VIVÊNCIAS DA EQUIPE DE ENFERMAGEM FRENTE AO PROCESSO DE MORTE E MORRER

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1. RESUMO

O presente estudo teve como objetivo, trazer para todos o enfrentamento da equipe de enfermagem frente ao processo de morte e morrer dos pacientes, relatar os sentimentos dos enfermeiros diante do processo de morte e morrer em seu ambiente de trabalho, além de relatar a falta de preparo dos graduandos ainda nas universidades. Este estudo trata-se de uma revisão de literatura, com pesquisas bibliográficas em livros acadêmicos, revistas cientificas e sites confiáveis. Diante do exposto, mostra o quanto e necessário que estes profissionais estejam preparados para lidar com a morte do paciente, ou seja, criar um espaço de discussões com os profissionais enfermeiros, visando total cuidado para esta equipe. Pois todo trabalho realizado por eles é demonstrar o bem e o cuidado com o outro. Visto que, por mais doloroso que seja esse processo, o profissional da enfermagem deve estar preparado para esclarecimento e preocupações da morte com os pacientes e familiares, trazendo calma e serenidade e profissionalismo para o momento a ele articulado. Conclui-se que, independentemente das circunstâncias ou formulas que visamos lidar com a morte, a mesma pode ser facilitada, sendo ela visada como algo vital, considerada um desfecho natural da nossa vida.

Palavras-chave: Enfermagem; Morte; Morrer; Tanatologia; Cuidar.

ABSTRACT

The present study aimed to bring to all the nursing team's confrontation with the patients 'death and dying process, to report the nurses' feelings about the death process and to die in their work environment, as well as to report the lack of preparation of graduates still in universities. This study is a review of the literature, with bibliographic research in academic books, scientific journals and reliable sites. In view of the above, it shows how much it is necessary that these professionals are prepared to deal with the death of the patient, that is, to create a space of discussions with the professional nurses, aiming total care for this team. For all their work is to show goodness and care for the other. Since, however painful this process may be, the nursing professional should be prepared for clarification and death concerns with patients and their families, bringing calm and serenity and professionalism to the moment he articulates it. It is concluded that, regardless of the circumstances or formulas that we seek to deal with death, it can be facilitated, and it is seen as vital, considered a natural outcome of our life.

Key-words: Nursing; death; dying, Tanatology; Caring.

2. INTRODUÇÃO

O Ciclo da vida é constituído pelo nascimento, crescimento, reprodução e morte. São eventos naturais da construção humana. Porém, para alguns esses processos não seguem igual para todos. Pois a morte, hoje ela é vista com várias visões, opiniões e interpretações, porém lidar com a mesma para alguns pode estar bem definido como também causar outros comportamentos adversos. Lidar com a morte não é fácil, é doloroso e algumas pessoas não estão preparadas para este enfrentamento, tendo um olhar para ela como uma questão definitiva do ciclo vital.

Depois de um tempo, o significado de morte, foi passando por vários contextos, desde tão inevitável quando nascemos não escolhe dia e nem horário como também não informa um destino certo.

Nossas reações diante do que não conhecemos causa certa estranheza e nos faz refletir se podemos ou não lidar com aquele acontecimento como algo rotineiro. O tema morte e morrer requerem ética, serenidade e respeito com a cultura, crença, opiniões e familiares. Toda atenção deve lhe ser dada, mesmo que ao longo da caminhada se depare com a ingratidão.

Os profissionais de enfermagem estão expostos a diversas situações estressantes relacionadas com o ambiente de trabalho esse ambiente contribui para desencadeamento de frequentes situações de estresse e fadiga física e mental.

O presente trabalho tem como justificativa buscar entender a relação e vivências dos profissionais de enfermagem frente ao processo de morte e morrer no seu ambiente de trabalho, apresentando definições e conceitos de estudo sobre o tema, para os profissionais e a sociedade para que se possa ter uma visão da realidade de enfrentamento das equipes de enfermagem frente aos desgastes emocionais e de questões pessoais e éticas diante dessas situações de morte e morrer. Um dos desafios encontrados pelos enfermeiros é a maneira de lidar com o processo de morte e morrer dos pacientes, muitas vezes, vivenciado em sua realidade profissional.

Diante disto o presente estudo tem como pergunta norteadora quais as vivências e sentimentos dos profissionais de enfermagem frente ao processo de morte e morrer?

Sendo o objetivo geral desse estudo compreender a visão do enfermeiro diante do processo morte/morrer dos pacientes.

E como objetivos específicos relatar os sentimentos vivenciados por profissionais da enfermagem frente ao processo de morte/morrer dos pacientes, assim como descrever os fatores que facilitam e dificultam o enfermeiro lidar com o processo morte/ morrer dentro do seu ambiente de trabalho.

Este estudo trata-se de revisão de literatura, com pesquisas bibliográficas em livros acadêmicos, revistas científicas e sites confiáveis. Traz-se nesse contexto, contribuições de livros e artigos retirados de bases de dados como Scielo (Scientific Electronic Library Online), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e BVS (Biblioteca Virtual em Saúde). Para essa pesquisa utilizou-se os seguintes descritores: tanatologia, enfermagem, cuidados paliativos e educação para a morte e morrer. Idiomas dos artigos primários selecionados foram em língua brasileira no período de 2006 a 2016.

3. SENTIMENTOS VIVENCIADOS DIANTE DO PROCESSO MORTE/MORRER

Quando o assunto é morte, muitas pessoas preferem evitar tal assunto devido à forte palavra expressada, pois se trata de um processo que acarreta profundas reações psicológicas emocionais. No contexto atual, evidencia a falta de preparo emocional, devido à palavra morte ser de expressão forte, onde desde a infância tal assunto é evidência como uma dor profunda sem mera explicação. Além disso, sua ocorrência vem predominando nas instituições hospitalares, tornando-se mais distante do cotidiano. (PEREIRA, L. A, THOFERN, M.B, AMESTOY, S.C, 2008).

Morrer, cientificamente, é deixar de existir; quando o corpo acometido por uma patologia ou acidente qualquer tem a falência de seus órgãos vitais, tendo uma parada progressiva de toda atividade do organismo, podendo ser de uma forma súbita (doenças agudas, acidentes) ou lenta (doenças crônico-degenerativas), seguida de uma degeneração dos tecidos. (MOREIRA, 2006).

Dessa forma, não se pode considerar a morte somente como fato biológico, mas sim um processo de relações culturais que está presente no cotidiano, independendo de suas causas ou formas, e geralmente relacionado a hospitais e instituições de saúde (BRÊTAS; OLIVEIRA; YAMAGUTI, 2006).

A morte, mesmo que faça parte do cotidiano da enfermagem, desperta grande temor no ser humano, e este sentimento se expressa na dificuldade de lidar com a finitude (POLES; BOUSSO, 2006).

Segundo os profissionais da enfermagem a morte é considerada tão incompreensível quanto inevitável, onde nas universidades o tema morte não faz parte do programa de estudos, pois quando ocorre algo relacionado é totalmente superficial. Tanto alunos e professores demonstram não ter preparo para enfrentar a convivência com morrer do outro. Aprender a aceitar e conviver com a morte é essencial para a formação desses profissionais, para isso é importante que o profissional da saúde conheça alguns os estágios do processo da morte, pois ignorar os estágios da terminalidade resulta em erros que repercutem em todo processo do paciente e interfere no trabalho em equipe (AZEVEDO; ROCHA; CARAVALHO, 2011).

“Lidar com pacientes é uma tarefa que exige um grande desprendimento e capacidade de suportar frustrações e dor no entrechoque constante entre a vida e a morte” (FISCHER et al, 2007, p.23).

A morte tem despertado nesses profissionais dificuldades de compreender sentimentos como: frustração, medo, insegurança tornando-se seu trabalho técnico e mecanizado. Observam-se o impacto da morte do paciente na equipe de enfermagem na rede hospitalar, sendo importante a sensibilização e preparo dos profissionais para atendimento humanizado.

Existem diversos casos que serão presenciados, e este é o lugar, o espaço em que os enfermeiros atuam e requer de cada equipe um exercício de criatividade contínua e principalmente de escuta. Em cada leito com cada paciente, com diferentes patologias e com as diversidades familiares de cada um, é necessário saber lidar com tal situação a fim de passar segurança, refúgio e tranquilidade para os presentes.

A diferença do outro, de cada indivíduo, relança uma nova postura de percepção do mundo, pela qual o nosso convívio e aprendizado mútuo são capazes de reconstruir nossas próprias percepções e, consequentemente nossas representações (VALENTE 2008).

Não podemos falar da morte sem antes tentar conceituá-la. Para Vieira (2006; p.21) “a pergunta ‘o que é morte’ tem múltiplas respostas e nenhuma delas conclusivas, pois a questão transcende os aspectos naturais ou materialistas e, até biologicamente, é difícil uma resposta unânime”.

Portanto falar da morte sem uma mera explicação se torna um escuro no ambiente hospitalar e pelo simples fato de ter alguém para desabafar nos últimos momentos de vida se torna algo grandioso para o paciente terminal, isso porque ele pode compartilhar tais sentimentos que o machucam sentimentalmente, assim sentindo- se mais compassivo de que seu fim não foi insignificante.

Falar sobre morte, abstrata ou específica, é falar do que se está fazendo, do que não se fez, de plano, sonhos, perdas, do tempo que se foi, do que ainda resta. A morte do outro é uma lembrança da própria morte, e nisto consiste a dificuldade das pessoas em dar aqueles que morrem a ajuda e a afeição de que necessitam, ao se despedir dos outros (Aguiar I.R; Veloso T.M.C; Pinheiro A.K.B; Ximenes L.B, 2006; p.131).

Hoje em dia a sociedade entende a morte como algo contraditório, um tema interditado e com medo de ser citado no dia a dia, julgado às vezes como fracasso profissional par quem trabalha na área da saúde. (COSTA & LIMA, 2005; p.1)

O sentimento de impotência que a maioria dos profissionais sente quando se depara com algo que não pode ser revertido, pois deparam às vezes como uma frustração. E como se neste momento estivessem diante da fragilidade de sua existência, recordando como se fossem eles ali naquele estado ou até mesmo uns familiares seus, trazendo em seu pensamento que ele poderia ter feito mais e não foi capaz. (ALENCAR, LACERDA & CENTA, 2005; p.1).

O sentimento de impotência diante do óbito de um paciente pode provocar sofrimento no trabalhador de enfermagem, levantando questões do que poderia ter sido feito para recuperar aquele cliente, além de impulsionar conflitos entre a vida e a morte (SILVA et al., 2009; p.1).

Entretanto, o processo acadêmico-formativo do profissional de saúde ainda apresenta deficiências quanto ao treinamento adequado para assistir a família e o paciente em seu processo de morrer. No ambiente hospitalar, destaca-se o enfermeiro como o profissional de saúde que permanece mais tempo com o paciente, convivendo direta e periodicamente com o binômio vida/morte e são cobrados a manterem uma postura firme e quase insensível (SANTOS; BUENO, 2010; p.1).

A questão morte e morrer para os profissionais da área da saúde acabam fazendo parte da sua rotina, por não ser um tema de fácil compreensão pode gerar diversas reações nos profissionais. Alguns podem desenvolver sentimento de frustração, perda, impotência, estresse e culpa. Já outros veem este fenômeno como algo natural, podendo inclusive criar uma barreira ou mesmo permanecerem indiferentes frente a este processo (LIMA, R. dos S; COSTA, JÚNIOR, J.A;2015; p.2).

Durante a formação acadêmica o tema morte e pouco abordado e até mesmo o preparo dos graduandos, deixando várias lacunas, onde você se forma e após conseguir seu primeiro emprego e quando está em seu trabalho atuando como enfermeiro você é incentivado a acreditar que somente a cura e recuperação do paciente são características de um ótimo trabalho. Sendo que se ocorrer alguma morte o seu trabalho não foi eficaz, tornando assim esse tempo negligente para nos profissionais da saúde. O ambiente de trabalho, processos e vivências e processo de luta incessante pela vida, não permite o questionamento e o conversar sobre a palavra morte e morrer:

“O processo do morrer pode ser referenciado de diferentes maneiras, de acordo com os significados compartilhados por essa experiência, pois esses significados são influenciados pelo momento histórico e pelos contextos sócios culturais. Por isso, é importante entender a morte como um processo, e não como um fim. Uma vez que o paciente é um ser social e histórico, cuidá-lo em seu momento final significa entendê-lo, ouvi-lo e respeitá-los”. (LIMA, R. dos S; COSTA, JÚNIOR, J.A; 2015; p.2).

Segundo LIMA, R. dos S; COSTA, JÚNIOR, J.A; 2015... “Em relação a todo esse processo, destaca-se que também existem várias atitudes e sentimentos nos profissionais de enfermagem que atuam diariamente frente à morte de pacientes em estado terminal.” O processo de morte e morrer causam raiva, insegurança, medo até mesmo à questão familiar onde ninguém se encontra preparado para perda de alguém que está a sua volta, mesmo sabendo que é um processo natural da vida. E a não aceitação desse processo pode causar diversos fatores ruins tantos para os familiares e para os profissionais da saúde.

“Diante desse contexto, considera-se de grande apoio a interação entre os profissionais, tendo clara a possibilidade de olhar o cliente como um todo, nos seus aspectos bio-psico-sócioespirituais, pois o cuidado à saúde não se prende apenas no simples ato de assistir centrado no fazer, nas técnicas ou nos procedimentos; significa, também, reconhecer os clientes e seus familiares como seres humanos singulares, vivenciando um difícil momento de suas vidas” (Costa CA, Filho WDL, SOARES NV, 2003, p.310).

Sabe que estar presente, dar suporte e acompanhar o paciente, exige do profissional da enfermagem um preparo que não vem só da graduação e sim das suas vivencias hospitalares. Mantendo-se sempre a ética e o não compartilhamento de sentimentos dos pacientes com outros profissionais de corredores. Pois o enfrentamento que cada paciente vem passando ali dentro e solitária e não conjunta ou compartilhada.

Vivenciar cotidianamente essas experiências caracteriza situações-limite nas quais o sofrimento pode se tornar intolerável, gerando níveis crescentes de adoecimento dos profissionais. (LIMA, R. dos S; COSTA, JÚNIOR, J.A; 2015).

4. SENTIMENTOS VIVENCIADOS POR PROFISSIONAIS DA ENFERMAGEM

De acordo com Pereira, Thofern, Amestoy (2008; p. 338) “Quando o assunto é morte muitas pessoas preferem evitar tal assunto, devido à forte palavra expressada e por trazer um processo que acarreta profundas reações emocionais.” Através deste contexto relata a falta do preparo para poder evitar tal assunto, já que desde criança nós éramos proibidos de enfrentar instituições hospitalares para evitar risco inerentes de infecções e também vários acontecimentos rotineiros de hospitais.

Segundo Amestoy, Shwartz e Thofehen (2006; p.338), “a morte é um acontecimento difícil para todos, sejam filhos, sejam pais, familiares e profissionais da área da saúde, por gerar sentimentos de dor, inconformidade, negação e saudade”.

Hoje ainda existe uma dificuldade em falar de morte, apesar de que, existem ambientes hospitalares que ficamos frente a frente com a morte, A unidade de terapia intensiva (UTI) é considerado um setor restrito da área hospitalar, destinado a prestação de cuidados intensivos ao paciente, dispondo de utensílios tecnológicos e especializados.

“Convém destacar que, nesse cenário, a equipe de enfermagem está sujeita a vivenciar, diariamente, episódios de morte. Assim, constata-se que os trabalhadores estão pouco instrumentalizados para lidar com essa situação, visto que, em geral, durante a formação profissional, o enfoque principal é a preservação da vida. Por outro lado, emerge a necessidade de auxiliar tais profissionais no enfrentamento desse processo, mediante a humanização do ambiente hospitalar”. (AMESTOY, S.C; SHWARTZ, E; THOFEHEN, M.B, 2006; p. 338).

Vale ressaltar, conforme Amestoy, Shwartz, Thofehen, (2006; p. 338) “Todavia, a humanização encontra-se centralizada no paciente”, Isso mostra que deixando um pouco de lado o lado do trabalho da enfermagem, onde todo esse fato precisa ser revisto lembrando-se da importância psicológica desse profissional. Pois, surge a necessidade de que o profissional da enfermagem faça constantes visitas ao psicólogo, pois é preciso estar em paz com suas dores para presenciar as dores dos outros sem se abalar, quanto também não causando apelos ao contrário aos sentimentos humanos como frieza.

Segundo Amestoy, Shwartz e Thofehen, (2006), os sentimentos expressos pelos sujeitos, quando vivenciam o processo de morrer e morte dos pacientes por eles assistidos, estão atrelados às respostas psicoemocionais, próprias de cada componente da equipe de enfermagem e dependem das condições da morte: inesperada ou esperada dos pacientes internados na UTI.

De acordo com Amestoy, Shwartz e Thofehen, (2006) para uma melhor compreensão, a morte inesperada é aquela que o paciente está evoluindo bem, está tendo uma boa recuperação, e de repente acontece uma intercorrência aonde o mesmo venha a óbito. Já a esperada, paciência em um péssimo prognóstico de vida, chamado de um paciente terminal, onde já foram feitas todas as medidas cabíveis nele onde não está havendo evolução, o paciente sofre por um período até a chegada da morte, em seu sentido de total clareza do que está acontecendo.

O Ministério da Saúde (MS) implantou, no ano 2000, o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar e, posteriormente, a Política Nacional de Humanização, visando atender às demandas subjetivas manifestadas pelos usuários e trabalhadores dos serviços de saúde, baseando-se na integralidade da assistência. A humanização do atendimento em saúde subsidia o atendimento, a partir do amparo dos princípios predeterminados como: a integralidade da assistência, a equidade e o envolvimento do usuário, além de favorecer a criação de espaços que valorizem a dignidade do profissional e do paciente.

“Compreendemos que o objeto do processo de trabalho da enfermagem é o ser humano enfermo que busca a tarefa profissional, isto é, a execução do cuidado terapêutico pela equipe de enfermagem, a qual conta com ferramentas ou instrumental de trabalho que consistem em meios que visam o alcance da satisfação das necessidades humanas.” (AMESTOY, S.C; SHWARTZ, E; THOFEHEN, M.B, 2006; p. 445).

Vale ressaltar que as organizações hospitalares são constituídas de vários setores, como se fosse uma cadeia, onde uma coisa liga a outra, onde podemos encontrar psicólogos, enfermeiros, médicos, assistentes sociais, fisioterapeutas entre outros, sendo esses trabalhadores expostos a situações emocionalmente intensas, tais como desde o nascer de uma criança até a morte de um paciente, na qual pode desencadear vários problemas, desde que esse profissional não tenha um preparo psíquico. Temos como exemplo a ansiedade, tensão física e mental. (MARTINS, MCA, 2003; p.1)

“Outro fator que tende a agravar essas alterações emocionais encontra-se no fato do trabalho ser executado de forma fragmentada, o que intensifica a lacuna existente entre as ações desenvolvidas pelos profissionais, pois neste trabalho identifica-se uma compartimentarão da pessoa a ser cuidada.” (AMESTOY, S.C; SHWARTZ, E; THOFEHEN, M.B, 2006; p.445).

Thofehen, M.B, (2005) traz que não podemos deixar de lado a questão profissional e família, a questão do convívio familiar e problemas domiciliares, as dimensões da subjetividade e o convívio com tudo isso, além desses conflitos, os vínculos com sigo mesmo deve estar bem, não deixando que todo esse processo venha acarretar problemas no trabalho e com a sua equipe. Visando sempre o cuidado de si, e o autocuidado do profissional, conscientização com todos a sua volta e o bem estar físico, mental, emocional e social.

O autor Leopardi, MT (2004; p. 1),” é preciso estar atento ao fato de que, mesmo em instituições detentoras de equipamentos modernos, permanece a necessidade de profissionais que desenvolvam as habilidades emocionais, e que sejam capazes de sensibilizar-se com as situações vivenciadas em seu cotidiano, evitando prestar um cuidado tecnicista, mas preparados para oferecer um cuidado com compaixão ao cliente, sem exploração, domínio ou desconfiança. Uma compaixão amorosa que permita sermos tão humanos quanto possível, tão envolvidos quanto o sentimento determine”.

Segundo Lima, (2016), a espiritualidade é uma dimensão da personalidade que habita e se desenvolve no mais íntimo do ser e nela a pessoa busca um sentido maior de transcendência da vida. Esse aspecto espiritual é compartilhado entre a tríade profissional-paciente-familiar, onde na maioria das vezes a equipe de enfermagem ao participar desse processo tenta ajudá-los apoiando por meio de crenças, respeitando a religião de cada família. Há séculos as pessoas se apegam a necessidade de acreditar na imortalidade da alma, por meio de ideias religiosas, para superarem a morte e imaginarem o reencontro com quem já se foi.

Inseridos nessa situação estão os profissionais da área da saúde, especificamente a equipe de enfermagem, que vivencia o cuidado, a recuperação e a morte dos pacientes diariamente. No entanto, o agravante cultural que está implantado é a visão de que o processo de morte e morrer são uma ação negativa e que 2 estes profissionais tem o dever de combatê-la. Essa limitação é ocasionada porque a morte não é tratada como um processo evolutivo natural, gerando medo, frustrações e sofrimento, logo a possibilidade de morte eminente traz consigo pensamentos que podem gerar transtornos a quem assiste, pois, a morte é um tema de difícil abordagem e de relevância para 1 cotidiano de trabalho do enfermeiro (LIMA, A.B.S, 2016).

De acordo com Dias et al. apud Lima, (2016), a formação do enfermeiro propõe uma generalização de vários assuntos, fragmentando e pontuando diversos conteúdos, dentre eles, o processo de morte e morrer e a própria morte. Estudo realizado por Salimena et al. apud Lima, 2016, com equipe de enfermagem do centro cirúrgico mostrou que os profissionais se preocupam com os cuidados para recuperação do corpo operado, desse modo negam a possibilidade de morte do paciente, pois foi feito tudo para que ela não acontecesse.

5. ENFRENTAMENTO EMOCIONAL DO ENFERMEIRO (A) A LIDAR COM O PROCESSO MORTE MORRER NO AMBIENTE DE TRABALHO.

Para Rosa e Couto, (2015), é de fundamental importância que a equipe multidisciplinar esteja preparada para, apoiar e orientar sobre as decisões a serem adotadas durante o tratamento. O profissional de enfermagem tem um papel fundamental na evolução e assistência do paciente, cabe a ele também avaliar todo processo de tratamento e fornecer respostas para seus familiares e estarem preparados para lidar com diversos problemas, caso venha surgir no decorrer do processo de tratamento.

Hoje, os hospitais e prontos atendimentos designam o profissional da enfermagem a designar seu papel de forma clara e objetiva, onde eles querem que os profissionais estejam preparados para cuidar desses pacientes, tais eles com comprometimento emocional e social, assim como estar preparado a auxiliar nas adaptações e limitações decorrentes nesse tratamento, preconizando um trabalho de evolução eficaz ao indivíduo.

Está implícito e embutido que o enfermeiro e técnico de enfermagem em sua formação são preparados para restaurar e salvar vidas a qualquer custo. Desta forma quando isso não é possível, ou seja, o paciente vai a óbito, estes profissionais sentem-se despreparados e vivenciam sentimentos de frustração e fracasso, pois mesmo que tenham utilizados de métodos e recursos, não foram capazes de salvar a vida do paciente. A morte do paciente não deve ser sinônimo de fracasso para o profissional de enfermagem. A morte não pode ser vista como uma doença e por isso não deve ser tratada como tal, os profissionais devem compreender como um processo natural e o paciente devem ser considerados como um ser social, com crenças e valores próprios. (ROSA, D.de S.S, COUTO, S.A, 2015; p.10)

O Profissional da enfermagem diante da morte de um paciente deve estar pronto para além de enfrentar seus medos, suas dores eles devem oferecer apoio aos familiares nesse processo de luto, além de respeitar seus costumes e crenças.

Segundo Rosa e Couto (2015), em seu estudo, realizado com um grupo de técnicos de enfermagem, constatou que a morte é algo normal que faz parte da rotina dos profissionais de enfermagem, ela é entendida como alivio e descanso para o paciente, porém estes profissionais não deixam de se importar com o sofrimento do enfermo. Ressalta que a morte deve ser ocultada e reprimida quanto seja possível no ambiente hospitalar, já que há uma ideologia que o hospital é o local para a saúde e cura, não havendo espaço para a morte.

Além de todo sofrimento, pode causar empatia, surgir a sensação de impotência, onde o profissional da enfermagem nega a ideia de que todos os cuidados foram feitos, e que poderia ter sido melhor, não aceitando o óbito daquele paciente, gerando série de dúvidas na cabeça, levando as vezes para um problema psicológico da não aceitação. Pois, eles destacam que mesmo sabendo que a morte é a única certeza que temos nessa vida, caminho direcionado quando nascemos à tentativa de se acostumar com isso ainda acaba sendo um tabu, onde nos profissionais da enfermagem temos dificuldades de aceita-la em nosso dia a dia, mesmo que muitos a considerem como um acontecimento normal, pois através de vivenciar a morte do seu paciente, o mesmo tem medo da sua própria morte, sentindo-se despreparado e que não viveu o suficiente ainda.

Quanto maior for o vínculo afetivo entre o profissional e o paciente, maior será o grau de sofrimento e tristeza no momento da morte. O vínculo afetivo normalmente está relacionado ao tempo de permanência do paciente no hospital ou as recorrentes internações. Em algumas situações o profissional de enfermagem permite-se viver a perda e o enlutamento, pois o paciente torna-se querido para ele. Esse sentimento é tão forte para alguns profissionais, que sentem a perda do paciente como se fosse à morte de um ente querido. (ROSA, D. de S.S, COUTO, S.A, 2015; p.10).

Embora sabendo que a morte é um estágio que iremos passar, muitos profissionais ficam sensibilizados e sofrem ainda mais quando é acometido a terminalidade para criança e pacientes jovens, pois para eles não justificam que de fato eles não viveram todas as etapas da vida, onde todos os seus sonhos foram interrompidos ali pela morte. No entanto para pacientes idosos os profissionais ainda têm outra visão, onde é considerada uma etapa natural para os mesmos, onde justificam que o ciclo daqueles pacientes idosos está chegando ao fim, onde enfatiza que a aceitação da morte para eles é natural, pois entende que eles já viveram e colheram os frutos que a vida lhe proporcionou e assim chegando ao final de mais um ciclo de vida.

Os mecanismos de defesa mais utilizados por esses profissionais, nesta situação, são o da negação e evasão, ou seja, evitam falar sobre a morte, pois sofrem diante do sofrimento do paciente no processo de morte e sentem profundamente quando os perdem (ROSA, D. de S.S, COUTO, S.A, 2015; p.11).

Seguindo estes pensamentos os profissionais de enfermagem acabam criando um escudo de proteção entre eles, na tentativa de não deixar o luto lhe abalar, eles citam que precisam manter uma postura firme e fria, não deixando se envolver afim, que o mesmo não venha lhe prejudicar profissionalmente, onde muitos julgam como quebra de paradigmas.

Busca-se na espiritualidade e crenças religiosas, auxilio para aliviar o sofrimento dos pacientes no processo de terminalidade da vida e os seus próprios. Alguns profissionais, pacientes e familiares crêem que a vida não termina com a morte, pois se acredita que a morte é uma passagem, isto é, a matéria (corpo) morre e o espírito continua em outro plano superior. Esta percepção ajuda e torna a morte mais aceitável para os trabalhadores de enfermagem. (ROSA, D.de S.S, COUTO, S.A, 2015; p.11).

Vivenciado pelos Autores Rosa, et al. (2006). “primeiro contato com o óbito, é traumático”, onde nos profissionais da enfermagem não termos um preparo para o morrer do outro na graduação, onde porém através da vivência diária e da ajuda da equipe de trabalho, acabamos passando por uma modelagem, a enxergar com outros olhos o morrer do outro, encarando como um processo natural da vida o qual todos os seres humanos passarão. “A perda e a tristeza permanecem”, mas com toda essa bagagem ao longo do nosso trabalho ira nos ajudar a lidar com todo esse processo, atuando cada dia mais com um olhar engrandecedor de que tudo foi feito, trazendo serenidade no olhar e conforto para os pacientes e familiares.

Os autores Silva, Campos e Pereira et al apud Rosa e Couto, (2015), em seus estudos enfatizam a prioridade dada mais ao aparato tecnológico do que aos cuidados prestados ao paciente na sua condição de pessoa. Diante do aparato citado acima, trazemos também que grandes tecnologias fazem parte do nosso dia a dia na área hospitalar, trazendo um tratamento mecanizado e muitas vezes distanciamento entre o paciente com o profissional. Lembrando também que os profissionais da enfermagem além de lidar com o cuidar do paciente têm que tomar conta dos trabalhos administrativos onde também ocupam grande parte do seu tempo.

Todo envolvimento biológico e tecnológico, juntou-se e serviu-se para tornar todo o processo de morte e morrer, um processo doloroso, difícil de lidar, aumentando o sofrimento dos presentes com angustia e incertezas, ou seja, processo menos digno, prolongando o sofrimento dos pacientes e seus familiares e da equipe que participa de toda evolução do mesmo. Para alguns profissionais o fato de serem vistos como os “salvadores de vida”, o mais importante é manter a vida do paciente a qualquer custo, mesmo não oferecendo uma qualidade de vida a este. (ROSA, D. de S.S, COUTO, S.A, 2015; p.12).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao Realizar este trabalho, teve- se como objetivo vivenciar o enfrentamento da equipe de enfermagem frente ao processo de morte e morrer.

A maioria da Equipe de profissionais da enfermagem visa à morte como um acontecimento vital, onde todos estão destinados a esse caminho. Ressaltando também a falta dos preparos dos graduandos ainda em sala de aula onde gera um grande questionamento no nosso dia a dia e por todos quando saem da graduação.

A morte mais impactante para equipe de enfermagem é aquela com crianças e jovens, onde o seu envolvimento com o caso acaba sendo mais doloroso, pois considerando que as mesmas não cumpriram todo seu processo na terra. A Enfermagem por estar desde o começo da vida até a sua terminalidade deve passar por um preparo na graduação, trazendo uma matéria especifica sobre a tanatologia. E certo que diante da morte, o enfermeiro deve manter uma postura profissional para lidar com as devidas ocorrências que podem acontecer, e não confortar a si só, mas também aos entes queridos.

O confronto com a morte passou a ser questionada como uma tarefa difícil para os profissionais da enfermagem, assim é sugerido que fossem investido trabalho de educação em saúde voltada ao preparo dos profissionais da enfermagem, estratégias essas que possam estimular a reflexão da subjetividade do seu trabalho, para que possa exercer sua atividade consciente da importante tremenda que ele está trazendo para esse paciente.

A morte passou a ser vista como inimiga de todos, onde ao falar da mesma ainda é considerada como algo sombrio e tenebroso, visada como um tabu para sociedade. Onde muitos querem que ela seja acometida a qualquer custo, mesmo sabendo que o caminho daquele ente querido é a morte.

O tema morte e morrer foram escolhido devido ser um grande paradigma para sociedade, tema pouco discutido nas universidades e também no cotidiano da sociedade industrializada, dificultando o trabalho e estudo sobre esse tema. Assim destacamos o melhor entendimento de todos sobre esse tema, pois refletir sobre morte e morrer são como se estivesse testemunhando nossa vivência na terra, pois a única certeza que temos é que todos irão morrer. E que o existir é gratificante por todos, mas o descansar eterno é uma dádiva de poucos.

7. REFERÊNCIAS

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Publicado por: Fernando Henrique Modolo

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