LITERATURA AMAZÔNICA: SEUS MITOS E SUAS LENDAS

índice

Imprimir Texto -A +A
icone de alerta

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

1. RESUMO

Esta pesquisa de cunho bibliográfico intitulada LITERATURA AMAZÔNICA SEUS MITOS E SUAS LENDAS, que tem por objetivo Identificar e mostrar as características dos mitos e lendas amazônicos na formação da literatura regional e sua importância para a construção da produção oral e escrita no âmbito escolar. A pesquisa busca verificar a utilização da literatura regional no processo de ensino e aprendizagem nas escolas, verificando os livros didáticos dos 6° anos do ensino fundamental, a partir dos pressupostos de Nair Ferreira e Neusa Santos, Abnael Machado, Antônio Serafim, João de Jesus Paes Loureiro, Luiz da Câmara Cascudo e Marcia Kupstas, Franco e Moura, Ana Maria Trinconi Borgatto, PCNS referentes à literatura oral e regional, depois caracterizando os gêneros discursivos lendas e mitos como forma de identidade cultural, estabelecendo um diálogo entre literatura e história e literatura e sociedade, e verificar com os textos literários regionais amazônicos se estão sendo aproveitados no âmbito escolar. Para Loureiro, os relatos lendários particular desses mitos constituem um fator indicativo dessa dinâmica imaginária, essas significações estão contidas na cultura amazônica. Nair Gurgel do Amaral afirma que a oralidade e, consequentemente a cultura, demostra seu papel ativo e sua singularidade. Concluiu-se que nos livros didáticos brasileiros utilizados nas escolas, existem vários textos literários, mas poucos são constantemente trabalhados nas salas de aulas, não dando ênfase para literatura regional amazônica, que implica na desvalorização da nossa identidade cultural brasileira.

Palavras-chave: Literatura Regional Amazônica. Lendas e mitos. Narrativas.

ABSTRACT

This bibliographic nature of research entitled AMAZON MYTHS AND LEGENDS, which aims to identify and show the characteristics of myths and legends Amazon in the formation of regional literature and its importance for the construction of speaking and writing in schools. The research aims to verify the use of regional literature in the process of teaching and learning in schools by checking the texts for 6th years of primary school, from the assumptions of Nair Ferreira and Neusa Santos, Abnael ax, Antonio Serafim, João de Jesus Paes Loureiro, Luiz da Cascudo and Marcia Kupstas, Franco and Moura, Ana Maria Trinconi Borgatto, PCNS, referring to oral and regional literature, after featuring genres legends and myths as a form of cultural identity, establishing a dialogue between literature and history and literature and society, and check with the Amazonian regional literary texts are being utilized in schools. To Loureiro, the particular legendary accounts of these myths is an indicative factor of this imaginary dynamics, these meanings are contained in the Amazonian culture. Nair Gurgel do Amaral said that orality and consequently the culture and demonstrates its active role and its uniqueness. It was concluded that the Brazilian textbooks used in schools, there are several literary texts, but few are constantly worked in the classroom, giving emphasis to regional Amazonian literature, which implies the devaluation of our Brazilian cultural identity.

Keywords: Amazon Regional Literature. Legends and myths. Narratives.

2. INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem por objetivo principal identificar e apresentar as características dos mitos e lendas amazônicos na produção literária regional, valorizando como identidade local e sua aplicabilidade no ambiente escolar como incentivo à produção oral e escrita. Como objetivos secundários, verificaremos a utilização da literatura amazônica nas escolas de ensino fundamental e médio, e sua importância para a valorização da identidade cultural regional. Os estudos tiveram o interesse de um olhar crítico para pesquisas futuras relacionadas à pouca utilização dos gêneros literários, lendas e mitos amazônicos nas escolas de nível fundamental e médio, preservando a cultura da região norte, que é rica em narrativas e faz parte da realidade de vários estudantes das localidades amazônicas, incentivando-o a conhecer, entende e respeitar sua raízes locais fazendo com que eles se sintam agentes participativos do processo histórico. Os estudos tiveram as abordagens teóricas nos trabalhos de Nair Ferreira Gurgel do Amaral e Neusa Santos, Abnael Machado, Antônio Serafim, João de Jesus Paes Loureiro, Luiz da Câmara Cascudo e Márcia Kupstas. Os PCNS auxiliaram nas abordagens da literatura oral e as culturas da Amazônia.

O trabalho está dividido em três seções. Na primeira conceitua-se o que é literatura regional, literatura, lenda e mitos para nortear os estudos dos seguintes gêneros textuais. NA seção II, indicamos as lendas e mitos exclusivos da região amazônica como forma de identidade cultural. Na seção III, analisamos as provocações culturais e o seu reflexo na sociedade e na construção da produção oral e escrita no âmbito escolar, o componente curricular da SEDUC, os livros didáticos dos 6° anos adotados nas escolas estaduais de ensino fundamental e médio das escolas “Brasília” e “Carmela Dutra” serão os pilares da nossa pesquisa, verificando a utilização das lendas e mitos amazônicos presente na realidade dos alunos e de que forma eles são abordados. A justificativa da presente monografia é que na vida discente presenciei poucas leituras e contextualizações a respeitos das lendas e mitos amazônicos, pelas instituições às quais passei, a minha família é de origem ribeirinha, então eu ficava fascinado com as narrativas contadas por eles. A mística dos contos desperta meu interesse pelo fato que também faz parte das localidades em que o acesso aos rios e florestas são comuns no cotidiano das pessoas que moram na região norte. A partir dos estudos de literatura notamos que a cultura amazônica é pouco valorizada no âmbito escolar. Buscamos proporcionar através deste trabalho a valorização da cultura regional amazônica nas escolas, resgatar a história e repassar o conhecimento para as gerações seguintes, incentivando a leitura e a escrita, preservando a identidade cultural amazônica.

3. LITERATURA

A Literatura originou-se do latim, o significado da palavra é base da escrita onde se registra sua existência. Colomer (2001), diz que a literatura é a construção de sentidos, contendo ideologias relacionadas à conduta, ética, trabalho e outros componentes que ajudam na construção do conhecimento entre autor e leitor, contribui para formação do homem perante a sociedade. A literatura remete um conjunto de habilidades de ler e escrever de forma correta, para que o interlocutor possa apropria-se do que está escrito de maneira transparente, sem dúvidas perante o que se escreveu e o que se ler. Existem diversas definições e tipos de literatura; pode ser uma arte, uma profissão, um conjunto de produções. Suas definições refletem no contexto social criando novas concepções diante da subjetividade dos leitores.

Literatura é a arte de criar e compor textos, sendo estes em prosa ou em versos e pode não obedecer uma estrutura textual. Existe um leque de produções literárias; como poesia, prosa, literatura de ficção, literatura de romance, literatura médica, literatura técnica, literatura portuguesa, literatura popular, literatura de cordel etc.

A literatura é uma arte pensada e assumida e transposta de forma escrita, recriada de forma subjetiva em diferentes tempos, lugares e tipos de leituras.

Para Guglielmo Cavallo; Roger Chartier (1998), todos aqueles que leem textos, reproduzem de maneira diferente. A literatura envolve o leitor de acordo com seu conhecimento e concepção de mundo e sentimento, dando interpretações singulares, já que cada obra tem características pessoais que possuem suas particularidades na posição antológica.

A literatura também pode ser um conjunto de textos escritos, sejam eles de um país, de uma personalidade ou de uma época. A literatura expressa conteúdos de ficção ou da imaginação. Kupstas (1988, p, 32) diz que “a literatura é uma invenção literária, não por parte do nada.” Parte da realidade, a partir dos fatos reais, é que surge a inspiração para trama das obras, buscando em poucas palavras, o bastante para entender o significado da história artisticamente. As palavras obtêm muitos sentidos e são interpretadas de forma pessoal, a obra literária possui vida, o sentido depende de quem lê, ou acrescenta-se, se relacionando com a vida e as vivências cotidianas em uma sociedade de leitores.

A palavra que transforma a linguagem utilizada em meio de expressão. Porém, não se pode pensar ingenuamente que literatura é um “texto” publicado em um “livro”, porque sabemos que nem todo texto e nem todo livro publicado são de caráter literário agregado à sua função estética, como exemplo temos os artigos de jornais, as bulas de remédio, que são textos que apresentam características delimitadas, cuja principal preocupação não é o objetivo linguístico e deve ser construído de modo objetivo e conciso.

Logo, o que definiria um texto “literário” de outro que não possui essa característica é uma questão que ainda gera discussão em diversos meios, pois não há um critério formal para definir a literatura, a não ser quando constatada com as demais manifestações artísticas (evidenciando sua matéria-prima e o meio de divulgação) e textuais (evidenciando um texto literário de outro não literário). Segundo Nicola (1998, p.24), o que torna um texto literário é a função poética da linguagem que “ocorre quando a intenção do emissor está voltada para a própria mensagem, com as palavras carregadas de significado. Para Kupstas (1988, p.30), a linguagem literária é uma elaboração especial das palavras no texto, a literatura tem característica subjetiva, ampla, pois não existe fronteiras para imaginação. A linguagem literária não é usada apenas para passar informação, mas para sensibilizar o leitor com a complexidade de sentidos e significados pela parte de quem lê.

3.1. LITERATURA REGIONAL

No Brasil, o Regionalismo surgiu no final do Séc. XIX. Para Ramos (2011), a obra relaciona-se com mundo rural, ora como algo ultrapassado, mas também como literatura popular, podendo ser definida também como literatura pitoresca. Para o dicionário “informal.org” é um lugar ou qualquer coisa simples e especial. Como uma vila de pescadores ou uma cidadezinha que parou no tempo e tem algo em especial e diferente do geral, como alguma comida que só se faz naquele lugar, como representação da violência ou até mesmo como uma espécie de nacionalismo, representa a simplicidade de cada localidade diferindo do meio urbano, sendo diferente ou engraçado um espetáculo para as pessoas que não fazem do meio rural. Marcada pelas crises político-sociais épicas, o Brasil ainda sofria grande influência da Europa, tanto política como cultural. Em busca de uma identidade cultural e política, os republicanos preocuparam-se em descobrir os traços verdadeiros da nacionalidade. Sua primeira manifestação foi o Sertanismo, que, de acordo com Cândido (1975, p. 212-213), tem como característica os seguintes aspectos:

[...] tende a anular o aspecto humano, em benefício de um pitoresco que se estende também à fala e ao gesto, tratando o homem como peça da paisagem, envolvendo ambos no mesmo tom de exotismo. É uma verdadeira alienação do homem dentro da literatura, uma retificação da sua substância espiritual, até pô-la no mesmo pé que as árvores e os cavalos, para deleite estético do homem da cidade.

A literatura regionalista passou a valorizar a paisagem e o pitoresco os aspectos humanos e sociais como o sendo o próprio símbolo das obras. Em termos de formação do sistema literário, o regionalismo exerceu um papel fundamental contribuindo, inclusive, para a definição do que seria o específico da literatura brasileira na etapa final do processo formativo. As primeiras manifestações literárias no Brasil caracterizaram-se como escrita regional, pois descrevia a fauna e a flora brasileiras, os povos e costumes, um paraíso rico e catequisado, ligados aos moldes europeus. Um dos primeiros retratos da literatura regional foi o índio, que não era retratado mais como um selvagem e sim como um herói nacional, valorizando a identidade regional cultural brasileira, as descrições ocorridas em determinado tempo, espaço e tudo que se produz em determinado local, retrata a realidade do meio social às quais as pessoas então inseridas, agregando como fonte de informação para entender a concepção de mundo de acordo com suas regiões. 

Movimento literário que caracteriza-se pela recriação ficcional ou poética da linguagem, do meio material ou moral dos tipos humanos de uma região, O regionalismo pode ser compreendido de várias maneiras: quanto ao assunto, quanto à linguagem ou quanto o arranjo narrativo que ocorre quando há um grupo particular de elementos linguísticos em uma localização geográfica delimitada. Geralmente, origina-se de fatores históricos da cultura regional, sendo o dialeto uma de suas principais formas de expressão.

Os textos regionais possuem narrativas ou acontecimentos sociais de determinada região, criando identidade cultural através dos fatos ocorridos com pessoas da comunidade, em tempo cronológico que vem sendo repassado ou recriados, através da oralidade, por pessoas que ouviram ou são autoras dos relatos, que sevem para compreender os fatos, épocas, cultura e sociedade, assim os acontecimentos de uma sociedade, são refletidas nas manifestações artísticas e literárias, além de servir como base para o estudo do passado dos povos, relaciona-se também à contemporaneidade em análise da evolução social no decorrer do tempo.

O regionalismo retrata os feitos dos povos via discurso literário das pessoas que na terra habitam. Nas narrativas regionalistas a visão de mundo centra-se no indivíduo e no meio em que ele é posto. A exaltação do ambiente como lugar ideal para se desenvolver uma vida sem rupturas transgressoras dirige a atenção para a vida no campo, vida limitada a uma rotina rica de experiências e mantenedora de tradições, expressando a realidade social e momentos históricos de determinada localização.

3.2. LENDA

A palavra lenda provém do baixo latim, “legenda”, que significa “o que deve ser lido.” A lenda é uma narrativa oral ou escrita, vivenciada por pessoas de maneira visual, elas são passadas através da oralidade de forma subjetiva, de caráter maravilhoso, pois consiste geralmente estória heroicas, em que o real e o fantástico se misturam, tornando quase impossível saber onde termina a verdade e começa a fantasia, prevalecendo o relato como testemunho do acontecimento validando a narrativa, definição apresentada por Cascudo (1976). “As lendas são episódio heroicos ou sentimentais, com elemento maravilhoso ou sobre-humano, transmitido e conservado na tradição oral e popular, localizável no espaço e no tempo. De origem letrada, lenda, legenda, “legere” possui características de fixação geográfica e pequena deformação e conserva-se as quatro características do conto popular: antiguidade, persistência, anonimato e oralidade. As lendas têm como função básica historiar ou explicar fatos como a origem das coisas, fenômenos naturais, figuras sobrenaturais, as lendas fazem parte da vida social das pessoas. Toda narrativa é um fato histórico e se amplia e se transforma decorrente ao tempo e surgem novas lendas, porque o homem é o fator determinante na produção da cultura e do repasse podendo ser de maneira oral ou escrita.

A lenda, por sua vez, possui referências geográficas do local em ocorre os fatos. É muito comum as ocorrências dos fatos sobrenaturais serem nas florestas, em águas, principalmente as narrativas amazônicas. Para Lima (2003, p.56), o homem e a natureza se confundem numa relação de dependência no ato interpretativo da ocorrência de fenômenos naturais. As lendas se caracterizam diante da dependência da natureza para sobrevivência das pessoas constituídas ao redor das florestas, tornando os acontecimentos como verdade e crença. Moisés (1978, p. 305), define que “as lendas fazem parte da realidade das pessoas, as crenças fazem que elas adaptem seus modos de vivência as seus costumes”. Em sua maioria, as lendas possuem uma localização geográfica e transcorrem em um tempo determinado, muitas vezes ultrapassando as barreiras locais inserindo-se no meio urbano começando a fazer parte da cultura de outros povos, as lendas buscam de explicar os fenômenos sobrenaturais ocorridos nas localidades, onde os rios e florestas fazem parte da vida dos moradores.

As Lendas no Brasil são inúmeras, influenciadas diretamente pela miscigenação na origem do povo brasileiro, elas estão vivas na memória coletiva dos povos e comunidades, são narrativas que evidenciam a realidade da vida local, que é composta por um mundo de seres que povoam o imaginário local. Devemos levar em conta que uma lenda não significa uma mentira, nem tão pouco uma verdade absoluta, o que devemos considerar é que uma história para ser criada, defendida e o mais importante, ter sobrevivido na memória das pessoas, ela deve ter no mínimo uma parcela de fatos verídicos. Para Pierre (2005, p.8), a lenda é mais verdadeira que a história, é um precioso documento, ela exagera a vida de um povo, comunica-lhe um ardor de sentimento que nos comove mais que uma rigidez cronológica, de fatos consignados. As lendas fazem parte da construção dos hábitos sociais, do comportamento das pessoas que crescem ouvindo as histórias, é muito comum pessoas mais idosas repassarem as narrativas orais, contadas ao final de uma tarde, à noite ao redor de fogueiras, nas comunidades distantes do meio urbano, relatos anônimos dos quais são passados de geração para geração, recriando-as, modificando, transformando em tradição, assim valorizando seus ancestrais e sua cultura, mantendo vivas suas crenças. Para Pierre (2005, p.16), “as lendas históricas fundamentam-se em fotos reais, mas o narrador altera a verdade a fim de prová-la”.

Nas lendas amazônicas os heróis são seres habitantes da mata, rios, muitos se fundem com características de homens e animais, esses personagens tornam-se divinos com ações sobrenaturais que estão em sintonia com elementos do mundo as quais rodeiam como o sol, a lua, os animais, os sons a criação de palavras mágicas e de ritos, o folclore da região. Através da mitologia indígena explica-se a origem das coisas, os protetores da natureza, como um alerta e até mesmo da preservação das florestas e animais essa vida mística de encanto que é tão presente na literatura amazônica que rodeia as pessoas simples que vivem em pleno contato com a natureza.

3.3. MITO

Os mitos são narrativas utilizadas pelos povos gregos, para explicar fatos da realidade ou fenômenos da natureza, o que não era compreendido por eles, acontecimentos que a ciência não explicava na época, como exemplo os raios que cortam o céu, nomeando Thor como o Deus do trovão. Na mitologia indígena é o Tupã quem controla os raios e trovões, para explicar o fenômeno natural. Os mitos utilizam muitas simbologia, personagem sobrenaturais, deuses e heróis, os mitos provém da criatividade e imaginários humano, criado para explicar os acontecimentos na busca humana insaciável pela verdade que envolve o universo. Assim, Ferreira (1999, pg.1347) compreende que

O mito é um ideal da humanidade, significação simbólica transmitida de geração em geração, é considerada autêntica dentro do grupo, tem relatos sobre a origem de um determinado fenômeno pelo qual se postula uma explicação de ordem natural.

O mito é o modo de falar as verdades que aconteceram aos seus arredores, são as formas que as pessoas podem explicar a realidade em si e da forma como enxergam o mundo. Cascudo (1976), diz que o mito pode ser um sistema de lendas, gravitando ao redor de um tema central com área geográfica mais ampla e sem exigências de fixação no tempo e no espaço. Para Pierre (2005, p.11), “os mitos são uma forma de lenda, mas os personagens humanos tornam-se divinos. A ação então é sobrenatural e irracional”. O tempo nada mais é do que uma ficção. Magalhães (1940) via no mito, assim como na lenda uma narrativa com intenção de ensinar determinada moral.

Todos os mitos e contos reuniram os pensamentos humanos, as narrativas populares celebram a tradição de um povo, as histórias reais ou imaginária através da memória do popular é uma forma de comunicar e explorar sabres coletivos, tornando as regiões ricas pela oralidade, que vem sendo transmitido de gerações, ascendendo a cultura local alienado os povos as suas crenças, que manifesta-se através das festas e ritos e produções artísticas.

Os mitos estão entrelaçados com a religião, o sobrenatural, já que as teses religiosas são amplas, através dos ritos, cerimônias, danças, sacrifícios e orações, geram fascínio, perpetuando os homem em suas crenças, valorizando o patrimônio imaterial, a espiritualidade acende como forma de imortalidade, para Graves; Patai (2002, p.41) "os mitos são histórias dramáticas que constituem instrumentos sagrados, quer autorizando a continuação de Instituições, costumes, ritos e crenças antigas na área em que são comuns aprovando alterações”. Os mitos concebem a verdade do conhecimento, expressam conceitos morais, filosóficos e religiosos, sendo as projeções dos fatos verdadeiramente acontecidos, pois procura explicar a realidade pelas suas histórias sagradas. Com essa vertente o homem e as comunidades acolhem para explicar perguntas a respeito da vida e tudo que existem em torno dela.

Os mitos fazem parte da cultura com histórias diferentes, cada povo relata suas narrativas de acordo com suas vivências ou realidade, relacionam-se com datas, crenças religiosas ou não.

Os mitos fazem parte da literatura oral, da plena imaginação coletiva que envolve o ser humano e suas localidades, e estão presentes culturalmente em forma de crenças ou religião, essa literatura popular que manifesta e cria o folclore regional brasileiro, que revela a alma do povo e reflexo do seu imaginário. Coelho (2010) diz que “a literatura folclórica de sua gente e conterrâneos, compilaram de boca a ouvido, há gerações”.

3.3.1. Mitologia Indígena

A cultura coletiva indígena confronta as tradições de suas narrativas com as populares advindas do plano etnográfico. A terra que hoje é chamada de Brasil antigamente era chamada de tupiniquins, quando chegaram outras etnias e culturas, as coisas nas quais acreditavam foram sofrendo transformações e recebendo novos conceitos e espirações que vieram com os colonizadores. De acordo com a influência que os indígenas sofreram em contatos com outras culturas, passaram a interpretar e recriar suas lendas e mitos com forme as histórias que existiam em seus países.

O mundo é repleto de lendas e mitos sobre a existência de tudo que contorna a humanidade, como as plantas e suas frutas, os rios, o universo e todas as anomalias e fenômenos que a ciência não explica em nossa contemporaneidade, assim a mitologia indígena tem suas verdades prontas de onde originam várias lendas e mitos, denominado que são fatos reais, pois não existe prova concreta pela ciência como se formou o universo, assim como ninguém nos tempos de hoje estava presente para conceituar a vinda de Jesus na Terra a uma legião de seguidores, mas sua existência foi marcada pela oralidade, posteriormente pela escrita, originando-se assim a bíblia. Na região amazônica os tupis-guaranis acreditavam em uma força superior, assim como nas religiões que englobam nosso mundo, as crenças indígenas possuem uma origem, como é citado no site “Continho dos Deuses”.

A figura primária na maioria das lendas guaranis da criação é Iamandu (ou Nhanderu ou Tupã), o deus Sol é realizador de toda a criação. Com a ajuda da deusa lua, Araci, Tupã desceu à Terra num lugar descrito como um monte na região do Aregúa, Paraguai, e deste local criou tudo sobre a face da Terra, incluindo o oceano, florestas e animais. Também as estrelas foram colocadas no céu nesse momento. Tupã então criou a humanidade (de acordo com a maioria dos mitos Guaranis, eles foram, naturalmente, a primeira raça criada, com todas as outras civilizações nascidas deles) em uma cerimônia elaborada, formando estátuas de argila do homem e da mulher com uma mistura de vários elementos da natureza. Depois de soprar vida nas formas humanas, deixou-os com os espíritos do bem e do mal e partiu.

Para muitos indígenas, Nhaderu é a energia cósmica do universo que criou Tupã, o deus do trovão, protetor dos celestes; para outros, eles são os mesmos. Cascudo afirma que Tupã "é um trabalho de adaptação da catequese". Na verdade o conceito "Tupã" já existia, não como divindade, mas como conotativo para o som do trovão (Tu-pá, Tu-pã ou Tu-pana, golpe/baque estrondeante), na linha significa trovão, isso apavora os índios porque eles não sabiam a causa de tal fenômeno, mas que existia uma força maior no universo que era superior levando os indígenas a temer e acreditar em seu poder. .

Na história do cristianismo, Deus fez Adão da terra, depois viu que ele precisava de uma companheira e de sua costela fez Eva. Como contam os relatos bíblicos e pesquisas, são as primeiras pessoas da face da terra, que reproduziram suas crias, assim formando a raça humana. Para o site “Morte Súbita”, copilado por Elias e Gustavo, para os indígenas o homem nasceu da terra, de uma escultura de argila misturada com outros elementos da natureza, depois deu o sopro da vida. São histórias completamente paralelas, mas possuem semelhanças em alguns aspectos, como sopro da vida, a arte plástica a qual Deus fez sua imagem e semelhança, que nos leva a refletir sobre a verdade da existência do mundo e das pessoas nela postas.

Todas as civilizações tiveram ou têm a sua cosmogonia, através da qual interpretam a realidade e se relacionam com ela. São as explicações para a origem do universo, da vida e da natureza como um todo que são recheadas de lendas e mitos. Os indígenas acreditam que existe um protetor de tudo no universo, criado por Tupã, que é representando pela simbologia, como deus do trovão cujo morada é o Sol, daí podemos ter uma prévia explicação para origem das lendas e mitos amazônicos. Como afirma o site “Morte Súbita”, Algumas tribos acreditam que Tupã, depois de criar o universo, criou os semideuses, o homem e outras criaturas com as quais povoou a Terra. Tupã criou também o Mundo Superior, onde habitam os deuses e os bons, e o Inferior; onde ficam os maus e os seres demoníacos. Por exemplo, Anhangá, que é um deus maldito, cheio de ódio em seu coração, enviado para o mundo Inferior. Entre as criaturas que Tupã espalhou pela Terra estão o Curupira, um semideus que protege as florestas e a natureza da ação destrutiva dos homens; que também é relatado por padre Anchieta. Cascudo (2014, p.21-22) relatou

Acrescentarei poucas palavras acerca dos espectros noturnos ou outros demônios com que costumam os índios aterrar-se. É cousas sabida e pela boca de todos corre que há certos demônios, que os brasileiros chamam CURUPIRA, que dão-lhes de açoites, machucam-os e matam-os, são testemunho disto os nossos irmãos, que viram algumas vezes os mortos por ele.

Nas religiões é muito comum a existência do céu, onde é a morada divina, e o inferno, onde a morada demoníaca, a qual as pessoas que fazem mal ou cometem atrocidade perante a vida encanada pagam suas pendências, assim crendo na imortalidade da alma. Na mitologia indígena não existe um ser demoníaco supremo, na antologia do folclore brasileiro de Cascudo (2014, p.47), há vários demônios que atormentam as pessoas após a morte e são chamados de ANHANGÁ, IURUPARÍ, CURUPIRA, TAGUÁIBA, TEMOTÉ, TAUBIMAMA; como em outras religiões, os índios temem os espíritos maus, seres sobrenaturais que vivem no plano material atormentando os homens, levando o imaginário ao súbito terror.

4. LENDAS AMAZÔNICAS

4.1. O CURUPIRA

O curupira é considerado um ser mitológico presente nas florestas amazônicas. Segundo relatos e crenças populares, ele possui os calcanhares voltados para frente e os dedos dos pés para trás. Sendo mito difundido no Brasil, suas características variam bastante. Em algumas versões das histórias, o Curupira possui pelos vermelhos e dentes verdes. Em outras versões tem enormes orelhas ou é totalmente calvo. Pode ou não portar um machado e em uma versão chega ser feito do casco de jabuti, de acordo com o site “Cantinho dos Deuses” (2011).

Há muitos relatos da aparência física dele e da sua personalidade. Para muitos, ele é um pequeno homem da floresta bondoso, para outros, um negrinho cabeça-seca, pretensioso e mau. Para Machado (1987, p.41) “o curupira arranca de suas vítimas os dentes para ornamentar o seu colar, confeccionados de ossos e dentes humanos”, mas para a crença indígena, ele é um espírito mau, cheio de ódio no coração, então tupã criou o mundo inferior, a terra onde eles estão espalhados. No site “Morte Súbita”, Elias Gustavo diz que

"Bons caçadores", aqueles que vão à caça para matar a fome. Os "maus", no entanto, que matam para ser divertir, ou indiscriminadamente, fêmeas e filhotes, acabam caindo nas armadilhas do Curupira. Aliás, para os bons, ele nem aparece. E quem o viu, conta a lenda, está correndo até hoje. Seu truque predileto é se transformar em caça, uma paca, um tatu, onça ou qualquer outro bicho que atraia os caçadores para o meio da floresta. E lá eles ficam perdidos para sempre. Mesmo sabendo que matar animais, abater árvores para a subsistência não é alvo da ira do Curupira, os índios entram na mata cheios de respeito e termos. Eles costumam levar sempre presentes, para agradar ao protetor da floresta, como fumo, comida, flechas e objetos que deixam nas trilhas.

Machado (1987, p.41), diz que o Curupira é protetor da floresta, só permitindo aos caçadores matarem os animais necessários para a sua subsistência. Ele não gosta que maltratem os animais, vive em prol da preservação da floresta e tudo que está presente nela; é o guardião sobrenatural, usa seus poderes místicos para adivinhar os pensamentos dos outros, para castigar as pessoas quando elas as fazem maldade com a mata, é um ser traquino. O Curupira defende e deixa os caçadores perdidos. Assim como na sociedade, na mata a punição para quem infringir as regras é servir como exemplo e lição de moral que não deve maltratar as árvores e os amimais, pois existe um dono e com ele, sues encantamento e poderes, que castigam caçadores que infringem suas regras.

Os relatos de suas aparições são contadas por pessoas que trabalhavam e viviam nos seringais, há relatos no livro de Serafim (2001, p.17), “para muitos seringueiros da Amazônia de alguns anos atrás, o Curupira não só existe de fato e morava na floresta, como era seu dono absoluto”; muitos dizem já ter visto ou relatam as características dos seus feitos na mata, ele não é mais visto como ser imaginário, e sim, como uma realidade de suas vidas.

No livro “O boto e broto”, o Curupira é generoso com as pessoas que habitam as margens dos rios e florestas, pois quando os habitantes estavam com forme e saíam para calçar, ele nunca os deixa voltar sem alimento; ele não é um inimigo dos homens ou um demônio como as pessoas costumam dizer, mas um anjo protetor. Há relatos que ele usa animais para indicar onde estão os alimentos, assim como a saída da floresta.

Os moradores das regiões dos seringais e florestas são muito supersticiosos; segundo eles, há a Lei da Selva, determinada pelo próprio Curupira, que nos dias de domingo a tarde é proibido caçar, e quem quebra a regra está azarado a conseguir qualquer tipo de caça e outras formas de alimento que a selva oferece; caçar com alimento em casa também é infringir as regras das leis do Curupira, e o castigo costuma ser físico, com várias lapadas de galhos. Ele se aproxima fazendo um som imenso em velocidade extrema, com muita raiva sem piedade. Com seus poderes ele não deixa marcas nas pessoas, mas a dor física é real, através desses e outros relatos de pessoas que obtiveram contato com natureza, torna-se real sua existência.

4.2. O MAPINGUARI

Na mitologia indígena, o Mapinguari seria um índio, um pajé que descobriu o segredo da imortalidade, mas o preço que pagou por isso, foi ser transformado em um animal horrível e fedorento. O Mapinguari é considerado um monstro devorador de pessoas. Para Machado (1987, p.33) “ele vaga pelos castanhais, e quando surpreende um homem, apanha-o com facilidade, coloca-o de baixo do braço, devora-o vivo, arrancando-lhe pedaço por pedaço”.

Conta a história que o Mapinguari é um macacão enorme e peludo chamado de coatá. É um animal que habita em cavernas nos lugares altos em terra firme, e vive nas densas florestas. É de porte muito alto, possui o corpo coberto de pelos mesclado entre o castanho escuro, preto e branco. Seus pés eram iguais das mãos de pilão. Há relatos que suas marcas deixadas nas florestas são similares às de um ouriço de castanha, o seu marco é a existência de um único olho localizado no meio da testa, e sua boca é de orelha a orelha. É um ser metamorfo com característica de homem e animal; dizem que o monstro passa no local uma vez ao ano, de modo a atacar as pessoas. Serafim (2001, p.24), diz que “primeiramente ele usa gritos aterrorizantes e ensurdecedores que até as árvores parecem temer de pavor, para paralisar as vítimas e em seguida esquartejá-las e comê-las,”. Diferentes das outras lendas, ele é irracional, causa pavor e destruição por onde passa, tornando temível e assustador para homens e animais. Para Machado (1987, pg.34)

O manpinguarir, provavelmente, é um urso oriundo dos Andes e adaptado à floresta amazônica. Por trata-se de uma animal raro e desconhecido dos habitantes da imensa planície, criaram-se as histórias e lendas a seu respeito. Colabora com essa teoria o domínio geográfico de suas aparições: o Alto Solimões, Negros, Purus, Juruá, Madeira, pontos de intersecção com a planície com os Andes.

O blog “O amanhecer” (2013), explica que “o biólogo norte-americano David Oren, pesquisador do museu paraense Emílio Goëldi, cujos estudos à TV japonesa se baseou, andou bem perto de dar uma explicação científica dos relatos de seringueiros e índios. Eu o entrevistei em 1996 em Macapá, no Amapá, e ele disse estar convencido de que o Mapinguari é uma preguiça terrestre que viveu há 10 mil anos em várias regiões do planeta e que ainda pode ser encontrada em lugares isolados e impenetráveis da Amazônia, que havia 8 espécies de preguiça, aqui na Amazônia que andavam somente no chão. Uma dessas espécies era maior que um elefante”.

Os relatos no livro “Boto e broto”, diz que das localidades onde ele vivia, em determinadas épocas percorria parte da Amazônia entre os rios Madeira e Purus. Dizem os mais antigos que a única forma de matar o Mapinguari é usar cartuchos envolvidos em cera de abelhas. Muitas pessoas dessa região tentaram caçar ele, sempre em tentativas frustradas. Ainda sobre o livro supracitado, Serafim (2001, p.25) que

Um rapaz valente, em dia santo, decidiu caçar o Mapinguari. Ao adentrar na mata, rumo à Serra dos Encantados, onde vivia ele, o rapaz ouviu o estrondo, mas não ficou paralisado. Então iniciou-se a perseguição da fera ao caçador; o rapaz perdeu a arma, os gritos estavam ficando cada vez mais fortes, então ele chegou perto do lago e subiu em uma árvore e viu o bicho entrar no lago e beber bastante água. Quando o Mapinguari avistou o rapaz pelo reflexos dos seu rosto na água, ele foi morto por uma cobra grande que lá habitava, e não se viu mas relatos de aparição dele na região.

Esse conto é caracterizado como lenda e ninguém sabe até onde é verdade ou imaginação. É uma verdade pronta que o rapaz afirma ter vivido. Ainda não foi comprovado cientificamente a existência desse animal pré-histórico nos dias de hoje, não se sabe também se o Mapinguari é esse animal, mas os caboclos acreditam que seja um ser sobrenatural habitantes das florestas, onde constitui em sua realidade, com tantas narrativas que são repassadas ao longo do tempo. O que sabemos é que o Mapinguari é um importante personagem do folclore amazônico, cujas narrativas a respeito da sua aparição em diferentes regiões proporcionam um marco de realidade junto à ficção.

4.3. HONORATO COBRA GRANDE

A Cobra Grande é um rapaz encantado, que vive no fundo do rio. Como descreve Machado (1987, p.34), a Cobra Grande pode ser uma cobra comum ou um encantado, isto é, pessoa que foi seduzida por botos ou eram levadas para o fundo das águas; o seu tamanho é superior ao de qualquer cobra vista já na Amazônia, as suas aparições nos rios deixam medo e temor, como descrito no livro de Machado (1987, p.34)

Quando querem ver o mundo, tomam forma de gigantescas cobras que passeiam a torna d´agua, cujo olhos, na escuridão, imitam focos de luz iguais aos faróis dos automóveis ou tomam forma de um navio todo iluminado, que desaparece momentaneamente e reaparece mais adiante, enganando os incautos.

Os antigos contam que Honorato e sua irmã são filhos de boto, e foram abandonadas às margens do rio, que as crianças foram pegas pela mãe-da-água que encantou e transformou em cobra grande. Para Câmara, no Paranã do Cachoeirí, entre o amazonas e o rio Trombetas, nasceram Honorato e sua irmã, Maria Caninana, a mãe sentiu-se grávida quando banhava-se no rio Claro, os filhos eram gêmeos e vieram ao mundo na forma de duas serpentes escuras, Honorato, o menino, transformou-se em uma cobra grande que ajuda as pessoas que estavam em perigo, sua irmã, Maria Nargita, ao contrário dele, era cruel impiedosa, adorava virar as embarcações por onde passa deixava seu rastro de destruição e maldade. Ela tinha prazer em ver as pessoas sendo tragadas pelas águas dos rios. A diferença de pessoalidade é marcante em suas lenda, a qual teve uma tragédia familiar envolvendo os dois irmãos.

A maldade Maria Nargita fez com que seu irmão a matasse, depois de percorrer vários rios da Amazônia, atrás dela, Honorato encontrou-a no momento que ela iria virar uma embarcação cheia de passageiros, então eles travaram uma imensa luta até resultar na morte de sua irmã. Como diz Serafim Antônio (2001, p.57) a luta foi renhida durante muitas e muitas horas, mas enfim, Honorato conseguiu matar a fera e livrar-se da fúria da endiabrada Maria Zargida; dizem que João Honorato, filho de boto, onde havia festas ele estava bebendo, dançando levava uma vida boêmia, possuía o poder de transformar-se em homem por ser filho de boto; outra lenda amazônica que se agrega à de cobra grande, explicando sua origem, dizia que seu encanto de homem durava até meia-noite, por isso vivia adulando um e outro para desencantá-lo.

O feitiço foi retirado por um rapaz que atirou em seu olho direito à meia- noite, onde passou os restos dos seus dias trabalhando como prático de navegação. Sabe-se que o Cobra Grande deu muitas outras origens a contos e crenças, espalhado na região amazônica. Dizem que na fábrica de bitar tem uma cobra muito grande; a filha cobra sai, mas se a mãe sair, a fábrica desaba. E, em Belém do Pará, dizem que tem uma cobra que o rabo dela está no mercado e outro na igreja, são muitas as histórias relatando de cobras gigantescas, tornando a de Honorato Cobra Grande a mais popular, mantendo a essência da cultura regional.

4.4. O BOTO

O boto é um mamífero que vive nos rios da Amazônia, é um ser encantado. Muitos ribeirinhos dizem que o boto cor-de-rosa é malvado, já o de cor preta ajuda as pessoas, principalmente dentro dos rios, para não morrerem afogados. Os contos das pessoas que vivem às margens do rio é que o boto se transforma em um homem bonito. Para Machado (1987, p.29) essa metamorfose ocorre, de preferência, nas noites enluaradas, passeando na vizinhança das barracas ribeirinhas, em busca de romances, ou comparecendo às festa dançantes para exibir as suas qualidades de exímio dançarino; usa terno branco e chapéu na cabeça, que nas noites de festas ribeirinhas bebe cachaça, e encanta as mulheres, levando-as para o fundo do rio e engravidando-as, logo trazendo para a superfície. Tornando os filhos das moças órfãos de pai, sem dúvida ele é responsável pela gravidez de muitas donzelas nas noites de festanças.

As narrativas que são transmitidas a respeito dos botos, em diversos lugares da região norte, muitas vezes vêm com várias superstições e simpatias, como descreve Machado (1987, p.29), onde diz que o boto é inveterado perseguidor de mulheres, especialmente se estiverem menstruadas, quando redobra seu assédio. Estas, para atravessarem os rios e lagos, levam alho machucado, jogando na água para afugentar o galante e importunar o sedutor. Existem outras simpatias como colocar a faca enfiada de ponta na madeira de canoa para espantá-lo; essas místicas e simpatias fazem parte da cultura ribeirinha, aprendizado que são transmitidos decorrentes do tempo, fortificando suas crenças e ampliando as narrativas, refazendo decorrente ao espaço e meio de suas vivências e experiências. São muitos relatos sobre aparições de moço elegante, principalmente no meio da noite, no livro “Boto e broto” de Serafim (2001, p.30) as histórias no baixo madeira na região do lago do Cuniã dizem que

Na casa de Firmino, um grande feiticeiro da região, periodicamente realizavam-se festanças que acabaram por se tornarem famosas, pela variedade de comida e o grande número de moças bonitas que ali apareciam, e também era infalível a presença do homem de branco com chapéu na cabeça. Ninguém sabia de onde vinha nem para onde ia quando a festa terminava. Certo ninguém sabia sua procedência, porém muitos tinham quase certeza que tratava-se de um boto tucuxi, do grande lago do Ácara. Então a filha de Firmino engravidou em uma dessas festanças, e disse à sua mãe Chiquinha, “eu estou assim por causa boto”, e o velho por não crer, duvidou, “se for filho do boto eu conheço”, mas dona Chiquinha fez os exames, neles constatou-se que era mesmo filho do boto. É isso que dá convidadar qualquer um para sua festa.

Essas narrativas repassadas pela oralidade fazem parte da vida do povo e passam a ser realidade de suas vidas, não se sabe até onde vai a veracidade dos fatos, mas que o boto está na crença das comunidades ribeirinhas é fato. É uma das mais famosas lendas da cultura regional na Amazônia, tornando-a patrimônio da literatura brasileira, preservando os valores culturais regionais, cujo tempo transforma mas seu legado, vive através dos tempos na memória popular coletiva.

4.5. IARA

Havia um homem-peixe que devorava suas vítimas e as levava para o fundo do rio, chamado Ipupiara, que vira a sedutora Iara. Como cita Machado (1987, p.35) é uma belíssima mulher que habita os lagos igarapés e rios da Amazônia, no fundo do rio tem seu reino encantado, de onde emerge nas horas calmas e silenciosas do dia, especialmente ao anoitecer; Iara é uma palavra de origem indígena que significa (aquela que mora na água), Na opinião Cascudo, Iara é simplesmente uma forma literária brasileira para representar a lenda mediterrânea da sereia sedutora ou da Mãe D'Água do folclore africano, e não um mito autenticamente brasileiro. Em outras parte do mundo ela é inimiga humana, principalmente das pessoas que vivem da pesca, é uma devoradora de carne humana. Na versão amazônica, segunda a lenda indígena, a Iara era uma mulher guerreira, a melhor da tribo, e recebia muitos elogios do seu pai, o pajé. Os irmãos de Iara tinha muita inveja e resolveram matá-la à noite, enquanto dormia. Iara, que possuía uma audição bastante aguçada, os escutou e os matou. Com medo da reação de seu pai, Iara fugiu. Seu pai realizou uma busca implacável e conseguiu encontrá-la, sua punição era a pena de morte. Seu corpo fora jogado no encontro dos rios Negro e Solimões. Alguns peixes levaram a moça até a superfície e a transformaram em uma linda sereia. Habitantes dos rios e lagos da Amazônia a descrevem como uma mulher repleta de beleza e encantamento ocasionados pela morte dos seus irmãos.

Sua forma física é de uma mulher com caudas de peixe (uma sereia), ela possui cabelos negros e olhos castanhos, muito conhecida também como a mãe-d’água, dizem que ela costuma passar seu tempo admirando sua beleza no reflexo da água, banhando-se nos rios no final da tarde, cantando uma melodia irresistível, assim os homens que a ouvem não conseguem resistir aos seus desejos e entram na água. Ela pode cegar de desejo qualquer homem e levar para o fundo do rio no seu reino encantado onde se casam. Conta a lenda que quando eles conseguem voltar, acabam enlouquecendo por causa dos encantamentos da sereia, e só o pajé, consegue quebrar o feitiço.

A Iara é uma importante personagem do folclore amazônico e brasileiro. Os índios tem tanto medo que evitam tomar banho no rio ao final da tarde, e quando entram, pedem permissão a ela para que nenhum mal aconteça; em alguns lugares fazem até o sinal da cruz, respeitando a rainha das águas amazônicas e todo seu poder sobrenatural, valorizando os conhecimentos transmitidos pelos seus antepassados em temor às sua crendices.

4.6. BOITATÁ

É um Monstro com olhos de fogo enormes. Durante o dia é quase cego, à noite vê tudo. Diz a lenda que o Boitatá era uma espécie de cobra e foi o único sobrevivente de um grande dilúvio que cobriu a terra. Desde então anda pelos campos em busca de restos de animais. As lendas mestiças ou caboclas do folclore, segundo as quais, o Boitatá é o espírito das pessoas que não foram batizadas, ou ainda é visto como almas penadas, ou mesmo o filho da união de irmãos ou compadres, são crenças religiosas que se juntam às indígenas e buscam explicar a lenda e origem com novos conceitos da anomalia sobrenatural.

Algumas vezes assume a forma de uma cobra com os olhos flamejantes do tamanho de sua cabeça, perseguindo os viajantes noturnos. Às vezes ele é visto como um facho cintilante de fogo correndo de um lado para outro da mata. A ciência confirma que existe um fenômeno chamado Fogo-fátuo, que são os gases inflamáveis que emanam dos pântanos, sepulturas e carcaças de grandes animais mortos, que vistos de longe, se assemelham a grandes tochas em movimento.

O Boitatá é de origem Indígena. Em 1560, o Padre Anchieta já relatava a presença desse mito. Dizia que entre os índios era a mais temível assombração; para muitas tribos, é a origem do fogo. Já os negros africanos, também trouxeram o mito de um ser que habitava as águas profundas, que saía à noite para caçar, seu nome era Bia tatá, em outra versão dizem que “Boitatá” foi inversão de padre José de Anchieta, que o denominou com o termo tupi Mbaetatá – coisa de fogo. A ideia era de uma luz que se movimentava no espaço, daí, “veio à imagem da marcha ondulada da serpente”. Foi essa imagem que se consagrou na imaginação popular, a qual descreve o Boitatá como uma serpente com olhos que parecem dois faróis, couro transparente que brilha nas noites em que aparece deslizando nas campinas, nas beiras dos rios. Conta a lenda que houve um período de noite sem fim nas matas. Dizem que quem encontra esse animal na mata pode ficar louco ou até morrer. Para evitar desastres maiores os homens acreditam que devem ficar parado, sem respirar de olhos fechados, porque o Boitatá pode imaginar que é a fuga de alguém que atirou fogo na mata. Em algumas regiões é visto como protetor das florestas, e não deixa de ser um grande personagens do folclore.

4.7. CAIPORA

É conhecida também como caiçara, pelos índios e os jesuítas, sendo conhecida como mãe da mata, a protetora da mata e dos animais. Assim como o curupira ela costuma agredir os caçadores que matam animais por prazer, aqueles que têm alimento em sua casa mas saem para caçar. A caipora tem seus pés voltados para trás, fazendo com que os caçadores percam o rastro e fiquem perdidos na floresta. Ela às vezes costuma atrair as pessoas com grito e imita a voz humana; para os índios, eles são o demônio da floresta, às vezes são vistos montados em um pouco do mato.

Dentre outras, a descrição desse mito mais frequente na Amazônia é de um índio de pele escura, com o corpo coberto de pelos e cabelos longos. Vive montado numa espécie de porco-do-mato, carregando sempre uma vara para uns, ou um arpão para outros. Para os habitantes das florestas é o guardião da vida animal. Sua missão é proteger a caça. De acordo com os relatos, a caipora e o Mapinguari são índios muito idosos que somem das tribos e se transformam nos personagens lendários.

Uma carta do Padre Anchieta datada de 1560, dizia: "Aqui há certos demônios, a que os índios chamam Curupira, que os atacam muitas vezes no mato, dando-lhes açoites e ferindo-os bastante".

Os índios, para lhe agradar, deixavam nas clareiras, penas, esteiras e cobertores. De acordo com a crença, ao entrar na mata, a pessoa deve levar um Rolo de Fumo para agradá-lo, no caso de cruzar com Ela. Nomes comuns: Caipora, Curupira, Pai do Mato, Mãe do Mato, Caiçara, Caapora, Anhanga, etc. Origem Provável: É oriundo da Mitologia Tupi. No site “Assombrados”, a menina conta a historia;

Dois compadres entram na mata, um com oferenda e outro sem. Então ouviu-se uma voz grossa e pesada dizendo: "CAIPOOOORA... CAIPOOOORA". O ser se aproximava dizendo seu nome. Ao chegar bem perto dos dois homens, que no momento já estavam petrificados, o Caipora cobrou dos dois o seu fumo, o compadre temeroso havia levado o fumo e o entregou ao Caipora, já o descrente estava boquiaberto e não sabia o que fazer diante daquele ser que parecia homem, mas tinha o corpo coberto por pelos, era da altura das árvores e fumava um cachimbo enorme! O Caipora então pegou o fumo do compadre temeroso e logo se virou para cobrar o seu fumo do outro, como este não havia levado nada o Caipora se enfureceu tanto que pegou o homem, arrancou sua cabeça e fumou o seu corpo! O outro, ao ver tamanha barbaridade pegou seu terço nas mãos e rezando disparou correr em direção à sua casa.

Há vários relatos sobre ele, dos tupis-guaranis, que existia outra variedade de Caipora, chamada Anhanga, um ser maligno que causava doenças ou matava os índios. O Caipora usa todos seus conhecimentos sobre a vida na floresta para fazer armadilhas para os caçadores, destruir suas armas e bater nos cães de caça. O Caipora assusta os caçadores, reproduzindo sons da floresta, além de modificar os caminhos e rastros para fazer com que os caçadores se percam na floresta. Ainda diz a lenda que aos domingos, sextas-feiras e dias santos o Caipora age com mais força e de maneira mais intensa.

O Caipora aprecia o fumo e gosta de cachaça. Para quem lhe oferece esses produtos, retribui com caça abundante. São trocas de favores fazendo que ambos fiquem em harmonia, também que antes de sair numa noite de quinta-feira para caçar no mato, deve-se deixar fumo de corda no tronco de uma árvore e dizer: "Toma, Caipora, me deixa ir embora”. É um dos grandes mistérios que envolve a floresta e sues ritos, fazendo parte do cotidiano dos povos que vivem em florestas densa e que sobrevive do alimentos que a floresta proporciona, é um grande mito da Amazônia.

4.8. KANOÊ

Kanoê significa “ os que vieram da água, do barro”, a obra é inspirada em lendas amazônica e recebeu o nome da tribo indígena em que vive na região sul de Rondônia, no vale do Guaporé, próximo à fronteira com a Bolívia. é uma produção literária em quadrinhos, com 14 páginas os autores são o pai e filho, Jorge Paulo de Freitas Braga e de George Alessandro Gonçalves Braga, que integra a academia de letras de Rondônia.

Kanoê é um herói amazônico, ele reúne os poderes dos entes lendários da floresta, que faz parte do folclore da Amazônia como o curupira e suas traquinagens com os caçadores com o poder de atraí-los para se perderem na mata, o boto se sua beleza de sedução, a Iara dominadora das águas com seu canto apaixonante, o caipora também como protetor da selva transforma-se em vários animais para punir os que não respeitam suas regras, a obra cuja proposta maior é defender os interesses ecológicos da fauna, flora e dos rios, com lição moral da preservação da natureza, usando as lendas e mitos amazônicos para criar um herói que sirva de inspiração para o combatendo da caça e a derrubada ilegal de madeira, da preservação da história cultural da região norte.

A proposta é usar os conhecimentos folclóricos regionais, buscando despertar a apreciação da cultuara amazônica com intuito de preserva as raízes culturais, que vem sendo pouca utilizada na mídia. Os livros estão sendo enfraquecido com a tecnologia e são pouco utilizados pelos educadores no ambiente escolar, também ele é uma proposta pedagógica para se usar na alfabetização com intuito valorizar a literatura regional, surgindo como um personagem original do esta de Rondônia, objetivando o incentivo a leitura para as crianças, adolescentes e adultos, assim preservando da identidade cultural.

5. LENDAS DE RONDÔNIA

Observando a literatura regional amazônica, as lendas e mitos de Rondônia presentes no amplo espaço geográfico da região norte, algumas lendas termos em comum juntamente com os outros estados da região. Partindo do pressuposto de estudos de autores regionais como Rosangela C. Lima e Simei Santos, organizadora do livro imaginário amazônico, J. Lanzellotti e vários autores e o livro “Histórias e lendas do norte”, muitas narrativas são heterogênicas, fazem parte da cultura de estados da região norte, como a lenda do boto, o Mapinguari, a Iara, o Honorato Cobra Grande, e fazem-se presente também na literatura do estado de Rondônia.

Mas existem muitas lendas que são exclusivamente conhecidas e produzidas em seus estados de origem, não ultrapassando os limites geográficos das suas regiões. Em Rondônia há varias lendas heterogêneas de outros estados, como é descrito no livro de Machado sobre as almas penadas dos oficias, soldados, artifícios e escravos que, em busca do ouro da na região que fazia parte da colônia portuguesa, as almas povoam as muralhas e os interiores da fortaleza do Forte Príncipe da Beira. Elas pertencem aos presos que ainda se encontram presentes na abandonada base militar. Segundo o relato do sacerdote que ficou preso em uma das masmorras do forte príncipe, as almas procuram os vivos para mostrar onde estão os tesouros enterrados, uma espécie de maldição que eles carregam pela ganância do ouro, que os prende ainda no plano dos vivos.

Existe a lenda da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, das almas perdidas que ainda andam pelos trilhos e florestas; o cemitério da Candelária, onde morreram vários índios e trabalhadores, e dizem ver almas andado pela região. A lenda da pedra preciosa relatada pelo seringueiro Raimundo Ferreira no livro “Boto e o broto” que durante as caçadas na cabeceira do rio Tabacos no Alto Guaporé, o rapaz achou uma pedra diferente das muitas que se encontravam nas margens do rio, com peso de um quilo, o rapaz que a encontrou, era o sobrinho do Raimundo, o qual levou ela para casa, quando a noite chegou, ao deitar para dormir, o rapaz ouvia algo despencar do armário, era a pedra, ele colocava ela no lugar e quando deitava ela caia de novo - se repetia pela noite o pega-e-cai da pedra, na manhã seguinte ele contou acontecido para seu Raimundo ele confirmou escutar o barulho à noite da queda da pedra, então resolveu coloca-la em uma caixa, mas ao chegar à noite, a pedra voltava a cair. Então ele colocou a pedra com vários outros objetos no baú com lençóis, mas a pedra continuava a cair. Esse fenômeno durou três meses, então dona Maricota jogou a pedra no rio e nunca mais a viram de novo. Mesmo assim, não conseguiram explicar tal fenômeno, o que deduziram foi a existência de uma força mística na pedra pedindo para volta para seu lugar no rio Tabaco. Assim mostra-se que os fenômenos isolados da região transformam-se em literatura escrita advindas da literatura oral, abrangido um número maior de leitores, transpondo os acontecimentos vividos em um determinado lugar formando a literatura e cultura regional. As lendas de Rondônia sofrem uma grande influência europeia, trazida pelos portugueses sobre almas penadas, objetos e lugares mal assombrados.

Grande parte das lendas e mitos da região norte são narrativas conceituadas, mostrando as adversidade dos acontecimentos, considerada única pela estrutura física e sua historicidade, sabemos que a literatura regional amazônica não se prende apenas às narrativas mais famosas presente nas escolas, mas ao passar do tempo surgem novas histórias que se agrupam com as mais conhecidas do folclore amazônico, ultrapassando as barreiras locais, adentrando em outras culturas, valorizando-a e fazendo parte do meio social, assim, é capaz de produzir e reproduzi-la no processo de comunicação relacionado ao desenvolvimento gradativo das capacidades associadas às quatro competências linguísticas básicas: falar, escutar, leitura e a escrita.

5.1. PROVOCAÇÕES CULTURAIS

A Amazônia é rica quando se fala de lenda e mitos, carregando na sua identidade cultural as explicações dos fenômenos da natureza. A cultura pode ser interpretada de várias formas, gênero, raça, etnia, histórias. Porém, as lendas amazônicas vêm sendo menos abordadas nos lares e nas escolas a cada dia, pendendo a essência da formação cultural da localidade.

Nos PCNs (1998, p.126) é dito que “a ideia veiculada na escola de um Brasil sem diferenças, formado originalmente pelas três raças — o índio, o branco e o negro — que se dissolveram, dando origem ao brasileiro”. A cultura amazônica sofre influencia da cultura cabocla e também da cultura indígena, que forma a sociedade amazônica, assim como no Brasil que sofre influência africana, a região norte, foi massificada pela cultura do Ceará e do Maranhão que trouxeram o Bumba-meu-boi, que foi modificado para o tradicional Boi-Bumbá em Manaus, Rondônia e outros locais; no Pará, o carimbo (criatividade artística do povo paranaense criado pelos índios tupinambá), as Pastorinhas do Natal que são apresentadas na cidade de Porto Velho e seus afluentes, folclore de ciclo natalino. São várias as influências, já que no passado houve uma grande migração de gaúchos, paulistas e até europeus e africanos. Sendo assim, são várias as manifestações culturais presentes nessa parte do Brasil, denominadas cultura popular que deu o termo folclore. Como aponta Ortiz (1985), “até meados do século XVII a fronteira entre cultura popular e cultura de elite não estava bem delimitada, porque a nobreza participava das crenças religiosas, das superstições e dos jogos realizados pelas camadas subalternas”. O termo identificava o saber tradicional preservado pela transmissão oral entre os camponeses e substituía outros que eram utilizados com o mesmo objetivo. Kupstas (1988, p.10) diz:

Quem faz a cultura popular? O homem rústico, do campo, o suburbano, o urbano marginalizado, todos aqueles cuja expressão cultural não usa, necessariamente, a escrita. Seu fazer culturalmente une corpo e alma, o físico; expressam um momento de viver. Daí, podemos considerar cultura popular as danças, candomblé, a escola de samba, os modos de plantar, a bebida, o modo rir ou chorar, os comprimentos, as simpatias, enfim, tanto objetos como expressão física ou espirituais de um povo.

A cultura é a expressão que se coloca no limite das culturas eruditas, populares e de massa. As produções culturais populares reproduzem seu envolvimento com os símbolos que formam a realidade do seu mundo, muitas delas expressas pelas narrativas orais, mas também pela arte, enaltecendo seus valores próprios que através da cultura exprime e transmite sentimentos. para Ferreira (2006, p.61), “a escola como formadora de opiniões recebeu a missão de transmitir a cultura ampliando a inserção e participação em várias práticas sociais. Desta forma, é importante ressaltar o papel da educação neste processo cultural, isso poderá ser feito através da transmissão de valores resgatando os saberes locais”. As lendas e mitos amazônicos não devem ser trabalhados apenas no espaço físico das salas de aula, não só em forma de literatura; o professor em conjunto com o suporte pedagógico da escola, deve veicular a aprendizagem relacionando com outras formas de manifestações culturais, exemplo; através da arte em forma de teatro, em contos que reviva as histórias narradas por moradores de comunidade ribeirinha em forma de teatro de fantoches, podendo também fazer uma feira cultural com banners, desenhos, atrativos que expliquem e proporcionem o conhecimento para despertar o interesse dos nossos alunos leitores, pois a lendas e mitos amazônicos possuem valores morais como “não deve matar os animais por prazer, pois o Curupira castiga”, também já agrega regra de conduta social. As escolas podem fazer o projeto, semana literária amazônica, promovendo o incentivo à leitura e escrita a partir das e lendas e mitos; a construção de poesia e sua apresentação desenvolvendo uso da oralidade, postura perante o público, qualificando para o trabalho de forma lúdica, conservando a sua cultura.

O caboclo e outras etnias, que vivem aos arredores das florestas e rios, “buscam informações que possibilitem a compreensão do seu universo” Ferreira (2006, p.64), os professores devem utilizar práticas pedagógicas relacionadas às vivências do aluno, confrontando com outras culturas e ideologias científicas, fazendo-os refletir sobre o sua origem e o papel que ocupa na sociedade. Os alunos carregam sua herança cultural; as variedades de expressar a cultura amazônica através de livros, danças, artesanatos e teatro exemplifica-se como toda e qualquer manifestação do homem o significado da sua conduta diante da sociedade. O folclore é uma manifestação da cultura popular, rico e imaginário, cuja origem está ligada ao mundo selvagem aos grandiosos rios e aos alimentos de lá retirados, heranças culturais interlaçados nas etnias formadoras da sociedade que é expressado através da cultura.

5.2. IDENTIDADE CULTURAL AMAZÔNICA

A Amazônia possui uma diversidade étnica, religiosa e cultural muito grande, várias crenças provêm da mitologia indígena, conservadas e repassadas pela etnia cabocla, predominante da região, resultado das confluências sociais distintas, principalmente dos ribeirinhos, que vivem em constante contato com a natureza, que interfere diretamente na sua formação cultural e social, de modo que, trazem histórias assombrosas, ritos poucos conhecidos, festa e comemoração específica das suas localidades, que não são comuns no meio urbano. Viver a cultura amazônica é confrontar-se com a diversidade, com diferentes condições de vida, diferentes locais, saberes, valores, práticas sociais e educativas. Abordar as questões que estão presentes na construção da linguagem dos alunos, relacionando a cultura amazônica entre a teoria da escola e a prática do aprende em sala de aula, Ferreira (2006, p.145), diz que “a reflexão nos conduz a duas realidades: dos avós e pais contadores de histórias devido às dificuldades muitas vezes ligadas à distância e à falta de escolas que tiveram oportunidade de frequentar e que, hoje, têm seus filhos e netos. Nesse universo, nos deparamos com a riqueza oral que passa de pai para filho e da professora, que de forma diferente da nativa, conduz o aluno na busca da compreensão mais racional das histórias, lendas e mitos”. Os alunos acreditam como verdade única as narrativas contadas por seus familiares, que transmitem sabedoria sem que ele tenha contato com o mundo escolar. Cabe aos professores qualificarem os alunos para o mercado de trabalho sem desvinculá-los dos seus valores culturais. As lendas e mitos podem ser utilizados não só como leitura, mas também para estudar gramática, analisando as figuras de linguagem, recursos que o escritor usa para aumentar o significado do texto, as conjunções que são os conectivos das frases, os verbos, substantivos, ou até mesmo pelo texto do aluno, utilizando os mitos e lendas como temática da sua produção ou incentivando a escrever sobre diferentes tipos textuais, como o descritivo, utilizando as características de metamorfose entre homem e animal que a lendas e mitos possuem; os textos argumentativos, onde o aluno impõe seu ponto de vista sobre as lendas e mitos e tudo que já escutaram referente ao tema. A proposta pedagógica é fundamental para preservação da identidade cultural na escola, pois aborda as lendas e os mitos de forma a manter viva a cultura em suas memórias, preservando a sua história e do seu antepassado.

Santos (1983, p.3), ressalta que o desenvolvimento da humanidade está marcado por contatos e conflitos entre os valores e modos diferentes de organizar a vida social, de se apropriar de recursos naturais e transformá-los, de conceber a realidade e expressá-la em interação com a biodiversidade dos ecossistemas aquáticos e terrestres amazônicos. As pessoas caracterizam seus modos de viver por meio do trabalho e tudo que é produzido, agregando às outras culturas entrelaçadas na origem da civilização amazônica, ocasionando suas expressões culturais. De acordo com a UNICEF (2012, p.9)

A cultura influência os modos de ser e de estar no mundo; de agir, sentir e se relacionar com o natural e o social. No Brasil, há uma diversidade cultural significativa. Todas devem ser valorizadas. Esse conceito permite observar a força das culturas de indígenas e de afro-brasileiros em todos os momentos cotidianos. Nos seus modos diversos de falar, andar, comer, orar, celebrar e brincar estão inscritas suas marcas civilizatórias. Há um traço de destaque nesses povos: ancorados na dimensão do sagrado celebram e respeitam a vida e a morte, estabelecendo uma relação ética com a natureza. Pela forma de se expressar e de ver o mundo, tais populações mantêm vivas suas histórias.

Todas as pessoas, independentemente das condições financeira, religiosa, ética, ou racial, devem valorizar a identidade cultural, compreender os costumes de cada região, como forma de aprendizado do comportamento humano em determinadas localidades na sociedade. Na Amazônia, as histórias são vivenciadas e expressadas por familiares e amigos, cujos saberes vêm sendo expressos e repassados de geração para geração, através de narrativas que envolvem o imaginário popular, influenciado pelas crenças indígenas, que é muito representativo em suas vidas cotidianas. Essas narrativas são a forma principal de transmissão e preservação do conhecimento e da cultura em si. Para Loureiro (1995, p.56), “a cultura amazônica, onde predomina a motivação de origem rural ribeirinha é aquela na qual melhor expressa, se mantém as manifestações decorrentes de um imaginário unificador refletido nos mitos”. Trabalhar na sala de aula textos que se familiarizem com a cultura mítica baseada em pessoas que vivem da caça, pesca, do meio rural, trabalhadores que ajudam suas famílias dependendo dos recursos naturais, que pouco frequentaram a escola, fica mais fácil falar de coisas que conhecem, pois assimilam mais rápido por possuir o conhecimento antes mesmo de frequentar a escola.

5.3. CULTURA AMAZÔNICA NA ESCOLA

A escola é o lugar de obtenção de conhecimentos diversificado onde o professor é mediador do conhecimento. Os alunos ao ingressarem no mundo dos saberes já possuem uma bagagem cultural advindo do meio social, os jovens se formam em suas comunidades trazendo seus hábitos, sentidos, competências, o saber o qual ele chega à escola e seu patrimônio cultural, devendo ser apreciado como início da educação, onde a cultura faz parte do processo de formação da escola, assim como as narrativas tem um papel fundamental na construção do conhecimento, já que os alunos precisam ter vontade de emprestar acontecimentos vividos por eles ou seus familiares, é onde buscamos compreender o mecanismo de desenvolvimento humano agregado ao processo da leitura e escrita no âmbito escolar, através dela é possível trabalhar o paralelismo da realidade social do aluno com a didática pedagógica escolar, agregando e respeitando as crenças valores culturais aos quais nortear a formação social do cidadão, trabalhar os aspectos culturais que fazem parte da sua realidade, facilitando a aprendizagem e estimulando a busca pelo conhecimento, debater em sala, já que a leitura também traz valores sociais podendo compreender, agregando concepções de mundo, pelo qual se vincula a teoria formando várias práticas do discurso. O objeto do ensino é, portanto, de aprendizagem e o conhecimento linguístico e discursivo com qual o sujeito opera ao participar das práticas sociais mediadas pela linguagem, PCNs (1998, p.22).

A escola é um lugar onde apresenta uma diversidade de peculiaridades sociais. Cada aluno traz em suas raízes sua base cultural as quais se processar decorrente ao tempo, influenciada pela linguagem advinda de suas famílias e por interação social. Para Geertz (1989, p.23), “entender que a cultura está repleta de símbolos e significados, voltados para o meio ambiente e social de cada ser humano sob o domínio de uma estética mantida pela transmissão de geração.” Nesse contexto, a cultura permanece na memória de um grupo social influenciado e determinando sua cultura. Assim nos PCNs (1997, p.22)

o domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo produz conhecimento.

Assim, um projeto educativo comprometido com a democratização social e cultural atribui à escola a função e a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos; o homem é um ser social que depende da interação para construir seu ponto de vista em a relação ao mundo. Quando o aluno chega à escola, ele traz tudo que acumulou decorrente no seu tempo, no meio social, como suas crenças, hábitos e cultura. A interação com outros alunos e educadores é que proporciona o desenvolvimento cognitivo entre o meio que eles vivem e os diferentes estratos sociais.

É comum nas escolas trabalharem contos e histórias que advêm do continente Europeu, que se destacam por trazerem o peso da autoridade e impunidade, é utilizam elas como forma de regras éticas de conduta pessoal na sociedade. Para Ferreira (p. 70), "saber o certo e o errado, o bem e o mal" são valores de juízo pessoal aos quais a escola tem o papel de intermediar para o convívio em sociedade. A cultura amazônica é muito rica também, principalmente no que diz respeito aos mitos e lendas; estão interligados à cultura do povo, aos saberes são importantes quando vistos de acordo com a realidade, não saindo da realidade, visto como de fato são, sem enfeites ou máscaras, ver a realidade é olhar o jeito que ela é. As histórias são voltadas para realidades de vida e suas experiências, o que precisa conhecer ao decorrer do tempo, pois garantirá o conhecimento para os perigos que enfrentam no cotidiano, suas narrativas, as produções escritas são meios de entender a realidade social que cerca o aluno. No livro “TELÁRIS” de Ana Trinconi e Terezinha Bertin, trabalhado nos 6º anos da escola Carmela Dutra, (o capítulo 4. P.98), aborda-se contos e realidades, nos quais a criação cruza ficção e realidade de tal forma que fica quase impossível de separar o que é real do que é imaginário, norte que as características das lendas amazônicas que poderia ser incluindo na didática do livros. A lenda do boto, o Mapinguari, em vez de trabalhar a menina e as balas, as luas de Luísa, tô com fome, histórias que não fazem parte do universo e das localidades da região norte, a importância do saber e da cultura no processo didático-pedagógico também refletem sobre a negação da educação do cidadão quando seu saber e sua cultura não são levadas em consideração. O processo acumulativo de narrativas leva em conta os antepassados e as experiências vividas pelas pessoas da comunidade, repassadas pela oralidade se tornam hábitos de vivências entre as pessoas com o contado com a natureza eles começam a construir seu próprio mundo. Diante da convivência com esta natureza, criam-se laços de integração, representados pelos respeitos aos meios e pelas narrativas que caracterizam a particularidades deste grupo social, são percebidos desta maneira (FERREIRA, 2006, pg.81).

5.4. ICENTIVO A LEITURA NO ÂMBITO ESCOLAR UTILIZANDO AS LENDAS E MITOS

A leitura é fator social presente nosso dia a dia, precisamos entender o código linguístico para nos orientar e acompanhar as informações perante a sociedade, transmitir conhecimento transpassa barreiras geográficas conectando as pessoas, é a leitura o propulsor da aprendizagem na escola. Para Ferreira (2007, p.222) “a escola dever dispor de uma biblioteca que seja colocada à disposição dos alunos. É desejável também que as salas de aulas disponham de um acervo de livros e de outras maneiras de leitura”. É importante a estrutura da escola para diversificar os gêneros textuais, ampliando a leitura na escola, o planejamento perante os temas depende do professor, que tem papel importantíssimo na construção da aprendizagem, em seu planejamento deve ter atividades regulares de leitura, já que a leitura é processo continuo de aprendizagem.

Depois de diversificar o ato de ler, conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (p.32)

No contexto das práticas de aprendizagem de língua(gem), conviver com situações de produção escrita, oral e imagética, de leitura e de escuta, que lhe propiciem uma inserção em práticas de linguagem em que são colocados em funcionamento textos que exigem da parte do aluno conhecimentos distintos daqueles usados em situações de interação informais, sejam elas face a face ou não. Dito de outra forma, o aluno deverá passar a lidar com situações de interação que se revestem de uma complexidade que exigirá dele a construção de saberes relativos ao uso de estratégias (linguística, textual e pragmática) por meio das quais se procura assegurar a autonomia do texto em relação ao contexto de situação imediato.

Quando lemos, interpretamos de maneiras singulares, devido nossa realidade e concepção de refletir sobre o mundo, os nossos repertórios individuais interferem na produção de sentido, trabalhar com diferentes gêneros é motivar o aluno a sair da realidade do seu meio, ampliar seu conhecimento no campo das letras e mostrar novas concepções de mundo que não fazem parte da sua realidade, buscando extrair ideias para o campo das reflexões, aumentando seu repertório para absorver maiores informações na produção de sentido.

A leitura desenvolve uma visão crítica da realidade, o professor colabora transformado o aluno, ele descobre que a leitura lhe permite viver experiências, sentimentos de alegria, de tristeza, de medo, de angústia e de encantamento, como também lhe proporciona construir conhecimentos mais elaborado e significativo da realidade, desde que adote uma prática metódica e crítica para o ato de ler. Para Bakhtin (1992, p.32), a concepção a respeito da leitura é de designar ao leitor ao papel de coautor do texto “colocando o leitor diante do texto na direção de interlocutor, não como um passivo receptor do discurso de autor;” ao ler o livro há uma troca de concepções entre leito e autor, confronto de ideologias, de acordo com a experiência do leitor, proporcionando novas experiências conhecimentos advindos através das ciências do autor.

Como conceitua Ferreira (2007, p.269), “ler implica não só memorização, mas sempre envolve emoções, bem com conhecimentos e experiências anteriores, não sendo a mesma separada da escrita e do pensamento”. O desenvolvimento de qualquer atividade em sem sala de aula pode despertar o interesse pela leitura, a leitura poderá ser prazerosa pelos alunos, se for pelo assunto de seu interesse ou se despertar curiosidade pelo gênero. A leitura nunca vai ser algo só para potencializar a imaginação do leitor, mas uma forma de refletir através dos acontecimentos pessoal e social, já que o homem ao mesmo tempo em que faz cultura também é parte dela por com viver no espaço social e questiona os fatos que estão em sua volta.

Enfatizar histórias que vão ao encontro do homem desconhecido e com a realidade se caracterizam com as narrativas das lendas e mitos amazônicos fascina o imaginário dos alunos, eles crescem ouvindo contos de caráter heroico. As escolas não devem utilizar a leitura com enfoque de tratar aspectos linguísticos e gramaticais, mas incentivar a leitura por prazer. Cabe o professor buscar métodos para despertar o prazer pela leitura. Nesse contexto, vale ressaltar que o ambiente escolar é um lugar que pode favorecer a circulação de informações, para Ferreira (2006, p.203), “a leitura deve vislumbrar caminhos que produzam conhecimentos úteis, interligando teoria e prática, estabelecendo relação entre conteúdo de ensino com a realidade social escolar”. Os professores podem usar as lendas e mitos criando situações de enriquecimento linguístico, como também devem oferecer ao aluno a oportunidade de utilizar a linguagem expressando-a com autonomia, propor a leitura da lenda do boto, que traz em seu conto orientação sexual, já que o boto se transforma em um rapaz que as pessoas não conhecem, depois engravida as moças, evidenciam a moral da história, deixam seus filhos órfãos de pai, refletindo no contexto social em suas vidas, confrontando os valores familiares. As lendas e mitos podem ser utilizados como leituras lúdicas prazerosas como também para transmitir informação a respeito da vida social. A leitura proporciona a viagem ao mundo desconhecido, que faz a gente andar em lugares que não existem na realidade. Como cita Kupstas (1988, p.32), “os aspectos que definem leitura é o seu caráter ficcional. Ficção é invenção. Mas a inversão literária não parte do nada. Parte da realidade”. O mundo abstrato que fascina nossas emoções e sentimentos, comtemplando os sonho e desejos. Monteiro Lobato (1923), diz que “tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira, mas já tanto sonhos se realizaram que não temos o diretito de duvidar de nenhum”. A literatura não é apenas ensinar para obter resultados reflexivos críticos pelos alunos ou para causar inquietação como incentivo ao debate, mas tem que ser trabalhada também de modo que incentive a ler por prazer, ensinar e algumas vezes também divertir, pois livros que as crianças ou adolescentes não tem afetividade implicar no desmotivo pela leitura, aproximar o aluno da arte de ler é preciso, como afirma Maia (2007, pg.159), o consenso é que para ler é preciso ter o que ler, portanto, se os professores não levarem textos ou livros que abordem as lendas e os mitos amazônicos na sala de aula, dificilmente irão ler e produzir conhecimento a respeitos dos gêneros textuais lendas e mitos, também possuem estórias e contos maravilhosos que contemplam os sonhos humanos e transmite o cômico quando se questiona a possibilidade do acontecimento na realidade.

As narrativas literárias do folclore amazônico enfatizam os elementos culturais da região, principalmente as lendas e mitos responsáveis pelo imaginário das localidades, que são predominantes nas áreas ribeirinhas. São variados gêneros textuais que existem em nossa esfera letrada, cada dia recriadas em novos contextos. Assim como os romances e poesias, os contos amazônicos trazem um universo estimulante como sujeito gerador da hipótese mágica, já que a imaginação é um aprendizado monárquico, é o meio mais constante do desenvolvimento intelectual.

[...] a leitura do mundo precede a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele. Na visão do ilustre educador, antes de ler a palavra, a criança já lia o mundo através de gestos, olhares, expressões faciais, do tato, do cheiro etc. Uma boa leitura de mundo abre um espaço enorme pra que a leitura da palavra seja um processo natural, isso se forem dados à criança oportunidades de diálogo num procedimento interativo onde ela poderá ampliar e transformar suas ideias, sendo também capaz de compreender a realidade (FREIRE, 1986, p.22).

Na Amazônia, muitos alunos, principalmente de áreas ribeirinhas, compreendem o mundo a partir dos objetos e frutas, comida e outras abrangências que é específica da região. Propor leitura de gêneros relacionados à realidade do aluno, propondo que a criança construa sentido diante do mundo que a rodeia, antes de tornar o leitor da sua palavra, o aluno já vivenciou diversas leituras do mundo a través da sua realidade. Nas lendas e mitos amazônicos existem personagens que se perpetuam às causas humanitárias, espirituais, mas não perdem a essência hilária. Como cita Gerson Santos Silva no “Encanto da Amazônia”, “o Curupira aparecem mais enfaticamente, fazendo-se é claro uma distinção entre as “brincadeiras” malvadas e uma maldade pura, sendo que dessa forma ele aparece, como um encantado brincalhão. Mas sua condição de guardião da natureza não é subtraída”. Através de suas brincadeiras, ele prende as pessoas ao estado de felicidade, a partir da contextualização os alunos descontraem com suas travessuras, mas absorver a lição da preservação da natureza e ajuda na construção dos valeres familiares e formação do leitor como cidadão. Para Ferreira (2006, p.205), “o texto interage elementos socialmente determinados: o leitor e o autor marcados pelo lugar na estrutura social, movidos pela enunciação”. Segundo Halliday (1982)

(...) é preciso estar atento para os conteúdos culturais, os textos escolares incorporam à transferência educativa, todos os materiais de leitura enquanto linguagem transmitem modelos de vida através dos quais os indivíduos aprendem a desenvolver-se como membro de uma sociedade e adota sua cultura, seus modelos de pensar e de agir e suas crenças e valores.

Oportunizar para os alunos orientações para o segmento de vida social é papel fundamental da escola, significa transformar a capacidade de visão perante os fatos sociais, sendo que a linguagem traz um processo de interação entre os interlocutores, o autor e leitor estão inseridos no meio social repleto de valores, assim a educação busca desenvolver atividades enriquecedora das suas habilidades no processo de desenvolvimento da sua vida.

Trabalhar com os mitos e lenda nas escolas é uma maneira de preservar as histórias dos alunos e seus antepassados, refletindo na sua realidade social, é o incentivo em busca da reposta acerca do mundo imaginário das florestas, incentivar quem sabe a serem futuros pesquisadores das místicas dos seres das matas amazônicas, despertar a curiosidade é o grande desafio dos educandos, pois ser conhecedor da realidade do aluno significa usar os saberes, para transformar e trilhar os caminhos da educação, a leitura não deve ser vista como formação e sim como algo que nos forma ou nos deforma, ou ainda, nos transforma (LARROSA, 2000).

5.5. PRODUÇÃO ORAL E ESCRITA

Os trabalhos em torno da aprendizagem cognitiva busca a compreensão dos alunos em torno da construção do seu próprio conhecimento no processo de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita, a diversidade textual para as práticas comunicativas trazem novas concepções para os alunos, ampliando os conceitos tanto na oralidade como na escrita, assim confirma Bakhtin (2000, p.279)

A riqueza e variedades dos gêneros dos discursos são infinitos, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa.

Os discursos quando são produzidos se manifestam linguisticamente por meio de textos, cada pessoa possui o conhecimento decorrente das suas experiências. Contextualizar seus conhecimentos com diferentes experiências através de outros texto proporciona aos interlocutores agregar novos discursos, assim construindo nova concepções e ideologias, refletido tanto na leitura como na escrita. A leitura é um processo de construção do sentido e implica o reconhecimento de que o sentido não está no texto, mas que é gerado pelo leitor que constrói o sentido interagindo com o texto. Cada leitor terá compreendido o que a sua expectativa sobre o mundo lhe permitir compreender, cada um terá se aproximado na medida das suas possibilidades, da mensagem que o autor desejou transmitir.

As práticas das linguagens nas instâncias oral e escrita representam a cognição manifestada de práticas específicas de cada núcleo social. “O trabalho com os diversos gêneros textuais objetiva o desenvolvimento de competências de leitura e produção de textos orais e escritos, viabilizando o acesso do aluno aos gêneros que circulam socialmente” (CAMPEDELLI, 2009). Os textos proporcionam ao leitor escrever de forma comunicativa, já que a função é utilizar os gêneros na sociedade para desenvolver competências e habilidades dos alunos em sala de aulas através de diferentes gêneros discursivos, a construção de sentidos entre o texto e interlocutores, como diz nos PCNs (1998, p. 33)

As práticas de leitura por meio das quais os alunos possam ter acesso à produção simbólica do domínio literário, de modo que eles, interlocutivamente, estabeleçam diálogos (e sentidos) com os textos lidos. Em outros termos, prevê-se que os eventos de leitura se caracterizem como situações significavas de interação entre o aluno e os autores lidos, os discursos e as vozes que ali emergirem, viabilizando, assim, a possibilidade de múltiplas leituras e a construção de vários sentidos.

Para opinar sobres as causas sociais os interlocutores precisam de novas ideologias, construir sentidos através de outras experiências, interferir na construção da sociedade, assim podendo refletir e se posicionar de acordo com a realidade do mundo, para isso vir à tona é preciso de planejamentos desde as políticas da educação até os projeto políticos pedagógicos ao planejamento do professor e sua aplicabilidade para desenvolvimento da litura e escrita. Incluir os mitos e lendas amazônicas no processo de leitura e escrita potencializa o desenvolvimento abstrato do aluno quando o mesmo relaciona o imaginário com as narrativas ouvidas em decorrer da sua vida. Para Ferreira (2006, p.57), “valorizar a cultura local proporciona novas dimensões de ensino-aprendizagem aos professores e alunos, a mudança de postura é algo desejável aos professores saber se colocar no lugar dos alunos, de fato dos textos dos alunos”, o professor deve entender que o aluno tem dificuldade diante de assuntos que não fazem parte do seu cotidiano, os mitos e lendas e os acontecimentos estão relacionado com florestas, rios, então fica mais fácil de aluno associar que existem nesse contexto animais, peixes, frutos e outras coisas além das lendas e mitos, onde a realidade das suas vidas podem ser observadas nas narrativas escritas. Os professores influenciam a formação cultural do aluno, assim eles devem propor textos ou temas com características locais adequadas à realidade cultural compreendendo o modo de vida do aluno.

5.6. SEDUC E O REFERENCIAL CURRICULAR DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO

De acordo com os referenciais curriculares de Rondônia (2012, p.51)

o Estudo de crônica e de contos de autores brasileiros; Caracterização do povo brasileiro, a partir de obras literárias, tais como: O Cortiço, Casa Grande & Senzala, Grande Sertão Veredas, Capitães da Areia, Vidas Secas etc.: visões de mundo e sensibilidade; As relações entre as diversas etnias: intolerância, radicalismo, ações humanitárias e agregações das diferenças; Compreensão da pluralidade, na relação com a singularidade que nos constitui.

É notável a valorização de obras de autores consagrado do Brasil e obras como referencial para ser trabalhados na sala de aulas no processo de desenvolvimento do ensino e aprendizagem da leitura oral e escrita, referente a diversos textos a serem trabalhados de diferentes culturas, a SEDUC é a que deveria indicar autores e as obras como referencial curricular para ser trabalhado em sala como forma de preservar as raízes culturais para manterem vivas as tradições regionais, isso inclui os alunos que cresceram ouvidos narrativas sobre as lendas e mitos e para muitos das escolas rurais fazem parte da sua realidade da sua origem como cidadão em espaço e no tempo onde é construído e reconstruído a cultura, através das narrativas e diversas experiências vivencias por até eles mesmo e seus familiares e amigos. A SEDUC é responsável pela diretrizes da educação que norteia os trabalhos pedagógicos nas escolas do estado de Rondônia, é a primeira a desvalorizar a cultura regional amazônica, pois na língua portuguesa e na literatura pouco se trabalha com o mito e as lendas regionais, e dificilmente cita um autor ou obra da localidade para trabalhar nas escolas, para desenvolver as competências e habilidades dos alunos. Segundo os PCNs (1998, pg.121) desigualdade social e discriminação, articulam-se no que se convencionou denominar “exclusão social”: impossibilidade de acesso aos bens materiais e culturais produzidos pela sociedade e de participação na gestão coletiva do espaço público - pressuposto da democracia; impossibilitar o acessos da literatura regional amazônica nas escolas é excluir a ampliação dos saberes de um povo, que acarreta no desincentivo pela leitura. A produção científica o desperta da curiosidade para que os alunos busquem o conhecimento de forma implícita de descriminação social e cultural, já que o que se produz na cultura cabocla ou ribeirinha é inferior ao que se produz nos grandes centros do Brasil. Pela condição econômica social a cultura não se mede, valores não se vendem nem se compram, ela se vivencia como parte da vida de um povo com uma riqueza imensurável. O trabalho com os gêneros textuais é como uma extraordinária oportunidade de se lidar com os usos sociais da língua, na forma como ela acontece no dia a dia, na vida das pessoas (ROJO, 2000).

Habilidades, desenvolvimento das competências e uso da linguagem, esses exercícios são inegáveis que podem ser feitos no uso da língua oral e escrita, tantos para aqueles quem leem e escrevem narrativas. Em nosso cotidiano nos deparamos com diversos tipos de narrativas e gêneros textuais como romance, novelas, jornais, contos etc. Através da leitura e o que ouvimos desde a infância no processo cumulativo de informações nos situamos e refletimos sobre nossa sociedade, mas existem outras formas de manifestações culturais através da linguagem como arte, música, poesia, e a partir da interação social que coloca o homem como ser criativo e imaginativo no processo cognitivo de aprendizagem que reflete no seu vocabulário oral e escrito, potencializando-o a novos conhecimentos de mundo. As expressões culturais locais nas escolas são trabalhadas de forma superficial, quando trabalhada, dificilmente utilizam as lendas ou os mitos, ou poesias da região. A SEDUC indica nas diretrizes curricular (2012, p.116) “a Pesquisa sobre a cultura e teatralidade no Estado de Rondônia a partir da diversidade das lendas e contos oriundo da flora e fauna amazonense”; Os gêneros textuais, na concepção de Marcuschi (2008), são fenômenos históricos profundamente vinculados à vida cultural e social, surgindo de acordo com as necessidades e atividades socioculturais, muitos alunos têm dificuldade de aprender de acordo com gêneros que o professor aborda nas aulas, considerando a dificuldade dos alunos, usar lendas, mitos ou temas que estejam de acordo com a realidade de vida do aluno ajuda no processo cognitivo e comunicativo relativo ao conhecimento prévio do aluno acerca do gênero textual, mas pouco é visto nas escolas. Os educadores preferem trabalhar obras de autores mais conceituados e outras culturas do Brasil e do mundo do que a cultura amazônica sendo que a própria SEDUC não elabora projetos para valorizar a cultura regional amazônica na escola, usar no eixo teatral é muito pouco para o desenvolvimento e expansão da cultura regional. Assim, concluímos que a literatura regional e suas várias formas de manifestação cultual precisam ser trabalhadas com mais contundência e flexibilidade, desenvolvendo suas competências e habilidades orais e escrita utilizando as lendas e mitos nas salas, mas não apenas como iniciativa do trabalho docente referente aos temas, mas que o incentivo comece pelos órgãos hierárquicos norteadores da educação brasileira, principalmente a SEDUC, que é norteadora de Rondônia e como parte da região norte valorize nossa produção literária e os autores de Rondônia e da região norte, para que os educandos possam aprender e ao mesmo tempo se orgulhar e valorizar suas raízes culturais.

5.7. UTILIZAÇÃO DAS LENDAS E MITOS NOS LIVROS DIDÁTICOS

As escolas de ensino público recebem livros com diversas obras periodicamente, esses livros didáticos são distribuído pelo ministério da educação, através da PLDN (Plano Nacional Dos Livros Didáticos) que passam por uma rigorosa avalição da Secretaria de Educação Básica. Com o objetivo de regulamentar uma política nacional do livro didático, criou-se a Comissão Nacional do Livro Didático (CNLD), marcando, assim, a primeira iniciativa governamental nessa área de política educacional. Esta comissão julga e avalia os livros didáticos, para que alunos e professores, que se consagrou o termo “livro didático”, entendido até os dias de hoje como o livro adotado na escola, destinado ao ensino, cuja proposta deve obedecer aos programas curriculares escolares. Para que as escolas possam desenvolver o processo de ensino e aprendizagem com um material de qualidade pedagógica de acordo com as pretensões democrática. O nosso presente trabalho atrás da indagação da aplicabilidade em sala de aula das lendas e mitos da literatura regional amazônica nos livros didáticos de língua portuguesa do alunos de 6º anos de duas escolas de Rondônia, e a ênfase que estão direcionado às lendas e mitos. Analisamos nos presentes livros que ao expor a literatura Amazônica, já que faz parte do cotidiano dos alunos, as crianças crescem ouvindo as narrativas orais, a cultura das narrativas preservam as suas origem socioculturais como afirma nas PCNs (1998, p.134)

A linguagem oral, por sua vez, pressupõe a investigação das histórias orais em diferentes épocas e contextos, como transmissoras de uma determinada cultura, tendo em vista preservar e reinventar valores, normas e costumes no interior daquele grupo social.

Entendemos a sua relevância para caracterizar a memória e identidade cultural, os textos têm uma relevância grande no processo cognitivo, na transmissão de conhecimento entre o educador e educando, nos livros didáticos de língua portuguesa. Para ANTUNES (2007, p.101-2), “a leitura e análise de textos ganham relevância na perspectiva do que ora se discute. Não são as frases soltas nem as listas de palavras que vão promover o desenvolvimento de uma competência comunicativa”, que se desdobra, naturalmente, numa competência gramatical, numa competência lexical, numa competência textual; pelos textos os alunos adquirem habilidades na escrita; leitura, na expressão oral, que agregado aos conhecimentos de mundo ocasionando o pleno desenvolvimento dos educandos. Vamos analisar como funciona na prática a partir do texto:

A LENDA DO BOTO COR DE ROSA

Conta na Amazônia, que os botos do rio Amazonas fazem charme para as moças que vivem em vilas e cidades à beira-rio. Eles as namoram e, depois, tornam-se os pais de seus filhos! No início da noite, o boto se transforma em um belo homem e sai das águas, muito bem vestido e de chapéu, para esconder o buraco que todos os botos têm no alto da cabeça (o buraco serve para respirar o ar, já que os botos são mamíferos e têm pulmões, como você). O rapaz-boto vai aos bailes, dança, bebe, conversa e conquista uma moça bonita. Mas, antes do dia surgir, entra de novo na água do rio e se transforma de novo em um mamífero das águas.

Começaremos analisando a aplicabilidade gramatical agregada ao valor semântico. Na primeira e segunda linhas, podemos trabalhar a morfologia e suas classes gramaticais, identificando os substantivos e artigos (os botos, as moças), o adjetivo (do rio Amazonas), o verbo (fazem, vivem); trabalha também a figura de linguagem (personificação), atribuindo características humanas para seres inanimados na passagem “os botos do ria amazonas fazem charme para as moças”, além do desenvolvimento abstrato já que se trata de contos fantásticos e através da escrita que é um instrumento do pensamento reflexivo, só em contato com ela pode desenvolver o pensamento abstrato, muitos alunos têm dificuldade em ler e compreender o que está escrito, o acesso a ela permite ao indivíduo, além de “ser social”, descubra as relações por trás das circunstâncias, situações vividas em suas realidades. As lendas e mitos amazônicos proporcionam valores sócio-morais como não sair com estranhos, sexo com segurança (na passagem quando as moças ficam grávidas), e a realidade social nas áreas mais afastadas da urbanização. As lendas e mitos amazônicos preservam e impulsionam a cultural de um povo, fazendo dos mesmo um defensor e construtor dela, para Marcuschi (2002, p.20.), os gêneros são fenômenos históricos intrinsecamente associados à vida social e cultural dos indivíduos. São considerados, ainda, formas de ação social, através das quais o homem consegue se expressar e traduzir suas concepções sobre o mundo. Dessa forma, considera-se que toda situação comunicativa, seja ela do âmbito oral ou escrito é realizada através de gêneros que trabalham de várias obras literários, dão suporte para novos conhecimentos e teorias, mas trabalhar as lendas e mitos nas escolas como parte da literatura brasileira também agrega a respeito da fauna, da flora, da preservação da natureza, da cultura social, entretanto dão pouca ênfase para autores e obras da região norte; todo livro é ou pode ser didático, desde que criteriosamente selecionado e criativamente utilizado como recurso de ensino pelo professor; já o seu valor pedagógico se mediaria pelo potencial crítico (dos textos) que viesse a ser observado pelo professor (SILVA, 2000, p.16).

Analisamos a realidade presente nos livros trabalhados no cotidiano escolar dos alunos de 6° ano, em vigor no ano 2015, a partir desse pressuposto, observamos dois livros usados na escola Brasília, dos autores Faraco e Moura, e da escola Carmela Dutra, dos autores Ana Trinconi, Terezinha Bertin e Vera Marchezi, ambos colégio situados em Porto Velho, no estado de Rondônia.

No livro didático da escola Carmela Dutra existem gêneros textuais com diversas linguagem, como jornal, relatos das férias na Antártida, história em quadrinhos com o jogador Neymar da seleção brasileira, mas não há uma obra literária sobre as lendas e mitos amazônicos, quando poder-se-ia usar o Curupira, a Iara nos chat ou estória em quadrinhos, mas não é a realidade no livro de Ana Trinconi.

Dos alunos da escola Carmela Dutra, para Bunzen (2005, p. 14) quando se trata de decidir o que e o como ensinar, os professores transferem para os livros didáticos tal responsabilidade, pois neles estão refletidos os entendimentos dominantes de cada época, relativos às modalidades da aprendizagem e ao tipo de saberes e de comportamentos que se deseja promover. Para muitos alunos que não possuem em casa computador ou a escola não tem laboratório de informática, como as escolas ribeirinhas ou na zona rural, os livros didáticos acabam sendo o único material de leitura disponível para esses alunos socialmente excluídos pela sociedade tecnológica, por isso a importância dos livros abordar a temas relevante a cultura regional dos alunos.

No livro de Faraco e Moura trabalham textos em prosa em versos com diversos gêneros textuais, como a bibliografia de Luiz Gonzaga, as histórias em quadrinho de Mauricio de Souza, mas, na Unidade 4, os contos de fadas e os contos maravilhosos, temos vários textos literários como a historia do bicho palha de Câmara Cascudo, que envolve princesa e príncipes, entre o leão e unicórnio são contos maravilhosos, a chapeuzinho vermelho de raiva, que é uma obra de Mário Prata, uma estória criativa recriada a partir do personagem chapeuzinho vermelho, mas no livro há apenas um conto sobre a mitologia indígena, que segundo a LBD, lei 10.369 de 09/01/2003 que instrui as diretrizes curriculares nacionais para educação e das relações étnica-sociais e para o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena, são ações que direcionaram para uma educação pluricultural e pluriétnica para construção da cidadania por meio da valorização da identidade étnica-racial, principalmente de negros e afrodescendentes e indígenas, se não fosse lei, talvez não constataria no livro de língua portuguesa da escola Brasília.

A exploração da história deve ser integrada numa unidade didática que por sua vez deverá estar integrada no plano curricular da turma em que se pretendem desenvolver várias metas de aprendizagem e objetivos, as recomendações metodológicas deve respeitar a cultura local de cada região promovendo uma educação de cidadania integrada aos valores sociocultural, as lendas e mitos são parte da vida dos moradores da região amazônica e servem como inspiração e conselho a partir do valor moral que cada estória trás com sigo.

É preciso implantar uma lei para que possam trabalhar as culturas miscigenadas do Brasil no livro de 6° ano da escola Brasília de Porto Velho. Vimos só uma obra literária indígena, o mito fala sobre a origem do Oiapoque, de Silvana Salerno. A literatura amazônica é muito abrangente, as grandes lendas do folclore amazônico, como boto, curupira, cobra grande, a lenda do guaraná, não fazem parte das escolas, pincipalmente da região norte onde deveria preservar a identidade local. Entramos em problemática porque a literatura regional amazônica, os mitos e lendas pouco são utilizadas nos livros didáticos das escolas de ensino fundamental e médio.

Diante desses pressupostos devemos refletir sobre a valorização da região norte nossa lenda e mitos dia ante da forma de sua aplicabilidade na escola, existe cultura, inferior ou melhor, a literatura amazônica vem sendo desvalorizada pelas política educacional, por não fazer parte do conteúdos inserido nos livros didáticos, fazendo que os educadores e educando se distancie dos gêneros lendas e mitos no âmbito escolar.

6. CONCLUSÕES

A cultura amazônica está depende das práticas sociais vivenciadas no cotidiano da população, pela pluralidade étnica-racial, com a crença específica de cada localidade, oriunda da miscigenação europeia, africana e indígena, através da composição de diferentes povoados e da expansão migratória de trabalhadores advinda de diferentes regiões do Brasil. Constitui-se a formação cultural amazônica, os mitos e lendas conservam a herança cultural recebida pelos seus descendentes, contos imaginários que estão presentes na vida habitacional das comunidades caboclas, reproduzida pela oralidade, conhecimentos pouco presentes na área urbana, principalmente nas escolas que é responsável pela formação sociocultural dos educandos, que deve despertar e promover a incentivar a construção do conhecimento com vínculo com a cultura.

A compreensão sobre a realidade em que o estudante está inserido no processo de aprendizagem é umas das metas essenciais para progressão do conhecimento. Não trabalhar a literatura amazônica ocasiona sua desvalorização e extinção da memória cultural porque é a explicação dos povos primitivos, acarretando a baixa busca do conhecimento científico por parte dos educandos, tanto nas escolas como nas faculdades; por isso, são poucos os autores encontrados que escrevem sobre os mitos e lendas amazônicos, poucos possuem o conhecimento necessário para desenvolver suas teorias a respeito deste assunto, muitos recriam as estórias através de relatos de pessoas das comunidades ribeirinhas. A valorização da identidade cultural dependendo da relação do indivíduo com a sociedade, de forma recíproca, permitindo que as pessoas ou grupos se localizem e sejam localizados em um sistema social, preservando suas raízes culturais para que não se apropriem de outras culturas imposta pelo mecanismo capitalista de comunicação que emancipa a população, que reflete nas escolhas o que se deve abordar, principalmente nas escolas. Valorizar a cultura amazônica não é trabalhar as lendas e mitos, apenas em datas comemorativas, mas constantemente nas escolas, sendo em forma de teatro, versos, poesias, principalmente nas aulas de literatura de língua portuguesa. Os livros didáticos devem nortear a educação escolar e raramente possuem as lendas e mitos amazônicos. Através de estudo bibliográfico dos livros de língua portuguesa do 6° anos, adotados pelas escolas estaduais de ensino fundamenta e médio Brasília e Carmela Dutra no ano letivo de 2015, pouco se faz referências às lendas e mitos amazônicos como motivo para produção escrita, interpretação de texto, como forma metodológica para que os alunos busquem a construção do conhecimento a partir desses gêneros literários. Assim acabamos perdendo nossa literatura regional por não incentivar os alunos a escrever sobre as lendas e mitos regionais, muitos estudantes sabem o que é Halloween, quem foi Conde Drácula, mas poucos sabem o que é o Curupira, o Mapinguari, que são específicos da localidade onde vivem, onde deveria ser o marco do orgulho dos habitantes da região norte e da literatura brasileira, preservando a história da formação sociocultural amazônica.

Educar é criar cenários, trazer novas ferramentas para completar a qualidade de ensino, não se acomodando como o que é imposto pelo sistema regulador do ensino, as lendas e mitos são símbolos sociais, o significado de vida para as comunidades das áreas rurais da região norte, os educando devem buscar mecanismos para investigar minuciosamente os mitos e lendas amazônicos, transformado sua aprendizagem como parte das suas de vivências culturais.

Chegando ao final do trabalho de pesquisa surge a necessidade, como o próximo passo, de uma pesquisa de campo. Os objetivos da pesquisa eram caracterizar os mitos e lendas amazônicos e sua aplicabilidade no âmbito escolar como incentivo a produção oral e escrita, através dos livros didáticos de 6° anos utilizado nas escolas de ensino estadual e fundamental Brasília e Carmela Dutra, conseguimos alcançar pela pesquisa bibliográfica o que foi proposto desde o início do projeto, constatamos que as lendas e mitos amazônicos são poucos utilizados nos livros didáticos e consequentemente nas salas de aulas e pouco se aproveita da riqueza linguística da língua portuguesa, de onde é possível proporcionar várias ferramentas de aprendizagem a partir da leitura e da escrita dos mitos e lendas, acarretando a desvalorizando da cultura e da identidade amazônica até certo ponto, pois pesquisar os materiais didáticos extras, fora os livros didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação e as metodologias dos educadores na escola, poderíamos obter uma conclusão mais ampla e precisa referente às nossos objetivos.

Entretanto, surgem dúvidas perante a pesquisa, sobre o uso das lendas e mitos amazônicos em sala de aula. Será que os professores conhecem nossa literatura regional, os mitos e lendas, nossos autores, a realidade dos alunos junto às suas localidades, a cultura amazônica ou até mesmo se os próprios alunos conhecem sua cultura, para poder trabalhar os gêneros na sala de aula e ampliar o horizonte do conhecimento dos alunos em relação à leitura e produção oral e escrita, para incentivar a partir das lendas e mitos o gosto pela leitura, sendo o primeiro passo para despertar o espírito artístico, literário e científico do educandos?

Acreditamos que esse trabalho tem uma relevância fundamental para o panorama na educação, com incentivo a trabalhar as lendas e mitos amazônicos no âmbito escolar; acreditamos também que eles podem ser utilizados para a produção de texto, podendo trabalhar a gramática agregada às produções, leitura lúdica de caráter maravilhosa, desenvolvendo o conhecimento abstrato do aluno porque envolver o imaginário humano nas narrativas, sem se desligar das raízes culturais dos educandos promove a valorização e construção da identidade cultural.

O trabalho pode ser continuado, buscando compreender as inquietações geradas perante a pesquisa, buscando obter melhores respostas sobre o uso das lendas e mitos amazônicos na sala de aula, assim podendo contribuí com estudos futuros para toda a sociedade letrada, e para incentivar os educadores ou furos a trabalharem as lendas e mitos amazônicos nas salas de aula.

7. REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática: por um ensino de língua sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

BAYARD, Jean-Pierre. História das lendas. Disponível em: http://.

BRASIL. Ministério da educação. Secretaria da Educação Média e Tecnológica. O papel da educação na sociedade tecnológica. In: ______. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio (1ª parte). Brasília: MEC/Secretaria da Educação Média e Tecnológica, 1999.

BRASIL. Ministério da educação. Tecnologias da comunicação e informação. In: _____. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Introdução aos parâmetros curriculares nacionais (5ª parte). Brasília: MEC/SEF, 1998, 

CANDIDO, Antonio. Literatura e cultura de 1900 a 1945. In: ______. Literatura e sociedade. 5.ed. Rio de Janeiro: Ed. Nacional, 1980. p.109-138.

CASCUDO, Luis da Camara. Literatura oral no Brasil. 3.ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia.

CASCUDO. Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de janeiro: Editora Publicação S/A. CEJUP, 1995.

CHARTIER, R.; CAVALLO, G. História da leitura no mundo ocidental. São Paulo: Ática, 1998.

Estado de Rondônia. Referencial Curricular - Seduc, 2012

FEREIRA, Nair Gurgel do Amaral; TEZZARI, Neusa dos Santos. Leitura e linguagem: discurso e letramento. Porto Velho: EDUFRO, 2006

FRANCO E MOURA. Nos dias de hoje. São Paulo, 2012.

HALLIDAY, David; RESNICK, Robert. Física. Técnicos e científicos. 4.ed. Rio de Janeiro, 1983.

KUPSTAS, Márcia. Literatura, arte e cultura. São Paulo: Ática, 1988.

LIMA, Antonia Silva de. A lenda da Vitória-Régia: dois olhares para um destino. [Doutorado]. Porto Alegre. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 2002.

LOUREIRO, João de Jesus Paes. Culturas: uma poética do imaginário. São Paulo:

LOUREIRO, Violenta Refkalesfky. Amazônia: Estado-Homem-Natureza. Belém: CEJUP. 1992.

MACHADO, Abmael. Pequeno ensaio sobre as lendas e folclore de Rondônia, 1987

MARCUSCHI, L.A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.

Moisés, M. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 1978.

NICOLA, José de. Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias. São Paulo: Scipione, 1998.

ROJO, R. A prática de linguagem em sala de aula: praticando os PCNs. São. Paulo: EDUC; Campinas: Mercado de Letras, 2000.

SERAFIM, Antônio. O broto e o boto. Ji- Paraná: ABG, 2001.

TRICONI, Ana Borgatto. Projeto Teláris. São Paulo: Editora Ática, 2013.


Publicado por: Jamerson Coutinho Apolinário

icone de alerta

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.