Importância do Trabalho do Inspetor Escolar na Redução da Indisciplina e Construção do Conhecimento

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1. RESUMO

Artigo de estudo bibliográfico, que objetiva apontar a atuação do Inspetor Escolar nas Instituições de Ensino, cuja função essencial é pensar a escola enquanto espaço privilegiado de aprendizagem e de gestão democrática e participativa, buscando normatizar os aspectos técnico-administrativos e pedagógicos, norteado pela legislação vigente. Fazendo um paralelo entre a atuação deste profissional e a indisciplina, observa-se que esta, norteia todo o descontentamento com a educação, provocando desinteresse, aliada a falta de preparo dos agentes educacionais. Nesta pesquisa destaca-se o papel do Inspetor Escolar não como “fiscalizador”, mas como um especialista que, integrado à equipe, atua como um agente mobilizador, articulando e orientando a comunidade interna e externa, objetivando além da organização, funcionamento e regularização da instituição, o diálogo e a participação, enfocando a importância de todos para a redução da indisciplina e construção do conhecimento.

Palavras-chave: Indisciplina, Inspetor Escolar, Conhecimento.

ABSTRACT

Article of bibliographical study, which aims to show the performance of the School Inspector in universities and colleges, whose essential function is to think of school as a privileged space for learning and democratic and participatory management, seeking to standardize the technical-administrative and teaching, guided by the law force. Drawing a parallel between the performance of this work and discipline, it is observed that, guiding any dissatisfaction with education, causing disinterest, combined with lack of preparation of educational agents. This research highlights the role of the School Inspector not as watchdog but as a specialist, built the team, acts as a mobilizing agent, coordinating and directing internal and external community, aiming beyond the organization, operation and regulation of the institution, dialogue and participation, emphasizing the importance of all to reduce indiscipline and construction of knowledge.

Keywords: Indiscipline, School Inspector, Knowledge

2. INTRODUÇÃO

A indisciplina na escola tem sido assunto amplamente discutido pelos profissionais nela inseridos. Esta norteia todo o descontentamento com a educação, provocando desinteresse, aliada a falta de preparo dos agentes educacionais. Para enfrentar o problema da indisciplina, é necessário compreendê-la, entender o que está acontecendo hoje com a disciplina na sala de aula, na escola, na família e na sociedade, para melhor discutir este tema que é tão comum mais pouco entendido, buscou-se o conceito de (in) disciplina do ponto de vista teórico encontrando diversas possibilidades, fazendo um paralelo entre a indisciplina e a função do Inspetor Escolar como membro da equipe e a importância da sua contribuição como elemento articulador, sobretudo qual disciplina que a escola deveria pressupor para si e a historicidade do conceito que hoje é mais vigente nas escolas e salas de aula.

Segundo o vernáculo, indisciplina é “falta de disciplina; desordem; desobediência; rebelião” (Fernandez, 1981, p.731) e disciplina é o “conjunto de regras destinados a manter a boa ordem em qualquer organização; obediência à autoridade; observância de normas ou preceitos” (p. 469). Portanto, segundo o dicionário, ser indisciplinado significa não obedecer ao conjunto de regras que visam manter a boa ordem em uma organização (a escola, por exemplo), não obedecer à autoridade e ser rebelde.

Parrat-Dayan (2008) conceitua a disciplina como “um conjunto de regras e obrigações de um determinado grupo social e que vem acompanhado de sanções nos casos em que as regras e/ou obrigações forem desrespeitadas.”(p.20).
Para Tiba (1996), a disciplina escolar é um conjunto de regras que devem ser obedecidas para o êxito do aprendizado escolar. Portanto, ela é uma qualidade de relacionamento humano entre o corpo docente e os alunos em uma sala de aula e, consequentemente, na escola. 

De acordo com Paulo Freire, há uma marcante diferença entre disciplina, indisciplina e autodisciplina. Em entrevista concedida à Ilca Viana e outros (1988, apud., Lepre, 2012), define:

Eu começaria por dizer que, para mim, toda disciplina envolve autodisciplina. Não há disciplina que não gere ao mesmo tempo o movimento de dentro para fora, como não há uma disciplina verdadeira se não há capacidade. O sujeito da disciplina tem de se disciplinar. Eu diria que há duas disciplinas, em relação às vezes contraditória, que marcam a diferença com a indisciplina. Quer dizer, na indisciplina, tu não tens autodisciplina nem disciplina. Quer dizer, a indisciplina é a licenciosidade, é o fazer o que quero, porque quero. A disciplina é fazer o que posso, o que devo e o que preciso fazer. Fazer o que é possível na disciplina, tornar possível o que agora é impossível diz respeito necessariamente à vida interior da pessoa. É assim que eu vejo o movimento interno e externo da disciplina. E para isso acho que a presença da autoridade é absolutamente indispensável. (Paulo Freire, In. Vianna, 1989, p.12, apud., Lepre 2012).

Objetivando ampliar a discussão sobre a contribuição do trabalho do inspetor para a redução da indisciplina na instituição de ensino, elaborou-se este projeto de pesquisa, por meio de pesquisa bibliográfica, buscou-se analisar literatura existente como: Frigotto (2001), Libâneo (2004), Parrat-Dayan (2008), Vasconcellos, (2004), (La Taille, 1996; Aquino, 1996; Rego, 1996; Araújo, 1996., apud., Souza, 2009) e artigos científicos divulgados em meios eletrônicos.

Percebe-se que no contexto atual existe uma visão equivocada da figura do inspetor como integrante da equipe escolar. Conclui-se que a mudança de paradigma para um novo olhar sobre o papel deste profissional é imprescindível.

3. DESENVOLVIMENTO

3.1. Breve histórico e Olhares sobre a função do Inspetor Escolar

Finoto (2010), afirma que a Inspeção Escolar aparece, pela primeira vez, na legislação do Ensino em 1932, na reforma de Campos do Ensino Secundário (Decreto - Lei nº. 21.241, de 04/05/1932-artigos 63 a 86). Em 1934 surge a figura do Fiscal Permanente responsável pela inspeção dos estabelecimentos de ensino normal do Sistema Estadual de Ensino de Minas Gerais (Decreto nº11. 501, de 14/08/1934), função essa que só veio a ser extinta em 1974, na vigência da Lei Estadual nº 6. 277/73 – 1º Estatuto do Magistério (Cf. parágrafo único do artigo 10, do Decreto nº. 16.244 de 08/05/1974).

Em 1942 a 1946 surgem várias Leis Orgânicas, porém a única que tratava da Inspeção é a Lei Orgânica do Ensino Secundário conforme o Decreto – Lei nº. 4.244 de 09/04/1942 nos artigos 75 e 76.

Quando a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº. 4.024 de 20/12/1961), ao delegar competência aos Estados e ao Distrito Federal para autorizar, reconhecer e inspecionar os estabelecimentos de ensino primário e médio não pertencente à União (artigo 16) estabeleceu também a qualificação do responsável pela inspeção conforme o seguinte artigo:

“Art.65- O Inspetor de Ensino, escolhido por concurso de títulos e provas, deve possuir conhecimentos técnicos e pedagógicos demonstrados de preferência no exercício de funções de magistério, de auxiliar de administração escolar ou na direção de estabelecimento de ensinos” (MENESES, 1977., apud, FINOTO, 2010).

No cumprimento da atribuição que lhe foi conferida pelo § 3º do retro citado artigo 16, da LDBNE, no que se refere à inspeção dos estabelecimentos de ensino médio, o Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais baixou a Resolução nº. 43/66, de 18/05/1966, que vem esclarecer que o Ensino Primário passou a contar segundo, as disposições da Lei nº. 2.610/62 (Código do Ensino Primário) com Inspetores Seccionais, Inspetores Municipais e Auxiliares de Inspeção, sendo que em 1965, surge também à figura do Inspetor Sindicante (Portaria Secretaria Estadual de Ensino- SEE, nº 68/65) para atuar junto às Delegacias Regionais de Ensino as atuais Superintendências Regionais de Ensino.

Tão logo foi efetivada a transparência para a responsabilidade dos Estados, dos encargos de autorizar o funcionamento, reconhecer e inspecionar os estabelecimentos de ensino médio, conforme Portaria Ministerial nº. 713, de 30/11/1967 e Aviso MEC, nº. 652 GB, de 14/12/1967, a Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais baixou a Portaria nº. 91/68 de 27/04/1968, estabelecendo normas para a inspeção permanente dos estabelecimentos de ensino médio do Sistema Estadual de Ensino.

Na realidade, antes da Reforma Universitária de 1968, Lei nº. 5.540 de 28/11/ 1968, a inspeção era feita por elementos sem habilitação específica. Diante disso, a inspeção poderia ser exercida no Estado, por professores de ensino médio e até por portadores de diploma de curso superior, muitas vezes sem nenhuma ligação direta com os problemas educacionais. E ainda houve época em que a inspeção dos estabelecimentos do antigo ensino secundário era feito por elementos a quem competia tão somente fiscalizar provas exames e assinar papéis que não tinham nenhuma finalidade prática e efetiva para a escola. Isso acontece ainda hoje em determinados setores burocráticos do serviço público.

Na publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 5.692/71 estabeleceu a organização do ensino de 1º grau (quatro séries do primário, mais quatro séries do ginásio) e 2º Grau alternando toda a legislação anterior do ensino primário e médio. Com isso as exigências referentes à formação profissional do Inspetor Escolar foram as seguintes: formação em curso superior de graduação, com duração curta ou plena ou de pós-graduação, admissão na carreira de Inspetor Escolar por concurso público de provas e títulos, remuneração conforme estatuto de carreira do magistério.

Com a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº. 9394/96 a formação profissional do Inspetor Escolar foi mantida. Contudo em seu artigo 64 estabelece que a formação do Inspetor Escolar se dê em cursos de pós-graduação: “A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em Cursos de Graduação em Pedagogia ou em nível de Pós Graduação, a critério da instituição de ensino, garantida nesta formação, a base comum nacional” (LBDN 9394/96).

Atualmente o Inspetor Escolar possui uma jornada de trabalho de 40 horas semanais e está sujeito ao regime de dedicação exclusiva. (Lei nº. 9.347/86 e Decreto nº. 26.250/86).

As ações do Inspetor não se limitam, evidentemente, apenas nas aplicações de normas, mas, também, nas ações de revisão ou mudanças na legislação, numa perspectiva crítica adequada à realidade social a que se destina, dando conhecimento à administração do Sistema das consequências da aplicação dessas mesmas normas. (BIASI, 2009)

Exige-se desse profissional uma postura crítica, reflexiva e fundamentada numa conduta ética e democrática. É Sabido que este especialista surge para organizar a instituição em conformidade com a normatização em vigor. Logo, torna-se uma atividade complexa, uma vez que o desafio para a legislação atual é organizar a escola enquanto espaço privilegiado de aprendizagem, em que devem ser assegurados os direitos de todos os segmentos – professor, aluno, funcionários e comunidade externa – para a construção de uma gestão escolar democrática participativa.

Não basta organizar o ensino, faz-se necessário pensar no funcionamento da instituição como um todo. Lidar com essa questão requer mudanças nas práticas e nas relações entre os agentes educacionais, haja vista que fomos vítimas durante muitos anos de um “sistema de formar mutilados”, de uma pedagogia da adestração cotidiana, em que não havia lugar para o pensar.

3.2. Educação e cidadania

O Estatuto da Criança e do Adolescente tratou, em capítulo específico, do direito à educação estabelecendo seus objetivos, os direitos dos educandos, as obrigações do Estado, dos pais e dos dirigentes dos estabelecimentos de ensino (ECA, Capítulo IV - artigos. 53/ 59).

No artigo 2° da Lei 9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação estabeleceu que a educação visa o preparo para o exercício da cidadania. Arroyo (apud SCHNETZLER, 2003) define que educação para cidadania é o cultivo do senso no valor moral em cada indivíduo, na criança e nos jovens. Nesta educação comprometida com o cidadão os direitos e deveres de todos são iguais, independentes da posição social ocupada. (DELORS ET AL. 2010). A educação ao longo de toda vida baseia-se em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser. Perante os múltiplos desafios suscitados pelo futuro, a educação surge como um trunfo indispensável para que a humanidade tenha a possibilidade de progredir na consolidação dos ideais da paz, da liberdade e da justiça social.

A formação do ser humano começa na família. Ali, tem início um processo de humanização e libertação, valores morais e éticos; é um caminho que busca fazer da criança um ser civilizado, e bem cedo à escola participa desse processo.

Podemos considerar que, sendo a educação a formação do homem, entendida em seu conceito amplo, ela não é outra coisa senão o próprio processo de produção da realidade humana em seu conjunto. De outro lado, considerando-se que a natureza humana não é dada ao homem, mas é por ele produzida sobre a base da natureza biofísica, a educação, em termos estritos, isto é, a educação enquanto atividade intencional consiste no ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens.

A educação escolar resulta ser um instrumento básico para o exercício da cidadania. Ela, entretanto, não constitui a cidadania, mas sim uma condição indispensável para que a cidadania se constitua. O exercício da cidadania nos mais diferentes organismos, sindicatos, partidos, etc. não se dão de modo cabal sem o preenchimento do requisito de acesso à cultura letrada e domínio do saber sistematizado que constituem a razão de ser da escola.
Educar para a cidadania é adotar uma postura, é fazer escolhas. É despertar para as consciências dos direitos e deveres, é lutar pela justiça e não servir a interesses seculares. É preciso construir o espaço de se educar na cidadania.

3.3. Indisciplina na escola no contexto atual

Segundo Aquino (1999), ”O conceito de indisciplina, como toda criação cultural, não é estático, uniforme, nem tampouco universal. Ele se relaciona com o conjunto de valores e expectativas que variam ao longo da história, entre as diferentes culturas e numa mesma sociedade”.

A indisciplina é um das maiores dificuldades enfrentadas pelos educadores para desenvolverem o trabalho pedagógico.

De acordo com Parrat-Dayan (2008, p. 21).

Os conflitos em sala de aula caracterizam-se pelo descumprimento de ordens e pela falta de limites como, por exemplo: falar durante as aulas o tempo todo, não levar material necessário, ficar em pé, interromper o professor, gritar, andar pela sala, jogar papeizinhos nos colegas e no professor, dentre outras atitudes que impedem os docentes de ministrar aulas mais qualidade.

Diante desta constatação, percebe-se a necessidade de um maior engajamento por parte da escola em busca de alternativas de intervenções para o enfrentamento de conflitos na sala de aula. Enfatiza-se que o trabalho coletivo é o principal instrumento de viabilização dessas ações. O diálogo, o estudo e a cooperação são os instrumentos que mediarão o caminho na busca por uma disciplina que considere o respeito como condição principal nas relações existentes na escola.

Conforme Parrat-Dayan (2008, p. 64), “[...] é mais eficaz se aproximar calmamente de um aluno e pedir para retomar seu trabalho que chamar a sua atenção em voz alta na frente de todos. [...]”. A forma como se estabelece a relação professor-aluno é a base para o enfrentamento dessas questões.

Estudos têm evidenciado que o tema indisciplina se apresenta como um dos maiores obstáculos que enfrentam as escolas na sociedade contemporânea, provocando grande angústia nos professores que não sabem mais como lidar com a situação. Entretanto, para enfrentar o problema é necessário entender o que está acontecendo com a disciplina hoje na escola.

É certo que uma série de fatores influencia, mas é necessário analisar que os inúmeros determinantes que a influencia e determina (VASCONCELLOS, 1989, p. 25 Benette & Costa, 2008).

É inegável a importância da educação. Pesquisas apontam que quanto maior o número de anos na escola, maior é a remuneração recebida por essa pessoa. Por outro lado, indicadores, como SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica (2001) e PISA – Programa Internacional de Alunos (2000), apontam o grau do fracasso das crianças brasileiras mostrando que a escola brasileira apresenta sérios problemas. Nesse contexto globalizado, as mudanças proporcionadas pela economia, sob a égide do capital permeada pelas novas mídias e tecnologias, invadem o cotidiano das pessoas, aceleram e aprofundam a exclusão social e lança novas questões para a pedagogia. Essas transformações tecnológicas e cientificas leva-nos a compreender que são necessários novos sistemas de organização do trabalho, principalmente no trabalho pedagógico, para atender às exigências da sociedade atual.

Pontua-se aqui algumas experiências bem sucedidas na redução da indisciplina, merecendo considerações importantes: o trabalho participativo por meio de Projetos envolvendo toda a comunidade escolar, entornos da escola, famílias, parcerias com sociedade civil etc... Destaque para o protagonismo de todos os discentes, os alunos indisciplinados são colocados, como líderes de suas equipes, corresponsabilizando-os por meio de tarefas e combinados, os temas a serem trabalhados devem despertar nestes, o interesse e a curiosidade.

4. DESAFIOS

4.1. Família

É possível que a família possa colaborar para a contenção da indisciplina na escola, mas para que isto aconteça, é preciso que seja resgatada a prática do diálogo no ambiente familiar, a prática de participação efetiva dos pais na vida escolar dos filhos, indo às reuniões escolares procurando saber da vida dos filhos, suas angústias, seus temores, suas conquistas, bem como suas expectativas e possibilidades de realização com relação ao futuro. É fundamental que os pais sejam capazes de impor limites, ajudando seus filhos a terem postura crítica diante dos meios de comunicação que despertam o consumismo, a sexualidade e etc. Aqui podemos retomar Vasconcellos, (1989, p. 122, 123). Além das dificuldades sócio-econômicas e culturais, existem os problemas de alcoolismo, o divórcio, as drogas, a violência doméstica, a permissividade sem limite e, consequentemente, a desestrutura familiar que interfere negativamente no desempenho do aluno em sala de aula (Parrat-Dayan, 2008, apud. Benette & Costa 2010). Segundo Aquino (1999), do ponto de vista empírico, os alunos carregam saberes anteriores adquiridos no seio de sua família, do meio em que vivem que se chocam com os saberes docentes. Nota-se que as crianças chegam à escola, cada vez mais sem limites, com ausências de comportamentos educativos mínimos, por exemplo: respeito, gratidão, e cumprimento de regras básicas, que deveriam ser trabalhados pela família. O que se configura na “ausência de valores e regras ou com presença de valores e regras contraditórias no seio de uma mesma sociedade” (DE LA TAILLE, 1998, p. 07). Percebe-se então que o aluno é fruto de um contexto familiar e de uma sociedade com todos seus axiomas, modos e costumes, é sujeito/objeto de contexto escolar.

Aquino (2000), por exemplo, considera que a indisciplina escolar deve ser pensada e analisada sob um ângulo histórico baseado em condicionantes culturais ou sob uma matriz psicológica, em relação à influência das relações familiares.– Tiba (1998) define disciplina como “O conjunto de regras éticas para se atingir um objetivo. A ética é entendida, aqui, como o critério qualitativo do comportamento humano envolvendo e preservando o respeito, o bem-estar biopsicossocial”, apontando como causas da indisciplina na escola as características pessoais do aluno (distúrbios psiquiátricos, neurológicos, deficiência mental, distúrbios de personalidade, neuróticos), as características relacionais (distúrbios entre os próprios colegas, distorções de autoestima) e os distúrbios e desmandos de professores.

4.2. Escola

Dentre os desafios que a escola enfrenta neste momento histórico, percebe-se a indisciplina e suas relações com os princípios de autonomia e liberdade, tão caros entre nós educadores. Mas, sobretudo, trata-se aqui do estreito vínculo existente entre a escola e a sociedade, muitas vezes negligenciado pelas políticas educacionais e pelos próprios trabalhadores docentes. Porém, muita coisa mudou, estamos numa época de valorização da democracia, cidadania e respeito. Cabe a escola levar estes princípios à sério dentro do seu projeto pedagógico. Então, como acabar ou diminuir a indisciplina em sala de aula, objetivando melhorar as condições de aprendizado dos alunos?

Primeiramente, o professor deve identificar os motivos da indisciplina. Observar os alunos e estabelecer um diálogo pode ajudar muito neste sentido. Muitas vezes, a indisciplina ocorre porque os alunos não entendem o conteúdo ou acham as aulas cansativas. Nestes casos, o professor pode modificar suas aulas, adotando atividades estimulantes e interativas. Celso Antunes sugere um conceito mais amável de disciplina como, por exemplo, "Disciplina é uma relação de afeto e respeito, uma ação recíproca de cumprimento de normas". O autor afirma que o início dessa construção deve se manifestar por meio de um acordo entre alunos e professores, algo como um "contrato" em que ambas as partes discutem e constroem seu papel e sabem como acatar sanções na eventualidade de um descumprimento. Dessa forma, conclui o autor:
ressignificação das relações entre esses sujeitos e na construção e desconstrução do conceito de indisciplina que, reconhecendo a disciplina como ferramenta essencial às relações interpessoais, aprendem autonomia, exercitam a firmeza e conseguem, com mais dignidade, construir o caráter. Quando os professores de uma unidade escolar sentam-se com seus alunos e desconstroem e sabem reconstruir a plenitude da significação e dos tipos de disciplina, não apenas a aula corre mais facilmente e a aprendizagem se concretiza de maneira mais saborosa como estudantes e mestres descobrem que esta atitude costuma gerar bons resultados. Com estas e outras atitudes, o professor vai ganhar o respeito de seus alunos. Este respeito é uma porta aberta para, através do diálogo com os estudantes, buscar soluções adequadas para melhorar as condições de aula na escola. Sugere-se, a implantação, da forma mais coerente e democrática possível, dos Conselhos Escolares, pois estes terão a incumbência de tratar de problemas também desta natureza. Isto pode ocorrer quando a escola começar a tratar qualquer ato dos alunos como indisciplina. Atos como o aluno cobrar o direito de tirar suas dúvidas e não ser compreendido por alguns professores e ser tratado como indisciplinado, impedindo os de pensar e questionar.

Assim agindo, a escola poderá está evitando que alguns direitos dos alunos sejam desrespeitados, ficando assim mais fácil garantir os direitos deles para que os deveres possam ser cumpridos com, mais coerência, respeito e responsabilidade. Coisas que estão entre muitos dos deveres e papéis da escola no processo de formação de seu alunado, mesmo em um momento social bastante conturbado com um excesso de maus exemplos para as crianças e jovens.

5. CONTRIBUIÇÕES DO INSPETOR ESCOLAR

A Inspeção Escolar está ligada a vários fatores que contribuem com o processo democrático da comunidade escolar. Evidentemente, nem sempre foi assim. A própria expressão lingüística nos remete à história, desde o Brasil colonial, de que o ato de inspecionar nos lembra o ato de fiscalizar, observar, examinar, verificar, olhar, vistoriar, controlar, vigiar… Porém, atualmente, a figura deste profissional nas Instituições Escolares proporciona uma estreita ligação entre os outros órgãos do Sistema Educacional, quer sejam Secretarias, quer sejam Regionais e Unidades Escolares, para garantir a aplicação legal do regime democrático. Por isso, o Inspetor tem uma grande concentração nos aspectos Administrativos, Financeiros e Pedagógicos das Unidades Escolares, trabalhando inclusive, como agente sócio-político. (BIASE, 2009).

Ter respeito para com os alunos é uma das necessidades da postura de um educador consciente. Deve também exigir respeito dos alunos para com os colegas e para consigo.  No caso de ser desrespeitado, restabelecer os limites (não entrar no círculo vicioso do desrespeito) (VASCONCELLOS, 2004, p. 93). O Inspetor Escolar deve analisar a dinâmica institucional com todos os profissionais nela inseridos, como também no contato com o sujeito para detectar os possíveis problemas que afetam a relações de ensino aprendizagem, intervindo para que a instituição se reestruture, e o sujeito ressignifique sua história. Deve também conhecer os contextos macro e micro onde o discente situa-se, seja por meio do diagnóstico, da pesquisa, e ou da observação. Propõe-se o estabelecimento do diálogo e dos processos grupais entre os atores envolvidos, quais sejam eles: escola – aluno – família. Dos três sujeitos, o diferencial está no terceiro sujeito, tanto na materialização da introdução da família no espaço, como no desafio de torná-la consciente de sua importância como sujeita do fazer educativo. A família e a escola têm sido historicamente as bases da educação de crianças, adolescentes e jovens e têm se constituído como aparelho de inclusão social desse grupo. A família, a escola, os amigos e círculos sociais têm importância crucial na formação do individuo, na construção de sua personalidade e na aquisição de uma identidade pessoal (LANE, 1995, apud, SILVA, 2009). Todavia, deve-se ter um olhar atento e direcionado para a família. Como nos afirma Munhoz (2003, p. 8.), “a família se faz presente desde os primeiros momentos da criação de um novo ser. Se quisermos conhecer o sujeito que aprende, temos que compreender em que contextos aprendizagem acontece”. Prichón Reviérie (1998., apud.BIASE 2010,), considera o trabalho com grupo de grande importância no trabalho curativo, de intervenção, na construção ou desconstrução de conceitos. E afirma que o ser humano desde que nasce já está inserido em grupos, a família, amigos, a escola entre outros. O foco da deve estar centrado no aluno, a partir de uma relação dialógica entre escola e família.

Um trabalho de formação continuada na escola é essencial, na qual os profissionais da instituição tenham espaço para o diálogo, a reflexão e a própria avaliação de seus trabalhos, condutas e práticas.

Sobre a questão do trabalho conjunto  entre coordenação pedagógica e professor, Vasconcellos (2004) enfatiza:

Tem havido uma certa confusão em relação ao trabalho do professor: como se constatou que é muito complexo, começou-se a repartir com outros profissionais, ao invés destes profissionais (orientadores, supervisores etc) estarem trabalhando junto ao professor para melhor capacitá-lo, já que ao nosso ver, é ele quem deve enfrentar os conflitos e não cair no jogo dos “encaminhamentos”. O espaço da reunião é privilegiado para esta interajuda entre os profissionais (p.76). 

Nessa perspectiva de interação de toda a equipe, tendo como elemento mobilizador o inspetor escolar, os professores terão muito mais condições de planejar um trabalho contextualizado, construindo assim de forma coletiva um currículo que contemple diferentes tipos de atividades, entre eles excursões, jogos, festivais, exposições, no qual o aluno deixa de ser concebido como um indivíduo passivo e é percebido como um sujeito ativo no processo de construção de conhecimentos.

O que o aluno poderia estar tentando dizer ao professor com os constantes atos de indisciplina? Possivelmente que a escola que aí está não lhe proporciona alegria, satisfação e tampouco uma aprendizagem consistente, estando dessa maneira, muito distante de suas aspirações e necessidades (FRANCO, 1986, p.50).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se observar que a literatura científica vem progressivamente desenvolvendo estudos e pesquisas que cercam os dilemas da indisciplina escolar. Essa discussão nos remete assim a pensar a função do inspetor escolar no processo educativo. Ele deixa de ser uma figura fiscalizadora, como é visto atualmente, para ser um mobilizador na comunidade escolar, se inserindo como membro da equipe. Deve então organizar situações para que todos tenham a oportunidade de vivenciar o diálogo, de refletir e de questionar o sistema no qual vivem, que precisam conhecer essa realidade para que em conjunto com a comunidade escolar, que envolve coordenação pedagógica, docentes, discentes e suas famílias, possa planejar e colocar em prática trabalhos diferenciados e significativos.  Construindo por meio de estratégias democráticas uma proposta adequada de trabalho, vinculada às reais necessidades da escola.

7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Publicado por: Zeilzia santos da Silva

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