A RELEVÂNCIA DA HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM FRENTE A MULHER DIAGNOSTICADA COM CÂNCER DE MAMA

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1. RESUMO

Trata-se de uma pesquisa de natureza bibliográfica em que se objetivou analisar o quanto a assistência de enfermagem realizada de forma humanizada, é fundamental para a mulher com diagnóstico de câncer de mama. A identificação das fontes realizou-se por meio de livros, teses, artigos e bases informatizadas como Scielo e LILACS, além de sites relacionados ao Ministério da Saúde e do INCA. Constatou-se desta forma a necessidade de abordar o tema que é considerado corriqueiro, mas que passa por constantes atualizações, uma vez que o aumento na incidência do câncer nos últimos anos tornou-se alarmante. Se tratando do câncer de mama, o principal tipo de neoplasia entre as mulheres e consequentemente que mais causa mortes no sexo feminino, é necessário que se saiba os fatores causais, prevenção, tratamento, além da compreensão dos impactos emocionais provocados pelo comprometimento das mamas caso as medidas preventivas sejam ineficazes, acarretando em um tratamento que poderá ser mutilante. Ademais, destaca-se que pelo fato do enfermeiro ser um profissional que lida diretamente com a paciente, é de suma importância que o mesmo realize um cuidado holístico à mulher com câncer de mama, para garantir uma assistência individualizada e satisfatória.

Palavras-chaves: Câncer de mama, humanização e profissional da enfermagem.

2. INTRODUÇÃO

O câncer se caracteriza por um crescimento rápido e desordenado de células, que adquirem a capacidade de se multiplicar. Essas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores ou neoplasias malignas que se diferem de acordo com a região atingida e seu estágio.

Como o nome já indica, o câncer de mama é um tipo de neoplasia que atinge as mamas e é o principal tipo de câncer que acomete as mulheres, em decorrência disto, é o que mais as mata em todo o mundo. Após ser diagnosticada com tal neoplasia, a mulher passará por uma série de oscilações sejam de cunho emocional ou físico, que vão variar desde a negação da doença até a esperança de cura.

Além disso, o câncer de mama é algo que gera impacto, a partir do momento em que o nódulo é descoberto, se inicia um processo de incertezas que poderão ou não abrandarem-se depois da realização dos exames e diagnóstico. A humanização no atendimento permite que esse processo seja menos doloroso levando em conta as particularidades, dificuldades e características de cada mulher com o câncer de mama, além de considerar todo seu contexto social e familiar.

A relevância deste estudo se dá pela necessidade de evidenciar as orientações e o atendimento realizado pelo enfermeiro humanista de modo a abordar integralmente a mulher com neoplasia maligna de mama pois é nítido que o profissional da enfermagem tem suma importância na promoção, prevenção e no tratamento e deve reforçar então a relação interpessoal enfermeiro/paciente com base na humanização, de modo a auxiliar a cliente, sanar possíveis dúvidas e ajudá-la a obter maior conhecimento do que está se passando em seu organismo.

O diagnóstico do câncer de mama tende a provocar reações emocionais que podem interferir no equilíbrio e bem-estar da paciente, visto que a faixa etária de maior incidência desse tipo de câncer vai dos 40 aos 60 anos, logo no perfil onde a grande maioria das mulheres está mais confiante, e sentindo-se enérgica e ativa. Pelo fato da mama exercer função significativa em relação à estética feminina, propositalmente cabe ao enfermeiro ser educador e criar uma situação que favoreça proximidade e acolhimento, uma vez que quanto maior for a confiança da mulher, melhor será seu prognóstico.

O tratamento do câncer é doloroso, árduo e danifica a imagem da mulher perante ela mesma; além de deixá-la muitas vezes com pensamentos pessimistas e insegurança pelo risco de morte, de metástase ou mesmo do retorno do câncer após o tratamento. Daí a importância de um acompanhamento efetivo e humanizado por parte da enfermagem, não só nos cuidados técnicos diretos e preparos para procedimento, mas com um olhar e atendimento holístico em todos os momentos.

É necessário que se compreenda o panorama dessa doença e seus fatores de risco, os tratamentos disponíveis, bem como os tipos mais comuns para que o atendimento e o acompanhamento da mulher seja integral. Destaca-se dessa forma, que as orientações e o atendimento realizado pelo enfermeiro humanista na abordagem à mulher com neoplasia maligna de mama é fundamental, e os cuidados serão direcionados de forma a atender suas necessidades e preservar sua autonomia, ofertando mais qualidade de vida e um melhor prognóstico.

3. O CÂNCER

As células consideradas normais crescem se multiplicam e morrem, algumas se multiplicam rapidamente como as células epiteliais, enquanto os neurônios nunca se dividem, e em ambos os casos o processo é realizado de forma a manter as necessidades corporais, ocorre de maneira natural e vital. O câncer, no entanto, consiste na multiplicação rápida e desordenada das células, e se difere de acordo com o local atingido e a agressividade com que afeta os órgãos e tecidos.

De forma geral, o câncer pode ser definido como uma doença derivada de uma única célula, em que determinados genes sofrem mutação e os fenótipos modificados são transmitidos da célula alterada para as células filhas. Essas alterações remodelam a célula normal tornando-a uma célula transformada (Figura 1), que adquire a capacidade de crescer rapidamente e não obedece aos comandos de controle de proliferação (MARQUES, 2016).

Fonte: Marques (2016)

Caso o crescimento das células seja vagaroso e não constitua riscos a vida, o tumor é considerado benigno, ao contrário da neoplasia maligna que tende a ser agressiva e incontrolável, podendo espalhar-se para outras áreas do corpo (INCA, 2017). Kumar, Aster e Abbas (2015, p.270) salientam que “Neoplasia significa “novo crescimento”, e um novo crescimento é denominado de neoplasma”.

O estudo dos tumores é chamado oncologia. Os tumores podem ser cancerosos e frequentemente fatais, ou podem ser inofensivos. Uma neoplasia cancerosa é chamada tumor maligno ou malignidade. Uma propriedade da maioria dos tumores é a capacidade de sofrer metástase [...] Um tumor benigno é uma neoplasia que não sofre metástase (TORTORA; DERRICKSON, 2016, p.68).

A metástase ocorre quando as células cancerígenas se desprendem do tumor primário e são transportadas pela corrente sanguínea ou vasos linfáticos a outras áreas do organismo. Ao instalarem-se, formam então um novo foco do tumor em outro órgão, esse novo tumor é denominado metastático.

De início, não está exatamente claro quais propriedades uma célula cancerosa deve adquirir para tornar-se metastática. Em alguns casos, é possível que a invasão e a metástase não precisem de mais mudanças genéticas além daquelas necessárias para violar os controles normais de crescimento celular, divisão celular e morte celular. Por outro lado, pode ser que, para alguns canceres, a metástase exija um grande número de mutações adicionais (ALBERTS et al., 2010, p.1119).

Considerando o senso comum, pode-se acreditar erroneamente que todos os organismos possuam células cancerígenas. No entanto, Malzyner e Caponero (2013) reiteram que todos estão propensos em alguma fase de suas vidas a desenvolverem células que podem potencialmente se descontrolar, dando origem a neoplasia. Porém, os mecanismos de defesa natural do organismo, atuam destruindo e limitando essas células evitando sua progressão, e consequentemente a formação do câncer.

Lopes (2005), afirma que a palavra câncer provém do grego “karkinos” e do latim “cancer”, em ambos os idiomas as palavras significam caranguejo. De acordo com Montfils e Carmo (2015, p.4) "Hipócrates (460 a.C.) (Figura 2) considerado o "pai da medicina" utilizava os termos carcinos e carcinoma para descrever a doença".

Fonte: INCA (2012)

Já Galeno, médico e filósofo (aproximadamente 138-201 d.C.) foi quem utilizou o termo "cancer" para descrever os tumores malignos pela primeira vez; a relação da doença com tal animal se deu pela semelhança das veias aumentadas de um tumor externo de mama, com as patas de um caranguejo (ALVES,1997).

Para Mukherjee (2012), embora sejam termos antigos que abranjam definições de grande valia, o que Hipocrátes e Galeno consideravam câncer não condizem totalmente com os conhecimentos atuais, apesar de já terem ciência e realizarem a distinção entre tumores benignos e malignos, todo tipo de inchaço não diagnosticado era incluso indiscriminadamente na patologia.

Na atualidade, o termo câncer ainda é cercado de crendices. Por se tratar de uma doença cercada de medos e incertezas, dizer tal palavra se torna um paradigma para alguns, é como se ao pronunciar o nome da doença, as pessoas ficassem mais propensas a desenvolvê-la.

3.1. CAUSAS DO CÂNCER

De acordo com Smeltzer et al. (2011, p. 619) “O câncer não é uma doença única com uma única causa; ao contrário, é um grupo de doenças distintas com diferentes causas, manifestações, tratamentos e prognósticos”. Devido aos inúmeros fatores que originam a doença, não é possível definir uma causa comum para o câncer; o que se sabe, é que independente dos fatores causais, todos farão com que um ou mais genes da célula sejam lesionados.

O processo de formação do câncer é denominado carcinogênese, e pode ocorrer lentamente envolvendo fatores internos ou externos. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, as causas externas têm relação com os hábitos do indivíduo, seus costumes e o ambiente em que vive; já os fatores internos que dão origem ao câncer, na maioria das vezes tem origem geneticamente pré-determinada. Tais fatores podem agir de diversas formas, acarretando nas transformações malignas das células normais (INCA, 2017).

No entanto Bergerot (2006) afirma que o câncer na maior parte das vezes é causado por fatores relacionados à qualidade de vida e às escolhas pessoais de cada um. Jorde (2004) ressalta que o câncer é causado por uma mistura de fatores ambientais, alterações genéticas que ocorrem nos tecidos e a predisposição herdada por algumas famílias.

Almeida et al. (2005, p.168) faz a seguinte afirmação:

A maioria dos casos (cerca de 80%) está relacionada ao meio ambiente, onde encontramos um grande número de fatores de risco. Entende-se por ambiente, o meio em geral (água, terra e ar), o ambiente ocupacional (quando insalubre), o ambiente social e cultural (estilo e hábitos de vida) e o ambiente de consumo (alimentos, medicamentos). As mudanças provocadas no ambiente pelo próprio homem, os hábitos e estilos de vida adotados pelas pessoas podem determinar os diferentes tipos de câncer.

Os casos de câncer têm se manifestado de forma progressiva ao longo dos anos no Brasil e no mundo, e embora cada quadro tenha suas especificidades, fatores como sedentarismo, tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, bem como a carência de medidas preventivas são contribuintes para tal incidência (Figura 3). De forma sucinta, cada um dos fatores de risco mencionados age da seguinte forma:

Sedentarismo: é reconhecido como um importante fator de risco, principalmente para os cânceres de intestino, mama e próstata (SABA, 2003). Sua relação com a oncogênese se dá pela maior concentração de insulina, fatores de crescimento liberados pelo tecido adiposo e quantidade de radicais livres presentes no organismo da pessoa sedentária. Da mesma forma, o excesso de peso se torna um fator de risco já que o excesso de gordura no corpo aumenta a produção de hormônios e provoca um processo inflamatório que pode danificar a célula.

Tabagismo: De acordo com o INCA (2017) a OMS considera o tabagismo uma doença, devido a dependência química que a nicotina ocasiona. Ainda que por si só, a nicotina não seja a causadora do câncer, ela participa da carcinogênese ao ser metabolizada pelo organismo, produzindo compostos químicos cancerígenos. Sabe-se que o tabaco apresenta cerca de 60 dessas substâncias nocivas.

Álcool: O álcool tem efeito cancerígeno sobre as células, isto ocorre quando o mesmo chega ao intestino e atua como solvente, favorecendo a entrada de substancias carcinogênicas. O etanol pode acarretar no desenvolvimento de cânceres de boca, faringe, laringe, esôfago, estômago, fígado, intestino e mama (INCA, 2017).

Outros fatores de risco podem ser citados, como os hábitos sexuais que podem levar a exposição ao papiloma vírus humano (HPV), agente diretamente ligado ao câncer de colo uterino; fatores ocupacionais, que são relacionados ao ambiente de trabalho como o amianto e agrotóxicos; exposição solar, tida como o principal fator de risco para câncer de pele; radiação, que causa vastos danos no DNA da célula e medicamentos, embora sejam poucos que induzam o aparecimento do câncer (INCA, 2017).

Fonte: INCA (2012)

Para Straub (2014), embora esses fatores aumentem a probabilidade de o indivíduo ser acometido pela doença, nem todos os expostos desenvolverão o câncer. Algumas pessoas poderão expor-se durante anos, a um ou mais agentes causais e nunca apresentarão quaisquer tipos de neoplasia.

O envelhecimento populacional do mesmo modo relaciona-se diretamente com o aumento no número de neoplasias malignas, visto que a população adquiriu maior longevidade quanto à expectativa de vida, contudo o processo de envelhecer nem sempre acontece de forma salutífera.

O Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2015, p. 26) evidencia que:

A estimativa para o Brasil, biênio 2016-2017, aponta a ocorrência de cerca de 600 mil casos novos de câncer. [...]. Sem contar os casos de câncer de pele não melanoma, os tipos mais frequentes em homens serão próstata (28,6%), pulmão (8,1%), intestino (7,8%), estômago (6,0%) e cavidade oral (5,2%). Nas mulheres, os cânceres de mama (28,1%), intestino (8,6%), colo do útero (7,9%), pulmão (5,3%) e estômago (3,7%) figurarão entre os principais.

3.2. PREVENÇÃO

De forma geral, a prevenção pode ser definida como um conjunto de medidas que visam um preparo antecipado para algo. Acerca do câncer, a prevenção é estabelecida por ações que reduzam seu risco, impactando diretamente na redução da mortalidade e incidência da doença, modificando deste modo, sua estimativa.

Embora seja evidente a importância de medidas que previnam o câncer, as primeiras iniciativas para o controle da doença datam do início do século XX, anteriormente, o foco principal era direcionado a diagnosticar e proceder ao tratamento (MALZYNER; CAPONERO, 2013).

Alguns pesquisadores afirmam que a prevenção do câncer pode ser programada e executada em qualquer fase da doença, ou antes mesmo do seu surgimento. Entretanto, outros apontam que a prevenção deve ser realizada antes do início do processo mórbido, com a finalidade de evitar o surgimento da doença. Os mesmos afirmam que uma vez que a doença se instale, o processo realizado a seguir não é considerado preventivo (TEIXEIRA et al.,1997).

Cestari e Zago (2005) contudo, ressaltam a dimensão do câncer como um problema de saúde pública, evidenciando que sua prevenção consiste em reduzir consideravelmente ou mesmo eliminar a exposição aos agentes carcinogênicos, além de minimizar os efeitos de tais agentes. Em oncologia, as medidas preventivas podem ser classificadas em primárias, secundárias e terciárias.

3.2.1. Prevenção Primária

A prevenção primária inclui um conjunto de medidas que visam evitar ou remover a exposição de um indivíduo a agentes causais antes que se desenvolva a patologia e, por conseguinte reduzir a incidência da doença. Perry e Potter (2014, p.76) alegam que: “A prevenção primária é a prevenção verdadeira, sendo que ela precede a doença ou disfunção e é aplicada a pacientes considerados física e emocionalmente saudáveis”.

Se tratando do câncer, as medidas preventivas têm caráter específico contra seus fatores de risco. Enquanto algumas medidas dependem somente do indivíduo, como por exemplo a alimentação saudável e a prática de atividades físicas, outras requerem intervenções em nível populacional através de medidas de promoção da saúde, como o Programa Nacional de Controle do Tabagismo. Por conseguinte, as medidas de proteção à saúde são destinadas a ações mais diretas, a vacinação contra o HPV é um exemplo (ALMEIDA, 2005).

3.2.2. Prevenção Secundária

O diagnóstico precoce e o tratamento das doenças pré-malignas caracterizam a prevenção secundária do câncer. Nesse caso, é realizado o ,prolongamento da prevenção primária, uma vez que a mesma não tenha alcançado sua meta; seu objetivo é diminuir a prevalência do câncer, impedido que haja progressão da doença.

Para alguns tipos de câncer enquadra-se o rastreamento (Figura 4), que atua na prevenção secundária através de medidas capazes de diagnosticar a doença em fase inicial ou mesmo antes de sua instalação.

Fonte: Guimarães e Chojniak (2015)

O termo rastreamento, derivado do inglês screening, vem da ideia de peneira[...] No rastreamento, exames ou testes são aplicados em pessoas sadias, o que implica, repetimos e enfatizamos, garantia de benefícios relevantes frente aos riscos e danos previsíveis e imprevisíveis da intervenção. Tanto o rastreamento como o diagnóstico podem usar vários métodos e exames (BRASIL, 2010, p.15).

Similarmente o diagnóstico precoce está compreendido na prevenção secundária e é de suma relevância, devido ao maior potencial de cura da doença em estágio inicial. Pode ser realizado segundo as manifestações clínicas iniciais do indivíduo, bem como por parte do rastreamento desde que existam lesões que poderão suceder ao câncer ou da doença já inicialmente diagnosticada (GUIMARÃES; CHOJNIAK, 2015).

3.2.3. Prevenção Terciária

Logo, a prevenção terciaria tem por finalidade tratar a doença já manifestada e reduzir os riscos de complicações, através de intervenções que melhorem a qualidade de vida do indivíduo acometido pelo câncer. Kovacs et al. (2008) ratifica que a prevenção terciária é estabelecida em função da falha de medidas de prevenção primária e secundária.

Nesse caso procede-se ao tratamento personalizado baseado nas características individuais já identificadas, a fim de estabelecer o desenvolvimento de melhores terapias e mais especificidade em relação ao paciente oncológico.

A prevenção terciária visa conjuntamente medidas que proporcionam a adaptação da pessoa em seu meio social, familiar, econômico e cultural, bem como, o empenho para que haja a cura da doença com ou sem sequelas, além de almejar o prolongamento da vida tendo por base o bem-estar global do indivíduo.

3.3. DIAGNÓSTICO

Assim como seus sintomas, o diagnóstico do câncer varia conforme o tipo e a localização do tumor já que o mesmo pode acometer qualquer tecido, órgão ou sistema do corpo humano (INCA, 2017).

O câncer é diagnosticado por meio de um processo abrangente, focado no rastreamento dos fatores de risco e na detecção da doença o mais precoce possível. Para isto, exames físicos detalhados são realizados, além de procedimentos que permitam melhor visualização da área acometida, como a mamografia no caso do câncer de mama.

Generalizando, os métodos comumente utilizados para o diagnóstico do câncer são:

Biópsia: Segundo Macías (2009) trata-se de um exame que remove uma amostra de tecido, para verificar a existência de células cancerígenas. A técnica utilizada depende do tipo de câncer, e segmenta-se em biópsia de aspiração, cujos fragmentos de tecido são aspirados através de uma agulha, e encaminhados a análise histopatológica; biópsia com agulha, na qual uma agulha é inserida no tecido suspeito, e assim como a biópsia de aspiração, uma pequena amostra de tecido é utilizada para diagnosticar a neoplasia (Figura 5). No entanto, são técnicas menos utilizadas por coletarem amostras muito pequenas para o diagnóstico, desfavorecendo sua precisão.

Fonte: Macias (2009)

Como métodos de biópsia cirúrgicos, compreendem-se a biópsia incisional e excisional. Kaduc et al. (2013, p.183) afirma que: “A biópsia é classificada em incisional ou excisional conforme se retira parte da lesão ou toda ela, respectivamente”.

Embora seja realizada na biópsia incisional (Figura 6) um pequeno corte fusiforme e retirada somente uma parte da lesão, ambas fornecem grande quantidade de tecido para realização de estudo histopatológico. Na biópsia excisional toda lesão é removida, podendo estender a incisão para outras áreas, quando há suspeita de agravos (AMATO, 2008).

Fonte: Macias (2009)

Marques (2016) afirma que além de diagnóstica, a biópsia cirúrgica tem finalidade de avaliar a resposta do organismo ao tratamento do câncer, ao se obter o tecido da área tratada previamente, realizando o estudo histopatológico que revelará a persistência da doença ou sua reincidência.

Ultrassom: O ultrassom associado a outros exames se caracteriza como primordial para diagnóstico de certos tipos de câncer, no entanto, é indicado somente nos estágios iniciais da doença, ou quando não houver possibilidade de outro exame por imagem (INCA, 2017).

Prentice (2014, p. 362) evidencia que:

O ultrassom diagnóstico é utilizado há mais de 50 anos para que se possa visualizar estruturas internas. [...] Com a redução nos custos do equipamento, melhoras significativas na resolução da imagem, imagem ultrassonográfica em tempo real e imagem anatômica detalhada, o ultrassom diagnóstico tem se expandido para várias práticas clínicas.

Tomografia computadorizada: É um exame não invasivo que combina equipamentos especiais de raios X com computadores programados para produzir imagens dos órgãos internos.

Conforme Stump, Mahan e Raymond (2015), a tomografia computadorizada é um procedimento radiográfico na qual imagens detalhadas do interior do corpo são obtidas a partir de vários ângulos. A partir dela, é possível avaliar anormalidades ocasionadas pelo tumor em regiões anatômicas como cabeça, peito, abdome e pelve. Além da visualização dos órgãos, a tomografia computadorizada permite que lesões e linfonodos sejam visualizados.

Ressonância magnética: Assim como a tomografia computadorizada, a ressonância magnética serve para visualização e avaliação de diferentes áreas do corpo humano e se tratando do câncer, permite uma excelente visualização da área acometida.

É possível definir a Ressonância Magnética como sendo um aparelho que conectado a um computador, que consegue fornecer “fotografias” tão nítidas do interior do corpo que permitem ter uma excelente visão dele. Ainda mais, pode virtualmente fatiá-lo e fornecer “fotografias” de cada uma dessas fatias. Assim, a ressonância magnética é sem dúvidas o mais moderno e o mais perfeito exame de diagnóstico por imagem, fornecendo imagens em alta definição dos órgãos internos do corpo através da utilização de um campo magnético. Ela consegue detectar anomalias que os exames anteriores não conseguiam, além de permitir a aquisição de imagens mais detalhadas que as que se consegue com outros métodos de exame (BRAGA, 2016, p.19).

Testes sanguíneos: Embora não apontem um diagnóstico definitivo, os exames de sangue revelam pistas que possam indicar uma condição cancerosa. Tais pistas são originadas através dos marcadores tumorais, que se definem por substâncias encontradas no sangue ou outros fluídos corpóreos, que em quantidades aumentadas, sugerem a ocorrência da neoplasia.

Os marcadores tumorais incluem enzimas, proteínas e peptídeos, que são secretados por tumores e antígenos. De acordo com Marshall, Bangert e Lapsley (2013) um marcador tumoral ideal, pode ser usado para rastreamento, diagnóstico, prognóstico, monitoramento do tratamento e acompanhamento do câncer. Embora alguns sejam confiáveis, o número de marcadores que realmente tem valor clínico para o diagnóstico do câncer, permanece baixo.

3.4. TRATAMENTO

Sendo diagnosticado o câncer, procede-se ao tratamento cujos principais tipos são: cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Apesar de atuarem de formas diferentes, os tratamentos podem ser combinados entre si e tem o objetivo de erradicar a doença, prolongar a vida e melhorar o bem-estar global da pessoa acometida. É de suma relevância conhecer a necessidade de cada indivíduo, com a finalidade de garantir que a terapêutica seja eficaz.

Para estabelecer um tratamento individual e integral ao paciente oncológico, é necessário conhecer previamente o estadiamento do câncer, ou seja, avaliar a doença segundo seu grau de disseminação. Para tanto, se utiliza o estadiamento TNM para classificar os tumores, onde (T) significa a extensão do tumor primário, (N) a extensão da metástase em linfonodos regionais e (M) a presença de metástase a distância. Já o estadiamento geral procura descrever a progressão do câncer (CAMPBELL, 2009).

Após ser diagnosticada a neoplasia e avaliado seu estadiamento, o tipo de tratamento é estabelecido de acordo com as particularidades e características de cada indivíduo.

3.4.1. Tratamentos Convencionais

A cirurgia continua sendo o principal tipo de tratamento inicial do câncer. Desde que haja o diagnóstico precoce, a remoção do tumor tende a gerar bons prognósticos (Ádamo, 2004). A cirurgia consiste na retirada do tumor por inteiro, isto significa que na maioria das vezes, o órgão acometido pelo câncer será retirado, ou sofrerá algum tipo de dano.

Comumente, a cirurgia é realizada em indivíduos com câncer de pele, estômago, intestino, útero, mamas e testículo, no entanto, pode ser realizada para remover outros tipos de cânceres, desde que os benefícios superem os potenciais riscos, ressaltando que a cirurgia se trata de um procedimento invasivo (SPEECKLEY; ROSENFIELD, 2000).

Além do tratamento cirúrgico curativo, uma outra modalidade de tratamento cirúrgico se aplica em oncologia, o tratamento cirúrgico paliativo. Neste caso, a finalidade do tratamento é reduzir a quantidade de células cancerígenas do organismo além de controlar os sintomas que comprometam a qualidade de vida do paciente (INCA, 2017).

A quimioterapia é um tipo de tratamento destinado a eliminar as células de rápido crescimento do organismo, interferindo na síntese do DNA e no processo de divisão celular, contudo, ela acaba afetando as células sadias do mesmo modo. Entre essas células estão as responsáveis pelo crescimento capilar, do trato digestivo, sangue, dentre outras. Devido a este fato, muitos indivíduos submetidos a quimioterapia, apresentam sinais e sintomas característicos do tratamento, dentre os mais comuns estão a alopecia, irritação gastrintestinal e feridas bucais (QUEIROZ, 2013).

Define-se quimioterapia como uma forma de tratamento sistêmico do câncer, que usa medicamentos denominados quimioterápicos, administrados continuamente ou com intervalos regulares, variando de acordo com o esquema terapêutico (BRASIL, 2016).

Queiroz (2013) reitera que o paciente recebe o medicamento de acordo com seu biótipo, sendo o tratamento realizado por ciclos de modo que as pausas permitam a recuperação do organismo. Geralmente a quimioterapia é combinada com outros tipos de tratamento, sendo realizada antes, durante ou após a cirurgia ou radioterapia.

Assim como a quimioterapia, a radioterapia tem por função a destruição das células que apresentam rápido crescimento, são utilizados raios X, raios gama e a radiação de partículas para destruir as células cancerígenas. A radioterapia se divide em duas classes; a radioterapia curativa, para curar e eliminar o tumor e a radioterapia paliativa, administrada para aliviar os sintomas causados pelo câncer (BONTRANGER; LAMPAGNAMO, 2015).

A radioterapia é realizada preferencialmente antes da cirurgia, a fim de reduzir o tamanho do tumor, porém torna-se igualmente efetiva se utilizada após o procedimento cirúrgico, destruindo possíveis células neoplásicas que não foram removidas do organismo (OLIVEIRA B., 2008).

Braquiterapia é um tipo de radioterapia interna e de curta distância que age diretamente dentro do tumor ou em sua proximidade. Por ser localizada, torna-se vantajosa, devido as elevadas doses de radiação liberadas sobre a área designada, além de sua precisão que evita a exposição de tecidos saudáveis aos raios (NANCY; TIMBY, 2005).

Malzyner e Caponero (2013) elucidam que a braquiterapia pode ser realizada através da inserção de material radioativo de fontes naturais, no interior do tumor ou em sua proximidade. Sua permanência no organismo pode ocorrer por longos períodos de tempo, bem como em ciclos reduzidos de tratamento.

Como as doses de radiação são localizadas, porém menores, a braquiterapia é usualmente utilizada após a radioterapia convencional. Ressalta-se que a braquiterapia divide-se em dois grupos, o primeiro é denominado braquiterapia intracavitária, e se constitui pela colocação da radiação próxima a localização do tumor; enquanto a braquiterapia intersticial é realizada a partir da aplicação de fontes radioativas diretamente no tecido (HOFFMAN et al., 2014).

Ainda que a cura não seja possível, o tratamento do paciente oncológico deve seguir enfatizando a preservação de seu estado psíquico e físico, sendo complementado se necessário, por terapias alternativas. Ademais, ainda que o tratamento chegue ao seu fim com sucesso, o acompanhamento clínico é relevante. O medo do retorno da doença e de prováveis sequelas, apontam a necessidade do apoio psico-oncológico ao paciente.

4. O CÂNCER DE MAMA E SEU IMPACTO

A neoplasia mamária assim como as demais neoplasias malignas, é desencadeada pelo crescimento desordenado das células, e como se pressupõe atinge as mamas. Segundo Swartz (2015) as glândulas mamárias são características peculiares dos mamíferos, e quanto a seu aspecto físico, apresentam forma cônica e são comumente assimétricas.

Santos (2017) afirma que as mamas se constituem por estruturas pares, localizadas na parte superior e anterior do tórax, compostas por um conjunto de glândulas, lobos e ductos. Além disso, são constituídas por tecido conjuntivo, vasos sanguíneos, fibras nervosas e vasos linfáticos; apresentam exteriormente aréola e mamilo (Figura 7). Orshan (2010, p.168) afirma que: “Mais de 50% de todos os cânceres de mama começam no quadrante superior e espalham-se para os gânglios linfáticos axilares”. Enquanto nas mulheres, as mamas são responsáveis pela lactação, nos homens, as mamas geralmente não se desenvolvem, e não apresentam função definida (DECHERNEY et al., 2016).

Fonte: Oliveira R. (2013)

No Brasil, o câncer de mama é o tipo de neoplasia maligna mais comum entre as mulheres e apesar de incomum, 1% dos casos diagnosticados destinam-se aos homens. De acordo com Abbas (2015) a patogenia dos tumores é semelhante em ambos os sexos. Tonini (2008) evidencia que apesar de sua alta incidência no sexo feminino, o câncer de mama constitui-se como um dos cânceres com melhores prognósticos, seja devido aos tratamentos que demasiadamente apresentam um bom resultado, ou devido à alta taxa de sobrevivência.

Swartz (2015, p. 416) todavia, contraria tal afirmação acerca do câncer de mama, alegando que:

[...] é um câncer com frequência, com mau prognóstico, e geralmente é associado a mutilação. Por essas razões, a paciente pode negar a presença das lesões e postergar a ida ao médico. Isso é lamentável, uma vez que o tratamento de muitos canceres de mama nos estágios iniciais pode ser curativo.

Apesar das discordâncias acerca de seu prognóstico, Carvalho G. (2004) ressalta que a alta incidência do câncer de mama, torna a neoplasia mamária a mais temida entre as mulheres. O medo da doença, a falta de informação, bem como a dificuldade de acesso a mesma, são grandes embates, uma vez que impossibilitam conter seu avanço.

4.1. INCIDÊNCIA DO CÂNCER DE MAMA

O câncer de mama esporádico (sem associação com hereditariedade) é responsável por mais de 90% dos casos de câncer de mama em todo o mundo. No início do século XXI, foi registrado um aumento de aproximadamente 3% do número de casos ao ano, porém anos depois, a incidência da doença começou a declinar levemente (TIEZZI, 2009).

Tal declínio pode ser explicado pela melhoria no rastreamento da doença. De maneira sucinta, o rastreamento do câncer de mama pode ser sintetizado como um conjunto de ações que permitem o diagnóstico da neoplasia em seu início ou na fase pré-maligna. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, o rastreamento do câncer de mama, demonstra uma eficácia de 25% a 30% na redução da incidência de mortalidade pela doença.

Ademais, a neoplasia maligna geralmente acomete mulheres após os 50 anos. Sendo assim, o rastreamento é focado no grupo de risco, ou seja, mulheres com essa faixa etária (INCA, 2017). Azevedo (2004) refere que raramente o câncer de mama atinge mulheres antes dos 35 anos, correspondendo somente a 2% dos casos da doença.

Segundo Townsend et al. (2014) devido a incidência do câncer de mama se relacionar diretamente com a idade, aproximadamente dois terços das mortes ocasionadas pela doença ocorrem em pacientes acima dos 65 anos. Em virtude do aumento da expectativa de vida, a incidência da doença tende a tornar-se ainda maior no decorrer dos próximos anos.

Ressalta-se que no Brasil no ano de 2016, foram estimados 57.960 novos casos da doença; quanto sua mortalidade, o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) registrou no ano de 2013, 14.388 mortes devido ao câncer de mama; destes, 14.206 eram mulheres e 181 homens (INCA, 2016).

4.2. FATORES DE RISCO

Tal como os demais tipos de cânceres, são vários os fatores que podem levar ao câncer de mama sejam estes mutáveis ou imutáveis. Devido a esta diversidade, muitas mulheres diagnosticadas com a doença não tem os fatores de risco que deram origem a patologia identificados. Snyder e Goodman (2009) afirmam que mais de 70% dos casos de câncer de mama não são explicados por fatores de risco pré-estabelecidos.

É notável que a ocorrência do câncer de mama no sexo feminino é drasticamente superior ao sexo masculino; desta forma, o gênero se caracteriza como principal fator de risco para desenvolvimento da patologia. O Instituto Nacional do Câncer refere que além do gênero, o envelhecimento constitui-se como um dos principais fatores de risco para o câncer de mama, em razão das inúmeras exposições sofridas ao longo dos anos, além das alterações biológicas sofridas pelo organismo em decorrência da idade (INCA, 2017).

Prevalentemente, o câncer de mama está ligado às agressões sofridas pelos genes que levam a alterações celulares; porém, uma pequena minoria está relacionada a predisposição genética, ou seja, mutações hereditárias nos genes BRCA1 e BRCA 2. Tais genes são classificados como supressores de tumor, por impedirem a formação de tumores, reparando as moléculas danificadas de DNA. Entretanto, ao sofrerem mutação a capacidade de proteção é perdida, tornando a mulher mais suscetível a desenvolver o câncer de mama. Os demais fatores de risco para o carcinoma de mama compreendem: história reprodutiva, fatores comportamentais e ambientais (ORSHAN, 2010).

Quanto à história reprodutiva, a menarca precoce, gravidez tardia, bem como a menopausa após os 55 anos, favorecem a maior exposição da mulher a hormônios, sobretudo ao estrogênio. Por se relacionar diretamente com o desenvolvimento feminino, quaisquer variações nos genes que regulam a síntese e metabolização dos receptores estrogênicos, acarretam em alterações no efeito dos mesmos sobre o tecido das mamas (SOUZA, 2014). Em decorrência disto, o estrogênio produzido pelo próprio organismo ou adquirido através de reposição hormonal, está associado a um risco aumentado de câncer de mama, diagnóstico tardio e maior incidência de mamografias anormais (KUMAR; ASTER; ABBAS, 2013).

Silva e Riul (2012) destacam que a amamentação, o uso de contraceptivos e a terapia de reposição hormonal não têm sua influência sobre o câncer confirmadas. Embora haja controvérsias, o uso de anticoncepcionais orais principalmente durante longos períodos é tido como fator de risco pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer e pela Organização Mundial da Saúde. Apesar de não estar relacionado com o surgimento do câncer de mama em si, os contraceptivos orais podem aumentar a probabilidade de ocorrência da doença, em determinadas mulheres (INCA, 2017).

Os fatores de risco comportamentais do câncer de mama são classificados como mutáveis e envolvem os hábitos de vida da mulher. Em relação a tais fatores se sobressaem a obesidade, que leva ao aumento do nível de estrogênio no tecido adiposo; o uso de substâncias alcoólicas acima de 60g por dia, pois alguns dos metabólitos do álcool contribuem com a carcinogênese, estimulam a produção de estrogênio e levam a imunodepressão. O tabagismo que possuía influência controversa quanto ao câncer de mama, é reconhecido atualmente como agente carcinogênico com limitada evidencia (SILVA; RIUL, 2012).

Quanto ao risco ambiental a radiação ionizante é o principal agente causal. Conforme o Instituto Nacional do Câncer, quanto maior a dose de radiação a que se expõe a mulher ou sua frequência, maiores serão os riscos. Deste modo, mulheres que receberam altas doses num curto período, são tão suscetíveis ao câncer de mama quanto as que receberam poucas doses numa frequência maior (INCA, 2017).

Chabner e Longo (2015, p. 2225) reforçam tal assertiva:

O fator de risco ambiental mais contundente para câncer de mama é a radiação ionizante. Doses moderadas a altas de radiação ionizante no tórax na juventude, como nos casos de tratamento de doença de Hodgkin, implicam risco significativo de câncer de mama mais tarde na vida; O risco é máximo nas pacientes expostas na fase pré-puberal ou na puberdade.

4.3. DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Sabe-se que quanto antes o câncer for diagnosticado, mais bem-sucedido será o seu tratamento e prognóstico; porém, diagnosticar o câncer de mama de maneira precoce caracteriza-se um grande dilema.

Este atraso no diagnóstico, pode ser explicado pela demora da mulher em procurar os serviços de saúde ao surgirem os primeiros sinais e sintomas característicos da doença; ou mesmo, por não possuírem esclarecimento suficiente para realização dos exames preventivos. Portanto, os fatores socioeconômicos e geográficos relacionam-se diretamente com o diagnóstico da doença, visto que o déficit de conhecimento sobre suas próprias mamas e a falta de acesso aos métodos de detecção levam ao diagnóstico tardio (MALZYNER; CAPONERO, 2013).

Silva e Riul (2012, p.1017) fazem a seguinte afirmação:

O controle dessa doença se dá através da detecção precoce, na qual a lesão se restringe ao parênquima mamário, com um tamanho de no máximo três centímetros, permitindo o uso de recursos terapêuticos menos mutiladores e maior possibilidade de cura. Os meios mais eficazes para a detecção precoce de câncer de mama são o exame clínico de mamas (ECM) e a mamografia, pois o autoexame das mamas (AEM) detecta a doença geralmente em estádio avançado, sendo responsável por cerca de 80% das descobertas de cânceres de mama.

Nota-se então a complexidade de diagnosticar o câncer de mama precocemente. Conforme o INCA (2017), o autoexame das mamas surgiu na década de 1950 com a finalidade de diminuir os diagnósticos tardios de câncer de mama. No entanto, atualmente o autoexame é implantado como método para identificar possíveis alterações, mas que por si só não garante um diagnóstico fidedigno e precoce do câncer de mama, pois quando a mulher nota alguma deformidade que possa ser indício do câncer, este pode estar em estágio avançado por já ser facilmente palpável.

Apesar de ter sido recomendado durante muitos anos, atualmente existem controvérsias a respeito do autoexame das mamas. Swartz (2015) defende que o conceito de autoexame mensal das mamas, foi substituído por “autoconsciência das mamas”, na qual as mulheres não necessitam de técnicas especiais e rotineiras para realização do exame e sim, de orientações que as façam ter conhecimento de suas mamas para notarem quaisquer anomalias.

A recomendação do Instituto Nacional do Câncer é de que a mulher realize a auto palpação sempre que se sentir confortável, sem necessidade de técnica específica, a fim de detectar pequenas alterações na mama casualmente. Para tanto, é necessário que a mulher obtenha esclarecimento médico logo que perceba quaisquer anomalias. Além do mais, tal estratégia mostra-se mais eficiente do que o autoexame das mamas (INCA, 2017).

Atualmente para diagnosticar precocemente o câncer de mama, é recomendado o rastreamento da doença. O rastreamento abrange medidas voltadas as mulheres com o objetivo de garantir um melhor prognóstico da doença, além de reduzir a mortalidade pela mesma. A faixa etária priorizada para o rastreamento segundo a portaria nº 61/2015 do Ministério da Saúde vai dos 50 aos 69 anos, e tem garantido a maior eficiência do exame e a diminuição da incidência do câncer, em outras faixas etárias a eficácia do rastreamento não foi comprovada (BRASIL, 2015).

Segundo Hurt et al. (2016) na maioria dos casos, o rastreamento é realizado em mulheres saudáveis que não apresentam sinais e sintomas; para tal, as mesmas são submetidas a mamografia, que é definida como um exame por imagem que diminui consideravelmente a mortalidade por câncer de mama. De acordo com Decherney et al. (2016, p.128): “Alguns cânceres de mama podem ser identificados por mamografia até dois anos antes de atingir um tamanho detectável por palpação”.

No Brasil, recomenda-se a realização da mamografia de rastreamento a cada dois anos e em virtude disso, os cânceres diagnosticados são geralmente menores e com características mais favoráveis ao tratamento. Além de proporcionar o rastreamento das mulheres assintomáticas, a mamografia serve para o acompanhamento de mulheres sintomáticas, avaliação diagnóstica e para monitoramento do grupo de risco (DECHERNEY et al., 2016).

O resultado da mamografia conta com a descrição da composição das mamas além de seus achados anormais, entretanto, diversas condutas eram utilizadas e aceitas. Em decorrência, surgiu a necessidade de padronizar o laudo mamográfico com uma linguagem universal e facilitadora das ações a serem seguidas, para tanto, foi criado o sistema de classificação BI-RADS (MARQUES, 2016).

Biazús, Mello e Zucatto (2009), salientam que a classificação BI-RADS busca associar as anormalidades encontradas na mamografia com a probabilidade de malignidade, estabelecendo desta forma, a conduta adequada a ser implantada (Figura 8). Townsend et al. (2014) afirma que essa classificação permite sobretudo, que a malignidade da doença seja determinada sem a ocorrência de biópsias desnecessárias.

Fonte: Borges et al. (2016)

Além da mamografia de rastreamento, uma outra modalidade de mamografia tem grande valia e é denominada mamografia diagnóstica. Enquanto a mamografia de rastreamento tem a finalidade de diagnosticar precocemente a doença, o propósito da mamografia diagnóstica é estabelecer a localização e magnitude do tumor, após o achado anormal nas mamas (HURT et al., 2016).

Apesar de não serem utilizado tanto quanto a mamografia, exames como a ultrassonografia e ressonância magnética são outras modalidades de rastreamento do câncer de mama. Quanto a ultrassonografia mamária, Vasconcelos et al. (2011) afirma que se trata de um método sem contraindicação que permite a avaliação das mamas durante a gravidez, caso haja impossibilidade de realização da mamografia, além do acompanhamento de nódulos benignos. Através da ultrassonografia é possível obter imagens de alta qualidade das mamas, além de monitorar os procedimentos invasivos para diagnóstico de lesões.

Nascimento, Pitta e Rego (2015) descrevem que a ressonância magnética é eficaz na diferenciação entre os tumores benignos e malignos das mamas, além de mostrar com precisão a localização do tumor e as lesões não detectáveis pela mamografia. Em decorrência disto, a ressonância tem boa funcionalidade quanto ao grupo de risco, uma vez que em decorrência da idade há maior concentração de tecido mamário, mas as alterações são facilmente detectáveis pela ressonância. Entretanto, por mostrarem tão detalhadamente as mamas, a ressonância pode diagnosticar alguns casos falso-positivos.

Ademais, destaca-se outra estratégia para rastreamento do câncer de mama, denominada ECM (exame clínico das mamas). O ECM pode ser descrito suscintamente como um exame realizado por um profissional qualificado, na qual as mamas são inspecionadas visualmente e palpadas. O Instituto Nacional do Câncer refere que o ECM não é tão específico e seguro quanto a mamografia, por esta razão, são poucos os países em uso do rastreamento, a adotar tal técnica (INCA, 2014).

Silva e Riul (2011) afirmam no entanto, que o ECM faz parte do atendimento integral à mulher, portanto deve ser realizado em todas as mulheres independente da faixa etária, sendo inserido no exame físico e ginecológico das mesmas. Apesar do rastreamento do câncer de mama ser algo complexo, suas principais funções vão desde definir o público alvo, a diagnosticar as lesões suspeitas para proceder ao tratamento (Figura 9). Sendo assim, ações para controle dos exames periódicos bem como a busca pela população alvo, garantem uma abrangência maior ao respectivo público.

Fonte: INCA (2012)

As mamas femininas têm por principal função a lactação, e além de serem relevantes quanto sua funcionalidade, relacionam-se com a própria imagem corporal da mulher. Por serem tão associadas a estética feminina, o tratamento do câncer de mama deve ser estabelecido para além da doença e do bem-estar físico da mulher, abrangendo e preservando sua saúde emocional.

Todavia, para que o tratamento do carcinoma de mama tenha início e seja eficaz deve ser estabelecido o estadiamento tumoral que se caracteriza por um sistema complexo que sofreu diversas modificações nos últimos 20 anos, denominado TNM. Esse sistema de estadiamento exerce grande influência sobre a terapêutica e o prognóstico do câncer de mama (CHABNER; LONGO, 2015).

O Instituto Nacional do Câncer menciona que o estadiamento do câncer foi estabelecido pela União Internacional Contra o Câncer (UICC) e quanto ao carcinoma de mama, as classificações são as seguintes: (T) considera o tamanho tumoral; (N) o comprometimento dos gânglios linfáticos regionais e (M) as metástases (INCA, 2017). Costa (2014, p.1) afirma que: “Cada categoria apresenta diversas subcategorias: para o tumor primitivo, vão de T1 a T4; para o acometimento linfático, de N0 a N3; e para as metástases, de M0 a M1”. Sabe-se, que esse sistema avalia a extensão da doença assim sendo, quanto mais alta a classificação TNM, maior será o estadiamento do câncer de mama.

Opperman (2014) destaca que no estágio I do câncer de mama, o tumor tem tamanho até 2 cm e não há o comprometimento de nódulos axilares; já no estágio II o tamanho do tumor varia de 2 cm a 5 cm, com ou sem comprometimento dos nódulos; no estágio III o tumor não tem tamanho definido mas há comprometimento nodular, enquanto no IV estágio há presença de metástases.

Ao ser estabelecido o estágio do câncer de mama, procede-se ao tratamento. Decherney et al. (2016) afirma que todo tratamento oncológico pode ser classificado como palpativo ou curativo. Enquanto o tratamento palpativo é empregado nos casos em que o estadiamento da doença está avançado, ou em pacientes que já foram tratados, mas desenvolveram metástases; o tratamento curativo é indicado nos casos iniciais da doença ou quando ela está localmente avançada, sem desenvolvimento de metástase.

O tratamento do câncer de mama pode ser dividido em duas modalidades: local e sistêmico. O tratamento local é composto pela cirurgia e radioterapia, enquanto o tratamento sistêmico é composto por quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica. Contudo, cada tipo de tratamento tem uma ação específica, e será indicado de acordo com características biológicas do câncer e necessidades de cada mulher. Podemos afirmar assim, que para o tratamento do câncer de mama ser eficiente, deve ser sobretudo individualizado (INCA, 2016).

4.3.1. Tratamento Local

A cirurgia no tratamento do câncer de mama é um método corriqueiro, cujo principal objetivo é remover o tumor, sendo esta técnica de grande eficácia caso não ocorram metástases. Apesar do tratamento cirúrgico atual ser oncologicamente eficaz, anteriormente era algo grosseiro e com muita perda de sangue, em decorrência disto, o índice de infecção e de mortalidade pós-operatória era alto (MATTOS; NETTO, 2016).

Na maioria dos casos, as opções cirúrgicas disponíveis são a mastectomia e a cirurgia conservadora das mamas. O critério para escolha do tratamento, tem por base o tamanho do tumor, perfil genético da mulher e patologias correlacionadas ao tumor maligno (DELANEY, 2016).

A mastectomia se caracteriza pela retirada do tumor associada ou não a remoção dos gânglios linfáticos da axila e tecidos adjacentes, acarretando na perda parcial ou total da mama (INCA, 2017). Os avanços tecnológicos, entretanto, permitiram a criação de métodos menos mutilantes e em decorrência disto, originaram-se vários tipos de mastectomia. Como Delaney (2016) alega, esses procedimentos incluem as mastectomias: parcial, simples ou total, radical e poupadora de pele.

Mastectomia parcial: A mastectomia parcial ou quadrantectomia, trata-se de uma cirurgia na qual é realizada a remoção da área da mama em que o tumor se alojou (HANSEN; LAMBERT, 2015). A lumpectomia é um tipo de mastectomia parcial, e nesse caso, há remoção do tumor, e margens de tecido normal ao redor dele, além dos linfonodos axilares caso ocorra necessidade (VASCONCELOS; RIBEIRO; TORRES, 2012).

A cirurgia conservadora das mamas é definida como uma lumpectomia, autores como Delaney (2016) e Grotting (2015) salientam que a mesma se trata de uma mastectomia parcial das mamas. Lewis et al. (2013) afirma que após a remoção de todo o tumor e sua margem circundante, a radioterapia é administrada e caso o risco de recorrência da doença continue alto, emprega-se a quimioterapia antes da radioterapia.

Tal cirurgia consolidou-se ao demonstrar que se os critérios para realização do tratamento forem respeitados, a sobrevida da paciente submetida a cirurgia conservadora, equivale a de tratamentos cirúrgicos radicais (BIAZUS; MELLO; ZUCATTO, 2009).

Os critérios para realização da cirurgia conservadora, incluem as mulheres em estágio I ou II da doença, já que nesses casos o câncer está em estágio inicial, não se disseminou até os linfonodos, ou atingiu somente alguns. Além do mais, tumores muito grandes em relação às mamas e localizados centralmente e próximos ao mamilo, são contraindicações da cirurgia. Ressalta-se que a cirurgia só é realizada, caso a radioterapia possa ser empregada, pois a mesma a complementa (SHARON et al., 2013).

Apesar de ser um tratamento conservador, os resultados estéticos posteriores à cirurgia podem ser insatisfatórios, geralmente devido a forma e o tamanho da mama, localização do tumor e a radioterapia pós-operatória. Nestes casos, é indicada a reconstrução parcial das mamas, com a finalidade de corrigir o resultado estético não satisfatório (GROTTING, 2015).

Mastectomia simples ou total: De acordo com Azevedo (2004) na mastectomia simples é realizada a remoção de toda glândula mamária, incluindo aréola e mamilo, porém, tenta se preservar a maior quantidade de pele possível com a finalidade de realizar a reconstrução das mamas.

Mastectomia radical: Nesta técnica de mastectomia, há remoção de todo tecido mamário, glândulas axilares e os músculos peitorais maiores. Por se tratar de um procedimento muito invasivo, atualmente é preconizada a mastectomia radical modificada. Ainda que o tecido mamário, glândulas axilares e alguns músculos do peito sejam removidos, nesse tipo de mastectomia os músculos peitorais maiores são preservados (LEIFER, 2014).

Mastectomia poupadora de pele: O tecido mamário é removido, bem como as cicatrizes de biópsias anteriores, mamilo e aréola. Esta técnica é empregada com fins estéticos em mulheres que aguardam a reconstrução das mamas (TOWNSEND; EVERS, 2011).

Outro método de tratamento local do câncer de mama é a radioterapia, que consiste no uso da radiação para eliminar as células cancerígenas, atuando através de equipamentos e técnicas, além de irradiar somente as áreas demarcadas do organismo (INCA, 2012). De acordo com Hoffman et al. (2014) o objetivo da radioterapia, é eliminar todo o tumor seja ele local ou regional e reduzir o risco de recorrência da doença.

Quanto ao câncer de mama, a radioterapia pode ser utilizada como tratamento primário, com a finalidade de evitar a recorrência do câncer após a cirurgia conservadora das mamas, ou como tratamento adjuvante após a mastectomia, para impedir recorrências locais e de nódulos (SHARON et al., 2013).

4.3.2. Tratamento Sistêmico

Ao contrário do tratamento local que atua numa área específica, no tratamento sistêmico a medicação circula na corrente sanguínea para atingir e destruir as células cancerosas, tanto nas mamas como em outras áreas do corpo. Algumas vezes o tratamento sistêmico é utilizado para reduzir o tamanho do tumor, antes do tratamento local. As modalidades de tratamento local se caracterizam pela hormonioterapia, quimioterapia e terapia biológica (SCHWANKE; SCHENEIDER, 2016).

Sabiston e Beuchamp (2005) afirmam que a principal causa de morte devido ao câncer de mama se dá pela doença metastática, com isso houve a necessidade de procedimentos mais específicos garantindo uma abordagem sistêmica.

De acordo com Borges et al., (2016) a hormonioterapia é um tratamento sistêmico que utiliza fármacos para bloquear a ação de hormônios que estimulam o crescimento do câncer, utilizada sempre que os tumores apresentam receptores hormonais. Esse recurso terapêutico apresenta grande relevância no tratamento do câncer de mama, visto que o estrogênio é um dos fatores de risco para tal. Além de bloquear ou diminuir os receptores de estrogênio e progesterona evitando o crescimento do tumor maligno, a terapia hormonal pode ser empregada para evitar a recidiva do câncer de mama (DECHERNEY et al., 2016).

Já a quimioterapia atua através de compostos químicos antineoplásicos sobre as células malignas, porém devido a toxicidade do tratamento, as células normais também são afetadas mesmo que em menor dimensão. Segundo Irwin (2011) a necessidade da quimioterapia no câncer de mama depende das características do tumor, sendo recomendada para mulheres com tumores positivos para nódulos e não recomendada para grandes tumores e outros aspectos desfavoráveis. Geralmente, a quimioterapia é aplicada como tratamento adjuvante após a cirurgia radical ou a radioterapia, o principal objetivo do tratamento combinado é destruir micrometástases distantes do tumor primário, acarretando então, um aumento na probabilidade de cura.

Quanto a terapia biológica, seu papel é estimular o organismo a produzir suas próprias defesas contra o câncer de mama. De acordo com Orshan (2010) a terapia biológica fortalece o sistema imunológico para combater as infecções e o câncer de mama. Como alguns dos trataments do câncer de mama tendem a deixar o organismo vulnerável, a terapia biológica diminui esse efeito danoso. A eritropoetina e o filgrastim são exemplos de medicamentos utilizados na terapia biológica, enquanto a eritropoetina aumenta a quantidade de hemácias, melhorando a anemia, o filgrastim estimula a formação de leucócitos, diminuindo a imunossupressão (MALZYNER; CAPONERO, 2013).

4.4. PROGNÓSTICO

O prognóstico das pacientes com câncer de mama é estimado pela avaliação da extensão da doença, verificando desta forma se os linfonodos axilares foram atingidos ou mesmo a existência de metástases. O Instituto Nacional do câncer afirma que as características do tumor bem como o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, influenciam diretamente o prognóstico do câncer de mama (INCA, 2017).

Stafin (2012, p. 193) afirma que:

O câncer de mama apresenta uma grande variabilidade em seu prognóstico, sendo de grande importância o estudo dos fatores que podem contribuir para a sua determinação. O fator prognóstico consiste em um marcador associado à sobrevida global, o qual permite indicar como se desenvolverá o curso clínico da paciente.

Apesar de não serem completamente compreendidos, diversos fatores impactam o prognóstico da doença, destacam-se como estes fatores a idade em que a mulher foi diagnosticada com o câncer, além dos fatores socioeconômicos.

Quanto a idade do diagnóstico, menciona-se o fato de que quando mulheres abaixo dos 35 anos são diagnosticadas, a doença geralmente apresenta grau histológico mais alto do que em idosas, em razão das mesmas não realizarem o mesmo acompanhamento do grupo considerado de risco. Em relação aos fatores socioeconômicos, estudos mostram que mulheres socialmente vulneráveis, tendem a serem diagnosticadas em estágio mais avançado da doença, acarretando então, num mau prognóstico da doença (SALES, 2015).

4.5. A MULHER E O CÂNCER DE MAMA

As consequências do câncer de mama vão além dos abalos físicos para a mulher, envolvendo os fatores psicossociais desde o diagnóstico da doença até seu tratamento. Além disso, pelas mamas se relacionarem diretamente com a feminilidade e sexualidade da mulher, o câncer causa grande impacto na autoestima, autoimagem e nas relações interpessoais da paciente.

Apesar de atualmente o espaço da mulher na sociedade ter aumentado, sua representatividade ainda se encontra amplamente ligada a imagem corporal. Devido aos padrões corporais ditados pela sociedade, ocorre então uma grande frustração ao não alcançarem o estereótipo idealizado. Conforme Ambrósio e Santos (2011, p. 475): “Viver com uma doença como o câncer de mama é experienciado como necessidade de conviver com uma enfermidade estigmatizante, que desperta sentimentos negativos e preconceitos”.

Swartz (2015) afirma que o medo do câncer de mama é duplo, uma vez que existem receios quanto o prognóstico da doença e o medo da mutilação. Entretanto, com o objetivo de garantir um tratamento mais abrangente a essas mulheres, pesquisas sobre as medidas de qualidade de vida relacionadas a saúde têm sido enfatizadas (LOTTI et al., 2008).

Tais medidas têm por função avaliar os impactos da doença fisicamente, psicologicamente e psicossocialmente, avaliando ainda os aspectos sociais e familiares em que a mulher está inserida, à fim de garantir um apoio integral e singular, que será empregado de acordo com as necessidades de cada mulher, visto que muitas enfrentam a ansiedade e a depressão ao longo do tratamento.

Perry e Potter (2014) afirmam que o medo de recidiva da doença é algo corriqueiro entre os sobreviventes ao câncer, além disso, o impacto social é um grande embate. Devido ao fato do câncer de mama ser visto como algo mutilante, muitas mulheres ficam receosas quanto seus relacionamentos, além de se sentirem incapacitadas para exercerem ocupações prévias, como trabalhar já que procedimentos como a mastectomia, podem acarretar em dificuldades para levantar peso e má tolerância ao esforço (DOHERTY; WAY, 2017).

Entretanto, é preconizado que toda paciente submetida a retirada total ou parcial das mamas em decorrência do tratamento, tenha direito a realização da cirurgia reparadora. A Lei (12802/13) dispõe sobre a obrigatoriedade da cirurgia plástica reparadora de mama, estabelecendo que tanto o Sistema Único de Saúde, como os planos de saúde particulares, são obrigados a realizá-la (CAMARA; VESTA, 2013).

Na maioria das vezes, a cirurgia de reconstrução mamária é realizada logo após o procedimento de retirada das mamas, mas havendo impossibilidade de realiza-la imediatamente, é estabelecido o momento oportuno para tal. Pacientes com tumores localmente avançados não são submetidas ao procedimento imediato, já que necessitam de quimioterapia e radioterapia após a mastectomia.

Ainda que a cirurgia reconstrutora seja realizada, a mulher continuará necessitando de apoio emocional, visto que o inchaço das mamas, a presença de drenos e seu aspecto, demandarão que a mulher se acostume ao momento inicialmente árduo, devendo ser orientada ao exercício contínuo de olhar para si própria (LOWDERMILK; PERRY, 2013).

5. HUMANIZAÇÃO NO CUIDADO AO PACIENTE ONCOLÓGICO

5.1. HUMANIZAÇÃO NA SAÚDE

Assim como cada doença é singular cada pessoa é única, e desta forma o cuidado integral constitui-se como poderosa ferramenta na assistência de enfermagem. Nesse contexto é inserida a humanização, que pode ser descrita na área da saúde como um conjunto de condutas que visam não somente a cura de enfermidades, mas a garantia de uma vida plena.

Para compreender a humanização da saúde, é necessário que se saiba que o processo se originou do humanismo, uma corrente filosófica focada no ser humano e seus valores acima de todas as outras coisas. Ao contrário do que se pode pensar, o humanismo não é um processo que surgiu recentemente, na antiguidade grega pensadores como Protágoras e Sócrates já se preocupavam com as questões humanistas (MELLO, 2008).

O conceito de humanização é variável, entretanto, é inegável que no que se refere à saúde humana; visa a prestação da assistência de qualidade, garantindo seu recebimento de forma ideal. Quanto ao conceito de saúde, a OMS estabelece que a mesma não é vista somente como a ausência de enfermidades, e sim, um estado satisfatório em que o indivíduo apresenta-se bem fisicamente, mentalmente, socialmente e espiritualmente (MORENO, 2016).

Porém, embora o tema humanização e sua concepção sejam abordados frequentemente, há relutância por parte de alguns profissionais da saúde quanto ao mesmo, ao afirmarem que a humanização é algo inseparável ao homem, sendo praticada por qualquer indivíduo prestador de cuidados ao ser humano (MELLO, 2008).

De acordo com Gondim e Andrade (2014, p. 62):

Em um sentido, humanizar implica reduzir as inequidades em saúde, o que implica, entre alguns aspectos, compreender o significado da saúde relacionado à esfera do bem-estar subjetivo e à qualidade de vida. Tal entendimento sugere uma articulação entre dimensões da saúde (estar livre de doenças, funcionamento normal do organismo) com componentes da qualidade de vida[...]. Na esfera da atenção em saúde, humanização implica também na qualidade dos cuidados, a partir dos serviços públicos disponíveis aos cidadãos, sendo relevante indicador para a satisfação dos pacientes, conforme diversos estudos apontam.

Em âmbito Nacional, foram criados alguns programas focados na humanização da saúde, para melhorar a comunicação entre o usuário e os profissionais, sanar dúvidas e reduzir possíveis empecilhos, além de considerar que a inclusão da família do usuário durante o processo é de grande relevância, visto a delicadeza do momento (PESSINI; BERTACHINI, 2004).

Todavia, observa-se que para a ocorrência da humanização é necessário sobretudo, que haja acolhimento. De acordo com Reis (2013) o acolhimento não deve ser visto como um favor ao paciente e sim, encarado como forma de se estabelecer vínculo entre ele e o profissional, gerar confiança e assegurar que a busca pela melhoria da saúde do indivíduo enfermo seja incessante.

O acolhimento é uma das diretrizes estabelecidas pela Política Nacional de Humanização (PNH) que foi fundada em 2003, com a finalidade de garantir e tornar efetivo os princípios do SUS na atenção e gestão da saúde pública em âmbito nacional. De acordo com essa diretriz, o acolhimento não se caracteriza por uma regra exercida por determinada pessoa em um determinado local, mas por uma conduta ética que permite ao usuário demonstrar suas queixas e ser considerado como protagonista no restabelecimento de sua própria saúde (BRASIL, 2008).

Segundo Deslandes (2006, p. 26):

Na área da saúde, na atualidade, o termo “humanismo” entrou para a pauta de prioridades como política, como proposta, como debate, como tema de pesquisa e por meio do vocábulo “humanização”. Humanização do setor da Saúde significa um movimento instituinte do cuidado e da valorização da intersubjetividade nas relações.

Humanizar a saúde permite fortalecer as relações interpessoais, impactando claramente na melhoria do estado geral do indivíduo enfermo. Ademais, o cuidado humanizado permite um atendimento integral, empoderando o paciente para que seja desenvolvida no mesmo a capacidade de superar a doença (GONDIM; ANDRADE, 2014).

5.2. HUMANIZAÇÃO NA ENFERMAGEM

A enfermagem é uma profissão focada no bem-estar global do paciente, visando a promoção, manutenção e a restauração de sua saúde. E para que isso ocorra, o enfermeiro deve sobretudo entender todo o processo saúde/doença com a finalidade de estabelecer uma conduta funcional, que no início da história da enfermagem baseou-se no cuidado como forma de caridade.

Flero e Carraro (2013) afirmam que Florence Nightingale (Figura 10) instituía o cuidado como fundamental para a enfermagem, pois além das práticas como observação e o pensamento crítico, baseava-se no carinho, compaixão e acima de tudo, no respeito ao ser humano. Perry e Potter (2014) reiteram que desde o tempo de Florence, a enfermagem dispõe de uma variada gama para prestação de cuidados ao paciente, porém a falta de organização desses cuidados influencia nos resultados ao cliente.

Fonte: Taylor et al. (2014)

Em 1930, o modelo imposto por Florence Nightingale que estabelecia o cuidado integral ao paciente desapareceu e voltou a tornar-se popular entre 1970 e 1980 graças ao aumento no número de enfermeiros (PERRY; POTTER, 2014).

Já na década de 70, a enfermeira Wanda Aguiar Horta importando-se similarmente com as questões humanistas, criou um modelo assistencialista que permitia o autocuidado do paciente sem que o mesmo fosse negligenciado ou ficasse sem o auxílio necessário (BRITO; CARVALHO, 2010).

Conforme Almeida et al. (2011), Wanda Horta elaborou a Teoria das Necessidades Humanas Básicas que considerou que a enfermagem compreendia o estudo das necessidades humanas de forma preventiva, curativa e reabilitadora da saúde, garantindo simultaneamente a unicidade, autenticidade e individualidade do paciente. Por conseguinte, a assistência era prestada considerando o sujeito como um todo, e visava o autocuidado do ser humano em si e não de sua doença caracterizando um cuidado holístico para recuperar, manter e promover a saúde.

Inúmeras outras teorias e modelos assistencialistas foram desenvolvidos e continuam a desenvolverem-se, e de forma maioritária são baseados no homem como ser holístico, ou seja, abordam o ser humano em sua totalidade. A enfermagem também deve cuidar para que se estabeleça a melhor qualidade de atendimento possível, embora na prática, infelizmente, o indivíduo ainda seja visto de forma fragmentada como se fosse somente um corpo com seus variados órgãos, e tenha suas opiniões, pensamentos e sentimentos menosprezados.

O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) através da resolução nº 423/2012 considerou que dentre outras atribuições, compete aos profissionais de enfermagem o acolhimento ao paciente, objetivando um atendimento específico e efetivo (COFEN, 2012). Costa, Garcia e Toledo (2016, p. 2) fazem a seguinte afirmação quanto ao acolhimento realizado pelo enfermeiro:

Compreender a enfermagem como uma prática social, significa ultrapassar a perspectiva técnico-operativa e reconhecê-la como uma das muitas práticas da sociedade, que tem como produto final o cuidado de enfermagem em relação à pessoa. Além de o enfermeiro ser capaz de compreender o indivíduo como um ser singular, é reconhecido pela capacidade de acolher as necessidades e expectativas dos usuários. [...]. Ao ouvir o usuário, os profissionais terão melhora na relação e desenvolvimento de uma parceria mais colaborativa.

Para que possa realizar o acolhimento, o enfermeiro deve primeiramente estabelecer vínculo com o paciente, algo pouco complexo e que gera diversos benefícios durante a prestação de sua assistência. Para tal, faz-se necessário que o profissional seja um exímio ouvinte, visto que por mais simples que pareçam, os relatos do enfermo podem influenciar consideravelmente no curso provável da doença, além de estabelecer vínculo com o cliente e sua família, oferecendo o apoio e conforto de que necessitam.

5.3. A ÉTICA NO CUIDAR EM ENFERMAGEM

Exercer a enfermagem exige que os profissionais sejam comprometidos com o cuidado e para isto, suas tarefas devem se basear numa assistência humanizada e sobretudo ética. A ética na enfermagem é caracterizada pelo senso moral do enfermeiro, no cuidado ao paciente e sua vida em quaisquer segmentos, advindo da prática profissional de acordo com os direitos humanos (MENDES, 2009).

Desde a sua origem, a enfermagem tem compreendido e sustentado o cuidado como valor e prática. Assim, o resgate da ética do cuidado é fundamental para o respeito e a valorização do outro em sua complexidade. Estreitamente ligada às terminologias da área da saúde, cuidado, em latim, significa cura. Trata-se de uma atitude fundamental, um modo de ser, no qual a pessoa sai de si e se volta para o outro, visando proteger, promover e preservar a vida, independentemente de circunstâncias internas ou externas (GOMES et al., 2010, p.156).

Ao lidar com uma pessoa enferma, devem ser estabelecidos princípios para que o tratamento seja realizado com responsabilidade e a integridade física, emocional e moral do paciente seja preservada. Segundo Silva e Devezas (2009) por relacionar-se diretamente com o paciente, o enfermeiro deve fazer dessa aproximação uma oportunidade para fortalecer a relação interpessoal de maneira ética, visto que a mesma é tão importante quanto o pensamento crítico.

Realizar um cuidado ético, implica benefícios não somente ao paciente, mas também ao profissional, pois torna-o seguro para exercer as atividades que lhe cabem, o que consequentemente implica em sua autopreservação. É por meio da ética que a dignidade passa a ser implantada como um princípio assistencialista, indo além do referencial teórico, além do mais, a ética proporciona que se descubra quem o enfermeiro é e o quão seus atos e ações são influentes (PUGGINA; SILVA, 2009).

Rosentock et al., 2011 p.728 destaca que:

O trabalho de Enfermagem tem se diversificado, indo desde o cuidado, seja do indivíduo, família e grupo da comunidade, passando pelas ações educativas, pesquisas, administrativas, até a participação no planejamento em saúde. [..] Surgem, junto com este avanço, os problemas éticos relativos ao desempenho da profissão de Enfermagem, sendo necessário que esse profissional tome conhecimento de seus direitos e deveres éticos e legais, ampliando, assim, a segurança em suas ações e a possibilidade de estar exercendo as suas atividades dentro daquilo que lhe cabe, evitando possíveis complicações legais posteriores.

Valores sempre estão envolvidos quanto a prática da enfermagem, e os mesmos norteiam o enfermeiro para a ação a se conduzir, seja ela de forma benéfica ou não. Assim sendo, a ética é um tipo de compreensão humana individual, mas que deve ser posta em prática almejando um bem coletivo. Porém, apesar do agir de forma ética ser a conduta ideal, existem problemáticas que colocam o enfermeiro numa situação de pura reflexão, fazendo com que ele haja de acordo com sua consciência, que nesse caso é puramente pessoal (MENDES, 2009).

Partindo do princípio de que a assistência de enfermagem permite lidar com o outro e o universo no qual o mesmo está inserido, para que haja ética é exigido que o enfermeiro seja responsável, mantenha relações harmônicas, além de possuir preparo técnico. Mendes (2009) afirma que o saber científico técnico e a sabedoria ética prática, devem ser reconhecidos como instrumentos de contribuição para o cuidar e para satisfação própria, gerando nos profissionais um sentimento de competência.

Assim, a ética e o cuidado estão estreitamente relacionados e, para obter base sólida, o enfermeiro conta com o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, que contem direitos, deveres, normas e princípios pertinentes ao exercício da profissão, sendo o mesmo de grande valia, fornecendo as informações necessárias para que sejam tomadas as atitudes adequadas, evitando erros que possam comprometer tanto o profissional, como o paciente (NASCIMENTO et al., 2015).

Pelo fato da ética e da humanização serem estreitamente relacionadas, é cabido ao próprio profissional de enfermagem a busca pela melhora no atendimento ao paciente, sem se alienar ao cuidar somente do que é visível, mantendo-se indiferente ao restante. Cuidar de forma ética, não se restringe somente a competência técnica mas abrange também o sentido humano, é procura alcançar a excelência do cuidar de maneira contínua (MENDES, 2009).

5.4. A IMPORTÂNCIA DO CUIDADO HOLÍSTICO NA ONCOLOGIA

Por ser tratar de uma doença angustiante, o câncer não deve ser visto como uma mera patologia tratável por meio de técnicas cirúrgicas, equipamentos ou fármacos, mas necessita de um cuidado especial, mais amplo e integral, que ofereça ao paciente oncológico suporte para lidar com essa doença tão estigmatizada.

Conforme Araújo, Silva e Bonfim (2010 apud SILVA et al., 2013, p.3):

Diante do câncer, o paciente oncológico passa por completa mudança em suas relações sociais, familiares e consigo mesmo, portanto, é necessário que haja assistência humanizada capaz de vê-la como pessoa que sofre, mas que não perdeu sua essência. A assistência de enfermagem para pacientes com câncer deve ser vista como cuidado pleno, encorajador, afetuoso e comprometido em auxiliar na adaptação às novas condições de vida.

O cuidado de enfermagem ao paciente oncológico desde que realizado de maneira holística, abrange os aspectos biológicos, emocionais e sociais da doença. Porém, deve ser empregado juntamente ao tratamento terapêutico que por sua vez requer conhecimento, para que o enfermeiro esteja seguro e capacitado ao lidar com os diferentes acontecimentos que o permeiam (ZUCULO; PAULINO, 2014).

Além disso, Zuculo e Paulino (2014) afirmam que o enfermeiro deve buscar sempre o aprimoramento de suas técnicas e aumentar seus conhecimentos de base científica, para melhorar a prática de cuidados a essa clientela.

Quanto ao portador de neoplasia maligna, a comunicação do enfermeiro com o paciente é essencial, pois facilita a compreensão sobre o câncer tornando o processo menos árduo e garantindo que as ações realizadas auxiliem o paciente oncológico e sua família no enfrentamento da doença (VICENZI et al., 2013).

O cuidado ao paciente oncológico é complexo, pois o enfermeiro deve ser assistencialista, sem perder seu lado humanista. Os fatores a serem considerados durante o tratamento vão desde aspectos físicos, psicológicos e sociais à espirituais e econômicos, a partir do momento em que um deles é suprimido a conduta que deveria ser tranquilizadora e motivacional, torna-se insatisfatória (COSTA; FILHO; SOARES, 2003).

Relacionar-se com o paciente de maneira holística no cenário da oncologia, requer um planejamento de acordo com as condições da pessoa enferma e de sua família, além do acompanhamento desde os procedimentos iniciais relacionados ao diagnóstico da neoplasia maligna, até seu tratamento e fase posterior. É notável deste modo que amparar a pessoa com câncer é indispensável em qualquer fase do processo.

É incontestável que a família é de grande importância no cuidado holístico do câncer, Carvalho C. (2008, p.1) descreveu que: “A fragilidade imposta pela doença pode levar à "exclusão social" por terem que enfrentar uma sociedade que é excludente dos mais vulneráveis”. Devido a isto, a família deve estar preparada para encarar a doença juntamente ao indivíduo adoentado, que provavelmente se sentirá retraído (VICENZI et al., 2013).

Destaca-se que para incluir a família nesse cuidado holístico não são relevados os laços sanguíneos e a genética, a família do paciente oncológico é entendida nesse contexto, por aqueles que possuem ligação com o enfermo, estão presentes durante todo o curso do câncer, e sofreram as consequências emocionais do diagnóstico da doença (CARVALHO, 2008).

Como cada indivíduo/família lidará com o câncer de maneira diferente, compreende-los garantirá que as estratégias elaboradas forneçam o suporte adequado. Portanto, o cuidado holístico e não fragmentado é imprescindível pois o câncer não causa sofrimento exclusivamente ao doente oncológico (MALUSCHKE et al., 2014).

5.4.1. Os Recursos Procurados Pela Família e Paciente com Diagnóstico de Câncer

Além dos recursos terapêuticos, o apoio multidisciplinar, familiar e espiritual são grandes aliados no tratamento ao câncer. França (2015) refere que a equipe multidisciplinar auxilia o paciente oncológico não somente na procura pela cura da doença, mas objetiva minimizar o impacto do câncer, melhorar a qualidade de vida e tornar as possíveis sequelas advindas da doença mais suaves, contando com o auxílio de profissionais de várias categorias.

A importância da equipe multidisciplinar na oncologia se dá pela necessidade de uma assistência ampla, na qual os profissionais podem desenvolver em conjunto táticas que deem conta da complexidade do câncer. Isto é, quer sejam médicos, enfermeiros, psicólogos, farmacêuticos ou outros profissionais, cada um exercerá a função que lhe cabe, cooperando com os demais para uma atenção integral, em que o foco será suprir as carências do paciente.

A psico-oncologia é um dos instrumentos advindos desse cuidado multidisciplinar, ela engloba a psiquiatria e a psicologia do paciente oncológico e seus familiares, avaliando os fatores sociais, psicológicos e comportamentais durante todo o tratamento oncológico. A necessidade desse acompanhamento é nítida, uma vez que o indivíduo experimenta fortes abalos ao ser diagnosticado com câncer, que poderão acarretar em ansiedade e depressão (GERONASSO; COELHO, 2012).

Além da assistência obtida por esses profissionais, a espiritualidade é usualmente vista como um dos principais meios para lidar com o câncer. Para Fornazari e Ferreira (2010) a religiosidade e espiritualidade se constituem como poderosas ferramentas de enfrentamento perante às situações difíceis, como o diagnóstico de um câncer e seu tratamento, que podem ser cercados de frustrações, ansiedade e tensões.

Tarouco et al. (2009) afirma que o câncer é relacionado muitas vezes à morte, dando origem ao medo, e consequentemente promovendo uma busca maior à espiritualidade, que é constituída por uma busca por si mesmo ou pelo outro, seja sozinho ou com outras pessoas, por uma força superior. Enquanto a religiosidade é definida por Fornazari e Ferreira (2010) como uma instituição religiosa, na qual o indivíduo segue a crença imposta.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, pesquisas apontam que o desgaste físico e emocional do paciente oncológico amparado espiritualmente, é significativamente menor. Tal fato pode ser explicado pela melhor adesão que esses pacientes têm ao tratamento, e maior confiabilidade na equipe (INCA, 2010).

Ao desdenhar a importância do auxílio espiritual, social e psicológico ao paciente e sua família, torna-se contraditória a ideia do cuidado integral, pois o mesmo necessita que o paciente não seja visto de maneira fragmentada. Manter a autonomia do indivíduo submetido ao tratamento oncológico, respeitando suas vontades e compreendendo que cada pessoa tem uma forma de encarar o câncer, garantirá que o processo seja menos árduo e estarrecedor (QUEIROZ; PENNA, 2010).

5.5. CUIDADOS DE ENFERMAGEM À MULHER COM CÂNCER DE MAMA

O Ministério da Saúde preconiza na atenção oncológica, que sejam envolvidos todos os níveis de atenção à saúde, e a assistência ao paciente seja prestada por uma equipe multidisciplinar na qual o enfermeiro está inserido. Se tratando do câncer de mama, por ser um profissional que dispõe de grande autonomia, o enfermeiro tem oportunidade de realizar o atendimento integral à mulher além de desenvolver atividades informativas e centradas durante a consulta de enfermagem, e na atenção domiciliar, se necessário (CAVALCANTE et al., 2013).

Esclarecer a mulher acerca do câncer de mama, os procedimentos a serem realizados, promover o autocuidado, fornecer apoio emocional, bem como reduzir os efeitos negativos decorrentes da doença, são alguns dos cuidados atribuídos ao enfermeiro. O enfermeiro, é um profissional de grande valia nas orientações à mulher masctectomizada, ao conscientizá-la que mesmo sem as mamas, ela continua sendo feminina e tanto sua vaidade como sua sexualidade, continuam mantidas (HORTA; MARTINS; PINA, 2016).

Mineo et al. (2013) elucida que o enfermeiro é de extrema importância em todos os níveis de atenção, se tratando do carcinoma de mama. Na atenção primária, ele deve orientar à mulher quanto aos fatores de risco para que a exposição aos mesmos seja diminuída, e do mesmo modo orientar quanto ao diagnóstico precoce a partir do ECM, da mamografia de rastreamento e das consultas periódicas. Já na atenção secundária, deve estar atento para identificar os sinais e sintomas característicos da doença e assim, ser realizado o diagnóstico precoce, e se suceder ao tratamento primário. Na atenção terciária, as necessidades da mulher devem ser observadas, para que os danos advindos pelo tratamento a que foram submetidas, sejam minimizados pelos cuidados de enfermagem.

Considerando que o enfermeiro se relaciona diretamente com a mulher diagnosticada com o câncer de mama, é fundamental que sejam consideradas as aflições, temores e sofrimentos que o diagnóstico do câncer traz consigo. Ademais, os cuidados de enfermagem devem ser realizados de forma integral durante todo tratamento, consistindo nas práticas e cuidados de enfermagem, o apoio psicológico e as orientações, visto que a mulher e sua família estão frente a uma doença estigmatizada, que muitas vezes necessita de um tratamento difícil e doloroso, além dos danos a autoimagem da mulher (HORTA; MARTINS; PINA, 2016).

É incontestável que o sofrimento vivenciado pela mulher com câncer de mama ultrapassa a doença, envolvendo também seu emocional e autoestima. O enfermeiro deve estar atento para realizar uma abordagem satisfatória, holística, ética e humanizada, a assistência não deve voltar-se apenas ao cuidado físico ou da parte afligida, mas também ao emocional e todo o contexto envolvido, sempre incluindo o paciente, incentivando o autocuidado, e a família como pessoas indispensáveis nesse processo de tratamento; contribuindo significativamente para melhora da sua qualidade de vida e um remetendo a um bom prognóstico (OLIVEIRA et al., 2010).

6. METODOLOGIA

Segundo Rampazzo (2005) a metodologia é a fase do projeto onde o tipo de pesquisa é especificado e a partir de definido, as técnicas a serem adotadas são planejadas.

O método de pesquisa utilizado no presente estudo foi a revisão bibliográfica realizada a partir de livros, artigos, Google acadêmico, SCIELO, LILACS, periódicos virtuais, sites relacionados a saúde, bem como manuais e cartilhas do Ministério da Saúde e do INCA. Santos e Candeloro (2006, p.65) afirmam que “A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos”.

Gil (2010, p.1) enfatiza tal afirmação quanto a referência bibliográfica:

Procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A pesquisa é requerida quando não se dispõe de informação suficiente para responder ao problema, ou então quando a informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao problema.

O critério de inclusão dos documentos foi selecionado tendo como preceito a relação com o tema abordado. Logo, foi incluso o câncer de mama no sexo feminino e a humanização da assistência realizada pela enfermagem. Levou-se em consideração a relevância do material pesquisado e sua confiabilidade. Foram descartados após a leitura, os documentos inadequados, muito antigos e que não abrangiam a área de interesse.

Podemos definir que o presente estudo tem caráter descritivo, pois a pesquisa descritiva tem a finalidade de analisar e interpretar os fatos, sem que o pesquisador interfira no objeto de estudo. Nesse caso, o assunto abordado já é conhecido e a exploração do material é realizada com a finalidade de descrever, classificar e interpretar o objeto de estudo. Tais dados obtidos podem ser classificados em qualitativos ou quantitativos (PICCOLI, 2006).

Perry e Potter (2013) reiteram que a pesquisa qualitativa na área da enfermagem tem a finalidade de estudar os fenômenos difíceis de quantificar ou classificar, e sua análise oferece as respostas para compreender as experiências dos pacientes com problemas de saúde e o contexto em que ocorre a doença.

Considerando tais definições, essa pesquisa bibliográfica possuiu natureza descritiva com abordagem qualitativa, visto que a literatura aborda amplamente o câncer de mama feminino, favorecendo a exploração de tal assunto. E a humanização da assistência de enfermagem é consoante, uma vez que é explorada tanto em materiais que favorecem a pesquisa como em manuais do Ministério da Saúde.

7. CONCLUSÃO

Ainda que as medidas preventivas sejam preconizadas para reduzir a incidência da doença, o câncer de mama se caracteriza pelo tipo de neoplasia que mais mata mulheres atualmente. É notório que ao receber o diagnóstico, a maioria das mulheres sofrerá com os severos danos emocionais, que ultrapassam as manifestações clínicas da doença.

Sendo o intuito deste trabalho evidenciar as orientações e o atendimento realizado pelo enfermeiro humanista na abordagem à mulher com neoplasia maligna de mama, constatou-se que a forma de lidar com os abalos e os dilemas que este câncer tão complexo traz, é uma experiência singular e o cuidado holístico é de grande importância.

Ao associar a qualidade de suas técnicas de manejo à paciente, com a assistência humanizada, o enfermeiro estabelece um cuidado baseado na afetividade e sensibilidade, acolhendo a mulher e fazendo com que ela se sinta mais segura e confiante ao tratamento, o que impactará de forma positiva seu prognóstico.

Ao comunicar-se com a paciente o enfermeiro entenderá a percepção da mesma sobre o câncer, o que é essencial, visto que a forma de encarar a doença é particular e variável, mas o enfermeiro dispõe de fundamentos para sanar as dúvidas da mulher e de sua família, realizando um cuidado sobretudo ético.

Foi observado que o diagnóstico do câncer de mama acarreta danos à mulher, bem como as pessoas de seu ciclo de convivência, e que para garantir a integralidade da assistência, o enfermeiro deve acolher e esclarecer a todos, não somente com o intuito de repassar as informações a respeito dos tratamentos e procedimentos, mas encorajando-os, pois, é indubitável que ao ficarem mais seguros, transmitirão sua convicção à paciente, tornando-a desta forma mais otimista e favorável ao tratamento, independentemente do tipo a que foi submetida.

Através das diferentes literaturas consultadas, foi verificado que apesar de se constituir por um método cirúrgico corriqueiro, a mastectomia é caracterizada por um dos principais temores vivenciados pela paciente provocando na mesma, repercussões de cunho emocional, atribuídas à perda de uma parte do corpo feminino geralmente relacionada a vaidade e sexualidade.

A instrução do enfermeiro à mulher em todas as fases deste processo é indispensável, o profissional da enfermagem é apto a identificar quaisquer dificuldades da mulher quanto sua autoimagem, uma vez que a mesma estará propensa a desenvolver transtornos relacionados à perda das mamas, como ansiedade, tristeza e até depressão.

Deste modo, humanizar a assistência de enfermagem vai além do conhecimento técnico e científico baseando-se no respeito aos valores da paciente e sua família, seja ela submetida a mastectomia ou não, cabendo ao enfermeiro empregar o olhar holístico para que as necessidades e anseios da mulher sejam notadas, e atendidas.

Conclui-se que o cuidado humanizado implica na redução dos agravos decorrentes do diagnóstico do câncer de mama, além de facilitar a tomada de decisões e aceitação sobre o que é mais aconselhável à mulher. Acertadamente, a mulher que obtém auxílio do enfermeiro para além do seu estado físico, tende a tornar-se otimista e perseverante no enfrentamento à doença, graças à humanização.

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Publicado por: Thaynara Ramos Santos Augusto

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