A CONDUTA DO ENFERMEIRO NA PREVENÇÃO DO ERRO DE MEDICAÇÃO

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1. RESUMO

Com este trabalho buscou-se encontrar os erros de medicação mais ocorridos em instituições hospitalares e de saúde, bem como os métodos de prevenção a esses erros. Para isso foi realizada a pesquisa exploratória de artigos publicados num intervalo de 10 anos, em que foram realizadas entrevistas com enfermeiros e outros profissionais responsáveis pelo processo de administração de medicamentos, buscando elencar os principais erros observados em suas funções, e as opiniões de autores sobre os métodos conhecidos para prevenir e corrigir essas ocorrências. O resultado encontrado foram erros de medicação relativos desde ao horário até a administração de medicação errada, assim como os comentários dos autores e dos próprios profissionais em como prevenir e contornar essas ocorrências. Foi possível concluir com o trabalho que, apesar de não aparecer numa escala elevada de ocorrências, os erros de medicação referentes ao horário são os que aparecem em todas as pesquisas, em geral como segundo ou terceiro apontamento, sendo necessário, não somente neste, mas em todos os pontos em geral, haver uma forma objetiva de prevenir e corrigir os erros.

Palavras-chave: Erros de medicação; Conduta do enfermeiro; Erros de enfermagem.

ABSTRACT

This study sought to find the most medication errors occurring in hospitals and health institutions, as well as methods of preventing these errors. For this was carried out exploratory research articles published in a range of 10 years, in which interviews were conducted with nurses and other professionals responsible for medication administration process, seeking to list the main errors observed in their functions, and the authors of opinions on known methods to prevent and correct these occurrences. The results found were medication errors for since the time until the wrong medication administration, as well as the comments of authors and professionals themselves on how to prevent and overcome these occurrences. It was possible to complete the work that, while not appear in a high range of occurrences, medication errors related to time are those that appear in all research in general as second or third appointment, if necessary, not only this, but at all points in general, be an objective way to prevent and correct mistakes.

Key-words: Medication errors; Nurse conduct; Nursing errors.

2. INTRODUÇÃO

Qualquer alteração no quadro clinico de paciente, seja por ação correta ou incorreta dos profissionais de saúde, e que resulte em consequências que prejudiquem o paciente, é conhecido como iatroterapia.

Em muitos casos, quando a alteração ocorre por erro da equipe de enfermagem, uma das principais dificuldades na identificação da ocorrência ocorre pela falta de comunicação dos responsáveis pelo erro, tornando muitas vezes a identificação da causa do problema demorada, e causando a necessidade de maior prazo de internação, e aumento do custo do tratamento ao paciente, à administradora de planos de saúde ou ao SUS (Sistema Único de Saúde).

A iatrogenia ocorrida por erros de medicação é um dos principais eventos ocorridos nas instituições de saúde, sendo somente 25% dos casos comunicados aos responsáveis das instituições, em que os maiores motivos para suas omissões, as punições que podem acarretar ao funcionário, seguido pelos sentimentos de medo e vergonha.

Apesar de ser uma realidade no sistema de saúde, a iatrogenia normalmente recebe somente a investigação e punição do responsável do corpo de enfermagem que a realizou, não havendo nos hospitais e outras instituições, uma política para redução do problema entre seus profissionais, o que dificulta a redução dos quadros de erros clínicos, e com isso, o aumento gradativo dessas ocorrências, que são cada vez mais divulgadas nos meios de comunicação.

A administração de medicamentos é uma das atividades de maior responsabilidade nas atribuições do enfermeiro, podendo, seu erro, por negligência ou omissão, acarretar em prejuízo físico ou até moral para o paciente, justificando, assim, que esse tema seja abordado. Além disso, cabe ao Enfermeiro toda a responsabilidade pela equipe de profissionais que atuam na equipe.

Esse trabalho busca compilar um conjunto de procedimentos que possam servir de base para um documento oficial para os enfermeiros utilizarem em suas instituições, na intensão de prevenir esses tipos de erros.

O trabalho foi realizado por meio de pesquisa exploratória, com base em artigos e livros escritos sobre o tema nos últimos dez anos, levando em contas pesquisas realizadas no intuito de levantar as práticas adotadas por enfermeiros de hospitais e instituições de saúde para combater os erros de medicação.

Para isso, foram pesquisados três artigos publicados entre 2006 e 2016, realizados em instituições hospitalares vinculadas a Universidades Estaduais e Federais, de vários Estados brasileiros, e instituições particulares de saúde. Estes artigos foram retirados de bases de dados como Scielo, Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Lilacs, e sites de Universidades com teses e dissertações publicadas.

Também foram pesquisados artigos em busca de informações das condutas adotadas para a comunicação do erro, tanto ao médico quanto ao enfermeiro responsável.

Este trabalho foi dividido da seguinte forma: o capítulo 1 apresenta a introdução do trabalho e seus objetivos e metodologia. O capítulo 2 apresenta a teoria abordada pelos assuntos que serão relacionados ao conteúdo do trabalho. O capítulo 3 busca compilar os erros e as medidas de prevenção de erros de administração de medicação ocorridos pelos enfermeiros. O capítulo 4 apresenta as considerações finais sobre a realização do trabalho.

2.1. Problema de Pesquisa

O tema proposto nessa pesquisa é o de levantar, por meio de pesquisas bibliográficas e documentais, quais são as atitudes adotadas pelos quadros de enfermeiros das instituições de saúde para que os erros ocorridos pelo corpo de enfermagem possam ser reduzidos, e quais as atitudes esperadas dos profissionais de enfermagem quando esse tipo de ocorrência acontece. O problema da pesquisa é “Quais são os erros mais cometidos pelos enfermeiros e como se pode evitá-los?

2.2. Objetivos do Trabalho

Geral:

Esse trabalho objetiva realizar o levantamento bibliográfico sobre as atitudes e políticas adotadas por enfermeiros frente aos erros ocorridos pelo corpo de enfermagem durante sua atuação direta com o paciente, de forma a conscientizar os profissionais que estão sendo preparados para assumir tais funções sobre esse assunto, que ganha cada vez mais notoriedade pela sociedade.

Específicos:

  • Levantar os principais tipos de ocorrências de erro causadas pelo corpo de enfermagem.

  • Apresentar as atitudes esperadas e as efetivamente realizadas quando ocorre o caso de erro nas medicações.

  • Apresentar as políticas adotadas pelos enfermeiros para que os casos de erro sejam reduzidos.

3. MEDICAMENTOS

Uma das atividades de maior responsabilidade do corpo de enfermagem de qualquer instituição é a administração de medicamentos. Para tanto, existem técnicas que são utilizadas para a administração, de acordo com a prescrição médica em cada caso. Porém para que haja o entendimento da prática da medicação, é necessário que se conheça todo o processo e seus componentes, necessários para fornecer o correto tratamento ao paciente.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 1998. p. 1), medicamento é todo “produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico”.

Além disso, complementa que “o efeito do medicamento se deve a uma ou mais substâncias ativas com propriedades terapêuticas reconhecidas cientificamente, que fazem parte da composição do produto” (ANVISA, 2010, p. 12).

De acordo com Miasso (2006b, p. 355), são “[...] cinco processos do sistema de medicação, quais sejam: seleção e obtenção do medicamento, prescrição, preparo e dispensação, administração de medicamentos e monitoramento do paciente em relação aos efeitos do medicamento”.

Todas essas etapas envolvem um grupo interdisciplinar de participantes, ou seja, são muitos profissionais envolvidos para que o sistema como um todo funcione. Na primeira etapa, de seleção e obtenção, é necessário que o farmacêutico responsável atue para que os medicamentos estejam em estoque e disponíveis para o paciente. Na segunda etapa, a prescrição, é necessário que o médico faça o receituário ao paciente, com todos os medicamentos necessários para o tratamento individualizado. Já o preparo e dispensação, a administração de medicamentos e o monitoramento do paciente, ficam à cargo dos enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem.

3.1. Apresentação dos medicamentos

Existem diversas formas de apresentação de medicamentos, isso é, a forma que são fabricados. As apresentações mais utilizadas são (SCHMIDT et al, 2016):

  1. Comprimidos: possuem forma sólida e contém a mistura do principio ativo e dos excipientes, de forma comprimida.

  2. Cápsulas: possuem a mistura do princípio ativo e os excipientes, porém são revestidos com gelatina.

  3. Supositório: possuem forma semi-sólida ou sólida, para aplicação retal.

  4. Pó: utilizado para dissolução em líquido, normalmente água.

  5. Solução: forma líquida e heterogênea, com mistura de substâncias líquidas ou líquidas e sólidas.

  6. Injetável: forma líquida, estéreo, para aplicação parenteral.

  7. Xarope: Forma líquida, normalmente utilizando açúcar e água ou mel, e corantes. Utilizado para problemas respiratórios.

  8. Colírio: forma líquida e estéril para uso oftalmológico.

  9. Tintura: forma líquida à base de água e álcool, utilizando-se normalmente plantas secas.

3.2. Tipos de administração de medicação

Além da apresentação correta, se faz necessário que a forma de aplicação do medicamento, ou a via por onde será aplicada a medicação, esteja em acordo com o que o paciente necessita para agilizar sua recuperação, e também com a prescrição médica orientada.

Inicialmente, podem-se classificar as vias de administração como enteral ou parenteral.

  • Enteral: fazem parte da via de administração enteral, os órgãos de entrada pertencentes ao intestino (enteron = intestino), ou seja, as vias oral, sublingual e retal.

  1. Via oral: nessa forma de administração, o medicamento funciona da mesma forma que os alimentos, ou seja, seus componentes são absorvidos pelas funções gástricas. É considerada a forma mais segura de administração de medicamento, mas não deve ser utilizada em pacientes que apresentem náuseas ou com dificuldade de engolir, assim como pacientes desacordados, com risco de que engasgue ou que o medicamento não chegue ao intestino para ser absorvido. Essa via é normalmente utilizada quando o medicamento é de efeito local (gastrointestinal) ou sistêmico (absorvida para ser enviada para a corrente sanguínea).

  2. Via sublingual: como o nome informa, o medicamento é aplicado embaixo da língua, que possui absorção mais rápida, agilizando o efeito sistêmico do medicamento. É comumente utilizado para problemas cardíacos.

  3. Via retal: essa via é utilizada para casos em que o paciente não pode recebem medicação por via oral. Seus efeitos são para tratamento local ou sistêmico, mas sua utilização não costuma ser bem aceita pelos pacientes por motivo de incômodo ou preconceito.

  • Parenteral: são as vias que não tem ligação com o intestino (para = ao lado; enteron = intestino). São as vias intravenosa, intramuscular, subcutânea, respiratória, tópica, ocular, nasal e auricular. Para esses procedimentos, são utilizados instrumentos de auxílio, como agulhas e seringas.

  1. Via intravenosa: nessa administração, o medicamento é injetado diretamente na corrente sanguínea do paciente. Pode ser aplicado o medicamento em uma única dose, ou de forma continua, diluindo-o em soro. É o método mais utilizado para emergências, e também para medicamentos que não conseguem ser absorvidos pelo intestino.

  2. Via intramuscular: são vias de administração de medicamentos que podem ser aplicados diretamente no músculo. Nesses casos, normalmente os medicamentos são de aplicação única e com períodos de efeito prolongados, como anticoncepcionais. Alguns medicamentos podem causar dor no local de aplicação.

  3. Via subcutânea: nesse tipo de administração, o medicamento é injetado o tecido subcutâneo. Utilizado para medicamentos que requerem absorção mais lenta, como insulina e heparina, ou nos casos de bebês e idosos, devido à dificuldade da aplicação intravenosa.

  4. Via respiratória: é a via que vai desde a mucosa nasal até os pulmões. Essas vias recebem a administração de medicamentos para uso local, como para tratamento de problemas respiratórios, ou para efeito sistêmico, como no caso de anestesia inalatória. Possui rápida absorção pelo organismo, e é mais comum sua aplicação pela via oral, pois percorre o trajeto das vias aéreas.

  5. Via tópica: a administração de medicamentos para essa função ocorre normalmente diretamente sobre a pele e mucosas, em forma de pomada ou creme, e são administrados no local da lesão.

  6. Ocular, nasal e auricular: os remédios administrados por essas vias são para uso local, como colírios e pomadas, ou em forma de solução, para aplicação pelas vias nasais. Para os casos de administração via auricular, são utilizadas soluções otológicas.

4. ERROS DE ENFERMAGEM E CLASSIFICAÇÕES

A iatrogenia, segundo Dos Santos e Ceolim (2009), é a ocorrência de qualquer alteração patológica que ocorre devido à intervenção dos profissionais de saúde, correta ou equivocada, na qual o paciente seja prejudicado. Mesmo não sendo necessariamente ocasionado por um erro, esses ainda são os maiores problemas encontrados em hospitais e instituições de saúde, tanto públicos como privados.

Com a necessidade de melhoria da qualidade no atendimento e nos serviços prestados, visando, além de se manter na regularidade da lei, também poder superar os concorrentes, que estão cada vez em maior número, muitas instituições estão buscando métodos para aumento da qualidade, em contrapartida buscando manter ou reduzir os custos. E os erros de enfermagem ainda respondem por grande parte das reclamações dos pacientes. Em 1997, um estudo realizado pela National Center for Health Statistics apontou que aproximadamente 44.000 casos de iatrogenia resultaram em morte de pacientes nos Estados Unidos, sendo responsável por mais mortes do que acidentes de carros, câncer de mama e a AIDS. Além disso, esse estudo levantou gastos na ordem de 17 bilhões de dólares americanos em custos envolvendo essas ocorrências, sem levantar, no entanto, os custos jurídicos envolvidos nos casos. (BOHOMOL; RAMOS, 2007).

Segundo Miasso et al. (2006a), dentre as maiores ocorrências de iatrogenias levantadas em pesquisas, os erros de medicação são as principais ocorrências relatadas por pacientes ou pelos próprios profissionais de enfermagem. Além disso, segundo De Carvalho e Cassiani (2002) e Dos Santos e Ceolim (2009), somente 25% dos casos de erros de medicação são comunicados aos responsáveis, na maioria das vezes por medo da punição, ou em outros casos, vergonha.

Dentre os erros de medicação encontrados em sua pesquisa em 36 instituições, Barker et al. (2002, apud MIASSO et al. 2006, p. 525) encontrou: 43% são de horários errados, 30% são de omissão da medicação, 17% se referem à dosagem errada do medicamento, e 4% são referentes a medicações feitas sem autorização.1

Já o COREN (Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo) (2011), define treze tipos de erros de enfermagem: erro de medicação, erro de prescrição, erro de dispensação, erro de omissão, erro de horário, erro de administração não autorizada de medicamento, erro de dose, erro de apresentação, erro de preparo, erro de administração, erro com medicamentos deteriorados, erro de monitoração e erro em razão da não aderência do paciente e da família.

Além disso, Brandão et al. (2012), indica que as principais causas de erros por parte do corpo de enfermagem, ao administrar medicamentos, são: excesso de trabalho, falta de pessoal, volume de tarefas, carga horária elevada, grande número de pacientes com grande números de medicações, falta de protocolo e de instrumentos de notificação, falta de relatórios padronizados, embalagens ilegíveis, rótulos manchados, preparação inadequada, deficiência da formação acadêmica, inexperiência, desatenção, desatualização quanto aos avanços tecnológicos, manuseio de equipamentos, troca de prontuários, falhas de comunicação e integração entre os setores, ortografia ilegível da prescrição médica, e dificuldade para a realização de cálculos.

A National Coordinating Councilabout Medication Error and Prevention (NCC MERP) (2001), definiu categorias para os erros de medicação, segundo o dano ocorrido ao paciente:

  1. Sem erros

  • Categoria A: existe a possibilidade de erro.

Apesar do erro não ter ocorrido ainda, existe a possibilidade de que aconteça, e deve ser tratado para ser evitado.

  1. Erros sem dano

  • Categoria B: houve erro, mas não houve a administração do medicamento ao paciente.

  • Categoria C: houve erro, foi administrado o medicamento errado, mas não houve dono ao paciente.

  • Categoria D: houve erro, o que aumentou a necessidade de acompanhamento do paciente, mas sem danos ao paciente.

  1. Erros, com danos

  • Categoria E: houve erro e foi necessário intervir no paciente, que teve danos temporários.

  • Categoria F: houve erro que gerou maior tempo de internação do paciente, com dano temporário.

  • Categoria G: houve erro, com dano permanente ao paciente.

  • Categoria H: houve erro, com evento muito grave ou fatal.

  1. Erros, com morte

  • Categoria I: houve erro, levando o paciente ao óbito.

Brandão et al. (2012) cita que todos os acadêmicos de enfermagem são orientados quando aos 5 certos, que visam evitar as ocorrências de erro de medicação. Porém, atualmente, essa metodologia que evita a ocorrência dos erros de medicação apresentam 9 passos, sendo conhecidos como 9 certos da administração de medicamentos:

  • Paciente certo: o medicamento prescrito ao paciente deve ser administrado ao paciente certo, ou seja, para aquele a quem foi receitado. Erros desse tipo podem ocorrer caso não seja confirmado que é o paciente correto no momento da administração.

  • Droga certa: o medicamento certo deve ser administrado ao paciente. Segundo LUZ (20--), o enfermeiro não tem autorização para receitar medicamentos, mas não devem administrá-lo caso exista dúvida sobre o nome correto do medicamento prescrito. Deve ser verificada a prescrição antes e depois do preparo da medicação, para garantir que não houve erros de medicação.

  • Caminho (Via) certa: os medicamentos devem ser administrados pela via prescrita pelo médico, sendo necessária a compreensão do enfermeiro sobre as diferenças entre essas vias, além do início da ação e a taxa de absorção. É convencional que o médico, na prescrição, confirme a via a ser administrada, evitando dessa forma esse tipo de erro.

  • Dose certa: O enfermeiro deve sempre conferir a dose prescrita com a dose indicada no rótulo do medicamento. Excesso da dose pode causar efeitos colaterais, e sua falta pode não trazer resultados ao tratamento.

  • Hora certa: o medicamento deve ser administrado nos intervalos corretos, para garantir seu efeito terapêutico. A falta do controle do horário pode resultar em perda da eficácia do tratamento.

  • Documentação certa: toda a administração de medicamentos deve ser documentada no prontuário do paciente. Segundo Luz (20--), deve-se evitar marcar a medicação antes de administrá-la, correndo o risco de recusa do paciente, ou não anotar a administração, sob risco de ser administrado novamente por outro profissional.

  • Ação certa: garantir que a medicação está sendo aplicada pela razão e motivos certos.

  • Forma certa: o enfermeiro deve garantir que a forma da medicação que está prescrita é a que está sendo administrada, por exemplo, por comprimidos, cápsulas, ampolas e outros.

  • Resposta certa: o enfermeiro deve monitorar se o efeito da medicação está sendo o esperado, principalmente para medicamento de alto risco, como anticoagulantes e insulina.

5. MÉTODOS DE PREVENÇÃO AOS ERROS DE MEDICAÇÃO

Foi realizado o levantamento bibliográfico dos erros de medicação encontrados em alguns setores essenciais das instituições de saúde, e também os métodos preventivos aplicados ou em plano de aplicação para evitar a incidência de novos erros dos mesmos tipos.

Na pesquisa realizada por Bohomol e Ramos (2007), foi realizada entrevista com 89 (quarenta e nove) profissionais de saúde, sendo 49 (quarenta e nove) auxiliares de enfermagem (55%), 13 (treze) técnicos de enfermagem (15%) e 27 (vinte e sete) enfermeiros (30%). Foram elaborados cinco cenários de possíveis erros de medicação, em que cada um deveria responder se houve ou não o erro.

O resultado obtido foi que no cenário 1, em que houve omissão da administração do medicamento, 79% dos entrevistados responderam que não houve erro de medicação. As autoras indicam que a omissão é um erro de medicação que deve ser informado ao médico responsável. (BOHOMOL; RAMOS, 2007).

No cenário 2, apresenta-se uma situação de atraso no horário das medicações. Segundo a autora, existem muitos relatos na literatura para esse tipo de erro, principalmente nos casos de: “falta de medicação na unidade, um grande número de itens para serem administrados, muitos pacientes internados, demora na dispensação das medicações, até um dimensionamento de pessoal inadequado”. (BOHOMOL; RAMOS, 2007, p. 34).

Como comentário, as autoras informam que essas situações devem ser analisadas e, quando possível, extintas da instituição de saúde, e que essas situações devem ocorrer como um evento atípico, e não como parte da rotina do atendimento hospitalar. (BOHOMOL; RAMOS, 2007). Nos casos de instituições de saúde pública, em que a falta de medicamentos possui maior notoriedade, é possível encontrar trabalhos relatando o uso de terapias e medicamentos alternativos para suprir essa necessidade.

No cenário 3, houve erro no gotejamento de uma bomba de infusão, o que proporcionou que a dose aplicada fosse maior do que a prescrita. A autora cita que “a utilização de tecnologia para o apoio à assistência é sempre bem vinda, contudo, se a mesma não for utilizada adequadamente, pode contribuir para o aparecimento de ocorrências adversas”. (BOHOMOL; RAMOS, 2007, p. 34).

É importante que, para a utilização de tecnologias no atendimento hospitalar, os profissionais de saúde se mantenham capacitados e atualizados, além de se manter programas de manutenção preventiva para os equipamentos utilizados no atendimento. (BOHOMOL; RAMOS, 2007).

No cenário 4, os entrevistados apontaram erros de medicação ao não realizar a administração da inalação no paciente, por estar dormindo. Houve apontamento de erro por 54,4% (43) dos entrevistados, porém 66,2% responderam que não seria necessária notificação ao médico. (BOHOMOL; RAMOS, 2007).

É importante avaliar a literatura nesse caso, pois pode haver discussão com relação ao procedimento. Em muitos casos, o fato do paciente asmático estar dormindo, sugere que não está havendo o desconforto respiratório. Além disso, nesse caso, não haveria prejuízo do tratamento, se a administração da inalação ocorresse em outro horário. Nesses casos, há uma abertura para que seja tratado o assunto de quais os limites de autonomia para que os profissionais de saúde, com exceção dos médicos, possam realizar a manutenção ou até mesmo a suspenção da administração de medicamentos para um paciente, de acordo com sua avaliação. (BOHOMOL; RAMOS, 2007).

Por fim, no cenário 5, há a administração de outra dose de opióide codeína, que funciona como “depressor do sistema nervoso central em um curto espaço de tempo” (BOHOMOL; RAMOS, 2007, p. 35), por solicitação do paciente.

Na pesquisa, houve contradição com a literatura pesquisada pelas autoras, visto que nesse caso, os entrevistados apontaram o erro de medicação, ao contrário de muitos casos parecidos encontrados em outros artigos. Porém, em ambos os casos, foi levantada a questão novamente da autonomia do profissional de saúde, sem o consentimento do profissional médico, para alteração da dosagem, de acordo com os entrevistados, por se tratar de “uma decisão que deve ser baseada na experiência e na competência do pensamento crítico do enfermeiro”.(BOHOMO; RAMOS, 2007.

Na pesquisa realizada por Miasso et al. (2006a), foram entrevistados 152 profissionais em quatro hospitais de municípios diferentes (Goiânia, Recife, Ribeirão Preto e São Paulo). Nessas entrevistas, foram coletados os tipos de erros mais citados pelos profissionais de saúde, que são apresentados no quadro 1.

Quadro 1 – Tipos de erros mais citados pelos profissionais de saúde entrevistados


Fonte: Miasso et al. (2006a).

Analisando as respostas, é possível identificar que o maior número de erros classificados são os do tipo Erros relacionados à prescrição/transcrição. De acordo com as respostas apresentadas por alguns entrevistados na pesquisa de Miasso et al. (2006a), esses erros ocorrem, em sua maioria, por não ser possível compreender a letra do médico:

Assim, primeiro eles acham que a gente é adivinho, porque as letras são uns garranchos e as medicações, principalmente antibióticos, tem uns nomes muito idênticos (cefazolina e cefalotina), os que você vê mal escrito, você confunde mesmo. Aí é hora de ir medicação errada. (MIASSO et al., 2006a, p. 526).

Esse tipo de erro pode ser observado em muitas instituições, por meio não só de pesquisas científicas, mas observando o comportamento dos profissionais por algumas horas. Nota-se, pela experiência de estar doente, que existe muita dificuldade, em alguns momentos, para “traduzir” o nome do medicamento que foi prescrito pelo médico. Esse item foi bastante comentado também entre as própriass autoras durante a elaboração da pesquisa do trabalho, visto atuarem diretamente com esses procedimentos em suas instituições.

Miasso et al. (2006a) comenta que uma das estratégias utilizadas para bloquear esse problema são as prescrições médicas eletrônicas. Apesar de resolver a questão, o sistema é caro, o que faz com que nem todas as instituições hospitalares contem com esse recurso. Em outros casos, é procurado o médico responsável pela prescrição, mas quando não é possível encontrá-lo, é realizada a interpretação da prescrição de acordo com a experiência do profissional, que prepara e administra o que supõe estar escrito.

Também são citados erros referentes ao horário da administração do medicamento, principalmente pela demora de sua chegada ao andar em que será realizado o procedimento. Os problemas são normalmente atribuídos à farmácia, porém também há relatos, na pesquisa, de demora no trabalho dos profissionais de enfermagem. (MIASSO et al. 2006a).

Nos problemas referentes à farmácia, a falta de medicamentos é a causa da maioria dos problemas apontados, sendo também indicados erros por distração ou problemas referentes ao ambiente de trabalho. Nesses casos, Miasso et al. (2006a) aponta que há falta de conhecimento ou compromisso do profissional com relação à tarefa da administração de medicamentos e falta de comunicação entre os departamentos, e sugere, baseado nos estudos feitos para a pesquisa, que são: “cumprimento de políticas e procedimentos referentes ao preparo e à administração, educação dos profissionais e melhora na comunicação”. (MIASSO et al., 2006a, p. 528).

Pode-se notar, observando o comportamento dos profissionais de enfermagem em geral, que atualmente os celulares, com acesso a redes sociais e aplicativos de mensagem instantânea, são os maiores motivadores de distração. As autoras, durante a elaboração do trabalho, comentaram que, nas instituições em que é permitido o uso de aparelhos celulares, é comum o profissional parar o atendimento para verificar o toque do aparelho. Esse comportamento também foi notado, comentam as autoras, em época de estágio destas, em hospitais da rede pública.

Na pesquisa realizada por Teixeira e Cassiani (2010), foi realizado o levantamento secundário de dados sobre os tipos de erros de medicação encontrados em pesquisa realizada por Cassiani et al. (2006). Para isso, foram analisadas 74 prescrições de medicamentos que foram preparadas e administradas de maneira diferente ao que foi prescrito pelo médico. Desse levantamento, obteve-se a classificação dos erros, de acordo com o quadro 2.

Quadro 2 - Erros de medicação identificados nas prescrições analisadas.


Fonte: Teixeira e Cassiani (2010).

Pode-se observar que os erros de dosagem do medicamento aparecem em primeiro lugar no levantamento dos erros encontrados, com 24,3% das ocorrências. Nesse item, foram encontrados 50% dos erros relacionados com o dobro da dose prescrita pelo médico. Em 27,7% dos casos, a dose aplicada foi a metade do prescrito, e em 11,1%, foi aplicado o quadruplo do que estava estipulado . (TEIXEIRA; CASSIANI, 2010).

As autoras apresentam como solução para esse problema da administração individualizada, a utilização da técnica de dose unitária. Aponta que “entre as várias vantagens da dose unitária, vale ressaltar a diminuição do tempo utilizado pela equipe de enfermagem para armazenagem e preparado do medicamento com a consequente elevação da qualidade assistencial”. (TEIXEIRA; CASSIANI, 2010, p. 143).

O segundo item mais encontrado no levantamento dos erros são os erros de horário, representando 22,9% das ocorrências encontradas. Esses erros são apontados, em 35,3% dos casos, devido ao paciente ter tido a necessidade de realizar exames ou tratamentos complementares em outros departamentos. Assim como Miasso et al. (2006a), Teixeira e Cassiane (2010) apontam a comunicação entre os departamentos como forma de evitar esse tipo de erro.

Observa-se que, apesar dos estudos divergirem na causa mais apontada, o erro de horário é o segundo mais apontado tanto em Miasso et al. (2006a) quanto em Teixeira e Cassiani (2010), o que coloca esse item como um dos principais a serem estudados e tratados nas instituições de saúde.

O terceiro item mais relevante do estudo de Teixeira e Cassiani (2010) são os medicamentos não autorizados (13,5%). A maioria dos erros encontrados nessa categoria, segundo o levantamento das autoras, foi a administração de nifedipina, quando o prescrito era nifedipina retard, e amoxacilina, no lugar de amoxacilina clavulanato. As autoras apontam que outros estudos apontaram taxas entre 4 % e 13% do mesmo erro. Após comparar a prescrição verificou-se que o erro ocorreu na dispensação, sendo que o processo de seleção e separação ocorrem na farmácia do hospital.

As autoras apontam que esse tipo de erro pode ser evitado, utilizando-se o código de barras do medicamento para interceptar falhas, tanto nos processos de seleção e separação, nas farmácias, quando no processo de administração, pelo corpo de enfermagem.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se concluir com a realização deste trabalho, que mesmo avançando muito em relação às políticas para prevenção de erros de medicação, ainda assim existem muitas falhas apresentadas, em sua maioria, por falha humana. Falta de medicamentos, distrações e falta de comprometimento são algumas, e as mais graves encontradas, visto não haver um método objetivo para prevenção.

Após a realização do levantamento dos erros pelos profissionais de enfermagem, e das soluções encontradas pelos autores das pesquisas consultadas, foi possível identificar que existem possibilidades de correção dos problemas, e que a implementação de políticas para essa finalidade devem ser cada vez mais priorizadas pelas instituições. O trabalho apresentou a abordagem teórica sobre o assunto referente à medicação e aos erros de medicação, além de soluções para corrigir o problema, apresentados pelos autores consultados.

Apesar de haver muitos trabalhos referentes ao tema, é importante que este levantamento seja constantemente realizado, de forma quantitativa, para analisar de está havendo queda nos números de ocorrências de erros, assim como nas suas tipificações. Também com o desenvolvimento de novas tecnologias, é importante avaliar se novos tipos de erros de medicação não estão sendo criados em função disto.

7. REFERÊNCIAS

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Por BERENICE BIZUTTI DE CAMARGO, CARLA CRISTINA RUYSAM, LUANA RIBEIRO LA SERRA e JAQUELINE DA SILVA NASCIMENTO.


Publicado por: BERENICE BIZUTTI DE CAMARGO

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