MÉTODOS LÚDICOS NO PROCESSO DE ENSINO DOS ALUNOS DA PRÉ-ESCOLA — FASE I, DA ESCOLA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL SYLVIA ORTHOF EM SINOP/MT

índice

Imprimir Texto -A +A
icone de alerta

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

1. Resumo

Na presente pesquisa abordamos sobre os métodos lúdicos no processo de ensino dos alunos da pré-escola fase I e buscamos, por meio de questionário aberto, trazer a visão dos professores da Escola de Educação Infantil Sylvia Orthof, quanta a aplicação da ludicidade em suas aulas. A pesquisa traz uma breve introdução a evolução da utilização de métodos lúdicos ao decorrer dos anos, mostrando como a criança era vista pelas famílias e pela sociedade. Por meio dos teóricos, buscamos apresentar a ludicidade como papel fundamental no desenvolvimento dos alunos e com o resultado da pesquisa, uma visão do corpo docente de como os métodos lúdicos servem de ferramenta para contribuir no aprendizado do aluno. A questão norteadora do estudo se encontra voltada para procurar resgatar o direito da criança de brincar e aprender de forma prazerosa. O lúdico é uma ponte que auxilia no processo de construção do ser humano, contribuindo no desenvolvimento social, pessoal e cultural, facilitando o processo de socialização, comunicação e expressão, imprescindíveis para o pleno desenvolver do indivíduo. Podemos visualizar nesta pesquisa a relevância das atividades lúdicas para o aprender das crianças da escola pesquisada, uma vez que, o brinquedo, o jogo e a brincadeira são elementos que contemplam o lúdico, o qual permeia o desenvolvimento físico e mental da criança.

Palavras-chave: ludicidade, brincadeira, brincar, jogos, aprendizagem.

2. Introdução

A entrada da criança na educação infantil, seja creche ou pré-escola, indica o início do seu processo educacional, que ocorre, em sua grande maioria, a primeira separação dos seus vínculos afetivos e familiares. É a partir desse momento que a criança é colocada a frente de situações de defesa individual e aprendizado coletivo para ser incorporado a sociedade.

Os métodos lúdicos trazem para o aprendizado infantil, uma proximidade do cotidiano em sala de aula, onde os alunos absorvem mais o que aprendem, por estarem se divertindo enquanto estão brincando.

Vygotsky (1984) afirma que na brincadeira a criança é maior que na realidade, apresentando um comportamento além do habitual para sua idade e do seu comportamento diário. O brinquedo contribui para a imaginação da criança, pois, quando brinca ela reproduz falas e situações do seu cotidiano, mudando as versões como ela gostaria que fosse.

Os brinquedos, brincadeiras e jogos possibilitam que as crianças explorem suas potencialidades, interagem com seu meio de convívio e entendem situações do seu mundo. A ludicidade desperta no aluno o seu desenvolvimento na comunicação, interação com colegas, reflexo de emoções e suas habilidades. Desta forma, de acordo com Piaget (1973):

Os jogos e as atividades lúdicas tornam-se significativas à medida que a criança se desenvolve, com a livre manipulação de materiais variados, ela passa a reconstituir reinventar as coisas, que já exige uma adaptação mais completa. Essa adaptação só é possível, a partir do momento em que ela própria evolui internamente, transformando essas atividades lúdicas, que é o concreto da vida dela, em linguagem escrita que é o abstrato (PIAGET, 1973, p. 156).

Os jogos em suas diversas fases, contribuíram com a formação do ser humano no seu aspecto mais sensível; tendo em vista que na educação infantil serve como recreação, favorecendo a aprendizagem da leitura, escrita e, ao mesmo tempo, pode ser utilizado como recurso para adequar o ensino às necessidades infantis.

Na idade infantil, a criança começa a pensar com lógica, entende o mundo mais objetivo e tem consciência de suas ações, aprende a diferença do certo e do errado. Sendo assim, o jogo tem o intuito de trabalhar o raciocínio lógico, ajudando a criança a organizar seus pensamentos e ideias e a fazer suas descobertas.

“O jogo sempre inclui uma intenção lúdica do jogador” (KISHIMOTO, 2010, p. 28). Por isso, as atividades pedagógicas devem conter jogos e brincadeiras para que os educadores levem aos alunos a proximidade do mundo que vivem através de diversos temas.

Diante do exposto, esta pesquisa tem como objetivo investigar como os métodos lúdicos utilizados pelos professores da Escola Municipal de Educação Infantil Sylvia Orthof, na cidade de Sinop/MT, contribuem no processo de aprendizagem dos alunos que se encontram na primeira fase da pré-escola.

3. Contextualização teórica

Antes do século XIII e XIV não existiam os sentimentos de infância como hoje conhecemos, pois, de acordo com Ariès (1981) e Narodowski (1994): “as crianças não eram nem queridas e nem odiadas nos termos que se expressam hoje: as crianças eram apenas inevitáveis. Não se diferenciavam dos adultos por suas roupas, nem por suas atividades, nem pelo que diziam ou calavam”.

Os sentimentos de infância surgiram na Modernidade francesa, no final de século XVII e início do XVIII, após as famílias se tornarem mais privadas e menos públicas. Longe das ruas e praças, as famílias se tornaram mais íntimas e responsáveis pela formação das crianças, instituindo a infância como conhecemos hoje.

A partir deste marco, as crianças deixaram de ser vistas como adultos em miniaturas, passando a ser consideradas sujeitos em formação que precisavam de cuidados especiais. As crianças passaram a usar outras vestes, frequentar outros ambientes e ter acesso à educação. Contudo, essa modificação de sentimento de infância não chegou de forma imediata a todas as famílias. Para que uma criança pudesse ser vista como sujeito em formação, era necessário pertencer a uma classe social e econômica que garantisse o sustento da criança nesse período de formação. Para as famílias que não se incluíam nessa faixa, as crianças permaneceriam fornecendo mão de obra para girar a economia local e estatal.

Com o surgimento da concepção de infância, as crianças começaram a receber um tratamento especial chamado de mignotage, que se refere a palavra francesa que significa tratar as crianças com diminutivos e mimos, sendo que os adultos as viam como fonte de relaxamento e distração.

Passado quase um século, os educadores levantaram severas críticas quanto a forma de tratamento para com as crianças, pois a infância passou a ser objeto de estudo, de análise e normalização, deixando de considerar a criança uma forma de distração e brincadeira. Os educadores destinaram leituras de livros clássicos as crianças, despertando o conhecimento literário, auxiliando na formação do sujeito e promovendo o respeito a infância.

A separação da infância da idade adulta fez com que também as atividades das crianças e das pessoas adultas fossem diferenciadas, aproximando cada vez mais o brinquedo e a brincadeira da criança. De acordo com Fantin (2000, p. 33), uma concepção diferente de infância começou a ser construída desde o século XII, mas foi apenas “a partir do Renascimento Italiano, no século XV, que a imagem da criança começou a ser diferenciada em relação a do adulto e que no século XVII, no Ocidente, o brincar teve seu lugar destacado como atividade típica da infância”.

Os brinquedos e as brincadeiras pertencentes às mais diversas culturas, mantêm-se sempre atuais em virtude das ressignificações constantes pelas quais passam, atendendo ao momento histórico em que são praticadas. Kishimoto (1999, p. 17) argumenta que “enquanto fato social, o jogo assume a imagem, o sentido que cada sociedade lhe atribui. É este o aspecto que nos mostra por que, dependendo do lugar e da época, os jogos assumem significações distintas.”

Os primeiros brinquedos e as primeiras brincadeiras das crianças surgem ao seu redor e nelas mesmas aos nascer. A criança brinca com tudo que estiver ao seu alcance.

O ato de brincar é considerado espontâneo nos dias atuais, sendo assegurado esse direito no art. 29, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996) que diz: “A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectuais e sociais, complementando a ação da família e da comunidade”.

Grande parte do desenvolvimento integral da criança, ocorre pelo caráter lúdico das atividades aplicadas em espaços formais, onde além do lazer (brincar), contam com a alimentação e higiene, fazendo com que as crianças se sintam acolhidas, tornando-as mais adepta a aprendizagem.

Nas atividades lúdicas, a criança se aproxima da realidade vivida em espaços não escolares, fazendo com que ative sua imaginação e resulte numa aprendizagem significativa. Ferreira; Silva; Reschke ([s/d], p.7) explicam que o lúdico possibilita o estudo da relação da criança com o mundo externo, integrando estudos específicos sobre a importância do lúdico na formação da personalidade.

Para que a criança consiga aprender, fatores internos, como os sentimentos e reações das crianças, e externos, que se referem ao ambiente em que a criança frequenta que se referem ao ambiente em que a criança vive e frequenta interferem diretamente na aquisição de, conforme reforça Campos (2001, p. 30) ao expor que “A aprendizagem é uma modificação sistemática de comportamento, por efeito da á pratica ou experiência, com um sentido de progressiva adaptação ou ajustamento.”

Estudos sobre o desenvolvimento das crianças, realizados por Piaget (1976) evidenciaram que o indivíduo tem seu desenvolvimento de forma gradual, dinâmico e contínuo, ou seja, o ser humano tem diversas fases de aprendizado, requerendo que para ada uma delas seja aplicado diferentes métodos.

Assim sendo, Piaget (1976) explicou que na fase sensório-motor (0 a 02 anos), o ser humano brinca com o próprio corpo, sendo as mãos, os braços e pés. Ao findar dessa fase a criança assimila cores, símbolos e formas iniciando a fase de pensamentos e imaginação; ao entrarem na fase pré-operatório (02 - 07 anos) a criança tende a brincar em pequenos grupos, com a própria imaginação e associa as brincadeiras à sua realidade, tornando o egocentrismo mais forte nesta fase; na fase concreta (07 - 12 anos) a criança porta sua percepção de raciocínio aguçada e aprende com maior facilidade o conteúdo que lhes é ensinado com o auxílio de materiais manipuláveis e jogos de lógica; e na última fase, sendo ela a formal (+ ou – 12 anos em diante), o adolescente desenvolve operações cognitivas, formando opiniões sobre liberdade, justiça e outros. Nesta fase, o aluno opera jogos de quadra e bola com dinamismo.

Deste modo, Piaget (1973) nos faz entender que conforme as crianças se desenvolvem, os jogos e as atividades lúdicas tornam-se significativas, e para que a aprendizagem aconteça, os professores devem estar atentos ao meio social em que seus alunos vivem para poder trazer para sala, jogos e atividades que recriem situações do cotidiano, contribuindo para o interesse do aluno, pois o mesmo interfere na forma como irá absorver o conteudo a ser trabalhado.

Para Vygotsky (1998), o desenvolvimento das crianças se dá através do convívio, do contato com outros, sendo que no mínimo duas pessoas tendem a estar envolvidas, gerando assim novas experiências e agregando conhecimentos.

A criança desperta suas habilidades no decorrer das brincadeiras, seja ela habitual ou descontraído, despertando assim seu desenvolvimento proximal. Utiliza os signos para dar os significados. Quando uma criança brinca, ela desenvolve o autocontrole e é capaz de compartilhar seus conhecimentos, sendo assim algo interessante e grandioso para ela até mesmo na questão de conflitos no meio da brincadeira.

Quando lhe é ofertada o momento de brincar, ela desenvolve sua coordenação motora e o imaginário, desprendendo assim da realidade. No ato de brincar, é onde se analisa o comportamento da criança referente há algumas situações adversas como, por exemplo: frustrações, traumas, prazeres e alegrias. A brincadeira é usada em todo o processo de formação dos conhecimentos da criança onde a mesma transmite o que foi assimilado por ela.

Vygotsky (1998, p. 126) afirma que “é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas, e não pelo dos incentivos fornecidos pelos objetos externos”.

O estímulo depende muito do objeto e do campo onde a criança está explorando. O ato de brincar vai muito além do simples fato da criança estar gastando energia ou simplesmente se distraindo. A brincadeira desempenha na criança as relações familiares, estreitando também os laços e vínculos de amizade e convívio com os colegas em sala de aula, além dos conhecimentos e estímulos desenvolvidos que são compartilhados na hora do brincar, tornando isso como algo flexível.

Para Kishimoto (2009), a brincadeira envolve a criança sem exigir dela algo que seja concreto (resultados), é um ato importante para o desenvolvimento dela o brincar, além de ensinar, desenvolve sua aptidão por alguns tipos de brincadeiras, introduzindo-a ao mundo da imaginação, pois brincar e algo automático da criança que e onde ela expressa seus sentimentos e explora novas experiências.

Quando em contato com os demais ela aprende novas brincadeiras, manuseia objetos e depois as reproduz, sempre renovando de geração em geração.

É preciso considerar a idade da criança com relação aos brinquedos, todas têm direito a qualquer brinquedo de acordo com a sua faixa etária. Brinquedos são equipamentos importantes que fazem parte da cultura de toda criança.

4. Material e método

Essa pesquisa de cunho qualitativo, que segundo Marconi e Lakatos (2010), tem como premissa, analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano e ainda fornecendo análises mais detalhadas sobre as investigações, atitudes e tendências de comportamento. Portanto, a pesquisa qualitativa enfatiza os processos e os significados.

A pesquisa foi realizada na Escola Municipal de Educação Infantil Sylvia Orthof, localizada na rua das cerejeiras nº 595, no bairro Jardim Botânico, no município de Sinop/MT.

 Foi utilizada a técnica da entrevista, cujo instrumento foi formulário em meio eletrônico (Google Forms), que conteve questões previamente elaboradas e nele os cinco profissionais da educação, da primeira fase da pré-escola da Escola Municipal de Educação Infantil Sylvia Orthof entrevistados escreveram suas respostas (GIL, 2002, p. 115).

As respostas inseridas nos formulários foram organizadas mediante o seu agrupamento em certo número de categorias, visando a identificação de temas, padrões e categorias importantes.

A interpretação e a discussão dos dados foram realizadas a luz dos referenciais teóricos.

5. Métodos lúdicos adotados na primeira fase da pré-escola do estabelecimento de ensino Municipal de Educação Infantil Sylvia Orthof em Sinop/MT

Todos os cinco entrevistados utilizam métodos lúdicos em suas aulas como forma de facilitar o desenvolvimento e a aprendizagem da criança, entretanto há 40% dos professores que relataram encontrar dificuldades na aplicação das atividades lúdicas.

Pautados em Piaget (1976), Vigostsky (1991) e Kishimoto (1999), que defendem os métodos lúdicos como forma de auxiliar no desenvolvimento do aprendizado dos alunos, foi indagado aos professores o que cada um espera extrair de seus alunos quando aplicado os métodos lúdicos em sala. 40% dos professores expuseram que, durante a aplicação do método lúdico conseguem realizar um diagnóstico inicial, buscando saber mais sobre a vida do aluno fora da escola. Há 60% dos professores que buscam exercitar a mente do aluno através da imaginação, desenvolver a linguagem, aspectos motores, cognitivos e relacionamento social, conforme mostra um trecho da resposta de um dos entrevistados:

(...) ao brincar as crianças aprendem a conviver, explorar, conhecer a si mesmo, criando oportunidades de interagir com o meio e descobrir o mundo ao seu redor.

Cada instituição escolar tem seu programa pedagógico de ensino, em que os assuntos e temas a serem trabalhados são previamente apresentados aos professores que tendem a seguir a grade cirricular. Entretanto, cabe ao educador decidir qual método de ensino utilizar para trabalhar tais assuntos e como fazer para atrair a atenção das crianças. Assim sendo, quando questionados aos professores participantes deste pesquisa, se a ludicidade seria uma prioridade em questão de método de ensino, 100% afirmam que sim, apresentando como justificativa de que ao brincar, a criança se interessa mais pela atividade e o retorno avaliativo vem mais denso, pois ao se divertir e distrair, sem estar preso as atividades manuais, o aluno aprende com maior intensidade. Um dos professores acrescentou que:

(...) é necessário priorizar atividades lúdicas. As crianças demonstram maior interesse em atividades que proporcionam diversão e aprendizado significativo.

Os métodos lúdicos podem estimular diferentes pontos aos serem aplicadas. O professor pode realizar uma atividade cujo foco maior é para o relaxamento, como para o divertimento ou ainda para a relação de proximidade cultural. Quando questionado aos entrevistados, qual seria o foco de busca durante a aplicação das atividades, estes responderam que exercitar e incentivar os três pontos, gera um resultado maior e que um ponto complementa o outro:

(...) porque uma aula divertida relaxa, aproxima e cria relações positivas entre os participantes.

Durante a aplicacão de jogos lúdicos, pode-se trabalhar alguns pontos mentais e sociais de forma específica, permitindo ter uma avaliação mais abrangente do desenvolvimento infantil. Os professores da instituição estudada acreditam que através do jogo lúdico é possível desenvolver todos os pontos em uma mesma atividade ou de forma isolada, dependendo da atividade proposta (Figura 1).

Figura 1. Pontos de desenvolvimento durante a aplicação do método lúdico:

Relativo as suas escolhas de desenvolvimento educacional para com as crianças durante a realização das atividades, por meio de métodos lúdicos, todos consideram a ludicidade uma ferramenta que aproxima a criança de sua realidade externa e que captura maior atenção durante a realização da atividade.

Trabalhar a coletividade, por exemplo, através de uma brincadeira em grupo, faz com que a criança aprenda a dividir a atenção e o espaço, além de estimular o respeito com o colega quanto suas limitações e opiniões. O psicomotricidade pode ser estimulada através de uma simples “amarelinha”, em que o professor estimula movimentos, ajuda o aluno a superar limites e valorizar a auto-estima. Com jogos de memória, tabuleiro e que envolvam movimentação corporal, os professores despertam o desenvolvimento cognitivo de cada criança, podendo avaliar o nível de raciocínio, sua imaginação e suas emoções como mostra uma resposta da pesquisa:

(...) em um mesmo jogo ou atividade pode ser trabalhado diversas intenções e alcançar diversos objetivos.

A base dessa informação nos remete a ideia de que uma só brincadeira ou um jogo pode trazer estímulo ou desenvolvimento em vários pontos em uma única criança. Os professores entrevistados afirmam que os resultados adquiridos com a aplicação da ludicidade é de forma individual, pois em um mesmo grupo de crianças, há uma variação distinta de aprendizagem, tendo maior sucesso com algumas crianças e com outras sendo necessário um trabalho mais específico para atingir o objetivo de aprendizagem.

Segundo os entrevistados, há crianças com muita dificuldade de dividir seus pertences, brincar em grupo e compartilhar seus brinquedos, bem como ganhar ou perder em um jogo. Uma forma de trabalhar e estimular a criança a evoluir nesse ponto é solicitar que cada aluno leve um brinquedo pessoal para a aula.

Esse método faz com que a criança aprenda a dividir pertences pessoais com seus colegas, estimular a brincadeira coletiva, ajudar na adaptação da criança dentro do espaço escolar e também faz com que a criança desenvolva a responsabilidade de levar o brinquedo a escola, cuidá-lo e levá-lo para casa novamente. Para complementar a ideia, um professor respondeu que:

(...) a brincadeira coletiva contribui para o desenvolvimento social da criança, sendo assim, quando ela divide seus brinquedos pessoais com  outra criança, aprende o valor de compartilhar.

Os jogos e as brincadeiras realizadas em espaços escolares auxiliam na demostração de sentimentos pessoais de cada aluno. Durante uma brincadeira, os professores conseguem fazer a leitura de sentimentos e frustrações que os alunos estejam vivendo em suas vidas cotidianas, bem como as emoções e cuidados que trazem consigo. Uma brincadeira com bonecas, por exemplo, faz com que os alunos reproduzam situações que vivem em suas casas, frases que escutam e atitudes que se espelham nas pessoas que convivem.

A brincadeira também abre campo para a criança imaginar além da sua realidade, estimulando a criatividade, a curiosidade e instigando a criança a fantasia. Quando a criança brinca, ela se torna o que sua imaginação permite, seja uma princesa, seja uma bruxa ou personagens de desenhos animados, pois sabemos que as crianças não precisam de muito para a imaginação fluir. O brinquedo nada mais é do que o objeto para o estímulo dessa imaginação, por isso a ludicidade torna-se tão importante no meio escolar e no desenvolvimento da aprendizagem dos alunos, assim segue:

(...) A brincadeira pode ajudar a criança a expressar suas emoções e sentimentos, a ter empatia, a reconhecer as emoções em si e nos outros.

Certos jogos e brincadeiras marcam a memória das crianças, fazendo com que reproduzam as atividades com seus familiares e responsáveis em ambiente não escolar. Os professores foram indagados sobre o interesse que a ludicidade desperta nos alunos durante a aula, estes confirmam que a brincadeira cria memória afetiva e que fomenta a presença das crianças na escola em busca de aprender com a diversão:

(...) acredito que se a sala de aula não houver brincadeiras algo que cative, os mesmos (crianças) não vão querer vir apenas para fazer tarefas.

Questionados sobre o brinquedo ser considerado um investimento para o desenvolvimento da criança, 100% dos entrevistados concordam que sim e mencionaram a importância de adquirir brinquedos indicados para a idade de cada criança, pois cada brinquedo traz um aprendizado diferente. Considerando que nem todas as famílias possuem condições financeiras para fazer esse tipo de investimento, pode-se utilizar brinquedos improvisados. Além disso, o tempo dedicado a momentos de laser também surtem efeito no desenvolvimeto da criança, marcando a memória afetiva.

Quando a criança brinca esta aumenta sua independência, desperta desenvolvimentos sensoriais, habilidades motoras, exercita a imaginação, recicla emoções, se reinventa e constrói o conhecimento. De acordo com Freire (1997, p. 112), “a criança é uma especialista em brinquedo, mais até que a própria professora. Não uma especialista em teorizar sobre o brinquedo, mas em brincar.”

Aos entrevistados foi apresentado o questionamento sobre o quanto a credibilidade que a brincadeira tem sobre os resultados de desenvolvimento educacional e pessoal das crianças. Todos os professores utilizam de métodos lúdicos em suas aulas para trabalhar algum ponto específico ou geral na aprendizagem do aluno. Estes citaram alguns pontos que a criança desenvolve involuntariamente junto com a busca do aprendizado, como por exemplo, a sua própria identidade, descoberta de novas emoções, união e compartilhamento em grupo, pois:

(...) quando uma criança brinca, ela se movimenta, ela pensa e age, ela imagina, ela divide com alguém aquele momento e espaço, ela tende a colocar em ação seus sentimentos, os sonhos e as falas.

Apesar de os métodos serem perfeitos para serem trabalhados e obter retorno avaliativo dos alunos, ainda é possível perceber que há certas dificuldades quanto as aplicações dos métodos lúdicos nas escolas. Dos entrevistados, 10% acreditam que não existe dificuldade alguma para aplicação de um planejamento lúdico; 10% acreditam que a maior dificuldade no momento de uma atividade lúdica é obter a participação de todos os alunos e esses alunos permitirem aprender atividades diferentes; e os demais 80% afirmam, de que a principal dificuldade da aplicação de métodos lúdicos nas escolas seria a questão estrutural e de materiais:

(...) quando a escola esta alocada em prédios antigos e alugados, que não têm uma perspectiva para a atual educação, salas e quadras muito fechadas onde não se tem como climatizar e por vivermos em um local onde há dias de muito calor, o que era pra ser divertido acaba sendo exaustivo.

Sabe-se que, segundo Almeida (2009, p.37) “uma aula com características lúdicas, não precisa ter jogos ou brinquedos. O que traz ludicidade para a sala de aula é muito mais uma "atitude" lúdica do educador e dos educandos”. Tal ideia nos faz refletir que cabe ao professor encontrar uma maneira de por em prática a proposta de ludicidade fazendo com que a aula seja prazerosa e criativa, sendo também necessário adaptar-se ao ambiente disponibilizado.

Os entrevistados expuseram suas considerações quanto a importância dos métodos lúdicos no desenvolvimento e aprendizagem das crianças na educação infantil, conforme segue:

“Acredito que toda escola poderia usufruir mais do lúdico, como sabemos o lúdico tem muitos benefícios para o desenvolvimento de uma criança.”

“Bom, uma mãe quando tem um filho, uma das primeiras coisas que faz é brincar com ele. Certo? E esse brincar, gera uma proximidade maior, automaticamente uma confiança e posteriormente o carretel se desenrola. Ou seja, antes mesmo de nascermos nossas mães, já falavam brincando conosco... e nos sentimos tão bem com isso que a ludicidade desde então passa ser nossa parceira de vida... Onde tudo que se aprende ou se faz de forma lúdica se torna mais marcante. Portanto, acredito que não só na educação infantil, mas em todas as fases de ensino utilizar do lúdico para ensinar ainda é a melhor opção...”

“Creio que usar métodos lúdicos no desenvolvimento da aprendizagem facilita aquisição de conhecimentos, é uma maneira prazerosa e significativa agregando aprendizagens para o educando, deixando-as mais interessadas no conteúdo a ser desenvolvido.”

“O lúdico na educação infantil é de fundamental importância, porque proporciona uma aprendizagem interativa e prazerosa, pois através do mesmo a criança aprende brincando.”

“Atividades lúdicas proporcionam aprendizado de maneira significativa e prazerosa para as crianças; são fundamentais na educação infantil; brincando a criança aprende; a brincadeira facilita a aprendizagem.”

A partir das respostas das entrevistas é possível inferir que estes consideram que os métodos lúdicos são de suma importância enquanto ferramenta de ensino aos alunos, pois atrai atenção, desperta curiosidade sobre os assuntos trabalhados, refletem externamente o que foi ensinado, faz com que as crianças reproduzam com familiares e amigos, além de marcar a vida do educando.

Os brinquedos, as brincadeiras e os jogos contribuem diretamente no aprendizado e desenvolvimento educacional e pessoal das crianças, independente se serem trabalhados em sala, em casa ou no contexto social que a criança esteja inserida.

6. Considerações finais

É possível pensar nos jogos e nas brincadeiras enquanto conteúdos de ensino que possibilitam a valorização das experiências do aluno, a sua cultura e a construção do conhecimento a partir da relação com o meio, resolvendo problemas e promovendo descobertas.

O lúdico deve ser contemplado nas propostas pedagógicas da Educação Infantil não paenas na perspectiva de “preencher tempo vago” de uma aula, mas sim possibilitar experiências reflexivas e significativas uma vez que envolve emoção, participação, prazer, descobertas, entre outros pontos de desenvolvimento do individuo.

Os entrevistados dessa pesquisa, não consideram a ludicidade apenas ferramenta para ensino escolar, mas também como forma de desenvolver crescimento de caráter pessoal externo a escola.

A criança quando brinca, torna aquele momento real, aproximando-se ao máximo da sua realidade. Entretanto, falas e gestos podem ser alterados e moldados dentro de sua imaginação, para que a brincadeira seja favorável a ela.

O professor de educação infantil tem por responsabilidade agregar conhecimento e trazer contribuição no processo de desenvolvimento da criança, aproximando o aluno de um espaço de brincadeiras e jogos em que a mesma possa vivenciar suas habilidades motoras, psíquicas e cognitivas.

A criança nos anos iniciais busca se espelhar no professor, o que faz com que reproduza em seu coidiano falas e gestos semelhantes aos aplicados em salas e torna a profissão um meio de divertimento fora do espaço escolar.

Com a pesquisa podemos concluir que os professores entrevistados tem os métodos lúdicos como forma de ferramenta para acrescentar no aprendizado dos alunos. Os docentes da instituição pesquisada, fazem uso da ludicidade quase que diariamente para que o aluno se aproxime da sua realizade cotidiana e com isso o seu interesse pelo que esta sendo ensinado seja maior. A brincadeira e o brincar é algo muito sério para a criança, é algo que registra marcas em memórias afetivas e um momento lúdico na escola pode ser auxiliar o aluno no crescimento pessoal durante a vida toda.

7. Referências

ALMEIDA, Anne. Ludicidade como instrumento pedagógico. Disponível em: >http://www.cdof.com.br/recrea22.htm< Acesso em  10 de jun. 2021.

ARIÉS, Philippe. História social da criança e da família. Tradução Dora Flaksman. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1981.

BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, 20 dez. 1996.

CAMPOS, D. M. S. Psicologia da aprendizagem. 27 ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1998. 304p.

FERREIRA, Juliana de Freitas ; SILVA Juliana Aguirre da ; RESCHKE, Maria Janine Dalpiaz. A importância do lúdico no processo de aprendizagem. Disponível em https://www2.faccat.br/portal/sites/default/files/A%20IMPORTANCIA%20DO%20LUDICO%20NO%20PROCESSO.pdf Acesso em 21 de jan. 2021.

FREIRE, P. Educação e Mudança. 12 ed. Rio de Janeiro:  Paz e Terra, 1983. 112p.

FANTIN, Mônica. No mundo da brincadeira: jogo, brinquedo e cultura na educação. Florianópolis: Cidade Futura, 2000.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 206p.

KISHIMOTO, Tizuco Morchida. O Jogo e a ducação infantil. In__.(Org). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação.  3. ed. São Paulo: Cortez, 1999.

KISHIMOTO, Tizuko Moschida. Brincar é diferente de aprender. [Entrevista cedida a] Jornal do Professor. São Paulo, ed. 18, abr., 2009. Disponível em http://portaldoprofessor.mec.gov.br/conteudoJornal.html?idConteudo=453#:~:text=A%20brincadeira%20%C3%A9%20o%20resultado,de%20conduta%20e%20de%20incerteza.&text=Brincar%20%C3%A9%20diferente%20de%20aprender. Acesso em 21 de jan. 2021.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Científica. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2010. 320p.

NARODOWSKI, Mariano. Infancia y poder. Buenos Aires: Aique, 1994.

PEDAGOGIA, Só. O Lúdico e o Papel do Jogo na Aprendizagem Infantil. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2021. p. 02. Disponível em: >. Acesso em: 21 de jan. 2021.

PIAGET, Jean. Estudos sociológicos. Rio de Janeiro: Forense, 1973.

PIAGET, Jean. Psicologia e pedagogia. Rio de Janeiro: Forense, 1976. 184p.

PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense, 1976.

ROLIM, Amanda Alencar Machado, GUERRA, Siena Sales Freitas, TASSIGNY, Mônica Mota. Uma leitura de Vygotsky sobre o brincar na aprendizagem e no desenvolvimento infantil. Revista Humanidades, v. 23, n. 2, p. 176-180, 2008.

SANTIAGO, Regina Fernando. A Importância Do Lúdico Na Aprendizagem Da Alfabetização. 30 fls. 2012. Monografia (Especialização em Educação Infantil e Alfabetização) - Instituto Superior de Educação do Vale Do Juruena - AJES, Alta Floresta/MT, 2012. Disponível em: . Acesso em: 21 de jan. 2021.

SCHULTZ, Daniela Bonifácio, SOUZA, Flora Lima Farias de. O brincar e suas contribuições no processo de aprendizagem e desenvolvimento infantil. Disponível em https://fapb.edu.br/wp-content/uploads/sites/13/2018/02/ed6/11.pdf . Acesso em: 21 de jan. 2021.

TEIXERA, Enise Barth. A análise de dados na pesquisa científica importância e desafios em estudos organizacionais. Desenvolvimento em Questão, v. 1, n. 2, p. 177-201, jul./dez. 2003.

VYGOTSKY, Lev Semyonovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984. 190p.

VYGOTSKY, Lev S. O papel do brinquedo no desenvolvimento: A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes 1991.

VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo. Martins Fontes, 1998.

TELÖKEN, Eciane[1]
SCARTON, Egleci Maria

NEVES, Sandra Mara Alves da Silva[2]

[1] Acadêmicas do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da UNEMT/MT

[2] Professora orinetadora do curso de Licenciatura Plena em Geografia, da UNEMAT/MT. Graduada e Doutorado em Geografia.


Publicado por: Egleci Maria Scarton

icone de alerta

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.