O VALOR EXPRESSIVO DA MÚSICA DE LUIZ GONZAGA PARA O APRENDIZADO DA LÍNGUA PORTUGUESA

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RESUMO

Esse trabalho traz em sua tessitura reflexões referentes à expressividade da música de Luiz Gonzaga no ensino da língua portuguesa. Traçando um panorama dos aspectos expressivos nas músicas de Gonzaga ao falar com sua gente e de sua cultura, com propostas de trabalhos para o aprendizado da língua portuguesa numa abordagem significativa, construtiva e inclusiva, analisando na música os fatores linguísticos e extralinguísticos envolvidos em cada ação discursiva. Respaldado, portanto, pelas reflexões de Paulo Freire ao falar de ensino crítico/reflexivo numa ação dialógica, com autonomia e conhecimento popular. Em trabalhos acadêmicos científicos de diversos autores sobre “Cultura Popular e Educação” e apoiado também na análise fundamentada pelo convívio com alunos e as professoras de língua portuguesa ao considerar o conhecimento que o aluno traz das relações familiares e do meio político, social e cultural em que vive. Relacionando e adequando esse trabalho com a música de Gonzaga a outros textos, músicas, autores, escritores, artistas, cantores e poetas.

Palavras-chave: Luiz Gonzaga. Cultura Popular. Música. Ensino.

1. INTRODUÇÃO

(...) aprendemos para ser quem somos, para viver como vivemos, para sentir e pensar o que sentimos e pensamos, para criar, fazer e transformar tudo o que a sós ou solidariamente criamos, fazemos e transformamos” (BRANDÃO1, 2008, p.28).

Embarcar nessa viagem sobre a diversidade cultural do nosso País é perceber que primeiramente devemos conhecer e aprender sobre o nosso chão, a nossa gente, o nosso mundo. Compreendendo, portanto que se o ensino da língua portuguesa, pede, por essa relação humanizada entre memória e atualidade para a compreensão da língua e do mundo em que vivemos, então nada mais justo, que começar trazendo para a sala de aula, a cultura viva da nossa cidade. Abordando assuntos com o conhecimento da realidade do aluno, para que ele vivendo essa história, se sinta construtor desse aprendizado e consciente da sua importância no mundo.

A cultura popular no ensino da língua portuguesa contribui para o conhecimento e um olhar sobre a pluralidade de vozes das comunidades, que vivendo nesse espaço de cultura e arte, nesse espaço multicultural de memória, história e atualidade, se unem para revelar ao mundo o sentimento dessa gente em pertencer a sua comunidade. Desse modo, trazer a música de Luiz Gonzaga para o ensino da língua portuguesa é oferecer uma educação humanizada, pautada no conhecimento do ser humano: seu estilo de vida, seu meio social, suas dificuldades, seu modo de encarar a realidade, solucionar conflitos, lutar por seus direitos, viver, se divertir, criar, sonhar, descobrindo suas deficiências, defeitos e qualidades. Conhecer o aluno e sua cultura é apresentar propostas de diálogo, de amizade e confiança, é não ser autoritário e sim comunicativo, é saber ouvir, ensinar e aprender. E reconhecer na prática que “ao ensinar se aprende e ao aprender se ensina” (FREIRE, 1996, p.12).2

Assim o ensino da língua portuguesa somado ao conhecimento popular contribui para a formação crítico/reflexiva do aluno, motivando o aluno para observar, interpretar a cultura popular e aprender a expor com coerência suas ideias e experiências vividas através da escrita e oralidade de forma participativa e lúdica. Logo, compreender e valorizar as diferentes culturas através da música é ensinar/aprender com respeito ao próximo, ao antigo e ao novo, rejeitando qualquer forma de discriminação. É incentivar o ensino da língua portuguesa com a participação dos alunos na construção do conhecimento auxiliado pelas informações trazidas de sua vida na comunidade, reforçando o aprendizado com aulas que incentive a leitura, a escrita e a oralidade.

A música de Luiz Gonzaga no ensino da língua portuguesa, pensada como aquela que transporta o aluno para o conhecimento de si e da sua comunidade, valorizando as expressões e sentimentos existentes em cada evento. A música que envolve sua gente, que dialoga com o ouvinte, que mostra para o mundo suas raízes e seu modo de encarar a vida. A música que expressa a arte, a culinária, a literatura, os contos, as festas e danças, transmitida de geração em geração, enraizada dessa interação entre os povos de diferentes regiões, diferentemente dessa efemeridade das músicas ou culturas (de massa) influenciadas pelas mídias.

E, levar o aluno a compreender através do ensino da língua portuguesa a comunidade ao qual está inserido, é antes de tudo enxergar o educando, com seu conhecimento de mundo, suas raízes e seus gostos. É incluir seu povo, na sua vida, transformando a sala de aula num ambiente prazeroso, em que sem distinção valoriza cada cultura, destaca suas especificidades e procura compreender como as culturas interferem e influenciam as escolhas desses educando, crianças, jovens ou adultos.

Pretendemos trabalhar com as músicas de Gonzaga no ensino da língua portuguesa, para reforçar a autoestima, a reflexão, o respeito e a dignidade humana, motivando e capacitando o aluno para interagir com os colegas, a família e a comunidade, dialogando com a história, a memória e a atualidade na construção do aprendizado. Trabalhando os valores morais e a importância do conhecimento popular na vida das pessoas, ajudando-os e estimulando-os a desenvolver o gosto pela cultura para o seu desenvolvimento pessoal e profissional. E então nessa ação, cooperar com a evolução da educação e o crescente interesse das pessoas de participar com motivação da escola e nas atividades da sua comunidade.

Porque pensar na educação é pensar na inclusão social, pois a evolução no ensino só acontecerá se todos estiverem em comunhão com esse propósito. É pensar nas classes menos privilegiadas da nossa sociedade, que ainda hoje em dia enfrentam dificuldades de educar o seu filho. É pensar em reforçar e expandir o aprendizado também aos pais. É pensar no amanhã sem esquecer o presente. É conscientizar os responsáveis a motivar e encaminhar os seus filhos para escola, não por obrigação, mas pelo reconhecimento do valor que tem a educação, contribuindo assim com o crescimento social e cultural da humanidade. E em especial, pensar na educação é investigar se o ensino da língua está sendo ministrado com base nos princípios da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, sobre a “Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber” (LDB, 1996).

No ensino da língua portuguesa para que aconteça um crescente desenvolvimento no aprendizado do educando em sua comunidade cultural, é preciso antes de tudo imaginar uma aula prática com motivações do cotidiano para uma boa aceitação e compreensão do que está sendo aprendido. Num processo significativo de ensino-aprendizado com a cultura popular, onde o seu conhecimento complementa o aprendizado do outro. E isso tudo pode ser oferecido com conhecimento desse aluno, da sua vida social, cultural, profissional e da sua limitação e capacidade motora e cognitiva para estudar/aprender. Com base nas diversas metodologias de ensino e propostas de adaptação do currículo escolar ao educando (crianças, jovens e adultos) para o conhecimento da língua portuguesa com aulas voltadas a sua comunidade e cultura. Pois como afirma Paulo Freire: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 21).

O objetivo desse trabalho é transformar o ensino da língua portuguesa num exercício prazeroso aos estudantes com abordagem direta e simples dos fundamentos sócio, histórico, cultural que estão presentes no modo de viver desse aluno, fazendo-o compreender que tudo o que falamos e escrevemos é analisado, interpretado, aceito ou não. E que suas preferências, sua maneira de agir e está no mundo têm sempre o que ensinar, como por exemplo: as músicas, os filmes, livros e as imagens e textos que circulam no dia a dia, são e estão repletos de significados, assim, saber interpretá-los é fundamental para uma boa compreensão da língua portuguesa e do mundo.

E, Luiz Gonzaga interpretou, como poucos, temas que retratam as questões do cotidiano e da cultura nordestina com todas as suas peculiaridades. Esse artista resgata na memória do ouvinte/leitor lembranças e sensações que cada sabor, imagem, som, provocam. Logo, o trabalho realizado com as músicas de Luiz Gonzaga em sala de aula fará o aluno refletir sobre o significado e a influência da cultura popular na sua vida e a reconhecer que cada cultura forma-se das contribuições de outros povos e outras culturas. As obras desse autor no ensino da língua portuguesa possibilitam, entre outros: estudos sobre a variação linguística e sobre os múltiplos significados das palavras na produção textual. Vejamos por exemplo: “lá no meu pé de serra, deixei ficar meu coração (GONZAGA, 1947), nesse trecho da música, pode-se destacar um trabalho sobre o sentido conotativo das palavras sublinhadas.

É nessa perspectiva, que pretendemos trazer esse artista à sala de aula para despertar o interesse do aluno em conhecer seu lugar, sua gente e suas histórias. Também com as músicas desse autor procuraremos abordar temas relacionados ao sentimento, as reações e experiências de cada aluno ao se deparar com lugares ou situações inusitadas e a importância dessas composições para a compreensão do homem e sua cultura, da língua e sua gente.

Juntos nesse trabalho de ensino-aprendizado da língua portuguesa estarão: alunos, educadores, artistas e a comunidade; protagonistas que fundamentam o estudo sobre a expressividade do conhecimento popular no ensino da língua portuguesa. Personagens que produzem cultura, e, que vivendo às vezes, na simplicidade, trazem consigo experiência de vida, apresentando nos gestos, na força e na produção cultural, o sentimento de pertencer a sua gente com sua arte, seus costumes e tradições. Imprimindo nesses movimentos culturais “o gosto de ser gente” (FREIRE, 1996).

Nesse trabalho evidenciamos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação; os Parâmetros Curriculares; os ideais de educadores como, Paulo Freire; a música de Luiz Gonzaga e o conhecimento da comunidade escolar sobre a cultura popular. Não com propósito de se olhar apenas o objeto produto dessa ação, mas com um olhar sobre a linguagem, as vozes, a representatividade e importância das culturas para a humanidade. Com propostas pedagógicas que atendam de modo satisfatório as expectativas de todos num processo evolutivo, participativo, cooperativo e significativo no ensino-aprendizado da língua.

O ensino-aprendizado da língua portuguesa com Luiz Gonzaga conscientizará o aluno para o conhecimento da cultura que através da memória procura resgatar o valor expressivo em cada gesto, som, palavra e história contada pelo seu povo. Ensinar e aprender a língua portuguesa para assim o aluno poder registrar toda intensidade da sua cultura, desse conhecimento adquirido através da fala, culinária, dança, artesanato, enfim, de toda expressão cultural. Visando, portanto, proporcionar ao aluno se ver como construtor desse conhecimento, ao abordar o seu cotidiano revelado nas expressões existentes em seu universo. Estabelecendo a consciência crítica/reflexiva das coisas, incentivando-o para o crescimento sem submissões, com dignidade e autonomia, trabalhando a sua capacidade de aprender, ensinar e evoluir com sabedoria.

Assim, os métodos abordados nesse estudo apresentarão o propósito de trabalhar a cultura popular no ensino da língua portuguesa através: da pesquisa bibliográfica para fundamentação teórica, busca de informações e conhecimento na área; da pesquisa de campo para coleta de dados e registro das curiosidades dessa vivência; do diálogo com alunos, educadores e a comunidade; do estudo e conhecimento da literatura, da arte e das marcas de regionalismo e cultura popular em Luiz Gonzaga. Com estudo das palavras e expressões específicas de cada cultura, cada grupo e comunidade cultural, e, do resgate as memórias/histórias herdadas e deixadas para as gerações futuras.

Métodos que almejam, além de tudo, conhecer os alunos, seu relacionamento, seu envolvimento com os estudos e com a vida social; conhecimentos esses, que serão discutidos pelos próprios alunos ao apresentarem o seu cotidiano, suas deficiências, seus problemas, suas manifestações culturais, sua profissão, enfim, ao revelar que a sua vida na comunidade e “sua presença no mundo vá tornando convivência, que seu estar no contexto vá virando estar com ele, (...) É o saber da História como possibilidade e não como determinação. O mundo não é. O mundo está sendo” (FREIRE, 1996, p. 30). E assim reconhecendo a sua realidade esse aluno se reconhece, descobre sua capacidade de evoluir com as mudanças, de reconstruir saberes, de transformar a sua vida e de melhorar a sua comunidade, com coragem e determinação, superando as barreiras para poder transformar o mundo.

E para um melhor direcionamento desse estudo, no primeiro capítulo denominado, Luiz Gonzaga: Memória, Regionalismo e Identidade. Traçamos uma reflexão sobre os aspectos expressivos nas músicas de Gonzaga ao falar com sua gente e de sua cultura. No segundo capítulo, Contribuições da música de Gonzaga no ensino da língua, são apresentadas propostas de trabalhos para o aprendizado da língua portuguesa com as músicas de Gonzaga, numa abordagem significativa, construtiva e coletiva, analisando na música os fatores linguísticos e extralinguísticos. No terceiro capítulo, O aluno e sua cultura: Curiosidades e vivência que ensinam, expomos a análise fundamentada na pesquisa bibliográfica, no convívio com alunos(as), a comunidade escolar e os(as) professores(as) de língua portuguesa. E por fim, nas considerações finais refletimos com base nesse estudo sobre as possibilidades de relacionar e adequar essa leitura a outros textos, músicas, autores, cantores e poetas.

2. LUIZ GONZAGA: MEMÓRIA, REGIONALISMO E IDENTIDADE

Luiz Gonzaga do Nascimento, expressivo poeta do cenário da cultura popular nordestina nasceu aos 13 dias do mês de dezembro de 1912, na Fazenda Caiçara, em Exu - Pernambuco. Este filho de Januário José dos Santos (Mestre Januário) e Ana Batista de Jesus (Santana). Pai do também cantor/compositor Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (Gonzaguinha) e casado com Helena das Neves Cavalcanti. Desde muito novo se interessou pela música ao tocar com uma pequena sanfona de 8 baixos, e em sua trajetória musical Gonzaga teve grandes parceiros, entre eles, citamos: Humberto Teixeira e Zé Dantas. E aos 76 anos de idade, no fatídico dia 02 do mês de agosto de 1989 morre este, cantor, compositor, músico, poeta e interprete da música popular brasileira, que a partir das próximas linhas apresentamos para fundamentar o trabalho com suas músicas no ensino da língua portuguesa.

Luiz Gonzaga divulgando sua cultura revela um sentimento forte por sua gente, expressando nas palavras o cotidiano desses personagens, suas crenças e tradições. Assim, nos aventuramos a fazer uma leitura crítica/reflexiva dessas músicas em sala de aula, para auxiliar o aluno a compreender as relações intertextuais que o autor coloca nas músicas, e então, comentando, discutindo, dialogando sobre as diversas informações apresentadas nas músicas, o aluno também desenvolve uma análise crítica dos assuntos que fazem parte de sua vida. E compreende que vivendo de criar cultura, cultura popular, arte e educação “nós transformamos os ambientes em que vivemos para adaptá-los a nós e para tornarmos possível e progressiva a nossa vida neles” (BRANDÃO, 2008, p. 27). Porque a cultura revela o modo simbólico e reflexivo como vivemos na sociedade, e como nos colocamos diante de cada situação, porque como diz BRANDÃO3,

A cultura está contida em tudo e está entretecida com tudo aquilo em que nós nos transformamos ao criarmos as nossas formas próprias – simbólicas e reflexivas – de convivermos uns com os outros, em e entre as nossas vidas. Vidas vividas, de um modo ou de outro, dentro de esferas e domínios de alguma vida social. (...) Desta forma a cultura está presente nas maneiras como criamos: entre nós mesmos, sobre nós mesmos e para nós mesmos, as palavras, as ideias, as crenças e as fábulas a respeito de quem nós somos; do porque somos quem somos; de como devemos ser uns com os outros, e com os outros que não são como nós (BRANDÃO, 2008, p. 31-32).

Vemos em Gonzaga que a originalidade é marcante, passado e presente se misturam para o conhecimento da cultura popular. A obra de Gonzaga é um convite ao estudo sobre a linguagem, a escrita e a oralidade. Suas músicas retratam a vida familiar, com detalhes nas ações de cada personagem, revelando nas palavras a saudade desse convívio em família. Uma vida descrita com saudosismo e lembranças da mãe, do pai, da roça, das crenças, dos sabores e das festas. As músicas também falam das aventuras, dos encontros e das adversidades enfrentadas pelo homem, numa descrição detalhada das ações, das personagens e acontecimentos, que até transporta o ouvinte/leitor a criar o cenário, como se esse estivesse presenciando ou vivendo tal situação.

Gonzaga com suas músicas faz uma leitura de mundo e assim nos remete a Paulo Freire, que valoriza a conscientização do aluno. E essa conscientização que esse educador apresenta valoriza a capacidade de aprender do outro, independente da sua formação, pois como diz Freire (1996, p. 77) “O desrespeito à leitura de mundo do educando revela o gosto elitista, portanto antidemocrático, do educador que, desta forma, não escutando o educando, com ele não fala. Nele deposita seus comunicados.” E assim não ouvindo o aluno esse educador desrespeita a sua compreensão e interpretação.

A educação com a música de Gonzaga para o conhecimento, a socialização, o respeito e a criação de novas formas de aprendizado da língua portuguesa a partir das experiências vividas pelo aluno em sociedade. E então, condenando o autoritarismo e as formas punitivas, poderemos ensinar as pessoas para exercer suas atividades com autonomia. Educar as crianças, os adolescentes e os jovens na sua formação moral e desenvolvimento pleno, numa concepção democrática participativa, de envolvimento coletivo, na qual todos ensinam e são aprendizes, avaliam e são avaliados. E assim, norteado nesse contexto para uma educação mais humana, René Marc da Costa Silva4, afirma que necessitamos de práticas pedagógicas,

(...) capazes de reorientar a escola e a educação para um sentido menos instrumental, menos utilitarista e mais humano. Construir uma nação livre, tolerante e igualitária é, de outra forma, sermos capazes de torna-la plural, multissapiente, multicultural, multiétnica e multirracial. Uma nação que possibilite a comunicação horizontal entre centro e periferia, eliminando as oposições hierarquizantes existentes entre estes dois polos, uma nação com indivíduos capazes de reconhecer a diversidade como elemento fundante e característica fundamental para a existência de uma sociedade disposta a fazer-se democrática, justa e igualitária (SILVA, 2008, p. 10).

E o ensino da Língua Portuguesa com a música de Gonzaga serve para discutir sobre essa formação para cidadania, para o conhecimento dos direitos e deveres que cada pessoa deve exercer na participação coletiva e no respeito ao outro. Um ensino voltado ao desenvolvimento pessoal com conhecimento individual do aluno, apresentando a disciplina de forma significativa, e observando que cada aluno responde de maneira diferente aos estímulos ou ao que é ensinado. E assim o(a) professor(a) interagindo com o(a) aluno(a) nas suas avaliações, fazendo ele/ela refletir de maneira critica/construtiva, sobre artes e culturas populares, aprendizado e educação lembra-nos a pedagogia “freiriana” vista na fala de Carlos Henrique Brandão, ao explicar que,

Cada ser humano é um eixo de interações de ensinar-aprender. Assim, qualquer que seja, cada pessoa é em si mesma uma fonte original de saber e de sensibilidade. Em cada momento de nossas vidas estamos sempre ensinando algo a quem nos ensina e estamos aprendendo alguma coisa junto a quem ensinamos algo. Ao interagir com ela própria, com a vida e o mundo e, mais ainda, com círculos de outros atores culturais de seus círculos de vida, cada pessoa aprende e reaprende (BRANDÃO, 2008, p. 33).

Apresentando e trabalhando com as músicas, propostas novas no ensino da língua portuguesa para com atividades pedagógicas criativas, envolver o(a) aluno(a) no aprendizado. Fazendo-os refletir sobre o valor desse aprendizado para a vida, sem lhes tirar os sonhos e desejos. Ensinando-lhes que o que se aprende hoje, amanhã precisa ser repensado, pois vivemos aprendendo e ensinando, já que a formação humana nunca se completa, o que hoje é novo, amanhã poderá ser ultrapassado e sem importância, por isso, precisa ser reformulado.

Nas músicas, Gonzaga revela o seu mundo. E nesse revelar, ele cria dialogando com o cotidiano, os acontecimentos, as personagens e a história. E nesse constante processo dialógico ele mostra sua satisfação ou indignação diante da realidade, contribuindo para o crescimento de uma consciência crítica do ouvinte/leitor. Logo vemos, por exemplo, todo esse sentimento e engajamento expresso na música “Vozes da Seca”,

VOZES DA SECA

Seu doutô, os nordestino
Têm muita gratidão
Pelo auxílio do sulista
Nesta seca do sertão
Mas doutô, uma esmola
A um home que é são
Ou lhe mata de vergonha
Ou vicía o cidadão
É por isso que pedimo
Proteção a vomicê
Home por nós escoído
Para a rédias do podê
Pois doutô dos vinte Estado
Temos oito sem chuvê
Veja bem, quase metade
Do Brasil tá sem comê
Dê serviço ao nosso povo
Encha os rio de barrage
Dê comida a preço bão
Não esqueça açudage
Livre assim nós da esmola
Que no fim dessa estiage
Lhe pagamo até os juro
Sem gastar nossa corage
Se o doutor fizer assim
Salva o povo do sertão
Se um dia a chuva vim
Que riqueza pra nação
Nunca mais nós pensa em seca
Vai dá tudo neste chão
Como vê, nosso destino
Mecê tem na vossa mão
Mecê tem na vossa mão.

(ZÉDANTAS, GONZAGA, 1953)

Nesse contexto observamos também que a linguagem nas músicas desse autor provoca descobertas e discussões acerca da estranheza de palavras que não fazem parte da leitura cotidiana de muitas pessoas, mesmo sendo essa repleta de significados e infinitas interpretações. Assim a linguagem presente nas músicas de Gonzaga, faz parte de um contexto de afirmação dessa cultura, e com recursos linguísticos do cotidiano mostra em suas obras, palavras cheias de expressividade e significados. Pois como diz Silva (2008, p. 15) “a linguagem sabemos, é a capacidade de expressar, de simbolizar e comunicar ideias, sentimentos, sensações... enfim, de dizer o mundo.” E nesse narrar, as músicas de Gonzaga têm como base a oralidade presente nas manifestações artísticas, nos improvisos dos cantadores/repentistas, na literatura de cordel, nos contos populares e nas histórias do cotidiano.

E Gonzaga nesse narrar, nos faz entender que, como diz Silva5 (2008, p. 128) “é diferente de escrever, é falar. (...) num discurso que implica sempre um ouvinte caracterizado, principalmente, por uma comunicação face a face. (...) um narrador que está vendo o rosto dos seus ouvintes e está aberto e vulnerável à opinião de seus interlocutores.” Deste modo, vemos a importância de fazer o aluno compreender essa especificidade do narrar, pois como afirma René Marc da Costa Silva, é preciso “Recuperar nos currículos, para crianças e adolescentes, a beleza do narrar, do poetizar, do cantar, do jogar com as palavras e permitir respirar de novo, com novos ares, o terreno sobre o qual se pretende construir um conhecimento diferenciado” (SILVA, 2008, p. 129).

Suas músicas expressão a fala, o sentimento, a religiosidade, as emoções, as festas, as danças, enfim, os acontecimentos relacionados ao mundo desse poeta. Assim, ao refletir sobre a música de Gonzaga com a turma, o(a) professor(a), como diz Silva6 (2008, p. 39) ensina que “quando a história termina na fala do contador, algo dentro de cada um de nós se inicia e ganha força e poder. (...) as palavras docemente ou fortemente ouvidas, dependendo do manejo oral do narrador, ganham vida, misturando-se com nossas próprias vidas, modificando-as, sem que muitas vezes tenhamos consciência disso.” Percebendo, portanto que o trabalho com a música desse poeta fornece múltiplas experiências para a apreensão do conhecimento através do diálogo interacional com o(a) aluno(a) e sua vida.

Nas músicas de Gonzaga encontram-se o imaginário, as figuras de linguagens, de pensamento e de estilo. O diálogo e a ação que se encontra nas entrelinhas das músicas servem para refletir sobre aquilo que não está dito literalmente, por isso é necessário conhecer o contexto. E em algumas músicas, Gonzaga parece projetar-se para dentro de si, num introspectivo sentimentalismo exagerado da vida, do amor e, às vezes, do sofrimento, e com esse lirismo expressa os sonhos e desejos do seu povo. Sua obra afina-se com a criação literária, ao retratar com estilo, tudo aquilo que faz parte do cotidiano do seu povo. Logo, vemos nas suas letras, que Gonzaga descreve, narra, refere-se aos personagens, as festas e a alegria desses habitantes, nos instigando a refletir com os alunos sobre como os autores descrevem os sabores, o ambiente e as personagens para atrair a atenção do leitor/ouvinte.

O ensino da língua tem como parâmetros curriculares o trabalho com os mais variados textos para que o aluno aprenda não apenas a gramática, mas sim possa construir um aprendizado que o fará agir consciente e criticamente como sujeito. E em Gonzaga temos essa música como objeto de memória “capaz de construir conteúdos musicais com significados, origens e tradições. (...) dada a sua mobilidade de absorver e transformar influências culturais através da combinação dos gêneros musicais, dos ritmos regionais e da mistura dos elementos da música erudita e popular” (MURRAY7, 2008, p. 109). E é pensando nesse propósito que o ensino da língua portuguesa com a música de Gonzaga fará o aluno compreender na construção do texto oral ou escrito, que em cada gênero há normas especificas que o diferencia e que esses são produzidos para atender a diferentes interlocutores e funções.

Salientando-se, portanto que aprender é mais do que receber informações e conteúdos passivamente. Aprender é formular conceitos, compreensão e valores ao assunto aprendido; aprender é ter visão de mundo para refletir criticamente sobre os acontecimentos. As músicas são extensões do comportamento humano, das situações socialmente vividas, elas revelam a capacidade do autor, interprete e orador, do ouvinte ou leitor construírem sua identidade e externar a sua cultura. E, é na aprendizagem com estas músicas que o aluno conseguirá aprimorar sua capacidade de produzir e expor através da oralidade e escrita suas impressões. É como se disséssemos aos alunos que ao final de uma música de Gonzaga:

(...) as palavras se aquecem, ardem e se consomem, mas não somem, antes se diluem num continuum, gerando palavras que puxam palavras num jogo de produção de sentidos que não tem fim. (...) dizeres e saberes que promovem todo um conjunto de discursos que, incorporados ao dia-a-dia de uma comunidade, organizam e elaboram os mitos, as lendas, as histórias, brincadeiras, as crenças, os valores e os conceitos que configuram a identidade de um determinado grupo social, (...) A isso denominamos cultura. E é através da cultura que nos conhecemos, conhecemos o outro e formamos nossa identidade, pessoal e coletiva, criando raízes (SILVA, 2008, p. 39-40).

E analisando as músicas de Gonzaga compreendemos que “Neste sentido, as trocas culturais são fundamentais, pois para saber quem sou, preciso muitas vezes recorrer ao que eu não sou, ao outro, ao diferente, ao plural” (SILVA, 2008 p. 40).

Assim, as obras desse poeta abordam temas voltados para as questões universais do homem, sua personalidade e a sua luta para sobreviver em meio a tantas adversidades. Basicamente na leitura dessas músicas encontramos os problemas dessa sociedade capitalista, na qual através de uma perspectiva regionalista revela o drama da seca, dos retirantes e a submissão desse homem aos latifundiários, e com a sua inocente ignorância, sofre com as mazelas e o descaso político da região nordeste. Isto é, as músicas de Gonzaga dialogam com a realidade de muitos brasileiros, e provocando a memória do ouvinte/leitor esse autor convida, por exemplo, a refletir na contemporaneidade sobre os interesses dos políticos em manipular o homem como se fosse um fantoche.

Com a expressividade da palavra na música de Gonzaga, podemos discutir com os(as) alunos(as) o preconceito que ás vezes ela também revela, e então nesse contexto refletir sobre o que nos fala Ricardo Gomes Lima8, ao destacar o valor expressivo na palavra, ele diz: “Existem palavras muito perigosas porque, quando empregadas, podem encobrir a realidade ao invés de desvelá-la e, mais do que isto, podem transformar-se em instrumento de hierarquização e discriminação entre pessoas, objetos, atos” (LIMA, 2008, p. 65). E nessa discussão com os alunos sobre a expressividade da palavra, podemos dialogar mais uma vez com Lima (2008, p. 70) quando falando do saber combatendo o fazer, ele afirma que nessa distinção “supõe-se que tudo aquilo que advém da ação das elites é resultante de um conhecimento superior, (...) negando às camadas populares da sociedade a capacidade de pensar, a possibilidade de conceber e se expressar racionalmente.”

E, portanto é compreensível discutir sobre essa discriminação do saber, porque o homem nessa incansável luta pelo conhecimento traz consigo o saber popular vivenciado no cotidiano, enraizado nas crenças e nos costumes de cada povo e/ou região, um saber que oferece respostas sem base científica para os mais variados assuntos do dia a dia; isto é, o homem carrega consigo um conhecimento passado de geração em geração, um saber que não se fundamenta em teorias, pesquisas, investigações ou experiências. Mas é um saber que não deve ser desprezado, pois possui em sua essência marcas que podem servir de base para o “conhecimento científico” definido exatamente pelo seu caráter investigativo, que busca nas pesquisas, experiências e avaliações, fundamentos consistentes para sua confirmação.

Por essa razão compreende-se que não devemos avaliar as diferentes culturas ou saberes tendo como princípios um julgamento de valores, porque assim corremos o risco de discriminar o que vem do outro, considerando, portanto o que nos diz Brandão a esse respeito,

Nós nos acostumamos a atribuir qualidades às diferentes culturas humanas, em geral tomando a nossa própria como referência. Às vezes damos a isto o estranho nome de “etnocentrismo.” O nome é estranho mesmo, e a “coisa” que ele traduz também. Pois ele é a perigosa vocação de centrarmos nossas avaliações em nós mesmos, (...) e a partir daí atribuirmos significados a todos e a tudo o mais (BRANDÃO, 2008, p. 35).

Enxergamos a necessidade de que ao conhecer outras culturas, é preciso, “um olhar de vocação multicultural, compreendendo que as culturas humanas são diferentes, mas nunca desiguais, (...) e qualquer julgamento que as quantifique e estabeleça hierarquias é indevida” (BRANDÃO, 2008, p. 35).

E nesse contexto observa-se a necessidade de se ensinar considerando as linguagens artísticas que a música proporciona, ao olhar e enxergar quem são nossos alunos e, como diz Gabriel9 (2008, p. 75) observar “sob um novo prisma, este instigante e, muitas vezes, misterioso mundo da relação professor/aluno, escola/comunidade, cultura/arte e educação.” E ao trazer essa reflexão para sala de aula, o(a) professor(a) discuti com os alunos sobre a influência cultural para juventude, a realidade sociocultural do país, os descasos na sociedade, as metas para melhores condições de vida... E assim através da música de Gonzaga as palavras vão se fortalecendo e ajudando a compreender esse mundo de uma maneira mais reflexiva e consciente.

Gonzaga com suas músicas nos faz compreender que a identidade cultural, como diz Gabriel (2008, p. 76), “surge do pertencimento a culturas étnicas, raciais, linguísticas, religiosas e, sobretudo, nacionais. (...) As pessoas sentem-se identificadas umas com as outras e, ao mesmo tempo, distintas das demais.” Talvez por isso, sentem essa necessidade de pertencer a uma cultura ou um grupo, porque a identidade diz respeito exatamente a,

Quem somos, como brincamos, dançamos, cantamos, contamos histórias, resistimos? Essas questões incentivam a curiosidade em desvelar dentro da escola o conhecimento de nossos educandos e educadores, saberes culturais, nascidos e desenvolvidos nas histórias de origem e do dia-a-dia. Expressões multiculturais que colorem nossos jeitos de ser, pensar e agir, demonstrando a necessidade de falarmos de inclusão, de diversidade, de educar para a diferença natural de tantos povos que compõem o povo brasileiro. Essa pluralidade é que cria arte, cultura, solidariedade, regras de convivência, ética, pertencimento, autoestima(...) (GABRIEL, 2008, p. 80)

Nas músicas Gonzaga valoriza a identidade cultural e linguística do seu povo. Cantando ele nos faz refletir sobre o que as palavras representam. Ao cantar Gonzaga provoca, acalma, feri, informa e motiva, melhor dizendo, com as palavras da sua gente ele promove a perspectiva da coletividade se colocando em posição de igualdade ao conversar e descrever a sua gente. Analisar as músicas de Gonzaga é falar de história, é desvendar os mistérios guardados na mente e no inconsciente desse autor/interprete para poder compreender, e em especial, conhecer o contexto dessas músicas, nesse “hibridismo” de crenças e raças, da tradição local, com seus cantos, adivinhações e ditos populares. Encontrando na narrativa de Gonzaga o partilhar das suas experiências vividas e, portanto, compreender como nos diz Francisco Marques10 que,

Narrar é um ato inventivo, seja para contar o acontecido ou apalavrar o imaginado. E toda a sua invenção reside no detalhe: evidenciar uma palavra, iluminar uma pausa, desdobrar um gesto, incorporar a participação dos ouvintes, buscar um tom de voz, encaixar um comentário, introduzir uma personagem, arquear as sobrancelhas... Desenrolar o enredo e enredar as palavras são as duas páginas da mesma folha. O ouvinte não se envolve apenas com o rumo dos acontecimentos, mas também com o rumor das palavras (MARQUES, 2008, p. 171).

E assim, Gonzaga nesse envolvimento com as palavras, como nos diz Marques (2008, p. 172), “escolhe as palavras que receberão entonações especiais, encaixa pausas para que os ouvintes possam construir suas imagens, mergulhando na experiência da narração,” porque nesse dialogar com os ouvintes a narrativa ganha mais expressividade.

Trabalhar com a música de Gonzaga para também compreender a expressividade da Cultura Popular Urbana trazida pelo aluno, pois como nos diz Martins11 (2008, p. 57), “é possível pensar nos alunos como produtores e consumidores de culturas que se manifestam nos diversos espaços públicos e que nem sempre têm visibilidade no interior da escola.” E assim nesse contexto entendermos que é necessário a escola enxergar o aluno, para partindo desse entendimento reavaliar suas práticas pedagógicas, e criar propostas de ensino motivadoras, pois como vemos nas palavras de Carlos Henrique dos Santos Martins, muitas escolas recriminam ou desconhecem a cultura do(a) aluno(a), agindo,

(...) como se a cultura estivesse contida em uma mochila que devesse ser deixada na porta da escola e, ao ultrapassar os seus muros e portões, o aluno tivesse de abandonar sua bagagem de conhecimentos e estivesse apto a receber outros novos que nem sempre lhe dizem respeito ou despertam seus interesses (MARTINS, 2008, p. 57).

E nessa reflexão sobre a linguagem da cultura popular urbana, Martins (2008, p. 59) diz que “Para o professor existe a possibilidade de (...) compreender a importância dessas linguagens através das quais a criança e o adolescente urbanos estão se expressando e de procurar, junto com eles, alguns caminhos que possam valorizar e aproximar cultura urbana e conteúdo”. Portanto, são explicações que nos faz pensar sobre a importância do diálogo e da troca de saberes entre as diferentes culturas, porque como sabemos no ensino aprendizado da língua portuguesa, é imprescindível esse olhar crítico reflexivo sobre o conteúdo, e também, sobre a importância de se aprender com o outro que “as múltiplas expressões da cultura popular urbana (...) os identifica como sujeitos” (MARTINS, 2008, p. 59). E reconhecer que “(...) Ao mesmo tempo em que aprende o professor pode contribuir para dinamizar e tornar mais agradável o processo educativo, ao utilizar os elementos constitutivos dessas várias práticas culturais para orientar a aprendizagem” (MARTINS, 2008, p. 59).

Portanto, a música de Gonzaga dialoga com o cordel, os contos populares, a arte extraída do barro, da madeira e da literatura. Ouvir, ler, refletir sobre a obra de Gonzaga é também, discutir os gostos do(a) aluno(a), fazendo uma ligação de como seu conhecimento pode colaborar para o aprendizado. Trazer esse autor à sala de aula para que o aluno perceba que através de um estudo da música é possível encontrarmos significados antes imaginado. E compreender e resgatar o valor expressivo das músicas de Gonzaga é tarefa que requer esforço, curiosidade e determinação para desvendar os mistérios por trás de cada produção. Refletir sobre estas obras é percorrer os caminhos da evolução no aprendizado, sabendo tirar proveito de todos os recursos para que através da educação o aluno aproveite os benefícios que o ensino da língua portuguesa pode proporcionar a sua vida.

3. CONTRIBUIÇÕES DA MÚSICA DE GONZAGA NO ENSINO DA LÍNGUA

A música de Gonzaga faz parte de um cenário histórico brasileiro. E servindo-se do vocabulário e de uma sintaxe popular, esse autor nos presenteia com suas obras, ao trazer para o presente, um hibridismo entre ritmo, poesia e narrativa, porque como podemos ler e ouvir, em suas composições e interpretações Gonzaga narrando uma história, como por exemplo, em “Samarica Parteira” nos presenteia com “onomatopeias,

Piriri piriri / uma cancela: nheeeiim... pá... / Piriri piriri / outra cancela: nheeeiim... pá! / Piriri pirir... êpa! / Cancela como o diabo nesse sertão: nheeeiim... pá! / Piriri piriri / Um lajedo: patatac patatac. Saí por fora! / Piriri piriri / Uma lagoa, lagoão: bluu bluu, oi oi, kik' k' - a saparia tava cantando (ZÉDANTAS, 1973).

ao reproduzir os sons em palavras, E assim ele com uma linguagem coloquial e irreverente nos transporta para a cena. Pois este autor e interprete da música popular brasileira imprime nas suas letras, as vozes, a cultura, a história, a identidade e o regionalismo de sua gente.

E trazendo essa mistura de linguagens, poderíamos até afirmar que a música de Gonzaga é “sinestésica” porque mexe com as sensações que são percebidas por diferentes órgãos, nos possibilitando, por exemplo, com a mesma “Samarica Parteira” no ensino da língua portuguesa, estudar acerca da variação linguística em,

Peguei o cavalo véi de Samarica que comia no murturo. (...) Botei a cela no lombo desse cavalo e acochei a cia peguei a véia joguei em riba, quase que ela imbica p'outa banda.” E também em: (...) - Acende um incenso. Boa noite, D. Juvita. / - Ai, Samarica, que dô! / - É assim mermo, minha fi'a, aproveite a dô. Chama as muié dessa casa, p'a rezá a oração de São Reimundo, que esse cristão vem ao mundo nesse instante. B'a noite, cumade Tota. / - Vosmecês sabe a oração de São Reimundo? / - Nós sabe. / - Ah Sabe, né? Pois vão rezando aí, já viu?? (ZÉ DANTAS, 1973). (grifo nosso)

E as construções sintáticas “- Oi sertão! / - Ooi! / - Sertão d' Capitão Barbino! Sertão dos caba valente... / - Tá falando com ele!... / -...e dos caba frouxo também. / -...já num tô dento. / - sertão das mulhé bonita... / - ôoopa / - ...e dos caba fei' também ha, ha / - Lula! / - Pronto patrão.” atribuindo expressividade ao texto através de recursos que caracteriza o diálogo impresso no curso dos versos.

Deste modo as músicas de Gonzaga apresentam figuras de linguagem que auxiliam a construção de efeitos expressivos na produção. Como, quando o autor utiliza exageros, substituição ou diminuição de palavras para deixar subentendido algo; formas suaves de se expressar sem alterar o sentido do que está sendo dito, e, apresentação por meio da associação, semelhança ou comparação. São efeitos ou estilos expressivos que colaboram para que o aluno na leitura de uma música no ensino da língua portuguesa, interprete, compreenda e reflita sobre a intenção pretendida pelo autor. E nesse contexto, observam-se nas músicas de Gonzaga muito destes efeitos expressivos, por isso selecionamos a seguir algumas músicas para exemplificar as possibilidades de ensino da língua, vejamos:

3.1. SÚPLICA CEARENSE / Gordurinha e Nelinho, 1979.

Oh! Deus, perdoe este pobre coitado

Que de joelhos rezou um bocado

Pedindo pra chuva cair sem parar

Oh! Deus, será que o senhor se zangou

E só por isso o sol arretirou

Fazendo cair toda a chuva que há

Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho

Pedi pra chover, mas chover de mansinho

Pra ver se nascia uma planta no chão

Oh! Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe,

Eu acho que a culpa foi

Desse pobre que nem sabe fazer oração

Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água

E ter-lhe pedido cheinho de mágoa

Pro sol inclemente se arretirar

Desculpe eu pedir a toda hora pra chegar o inverno

Desculpe eu pedir para acabar com o inferno

Que sempre queimou o meu Ceará.

(GORDURINHA, NELINHO, 1979)

Com a música “Súplica Cearense” no ensino da língua portuguesa podemos ir além de um estudo fragmentado que busca identificar, por exemplo, a hipérbole “acabar com o inferno” quando o autor fala com exagero sobre o calor. Ou da metáfora “encher os meus olhos de água” quando o autor apresenta o choro por meio da comparação. Porque mesmo considerando importante o estudo destes aspectos da língua portuguesa, objetivamos neste ensino aprendizado através da música de Gonzaga, traçar uma leitura reflexiva percebendo que a nossa língua se apresenta iguais e diferentes nas culturas. E assim, dialogar sobre a palavra, percebendo como afirma Carlos Rodrigues Brandão, que “inventamos na língua portuguesa a palavra (...) para traduzir uma mesma coisa da natureza, dita e escrita de infinitas maneiras (...) escrita e cantada com diversos significados” (BRANDÃO, 2008, p. 31). E, portanto ao fazer um estudo mais completo da música, o(a) aluno(a) compreenda o significado e o sentido da palavra no contexto.

Gonzaga em suas músicas não apenas canta, mas também narra com coerência e identidade os temas relacionados ao regionalismo e a cultura popular. Nas músicas, observamos, portanto um retrato coerente quanto ao seu conhecimento de mundo, da língua e da cultura de sua gente. E desta maneira porque Gonzaga narra, ele nos mostra a importância de organização da escrita, para que a música não perca o sentido, pois se a mensagem não for compreendida, dificulta a interpretação e impossibilita a resposta do leitor.

E analisando as músicas de Gonzaga, podemos discutir sobre o conhecimento linguístico como aprendizado fundamental para o(a) aluno(a) compreender a coesão e a coerência nos textos. Exemplificando que as palavras colocadas sem relação uma com as outras tornam o texto incompreensível, que as ligações ocorrem de várias maneiras e o que determina a coesão são as relações que as palavras têm entre si. E que algumas vezes não encontramos essa ligação explícita nas palavras, como por exemplo, na música “Algodão”, mas, mesmo assim é compreensível ao passo que as palavras se complementem numa ação do cotidiano introduzida pela memória e conhecimento do ouvinte/leitor.

4. ALGODÃO / Zé Dantas e Luiz Gonzaga, 1953.

Bate a enxada no chão
Limpa o pé do algodão
Pois prá vencer a batalha
É preciso ser forte, robusto, valente ou nascer no sertão

Tem que suar muito prá ganhar o pão
Que a coisa lá num é brinquedo não

Mas quando chega o tempo rico da colheita
Trabaiadô vendo a riqueza se deleita
Chama a famia e sai
Pelo roçado vai
Cantando alegre ai,ai.ai,ai

Sertanejo do Norte
Vamos plantar algodão
Ouro branco que faz nosso povo feliz
E que tanto enriquece o país
Um produto do nosso sertão (...)

(ZÉ DANTAS, GONZAGA, 1953)

E, assim temos na música “Algodão” a possibilidade de refletir sobre a mensagem que ela traduz. As batalhas que precisamos vencer no dia a dia, o significado das expressões “ouro branco” e “suar prá ganhar o pão”, e a representação da oralidade na escrita através das palavras “trabaiadô e famia”, entre tantas outras questões que poderíamos destacar para o ensino da língua portuguesa. Como, por exemplo, com a leitura da música, motivar o aluno a compreender que ler não é decodificar palavras. Porque na leitura é fundamental “a gente” identificar-se, interagindo com o texto através de nossas experiências, nossos conceitos e conhecimentos. E a música de Gonzaga nos oferece essa compreensão ao dialogar com o conto popular e a literatura, a oralidade e a leitura, influenciando, motivando e contribuindo para a formação de alunos leitores, reforçando suas competências e habilidades. E também oferecendo um aprendizado sobre a especificidade dos textos, porque como diz Ricardo Azevedo,

(...) há textos escritos marcados pela cultura escrita e textos escritos marcados pela cultura oral. Esses últimos tentam sempre recuperar a situação do orador diante de uma plateia, o discurso falado no contato face a face. Textos assim, claros, diretos, concisos e dependentes da plateia (do leitor), são exatamente aqueles utilizados pelo escritor de contos populares. Além da busca da comunicação imediata, da linguagem pública e direta, da concisão e dos temas passíveis de identificação e compartilhamento, um de seus vários recursos é a narratividade (AZEVEDO, 2008, p. 184).

É a música de Gonzaga contribuindo para incentivar e abrir espaço para a criação livre de outros textos, contos, histórias... A música como uma ação construtora de identidade e como recurso pedagógico para aprender sobre as características e funcionalidade dos gêneros textuais, sua utilidade e significação, com explicações sobre os gêneros e as tipologias textuais encontradas em cada produção.

Com as músicas de Gonzaga é possível trabalhar “o fonema” ao interpretarmos na estrutura funcional da língua, sons e escrita, levando assim o(a) aluno(a) a compreender as diferenças existentes nestas modalidades para o registro da fala na escrita. E a música “ABC do Sertão” auxilia nesse estudo sobre som e escrita, porque no ensino da língua portuguesa estudamos a diferença entre o número de letras e do fonema, e aprendemos que nem sempre o som emitido pela palavra indica a forma correta de escrevê-la. Assim, com a música de Gonzaga podemos aprofundar nesse estudo para poder entender melhor a construção das palavras, seu radical, sua unidade mínima de significado e as possibilidades de sons e formas. É a música de Gonzaga contribuindo de forma significativa nesse tema, vejam:

4.1. ABC DO SERTÃO / Zé Dantas e Luiz Gonzaga, 1953.

Lá no meu sertão pro cabôco lê
tem que aprender um outro ABC
O J é Ji, o L é Lê
O S é Si, mas o R tem nome de rê
O J é Gi, o L é Lê
O S é Si, mas o R tem nome de rê
Até o Y, lá é “pissilone”
O M é Mê e o N é Nê
O F é Fê, o G chama-se Guê
Na escola é engraçado
Ouvir-se tanto Ê
A, Bê, Cê, Dê
Fê, Guê, Lê, Mê
Nê, Pê, Quê, Rê
Tê, Vê e Zê

(ZÉDANTAS, GONZAGA, 1953)

E assim elaborando conceitos e procedimentos o(a) professor(a) explica as diferenças existentes entre os sons dos vocábulos para que haja a correta transcrição do que se pronuncia. Também com a música no ensino da língua portuguesa, o(a) aluno(a) aprende que as palavras são formadas de uma “raiz” unidade mínima de significado, e que nesse processo de construção de palavras e sentidos acontece uma associação de fonemas da qual se define como derivação ou composição. Com a música “ABC do Sertão” trabalhamos também com a variedade linguística do idioma, com as mudanças, os acréscimos, enfim, com as inúmeras definições encontradas na formação das palavras, como os afixos que ao criar novas palavras pode se apresentar antes ou depois da base.

Com a música de Gonzaga trabalhamos fundamentados no que dizem os linguistas, ao esclarecer que a língua não se torna imperfeita. Apenas adquirem novos valores com as transformações que ocorre no decorrer dos tempos, e que também estas variações estão ligadas a sociedade com suas mudanças e aos diversos fatores ou níveis: social, regional, econômico, cultural e etário. E analisando as músicas desse poeta percebemos estas estruturas linguísticas que explicam a natureza e função, o potencial e as possibilidades da língua. E também os que descrevem o funcionamento real da língua em certo momento e lugar, e outros, que observam as mudanças no decorrer dos tempos.

Assim ensinar a língua portuguesa fundamentado na cultura popular e na música de Gonzaga para o aluno compreender a importância do ensino da língua sem preconceito, sem conceituar valores ou qualidades. Pois como advertem os sociolinguistas, o ensino da língua deve se pautar pelo uso concreto nas diversas situações comunicativas, considerando que cada grupo e/ou comunidade tem sua maneira de se expressar na fala e escrita. E, portanto, o(a) professor(a) ao ensinar com esse propósito, dialoga com os(as) alunos(as) sobre as situações comunicativas em que as normas são necessárias, e faz o(a) aluno(a) compreender que a norma culta não caracteriza um grupo específico, mas, uma variedade de uso da língua que é utilizada em situações formais.

Nesse contexto, verifica-se, portanto que ensinar a variação linguística presente na música de Gonzaga é percorrer por todos os gêneros e gramáticas; é circular por todos os meios sociais de comunicação para compreender como os alunos se comunicam e quais os seus conhecimentos em relação às diferentes falas. Discutindo com os alunos “(...) a linguagem contemporânea, a linguagem da informação, (...) caracterizada pela brevidade da novidade” (SILVA, 2008, p. 86). E, assim pesquisando, ouvindo, dialogando com os(as) alunos(as) sobre as variações na língua e suas especificidades é que o(a) professor(a) enriquece o tema em sala de aula e provoca o interesse do aluno para a compreensão sobre, por exemplo: a personalidade e intencionalidade de quem produziu o texto; as transformações e influências que a língua recebe; a coerência, adequação e o posicionamento do autor diante de cada situação comunicativa falada ou escrita.

É a música de Gonzaga servindo também para o(a) professor(a) incentivar a criatividade e através da leitura planejar as atividades com criticidade. A música fomentando o aprendizado de criação e (re)construção do texto, com interação entre as práticas pedagógicas, o autor e alunos(as), a escola e a comunidade. E auxiliados pelas artes, a tecnologia e o conhecimento de mundo, aprendendo e ensinando, a recriar e questionar as obras e também os trabalhos pedagógicos elaborados com perguntas que apenas conduz as respostas prontas, nas quais a expressividade da música não é trabalhada. E assim trazer a música de Gonzaga para a sala de aula, refletindo o pensamento de Carlos Rodrigues Brandão ao falar que,

Um outro passo estaria na redescoberta do valor humano e artístico das criações populares. Mas seria então necessário trazê-las para a escola e para a educação, não como fragmentos do que é pitoresco e curioso, ou como um momento de aprendizado de hora de recreio. Ao contrário, o que importa é reaprender com a arte, com o imaginário e com a sabedoria do povo (...) outras sábias e criativas maneiras de viver, e de sentir e pensar a vida com a sabedoria e a sensibilidade das artes e das culturas do povo (BRANDÃO, 2008, p. 37-38).

O ensino da língua portuguesa com as músicas de Gonzaga visa muito mais do que identificar e classificar os elementos linguísticos. Este ensino aponta para uma abordagem mais ampla sobre a música, ao procurar descobrir qual função a palavra assume na música e analisar as diversas possibilidades de produção. Melhor dizendo, o ensino da língua portuguesa com a música de Gonzaga servindo para identificar as circunstâncias, a finalidade, a aceitabilidade e a informação presente em cada contexto, porque na música a expressividade se revela na oralidade. E este ensino aprendizado possibilita explorar, por exemplo, na música “Asa Branca” como o autor constrói essa identidade cultural, ao denunciar os problemas causados pela seca e pelo descaso.

4.2. ASA BRANCA / Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1947.

Quando “oiei” a terra ardendo
Quá fogueira de São João

Eu preguntei
A Deus do céu, ai
Pru que tamanha judiação

Que braseiro, que fornaia
Nenhum pé de prantação

Por farta d'água
Perdi meu gado
Morreu de sede
Meu alazão

Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão

Entonce eu disse
Adeus Rosinha
Guarda contigo
Meu coração

Hoje longe muitas légua
Numa triste solidão

Espero a chuva
Cair de novo
Pra mim vortá
Pro meu sertão

Quando o verde dos teus óio
Se espaiar na prantação

Eu te asseguro
Num chore não, viu
Eu vortarei, viu
Meu coração.

(GONZAGA, TEIXEIRA, 1947)

Com “Asa Branca” Gonzaga reafirma todo seu envolvimento com a história de sua gente, a natureza e as festas características da região nordeste. E com a leitura dessa música o(a) Professor(a) explica, por exemplo, a analogia presente em “Quando “oiei” a terra ardendo / Quá fogueira de São João” e dialoga com a turma sobre os motivos que os autores descreveram para justificar a migração como única solução. Ou, quando fala da saudade com aspiração de voltar, para o amor que ficou. Logo se percebe que Gonzaga traz na “Asa Branca” a linguagem característica da região em que viveu, se encontrando simbolizada nas palavras, “preguntei, pru, fornaia, prantação, inté, entonce...” É o ensino da língua portuguesa com foco na música, com respeito às diferenças sem desprezar as regras.

E nesse processo, o trabalho com a música de Gonzaga tem como propósito facilitar a compreensão do aluno em relação ao uso dessas formas, explicando de maneira mais objetiva os elementos gramaticais, a sua função e o seu significado dentro do contexto. Por essa razão, não devemos pensar nesse modelo de ensino como abandono do estudo das formas gramaticais, mas, como um modelo de interação entre a forma e a função. E com base no que diz René Marc da Costa Silva falando de “Cultura Popular e Educação”, pensamos que não é recusando ou valorizando uma cultura educacional em detrimento a outras, que construiremos o ensino de qualidade, pois o que precisamos é:

Pensar também a possibilidade de uma outra escola, de uma outra maneira de ensinar e, sobretudo, de ensinar outras coisas. Recusar a subalternidade da cultura popular é, portanto, ser capaz também de conceber o mestre, o local/nacional no processo de ensino nas escolas e nas universidades (SILVA, 2008, p. 10).

Compreendendo deste modo que o ensino da língua portuguesa torna-se significativo quando o seu aprendizado se relaciona com o seu uso, quando a fim de aprender com suas experiências, trazemos o artista, o mestre, o músico e o artesão para a escola. E também quando o ensino da língua considera cada situação, cada maneira de expressar na linguagem os nossos pensamentos e a nossa memória. Como diz René Marc da Costa Silva, “construída sobre as experiências vividas, a memória se funda, naquilo que é a argamassa, a tessitura íntima dessas vivências: a linguagem cotidiana, seu léxico e sua sintaxe fornecendo a nós indivíduos ou grupos, os meios de exteriorizar nossa memória em uma narrativa” (SILVA, 2008, p. 86).

Mostrando que ensinar a língua portuguesa é falar, portanto, que a linguagem é ação e compreensão sobre todas as situações que envolvem a atividade comunicativa. É também, promover a formação cidadã do educando, ao conscientizá-lo de sua responsabilidade como agente transformador da sociedade em que vive. Compreendendo a música de Gonzaga para poder identificar os traços que exaltam o homem e sua capacidade de transformar a realidade em que vive.

5. O ALUNO E SUA CULTURA: CURIOSIDADES E VIVÊNCIA QUE ENSINAM

Nos capítulos anteriores fundamentados pelos estudos teóricos, foram apresentadas reflexões referentes à expressividade da música de Luiz Gonzaga no ensino da língua portuguesa, como também relacionadas algumas propostas de trabalhos com as músicas. A partir desse capítulo o embasamento teórico será analisado levando-se em consideração a contribuição prática, isto é, toda essa reflexão terá como embasamento a convivência com a comunidade escolar, os(as) alunos(as) do 6º ano do ensino fundamental e 05 (cinco) professoras de língua portuguesa do Colégio Municipal Desembargador Felismino Guedes, localizado na cidade de Bezerros/PE.

Esse estudo empírico teve o diálogo como fonte de inspiração, o trabalho de observação e a análise do livro didático de língua portuguesa, a fim de verificar as propostas e as possibilidades de uso das músicas na sala de aula. E para que a pesquisa transcorresse da melhor maneira possível, foi essencial ouvir os alunos e as professoras de maneira individual e informal, sem interferir nas atividades em sala de aula.

Assim, no princípio das conversas ao falar do respeito às diferentes culturas, da forte influência do meio em que o aluno vive e da tecnologia no ensino-aprendizado, todas as professoras foram unânimes em dizer que o ensino da língua portuguesa necessita se adequar a realidade do aluno para atingir resultados satisfatórios.

E quando foi discutida a participação da Família e da Comunidade na elaboração das propostas pedagógicas, logo se percebeu um confronto de ideias e justificativas, porque enquanto alguns alunos diziam que seus pais não tinham tempo em participar das atividades escolares. As professoras colocavam esse assunto como falta de interesse dos pais pelo aprendizado do filho. Com isso, observou-se que esse tema revelou uma dificuldade em se trabalhar o cotidiano do aluno, porque, se os Pais e a Comunidade não vêm à escola, não participam dos acontecimentos referentes à aprendizagem dos filhos, então fica difícil criar propostas de ensino que incentive a arte, a cultura, o esporte e a tecnologia, para envolver o aluno nesse aprendizado.

Falando sobre a música de Gonzaga refletir e discutir sobre as políticas públicas, sociais e culturais, fazendo repensar o trabalho do professor na atualidade, a refletir sobre a importância de uma prática pedagógica que desperte no aluno o interesse em aprender, em sair da mesmice, da passividade e subordinação. A música como objeto de estudo que orienta a pensar na humanidade, a ter um comportamento altruísta12, a ser participativo nas decisões que governam o nosso destino e a ter consciência da nossa importância no mundo.

Foi visto que as professoras de Língua Portuguesa conscientes de sua responsabilidade como mediadora do aprendizado que desperta o senso crítico-reflexivo do aluno, se disseram comprometidas, evidentemente, por esse desafio de educar para a cidadania, para uma vida em sociedade, para um conhecimento que ofereça crescimento e melhorias em todos os aspectos na vida do aluno.

Esse estudo sobre a música de Luiz Gonzaga para o ensino da língua portuguesa se apoiou em muitos teóricos e no aprendizado acadêmico adquirido na Universidade. E em especial, essa vivência ratificou o conhecimento acadêmico científico ao revelar que o esforço, o interesse e a participação dos alunos nas atividades, como também, a criatividade dos professores ao trabalhar com o currículo estabelecido para o ano letivo, são indispensável para a melhoria do ensino-aprendizado.

Desse modo, conhecendo o aluno e sua cultura percebeu-se a importância de se transformar os conhecimentos teóricos, científicos e acadêmicos adquiridos sobre a língua portuguesa, em objetos de ensino para sala de aula. Promovendo a interdisciplinaridade, a transversalidade e a contextualização referente à vida pessoal e cotidiana, a sociedade, o mundo e a própria ação de descobertas que aprimora as competências, cooperando para o aluno agir consciente daquilo que aprende e utiliza na sua vida.

E no convívio com as professoras e alunos do Colégio Municipal Desembargador Felismino Guedes, concluiu-se que o ensino da língua portuguesa tem o diálogo como mediador do processo de crescimento da vida em sociedade e como base para a construção coletiva com respeito ao sujeito e sua subjetividade na formação plena do educando.

Logo, observou-se nessa escola que falar em ensino numa dimensão dialógica, é discutir o aprimoramento das práticas docentes e das metodologias que compreendem as dimensões pedagógicas, administrativas e financeiras. Refletindo sobre comprometimento, profissionalismo, liderança, mobilização, transparência, iniciativa, criatividade, visão estratégica, participação e, portanto, dessa forma rejeitar qualquer forma de comodismo, autoritarismo, servidão e limitações que impedem o aprimoramento das práticas pedagógicas e o crescimento do aluno.

E nesse momento de interação com a escola, ficou constatado que no ensino da língua portuguesa é essencial “aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver e aprender a ser” (UNESCO13). Porque, observou-se nesse convívio com alunos e professoras que o ensino da língua portuguesa se torna mais significativo quando o aluno aprende com o professor que incentiva a leitura, a produção textual, a análise crítica, a troca de ideias, a argumentação, o diálogo, a exposição interativa dos temas que vivenciam no dia a dia e que possibilitam relacionar teoria à prática. Priorizando e privilegiando o ensino contextualizado da língua portuguesa.

Assim, nessa pesquisa descritiva foram adotados critérios para facilitar a colaboração de alunos e professoras. Entre os critérios foram realizadas entrevistas informais com cinco professoras de língua portuguesa e alunos do 6º ano do ensino fundamental, tendo como base para as perguntas a contribuição da música de Gonzaga no ensino da língua materna. Esse trabalho de pesquisa também contou com a análise sobre a cultura popular e a música no livro didático utilizado nas turmas do 6º ano do ensino fundamental, observações e reflexão sobre a música na sala de aula e a presença do artista popular e sua obra na escola.

Diante disso, verificou-se que no livro didático de língua portuguesa do 6º ano do ensino fundamental a cultura popular e a música, apresentadas na terceira unidade com o título: “Aprendendo com a sabedoria popular” traz na página nº 166 “Histórias que o povo conta” uma imagem com questionamentos acerca do universo rural, suas personagens e histórias. Logo em seguida como prática de leitura traz o causo14: “Num rancho às margens do Rio Pardo” com propostas que oferece análise do texto, reflexões sobre a oralidade, análise linguística, gramatical e ortográfica, destacando as marcas da linguagem oral, palavras do contexto regional e estudo sobre verbos.

Já as páginas nº 173 e 174 encontram-se entrevista e anúncio publicitário com o cantador e contador de causos Rolando Boldrin. Nestas páginas o aluno participa de atividades estabelecendo relações entre os textos, descobre as especificidades desse modo de narrar e continua os estudos sobre verbos. E a página nº 175 traz o causo “O defunto vivo” e nas atividades sugeridas compara esse texto aos anteriores, discutindo a linguagem utilizada nos textos, estudando sobre os verbos, falam de sua utilização para situar os fatos no tempo, informar as ações, como também, incentiva a pesquisa e análise do texto.

Na página nº 177, com “Aquele animal estranho” é sugerido atividades de pesquisa para produção e apresentação oral de um causo, com orientações que ajudarão na conclusão da atividade. E também abordando sobre as características de produção escrita dos causos, fala de organização e planejamento sugerindo a realização de uma roda de leitura. Já a página nº 186 traz o texto “A história da Literatura de Cordel” sem apresentar discussões sobre o assunto, pois os autores colocaram o texto no livro apenas para explicar a composição de produção desse gênero.

Na quarta e última unidade, na página nº 224 o capítulo dois do livro didático com o título “O povo canta a arte e a cultura” inicia levantando questionamentos sobre as manifestações culturais e sobre o que os alunos conhecem a esse respeito, com imagens para que sejam identificadas e nomeadas algumas tradições culturais brasileiras. Discute se os meios de comunicação divulgam a cultura popular e quais são as músicas que tem mais destaque no cenário nacional através das mídias. Em seguida a página nº 227 traz as canções de lavandeiras “Avião avuadô / Ô siri vem cá” e de aboiadores15 com “Sabiá de melão”. Sempre seguidas de exercícios e atividades que ajudam a refletir sobre as canções e a linguagem das personagens.

A partir da página nº 233 encontram-se as canções “Reisado” e “Manguetown” com informações que provocam a curiosidade do aluno para aprender mais sobre os temas dessas canções. A canção denominada “Toada16” e a ciranda17 com “Três cirandas de Pernambuco” são apresentadas a partir da página nº 239, com atividades relacionadas: a literatura; a inversão de palavras sem alterar o sentido do verso; reescrita da canção; análise sobre a mudança sofrida em decorrência da ênfase no ritmo e sonoridade do texto. Numa relação de troca entre os textos e as canções, com estudos sobre variantes linguísticas, acentuação gráfica, pronome demonstrativo e frase.

E, portanto, mesmo não trazendo nenhuma música de Luiz Gonzaga, observou-se que o livro didático trata da cultura popular com vários textos, contos e músicas. E com uma sugestão criativa o quarto capítulo termina apresentando a proposta de trazer o artista popular, sua arte e sua obra para o ambiente escolar. Com os autores enumerando orientações que envolvem a organização, acolhida, divulgação, entrevista e homenagem.

Desse modo, ao analisar o livro didático do 6º ano do ensino fundamental utilizado na escola e verificar os diálogos das professoras, comprovou-se o empenho pelo ensino contextualizado da língua materna; mas, quando foi perguntado as professoras sobre como elas trabalhariam com a música de Gonzaga, o que fico mais evidente, foram as respostas direcionadas a linguagem, dando ênfase ao trabalho sobre variação linguística, esquecendo, dessa maneira, de mencionar o potencial dessas músicas para discussão de assuntos de contexto: histórico, político, social e culturalmente ligados a condição humana.

E, já nas conversas informais com os alunos relacionadas ao conhecimento deles sobre cultura popular, seus gostos e seu envolvimento com eventos culturais. Verificou-se a dificuldade desses alunos em explicar, por exemplo: como interpretam a música, visto que muitos falavam que gosta da música pelo ritmo, se quer mostraram interesse em dizer o que as palavras expressam.

Sendo assim, fugindo de qualquer saudosismo ou método de trabalho que muitas vezes tratam a cultura popular de forma pitoresca, folclórica, sem observar a expressividade desses movimentos. Esse estudo com o levantamento de dados empíricos, além de complementar a fundamentação teórica e os estudos acadêmicos, pretende despertar nas pessoas envolvidas com o ensino a importância de aproveitar aquilo que é precioso na humanidade, isto é, a sua capacidade inata de aprender e ensinar, pois nesse convívio percebe-se que ensinar a língua portuguesa com a música. É falar de cultura, história, tradição. É impulsionar o interesse do aluno em pensar nos valores que produz ou poderá produzir para as futuras gerações.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho procurou refletir através da pesquisa com levantamentos de dados, o ensino da língua portuguesa com a música de Gonzaga para o amadurecimento e ampliação da cultura expressa em cada produção, para a valorização do cotidiano e a compreensão das transformações que ocorrem no País. Um ensino que se apresenta influenciado pelas tendências sociais, políticas e econômicas, com temas que retratam a expansão industrial, o surgimento e o desenvolvimento tecnológico, o crescimento das cidades e os consequentes problemas sociais na segurança, saúde, habitação, saneamento e transporte.

Sendo assim, a música no ensino da língua portuguesa pensada como prática social, que constrói o caráter do ser humano explorando os sentidos, trabalhando com a sensibilidade, o emocional, as competências e habilidades de cada aluno ao ler, ouvir, falar, interpretar e se expressar sobre a história vista nas músicas. O ensino com a música de Luiz Gonzaga contribuindo significativamente na percepção de sua presença no mundo, enaltecendo suas qualidades e descobrindo suas limitações ou defeitos. E nessa perspectiva da cultura popular envolver o aluno nesse processo de compreensão do mundo através do olhar crítico-reflexivo para que ele possa construir sua história com dignidade, respeito e autonomia.

E na interpretação de cada música aprender que a palavra é movimento. E como em outros gêneros textuais, a palavra sempre é passível a vir a ser outra, pois se modifica dependendo do contexto. Logo, ensinar e aprender a língua portuguesa com a música de Gonzaga é saber recorrer em cada situação discursiva aos recursos linguísticos e extralinguísticos para a compreensão e produção daquilo que o autor pretende expressar.

Consciente de que ao contextualizar o ensino da língua portuguesa com a música o professor discute sobre as diferentes formas, palavras e expressões apresentadas no cotidiano. Porque como se sabe a língua portuguesa não é uniforme, tampouco, a sua diversidade está relacionada apenas a fatores sociais, pois cada situação comunicativa, cada usuário dessa língua ou grupo de pessoas envolvidas no discurso, como também o tempo, as diferentes regiões existentes e as influências recebidas de outros povos são fatores que determinam as mudanças na língua.

Nesse estudo sobre a expressividade da música de Luiz Gonzaga para o ensino da língua portuguesa se observou que a palavra é a mediação ideológica do sujeito com o mundo que o cerca, é a expressão do autor e sua visão de mundo. Porque é possível identificar na música de Gonzaga a palavra nessa ação que promove em cada contexto a compreensão sobre todas as situações que estão envolvidas no discurso. E tratando dessa dimensão dialógica no ensino da língua vemos a importância da formação moral, social e democrática do aluno, através de um ensino que incentiva, valoriza, respeita e defende os direitos e deveres de todos.

Portanto, uma prática de ensino que estimula a participação democrática nas ações e decisões que possam contribuir para a construção de uma sociedade, um país, um mundo consciente, justo e melhor. Considerando o conhecimento que o aluno traz das relações familiares e do meio político, social e cultural em que vive, para que ele se sinta um agente construtor da história.

Pois, com a música de Gonzaga o professor ensina, aperfeiçoa e prepara o educando para a vida, convivendo com o aluno e sua comunidade, suas deficiências, seus problemas e carências. Num ensino dinâmico, flexível, organizado, com práticas inovadoras e criativas, que envolva o aluno em seu ambiente e sua realidade, e com autoavaliação desse processo de ensino-aprendizado da língua portuguesa por meio da música.

E através desse ensino fazer o aluno entender que a música de Gonzaga apresenta para o mundo a história e as raízes de um povo, promove o contato e a união com outras culturas. Assim, ensinar a língua materna é descobrir a heterogeneidade existente, percebendo que ela não é estática. Compreendendo, portanto que a língua representa o que somos quando através da linguagem expressamos nossos sentimentos, ideias e argumentos, narrando e descrevendo as situações vividas, os momentos inesquecíveis e as nossas tradições.

Logo, nesse estudo se faz necessário compreender também que ensinar a língua portuguesa com a música de Gonzaga é dialogar sobre todas as variações linguísticas, é trabalhar com os conceitos da morfossintaxe; sociolinguística; semântica; pragmática; história da língua; estilística; análise do discurso; literatura e as gramáticas normativa, descritiva e internalizada; enfim, é caminhar à luz dos conhecimentos vistos no mundo acadêmico e popular. Porque ensinar a língua portuguesa: é saber que não existe uma receita pronta e definitiva, pois aprendemos a cada dia com os usuários da língua e também com os pesquisadores, educadores, filósofos, estudiosos e suas teorias.

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XIMENES, Sérgio. Dicionário da língua portuguesa / Sérgio Ximenes. - 3 ed. rev. e ampl. - São Paulo: Editoro 2001. 

1 Carlos Rodrigues Brandão - Antropólogo e Escritor. Professor da UNICAMP.

2 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1996.

3 Carlos Rodrigues Brandão - Antropólogo e escritor. Professor da UNICAMP.

4 René Marc da Costa Silva - Antropólogo e doutor em história pela Universidade de Brasília – UnB.

5 René Marc da Costa Silva - Antropólogo e doutor em história pela Universidade de Brasília – UnB.

6 Marisa Silva - Arte-Educadora e Especialista em Literatura Infantil e Juvenil (UFRJ).

7 Charles Murray - Musicólogo e produtor cultural.

8 Ricardo Gomes Lima - Professor do Instituto de Artes da UERJ.

9 Eleonora Gabriel - Mestre em Ciência da Arte/UFF.

10 Francisco Marques - (Chico dos Bonecos) é formado em Letras pela UFMG.

11 Carlos Henrique dos Santos Martins - Mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense – RJ.

12 Sentimento ou atitude de quem privilegia o bem do próximo. Verbete disponível em: XIMENES, Sérgio. Dicionário da língua portuguesa / Sérgio Ximenes. - 3 ed. rev. e ampl. - São Paulo: Ediouro, 2001.

13 Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Relatório para UNESCO da comissão Internacional sobre educação para o século XXI. Informação disponível em: RESENDE, Emerson. Letras: Prática VII / Emerson Resende - Recife: UPE/NEAD, 2012. p. 11,26.

14 Histórias de tradição oral, contadas, geralmente, em uma linguagem espontânea, que registra o jeito de falar típico de determinada região ou localidade. Envolvem fatos pitorescos, reais, fictícios ou ambos; e podem ou não envolver o narrador. Os contadores de causos apresentam vários recursos que costumam prender a atenção de seus ouvintes, como entonação, gestos, suspense, efeitos de surpresa, humor, etc. Características como sotaque e vocabulário da região são naturais a muitos deles. Texto disponível em: Língua portuguesa, 6º ano / Tania Amaral Oliveira...(et al.). 3 ed. São Paulo: IBEP, 2012. (Coleção tecendo linguagens).

15 Trabalhadores que lidam com o gado. O aboio é o canto que os vaqueiros entoam enquanto guiam a boiada ou chamam os animais. Informação disponível em: Língua portuguesa, 6º ano / Tania Amaral Oliveira...(et al.). 3 ed. São Paulo: IBEP, 2012. (Coleção tecendo linguagens).

16 1. Cantiga de melodia simples e monótona, com estrofes e refrão. 2. Boato. 3. Rumor confuso. 4. Amaz. Cantiga entoada durante os desfiles dos bois Caprichoso e Garantido, na festa do Boi-Bumbá, em Parintins (AM). Verbetes disponíveis em: XIMENES, Sérgio. Dicionário da língua portuguesa / Sérgio Ximenes. - 3 ed. rev. e ampl. - São Paulo: Ediouro, 2001.

17 Dança típica das praias, mais precisamente daquelas situadas ao norte de Pernambuco. Disponível em: Língua portuguesa, 6º ano / Tania Amaral Oliveira...(et al.). 3 ed. São Paulo: IBEP, 2012. (Coleção tecendo linguagens).


Publicado por: Ricardo Paz da Silva

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