Indisciplina e agressividade: Prevenção e intervenção no contexto escolar

RESUMO

Entramos no século XXI com muitas mudanças na educação. A facilidade de acesso de nossos educadores às idéias e teorias desenvolvidas por pesquisadores e escritores muito tem contribuído para o desenvolvimento da qualidade da educação no Brasil. Mas, ao mesmo tempo em que a escola desenvolve-se, ela, juntamente com a família parece perder o poder e o espaço que outrora tiveram na formação do indivíduo, pois as crianças começaram a entrar mais cedo na escola, fato que pode favorecê-las (quando a criança é bem acompanhada pelos pais) ou prejudicá-las (quando os pais por deixá-la durante muito tempo na escola geram na mesma, um sentimento de descaso em relação ao seu desenvolvimento). Defende-se nesse trabalho, como resultado duma pesquisa bibliográfica a influência da indisciplina e agressividade na escola no comportamento de crianças e adolescentes, pois não existe aprendizagem de qualidade em um ambiente de indisciplina e agressividade. Faz-se necessário buscar novos caminhos que levem a família, a escola e a comunidade a assumirem o seu verdadeiro papel neste processo. Neste sentido, Içami Tiba e Julio Aquino, afirmam que a ausência de limites, instituídas na educação familiar por pais demasiadamente tolerantes, fecunda conseqüências desastrosas, produzindo crianças indisciplinadas, agressivas, insolentes e que vivem conflitos internos demonstrando insegurança em tudo o que realizam. A indisciplina e a agressividade constituem um desafio para os docentes, representam um dos principais obstáculos ao trabalho pedagógico demonstrando a ausência de regras e limites por parte da criança. Necessitamos de uma postura compartilhada em relação à disciplina, investindo na prevenção. Pretende-se que a escola funcione através de espaços e tempos, geridos com critérios adequados à participação e ao diálogo entre os alunos e destes com os professores, onde o problema deve ser contextualizado, analisando as suas causas profundas e favorecendo a mobilização de ações alternativas.

Palavras-chave: Agressividade; Escola; Indisciplina.

ABSTRACT

Entering in the twenty-first century with many changes in education. The ease of access for our educators to ideas and theories developed by researchers and writers have contributed much to the development of quality education in Brazil. But at the same time that the school is taking it, together with the family seems losing power and the space it once had in the formation of the individual as the children began to come sooner in the school, a fact that may favors them (where the child is well accompanied by parents) or hurt them (when parents by leaving it for a long time at school, generate the same, a sense of disregard on their development). Advocates in this, as a result of a bibliographic research the influence of indiscipline and aggression in school in the behavior of children and adolescents, because there is quality of learning in an environment of indiscipline and aggressiveness. It is necessary to find new paths that lead to family, school and community to assume its proper role in this process, in this sense, Içami Tiba and Santos, saying that the absence of limits, imposed on family education for parents too tolerant, fruitful disastrous consequences, producing children indiscipline, aggressive, insolents and internal conflicts that live showing insecurity in everything we undertake. The indiscipline and aggressiveness are a challenge for the teachers, representing one of the main obstacles to educational work demonstrating the absence of rules and limits for the child. We need a shared stance on discipline, investing in prevention. It is intended that the school working through space and time, managed with appropriate criteria for participation and dialogue between students and those with the teachers, where the problem must be contextualized, analyzing its causes and encouraging the mobilization of stock options.

Keywords: Aggressiveness; School; Indiscipline.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10
I A INDISCIPLINA E AGRESSIVIDADE NO CONTEXTO FAMILIAR E ESCOLAR 12
1 1 Características da indisciplina e da agressividade 13
1 2 Razões da indisciplina e da agressividade 15
1 3 Bulling 19
1 4 Evidências da indisciplina e agressividade na família 20
1 5 Evidências da indisciplina e agressividade na escola 22
II AÇÃO DOCENTE FRENTE AO ALUNO INDISCIPLINADO E AGRESSIVO 24
2 1 Preparo do professor para lidar com alunos-problemas 24
2 2 Atitudes docentes para melhoria comportamental dos alunos 28
III AÇÕES PREVENTIVAS CONTRA A INDISCIPLINA E AGRESSIVIDADE 32
3 1 Abordagens dos temas transversais 35
CONSIDERAÇÕES FINAIS 38
REFERÊNCIAS 39

INTRODUÇÃO

Ser professor nunca foi uma tarefa simples. Hoje, porém, novos elementos vieram tornar o trabalho docente ainda mais difícil. A disciplina parece ter se tornado particularmente problemática.

Analisar as causas do problema é preocupação sobre a qual, hoje, se debruçam todos os que estão envolvidos com educação, que desejam uma escola de qualidade. È claro que são inúmeros, não apenas um, os elementos que concorrem para a atual situação educacional brasileira.

Desde alguns anos atrás, vai instalando-se em nossas sociedades, e de maneira especial em nossas escolas, a convicção de que os estudantes vão sendo cada vez mais indisciplinados e mal-educados, mostrando comportamentos que interrompem o clima acadêmico da escola, quando não protagonizam agressões verbais e físicas, furtos e destruição do mobiliário, etc.

É necessário e essencial à educação saber estabelecer limites e valorizar a disciplina, e para isso é necessária a presença de uma autoridade saudável. O segredo que difere autoritarismo do comportamento de autoridade adotado para que outra pessoa torne-se mais educada ou disciplinada está no respeito à auto-estima.

As instituições de ensino, cuja tarefa é introduzir as crianças nas normas da sociedade, muitas vezes se omitem. O estudo é essencial, portanto os filhos têm obrigação de estudar. Caso não o façam, terão sempre que arcar com as conseqüências de sua indisciplina

Temos que trazer e despertar o interesse de pais e educadores os limites da disciplina numa maneira bem-humorada e realista, mostrando que pai ou professor, é o educador, e não pode se esquivar da tarefa de apontar na medida certa os limites para que os jovens se desenvolvam bem e consigam viver bem em harmonia.

As crianças aprendem a comportar-se em sociedade ao conviver com outras pessoas, principalmente com os próprios pais. A maioria dos comportamentos infantis é aprendida por meio da imitação, da experimentação e da invenção.

Objetiva-se neste trabalho: Refletir sobre os fatores contribuintes para crianças indisciplinadas e/ou agressivas; Mencionar atitudes dos professores que contribuam para a melhoria da relação professor-aluno; Analisar o papel da escola frente aos problemas de convivência dos alunos no âmbito escolar.

Visando a consecução dos objetivos citados reporta-se esta monografia as seguintes questões norteadoras:

  • Que fatores podem contribuir para uma criança tornar-se indisciplinada e/ou agressiva?
  • Que atitudes docentes poderiam contribuir para a melhoria da relação professor-aluno?
  • O que é necessário para que as escolas enfrentem os problemas de convivência cumprindo seu papel de educar sem discriminar o aluno-problema?

È preciso lembrar que uma criança, quando faz algo pela primeira vez, sempre olha em volta para ver se agradou alguém. Se agradou, repete o comportamento, pois entende que agrado é aprovação, e ela ainda não tem condições de avaliar a adequação do seu gesto.

A força dos pais está em transmitir aos filhos a diferença entre o que é aceitável ou não, supérfluo, e assim por diante. O professor também perdeu a autoridade inerente à sua função.

É preciso continuar investindo na melhoria da qualidade do ensino em nossas escolas, para isso é fundamental o maior interesse das políticas públicas na educação, incentivando a formação e aperfeiçoamento do quadro docente, realizando melhorias do espaço físico das escolas, além de contar com a participação efetiva da família e da comunidade.

Quando o limite é apresentado com afeto, a criança o aceita mais facilmente. Sem dúvida, não é um trabalho fácil, mas geralmente funciona. Além da família, cabe à escola este papel. Afinal, os educadores continuam a deter parte considerável da responsabilidade pela formação da criança.

Para fundamentação teórica deste trabalho, foram lidos livros que contextualizam o tema monográfico de autores renomados como, Içami Tiba, Paulo Freire, Rogers e Gadotti.

Este trabalho encontra-se organizado em três capítulos: No primeiro capítulo abordaremos; A indisciplina e agressividade no contexto familiar e escolar; No segundo capítulo trabalharemos: Ação docente frente ao aluno indisciplinado e agressivo; no terceiro capítulo trabalharemos: Ações preventivas da indisciplina e agressividade através de temas transversais.

1. A INDISCIPLINA E AGRESSIVIDADE NO CONTEXTO FAMILIAR E ESCOLAR

Nos tempos atuais, família e escola parecem perder o poder e o espaço que tiveram outrora no sentido da formação do individuo. As crianças começaram a entrar mais cedo na escola, fato que pode favorecê-las ou desfavorecê-las, dependendo do acompanhamento escolar e familiar realizado. Caso a criança seja bem acompanhada, esse ingresso prematuro na instituição pode ajudá-la a se desenvolver melhor em todos os aspectos: sociais, cognitivos, etc. Porém, se a família coloca-a na escola, mas não acompanha pode gerar na criança um sentimento de descaso em relação ao seu desenvolvimento.

Em outras ocasiões pode-se criar uma criança autoritária e desobediente por culpa dos próprios pais que por trabalharem demais e estarem ausentes da rotina do filho permitem, por um sentimento de culpa, que a criança faça tudo que desejar. Tal comportamento dos pais é prejudicial à própria criança, que fora do ambiente familiar não encontrará tamanha facilidade. A escola por sua vez, também procura subterfúgios para “escapar” da culpa pelos possíveis fracassos escolares de seus alunos, entre as desculpas mais freqüentes esta a de culpar os pais pela falta de tempo no convívio com os filhos. Fato que acaba gerando alunos com problemas de aprendizagem, relacionamento, etc.

Cabe a sociedade, não só aos setores ligados à educação, através de pequenas ações o cotidiano da escola e da família, para que esta compreenda a importância dos objetivos traçados pela escola, que deve tornar possível ao aluno aquisição de conteúdos de forma mais atraente. A renovação de conteúdos de forma suscita a renovação dos métodos e das relações entre professores e alunos, das obrigações e da disciplina. Com a inovação dos métodos, os conteúdos não podem se tornar inconscientes, pois, devem proporcionar condições de conduzir a satisfação. A escola, enquanto instituição, já traz embutido o conceito de ordem, a necessidade de disciplina, utilizando-se de certas punições a fim de manter a ordem já estabelecida e tornar o aluno obediente e passivo como forma de dominação, nesse sentido, a escola acaba reduzindo a indisciplina e a agressividade do aluno.

Partimos do princípio de que nenhuma criança nasce agressiva, ela torna-se de acordo com o meio, pois limite e disciplina transitam no caminho do afeto e da liberdade, e isso se reflete nos locais onde ela se insere. Segundo Içami Tiba (1996, p.173) O maior estímulo pata ter disciplina é o desejo de atingir um objetivo.

Em termos operativos e sociais, o comportamento de qualquer cidadão deve estar baseado pelo menos em cinco princípios: Gratidão, Disciplina, Religiosidade, Cidadania e Ética. Estes valores devem estar presentes nos processos educativos familiares e escolares.

O desenvolvimento da indisciplina corresponde ao surgimento de um controle interno, uma obediência às regras que não dependa mais exclusivamente do controle dos pais ou de outras pessoas. Isso implica a assimilação racional das regras, o que faz surgir a reciprocidade, o respeito mútuo que vem a ser a capacidade de respeitar o outro e por ele ser respeitado.

1.1 Características da indisciplina e da agressividade

O comportamento de uma pessoa obedece a atitudes e valores mais ou menos internalizados. Os problemas de disciplina, que também podem ser chamados “de convivência”, nas escolas, são um reflexo de uma crise de valores que está se produzindo em nossa sociedade em geral, e claro, na escola como subconjunto institucional criado por esta sociedade. Em um mundo cada vez mais globalizado, a informação chega diariamente aos lares, mostrando uma infinidade de cenários de violência. Ao mesmo tempo, a família como instituição esta demonstrando fortes mudanças com a incorporação da mulher ao trabalho e a cada vez mais freqüente separação dos casais, transformando-se em mono parentais, no próprio lar, muitas crianças aprendem sobre a violência e os maus tratos, a falta de respeito com os mais velhos etc. Na rua, a aprendizagem do darwinismo social, a assunção de determinismos e contra-valores para a sobrevivência e a estima no bairro e no grupo.

Neste contexto, a criança chega a uma escola que pretende ignorar toda a bagagem de valores trazida por esta criança, e que se centra unicamente nas aprendizagens acadêmicas, por tudo isso exposta de maneira compartilhada, fracionando a realidade e impedindo o desenvolvimento de um sentido global e do complexo. Uma escola que pretende ignorar os interesses e vivências reais dos estudantes e impõe uma ordem hierárquica e normas de comportamentos sobre a base de um principio de autoridade. E não se deve perder de vista, para os estudantes de hoje a escola não tem o mesmo significado de algumas décadas atrás, pois boa parte já assumiu o seu meio de visão que não será assegurado mediante os estudos, e que aqueles que têm expectativas de estudos superiores advertem as dificuldades existentes hoje para encontrar emprego dentro de sua qualificação. Não nos surpreende que o estudante mais afetado por estes cenários, e ainda mais se, como já ocorre em muitos países, à escolaridade fundamental é obrigatória para toda a população, eventualmente mostre conatos de comportamento indisciplinado, violento, desrespeitoso e de ruptura. A escola não pode por si só modificar as causas que originam este problema, mas pode fazer o possível para não contribuir para isto e, pelo contrario, apresentar um quadro amigável, dialogador, pacifista, democrático e um currículo integrado, baseado em seus interesses e suas vivencias. De acordo com Içami Tiba (1996, p. 165) O aluno que não respeita os outros precisa ser educado ou ser tratado.

Isto nos leva a considerar que os problemas “de convivência” irão aparecer sempre, porém o importante não é só evitá-los, mas manejá-los de maneira educativa. Assim, em uma análise das características de indisciplina e agressividade mais freqüentes entre os estudantes, aparecem às seguintes:

a) Incompetência emocional, grande parte dos problemas de violência provém de uma falta de controle das emoções;

b) Aumento do individualismo, do egocentrismo, impedindo o aluno de ver o outro como um mediador na busca do conhecimento escolar, seja o outro professor ou o colega nas trocas indispensáveis nos trabalhos em grupo. Tentativas constantes de fazer a aula girar em torno de seus interesses e idéias;

c) Desapego da escola, as mesmas atitudes individualistas e a falta de sentido de cooperação levam a um desapego do aluno a respeito da instituição escolar como micro sociedade na qual convive em grande parte do tempo;

d) Condutas violentas, a aprendizagem da violência, em um contexto no qual esta aparece como única forma de solução dos conflitos leva a atitudes e comportamentos violentos, o que freqüentemente é potencializado pela incompetência emocional anteriormente assinalada;

e) Ausência de limites sociais gerando interrupções inoportunas, confusões, conflitos em sala de aula que perturbam o ambiente externo adequado a uma boa aprendizagem;

f) Desvalorização, desqualificação do professor, da situação escolar, dos conhecimentos escolares;

g) Tendência à intolerância, os contra-valores mencionados, de individualismo, competitividade, falta de solidariedade, etc., freqüentemente levam também a uma intolerância com o diferente;

h) Tensões, grande ansiedade junto com a conduta indisciplinada causando alterações no foco de atenção, atrapalhando a memória imediata e do meio prazo em testes e provas, perturbando as construções de relações lógicas apoiadas nas informações do momento e nas anteriores;

i) Atenção dispersa, dividida, voltada para as brigas, trapaças, roubos, etc., em que esteja envolvido direta ou indiretamente, ou seja, simples “torcedor” na sala de aula ou fora dela;

j) Perda de aulas por atraso ou retirada de sala por indisciplina ou ainda suspensões disciplinares, gerando descontinuidade na construção de determinados conhecimentos;

k) Não cumprimento de tarefas escolares fora do horário regulamentar que auxiliariam na desejada fixação e ampliação de conteúdos programáticos que seriam suportes para novos conhecimentos posteriores;

1.2 Razões da indisciplina e da agressividade

Desde alguns anos atrás, vai instalando-se em nossas sociedades, e de maneira especial em nossas escolas, a convicção de que os estudantes vão sendo cada vez mais indisciplinados e mal-ducados, mostrando comportamentos que interrompem o clima acadêmico da escola, quando não protagonizam agressões verbais e físicas, furtos, destruição do mobiliário, etc.O fato de que na escola surjam problemas de convivência não é nada novo. Sempre tem acontecido, se bem que o seu tratamento tem estado muito centrado nos aspectos punitivos e na seleção.

Pressupõe uma visão pobre ou psicologista das causas de problema, atribuindo-se à falta de interesse do aluno, à sua escassa capacidade, sua preguiça, ou inclusive, ao seu “caráter violento” etc., ou então se explica pela sua origem (classe social, raça, etc.), assumindo-se que os problemas sempre surgirão a partir destas classes sociais porque carecem de uma adequada educação, não tem expectativas de estudos posteriores, etc. No entanto, estes problemas são multicausais e têm sua raiz não apenas no ambiente social e nas mudanças socioeconômicas que vão se produzindo, diante dos quais as crianças são mais vulneráveis do que os outros, quanto as suas expectativas de futuro. Segundo Içami Tiba (1996, p.79) A educação escapou ao controle da família porque, desde pequena a criança já recebe influências da escola, dos amigos, da televisão e da internet.

A agressividade aqui colocada está focalizada como uma das manifestações da indisciplina e apresenta as seguintes razões:

a) Excesso de repressão, professor autoritário em classe, regras rígidas na escola, intolerância, etc. Podem provocar uma natural onda de revolta principalmente naqueles que não sejam passivamente submissos e queiram saudavelmente participar das atividades. Assim a indisciplina pode surgir como não aceitação do absolutismo e autoritarismo excludente. A repressão não educa;

b) Excesso de liberdade, professor e família permissivo em classe, escola sem direção, ausência de regras também na escola, etc. Quando os alunos ficam entregues aos próprios critérios de convivência os mais abusados podem não respeitar as autoridades naturais inerente aos educadores nem poupam os próprios colegas. Ausência de limites também não educa;

c) Problemas funcionais da escola, coordenador (ou diretor) desautoriza o seu próprio professor, funcionários que desacatam ou transgridem normas existentes na escola, etc. Quando os alunos percebem que podem jogar uma autoridade contra outra sejam quais forem os seus níveis hierárquico, o fazem para tirar beneficio próprio em detrimento da sua formação e capacitação, pelo prazer imediato de não ter que cumprir algo que deveria. Numa desavença entre professor e aluno, este pode desautorizá-lo já sabendo que o diretor, ou a Escola adota a filosofia do “aluno tem sempre razão”;

d) “Avental comportamental” ausente no professor, à sua função pedagógica, o professor tem que ter consciência de ser um representante da Escola. Quando um aluno o desrespeita em classe é a Escola que está sendo atingida através do professor, e não somente ele propriamente dito. Quando cada professor toma como um problema pessoal, cria na Escola um clima de anarquia, visto os professores serem diferentes entre si. Da anarquia nasce a indisciplina. O “avental comportamental” do professor representa o comportamento padrão dos representantes da Escola em relação às indisciplinas mais comuns. Este padrão é estabelecido no começo do ano letivo com todo o corpo docente presente que após mapear quais as indisciplinas mais comuns que ocorre na Escola votam quais os procedimentos que todos os professores devem tomar. A indisciplina do aluno deixa de ser somente um problema contra um determinado professor e passa a ser entendido como um desacato à Escola;

e) “Coerência, Constância e conseqüência, são um princípio presentes nos educadores nos seus próprios comportamentos e ações educativas em relação aos educandos. No lugar de castigos que pouco educam, o importante é que os educandos assumam as conseqüências de suas transgressões e indisciplinas. A diferença entre castigo e conseqüência é que este busca o educando aprender com o erro. O educando aprende com o custo da conseqüência e não com a pena do castigo;

f) “Decoreba” como indigestão do aprendizado, o aluno seria o equivalente a um empregado que trabalha somente no dia do pagamento, passando o resto do mês “sem ter o que fazer”, portanto, propenso à indisciplina. Decoreba é o método usado pelos alunos, e aceito pelos professores, deles “engolirem um livro na véspera da prova”. Vão cheios de rituais na prova porque não sabem a matéria, pois quem sabe não precisam de rituais. O material “engolido” é perecível (dura somente ate a hora da prova) e descartável (usou uma vez já não se lembra mais). Usa somente como entrou porque não faz parte do corpo de conhecimento do aluno;

g) “Estrupador Mental” é o professor maquina de dar aula que não prepara o aluno para receber a sua aula. Como qualquer boa refeição que requer uns aperitivos, para uma boa aula o professor precisa aquecer os cérebros dos alunos presentes para recebê-la;

h) Professor “decoreba” é o professor que “decorou” a aula que vai dar e a repete todos os anos iguaizinhos à do ano anterior, talvez por mais de 20 anos. È um professor retrógrado que estimula o decoreba. A sua sala parou no tempo e ficou totalmente fora do contexto atual, isto é, muito distante do cotidiano do aluno, gerando seu desinteresse. Isso gera indisciplina;

i) Pais desinteressados no aprendizado, mas querem aprovação, são pais retrógrados que mandam os filhos para a escola para serem aprovados e não aprenderem a ampliar o seu mundo e crescer. O que lhes interessa é o diploma. O que faltar futuramente aos filhos os pais está disposto a supri-los. Assim os filhos estudam o suficiente para passar de ano. Então eles sendo preparado para o futuro trabalharem o suficiente para não serem despedidos quando empregados e/ou pagarem o mínimo necessário para seus empregados não os abandonarem, caso sejam empregadores;

j) Pais que terceirizam para Escola a educação dos seus filhos, hoje há pais que por perderem suas referencias educativas delegam à escola a responsabilidade de educar os seus filhos. Para a escola, os alunos são meros “transeuntes curriculares” isto é, mudam de escola num piscar de olhos por qualquer motivo e saem da escola quando terminam o curso. Mais para os pais, os filhos são para sempre. Filhos são como navios. Os pais são os estaleiros que fabricam os navios e a escola vai capacitá-los através de instrumentos que vão auxiliá-los a navegar pelos mares muitas vezes desconhecidos dos seus próprios pais. Portanto escola e pais têm funções diferentes, mas complementares. Os pais não devem jamais abrir mão de educar seus filhos. Como ninguém consegue dar o que não tem, é importante que os pais sejam progressivos e se preparem para poder dar uma boa educação aos seus filhos. São retrógados os pais que por encontrarem dificuldades abandonam suas funções e passa a ser muito cômodo poder cobrar dos outros as suas próprias falhas, estas falhas vão gerar indisciplina;

k) Drogas, um grande problema que infelizmente esta aumentando, sejam elas licitas ou ilícitas, elas prejudicam o desempenho escolar e relacional dos alunos. O usuário fica à mercê dos seus defeitos químicos e sua vontade já não esta mais sob o seu controle. Assim ele passa a fazer o que a droga lhe permite. Uma das primeiras estruturas a serem tiradas de função é o superego. È ele que nos torna adequado a diversos meios que freqüentando e consigamos ter força de vontade e produtividade.

Na ausência, o usuário fica mais a disposição dos seus instintos e vontades que não combinam com o assistir aulas, fazer provas, respeitar outras pessoas como professores, colegas, etc. è importante que os educadores estejam preparados, no mínimo informados, para lidar bem com seus usuários;

1.3 Bulling

É uma agressividade crônica, destrutiva, normalmente aceita pelos circundantes como brincadeira, mesma que seja de mau gosto, que acaba com a auto-estima de sua vítima, através da intimidação, do aterrorizar, e atormentar, colocando apelidos, cutucando ou mesmo ofendendo com palavras e atos incluindo destruir também seus pertences como material escolar, roupas, etc. A vítima se sente perseguida, humilhada e acaba se isolando como se o problema fosse dele. Fica mais quieto, seu rendimento escolar e relacional cai, perde interesse em sair de casa, muito menos ir ao local onde acontece o “bulling”. A vítima é uma pessoa que já pode estar sofrendo de algum complexo de inferioridade por ser diferente, ter nariz grande, baixa ou alta estatura, problemas de pele, espinhas, etc.

Quando sobre este quadro íntimo, os colegas ainda reforçam seus problemas, a relação da vítima consigo própria e com o mundo que a cerca piora muito. Esse sofrimento todo pode provocar uma reação violenta atingindo seus colegas e também a si mesmo. Existem relatos de alunos, vítimas do bulling, que matam seus colegas e depois se suicidam. Para evitar complicações do bulling é preciso que toda a escola seja mobilizada para identificar onde ele esteja acontecendo e interferir severamente para que seja interrompido. A própria vítima não tem forças para se defender. Assim que souber que seja o primeiro a delatar o bulling e impedir o seu crescimento. Quem se cala é conivente ao bulling.

1.4 Evidências da indisciplina e agressividade na família

Ninguém desconhece que a falta do amparo familiar, mais precisamente a carência afetiva durante a infância, pode conduzir a uma deterioração integral da personalidade, e consequentemente do comportamento. Segundo ensinam os psicólogos, os comportamentos de cuidado maternos são tão indispensáveis para o futuro da criança que, na sua falta, se encontram as raízes fundamentais do desajuste infantil, que acaba no adulto desajustado. Quando o relacionamento familiar é precário, certamente irá influenciar nos relacionamentos sociais de seus membros, principalmente dos filhos.

Alguns pais não têm noção do mal que causam aos seus filhos quando não estabelecem limites para eles, atendendo todos os seus desejos sem questioná-los, crianças que não sabem controlar suas vontades, provavelmente não saberão lidar com problemas corriqueiros do seu dia-a-dia.

Segundo Içami Tiba (195, p. 43) Quando falha o grande controlador, que é a família, representada na figura dos pais, os abusos começam a acontecer. E, quando um abuso é bem sucedido, ele se estende para social, na delinqüência, na compulsão pelas drogas. Quando a família deixa o filho fazer sempre suas vontades, este com certeza criará problemas futuros., essa forma de educar os filhos, baseado no amor incondicional sem estabelecer as devidas restrições, dizendo com firmeza não e sim na hora certa, com explicações moderadas e objetivas estão levando as crianças a se tornarem jovens automaticamente dependentes, sem autocontrole e inseguros, incapazes de solucionar problemas que surgem na dinâmica de sua própria vida, sem perspectiva de uma vida futura progressiva, sem realizações enriquecedoras e positivas. Tendo em vista que o ser humano é por excelência insaciável, seus instintos de necessidades infinitas não são trabalhados e contidos por regras e pulso firme de seus pais, quando adultos, estarão sempre insatisfeitos com sua própria vida e com o mundo.

A ausência de limites, instituídas na educação familiar por pais demasiadamente tolerantes, fecunda conseqüências desastrosas, produzindo crianças indisciplinadas, extremamente agressivas, insolentes, rebeldes, por conseguinte vivem sempre em conflitos internos, demonstram insegurança em tudo realizam, crescem ampliando paralelamente sentimentos nada plausíveis, como o egoísmo e a intolerância, pois estão sempre convictos de que as pessoas que os rodeiam, que matem contato independente de que seja sua mãe ou não, estarão a sua disposição para satisfazer suas necessidades. (santos, 2002, p. 46)

Geralmente, pais que satisfazem todos os desejos instintivos de seus filhos, superprotegendo, afirmam que fazem tudo para vê-los alegres, com efeito, ao verem que as ações de seus filhos são antagônicas as suas expectativas, cometem atitudes irresponsáveis, não respeitam os outros provocam brigas em qualquer ambiente ao mesmo tempo em que não desempenham com dignidade e de forma espontânea as atividades escolares e extra-escolares. Içami Tiba (1995), comenta que a disciplina é algo vivo, que confere satisfação nos próprios atos de se organizar, de realizar e do colher. Cada etapa precisa ter a própria satisfação para animar a pessoa a seguir em frente.

Souza (2001), diz que é impossível a permanência de coesão familiar sem alguém que exerça com segurança e continuidade o princípio aglutinador da autoridade respeitosa, e estimulando as dimensões das possibilidades se as crianças são capazes de realizar, seus potenciais que estão escondidos e que com esforço desabrocharão, tornando-se um ser maduro e fortificador. A satisfação consigo mesmo, depende em última instância do bom uso da liberdade aprendia desde a infância.

Pelo exposto, pode-se compreender que, a firmeza dos pais, sendo proteção contra o domínio do capricho e fonte de bem estar, tendo em vista que irá permitir quando jovens a conscientizar-se de suas tendências, de conhecer a si mesmo e dos outros, o progresso intelectual e equilíbrio emocional consciente, o significado da responsabilidade.

A interiorização das boas condutas não acontece por si só, exige de pais a autoridade equilibrada dizer sim e não nos momentos apropriados em função da firmeza, do bom senso e da integridade no caminho da vida, baseando nesses preceitos, vale ressaltar que é conveniente dar oportunidade nas circunstâncias oportunas de os filhos expressarem seus aborrecimentos contra eventuais injustiças e incompreensões do dia-a-dia.

1.5 Evidências da indisciplina e agressividade na escola

A indisciplina e a agressividade em meio escolar é uma temática claramente inscrita na ordem do dia e um fator de preocupação para muitos pais, sendo que a forma como muitas vezes é abordada, desligada dos fatos concretos e dos contextos reais em que ocorrem, pode tender a dar das nossas escolas uma imagem pouco realista, acentuado, em muito, problemas que efetivamente existem, mas que, na maior parte dos casos não serão particularmente graves.

Em muitos discursos sobre esta temática, é também relativamente freqüente a procura dos culpados, para poder responsabilizar ou mesmo punir, sejam eles os jovens que “não tem regras”, os pais que “não os sabem educar”, ou os professores que “não sabem impor a disciplina”. Parece-me, no entanto, bem mais importante procurar perceber as causas de certos comportamentos e atitudes, que são certamente muitas e variadas, exteriores e interiores à escola, o sentido de nelas intervir, prevenindo os fenômenos de indisciplina e da agressividade.

A indisciplina e a agressividade manifestam-se de diversas formas na vida de um estudante, e apesar da bagunça e do barulho não serem as únicas formas, são elas as formas que mais se destacam na sala de aula. Pois quase sempre a indisciplina passa a ser vista como um problema quando a sala começa “a pegar fogo”, ou seja, quando sofrem influência no comportamento dos alunos e é percebida na “bagunça”, no “barulho”, na “falta de atenção” e de forma mais agravante na agressividade. Nessas horas, é que realmente a preocupação do professor cresce e o faz pensar sobre a indisciplina do aluno.

Ações indisciplinadas na escola são traduzidas em comportamentos como: empurrar e bater nos colegas, destruir ou pegar seus materiais e trabalhos, sair dos seus lugares e da sala de aula com freqüência e sem permissão, pedir para ir toda hora ao banheiro, conversar muito durante as explicações do professor, dispersão ou negação em participar das atividades. Tais atitudes acima citadas não violam as normas legais da sociedade, caracterizam-se por atos que afetam a vida das escolas, mas estão longe de serem consideradas ações delinqüentes e/ou patológicas. De acordo com Içami Tiba (1996, p.178) O exemplo é muito importante na educação. Quem sabe fazer, aprendeu fazendo.

Na verdade, a indisciplina poderia ser percebida muito antes de tornar-se um problema de comportamento como a bagunça ou a agressividade, que são formas de expressão da total falta de respeito com os estudos. O não acompanhamento das aulas já é um forte indício de indisciplina. Se os professores partirem do princípio que todo aprendiz quer aprender (mesmo quando esta vontade está escondida no consciente), então, pode concluir que o mínimo de organização e disciplina o aluno apresente para alcançar o aprendizado. A ausência de disciplina e a falta de organização nos estudos começam a aparecer quando o aluno começa a perder essa vontade intrínseca de querer aprender, e com o passar do tempo tornar-se um enfado, ou seja, deixa de ser vontade e passa a se quase um sacrifício.

Um mesmo ato indisciplinado acaba tendo a mesma conseqüência para alguém que agiu pela primeira vez e para o reincidente. Apenas com o desenvolvimento da capacidade cognitiva e com a experiência no grupo social é que o adolescente começará a ser capaz de julgar o certo e o errado, considerando as circunstâncias. Tudo isso para demonstrar que a caminho, sedimentado com coerência, consistência e a intervenção sistemática da escola, família e sociedade. Por isso a influencia da agressividade e da indisciplina no processo de ensino-aprendizagem será melhor trabalhada e superada com a união de todos os responsáveis neste processo, tendo como objetivo principal a formação integral do indivíduo.

2. AÇÃO DOCENTE FRENTE AO ALUNO INDISCIPLINADO E AGRESSIVO

Atualmente começam a adquirir maior importância os problemas de disciplina e convivência nos centros educativos, especialmente no período das séries superiores do ensino fundamental. Sem perder de vista que esta problemática faz parte de um momento de crise que invade nossas sociedades e afetando instituições educadoras tradicionais como a família, e igreja e a escola, entendemos a tal problemática pode ter um tratamento curricular indo além do simples agravamento das medidas regulamentares punitivas. Como diz Içami Tiba (1996, p.179) Um desrespeito aos pais pode ser relevado, aos professores já implica em advertência, e às autoridades sociais, há punição.

A indisciplina e a agressividade constituem-se em um desafio para os docentes, representa um dos principais obstáculos ao trabalho pedagógico, demonstra a ausência de regras e limites por parte da criança. Necessitamos de uma postura compartilhada em relação à indisciplina, investindo na prevenção. A escola deve funcionar através de espaços e tempos geridos com critérios adequados à participação e ao diálogo entre os alunos e destes com os professores, onde o problema deve ser contextualizado, analisando as suas causas profundas e favorecendo a mobilização de ações alternativas.

2.1 Preparo do professor para lidar com alunos-problemas

Estamos vivendo um momento de desafio em nossas escolas, assistimos um aumento considerável da indisciplina e atos violentos, bem como as preocupações de professores e pais em relação ao comportamento escolar dos alunos, precisando ser melhor refletido e enfrentado.

O problema é complexo e muitas vezes os professores buscam "receitas prontas" que se revelam ineficazes quando aplicadas à situação concreta. Um dos maiores problemas que o professor pouco experiente enfrenta é a criação de um clima favorável a aprendizagem na sala de aula, onde se integra a análise de situações indesejáveis e a gestão do comportamento do professor

A disciplina escolar não consiste em um receituário de propostas para enfrentar os problemas de comportamentos dos alunos, mas em um enfoque global da organização e a dinâmica do comportamento na escola e na sala de aula, coerente com os propósitos de ensino. [...] Para isso é preciso, sempre que possível, antecipar-se ao aparecimento de problemas e só em último caso reparar os que inevitavelmente tiverem surgido, seja por causa da própria situação de ensino seja por fatores alheio à dinâmica escolar. (Gotzens, 2003, p. 22)

Precisamos incentivar comportamentos de trocas, diálogos, estimulando a análise, criticando os alunos sobre situações variadas. Podemos evitar, desencadeando situações de indisciplina. Para isso precisamos gerir adequadamente a turma, levando em consideração que muitos vivem em contextos familiares desestruturados. É, portanto, necessário incentivar as famílias a acompanhar a educação de seus filhos.

Os professores não têm recebido formação inicial que lhes permita gerir de forma eficiente os conflitos, torna-se necessário que a formação contínua desenvolvida nas escolas proporcione uma reflexão pautada em subsídios teóricos e autores recentes na área da educação, que possibilite uma intervenção esclarecida. Cabe à escola impor regras de maneira coerente, prevenindo tratamento desigual e trabalhando os conflitos emergentes. Precisamos entender que a construção de uma nova disciplina é tarefa de todos, pais, alunos, professores e comunidade, por meio de um planejamento participativo, que tenha a ação de todos, de forma ética, lembrando que é um processo que vai se construindo de forma gradativa e necessita de acompanhamento.
Segundo Juan Carlos Tedesco (Revista Nova Escola, edição nº156, out/02) É a escola que deve ser autônoma, não a sala de aula. Isso faz com que a responsabilidade diante dos resultados seja mais coletiva.

O professor precisa desempenhar seu papel, o que inclui disposição para dialogar sobre objetivos e limitações e para mostrar ao aluno o que a escola (e a sociedade) espera dele. Só quem tem certeza da importância do que está ensinando e domina várias metodologias consegue desatar esses nós. De acordo com a psicóloga e pesquisadora em educação Tânia Zagury (Revista Nova Escola, edição nº149, jan./fev.02) Quando há relacionamento de afeto e um professor atencioso, qualquer caso pode ser revertido em pouco tempo.

Acreditamos que esses alunos-problemas têm um porquê e um para quê e nós precisamos nos ajudar, porque sozinhos não conseguiremos ser uma escola de fato. Uma escola que pensa na vida, partindo da vida das pessoas... Está na hora de repensarmos o processo, a teoria que nos embasa, o currículo, a gestão e o conselho escolar; de repensarmos se estamos apenas brincando de democracia. Ser professor nunca foi uma tarefa simples. Hoje, porém, novos elementos vieram tornar o trabalho docente ainda mais difícil. A disciplina parece ter-se tornado particularmente problemática. Na escola são vistas como alunos problemas, em casa como bagunceiras ou, dependendo do caso, distraídas. Essa é a realidade de crianças com sintomas de inquietação, baixo rendimento escolar, dificuldade nos relacionamentos, ansiedade, agressividade e resistência a receber ordens.

Segundo Gadotti (1995), são necessárias algumas diretrizes básicas, dentre as quais estão: a autonomia da escola, incluindo uma gestão democrática, a valorização dos profissionais de educação e de suas iniciativas pessoais. Oportunizar uma escola de tempo integral para os alunos, bem equipada, capaz de lhe cultivar a curiosidade e a paixão pelos estudos, a curiosidade e a paixão pelos estudos, a valorização de sua cultura, propondo-lhes a espontaneidade e o inconformismo. Inconformismo traduzido no sentimento de perseverança nas utopias, nos projetos e nos valores, elementos fundadores da idéia de educação e eficazes na batalha contra o pessimismo, a estagnação e o individualismo.

O preparo e bom senso do professor é o elemento chave para que essas questões possam ser melhores abordadas. A problemática varia de acordo com cada etapa da escolarização e, principalmente, de acordo com os traços pessoais de personalidade de cada aluno. De um modo geral, há momentos mais estressantes na vida de qualquer criança, como por exemplo, as mudanças, as novidades, as exigências adaptativas, uma nova escola ou, simplesmente, a adaptação à adolescência. As crianças e adolescentes como ocorrem em qualquer outra faixa etária, reagem diferentemente diante das adversidades e necessidades adaptativas, são diferentes na maneira de lidar com as tensões da vida. É exatamente nessas fases de provação afetiva e emocional que vêem à tona as características da personalidade de cada um, as fragilidades e dificuldades adaptativas.

Erram alguns professores menos avisados, ao considerar que todas as crianças devessem sentir e reagir da mesma maneira aos estímulos e às situações ou, o que é pior, acreditar que submetendo indistintamente todas as alunas às mais diversas situações, quaisquer dificuldades adaptativas, sensibilidades afetivas, traços de retraimento e introversão se corrigiriam diante desses “desafios” ou diante da possibilidade do ridículo. Na realidade podem piorar muito o sentimento de inferioridade, a ponto da criança não mais querer freqüentar aquela classe ou, em casos mais graves, não querer mais ir à escola. Rumo ao 3º milênio é imprescindível que vivenciemos o paradigma da inclusão social, que objetiva uma sociedade para todos, incluindo a inserção escolar de pessoas com diversos tipos de deficiências em todos os níveis de ensino. A escola precisa se reestruturar para atender às necessidades de seus alunos, respeitando e acolhendo todo aspecto da diversidade humana. Reconhecemos que é um desafio. Um desafio necessário para o reconhecimento do aluno em potencial, que exige uma nova postura pedagógica frente à relação desenvolvimento aprendizagem. A partir de uma visão sócio-histórica que compreenda as diferenças enquanto construções culturais, percebendo como lidar com o indivíduo que se relaciona e expressa o movimento da sociedade em que vive.

Com algum preparo e sensibilidade o professor estaria mais apetrechado do que os próprios pediatras, dispondo de maior oportunidade para detectar problemas cruciais na vida e no desenvolvimento das crianças. Dentro da sala de aula há situações psíquicas significativas, nas quais os professores podem atuar tanto beneficamente quanto, consciente ou inconscientemente, agravando condições emocionais problemáticas dos alunos. Os alunos podem trazer consigo um conjunto de situações emocionais intrínsecas ou extrínsecas, ou seja, podem trazer para escola alguns problemas de sua própria constituição emocional (ou personalidade) e, extrinsecamente, podem apresentar as conseqüências emocionais de suas vivências sociais e familiares. Como se sabe, a escola é um universo de circunstâncias pessoais e existenciais que requerem do educador, ao menos uma boa dose de bom senso, quando não, uma abordagem direta com alunos que acabam demandando uma atuação muito além do posicionamento pedagógico e metodológico da prática escolar. O tão mal afamado "aluno-problema", pode ser reflexo de algum transtorno emocional, muitas vezes advindo de relações familiares conturbadas, de situações trágicas ou transtornos do desenvolvimento, e esse tipo de estigmatização docente passa a ser um fardo a mais, mais um dilema e aflição emocional agravante. Para esses casos, o conhecimento e sensibilidade dos professores podem se constituir em um bálsamo para corações e mentes conturbados, essas crianças geralmente são incompreendidas tanto em casa como na escola. Também costumam ser marginalizadas e isoladas pelos colegas. Nesse caso, é importante que a escola ofereça atendimento e acompanhamento personalizado, para estimular o crescimento pessoal e social dessas crianças, educação deve ser uma parceria, senão não funciona.

2.2 - Atitudes docentes para melhoria comportamental dos alunos

Quando imaginamos uma sala de aula, pensamos em um lugar onde os alunos estejam em silêncio, prestando atenção ao professor, que está dando aula, onde os alunos, quando querem perguntar, levantam a mão e só podem falar após autorização do professor. Nessa relação valorizam-se mais o professor, como se o ensino-aprendizagem partisse do mais sábio para o menos sábio, do mais experiente para o menos experiente.... E como vimos na relação na sala de aula todos aprendem. E o professor deve principalmente aprender como se relacionar melhor com seus alunos e desenvolver sua aprendizagem. Este desnível provocado pela idéia de que o professor sempre sabe mais sobre tudo pode dar maior poder ao professor. Esse poder, muitas vezes, gera alunos passivos, e obedientes, mas pouco envolvidos no processo ensino-aprendizagem.
Sobre isso os conhecimentos da área de psicologia nos ensinam que:

  • É importante, na sala de aula, estabelecer uma relação que favoreça a construção conjunta do conhecimento;
  • O professor é mediador no processo de aprendizagem e responsável pelas condições para que ela ocorra;
  • O conhecimento prévio, trazido pelo aluno, deve ser valorizado e uti1izado na construção do conhecimento.

O que notamos na relação professor-aluno é uma diversidade muito grande, própria das diferenças existentes entre os sujeitos.

Mas, você pode perguntar: o que seria de uma sala de aula onde não houvesse diferenças, onde todos pensassem iguais?

Provavelmente estaria comprometida a interação social responsável pelo alargamento do conhecimento, pelo processo de ensino-aprendizagem.

A riqueza da aprendizagem está no fato de poder contar com cada aluno, com colegas partilhando de experiências, de iniciativas, de potencialidades, onde cada um atua com elemento formador do outro.

Um aluno que tenha uma auto-imagem negativa, que se considera um fracassado, mesmo reconhecendo a sua dificuldade, provavelmente vai buscar nas outras pessoas que estão ao seu redor responsabilidade pelo seu fracasso? Dirá que o professor é chato, ou que a matéria não serve para nada ou mesmo que os colegas é que são ruins. Esse aluno acaba por desenvolver comportamentos problemáticos na sala de aula, ou torna-se indisciplinado.

Para lidar com a indisciplina, em primeiro lugar, é importante que o professor garanta em sua relação com os alunos condições igualitárias de participação, proporcionando diferentes contribuições para o processo de aprendizagem. Na verdade, a questão da indisciplina ou da disciplina tem sido muitas vezes utilizada para justificar práticas autoritárias por um lado e, de outro, estimular uma espécie de domínio por parte os aluno, o que prejudica o projeto pedagógico da escola.

Em segundo lugar, fazer da inquietação, da agitação e da movimentação elementos que possibilitem o ato de conhecer. Transformar o que aparentemente denominamos indisciplina em disciplina poderá estar construindo, na interação da sala de aula, o surgimento da criatividade e o nascimento do novo.

Você pode observar que tanto o aluno “problema” como o aluno “excelente” possuem uma característica comum, que é o querer se mostrar, ou tornar-se visível. Eles se tornam visíveis, nos fazendo felizes ou nos fazendo sofrer. É importante notar que, enquanto esses tipos de aluno aparecem mais, os outros, considerados “normais”, correm o risco de cair em uma zona sombria, do esquecimento. Não podemos nos esquecer de que cada aluno é singular, único, diferente do outro.

O fato de dar importância apenas aos aspectos considerados negativos ou positivos do comportamento de um aluno pode fazer com que não prestemos atenção na relação que estamos construindo com ele dia-a-dia. Essa postura provavelmente fará com que evidenciamos uma prática muito comum, que é a superficialidade com que a escola ou cada um de nós se relaciona com os outros, com o saber e com a própria vida. Dessa maneira, aquilo que consideramos problema, na nossa relação com os alunos, deve ser transformado em um momento de reflexão sobre nossa prática, sobre as dúvidas que aqueles alunos-problema fazem nascer em nós a respeito de nosso papel de professores-educadores. Cabe então, ao professor, enquanto educador, participar da formação de seus alunos, garantindo uma relação que evite que uns se calem, outros apenas obedeçam e outros dominem, estabelecendo condições para a colaboração, a compreensão mútua e uma boa comunicação.

A intervenção do professor é fundamental para que as interações sociais que acontecem na sala de aula façam parte da formação de todos os que dela participam. É importante fornecer aos alunos referencias que possibilitem uma relação de confiança e respeito mútuo para que as questões afetivas, emocionais, presentes no processo de aprendizagem, possam ser discutidas e ressignificadas.

O papel do professor é desafiador: estimular e mediar o conhecimento com seus alunos. Para exercer esse papel, é necessário:

  • Que sejam criadas atividades que promovam reflexão coletiva
  • Que a relação professor-aluno seja parte do conhecimento a ser construído na sala de aula,
  • Que sejam utilizados os recursos existentes em sua região, no desenvolvimento de atividades pedagógicas que promovam a disciplina necessária ao processo de aprendizagem.
  • O professor não pode esquecer que, antes de mais nada é um agente cultural, um pesquisador e um contínuo aprendiz. Como disse Guimarães Rosa: “Professor é quem, de repente, aprende”, e em sua prática escolar ficam alguns desafios, tais como:
  • Transformar os problemas identificados nas relações com seus alunos em condições para se trabalhar a formação da cidadania.
  • Sair do lugar de autoridade detentora do saber e do poder, e aprender a lidar com as indisciplinas presentes na sala de aula.
  • Possibilitar que as relações professor-aluno e aluno-aluno sejam uma relação de confiança que dê conta das questões afetivas que permeiam o processo de ensino-aprendizagem.
  • Resgatar, juntamente com seus alunos, o papel de autores que elaboram escreve e constrói a história.
  • Realizar intervenções que propiciem aos alunos saber respeitar as diferenças, estabelecer vínculos de confiança e uma prática cooperativa e solidária.

Concordamos com o Mestre Paulo Freire, quando ele diz que a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.

3. AÇÕES PREVENTIVAS DA INDISCIPLINA E AGRESSIVIDADE ATRAVÉS DE TEMAS TRANSVERSAIS

A indisciplina e a agressividade representam um dos principais fenômenos que geram dificuldades no contexto escolar. Esse fato vem se agravando de tal forma que nem a escola, nem a família conseguem solucionar o problema. Tal fenômeno é caracterizado de diversas formas, porém, as idéias acerca desse tema estão longe de serem consensuais. Procuramos discutir os sentidos atribuídos por alunos do ensino fundamental ao fenômeno “indisciplina e agressividade escolar”, as causas que são consideradas por eles como geradoras desse fenômeno e a avaliação das medidas que estão sendo tomadas para resolver ou amenizar o problema. Partimos do pressuposto que, se desejamos intervir na realidade educacional, devemos conhecer, de antemão, a forma como os sujeitos que estão envolvidos nessa realidade compreendem os dilemas que vivenciam e as alternativas de modificação dessa situação. Piaget (1977, p. 435) define as normas morais "como regras racionais de acordo mútuo”. Uma norma é boa quando satisfaz as "leis da reciprocidade" e para reconhecer se uma norma é boa, a criança "terá de colocar-se numa perspectiva que se harmonize com outras perspectivas."

Os sentidos atribuídos pelos alunos ao fenômeno refletem uma pluralidade de terminologias. Não é um problema que poderá ser resolvido de forma isolada, somente abrangendo a esfera escolar. Faz-se necessário uma aproximação maior entre a escola, a família e as esferas públicas, como o conselho tutelar, as promotorias de infância e de adolescência, as universidades (professores e, principalmente, os acadêmicos que estão em formação em diferentes áreas), visando um trabalho integrado, não apenas discutindo as dificuldades existentes no contexto escolar, mas com a inserção desses novos olhares possibilitarem uma ressignificação das formas e modelos de intervenção nesse contexto.

A prevenção não depende só da inteligência ou da quantidade de informação recebida, mas do crédito dado a essa informação. (Içami Tiba, 1996, p. 189)

Em nossas atividades preventivas junto aos professores e aos pais de diversas escolas, temos notado diversas queixas e inabilidades no que tange a temática da disciplina de alunos, principalmente crianças e pré-adolescentes, Educadores em geral, tanto professores quanto coordenadores e diretores, têm se queixado bastante em função de falta de disciplina e comportamentos inadequados de alunos nas salas de aulas e nas demais atividades educativas realizadas nas escolas.
Inicialmente, convém destacar que os seres humanos são bastantes diferentes uns dos outros e muito complexos. Assim, uma criança ou um pré-adolescente apresenta diferentes comportamentos conforme o ambiente e a situação em que se encontra. Muitas vezes, o aluno "excessivamente agitado" não se apresenta assim em todos os ambientes. É bastante comum que surjam queixas realizadas por professores de uma escola e que não apresentam respaldo de todos os educadores da entidade. Há alunos que são agitados e inconvenientes para uns professores e apresentam-se de forma bastante distinta em outras aulas. Resta-nos avaliar se o fator que faz com que a falta de atenção e o comportamento inadequado do aluno não provém do próprio comportamento do professor. “A escola deveria ser um local de alegria para os alunos e também para os professores (Snyders, 1996, p. 33).

Há professores que por terem dificuldades de lidar com a disciplina ou por cansaço e desesperança na profissão, acabam elegendo alguns alunos para bodes expiatórios. Assim, a responsabilidade por todos os problemas que possam ocorrer durante as aulas, são sempre dos mesmos alunos. Cria-se assim um grupo de alunos que são considerados como "terrivelmente agressivos", em geral liderados por um líder que é visto como "muito maléfico" (segundo as expressões usadas por professores).

Convém analisarmos que os professores, muitas vezes, não se encontram bem preparados para lidar com a indisciplina e com os conflitos que possam surgir de disputa de poder com os alunos. Ressaltamos não ser um bom caminho entrar em choque direto com os alunos e tentar impor-se, apenas, de forma ditatorial. Nunca é demais lembrar: autoridade e autoritarismo são conceitos muito distintos.

Além disso, há muitos professores que fazem questão de passar uma imagem muito negativa, de alguns alunos ou mesmo de uma sala inteira, aos seus colegas de profissão. Todos nós sabemos a influência que um pré-conceito pode gerar em novas situações. Desta maneira, os novos professores já vão àquela sala esperando lidar com uns "delinqüentes mirins", não dando chances para que as novas relações entre educadores e alunos possam ser estabelecidas de maneira distinta. De quem é a responsabilidade então? Infelizmente, dos adultos, professores que não conseguem lidar com as dificuldades docentes e que passam a influenciar os colegas de profissão em sua "cruzada pelo bom comportamento", contra as crianças.

Não estamos falando que os alunos em questão sejam fáceis ou anjinhos e os professores os únicos culpados, muitas vezes, a proposta educacional, ou seja, o plano pedagógico da escola não dá margem ao diálogo. Os alunos nunca têm voz ativa e pouco participam de decisões. Assim, os alunos mais "sensíveis" (de acordo com uma visão que tenta ser politicamente correta de alguns educadores, mas que reforça o preconceito) reagem negativamente, causando boicotes e tornando-se inadequados. Os educadores, por sua vez, não podem usar criatividade e tentar incluir, da melhor maneira possível, os alunos tidos como "problemáticos" em suas aulas.

Evidentemente, os alunos devem aprender desde a mais tenra infância a abrir mão, em alguns momentos, da realização direta de seus desejos, para que possam estar em grupo e viver numa comunidade (no caso as classes de aula). Todavia, um dos papeis de educador não é exatamente o de possibilitar esse crescimento e amadurecimento para as relações pessoais por parte dos alunos? O que ocorre que impede essa realização?

Alguns dirão que a educação e os ensinamentos de limites são papeis das famílias. Têm razão os que assim pensam. Acontece que as famílias têm tido pouco tempo e não conseguem exercer o seu papel de educação das crianças. Além disso, a televisão ainda exerce uma influência negativa no que tange à aquisição de limites pelas crianças. Então, o "problema" estoura na escola, dentro e fora das salas de aulas.

Indisciplina, agressividade, inquietação e mau-humor são sintomas que podem indicar problemas psicológicos de crianças e adolescentes, como no caso da hiperatividade e de outros transtornos psíquicos apresentados por alguns alunos.

Entretanto, antes de mandarmos "todos os alunos de um determinado grupinho" aos divãs de psicólogos, devemos analisar se os problemas não estão mais relacionados aos adultos, à equipe de educadores das escolas, enfim, ao plano pedagógico e às relações estabelecidas pelos adultos e os seus alunos. "Devemos ser como os geógrafos, que sobem à montanha para conhecer a planície e descem à planície para melhor ver a montanha” (Napoleão Bonaparte).

Sabemos a importância de uma análise da equipe e de qualificações constantes para melhor desempenhar o papel de educadores. A reciclagem é uma das principais ações que as escolas deveriam ofertar aos seus profissionais (incluindo os funcionários que, diga-se de passagem, exercem importantes papeis de educadores). Enfim, a questão da disciplina e dos relacionamentos entre professores e alunos não deixa de ser um tema de Educação Preventiva. Assim, deve estar em constante pauta de trabalho e aperfeiçoamento pelas equipes docentes das entidades de ensino. “lutar pela alegria na escola é uma forma de lutar pela mudança no mundo” (Snyders, 1995, p.10).

3.1 Abordagens dos temas transversais

Entre as medidas que deveriam ser adotadas em uma escola para enfrentar os problemas de convivência, sem renunciar por isto aos princípios de compreensividade e de escola educadora, está à medida de dar maior ênfase aos aspectos preventivos do que aos meramente punitivos. Entre as medidas preventivas está a criação de um currículo que seja negociado com os interesses dos alunos, para o qual uma via adequada e ao alcance dos nossos sistemas educativos é a de trabalhar com os temas transversais, que se trata apenas de desenvolver a declaração retórica de todos os sistemas educativos de perseguir uma educação integral das pessoas, tais como:

a) Educação para a paz: como tema que promove o valor-meta desenvolvendo o conhecimento, as atitudes e as destrezas para a solução dialogada, não-violenta dos conflitos interpessoais, tão freqüentes em coletividades onde convivem pessoas diferentes.

b) Educação emocional: um tema transversal visando uma questão que está muito relacionada aos problemas de convivência, especialmente na adolescência, como o controle das próprias emoções, o respeito e a atenção às emoções dos outros.

c) Educação intercultural: perante o fato de que, de forma crescente, nossas salas de aula vão se tornando cada vez mais multiculturais, às vezes surgem conflitos derivados da falta de tolerância e de assunção de valores xenófobos aprendidos fora da escola. Uma educação intercultural promoverá um maior conhecimento e integração de outras culturas, promovendo a noção de enriquecimento mútuo.

d) Educação democrática: devido a que grande parte da atitude violenta ou indisciplinada de determinados alunos representa uma ponta de iceberg de mal-estar, pela imposição autoritária de normas por parte da instituição escolar. Diante disto, a educação democrática promoverá a participação a partir do estabelecimento das próprias normas de convivência e seu controle, até o planejamento do currículo no contexto de uma negociação que leve em consideração as exigências da sociedade e seus próprios interesses.

e) Educação moral: como transversal de todos os temas, uma vez que promove a reflexão e o julgamento moral em torno de determinadas situações dilemáticas que estão presentes no desenvolvimento de todos os temas. Procura melhorar o conhecimento dos valores-meta e o desenvolvimento de uma ética pessoal para se movimentar em sociedade.

Assim através destes temas transversais, será mobilizada uma série de estratégias-chave para a prevenção da disciplina nos centros comunitários e nas escolas: o trabalho cooperativo, a participação, ações solidárias etc., tudo isso dentro de um clima comunitário, no qual a ação da Coordenação será primordial. Isto pressuporá tomar medidas em diferentes escalas. Se seguirmos uma ordem dedutiva (desde o geral até o particular), devemos começar por entrar em consenso em nível de comunidade educativa (conselho escolar) sobre os valores–meta relacionados com a pacificação do centro (não-violência, democracia, tolerância, controle, respeito etc.), transformando-os em finalidades educativas e selecionar os temas transversais para que melhor sejam desenvolvidos. Também devem ser tomadas decisões organizacionais que promovam um clima propício no centro e nas salas de aula: diálogo, tolerância, igualdade, e principalmente, participação. O Departamento de Orientação é adequado para coordenar pelo menos dois destes temas transversais: a educação democrática e a educação emocional. A primeira começará promovendo a compreensão e elaboração de normas de convivência, através das Coordenações, criando comissões de convivência para o controle democrático dos problemas de convivência, dispositivos de participação (por exemplo, assembléias) etc. A educação emocional, que requer uma formação psicológica mínima, deverá ser impulsionada pelo orientador, porém suas estratégias devem ser desenvolvidas por coordenadores e professores de turmas.

Há um ditado chinês que diz que, ‘se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando um pão, e, ao se encontrarem, eles trocam os pães, cada homem vai embora com um; porém, se dois homens vê andando por uma estrada, cada um carregando uma idéia e, ao se encontrarem, eles trocam as idéias, cada homem vai embora com duas’. Quem sabe é esse mesmo o sentido do nosso fazer: repartir idéias, para todos terem pão... (Cortella, 1998, p. 159).

Os demais temas transversais poderão ser integrados em unidades didáticas centradas em determinadas temáticas acordadas com os alunos e que solicitem a contribuição de conhecimentos e destrezas das diferentes disciplinas. Isto pode supor a reorganização dos horários tradicionais, para garantir blocos de horários mais longos do que os módulos tradicionais, nos quais se pode trabalhar um tema integrado de uma maneira mais continua. Esta proposição não pressupõe eliminar as disciplinas acadêmicas, mas os seus conteúdos e destrezas serão utilizados no momento em que sejam requeridos e não quando solicitado pela estrutura e lógica disciplinar. Ao mesmo tempo, as disciplinas disporão de alguns tempos exclusivos para abordar com maior dedicação aqueles temas que não tenham sido abordados ou que solicitem uma abordagem mais detalhada devido às suas complexidades. Trata-se, pois, de um currículo integrado em torno de valores-meta e desenvolvido através de eixos transversais, sob o prisma da educação integral.

O professor desempenha neste processo o papel de modelo, guia, referência (seja para ser seguido ou contestado); mas os alunos podem aprender a lidar com o conhecimento também com os colegas. Uma coisa é o conhecimento “pronto”, sistematizado, outro, bem diferente, é este conhecimento em movimento, tencionado pelas questões da existência, sendo montado e desmontado (engenharia conceitual). Aprende-se a pensar, ou, se quiserem, aprende-se a aprender. (Vasconcellos, 2001, p.127)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Escolhemos este tema para contribuir com uma aprendizagem de qualidade partindo do pressuposto de que não existe qualidade em um ambiente de indisciplina e agressividade. Faz-se necessário buscar novos caminhos que levem a família, a equipe pedagógica, os professores e os alunos a assumirem o seu verdadeiro papel neste processo.

O problema da indisciplina e agressividade tem constituído em um desafio para a escola, pois muitos alunos não respeitam seus professores, e essa indisciplina prejudica o ensino e a aprendizagem. Professores e orientadores têm dificuldade em estabelecer limites na sala de aula e não sabem até que ponto devem intervir em comportamentos inadequados que ocorrem nos pátios escolares. È preciso recuperar a autoridade fisiológica, o que não significa ser autoritário cheio de desmandos, injustiças e inadequações. As instituições de ensino, cuja tarefa é introduzir as crianças nas normas da sociedade, muitas vezes se omitem. O professor também perdeu a autoridade inerente a sua função. Quanto maior a perda, mais anárquica torna-se a aula. É essencial aos agentes da educação saber estabelecer limites e valorizar a disciplina, e para isso é necessária a presença de uma autoridade saudável.

Tendo em vista as dificuldades de aprendizagem causadas pela indisciplina e agressividade é que desenvolvemos nosso tema, visando entender qual a relação entre aprendizagem e indisciplina em sala de aula, pois toda indisciplina é gesto de desinteresse e todo desinteresse se encarcera quando não existe significação da aula. E nenhuma aula é realmente significativa, quando não existe busca para a consciência da aprendizagem. O grande desafio da sociedade moderna é a educação.

REFERÊNCIAS

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CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos. São Paulo, Editora Cortez, 1998.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1986.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 4ª Edição, Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1974.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Editora Paz e Terra 1970, 23ª Edição, 1996.

GADOTTI, Moacir. Pedagogia: diálogo e conflito. 4ª Edição, São Paulo, Editora Cortez, 1995.

GOTIZENS, Concepcion. A disciplina escolar: prevenção e intervenções nos problemas de comportamento. 2ª Edição, Porto Alegre, Editora Artmed, 2003.

PIAGET, Jean. O julgamento moral na criança. São Paulo, Editora Mestre Jou, 1977.

ROGERS, Carl Ransom. O tratamento da criança problema; [tradução Urias Corrêa Arantes; revisão Laura Villares de Freitas]. – São Paulo, Martins Fontes, 1978.

SNYDERS, Georges. Alunos felizes: reflexão sobre a alegria na escola a partir de textos literários, Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1996.

SNYDERS, Georges. Feliz na universidade: estudo a partir de algumas biografias. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1995.

TIBA, Içami. Disciplina, limite na medida certa. São Paulo, Editora Gente, 1996.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. São Paulo, Editora Liberdade, 2000.

VASCONCELLOS, Maria Lúcia M. Carvalho (Org.). (In) Disciplina, Escola e Contemporaneidade. São Paulo, Editora Mackenzie, 2001.


Publicado por: Milenna Monteiro

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