MÍDIAS NA EDUCAÇÃO - Contribuições e desafios no processo de ensino-aprendizagem e formação do aluno/cidadão crítico

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1. Resumo

A nova sociedade é tecnológica, o que torna impossível pensar em educação sem a utilização das novas mídias e tecnologias. Com o “boom” tecnológico da última década, o processo de ensino-aprendizagem e formação do aluno/cidadão crítico se transforma em tempo real. Diariamente somos bombardeados com novas informações, conhecimentos e aprendizagens. A escola passa a ter além das suas funções precípuas, a responsabilidade de capacitar seus educandos/cidadãos para uma nova sociedade, aberta a novas possibilidades, conquistas e mudanças. Entretanto, alunos atuais e futuros educadores, ainda encontram dificuldades quanto ao uso das novas ferramentas tecnológicas, pois o efeito da globalização apenas permitiu o acesso a elas, não se preocupando com o uso consciente das novas mídias, em especial no processo de construção de saberes, conhecimentos e pertencimento a sociedade.

Palavras-chave: Tecnologia. Educação. Mídias. Aprendizagem. Formação Cidadã.

2. Introdução

A sociedade está em constante transformação, deixamos o status quo de Sociedade do Século XXI e adentramos ao status de Sociedade Conectada. Estamos todos interligados através de teias, gigantes redes de comunicação que nos bombardeiam diariamente com conteúdos diversos.

Um dos maiores desafios da Educação nesta nova sociedade é a falta de conhecimento e treinamento para uso das mídias e tecnologias digitais, o que tem contribuído para a utilização não adequada das novas tecnologias nas atividades de ensino e aprendizagem.

Ao considerar a necessidade da escola acompanhar, ou melhor, equiparar-se à tecnologia, adotou-se a seguinte pergunta: Quais as contribuições e desafios as Mídias proporcionam no processo de ensino-aprendizagem e formação ao aluno/cidadão crítico?

“A sociedade está caminhando para ser uma sociedade que aprende de novas maneiras, por novos caminhos, com novos participantes (atores), de forma contínua”. (MORAN, 2012, p. 11).

Este trabalho se propõe a analisar de forma crítica o uso das novas mídias pelos atuais e futuros educadores, não somente no processo educacional, como também na formação do indivíduo no contexto social.

“A evolução tecnológica não se restringe apenas aos novos usos de determinados equipamentos e produtos. Ela altera comportamentos”. (KENSKI, 2012, p.21)

No contexto apresentado neste artigo, as novas mídias e tecnologias são indissociáveis entre o ambiente escolar e a vida em sociedade.

O advento das novas tecnologias por meio do processo de globalização nos permitiu acesso a um grande leque de ferramentas, entretanto não nos capacitou para utilizá-las. A escola além de suas funções precípuas assume o grande desafio de educar para a Sociedade Conectada, entretanto segue a passos lentos, pois ainda está arraigada em seus costumes, hábitos e valores extremamente tradicionalistas.

Neste estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica para refletir sobre a educação da Sociedade Conectada e o perfil dos nativos digitais

Em seguida serão elaboradas pesquisas de caráter quantitativo e qualitativo, aplicadas com alunos de um Curso Normal (Formação de Professores), educadores, coordenadora pedagógica e diretora de uma unidade escolar pertencente da rede pública de ensino do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

Os resultados serão analisados e comparados com o objetivo de validar a pergunta de pesquisa.

3. Referencial Teórico

3.1. Mídias e Tecnologias – Sociedade Conectada

Em fração de milésimos de segundos e em milhões de megabits estamos todos conectados, rumo a um novo mundo que deixa o status quo de Sociedade do Século XXI para Sociedade Conectada.

Ao sermos despertados a cada manhã para um novo dia, nossos “smartphones” nos notificam com milhares de informações. Mensagens no WhatsApp, “feeds” no Facebook, “direct” e “stories” no Instagram, um leque de informações em tempo quase real nos faz despertar para um novo mundo, o qual se não estivermos inclusos, seremos considerados analfabetos digitais.

Ao falar em mídia, certamente você deve tê-la relacionado com a Televisão, que no Brasil surgiu em 1950 com a inauguração da TV Tupi, primeiro canal de televisão do país. A história da TV no Brasil surgida há 69 anos, se funde com a história de milhões de brasileiros, que passaram a ser ver na telinha e principalmente aprender com ela. Ao viajar pela memória da infância, quem não se lembra das letras S-E-M-P? (Sociedade Eletromercantil Paulista). Marca do primeiro televisor a cores fabricado no Brasil e que muito provavelmente foi seu parceiro no programa Telecurso.

E o que falar do computador? O primeiro adquirido no país, datado em 1975, foi um Univac-120, comprado pelo Governo do Estado de São Paulo, utilizado para calcular todo o consumo de água da capital. O equipamento ocupava o andar inteiro do prédio onde foi instalado.1 O que hoje conhecemos como “desktop” ou microcomputador chega aos lares brasileiros a partir de 1980, quando passam a ser vendidos nas grandes magazines.

Da década de 80 para cá passamos por um “boom” tecnológico jamais visto, em especial na última década, já marcada pelo que chamamos de Sociedade Conectada.

As mídias estão intrinsicamente ligadas às novas tecnologias e no Brasil não é diferente. De acordo com dados divulgados em 2018 pelo Estudo intitulado como “Mercado Brasileiro de Software – Panorama e Tendências” realizado pela Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes) e pela Internacional Data Corporation (IDC), o país ocupa a nona posição no ranking mundial de países que investem em Tecnologia da Informação (TI). Só em 2017 foram investidos 38 bilhões de dólares em “hardwares”, “softwares” e serviços.

Ainda segundo a Abes, o Brasil possui hoje cerca de 20 mil empresas dedicadas ao desenvolvimento, produção e distribuição de software, além da prestação de serviços no mercado nacional.

Tamanho investimento reflete diretamente na vida do cidadão, cada vez mais ligado as novas tecnologias, tendo como preferência o uso dos smartphones, que no país é o dispositivo tecnológico mais utilizado para acessar a internet. Segundo dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) divulgados em 2018, no censo anual sobre o uso de tecnologias da informação por domicílio no país, um em cada cinco domicílios brasileiros tem acesso à internet sem ter um computador.

E o que falar das plataformas digitais? Pesquisa “Global Digital 2019” realizada pela agência “We Are Social” (Nós Somos Sociais) em parceria com a plataforma de mídia Hootsuite, mostra que o Brasil tem 140 milhões de usuários ativos nas redes, o que corresponde a 66% da sua população.

Somos tão engajados nas plataformas digitais, que gastamos em média 3h e 34 minutos por dia com as redes sociais, sendo a maioria desse público pessoas com idade entre 25 a 34 anos. Entre as redes sociais favoritas dos brasileiros está o YouTube (95%) seguido pelo Facebook (90%) WhatsApp (89%) e o Instagram com (71%).2

Diante deste cenário, o processo educacional não poderia ficar de fora, afinal as novas mídias e tecnologias são realidades no ambiente escolar, as quais se tornam desafios para educadores e educandos, contribuindo para o processo de ensino-aprendizagem e formação do aluno/cidadão crítico.

Não nos restam dúvidas de que este novo tempo requer um espaço escolar não apenas democrático, mas aberto às novas possibilidades trazidas pelas tecnologias, afinal estamos cada vez mais CONECTADOS.

Para José Manuel Moran:

Conectados, multiplica-se intensamente o número de possibilidades de pesquisa, de comunicação online, aprendizagem, compras, pagamentos e outros serviços. Estamos caminhando para interconectar nossas cidades, tornando-as cidades digitais integradas com as cidades físicas. Nossa vida interligará cada vez mais as situações reais e as digitais, os serviços físicos e os conectados, o contato físico e o virtual, a aprendizagem presencial e a virtual. O mundo físico e o virtual não se opõem, mas se complementam, integram, combinam numa interação cada vez maior, contínua, inseparável. Ter acesso contínuo ao digital é um novo direito de cidadania plena. Os não conectados perdem uma dimensão cidadã fundamental para sua inserção no mundo profissional, nos serviços, na interação com os demais. (MORAN, 2012, p. 9).

Vani Moreira Kenski defende que:

A evolução não se restringe apenas aos novos usos de determinados equipamentos e produtos. Ela altera comportamentos. A ampliação e a banalização do uso de determinada tecnologia impõem-se à cultura existente e transformam não apenas o comportamento individual, mas o de todo o grupo social. (...) As tecnologias transformam suas maneiras de pensar, sentir e agir. Mudam também suas formas de se comunicar e de adquirir conhecimentos. (KENSKI, 2012, p.21).

3.2. As mídias no processo de ensino-aprendizagem

Do programa Telecurso pela TV aberta às plataformas digitais da Sociedade Conectada, de que forma as novas mídias contribuem para o processo de ensino-aprendizagem do aluno e do próprio professor? Há quem diga que as novas tecnologias podem substituir a figura do educador. Uma forma equivocada de se pensar e agir, afinal o educador, professor, mediador, tutor, jamais será substituído, já que ele é peça fundamental. Não existe uma oposição entre o mundo real e o virtual, eles se complementam, integram e combinam.

Ao longo deste artigo teremos a oportunidade de conhecer na prática como o uso das ferramentas tem sido empregado em favor do processo educacional. Através de pesquisa de campo, serão apresentados resultados obtidos no acompanhamento de uma turma de Curso Normal (Formação de Professores), do corpo pedagógico, coordenação e direção de uma escola pertencente à Rede Estadual de Ensino do Estado do Rio de Janeiro.

Não se quer aqui apresentar conceitos tradicionais dos dicionários sobre os processos de ensinar e aprender, ambos os organismos se interagem em prol de um objetivo: o conhecimento. Este conhecimento não pode ser acúmulo ou uma “concepção bancária” conforme definido pelo mestre Paulo Freire (1996). O objetivo do processo de ensino-aprendizagem, em especial com o uso das novas mídias, deve desvencilhar-se dos métodos meramente tradicionalistas ainda arraigados no processo educacional. A figura do professor, educador, mediador na Sociedade Conectada, não possui espaço para apenas um detentor do conhecimento. A conexão, como o próprio nome sugere, permite a união, ligação entre todos os envolvidos “online” e “off-line” no processo de ensino-aprendizagem.

É necessário compreender que as novas mídias favorecem o processo de ensino-aprendizagem e que o educador não detém o conhecimento sozinho. Através de uma ação-reflexão defendida pelo mestre Freire, precisamos nos conscientizar, refletir nossas ações como educadores, principalmente sabendo acolher o aluno, princípio basilar no processo de avaliação.

A escola querendo ou não já faz parte deste “boom” tecnológico da atual sociedade. Para atender sua função social ela deve estar atenta e aberta para incorporar novos parâmetros comportamentais, hábitos e demandas, o que permitirá que a mesma participe de forma ativa dos processos de transformação e construção da nova sociedade. A escola precisa integrar a cultura tecnológica ao seu cotidiano, o que permitirá que a mesma desenvolva habilidades em seus alunos para utilização dos recursos tecnológicos.

É sabido por todos que a escola precisa se tornar mais atraente, criando pontes com o mundo externo e não muros que impeçam o aluno de absorver, pelo menos no ambiente escolar, as informações que as novas mídias transmitem. Acolher as novas tecnologias no processo de ensino-aprendizagem institui um fator de inovação pedagógica, o que possibilita a implantação de novas modalidades de trabalho que devem acompanhar as transformações sociais.

Através da transformação de simples transmissora de conhecimento, ou seja, a tradicional “educação bancária” reprimida por Freire, para uma organizadora de aprendizagens, a escola reconhece que já não detém a posse da transmissão dos saberes, proporcionando desta forma caminhos necessários para que o aluno possa obter a informação, construir conhecimentos, adquirir Competências, Habilidades e Atitudes (CHA) o que permitirá que este aluno/cidadão possa desenvolver um espírito crítico.

José Manuel Moran defende que:

A sociedade está caminhando para ser uma sociedade que aprende de novas maneiras, por novos caminhos, com novos participantes (atores), de forma contínua. As cidades se tornam cidades educadoras, integrando todas as competências e serviços presenciais e digitais. A educação escolar precisa, cada vez mais, ajudar todos a aprender de forma mais integral, humana, afetiva e ética, integrando o individual e o social, os diversos ritmos, métodos, tecnologias, para construir cidadãos plenos em todas as dimensões. (MORAN, 2012, p. 11).

3.3. A formação do aluno/cidadão crítico através das novas mídias

O que esperar do aluno/cidadão no futuro? As novas mídias possibilitam a formação de seres humanos mais críticos diante dos desafios impostos pela Sociedade Conectada? Perguntas como estas são mais comuns do que imaginamos, principalmente no processo educacional.

Kenski (2012) em seu livro Educação e Tecnologias – o novo ritmo da informação afirma que a evolução tecnológica altera comportamentos, não somente o individual, mas o de todo o grupo social.

Se voltarmos no tempo para ser mais preciso nos meses que antecederam as Eleições Gerais no Brasil em 2018, nunca se viveu um processo eleitoral tão polarizado no país nos últimos anos, criando divisões de grupos, de um lado aqueles que apoiavam os candidatos da esquerda, de outro os da direita. Tamanha polarização foi parar na internet e nas redes sociais, afetando até as relações familiares, o que resultou a disseminação de campanhas para reconciliação dos laços afetivos, rompidos por conta do processo eleitoral.

A segunda rede social mais usada pelos brasileiros, o Facebook, tornou-se por alguns meses uma espécie de ringue no qual cada usuário em defesa do seu candidato não perdia tempo para debater e, até mesmo, “cutucar” os amigos reais e/ou virtuais que divergissem sobre determinadas propostas de campanha.3

Tamanha polarização resultou em violência, ataque a candidato à presidência, milhares de falsas informações, as populares Fake News, não realização de debate com os candidatos à presidência no segundo turno, brigas familiares, renovação no Congresso, protestos, entre outros. Em frente aos “smartphones”, “tabletes” e computadores, milhões de brasileiros sob o efeito anestésico da polarização, demonstravam mudanças de comportamentos, atitudes e sentimentos.

Mas afinal, as novas tecnologias apenas servem como instrumento de manipulação de quem as utiliza? Ou falta aprendizagem de como usá-las na nossa construção como cidadãos críticos e emancipados?

Respondendo à primeira pergunta, acredito que a função social da Educação se torna ainda mais árdua, pois além de suas inúmeras atribuições como agente de transformação social, deve assumir o papel de inserir seus alunos ao mundo tecnológico, eliminando todas as barreiras que possam existir, sejam elas sociais, culturais e intelectuais.

Não estamos aqui falando sobre a polêmica: doutrinação. É preciso entender que a função da Educação, seja ela formal, informal, presencial, semipresencial, à distância, tem, não somente, a função de educar, mas principalmente de preparar cidadãos para o convívio em grupo, em sociedade, reconhecendo direitos e praticando deveres.

Deve-se mostrar ao educando os bons e maus caminhos que as novas tecnologias nos proporcionam. Grosso modo, assim como se ensina uma criança a comer com garfo e faca, alertando para o risco que o uso indevido da faca pode causar um corte no dedo, por exemplo, deve-se ensinar o aluno que as novas tecnologias possuem diversas faces e que é preciso estar alerta para não se tornar instrumento de manipulação, seja na mudança de comportamentos, na postagem, repostagem ou comentários que venham caracterizar crimes virtuais.

Sobre a segunda pergunta, o “boom” tecnológico, o efeito da globalização não nos permite muitas vezes a aprender utilizar uma ferramenta. Mas sim é possível utilizar as novas mídias e tecnologias na nossa construção diária como cidadãos críticos e emancipados. Somos seres em constante mudança, vivemos em um mundo em que as novidades surgem na velocidade da luz.

Na palma da mão, milhares de “megabits” nos permitem um leque de possibilidades. Quem diria que um dia poderíamos ler livros pelo celular, pelo computador, desbravar lugares que nunca sonhamos ou não temos condições financeiras para estar lá? As novas mídias e tecnologias nos permitiram isso, entretanto, não nos prepararam socialmente. Não existe um manual social de como utilizar os novos meios de pesquisa e conhecimento. É preciso aplicar os princípios basilares da Educação neste contexto, devendo a curiosidade e criticidade serem consideradas neste aspecto.

Como sujeitos históricos, nossa curiosidade é construída e reconstruída historicamente. Portanto, uma das missões da prática educativa é o desenvolvimento da curiosidade crítica, aquela que se aproxima do conhecimento sem se submeter a ele.

Ao nos aproximarmos de um novo conhecimento ou mesmo diante das novas ferramentas tecnológicas, não se pode ser prisioneiros dos saberes solidificados na nossa imaginação, isso aprisiona a nossa curiosidade, nos tornando incapazes de aprender.

O que se quer dizer é que a curiosidade leva à criticidade, não basta aceitar todo conhecimento como verdade absoluta, principalmente aqueles adquiridos pelas novas mídias.

Paulo Freire considera que:

Como manifestação presente à experiência vital, a curiosidade humana vem sendo histórica e socialmente construída e reconstruída. Precisamente porque a promoção da ingenuidade para a criticidade não se dá automaticamente, uma das tarefas precípuas da prática educativo-progressista é exatamente o desenvolvimento da curiosidade crítica, insatisfeita, indócil. Curiosidade com que podemos nos defender de “irracionalismos” decorrentes do ou produzidos por certo excesso de “racionalidade” de nosso tempo altamente tecnologizado. E não vai esta consideração nenhuma arrancada falsamente humanista de negação da tecnologia e da ciência. Pelo contrário, é consideração de quem, de um lado, não diviniza a tecnologia, mas, de outro, não a diaboliza. De quem a olha ou mesmo a espreita de forma criticamente curiosa. (FREIRE, 2014, p. 33 e 34).

4. Metodologia de Pesquisa

O presente artigo traz como Metodologia de Pesquisa a coleta de informações em campo, com o objetivo de obter dados quantitativos e qualitativos sobre o tema central que norteia o presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) são partícipes deste processo: alunos de uma turma de Curso Normal em fase final de formação, Corpo Pedagógico, Coordenação Escolar e a Direção do Colégio Estadual Tobias Tostes Machado, localizado no município de Conceição de Macabu, distante 223 quilômetros da capital Rio de Janeiro/RJ.

Para cada grupo a pesquisa apresenta diferentes eixos com questionamentos específicos, todos relacionados ao uso da internet, das mídias e tecnologias, suas contribuições e desafios no processo de ensino-aprendizagem e construção do aluno/cidadão crítico, bem como sua formação como futuro educador.

A pesquisa aplicada com os alunos dispõe dos seguintes eixos: perfil do usuário de computador e internet; habilidades no uso de computador e a internet; capacitação específica; atividades escolares; uso da internet da escola e opinião sobre o uso das novas mídias na educação.

Quanto aos professores, os eixos tratam sobre o perfil do profissional; perfil do usuário de computador e internet; habilidade no uso de computador e a internet; capacitação específica; atividades em âmbito educacional e escolar; barreiras para uso e utilização de conteúdos educacionais digitais.

Na pesquisa aplicada com a Coordenação Escolar os eixos tratam sobre: perfil profissional; perfil do usuário de computador e internet; atividades de coordenação e planejamento e barreiras para uso.

No que tange à Direção Escolar, a pesquisa traz como eixos: perfil profissional; perfil do uso de computador e internet; atividades de gestão; planejamento e introdução com a comunidade; infraestrutura das TICs na escola e barreiras para uso.

A pesquisa realizada ao longo de uma semana contou com a participação de 30 (trinta) alunos que cursam o terceiro ano do Ensino Médio (Curso Normal), 05 (cinco) professores de diferentes disciplinas, da profissional responsável pela Coordenação Pedagógica e da Diretora responsável pela unidade escolar.

Na próxima seção serão apresentados os resultados e análise sobre as informações obtidas na pesquisa de campo.

5. Resultados e Discussão

Com base nos eixos trabalhados nas pesquisas aplicadas com os alunos, professores, coordenação e direção escolar, os resultados obtidos serão apresentados em subseções para melhor apresentação dos dados, bem como análise e discussão de seus aspectos qualitativos e quantitativos.

5.1. Pesquisa Aplicada com os alunos

A primeira pesquisa foi aplicada com os alunos do Curso Normal (Formação de Professores) sendo realizada em sala de aula, onde foram obtidos dados quantitativos, por meio de formulário, bem como qualitativos, através de discussão por meio de micro aula sobre o tema que norteia o presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

Tabela 1 – Dados sobre aplicação de pesquisa com os alunos:

Turma / Série

3002 - Curso Normal – 3º Ano do Ensino Médio

Sexo

Masculino

Feminino

05 (cinco)

25 (vinte e cinco)

Faixa Etária

17 a 19 anos de idade


A pesquisa aplicada apresenta dados importantes sobre o perfil dos usuários de computador e internet, entretanto nesta seção é dada ênfase aos resultados obtidos, quanto às contribuições e desafios no processo de ensino-aprendizagem, construção do aluno/cidadão crítico, bem como na formação de futuros educadores.

Em uma realidade de 30 alunos, 05 professores, 01 coordenadora pedagógica e 01 diretora a maior parte acessa a internet mais de uma vez por dia, assim como a maioria desloca “tablet”, computador ou smartphone para a escola, sendo a própria casa e a escola os locais exclusivos e simultâneos de acesso à internet.

O principal equipamento utilizado para acessar a internet é o celular, o que comprova estudo recente apresentado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) que apontou que 56% dos usuários de internet no Brasil acessaram a rede apenas pelo telefone celular, o que demonstra o protagonismo do aparelho nos atuais tempos.

5.1.1. Habilidade no uso de Computador e Internet

Na pesquisa aplicada com os alunos o eixo que trata sobre habilidades no uso de computador e internet apresentam questões sobre a utilização das ferramentas fora e dentro do ambiente escolar.

No processo de compilação dos dados, observou-se que quando o aluno acessa a internet por curiosidade ou por vontade própria, dentro ou fora do ambiente escolar, todos se julgam habilidosos para tal ação diferentemente quando a ferramenta é utilizada para realização de atividades escolares, onde grande parte dos entrevistados demonstram dúvidas ao serem questionados sobre o aumento de interesse pela aula por meio de atividades realizadas na internet. Vejamos os dados obtidos na tabela e gráfico a seguir:

Tabela 2 – Eixo: Habilidades no uso de Computador e Internet – Pesquisa Aplicada

PERGUNTAS

RESPOSTAS

Pesquisou assuntos, temas na internet por curiosidade ou por vontade própria?

SIM

30

NÃO

0

As atividades realizadas na internet fazem com que sinta mais a vontade de aprender coisas novas?

SIM

30

NÃO

0

As atividades realizadas na internet ajudam a aprender assuntos/temas que fazem ir melhor na escola?

SIM

30

NÃO

0


Gráfico 1 – Eixo: Habilidades no uso de Computador e Internet – Pesquisa Aplicada

O resultado obtido neste eixo da pesquisa revela que a maior parte dos alunos acredita que talvez as atividades realizadas na internet façam com que o interesse pela aula aumente.

Ao serem questionados sobre o “talvez”, observou-se que mesmo diante do uso das novas tecnologias, uma grande barreira para tornar as aulas mais atraentes/dinâmicas, ainda está relacionada ao conteúdo/currículo extremamente tradicionalista.

Neste mesmo eixo da pesquisa outras importantes perguntas foram aplicadas aos alunos, em especial sobre o mundo do trabalho.

Tabela 3 - Eixo: Habilidades no uso de Computador e Internet – Pesquisa Aplicada

PERGUNTAS

RESPOSTAS

As atividades realizadas na internet ajudam a pensar no que quer trabalhar no futuro?

SIM

26

NÃO

04

Tem pretensão em trabalhar com tecnologia, computador e internet?

SIM

07

NÃO

27


Neste cenário a pesquisa acende uma luz vermelha, em especial quanto à formação de professores no Curso Normal. A maior parte dos discentes afirma que não tem pretensão em trabalhar com tecnologia, computador e internet, o que demonstra que o atual currículo do Curso de Formação de Professores não os capacita para a importância do uso das mídias e tecnologias cada vez mais presentes dentro e fora do ambiente escolar.

Durante discussão sobre o tema que norteia o presente TCC, através de uma micro aula, os alunos puderam expor que o curso em seu primeiro ano dispõe de uma disciplina voltada as mídias e tecnologias, entretanto não foi aplicada/trabalhada de forma satisfatória.

5.1.2. Capacitação Específica

No eixo da pesquisa intitulado como “Capacitação Específica” o objetivo foi obter dados referentes à forma de aprendizado sobre o computador e a internet, orientações pelos professores a respeito do uso da internet, bem como aprendizado entre pares, ou seja, entre os próprios alunos.

Neste ponto da pesquisa alguns dados chamam a atenção, os quais serão comentados mais adiante. Vejamos a tabela a seguir:

Tabela 4 – Eixo: Capacitação Específica - Pesquisa Aplicada

PERGUNTA

Qual a forma de aprendizado sobre o uso do computador e da internet?

Sozinho (a)

Com vídeos ou tutoriais disponíveis na internet

SIM

30

NÃO

0

*N/S N/R

--

SIM

11

NÃO

03

*N/S N/R

16

Legenda: *N/S (Não Souberam) – N/R (Não Responderam)


Observa-se que ao abordar a forma de aprendizado sobre o uso do computador e da internet de forma unanime todos os alunos responderam que aprendem sozinhos, outros 11 através de tutoriais disponíveis na internet.

Ainda neste eixo, a pesquisa de campo nos apresenta um resultado que chama bastante atenção, a do aprendizado com o professor ou educador da escola, onde dos 30 (trinta) alunos, apenas dois afirmaram que aprendem com estes profissionais, outros sete não, e um universo de 21 (vinte e um) alunos não souberam ou não responderam.

Mais adiante a pesquisa aborda alguns tipos de orientações recebidas de professores para o uso da internet, cujos dados comprovam a não capacitação de educadores para o uso consciente/crítico e seguro da internet. Vejamos os resultados obtidos:

Tabela 5 - Eixo: Capacitação Específica - Pesquisa Aplicada

PERGUNTA

Quais os tipos de orientações recebidas de professores para o uso da internet?

Ajudou a usar a internet para fazer trabalhos escolares

Pediu para comparar informações da internet em sites diferentes

SIM

28

NÃO

01

*N/S N/R

--

SIM

19

NÃO

10

*N/S N/R

01

 

Ensinou como usar a internet de um jeito seguro?

Falou sobre o que fazer se alguma coisa o (a) incomodar na internet

SIM

05

NÃO

25

*N/S N/R

--

SIM

07

NÃO

19

*N/S N/R

04

Legenda: *N/S (Não Souberam) – N/R (Não Responderam)


Para José Manuel Moran:

Os professores podem ajudar os alunos, incentivando-os a aprender a perguntar, a enfocar questões importantes, a definir critérios na escolha de sites, na avaliação de páginas, a comparar textos com visões diferentes. Podem focar mais a pesquisa do que dar respostas prontas; propor temas interessantes e caminhar dos níveis mais simples de investigação para os mais complexos, das páginas mais coloridas e estimulantes para as mais abstratas, dos vídeos e narrativas impactantes para os contextos mais abrangentes e, assim, ajudar os alunos a desenvolver um pensamento arborescente, com rupturas sucessivas, e uma reorganização semântica contínua. (MORAN, 2012, p. 103 e 104).

É neste pensamento arborescente sob a ótica de Moran que atuais e futuros educadores precisam se espelhar. O desenvolvimento intelectual e social do ser humano se dá através de etapas, assim como o crescimento de uma árvore, que se inicia através do plantio de uma semente, que gera o tronco, galhos, folhas e para baixo suas raízes. As novas mídias e tecnologias representam as raízes (teias de conexão) por onde são transportadas as informações e através de um processo de fotossíntese geram energia, ou seja, conhecimento.

Ainda neste eixo da pesquisa, foram coletados dados referentes ao aprendizado sobre computador e internet entre pares. Do total de 30 (trinta) entrevistados, apenas 05 (cinco) afirmam que os amigos ensinam jeitos de usar a internet com segurança. Em outro tópico, a maior parte dos entrevistados não sabe o que fazer caso algo o incomode na internet, pois não se sentem orientados por professores ou pares.

Diante dos resultados apresentados, em especial quanto ao uso seguro da internet, foi utilizado o espaço da micro aula para conscientizar os alunos sobre o uso consciente das mídias e tecnologias, os alertando de forma especial para os crimes virtuais, que no Brasil cresceu 109,95% em 2018, comparado ao ano de 2017, segundo dados divulgados pela Safernet Brasil, associação civil que combate crimes virtuais e a violação dos Direitos Humanos na internet.

A ONG divulgou dados referentes a atendimentos efetivados e, neste item, o crime que mais levou as pessoas a procurar ajuda foi o de vazamento de fotos íntimas, com 669 casos contabilizados. Desses, 66% envolviam ainda a chamada sextorsão, que é a ameaça de divulgação de imagens íntimas por vingança ou chantagem financeira. Na sequência, vieram os 407 (quatrocentos e sete) casos de cyberbullying e 242 (duzentos e quarenta e duas) situações de golpe na rede.

5.1.3. Atividades Escolares

Neste eixo da pesquisa foram obtidos importantes dados sobre:

  1. o uso da internet em atividades escolares;

  2. local da escola liberado para o uso da internet em atividades escolares;

  3. as plataformas digitais e sociais utilizadas para fins pessoais e para trabalhos escolares.

No primeiro tópico, que trata sobre do uso da internet em atividades escolares, os resultados coletados demonstram que a ferramenta tem sido aliada na realização de trabalhos sobre um tema, de lições e exercícios passados pelo professor, pesquisas para a escola, apresentações para os colegas de classe, contato com o professor, trabalhos em grupos, trabalhos escolares à distância, estudo para provas, pesquisa sobre assuntos tratados nas aulas, divulgação de trabalhos da escola na internet e realização de provas ou simulados.

Neste tópico da pesquisa, dois dados chamam a atenção: um relacionado ao uso da internet em atividades escolares para jogos educativos e outro quanto à participação de cursos.

Vejamos nos gráficos a seguir os dados coletados.

Gráfico 2 – Eixo Atividades Escolares - Pesquisa Aplicada

Gráfico 3 - Eixo Atividades Escolares - Pesquisa Aplicada

No primeiro gráfico observa-se que 70% dos entrevistados não jogam jogos educativos em atividades escolares, enquanto 20% utilizam o recurso e outros 10% não souberam ou não responderam.

Nesta seara, peço licença para apresentar as palavras de José Manuel Moran sobre o tema.

O jogo ensina a conviver com regras e a encontrar soluções para desafios, em parte, previstos. Na brincadeira, há mais liberdade de criação, de reorganização. Os dois são importantes para a aprendizagem. Aprendemos pelos jogos a conviver com regras e limites, explorando nossas possibilidades. Aprendemos, pelas brincadeiras, a encontrar variáveis e inovações com base em nossos objetivos ou em pessoas. (MORAN, 2012, p. 111).

O resultado demonstra que a educação tem utilizado apenas os jogos na educação infantil, após esta etapa são vistos apenas sob a ótica da diversão/entretenimento. Defende-se a utilização dos jogos de forma mais frequente, variada e adequada. De acordo com o professor James Paul Gee (2003), “os games que possuem quebra-cabeças e outros desafios são capazes de proporcionar à criança uma melhora cognitiva muito maior do que uma aula convencional”. Para este educador, o modo de pensar gerado pelos jogos está mais adaptado ao mundo atual do que o ensinado pelas escolas.

No segundo gráfico, os dados coletados tratam sobre a participação em cursos pela internet. A maior parte dos entrevistados, ou seja, 75% não participam de cursos, enquanto apenas 12% participam e outros 13% não souberam ou não responderam.

Neste aspecto deve-se enfatizar que a educação à distância (EAD) se consolida cada vez mais no Brasil, em especial no ensino superior. Neste tocante é possível afirmar que dos 30 (trinta) alunos entrevistados, boa parte cursará o ensino a distância, principalmente ao levarmos em consideração que todos moram em uma cidade do interior, distante dos grandes centros urbanos.

Além das especificidades abordadas anteriormente, como futuros educadores inseridos em uma Sociedade Conectada, torna-se extremamente importante à experiência de se obter conhecimento e se capacitar por meio dos ambientes virtuais de educação.

No segundo tópico deste eixo da pesquisa, trata do local da escola liberado para o uso da internet em atividades escolares. Na escola o uso da ferramenta é liberado para os alunos, entretanto, o laboratório de informática, a biblioteca, a sala dos professores, a secretaria ou diretoria, são espaços sem acesso a internet para realização de atividades escolares.

Questionados durante a micro aula sobre o não acesso a rede de internet no laboratório de informática, os discentes informaram que a maior parte dos computadores não funciona, encontram-se obsoletos, quanto ao acesso na biblioteca, a infraestrutura da rede na unidade escolar é deficitária, o que também compromete a velocidade de conexão dentro de sala de aula.

Com base nos dados e informações coletadas, podemos observar o quanto a Rede Pública de Ensino ainda carece de investimentos em infraestrutura tecnológica. Faltam políticas públicas conectadas com o novo mundo.

Para Vani Moreira Kenski:

As escolas não têm verba suficiente para manutenção e atualização permanentes dos programas e realização de treinamentos para todo o pessoal pedagógico e administrativo do estabelecimento. É preciso que verbas cada vez maiores sejam previstas nos orçamentos para esses itens, além da aquisição de novas máquinas e novos programas. Esses são apenas os problemas iniciais na relação entre as escolas e o uso das tecnologias digitais. (KENSKI, 2012, p. 59).

No último tópico foram obtidos dados sobre as plataformas digitais e sociais utilizadas para fins pessoais e para trabalhos escolares. Vejamos nos gráficos a seguir as ferramentas mais utilizadas pelos alunos.

Gráfico 4 - Eixo Atividades Escolares - Pesquisa Aplicada

Gráfico 5 - Eixo Atividades Escolares - Pesquisa Aplicada

Com base nos dados apresentados no gráfico quatro, observa-se que os alunos utilizam as quatro principais plataformas digitais, enquanto no gráfico cinco a plataforma digital Youtube e WhatsApp são as mais utilizadas para trabalhos escolares, o que revela o protagonismo do aplicativo de conversa instantânea, seja de forma privada ou em grupo, assim como o protagonismo da plataforma de vídeos Youtube, a qual permite fácil acesso a vídeo aulas e tutoriais sobre inúmeros assuntos.

5.1.4. Uso da Internet da Escola

No penúltimo eixo da pesquisa, o objetivo foi obter dados a respeito do uso da internet da escola. A partir dos dados coletados, chega-se a conclusão que a unidade escolar permite o acesso dos alunos a rede de internet havendo liberação para o uso de wifi, do uso do celular em sala de aula e fora dela, bem como o uso do aparelho celular na escola, e em atividades realizadas pelos discentes.

5.1.5. Opinião sobre o uso das novas Mídias na Educação

O último eixo da pesquisa foi reservado para levantamento de informações quanto à opinião dos alunos sobre o uso das novas mídias e tecnologias na educação. Neste cenário da pesquisa, o currículo do Curso Normal (Formação de Professores) demonstra-se ineficiente quanto à capacitação dos alunos para o uso das novas tecnologias e mídias no processo educacional, o que reflete diretamente na formação do aluno e sua futura práxis pedagógica. Vejamos nos gráficos os resultados obtidos no último eixo da pesquisa.

Gráfico 6 – Eixo Opinião sobre o uso das novas Mídias na Educação – Pesquisa Aplicada

Gráfico 7 – Eixo Opinião sobre o uso das novas Mídias na Educação – Pesquisa Aplicada

Gráfico 8 – Eixo Opinião sobre o uso das novas Mídias na Educação – Pesquisa Aplicada

Gráfico 9 – Eixo Opinião sobre o uso das novas Mídias na Educação – Pesquisa Aplicada

Gráfico 10 – Eixo Opinião sobre o uso das novas Mídias na Educação – Pesquisa Aplicada

Nos gráficos de número 6, 7 e 8 pode-se observar que os discentes em sua maioria acreditam ser importante o uso das novas mídias no processo de ensino-aprendizagem e formação do aluno/cidadão crítico, enquanto nos gráficos nove e 10 os resultados mudam radicalmente.

Ao serem questionados se a formação do Curso Normal os prepara para o uso das novas mídias com seus futuros alunos, 97% dos entrevistados dizem que não, enquanto apenas 3% dizem que sim. O mesmo resultado pode ser observado no gráfico de número 10. Diante dos desafios da nova sociedade, 93% dos entrevistados afirmam que não estão preparados para trabalhar com as novas mídias com seus alunos, enquanto 7% neste cenário, dizem que sim.

Neste aspecto, José Manuel Moran afirma que:

Toda sociedade será uma sociedade que aprende de inúmeras formas, em tempo real, com vastíssimo material audiovisual disponível. A aprendizagem será mais tutorial, de apoio, ajuda. Será uma aprendizagem entre pares, entre colegas e entre mestres e discípulos conectados em rede, trocando informações, experiências, vivências. Aprenderemos em qualquer lugar, a qualquer hora, com tecnologias móveis poderosas, instantâneas, integradas, acessíveis. (MORAN, 2012, p. 146).

5.2. Pesquisa aplicada com Professores

A segunda pesquisa contempla um cenário composto por cinco educadores do Curso Normal (Formação de Professores) na faixa etária dos 35 aos 55 anos de idade, com experiência profissional no magistério superior a 10 anos de exercício da função, graduados, sendo todos os profissionais pertencentes ao quadro de servidores efetivos do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

5.2.1. Apresentação dos resultados

Os resultados obtidos nas entrevistas com os alunos estão intrinsicamente ligados aos dados coletados juntos aos professores, pois refletem diretamente sobre a práxis pedagógica, em especial quanto ao uso das novas mídias e tecnologias no ambiente educacional.

Assim como os alunos entrevistados, os professores possuem acesso à internet, usam plataformas digitais e sociais, ou seja, acompanham a Sociedade Conectada e os nativos digitais conforme as habilidades que dispõem ou que aprendem no dia a dia. Deve-se destacar que os profissionais com idade superior a 45 anos ainda demonstram algumas dificuldades quanto ao manuseio das novas tecnologias, como por exemplo, o smartphone, o que é relativamente normal, afinal estes não nasceram e se desenvolveram com as novas tecnologias a disposição, como as novas gerações.

Nesta pesquisa, o eixo que trata sobre capacitação específica possibilitou a coleta de importantes dados que refletem diretamente na aplicação do uso das novas mídias e tecnologias no processo educacional.

Vejamos os resultados obtidos por meio da tabela a seguir.

Tabela 06 - Eixo Capacitação Específica – Pesquisa Aplicada

PERGUNTAS

Cursou na graduação disciplina específica sobre como usar computador e internet em atividades com alunos?

Sim

 

0

Não

 

5

Não possui formação de nível superior

0

Participa de curso de formação continuada sobre o uso de computador e internet em atividades de ensino?

Em horário de trabalho

Sim (0) Não (5)

Fora do horário de trabalho

Sim (0) Não (5)

 

A respeito do curso de formação continuada sobre o uso de computador e internet em atividades de ensino, qual a sua opinião?

Contribui muito

 

Sim (5) Não (0)

Participou de curso de formação continuada sobre o uso de computador e internet em atividades de ensino?

Sim

 

0

Não

 

5


Os resultados obtidos neste eixo da pesquisa revelam que os professores entrevistados não tiveram acesso em sua graduação à disciplina específica sobre como usar o computador e a internet em atividades com os alunos, bem como não participam ou participaram de curso voltado a este objetivo.

A pesquisa revela ainda, que na opinião dos educadores, cursos voltados ao uso das novas mídias, tecnologias e internet em atividades de ensino, contribuem muito para o processo de ensino-aprendizagem do aluno.

Nas palavras de José Manuel Moran:

Educar é um processo complexo, que exige mudanças significativas, investimento na formação de professores, para o domínio dos processos de comunicação da relação pedagógica e do domínio das tecnologias. Só assim poderemos avançar mais depressa, com a consciência de que, em educação, não é tão simples mudar, porque existe uma ligação com o passado, que é necessário manter, e uma visão de futuro, à qual devemos estar atentos. (MORAN, 2012, p. 168).

Os dados obtidos neste eixo da pesquisa contribuíram para analisar de forma crítica o eixo seguinte, que trata sobre as atividades em âmbito educacional e escolar.

Neste aspecto a não capacitação dos educadores no uso das novas mídias e tecnologias no processo de ensino-aprendizagem os limita a utilizar tais ferramentas no desenvolvimento pedagógico.

Na análise deste eixo, constata-se que os educadores realizam atividades básicas com os alunos ao utilizar as novas tecnologias e internet, descartando, por exemplo, o uso de jogos educativos, a elaboração de planilhas e gráficos, o desenvolvimento de projetos científicos, artísticos e sociais, entre outros.

Ainda neste eixo da pesquisa, outros importantes dados chamam a atenção: a não participação de projetos desenvolvidos junto com outros professores e educadores pela internet, a não busca de parcerias via internet para desenvolvimento de projetos, bem como a não busca por parcerias para solucionar problemas da escola.

A cultura educacional, ainda arraigada no ensino tradicionalista, contribui para que as tecnologias ainda sejam inexploradas em virtude da inércia da cultura tradicional, do medo e dos valores consolidados.

É preciso que os atuais e novos educadores da Sociedade Conectada desmistifiquem os costumes, hábitos e valores, permitindo que estes possam se conectar as novas ideias, às novas mídias e tecnologias, afinal estamos construindo uma sociedade que será totalmente diferente em uma ou duas décadas.

Nesta perspectiva, segundo o educador José Manuel Moran:

Aos poucos, a escola se tornará mais flexível, aberta e inovadora. Será mais criativa e menos cheia de imposições e obrigações. Diminuirá sensivelmente a obrigação de todos terem de aprender as mesmas coisas, ao mesmo espaço, ao mesmo tempo e da mesma forma. (MORAN, 2012, p. 149).

Mais adiante, a pesquisa tem como eixo as barreiras para uso das novas mídias e tecnologias no ambiente escolar. Nesta seara os resultados mostram como a falta de infraestrutura contribui de forma direta para o não uso destas importantes ferramentas.

Vejamos na tabela a seguir o que muito dificulta os educadores entrevistados no uso das ferramentas.

Tabela 07 - Eixo Barreiras para Uso – Pesquisa Aplicada

PERGUNTA

Qual a sua percepção sobre barreiras para o uso das TICs na escola?

Ausência de suporte técnico e manutenção dos equipamentos

Dificulta Muito

Falta de apoio pedagógico aos professores para o uso do computador e da internet

Dificulta Muito

Número insuficiente de computadores conectados à internet

Dificulta Muito

Baixa velocidade de conexão à internet

Dificulta Muito

Número insuficiente de computadores por aluno

Dificulta Muito

Equipamentos obsoletos ou ultrapassados

Dificulta Muito

Ausência de curso específico para o uso do computador e da internet nas aulas

Dificulta Muito


Ainda neste eixo da pesquisa, os educadores foram questionados sobre suas percepções quanto a possíveis impactos das novas mídias e tecnologias em práticas pedagógicas; o uso das mesmas na escola, bem como os impactos do uso do computador e da internet com os alunos.

Quanto aos impactos em práticas pedagógicas, de forma unânime, os educadores concordaram que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) passaram a adotar novos métodos de ensino, a possibilitar acesso mais diversificado ou de melhor qualidade, permitir o contato com professores e com especialistas de outras escolas, cumprimento de tarefas administrativas com maior facilidade e comunicação com alunos com maior facilidade. Neste tópico os educadores apenas discordaram que passaram a ter menos trabalho.

No tópico que trata sobre a percepção das TICs na escola, os professores entrevistados concordam que a escola oferece acesso à internet aos alunos. Discordam quanto ao recebimento de instruções sobre como os alunos podem usar a internet com segurança, bem como o incentivo da direção ou coordenação pedagógica a usarem a internet em atividades pedagógicas.

Neste cenário, os educadores discordam quanto à manutenção regular dos computadores da unidade escolar, a orientação do Projeto Político Pedagógico (PPP) quanto ao uso da internet em atividades com os alunos, bem como o incentivo da direção ou coordenação pedagógica no uso da internet em atividades administrativas.

Quanto à percepção dos professores sobre possíveis impactos no uso do computador e da internet com os alunos, todos concordam que os discentes ficam mais motivados em assistir a aula, aprendem com mais facilidade, interessam-se em aprender conteúdos considerados complexos e de difícil entendimento, demonstram-se mais autônomos e colaboram mais um com os outros.

Para finalizar este ponto da pesquisa, peço licença para citar o pensamento da educadora e pesquisadora Vani Moreira Kenski, ao defender a tese de que para uma escola do tamanho do mundo não basta investir de forma maciça em treinamento de professores para o domínio técnico do uso das TICs é preciso uma nova mentalidade.

A nova mentalidade exigida para se fazer educação de qualidade na sociedade da informação exige mudanças na estrutura e no funcionamento das escolas. Mudanças que vão muito além dos atuais ambientes e dos espaços e tempos de ensino-aprendizagem e que se vinculam com a linha filosófica e o projeto pedagógico da instituição.

Para que as novas tecnologias não sejam vistas como apenas mais um modismo, mas com a relevância e o poder educacional transformador que possuem, é preciso que se reflita sobre o processo de ensino de maneira global. Para isso, é preciso, antes de tudo, que todos estejam conscientes e preparados para a definição de uma nova perspectiva filosófica, que contemple uma visão inovadora de escola, aproveitando-se das amplas possibilidades comunicativas e informativas das novas tecnologias para a concretização de um ensino crítico e transformador de qualidade. (KENSKI, 2012, p. 125 e 126).

5.3. Pesquisa aplicada com a Coordenação Pedagógica e Direção

Ao longo da apresentação dos resultados obtidos nas pesquisas aplicadas com alunos e professores, observaram-se os desafios e contribuições do uso das novas mídias e tecnologias por aqueles que estão na ponta do processo educacional.

A pesquisa de campo contemplou ainda entrevista com a coordenação pedagógica e direção do Colégio Estadual Tobias Tostes Machado, unidade escolar selecionada para o desenvolvimento da metodologia de pesquisa do presente artigo acadêmico.

Neste ponto da pesquisa, os resultados concretizam as informações obtidas nas entrevistas com alunos e educadores, possibilitando maior reflexão quanto aos inúmeros desafios, em especial na rede pública de ensino, no que concerne o uso das novas mídias e tecnologias no processo de ensino-aprendizagem e formação do aluno/cidadão crítico.

A evidência de que o Projeto Político Pedagógico (PPP) não prevê o uso da internet para atividades com os alunos, orientações sobre como usar a internet nas atividades escolares, além do não conhecimento a respeito do marco civil da internet, acendem uma luz vermelha quanto ao não planejamento e inserção das TICs no PPP, instrumento este que reflete a proposta educacional da escola.

Ao falarmos em proposta educacional, devemos levar em consideração que o PPP é projeto, pois reúne propostas de ação concreta a executar durante determinado período de tempo; é político por considerar a escola como um espaço de formação de cidadãos conscientes, responsáveis e críticos, que atuarão de forma individual e coletiva na sociedade, modificando os rumos que ela vai seguir; é pedagógico porque define e organiza as atividades e os projetos educativos necessários ao processo de ensino aprendizagem.

Neste ponto em que a pesquisa avalia o sistema de planejamento e gerenciamento, aponta-se que tanto a coordenação como a direção reconhece e trabalha ações prioritárias para a integração do computador e da internet em práticas pedagógicas tais como: aumento do número de computadores por aluno e conectados a internet, bem como aumento da velocidade de acesso à internet.

Entretanto, quando questionados sobre as iniciativas realizadas em decorrência da introdução das TICs na escola, realização de atividades de formação de professores para seu uso pedagógico, atividades sobre o acesso seguro da internet, participação e oferta de cursos, debates e palestras sobre tecnologias e educação, os dados coletados nas entrevistas demonstram que a coordenação pedagógica e a direção escolar, têm apenas como foco a obtenção de investimentos de estrutura física a médio e longo prazo, não levando em consideração a capacitação do corpo pedagógico, bem como da comunidade discente e escolar.

Os dados reforçam o quanto o tema abordado neste artigo torna-se atual e necessário para o debate em uma agenda muito mais ampla que a da escola e comunidade escolar. É preciso evolver políticas públicas a nível federal, estadual e municipal, possibilitando uma agenda de discussões que trate não apenas dos investimentos em estruturas tecnológicas, mas na capacitação e formação de educadores e educandos no uso crítico e consciente das ferramentas tecnológicas advindas com o processo de globalização.

6. Considerações Finais

Em sua trajetória repleta de lutas, conquistas e mudanças, a Educação deve ser reconstruir todos os dias para atender a uma nova sociedade, conectada em tempo real as mudanças sociais, políticas e econômicas.

Nos últimos dez anos, a escola recebe para dentro de seus muros as novas tecnologias e mídias, em grande parte levadas pelos alunos, nativos digitais que nasceram na Sociedade Conectada.

Os costumes, hábitos e valores da educação extremamente tradicional, ainda permanecem arraigados no sistema de ensino, principalmente na rede pública, conforme constatado ao longo da metodologia de pesquisa apresentada neste artigo acadêmico.

A pesquisa aplicada nos permitiu conhecer in loco o seio de um sistema educacional público, que cada vez mais tem em sua realidade a presença das novas mídias e tecnologias.

De forma muito natural, os nativos digitais das atuais e futuras gerações vão chegando às escolas munidos de novas tecnologias, novas linguagens, comportamentos, hábitos e até mesmo valores. A pesquisa nos permitiu conhecer melhor esta nova geração, em especial protagonistas que também terão a função de educar, considerando a especificidade do Curso Normal.

Entretanto, os resultados da pesquisa aplicada com os alunos nos acendem um alerta quanto à formação destes futuros educadores, em especial quando em sua maioria, os alunos não se consideram preparados para trabalhar com as novas mídias e tecnologias.

Nativos digitais, nascidos na Sociedade Conectada, fica evidente que os alunos partícipes da pesquisa, apenas receberam em suas mãos as ferramentas físicas do “boom” tecnológico, não sendo capacitados para utilizá-las. Nesta seara abre-se outro precedente: a formação dos atuais educadores, a capacitação continuada destes para o uso das novas mídias e tecnologias.

Ao longo da pesquisa, professores, coordenação pedagógica e direção escolar também foram ouvidos e questionados sobre a contribuição das novas mídias e tecnologias no processo de ensino aprendizagem e formação do aluno/cidadão.

Por mais que a escola e seus profissionais permitam que as novas mídias e tecnologias adentrem ao espaço físico da escola, ainda existem graves barreiras no aspecto da aplicação educacional e social destas ferramentas.

A geração dos atuais educadores possui grandes dificuldades para acompanhar os nativos digitais. Assim como os alunos, o corpo pedagógico em um contexto amplo, apenas recebeu em suas mãos as ferramentas físicas do “boom” tecnológico, não sendo capacitado para utilizar as novas ferramentas como instrumento de apoio e transmissão de saberes no processo de ensino-aprendizagem.

A escola pública por sua vez, vinculada ao Estado, carece de políticas públicas de capacitação, aperfeiçoamento, geração de aprendizagens sobre novas mídias e tecnologias. Mas aqui cabe destacar que não se trata de capacitação para o uso das ferramentas físicas, por exemplo: como utilizar da melhor maneira a câmera de um celular. Trata-se de algo muito além do uso de recursos tecnológicos, representa a aplicação de uma pedagogia que conscientize, problematize, que crie novos saberes, contribua na formação de caráter, comportamentos adequados a uma sociedade que está em constante mudança de hábitos e valores.

É preciso refletir e compreender que o ambiente escolar e a vida em sociedade são indissociáveis, ou seja, não podem ser separados ou desunidos, ambos devem caminhar juntos em prol da construção de uma sociedade que almeja mudanças e cada vez mais necessita se conectar a novas ideias, às novas mídias e tecnologias.

Será cada vez mais comum que alunos e educadores tenham ao alcance da palma da mão milhares de informações, conhecimentos, aprendizagens em tempo real. O papel do educador já não mais corresponde como o detentor das informações, mas sim como o mediador do processo de ensino-aprendizagem.

No âmbito escolar, não basta apenas replicar o efeito globalizado da aquisição de bens tecnológicos, é preciso que educadores, educandos, comunidade escolar, representantes de políticas públicas, invistam na capacitação, aperfeiçoamento do uso das novas ferramentas digitais.

O “boom” tecnológico da última década apenas demonstrou sua capacidade de adentrar aos lares, aos ambientes escolares, às empresas, às instituições e de forma geral à sociedade. Entretanto não nos capacitou para o uso das novas mídias e tecnologias, apenas nos foi entregue um leque de opções tecnológicas, mas não um manual educacional e social de como as utilizar.

A escola além de suas funções de educar, preparar para o mundo e formar cidadãos, passa a ter o compromisso de formar alunos críticos e conscientes no uso das mídias, Porém ainda não soube capacitar os educadores, que desde já precisam ser mediadores da Sociedade Conectada.

7. Referências

MORAN, José Manuel. A educação que desejamos: Novos desafios e como chegar lá. 5ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2012.

KENSKI, Vani Moreira. Educação e tecnologias: O novo ritmo da informação. 8ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2012.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 49ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 2014.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 25ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1998.

GEE, James Paul. What video games have to teach us about learning and literacy. Nova York: Palgrave Macmillan, 2003.

1 Fonte: Museu do Computador e Museu da Computação e Informática.

2 Fonte: Pesquisa Global Digital 2019, Agência We Are Social.

3 Fonte: Pesquisa Global Digital 2019, Agência We Are Social.


Publicado por: Pedro Folly

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