Conhecimentos dos Profissionais de Saúde no Diagnóstico da Dengue nas Unidades Sanitárias do Distrito Municipal KaMaxakeni, na Cidade de Maputo – Moçambique

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1. INTRODUÇÃO

A dengue é uma doença febril aguda causada por um vírus e está entre os principais problemas de Saúde Pública no Mundo. Segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), 80 milhões de pessoas são infectadas anualmente, das quais 550 mil necessitam de hospitalização e 20 mil morrem em consequência da doença1.

O seu principal vector de transmissão é o mosquito Aedes aegypti que se desenvolve em áreas tropicais e subtropicais. As dificuldades de combater este mosquito, em grandes e médias cidades, são muitas. Há facilidades para sua proliferação e limitações para reduzir seus índices de infestação, geradas pela complexidade da vida urbana actual.

Em Moçambique o primeiro surto da epidemia da dengue ocorreu entre Novembro de 1984 e Março de 1985, com reincidência em Abril de 2014 na cidade de Pemba, Província de Cabo Delgado, seguido da Província de Nampula em Março de 2015.

Este trabalho tem como tema Conhecimentos dos Profissionais de Saúde no diagnóstico da Dengue nas Unidades Sanitárias do Distrito Municipal Kamaxaquene e enquadra-se no âmbito da culminação do curso de Licenciatura em Saúde Publica no Instituto Superior de Ciências de Saúde, em colaboração com o projecto Dengue, Água e Agregados Familiares, no Departamento de Antropologia e Arqueologia da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane.

O desenvolvimento de uma melhor compreensão dos conhecimentos dos profissionais de saúde sobre o diagnóstico da dengue é essencial para o planeamento de programas e políticas públicas de prevenção e tratamento da doença.

O objectivo deste trabalho foi de avaliar o Conhecimento dos profissionais de saúde no diagnóstico da Dengue

1.1. Enunciado do problema e questão de partida

Nos anos 2014 e 2015, foram notificados cerca de 300 casos de dengue nas províncias de Cabo Delgado e Nampula, cujo diagnóstico foi tardiamente feito pelos profissionais de saúde. Em termos globais, a incidência da dengue tem aumentado 30 vezes ao longo dos últimos 50 anos, estimando-se que 50-100 milhões de infecções ocorrem anualmente em mais de 100 países endémicos, colocando quase metade da população do mundo em risco 2.

As percentagens elevadas de Aedes aegypti, o mosquito que transmite eficazmente a dengue, foram encontradas em algumas cidades do país como: Nampula, Pemba, Quelimane e Maputo, esta última nos bairros de Mafalala, Urbanização, Polana Caniço e Maxaquene 2. Os mesmos autores referem que os serviços de abastecimento de água insuficientes traduziram-se em práticas de armazenamento deste líquido que fornecem o ambiente aquático limpo exigido por este mosquito. O Distrito Municipal KaMaxakeni é um dos distritos com deficiência de saneamento do meio, abastecimento de água intermitente e uma urbanização desigual, condições que favorecem o desenvolvimento do mosquito causador da Dengue.

Para o diagnóstico da Dengue é necessário que os profissionais de saúde estejam dotados de conhecimentos básicos sobre a manifestação clínica que os doentes portadores da Dengue podem apresentar dado que a semiologia pode assemelhar-se com a da Malária. A ausência de registo de casos da Dengue na cidade de Maputo pode não significar a ausência da doença, uma vez que existe um ambiente propício para desenvolvimento do mosquito Aedes aegypti.

Durante os estágios realizados nas unidades sanitárias, foi frequente encontrar o diagnóstico síndrome febril após um teste rápido de malária negativo. Estudo feito pela Massangaie et al.,3 na cidade de Pemba, mostrou que a falta de capacidade de diagnóstico laboratorial de rotina e a consciência clínica da dengue, provavelmente atrasou a identificação do surto naquela região onde a Malária é altamente endémica. A questão de partida é: Que conhecimentos os profissionais de Saúde colocados na Triagem de adultos e de crianças dos Centros de Saúde 1º de Maio e Polana Caniço têm sobre o diagnóstico da Dengue?

1.2. Justificativa

A evidência da existência de Aedes aegypti na cidade de Maputo, principalmente nos bairros de Urbanização, Polana Caniço e Maxaquene, associado ao diagnóstico tardio da dengue nos casos registados nas províncias de Cabo Delgado e Nampula por desconhecimento da sintomatologia da mesma pelos profissionais de saúde, despertou o interesse do pesquisador em avaliar o conhecimento dos profissionais de saúde no diagnóstico desta doença nos Centros de Saúde 1º de Maio e Polana Caniço, na Cidade de Maputo.

A avaliação dos conhecimentos dos profissionais de saúde no diagnóstico da Dengue é importante para a saúde pública porque vai ajudar a perceber o que estes sabem sobre as manifestações clínicas da doença

Resultados de um estudo de revisão bibliográfica sobre a importância do diagnóstico precoce da dengue no Brasil, que tinha como objectivo identificar na literatura as características e importância do diagnóstico precoce da dengue, evidenciou que 40% referiram que o diagnóstico precoce era importante para que se realizassem medidas para que a doença não se agravasse.

Uma percentagem considerável (30%) de artigos científicos demonstraram que a dengue hemorrágica tem alta letalidade e que o seu diagnóstico precoce é fundamental; outros 20% observaram que as acções preventivas ajudariam as pessoas a conhecerem a doença e a procurarem ajuda, facilitando assim o diagnóstico precoce e 10% referiram que a assistência prestada pelo enfermeiro ou profissional da saúde influenciava no resultado do diagnóstico 4.

Estudo feito por Figueiredo 5 em 2010, concluiu que a qualidade no diagnóstico da dengue pelos profissionais de saúde tem uma importância clínica para o tratamento precoce que é fundamental para a sobrevida dos pacientes. Além de evitar as mortes, o diagnóstico precoce da dengue é fundamental para determinar os cuidados clínicos com o paciente e contribui para a vigilância epidemiológica, para a pesquisa de formulação de vacina e também para a detecção precoce de uma possível epidemia 6.

Os resultados deste estudo servirão também de base para outros estudos que tragam mais evidências sobre este tópico, como forma de sustentar a elaboração de novas estratégias que integrem esta doença, para melhorar a capacidade de diagnóstico de possíveis casos existentes e de outros que possam surgir, sobretudo em zonas propícias.

1.3. Objectivos

1.3.1. Geral:

- Avaliar o conhecimento dos profissionais de saúde sobre o diagnóstico da Dengue nas unidades sanitárias do Distrito Municipal KaMaxakeni.

1.3.2. Específicos:

- Descrever o perfil sociodemográfico dos profissionais de saúde;

- Enumerar os sinais e sintomas da Dengue referidos pelos profissionais;

- Descrever os exames laboratoriais referidos pelos profissionais;

- Identificar as formas de tratamento da dengue referidas pelos profissionais.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Conceitos

Conhecimento é um conjunto de informação armazenada por intermédio da experiência ou da aprendizagem através da introspecção 7. Galli 8, define conhecimento como conjunto de qualidades de que o homem necessita para exercer suas actividades e resolver problemas que enfrenta para viver, habilidades, destreza, criatividade, iniciativa.

Em relação ao diagnóstico, Novaes 9, diz que o termo diagnóstico provem da medicina que, por princípio, procura localizar as causas dos sintomas físicos e mentais, afim de prescrever os respectivos tratamentos. Diagnóstico é a palavra da área da medicina que significa a qualificação de um médico em relação a uma doença ou condição física ou mental com base nos sinais e sintomas observados 7.

2.1.1. Dengue

Dias et al.,7, afirmam que a Dengue é uma arbovirose transmitida principalmente pela picada do mosquito Aedes aegypti, que pode ser assintomática ou apresentar amplo espectro clínico, variando de doença febril autolimitada até formas graves que podem evoluir com choque circulatório e óbito. Jezuz 10, argumenta que a Dengue é uma doença infecciosa aguda, de gravidade variável, causada por um vírus do género Flavivírus, cuja transmissão ocorre através da picada de um mosquito que ocorre em países tropicais e subtropicais.

2.1.2. Agente etiológico e formas de transmissão da dengue

O Aedes aegypti é um mosquito de hábito diurno, principalmente, no início da manhã e no final da tarde; tem preferência por ambientes urbanos e intradomiciliares; alimenta-se principalmente de sangue humano 7. O mosquito adquire o vírus da dengue ao se alimentar do sangue de doente que se encontra na fase de viremia, que começa um dia antes do surgimento da febre e vai até o sexto dia de doença 7. O vírus vai se localizar nas glândulas salivares do mosquito, onde se prolifera e aí permanece, deixando o artrópode infectante durante toda a sua vida 6. Uma vez infectado o mosquito inocula o vírus junto com a sua saliva ao picar a pessoa sadia. Além disso, a fêmea também faz a transmissão transovariana do vírus para a sua prole, favorecendo a expansão da doença 6. Depois de inoculado no hospedeiro humano, o vírus entra nas células, se replica, produz progenitores virais e se inicia, então, a fase de viremia, com posterior distribuição do vírus para todo o organismo 6.

2.1.3. Manifestações clínicas da dengue

No que se refere as manifestações clínicas, a infecção pelo vírus da Dengue pode ser assintomática ou sintomática. Quando sintomática, causa uma doença sistémica e dinâmica de amplo espectro clínico, variando desde formas oligoassintomáticas até quadros graves, podendo evoluir para o óbito6,7. O período de incubação é de 3 a 15 dias, com média de 4 a 7 dias 7. Dias et al.,7, afirma que as principais formas clínicas da dengue são a Dengue Clássica (DC), a Dengue com Complicações (DCC) e a Febre Hemorrágica da Dengue (FHD), podendo evoluir para a forma mais grave que é a Síndrome do Choque da Dengue (SCD).

Falando das fases clínicas da dengue, a primeira manifestação é a febre que tem duração de dois a sete dias, geralmente alta (39º C a 40º C), de início brusco, associada à cefaleia, à adinamia, à mialgia, à artralgia e à dor retro orbitaria6. A fase crítica pode estar presente em alguns pacientes, podendo evoluir para as formas graves e, por esta razão, medidas diferenciadas de manejo clínico e observação devem ser adoptadas imediatamente 6. A maioria dos sinais de alarme é resultante do aumento da permeabilidade vascular, a qual marca o início do deterioramento clínico do paciente e sua possível evolução para o choque por extravasamento de plasma 6.

Alguns sinais de alarme na Dengue são: dor abdominal intensa (referida ou à palpação) e contínua, vómitos persistentes, acúmulo de líquidos (ascite, derrame pleural, derrame pericárdico), hipotensão postural e/ou lipotimia, hepatomegalia maior do que 2 cm abaixo do rebordo costal, sangramento de mucosa, letargia e/ou irritabilidade, aumento progressivo do hematócrito. Alguns pacientes podem apresentar rash cutâneo acompanhado ou não de prurido generalizado 7.

2.1.4. Diagnóstico e tratamento da dengue

Clinicamente, é considerado como caso suspeito de Dengue clássica todo paciente que apresente febre com duração máxima de sete dias acompanhada de duas ou mais das seguintes manifestações: cefaleia, dor retro-orbitária, artralgia, mialgia, prostração, erupção cutânea; e que resida ou tenha estado nos últimos 15 dias em zona de circulação do vírus da Dengue 11.

Segundo Perez 12, a confirmação do diagnóstico pode ser feita por meio de testes serológicos ou de detecção viral, sendo os primeiros os mais utilizados e estando os de detecção virais mais reservados para quando se tem propósito epidemiológico ou como parte de pesquisa para estudos clínicos. O exame mais empregado é o MAC-ELISA, que detecta anticorpos IgM específicos contra a Dengue. Sua grande vantagem é exigir uma única amostra de soro 13.

Em geral, eles só podem ser realizados a partir do sexto dia de doença, quando esses anticorpos começam a surgir 11. Para detecção viral pode-se realizar isolamento do vírus, imunohistoquímica e reacção em cadeia da polimerase 6.

2.2. Estágio teórico

De acordo com Mugabe et al.,14, no estudo realizado em 2016 na cidade de Quelimane com objectivo de investigar possível surto de Chikungunha e Dengue, um total de 163 pacientes, das quais 99 mulheres com idade media de 28 anos, foram testados usando IgM, IgG, ELISA, e Rt-PCR. O estudo mostrou que os anticorpos IgM anti-DENV foram encontrados em 1 paciente (0,9%) dos 104 pacientes testados (idem). Os autores concluíram que havia em abundância o mosquito Aedes aegypti. Os casos da dengue podiam ocorrer esporadicamente. A população necessitava de informações relacionado a dinâmica da transmissão arboviral em Moçambique 14.

Massangaie et al.,3, no seu estudo feito nas cidades de Pemba e Nampula, sobre caracterização clínica e epidemiológica do primeiro surto reconhecido de vírus da dengue tipo 2 em Moçambique, testou 193 pacientes com suspeita de definição de caso de dengue, usando RT-PCR, RDT ou EIA. Este estudo compreendeu 2 fases: na primeira, entre os 20 pacientes iniciais com suspeita de Dengue, 13 foram testados RT-PCR dos quais 3 foram positivos para DENV 2 e foram classificados como confirmados; na segunda fase, um total de 97 pacientes foi classificado como prováveis casos da dengue com base no resultado do teste do antígeno DENV NS 1 ou anticorpo anti-DENV IgM.

3. METODOLOGIA

3.1. Local de estudo

O projecto de pesquisa foi realizado na Cidade de Maputo, no Distrito Municipal KaMaxakeni, concretamente no Centro de Saúde da Polana Caniço e no Centro de Saúde 1º de Maio, por serem unidades sanitárias que prestam os cuidados primários de saúde. O distrito tem uma população de 222.756 habitantes e compreende os bairros de Mafalala, Urbanização, Maxaquene A, B, C e D, Polana Caniço A e B.

3.1.1. Tipo de estudo

Foi feito o estudo exploratório com abordagem qualitativa. De acordo com Gil 15, as pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objectivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo acerca de determinado facto pouco explorado e que torna difícil a formulação de hipóteses precisas e operacionalizáveis.

A abordagem qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano, fornecendo análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento, etc.16.

3.1.2. Variáveis

Para a presente pesquisa foram usadas as seguintes variáveis: Sexo, idade; categoria profissional, anos de serviço e conhecimentos sobre diagnóstico da dengue.

3.1.3. População do estudo e amostra

O estudo teve como amostra os 14 profissionais de saúde que atendiam as consultas de Adultos e de Crianças nos centros de saúde do Distrito Municipal Kamaxakeni, concretamente nos centros de Saúde 1º de Maio e Polana Caniço.

3.1.4. Amostragem

Para a presente pesquisa não foi aplicada a teoria de amostragem, dado que fizeram parte nele todos os elementos do universo populacional elegível e que consentiram participar no estudo.

Segundo Gil 15, quando uma pesquisa recolhe informações de todos integrantes do universo pesquisado afirma-se que temos um Censo. A teoria de amostragem somente ocorre quando a pesquisa não é censitária, isto é, quando é investigada apenas uma parte dessa população 16.

3.2. Técnica e instrumento de recolha de dados

Na presente pesquisa a técnica de recolha de dados foi a entrevista, com recurso ao Guião de entrevista semiestruturado, elaborado pelo pesquisador. A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação social, para a colheita de dados ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social 16.

3.2.1. Análise e processamento de dados

Para a análise de dados foi usada a análise de conteúdo e compreendeu três fases. Para Bardin 17, a análise de conteúdo se constitui de várias técnicas onde se busca descrever o conteúdo emitido no processo de comunicação, seja ele por meio de falas ou de textos. É composta por procedimentos sistemáticos que proporcionam o levantamento de indicadores, permitindo a realização de inferência de conhecimentos.

A primeira fase, pré-análise, foi a sistematização das ideias iniciais colocadas pelo quadro referencial teórico e estabelecimento de indicadores para a interpretação das informações colectadas nas entrevistas. A fase compreendeu a transcrição fiel e leitura geral das entrevistas.

A segunda fase foi a de exploração das entrevistas, que consistiu na construção das operações de codificação, através da enumeração das entrevistas considerando-se os recortes dos textos em unidades de registos. Bardin17,define codificação como a transformação, por meio de recorte, agregação e enumeração, com base em regras precisas sobre as informações textuais, representativas das características do conteúdo.

A terceira fase compreendeu o tratamento dos resultados, inferência e interpretação, a qual consistiu em captar os conteúdos manifestos e latentes contidos em todas as entrevistas). A análise comparativa foi realizada através da justaposição das diversas categorias existentes em cada análise, ressaltando os aspectos considerados semelhantes e os que foram concebidos como diferentes.

3.2.2. Critérios de inclusão/exclusão

Fizeram parte da pesquisa profissionais de saúde de diversas categorias que atendiam as triagens de adultos e de crianças nas unidades sanitárias do Distrito Municipal Kamaxakeni, que aceitaram livremente participar do estudo. Não fizeram parte do estudo os profissionais que atendiam em outros sectores.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.1. Dados sócio Demográficos

Os profissionais de saúde entrevistados tinham a idade média de 32 anos, variando de 27 a 36 anos de idade, sendo 57% pertencente a faixa etária dos 32-36 anos, e 43% entre 27 e 31 anos. Em relação ao sexo, os profissionais de saúde entrevistados, a maioria (71%) foram de sexo feminino e 29% foram de sexo masculino.

O tempo médio de serviço dos profissionais de saúde entrevistados foi de seis anos, variando de dois a onze anos de serviço, sendo cerca de 64% dos profissionais de saúde tinham um tempo de serviço compreendido entre seis a nove anos, 29% tinha um tempo de serviço entre dois a cinco anos, e 7% dos profissionais de saúde tinha um tempo de serviço superior a 10 anos.

Na categoria profissional, os profissionais de saúde entrevistados foram de diversas categorias, sendo a metade (50%) constituída por técnicos de medicina geral e a outra metade distribuída por: agentes de medicina geral (36%), enfermeiros gerais (7%) e médicos (7%). Estes dados mostram que as triagens são feitas maioritariamente pelos Técnicos e Agentes de medicina geral.

4.2. Conhecimentos dos profissionais de saúde no diagnóstico da dengue.

Questionados o que entende por dengue, a maioria dos profissionais de saúde entrevistados mostrou que sabia do que era a dengue ao responder de forma semelhante com a descrita na literatura. As diferentes respostas dadas pelos profissionais de saúde tinham a ver com agente causador, e o vector, o que revelou ter conhecimento do que é a dengue, tal como Jezuz10, que define a dengue como uma doença infecciosa aguda, de gravidade variável, causada por um vírus do género Flavivírus, transmitida, principalmente, pela picada do mosquito Aedes aegypti.7

Quanto ao agente etiológico da dengue, a maioria dos profissionais de saúde entrevistados mostrou um desconhecimento, citando o mosquito (vector) como agente etiológico.

Resultado semelhante foi encontrado no estudo feito por Assis et al.,18, em uma escola pública e uma unidade de saúde da Estratégia Saúde da Família de uma região endémica do estado do Rio de Janeiro, em que os entrevistados demonstraram desconhecimento do agente etiológico da dengue.

Para Fonseca19, o agente etiológico é um vírus pertencente ao género Flavivírus e à família Flaviviridae. É um vírus RNA, de filamento único, envelopado e que possui quatro sorotipos: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4.19

Conhecer o agente etiológico da dengue é imprescindível para que haja entendimento e adesão das acções de controlo físico que são divulgadas nas acções de informação, educação e comunicação.

Contudo, Rangel 20, alerta que, o desconhecimento em relação a este tópico pode ser produto das acções de comunicação e educação, destinadas à prevenção da dengue que priorizam somente informações simplistas sobre o vector. Estas acções acabam contribuindo para a construção de uma percepção uni causal da doença, na medida em que aspectos sobre a relação água/vector (na fase larvária) e outros factores socio ambientais são negligenciados 20.

Em relação a forma de transmissão da dengue, a resposta “através da picada do mosquito” foi dada pela maioria dos profissionais de saúde entrevistados, mostrando desta forma que tem conhecimento.

Este resultado, também foi encontrado em 97,9% dos entrevistados de um estudo feito por Alves 21 sobre conhecimentos, crenças e práticas em relação a dengue, realizado numa unidade de saúde em São Paulo que afirmaram que a dengue é transmitida pelo mosquito.

Questionados sobre a existência do agente transmissor (vector) da dengue na cidade de Maputo, a maioria dos profissionais de saúde entrevistados respondeu “ não”.

Esta resposta revela a falta de conhecimento da existência do vector da dengue na cidade de Maputo. Kampango & Abilio 2, afirma que percentagens elevadas de Aedes aegypti, o mosquito que transmite eficazmente a dengue, foram encontradas na cidade de Maputo, nos bairros de Mafalala, Urbanização, Polana Caniço, e Maxaquene.

A falta do conhecimento da existência do vector pode levar a fraca consciência clínica para o diagnóstico da dengue, assim como na elaboração de programas de controlo e prevenção da doença.

Um estudo realizado por Nazareth et al.,22 no arquipélago da Madeira - Portugal, evidenciou que uma grande parcela dos residentes das ilhas não sabia da existência do mosquito Aedes aegypti e não se considerava em risco de contrair a dengue. Em adição, evidenciou que a população em questão não estava engajada no combate ao Aedes aegypti. Em menos de um ano após a realização desse estudo, a região sofreu uma epidemia de dengue.

Massangaie et al.,3 afirmou que a falta da consciência clínica da dengue provavelmente atrasou a identificação deste surto na região norte de Moçambique onde a malária é altamente endémica tal como a cidade de Maputo.

Noque tange aos sinais e sintomas da dengue, a maioria dos profissionais de saúde entrevistados citou dóis ou três sinais e sintomas correctos, sendo os três mais citados: a febre alta, dores de cabeça, dor nas articulações. Este resultado é semelhante aos encontrados no estudo feito por Alves21 numa unidade de saúde em São Paulo. A febre e a dor de cabeça foram também sintomas mais relatados pelos participantes de estudos brasileiros feitos por Santos et al.,1,23,24,25.

Estes sinais e sintomas também foram descritos no manual do Ministério de Saúde do Brasil 6, no qual é considerado caso suspeito da dengue clássica todo paciente que apresenta febre acompanhada de duas ou mais das seguintes manifestações: cefaleia, prostração, erupção cutânea, mialgia, artralgia e dor retro orbitaria.

Num estudo sobre caracterização clínica e epidemiológica do primeiro surto reconhecido de vírus da dengue tipo 2 em Moçambique feito por Massangaie et al.,3 nas cidades de Pemba e Nampula, também definiu como caso suspeito da dengue, um paciente com doença febril com resultado negativo no teste da malária, e pelo menos duas ou mais das seguintes manifestações: cefaleia, dor retro-orbital, mialgia, artralgia, erupção cutânea, manifestações Hemorrágicas ou leucopenia.

Em relação os exames laboratoriais para o diagnóstico da dengue, a maioria dos profissionais de saúde entrevistados citaram “Serologia ELISA, PCR, isolamento viral, IgM relacionado ao vírus, teste rápido da dengue, hemograma, e bioquímica” como exames laboratoriais mais usados para o diagnóstico da dengue, revelando desta forma que tem conhecimento em relação aos exames empregues para o diagnóstico da dengue.

Estes resultados também foram achados em estudo feito por Massangaie et al.,3 nas províncias de Cabo Delgado e Nampula, que foi empregue a sorologia MAC ELISA, PCR, isolamento viral, para detecção dos anticorpos IgM específicos contra a dengue em pacientes suspeitos durante o surto da dengue ocorrido nos anos 2014 e 2015.

Os exames citados pelos profissionais de saúde entrevistados, também foram descritos na literatura por Perez12, que afirma que a confirmação de diagnóstico pode ser feita por meio de testes serológicos ou de detecção viral sendo o exame mais empregado o MAC-ELISA que detecta anticorpos IgM específicos para a dengue.

No que se refere ao tratamento de pacientes com suspeita de dengue, a maioria dos profissionais de saúde entrevistados afirmaram que o tratamento era sintomático, como é também descrito na literatura, isto é, depende dos sinais e sintomas de cada paciente.

A hidratação é também relatada na literatura por Dias et al.,7 na qual indica que o tratamento pode consistir em hidratação oral com volume de 60 a 80ml/Kg/dia, sendo 1/3 desse volume com soro de reidratação oral e os 2/3 restantes com líquidos caseiros como água, suco de frutas, chás.

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Este estudo versa sobre o conhecimento dos profissionais de saúde no diagnóstico da dengue nas unidades sanitárias do distrito municipal Kamaxakeni, na cidade de Maputo. De acordo com os resultados alcançados, conclui-se que:

→ Quanto ao perfil sócio demográfico, os profissionais de saúde que se encontravam nas triagens de adultos e crianças nos centros de saúde da Polana caniço e 1º de Maio, na sua maioria eram técnicos de medicina geral; tinham idades compreendidas entre 32 e 36 anos; eram do sexo feminino e tinham tempo de serviço entre seis e nove anos.

→ Os profissionais de saúde do distrito municipal KaMaxaqueni sabem o que é a Dengue e o seu modo de transmissão;

→ Quanto aos sinais e sintomas da dengue, os profissionais de saúde entrevistados consideram a febre alta, dores de cabeça, dor de trás dos olhos, erupção da pele, náuseas, vómitos, dor nas articulações e hemorragia.

→ Os profissionais de saúde entrevistados conhecem alguns exames laboratoriais usados para o diagnóstico da dengue, nomeadamente: a serologia MAC ELISA; PCR e Isolamento viral.

→ Os profissionais de saúde entrevistados consideram o tratamento da dengue dependente dos sinais e sintomas que o doente apresentar, referindo a reidratação oral ou endovenosa com uma das formas.

→ A maioria dos profissionais de saúde do distrito municipal Kamaxakeni, não têm conhecimento da existência do mosquito Aedes aegypti, o vector da dengue, na cidade de Maputo, o que pode levar a falta da consciência clínica para o diagnóstico da mesma.

Mediante as conclusões obtidas deste estudo, recomenda-se à Direcção distrital de saúde do distrito Municipal KaMaxakeni que:

→ Haja partilha dos resultados das pesquisas sobre a dengue feitas no país em geral, em particular na cidade de Maputo para despertar a consciência dos profissionais de saúde em relação a doença, bem como a realização de mais pesquisas.

→ É pertinente a actualização dos profissionais de saúde na matéria da dengue para garantir uma boa abordagem na suspeita e diagnóstico da dengue a partir da partilha de ideias e manuais com abordagens mais profundas sobre a dengue.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Publicado por: Julio Bacar

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