry; Station Wagon.

2. INTRODUÇÃO  

As indústrias fabricadoras de automóveis buscam incessantemente a liderança de mercado e a satisfação dos clientes utilizando-se como estratégia a aplicação de recursos tecnológicos aplicados aos seus produtos, bem como a necessidade de disponibilizar novidades que atraiam e tornem-se altamente desejáveis ao público.

No ramo da indústria automotiva é comum presenciar as tendências regidas pela preferência dos consumidores que exigem ou desejam a necessidade de mudanças, levando motivação e desafio às indústrias para lançar novos tipos e modelos de automóveis, o que por sua vez, exige o encerramento de produção de outro. Este caso consolidou-se no Brasil ao se tratar dos automóveis de carroceria tipo perua. Apesar dos diversos modelos que foram feitos e vendidos no país durante décadas passadas, as vendas desse tipo de veículo diminuíram devido a uma série de fatores e critérios determinados pelos clientes, forçando as fábricas montadoras de veículos a adotarem novos planejamentos para o gerenciamento de produção deste segmento.

Mesmo com a continuação da produção em outros países e o interesse de determinado público nesse nicho, por que as peruas estão desaparecendo do mercado automotivo nacional? Apresentaremos neste trabalho, alguns dos fatores importantes para que um novo produto atraia o consumidor, o que pode influenciar consequentemente na obsolescência de um produto presente no mercado.

O objetivo geral deste trabalho é discorrer sobre os motivos que levaram a descontinuidade desses automóveis no Brasil, demonstrando as consequências que esta etapa causa não só no ciclo final de um projeto, mas também como suas informações podem auxiliar e servir para novos projetos. Como objetivos secundários, o trabalho propõe apresentar a origem, a evolução cronológica e características principais das peruas, mostrar informações sobre o cenário de produção e vendas nos últimos anos deste segmento no Brasil, entender o motivo e discorrer o processo de descontinuidade e suas estratégias, identificar tipos de automóveis que ocuparam o espaço desse nicho no mercado e apontar as tendências do consumidor de acordo com seu perfil e preferências. 

Este trabalho foi elaborado através de consulta e pesquisa de artigos especializados em notícias e informações do mercado automotivo nacional e trabalhos acadêmicos, ambos inseridos no período da década de 2010, com fontes buscadas em sites e páginas virtuais com conteúdo pertinente ao tema do trabalho.    Os conteúdos de pesquisa são de autores como Leonardo Contesini, Roosevelt Garcia, Henrique Koifmann, Caue Lira, Renato Pereira, Priscila Tereza De Nadai Sastre, entre outros autores acadêmicos, repórteres e redatores que desenvolvem trabalhos e informações relevantes ao assunto.

3. O SURGIMENTO DOS VEÍCULOS DO TIPO PERUA

Um indício do primeiro veículo motorizado que se caracterizava dentro do segmento surgiu no ano de 1922, onde a extinta marca Star criou o modelo C Station Wagon (KOIFMAN, 2017).

Figura 1 – O pioneiro automóvel Star C Station Wagon.

Fonte: NIEDERMEYER, 2017.

Este automóvel assemelha-se em alguns aspectos com as antigas carruagens, apresentando espaço amplo e potencial capacidade de carga. Posteriormente, Koifman diz que “[...] nos anos 1930, surgiram [...] as primeiras "woodies", carrocerias que eram adaptadas com estrutura e painéis de madeira para dar aos carros essa mesma configuração espaçosa.” (2017, p. 1).

Diz a história que quando as viagens de trem começaram a se tornar populares, as pessoas contratavam “wagons”  — que era um tipo de carruagem de carga usada na época — para levar sua bagagem às estações. Estas wagons foram os primeiros veículos conhecidos como “Station Wagons”. Mais tarde, quando os cavalos foram substituídos por motores, o nome continuou. No começo elas eram adaptadas a partir de veículos de carga, e por isso eram considerados veículos comerciais. A carroceria era fechada com um teto, mas não tinha vidros — geralmente usava-se lona para manter os passageiros e a carga protegidos da chuva e do frio. (CONTESINI, 2014, p. 1).

Seguindo a cronologia, Contesini também relata que “[...] na década de 1940, quando a guerra terminou, que as station wagon começaram a ser fabricadas em metal. A primeira SW com carroceria metálica foi a Jeep Station Wagon de 1946”.

(2014, p. 1), marcando um conceito mais moderno.

Figura 2 – Jeep Station Wagon, de 1946..

Fonte: VOGEL, 2017.

As indústrias brasileiras trouxeram os veículos tipo perua para o mercado interno, inicialmente, através de adaptações feitas em carros importados por empresas fabricantes de carrocerias. (KOIFMAN, 2017). Em 1956, instalou-se no Brasil a empresa alemã DKW, sendo esta a lançadora do modelo perua DKWVemag no ano de 1958, obtendo sucesso na venda de mais de 55.000 unidades até 1966. (GARCIA, 2018).

Figura 3 – DKV Vemag, a primeira perua nacional.

Fonte: GARCIA, 2018.

“Lançada no fim de 1959, a Amazona (sem “s”, o feminino de cavaleiro) derivava da 3100, conhecida como Chevrolet Brasil, a picape que marcou a nacionalização dos produtos da General Motors”. (PEREIRA, 2017, p.1). 

Figura 4 – Chevrolet Amazona, de 1959.

Fonte: PEREIRA, 2017.

Despertou-se no mercado automotivo nacional uma maior atenção do público com relação ao segmento de peruas a partir do final da década de 1960, período o qual foram fabricados os primeiros modelos Volkswagen Variant, automóvel derivado da linha Volkswagen 1600. Segundo Oliveira, “[...] foi a primeira perua da Volkswagen e uma das familiares mais populares do passado no Brasil.” (2019, p.1).

Figura 5 – Propaganda da Volkswagen 1600 Variant, de 1969.

Fonte: OLIVEIRA, 2019.

Para competir no mercado, a Ford do Brasil lançou no ano de 1970 a Ford Belina, derivada do sedan Ford Corcel. Desenvolvida em conjunto com a Renault francesa, seu porta-malas oferecia a capacidade de 855 litros, ou 1680 litros com os bancos traseiros rebatidos. Comparada à rival Variant, oferecia um motor mais silencioso de 1.3 litro e 68 cavalos de potência e sistema de refrigeração selado, o que dispensava a verificação periódica do nível do líquido de arrefecimento. (BITU, 2017).

Figura 6 – Ford Belina, de 1970.

Fonte: BITU, 2017.

A partir da década de 1980, surgiram modelos que perduraram por anos e se popularizou, como o caso da Volkswagen Parati. Seu primeiro modelo foi fabricado em 1982, com a missão de substituir a Variant. A station wagon derivada do Volkswagen Gol chamou a atenção do público jovem, com suas linhas retas e visual limpo (SILVA, 2019).

Figura 7 – Volkswagen Parati, de 1982.

Fonte: SILVA, 2019.

No ano de 1997, a FIAT lançou a Palio Weekend, carro de design bem resolvido e amplo porta-malas, sendo forte concorrente da Parati. Dois anos depois, chegou a Palio Adventure, versão do veículo com maior altura de rodagem, maior distância entre-eixos, molas e amortecedores exclusivos e acessórios off-road (CESAR, 2015). O Palio Adventure perdura como uma das poucas remanescentes peruas no mercado nacional, com a disponibilidade de venda apenas dos estoques acumulados, o que denuncia a descontinuidade deste veículo no país (ANDRADE, 2019).

Figura 8 – Fiat Palio Adventure, de 2019.

Fonte: ANDRADE, 2019.

3.1. CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DE UM VEÍCULO TIPO PERUA

As station wagons ou peruas (nome que se popularizou inexplicavelmente para o segmento) são veículos de estrutura monobloco, aonde o chassi faz parte do veículo, carroceria de dois volumes, ou seja, a sua silhueta se divide entre a parte do motor e do habitáculo, apresentando modelos com três ou cinco portas, e carrocerias com três ou quatro colunas. Em comprimento, seguem praticamente a mesma dimensão dos sedans, porém, o teto é extenso até a parte traseira do veículo, incluindo o vidro na porta traseira. (PEREIRA, 2014).

Assim, apresentam como característica mais notável, maior espaço interno de porta malas comparado aos veículos do segmento hatch e sedan. 

Figura 9 – Divisão de colunas das carrocerias sedan, perua e hatchback.

Fonte: HANKS, 2019.

As peruas, durante anos, foram uma opção consideravelmente requisitada pelo consumidor pela sua funcionalidade, tanto em uso familiar quanto no uso comercial. Tais qualidades podem ser percebidas devido ao design aerodinâmico que favorece menor resistência ao ar contribuindo para um arrasto mais fluido, diferenças em peso e dimensões, como menor altura de carroceria e menor centro de gravidade comparado aos Veículos Utilitários Esportivos (conhecidos popularmente como SUV – sigla para o termo em inglês Sport Utility Vehicle). Assim, mostrando-se superior nos quesitos de dirigibilidade, consumo de combustível e estabilidade quanto ao seu comportamento dinâmico. (LIRA, 2017).

4. DESCONTINUIDADE DAS PERUAS NO MERCADO NACIONAL

Apesar dos sucessos comerciais de alguns modelos de peruas no mercado nacional, este segmento deixou de interessar ao consumidor com o passar dos anos. De acordo com Nunes, “Em todo 2018, a Fiat vendeu 3.185 unidades de sua station wagon e este ano, praticamente sozinha no segmento, emplacou 1.470 unidades.” (2019, p.1). A Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (FENABRAVE) divulgou em seu anuário de 2018 a evolução de percentual por subsegmentos do emplacamento de SW dos portes médio e grande durante o período dos anos de 2014 a 2018, como demonstrado na Tabela 1. 

Tabela 1– Evolução percentual de emplacamentos de peruas média e grande – 2014 a 2018.

Ano

SW Média

SW Grande

2014

1,02%

0,01%

2015

0,84%

0,06%

2016

0,58%

0,07%

2017

0,30%

0,05%

2018

0,42%

0,04%

Fonte: FENABRAVE (2018, p.31).

As peruas deixaram de ocupar boa posição em vendas no Brasil devido a diversos fatores que vão desde o sucesso de vendas de outros segmentos de veículos até a influência exercida ao cliente diante de aspectos de status social, e símbolos que demonstram qualidade, conforto e imponência ao produto, forçando os fabricantes nacionais a executar a sua descontinuidade.

Guimarães relata que “Há uma década o quadro era bem diferente. Com mais de 96 mil unidades negociadas em 2007, as peruas representavam 5% das vendas de automóveis [...] por quinze modelos de oito marcas, sete deles nacionais.” (2017, p. 1). No Brasil, as peruas perderam espaço significativo praticamente para quase todos os segmentos vendidos no país.  Após décadas de fabricação e vendas de peruas, no final da década de 2010 o mercado das peruas apresentou declínio quanto ao número de emplacamentos totais acumulados, visto na figura abaixo.

Figura 10 – Informativo do acumulado de emplacamentos em setembro de 2019.

Fonte: FENABRAVE (2019, p.17).

Observou-se a predominância de vendas principalmente entre os veículos hatch pequeno, em especial modelos de entrada com valores mais acessíveis. De acordo com d’Ávila, “O carro mais vendido no Brasil no primeiro semestre de 2019 foi o Chevrolet Onix, com 116.906 unidades emplacadas”.  (2019, p. 1).  

Novamente, Guimarães diz sobre respeito das station wagons que “Há algum bom tempo as vendas do segmento vêm minguando, já que as montadoras preferiram investir nos ávidos clientes de utilitários esportivos.” (2017, p. 1). Assim, permitiu-se um grande espaço no mercado automotivo para o segmento dos SUVs que ocupou o mercado dos carros SW e fizeram sucesso entre o público, tornandose produto desejável aos perfis familiares, assim como as peruas no passado. 

De acordo com Pedroso, “O mercado de carros, como a moda é cíclico. Já teve a onda das peruas [...] e agora é a vez dos utilitários esportivos”. (2019, p. 1). A descontinuidade das peruas no Brasil, assim como diversos produtos lançados no mercado se deram pelo fato de que, embora tivessem seu público e participação comercial, novos produtos tornaram-se mais atrativos na percepção do consumidor. 

Em relação aos SUVs, “Quem abriu as portas para os jipinhos foi o Ford EcoSport em 2003. Era baseado no Fiesta que foi um sucesso de vendas desde o começo. Naquele ano, os utilitários respondiam por apenas 3,42% do mercado.” (PEDROSO, 2019, p. 1). Este automóvel utilizou elementos inspirados nos veículos de visual aventureiro, como a suspensão elevada, para-choques na cor preta e quebra-mato, itens vistos em SW como a Palio Adventure. Porém a Ford buscou apostar em um projeto novo, ao invés de fazer isso em algum outro modelo existente, o que causou o ingresso do segmento dos SUVs no mercado nacional. (ALVES, 2018).

Figura 11 – Ford EcoSport, de 2003.

Fonte: ALVES (2018, p.1).

Com a boa aceitação dos utilitários esportivos no mercado, a concorrência se acirrou, assim, ampliaram-se as opções para o público. Houve um notável destaque para a Hyundai no Brasil que explorou este nicho com modelos como a Tucson, SUV de porte médio lançada em 2004. 

Figura 12 – Hyundai Tucson, de 2004.

Fonte: FELIX (2018, p.1).

O modelo que primeiramente era importado passou a ser montado em território nacional no ano de 2009. A primeira geração do modelo foi comercializada durante uma década e meia. (FELIX, 2018).

4.1. BREVE ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO DO PRODUTO

O desenvolvimento do produto de forma integrada consiste em um processo estratégico adotado pelas empresas e o mercado, visando identificar suas necessidades, e, através do trabalho em equipes multidisciplinares, busca criar produtos que despertem o desejo do consumidor. (FAGAN; JUNIOR, 2015). Sendo assim, a retirada das station wagons junto com a consequente imersão de novos segmentos é um exemplo do que se ocorre nas fases de desenvolvimento de um produto. 

 Essa integração pode ser entendida como a escolha de ferramentas que permitam a condução do fluxo de informações nas fases do desenvolvimento do produto, de modo que a saída de uma ferramenta seja a informação de entrada da ferramenta posterior (RODRIGUES, 2008). Em função do desenvolvimento dos carros SW, observaram-se características que puderam se aplicar nas SUVs, como a ideia de disponibilizar uma nova plataforma de um carro conveniente para a família. 

O desenvolvimento integrado de produtos também é conhecido como engenharia simultânea, que aborda tanto o desenvolvimento do produto quanto seus processos com o objetivo de reduzir custos e aumentar qualidade e desempenho tanto do desenvolvimento quanto do produto, envolvendo diversas áreas como a produção, design e marketing. A redução de tempo do desenvolvimento tornou-se fator crucial para que uma empresa obtenha vantagem competitiva com o lançamento de produtos inéditos no mercado. (FAGAN; JUNIOR, 2015).

Dentro desse contexto, se percebeu nas empresas mais modernas o conhecimento de métodos práticos que indiquem o caminho da satisfação dos clientes. O desdobramento da função qualidade, em inglês, Quality Function Development (QFD) tornou-se uma importante ferramenta para orientar os processos e execuções das tarefas que envolvem desde a concepção, inserção do produto no mercado até o fim de seu ciclo de vida, mediante a tradução das necessidades do cliente em características técnicas a serem aplicadas no desenvolvimento do produto. (ABREU, 1997).

As fábricas montadoras de veículos, tanto no Brasil quanto no resto do mundo flexibilizou a produção de diversos modelos de veículos através de uma única plataforma, ou seja, promoveram um conceito modular para diversificar sua gama de produtos, promovendo economia de recursos e agilidade de desenvolvimento e produção. (ISHIKAWA, 2018).  Aplicou-se na Volkswagen a utilização da matriz modular transversal, em alemão, Modularer Querbaukasten (MQB), sendo a plataforma servida tanto em carros do tipo hatch como o Polo quanto o SUV Tiguan.

(SAMAHÁ, 2017).

Figura 13 – Plataforma MQB, da Volkswagen.

Fonte: SAMAHÁ (2017, p.1).

Essa modularidade permitiu a utilização de vários componentes comuns para diversos segmentos, sem a necessidade de modificação da estrutura do veículo, além de permitir a variação de medidas como altura, entre-eixos e largura (ISHIKAWA, 2018).

5. FATORES DECISÓRIOS NA ESCOLHA DO CONSUMIDOR

Além do desafio que as empresas atravessam em busca de desenvolver um produto que atraia o público, ainda assim existem fatores decisórios que influenciam o consumidor na escolha de um automóvel. Dentro desse contexto, é imprescindível compreender os conceitos de necessidade, desejo e demanda. “Os seres humanos também sentem forte necessidade de recreação, instrução e diversão. Essas necessidades tornam-se desejos quando direcionadas a objetos específicos que possam satisfazê-las” (KOTLER; KELLER, 2012, p.8). 

A análise das características do consumidor em conjunto com a compreensão do comportamento de compra de um público-alvo de um setor serve como ponto de partida para a administração de técnicas de marketing, assim, uma vez classificados em um perfil, pode-se adotar as medidas pelo ponto de vista estratégico para a obtenção do sucesso empresarial. (MIRANDA, 2015). 

Segundo Machado, Mattei e Oliveira, “É certo afirmar que o comportamento de compra do consumidor é influenciado por fatores culturais, sociais, pessoais e psicológicos” (2006, p. 28). Antes do sucesso dos SUVs, os carros preferidos entre as famílias normalmente eram peruas e monovolumes que ofereciam maior espaço interno para os passageiros e bagagens, requisitos presentes em automóveis como o Renault Scènic, Nissan Grand Livina, Chevrolet Zafira e Chevrolet Suprema (CARVALHO, 2018). 

Figura 14 – Renault Scènic, de 2001. 

Fonte: FORTUNATTI (2018, p.1).

A preferência do consumidor pelos utilitários esportivos se espalhou pelo Brasil através das supostas vantagens como sensação de segurança, o que resultou em um bom negócio para os clientes e melhor ainda para as montadoras devido ao lucro que o segmento trouxe às marcas, pois o preço médio dos SUVs derivados de carros populares é semelhante ao de modelos médios. Entretanto, a precificação de um produto se relaciona com o valor disposto a ser pago pelo cliente. (BORGES, 2017).

Um dos grandes fatores que despertam o interesse dos consumidores em relação aos veículos utilitários esportivos está na sensação de conforto e segurança ao dirigir, devido à altura elevada desse segmento em relação a outros. Isso também permite uma melhor visibilidade ao motorista. Alguns modelos de SUVs de maior porte chamam a atenção do consumidor pelo amplo espaço e capacidade de carga do porta-malas e, até mesmo, versões com opção de tração nas quatro rodas, enaltecendo a vantagem desse tipo de veículo para rodar em qualquer terreno. (SILVA, 2018).

“Os SUVs ganharam o gosto dos brasileiros. A venda de utilitários esportivos mais que dobrou nos últimos anos e o segmento pode tomar o lugar dos automóveis hatch pequenos, hoje os preferidos pelos brasileiros” (SALOMÃO, 2018, p.1).

Figura 15 – Jeep Compass, de 2018.

Fonte: SALOMÃO (2018, p.1).

Desde o surgimento do automóvel, a influência das propagandas procurou alcançar no imaginário de todas as classes sociais a importância de acesso aos automóveis.

“Em geral, quem não possui um carro tem esse bem como o seu primeiro desejo de consumo. Já o indivíduo que o possui, faz exigências maiores sobre o automóvel, ansiando melhorar seu nível de conforto ou adquirir um modelo atualizado; esse comportamento faz movimentar o ciclo da produção e do consumo”. (LUCHEZI, 2010, p.8).

A decisão do consumidor pode se originar não apenas de suas vontades individuais, como também, o fator coletivo tornou-se quesito relevante para a aquisição de um automóvel. Notou-se uma representação simbólica do automóvel para as famílias como um produto que representa status e auto expressão, sendo preferidos os carros com mais itens opcionais que proporcionem desempenho, segurança, conforto, acessibilidade e tecnologia. (AZEVEDO; SOUZA, 2017).

Portanto, tais desejos específicos de um consumidor sobre a obtenção de um determinado produto tanto podem ser estimulados tanto pelas empresas através de suas ações de marketing quanto pelo meio social no qual o consumidor está inserido, especificamente, os amigos e a família. Tornou-se imprescindível para o desenvolvimento de estratégia de marketing das organizações a compreensão de como os consumidores buscam informações, juntamente com o estudo das marcas bem como seu valor e imagem. Assim, o modo de divulgação e uso de um produto presenciado nas características de um utilitário esportivo serve de informação de grande relevância para as empresas (SASTRE, 2009). 

“Por trás do desejo de ter um veículo grande, pode-se perceber que existe o sentimento de desejo de ser uma pessoa imponente aos olhos alheios: transmitir e fazer vista são expressões que levam em consideração a figura do outro, o seu olhar. Ser alto e ser imponente são expressões que estabelecem uma relação: outros carros são baixos e não são majestosos. Ser do tamanho do carro implica em confundir sua imagem com a do veículo e, portanto, ser imponente, majestoso e, segundo o dicionário, altivo e sobranceiro como o veículo.” (FORNACIARI, 2012, p. 74).

A descontinuidade das peruas no país fez com que as indústrias de automóvel desenvolvessem e aperfeiçoassem projetos já existentes para conquistar a parcela do mercado consumidor, assim como também se identificou semelhanças que atraíam tanto o público que, em épocas passadas se entusiasmavam com as peruas quanto os novos consumidores em relação aos SUVs. Pode se observar na figura abaixo, uma propaganda da extinta SW Fiat Elba aonde se destaca o apelo da empresa em divulgar os aspectos do automóvel como amplo espaço, luxo e conforto. 

Figura 16 – Propaganda da Fiat Elba, de 1986.

Fonte: JUNIOR (2018, p.1).

De acordo com Vicente e Neves, “Produtos competitivos necessitam de um processo de desenvolvimento estruturado, capaz de torná-lo viável e rentável, desde a ideia inicial até sua retirada do mercado” (entre 2006 e 2019, p. 8). Entende-se que outro grande desafio das fabricantes de automóveis para estabelecer competitividade, está em substituir seus modelos buscando acrescentar nos novos produtos, características de qualidade e confiabilidade ou pontos positivos vistos nos seus sucessos de vendas anteriores.

Este raciocínio leva a compreender que as empresas atraem o consumidor oferecendo algo que transmita a sensação de boa aquisição ao cliente. “Nesse sentido, a aquisição de objetos como a televisão, computador e o automóvel, hoje em dia, é tida como símbolo do êxito social e da felicidade”. (LUCHEZI, 2010, p.2). 

A preferência do consumidor, bem como a mudança de interesse por um determinado bem de consumo pode relacionar-se pelo fato do desejo pela novidade, o que não necessariamente possa se referir apenas quanto à obsolescência de um produto. Embora o avanço da tecnologia e com o ciclo de vida de um produto cada vez menor, a questão de interromper ou extinguir a distribuição de um produto no mercado motiva-se por questões relacionadas à promoção, à distribuição, ao relacionamento com o consumidor e ao preço de manufatura e venda do produto final (VICENTE; NEVES; entre 2006 e 2019).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora as station wagons tenha o seu mercado ativo e continua com lançamentos de modelos em outros países, sua descontinuidade no Brasil se deu apenas pelo fato de que parte do público interessou-se mais por modelos de automóveis que demonstram um visual de imponência e robustez, notado nos SUVs, que adquiriram boa parcela das vendas no mercado nacional.

Uma vez decidida sua descontinuidade em território nacional, compreende-se que os pontos que concederam o sucesso de suas vendas em décadas passadas, serviram como informações básicas para o desenvolvimento da produção de outros segmentos no país, que suprissem parte características apresentadas nas station wagons em outros tipos de veículos. 

O consumidor brasileiro procurou alternativas de compra de um veículo de baixo custo e menor preço, vide os automóveis hatches pequenos que representa o segmento com a maioria nas vendas, seguindo pelos SUVs que conquistou forte influência no desejo do consumidor brasileiro em adquirir veículos de maior porte, pressupondo certa ascensão de status socioeconômico. Esses foram pontos cruciais que deixaram de lado as peruas na escolha de compra. 

O sucesso no mercado automotivo é consequência das realizações das indústrias que dispõem em seus veículos, características de inovação e praticidade, economia e bom aspecto visual. Para o futuro, este mercado segue um rumo que busca a vanguarda em tecnologia e solução de mobilidade ao público, ao mesmo passo, transformando o automóvel como uma extensão da personalidade do consumidor seguindo as tendências globais de mercado, podendo resultar na possibilidade de novos ciclos de vida, descontinuidades e inserção de novos modelos ou até mesmos novos segmentos de veículos. 

7. REFERÊNCIAS

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Publicado por: Samuel Lima da Silva

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