Geografia e História: Uma relação em sala de aula

índice

Imprimir Texto -A +A
icone de alerta

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

1. RESUMO

O presente trabalho tem como objeto de discussão o papel que se deve dar a interdisciplinaridade entre as ciências de humanas. No caso deste estudo, principalmente, as matérias que aqui se apresentam como fundamentais para a compreensão do tempo (História) e espaço (Geografia) para os educandos; o educador tem como papel nas ciências de Geografia e História compreender como melhor se posicionar diante dos temas a serem trabalhados, pois estes devem ser trabalhados em parceria. No caso de dois professores distintos ou mesmo um professor que ministra as duas matérias, este deve saber relacionar, usando de meios cabíveis, a geografia do mundo, a sua história e porque as coisas são como são nos dias de hoje. As metodologias usadas são bibliografias com referências teóricas dos muitos educadores, instituições e pesquisadores que discutem sobre o papel destas duas ciências em sala de aula.

Palavras-chave: Interdisciplinaridade, Geografia e Historiografia.

ABSTRACT

This work is the subject of discussion the role to be given to interdisciplinary human sciences. In this study, mainly the subjects that are presented as fundamental to the understanding of time (history) and space (geography) for students; The teacher has the role in Geography Science and History understand how best to position themselves on the topics to be worked out, as they should be worked out in partnership . In the case of two different teachers or a teacher who teaches the two subjects, it must learn to relate, using appropriate means, the geography of the world, its history and why things are as they are today. The methodologies used are bibliographies with theoretical references of many educators, institutions and researchers to discuss the role of these two sciences in the classroom.

Keywords:Interdisciplinary, Geography and Historiography.

2. INTRODUÇÃO

O presente trabalho propõe, no primeiro capítulo, entender as propostas elaboradas pelos órgãos responsáveis por regular o ensino tanto privado quanto particular no Estado de São Paulo, comparando o que é proposto entre um geógrafo educador e um professor de História; No capítulo dois teremos discussões de pensamentos de diferentes autores sobre as duas ciências (História e Geografia), que ministradas de forma conectada, resultam em aulas mais dinâmicas, coerentes e atrativas para os educandos, que podem relacioná-las com o seu dia a dia.

3. AS CIÊNCIAS HUMANAS: GEOGRAFIA E HISTÓRIA

A proposta curricular do ano de 2008 do Estado de São Paulo direcionada para os educadores de Geografia, têm como objetivos diretos, preparar o profissional que irá ministrar o ensino da Geografia nas Escolas Estaduais do Estado de São Paulo. Este documento entra como um guia e orientador para que todas as escolas públicas tenham as mesmas metas, programas, com um mesmo método de ensino preestabelecido e nivelador visando assim alcançar a qualidade do ensino de Geografia que é esperada para os estudantes do Ensino Fundamental II e Ensino Médio. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo(2008):

No intuito de fomentar o desenvolvimento curricular, a Secretaria toma assim duas iniciativas complementares. A primeira delas é realizar um amplo levantamento do acervo documental e técnico pedagógico existente. A segunda é iniciar um processo de consulta a escolas e professores, para identificar, sistematizarem divulgar boas práticas existentes nas escolas de São Paulo.(SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo, 2008 p. 8).

Com isso a elaboração desta proposta tem como ideia central dar um apoio para gestores escolares e coordenadores facilitando assim a administração do ensino nas suas escolas: “Esse segundo documento não tratada gestão curricular em geral, mas tem a finalidade específica de apoiar o gestor para que seja um líder e animador da implementação desta Proposta Curricular” (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo, 2008, p.9); O professor tem um nivelamento para os conteúdos que serão dados em cada uma das disciplinas,dessa maneira, as crianças eos adultosque tem como finalidade serem ensinados, terão uma base estabelecida igual que busca que todos aprendam:“Para que a democratização do acesso à educação tenha uma função realmente inclusiva não é suficiente universalizar a escola. É indispensável a universalização da relevância da aprendizagem”.SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo (2008, p.10). Podemos então dizer que todo este material é uma tentativa de projeto que visa interdisciplinar todos os métodos em uma única linguagem: “Por exemplo, a disciplina História é por vezes considerada teórica, mas nada é tão prático quanto entender a origem de uma cidade e as razões da configuração urbana”. (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo. 2008, p.22)

A SECRETARIA DA EDUCAÇÃO vem nos últimos anos mudando o direcionamento destas propostas, situação esta que já vemos no ano de 2010; Neste ano há uma integralização completa das disciplinas que se reflete em uma única proposta curricular para todas as Ciências Humanas. Como se percebe a unificação das Ciências do ensino de Filosofia, Sociologia, História e Geografia são explícitas na proposta: “Nesse sentido, os gêneros devem receber o enfoque específico de cada disciplina e, ao mesmo tempo, precisam ser trabalhados de modo interdisciplinar”. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo (2010, p. 15.). Portanto podemos afirmar que todas as disciplinas desta proposta estão ligadas intimamente para compreensão e entendimento do aluno e sem uma proposta adequada seria inviável o ensino qualitativo:

No caso de História e Geografia, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) do Ensino Fundamental ofereceram referenciais importantes às discussões que ancoraram a elaboração deste documento. [...] No Ensino Médio, à História e à Geografia integram-se e articulam-se a Filosofia e a Sociologia. (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo. 2010, p.26)

Isso resulta em um sistema que visa unir métodos traçados para todas as disciplinas das Ciências Humanas, pois todas elas têm propósitos comuns. Entender e ensinar as transformações do espaço feitas pelo Homem (Geografia); Quais os motivos destas mudanças e qual a relação delas com sociedade atual (Filosofia e Sociologia), e através destas questões entendemos a história ao longo dos tempos resultando no que vemos hoje (História):

Quanto à Geografia, o documento aponta como objetivo “estudar as relações entre o processo histórico na formação das sociedades humanas e o funcionamento da natureza, por meio da leitura do lugar, do território, a partir de sua paisagem”. (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo. 2010, p.26)

Quanto ao professor de história em sala, este também terá como propósito direto interligar a Geografia de um lugar com a sua História, pois para se conhecer a História de uma nação ou povo é indispensável conhecer a história do lugar, geograficamente falando; um complementa o outro e ajuda na sua compreensão:

Segundo os PCN, à História compete “favorecer a formação do estudante como cidadão, para que assuma formas de participação social, política e atitudes críticas diante da realidade atual, [...]aprendendo a discernir os limites e as possibilidades de sua atuação, na permanência ou na transformação da realidade histórica na qual se insere”. (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo. 2010, p.26)

Dessa maneira fica entendido que o conteúdo programado para o ensino efetivo nos anos finais do Ensino Fundamental e durante todo o Ensino Médio usará das interdisciplinaridades entre métodos similares permitindo ao estudante, entender a ligação entre os fatores que transformam este mundo desde seus primórdios até os tempos de hoje, pela espécie que se autodenomina como “Humana”. Isto é visível quando se estabelecem competências para cada tema trabalhado em sala de aula e neles se estabelecem habilidades que podem ser desenvolvidas em conjunto:

Durante mais de doze anos deverá haver tempo suficiente para que os alunos se alfabetizem nas ciências, nas humanidades e nas técnicas, entendendo seus enfoques e métodos mais importantes, seus pontos fortes e fracos, suas polêmicas, seus conceitos e, sobretudo, o modo como suas descobertas influenciam a vida das pessoas e o desenvolvimento social e econômico. (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo. 2010, p.20)

O professor ou educador de História, necessita ser flexível no momento de trabalhar seus conteúdos em sala de aula. Ele deve pensar como o aluno, ter empatia com ele, seja este jovem ou adulto. O aluno precisa compreender o espaço geográfico em que vive para depois entender sua história; o professor de Geografia terá que entender a História do espaço em que cada educando ou aluno vive para depois poder explicar os contextos das transformações que foram feitas pelo homem neste meio. Desta forma o professor consegue transpassar as barreiras interpessoais, se aproximando daquele que está ali para aprender; esta ideia tem como base o ensino transformador citado por Paulo Freire, na sua obra Pedagogia do Oprimido (1987):

A ‘cultura do silêncio’ só pode ser enfrentada a partir de uma ação cultural, em que educadores e o povo se encontrem, dialogicamente, mediatizados pela realidade em transformação, como sujeitos que, ao refazerem o mundo se refazem também. [...] Opondo-se à invasão cultural, o Paulo Freire propõe é a ‘síntese cultural’, que implica numa relação dialógica entre culturas diferentes, onde o processo de desvelamento da realidade e a luta pela sua transformação são construídas na dialeticidade entre ação e reflexão das lideranças com o povo e jamais sobre ou para o povo. (FREIRE, Paulo. 2001, p. 123)

Em se tratando do Modelo Pedagógico, o professor deverá educar estabelecendo uma busca pela reflexão e transformação com seus alunos, ou seja, terá que através das competências, desenvolver práticas para que o estudante adquira, pelo menos,conhecimentos mínimos, (ler, escrever, interpretar e etc.) que é o esperado em uma formação de qualidade. Mas também neste mesmo processo deverá traçar uma competência de apoio para transformar este sujeito, que se desenvolve nas artes da linguagem, em um cidadão crítico, capaz demudar a realidade do mundo que o cerca, e isto veremos neste trecho selecionado da Proposta Curricular do Estado de São Paulo para o Ensino de Ciências Humanas do ano de 2010:

Dominar a norma-padrão da Língua Portuguesa e fazer uso das linguagens matemática, artística e científica. A constituição da competência de leitura e escrita é também o domínio das normas e dos códigos que tornam as linguagens instrumentos eficientes de registro e expressão que podem ser compartilhados. Ler e escrever, hoje, são competências fundamentais para qualquer disciplina ou profissão. Ler, entre outras coisas, é interpretar (atribuir sentido ou significado), e escrever, igualmente, é assumir uma autoria individual ou coletiva (tornar-se responsável por uma ação e suas consequências). [...]Relacionar informações, representadas em diferentes formas, e conhecimentos disponíveis em situações concretas, para construir argumentação consistente. A leitura, nesse caso, sintetiza a capacidade de escutar, supor, informar-se, relacionar, comparar etc. A escrita permite dominar os códigos que expressam a defesa ou a reconstrução de argumentos – com liberdade, mas observando regras e assumindo responsabilidades. (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo. 2010, p.19)

Consequentemente, um professor tem que ter cuidado para não ser só mais um transmissor de informações, mas sim um instrumento no desenvolvimento de um aluno mais esclarecido de fatos, razões e circunstâncias: “Nesse caso, o aluno deixaria de ser mero espectador ou reprodutor de saberes discutíveis para se apropriar do discurso, verificando a coerência de sua posição em face do grupo com quem partilha interesses.” DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo. (2010, p.17) podendo assim, através deste conhecimento adquirido, fazer sua opinião ser ouvida e respeitada pelos seus iguais. O professor deixa de lado seu papel de mero informante e vira um sujeito que transforma através do conhecimento e dos saberes seus educandos (alunos), tornando-os críticos transformadores de sua realidade pessoal e futuramente profissional.

4. O PROFESSOR: NOVAS REALIDADES

A proposta curricular do Estado de São Paulo (2010) direcionada para os educadores de Geografia e História, vem trabalhando com múltiplas funções entre elas a inclusão de todos os educandos, sejam eles jovens ou adultos. O mesmo projeto pedagógico tem como objetivo o conhecimento sendo oferecido como ferramenta para a transformação, permitindo que todos os demais grupos sociais que antes eram destituídos dos meios do saber (alfabetizados por Letramento, sem o uso da tecnologia) tenham através de atividades direcionadas, o básico do saber tecnológico e acesso as novas tecnologias, onde conhecimentos adicionais podem ser trabalhados:

Todavia, essa sociedade, produto da revolução tecnológica que se acelerou na segunda metade do século XX e dos processos políticos que redesenharam as relações mundiais, já está gerando um novo tipo de desigualdade ou exclusão, ligado ao uso das tecnologias de comunicação que hoje medeiam o acesso ao conhecimento e aos bens culturais. Na sociedade de hoje, é indesejável a exclusão pela falta de acesso tanto aos bens materiais quanto ao conhecimento e aos bens culturais. (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo. 2010, p.8)

Essa iniciativa pode ser entendida como uma intervenção que pretende nivelar em um grau mais amplo as desigualdades que se encontram no nosso sistema de formação pública, o que fora discutido por vários teóricos entre eles a pesquisadora em educação Maria Lúcia de Arruda Aranha, em especial na sua obra História da Educação:

O importante é que os novos recursos, como o computador, a televisão, o cinema, os vídeos, não sejam usados apenas como instrumentos, mas se tornem capazes de desencadear transformações estruturais na velha escola. Só assim a função do professor pode ser revitalizada, libertando-o da aula de saliva e giz e estimulando o aluno a uma posição menos passiva e mais dinâmica. Como fazer, é um desafio para a imaginação. [...] (ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, 1996, p. 239)

Entretanto existem muitas dificuldades nesta problematização se o educador tiver dificuldade em passar o conteúdo para seus alunos. O que dizer para um aluno que nunca lidou com essas novidades e agora tem que entender esse conteúdo para poder não somente conhecer o seu mundo, mas também transformá-lo? Neste caso caberá ao professor ser um educador mais atento à cultura do lugar onde leciona, como o autor Paulo Freire afirma na sua obra a Pedagogia da Autonomia:

O saber alicerçante da “travessia” na busca da diminuição da distância entre eu e a perversa realidade dos explorados é o saber fundado na ética de que nada legitima a exploração dos homens e das mulheres pelos homens mesmo ou pelas mulheres. Mas, este saber não basta. Em primeiro lugar é preciso que ele seja permanente, tocado e empurrado por uma calorosa paixão que o faz quase um ser arrebatado. É preciso também que a ele se some saberes outros da realidade concreta, da força da ideologia; saberes técnicos, em diferentes áreas, como a da comunicação. (FREIRE, Paulo. 2001, p.262)
O diálogo e a problematização não adormecem a ninguém. Conscientizam. Na dialogicidade, na problematização, educador-educando e educando-educador vão ambos desenvolvendo uma postura crítica da qual resulta a percepção de que esse conjunto de saber se encontra em interação. Saber de que reflete o mundo e os homens, no mundo e como ele, explicando o mundo, mas sobretudo, tendo de justificar-se na sua transformação. (FREIRE, Paulo. 2001, p. 303)

O professor agora terá de se ambientar não somente adaptando sua linguagem aos alunos, mas também pelos exemplos que dará em sala; isso se refletirá até nas escolhas de objetos a serem trabalhados em sala de aula, levando em consideração a realidade na qual o seu aluno está inserido, onde fica a escola, qual a historiografia da região, onde eles moram, etc.Na busca pelo aprendizado, o professor pode usar de novas tecnologias para aumentar o entendimento e permitir uma maior praticidade durante as aulas. Através dos novos meios de comunicação, por exemplo, a Internet, os alunos terão acesso a conhecimentos que permitem o melhor entendimentodas disciplinas; Com isso provando a importância das ligações entre tempo (História) e espaço (Geografia):

Nesse sentido, a produção científica, acelerada pela sociedade tecnológica, tem colocado em debate uma gama variada de novas questões de natureza ética, cultural e política, que necessitam emergir como objeto de análise das disciplinas que compõem as Ciências Humanas. Portanto, o caráter interdisciplinar desta área corrobora a necessidade de se utilizar o seu acervo de conhecimentos para auxiliar os jovens estudantes a compreender as questões que os afetam, bem como a tomar decisões neste início de século. (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo, 2010, p.25)

O educador deve se dirigir para os educandos com visões marxistas, que buscam entender o meiode onde vem aquele que deseja aprender. Mas cabe ao licenciado professor entender as teorias da pedagogia histórico-crítica, sabendo que este jovem ou adulto que estará em sua sala de aula,vive num sistema de produção, no qual tem pouca visão de seus papéis, cabendo aos professores tanto de História quanto de Geografia dar-lhe referências científicas a respeito da vida humana. Vemos isto claramente neste trecho de uma das obras da pesquisadora ARANHA:

Portanto “o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens”. Daí que, para a educação escolar, a pedagogia histórico-crítica se propõe a tarefa de:
“a) identificação das formas mais desenvolvidas em que se expressa o saber objetivo produzido historicamente, reconhecendo as condições de sua produção e compreendendo as suas principais manifestações, bem como as tendências atuais de transformações;”
“b) conversão do saber objetivo em saber escolar de modo a torná-lo assimilável pelos alunos no espaço e tempo escolares;”
“c) provimento dos meios necessários para que os alunos não apenas assimilem o saber objetivo enquanto resultado, mas aprenda o processo de sua produção, bem como as tendências de sua transformação;” (ARANHA, 1996, p.219)

O saber que será proporcionado ao educando se dividirá então entre o que ele já sabe, o que ele não sabe e o que o estimulará a saber como percebemos nessa frase de ARANHA: “Como mediadora entre o aluno e a realidade, a escola se ocupa com a aquisição de conteúdos, formação de habilidades, hábitos e convicções.” (1996 p. 220). “O Paradigma da Modernidade” nada mais é que um choque de ideias e ideais donde o professor sai do mundo das ideias, ou seja, do plano de aula e vivencia em sala as verdadeiras realidades que estimulam seus alunos para o saber.

A vida moderna na qual o aluno está inserido tem suas próprias necessidades que os levam a ter curiosidades para entender seu próprio mundo. O autor Silvio Gallo que escreve sobre a Pedagogia Libertária, descreve as diferenças entre uma educação libertadora e uma educação anarquista:

A concepção materialista de Bakunin mostra que a liberdade longe de ser um fato natural é um fato cultural. Em outras palavras, enquanto o homem produz cultura, ou seja, se produz, ele conquista também a liberdade, deste modo, o homem e a liberdade nascem juntos [...] e qual o papel da educação nesse processo de construção social da liberdade? Bakunin afirma que a educação e a instrução são de fundamental importância para a conquista da liberdade, pois é através da educação (seja aquela institucional, difundida nas escolas, seja aquela informal, realizada pela família e pelo conjunto das instituições sociais) que as pessoas entram em contato com toda a cultura produzida pela humanidade, desde os primórdios da civilização. (GALLO, Silvio, 1963, p. 105-106).

O Arnaldo NISKER, em seu trabalho sobre Filosofia da Educação, escreveu em suma que todos os modelos de ensino coletivo existentes visam idealizar um modelo pré-estabelecido de formação em massa. No Brasil temos ainda uma corrente tradicionalista que busca reafirmar e produzir conhecimentos delimitados para classes mais baixas. As ideias descritas nas análises do autor buscam entender através de vários exemplos históricos de grupos e conjuntos, que novas teorias que divergem dos métodos de ensino brasileiros tradicionais podem ser empregados. Como a iniciativa transformadora do educador Paulo Freire que dará início a novas linhas metodológicas que buscam entender o sistema dos excluídos pelo modelo tradicional de ensino positivista, questionado por ele e outros educadores na atualidade:

A primeira inspira-se no positivismo de Comte, no organicionismo evolucionista de Spencer e no funcionalismo de Durkheim. Seus objetivos são a ordem, a harmonia, o controle, o progresso. Tal pedagogia não trata de mudança e da inovação educacionais e preocupa-se mais com as consequências do que as causas [...] A mudança social não está nas cogitações da pedagogia do consumo [...] A pedagogia do conflito busca seus princípios em Marx e Engels [...] Os temas abordados à luz dessa pedagogia consistem na alienação, na exploração, nas desigualdades, na emancipação. (NISKIER, Arnaldo, 1935 p.257)

O autor ainda enumera em muitas partes de sua pesquisa, tudo o que faz desta metodologia a mais adequada para as classes desfavorecidas, já que ela busca através da observação crítica que cada educando ache seu mundo e entenda sua funcionalidade, através de questionamentos que elevam o pensamento:

Assim, a educação é, sem dúvida, um elemento não só de continuidade, mas também de ruptura, como local onde é possível lidar com as contradições sociais e problematizar a sociedade. Portanto, a decisão sobre o que saber e o que fazer está na dependência das necessidades vividas, isto é, não mais permitir um saber abstrato desvinculado do vivido, nem uma prática que não esteja inserida na prática social global. Só assim pode ser superada a clássica dicotomia entre teoria e prática, trabalho intelectual e trabalho manual. Enquanto a educação humanista tradicional burguesa visa à aquisição de uma cultura supérflua, “de adorno”, a educação progressista quer formar o homem pelo e para o trabalho.” (Maria Lúcia de Arruda Aranha. NISKIER, Arnaldo, 1963 p. 260)

A Proposta Curricular do Estado de São Paulo (2010), mostra com toda a clareza todos estes preceitos que buscam e incentivam as interdisciplinaridades entre História e Geografia, já que um sujeito só será perceptivo do mundo que o cerca, assim queentender de onde resulta todas as problematizações da sua vida. Deste modo o educando encontrará as respostas para todos os seus questionamentos.

5. INTERDISCIPLINARIDADES NA SALA DE AULA

Na iniciativa de entendermos o que é interdisciplinaridade nas aulas de Geografia, temos que compreender o porquê da necessidade de se estabelecer uma ligação entreesta matéria e suas matérias irmãs, por exemplo a História. Esse recurso tecnológico (Internet) é um dos recursos mais modernos usados para interligar a Geografia e a História, que tanto se inter-relacionam pelos seus meios de abordagens, com as outras Ciências Humanas:

A História, considerada como campo de produção de conhecimento, já perfaz mais de um século de fortes relações interdisciplinares com a Geografia. À parte o fato de se ter o “homem” e as sociedades humanas como objeto de estudo em comum – por ser este o universo obrigatório de estudo partilhado entre a História e a Geografia Humana – pode-se dizer que o Espaço é o grande mediador das relações entre estas duas disciplinas irmãs. Em que pese que esta ‘consciência da espacialidade’ seja hoje bem compreendida pela maioria dos historiadores como fator fundamental para a definição da própria História, pode-se dizer, todavia, que esta consciência, já plenamente desenvolvida, foi uma conquista da historiografia do último século. (BARROS, José D’Assunção, 2010, p. 67)

Para ser interdisciplinar precisamos achar pontos abordados nas aulas de Geografia que podem incrementar as aulas de História e vice-versa, como veremos em uma amostra do texto do pesquisador BARROS, José D’Assunção, que explica a relação entre os termos Historiografia, Geofísica e Geopolítica. São todos princípios teóricos que explicam mudanças geográficas relacionadas com mudanças históricas, resultantes no mundo tal qual conhecemos hoje. Isso vai de encontro ao pensamento inicial:

Esta noção mais ampla de região – como unidade que apresenta uma lógica interna ou um padrão que a singulariza, e que ao mesmo tempo pode ser vista como unidade a ser inserida ou confrontada em contextos mais amplos – abrange na verdade muitas e muitas possibilidades. Conforme os critérios que estejam sustentando nosso esforço de aproximação da realidade, vão surgindo concomitantemente as várias alternativas de dividir o espaço antes indeterminado em regiões mais definidas. Posso estabelecer critérios econômicos – relativos à produção, circulação ou consumo – para definir uma região ou dividir uma espacialidade mais vasta em diversas regiões. (BARROS, José D’Assunção, 2010, p. 71)

Portanto quando um professor começa a fazer comparações entre Espaço e Tempo, sabemos que vamos começar uma nova colisão de ideias e conhecimentos que pouco foram explorados anteriormente, sobre as sociedades que se movimentam e migram com o passar dos anos, como podemos observar no mapa:

MAPA I

Fonte: http://www.sohistoria.com.br/mapas/mapashistoricos/p1.php

Estabelecendouma visão historiográfica do mapa acima fica claro que a colonização do território ocorreu do litoral para o interior do nosso país, o que justifica o fato de a região Sudeste, Nordeste e Sul serem as regiões com maior densidade demográfica do Brasil.

MAPA II

Fonte:http://www.infoescola.com/mapas/mapa-da-densidade-demografica-do-brasil/

Contamos que os educandos entendam que isso serve de exemplo básico para se ter ideia da influência do descobrimento no desenvolvimento urbanos destas regiões, influência esta que se dá até os dias de hoje.“As ações e transformações que afetam aquela vida humana que pode ser historicamente considerada dão-se em um espaço que muitas vezes é um espaço geográfico ou político, e que, sobretudo, sempre e necessariamente constituirse-á em espaço social” (BARROS, José D’Assunção2010 p. 69). Desta forma ficará muito mais fácil para o aluno entender porque as pessoas se concentram em regiões que conhecemos hoje por metrópoles urbanas, como observamos neste mapa:

MAPA III

Fonte: http://teen.ibge.gov.br/images/teen/brasil_populacao.gif

O mesmo podemos depreender na educação ambiental que vem sendo foco de trabalhos de grandes historiógrafos. Estes autores renomados se destacam por fazer uso da interdisciplinaridade de diferentes matérias e temas para explicar a História e a Geografia:

Destacam-se autores como Capistrano de Abreu, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr., Gilberto Freire, Josué de Castro e Darcy Ribeiro. Entre aqueles que se propuseram a escrever no âmbito estrito da História Ambiental sobre o Brasil, algumas obras, mesmo que bastante recentes, já podem ser consideradas clássicas, pela sua qualidade e pelo fato de terem se tornado referências obrigatórias para quem quiser se aventurar por esse novo campo de estudos que combina o exame conjunto de processos naturais e sociais. Enquadram se, nesta categoria, os livros de Warren Dean, A luta pela borracha no Brasil: um estudo de história ecológica (Nobel, 1989) e A ferro e fogo: história e devastação da Mata Atlântica brasileira (Cia. das Letras, 1996); de José Augusto Drummond, Devastação e preservação ambiental: os parques nacionais do Estado do Rio de Janeiro (EDUFF, 1997); de Victor Leonardi, Entre árvores e esquecimentos: História social nos sertões do Brasil (UnB, Paralelo 15, 1996) e Os historiadores e os rios: natureza e ruína na Amazônia brasileira (UnB/Paralelo 15, 1999); e de Paulo Bertran, História da terra e do homem no Planalto Central: eco-história do Distrito Federal: do indígena ao colonizador (Solo, 1994).(Franco, José Luiz de Andrade p.390. Disponível em: www.scielo.br/pdf/se/v18n1-2/v18n1a17.pdf)

Dessa forma todos os autores buscam interligar temas usando de competências e habilidades que são essenciais para o desenvolvimento dos educandos, que através da interdisciplinaridade encontram o saber e compreendem o mundo em que vivem,como veremos na Proposta Curricular do Estado de São Paulo de 2008:

Isto é, ele apresenta e explica conteúdos, organiza situações para a aprendizagem de conceitos, métodos, formas de agir e pensar, em suma, promove conhecimentos que possam ser mobilizados em competências e habilidades, as quais, por sua vez, instrumentalizam os alunos para enfrentar os problemas do mundo real. Dessa forma, a expressão “educar para a vida” pode ganhar seu sentido mais nobre e verdadeiro na prática do ensino. Se a educação básica é para a vida, a quantidade e a qualidade do conhecimento têm de ser determinadas por sua relevância para a vida de hoje e do futuro, além dos limites da escola. Portanto, mais que os conteúdos isolados, as competências são guias eficazes para educar para a vida. As competências são mais gerais e constantes, e os conteúdos, mais específicos e variáveis. É exatamente a possibilidade de variar os conteúdos no tempo e no espaço que legitima a iniciativa dos diferentes sistemas públicos de ensino para selecionar, organizar e ordenar os saberes disciplinares que servirão como base para a constituição de competências,cuja referência são as diretrizes e orientações nacionais, de um lado, e as demandas do mundo contemporâneo, de outro. (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo, 2008. p.18).

Entendido o conceito de competências, falta agora estabelecer quais são as habilidades que este projeto pedagógico almeja desenvolver em seus alunos. Para os organizadores da Proposta Curriculares do Estado de São Paulo de 2008, há um desejo de se aplicar novos meios para explicar o conteúdo:

Proposta Curricular adota, como competências para aprender, aquelas que foram formuladas no referencial teórico do Enem – Exame Nacional do Ensino Médio. Entendidas como desdobramentos da competência leitora e escritora, para cada uma das cinco competências do Enem transcritas a seguir, apresenta-se a articulação com a competência de ler e escrever.
I. “Dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer uso das linguagens matemática,artística e científica.” A constituição da competência de leitura e escrita é também o domínio das normas e dos códigos que torna mas linguagens instrumentos eficientes de registro e expressão, que podem ser compartilhados.Ler e escrever, hoje, são competências fundamentais a qualquer disciplina ou profissão. Ler, entre outras coisas, é interpretar(atribuir sentido ou significado), e escrever, igualmente, é assumir uma autoria individual ou coletiva (tornar-se responsável por uma ação e suas conseqüências). (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo, 2008. p.19).

Todavia, os professores que buscam a interdisciplinaridade precisam de espaço para desenvolvê-la.Os organizadores e gestores das instituições de ensino, tanto pública quanto particular devem elaborar atividades como palestras, projetos ou grupos de discussão que buscam a ligação entre as duas disciplinas. E isto deve ser feito com a participação das duas turmas que apesar de estarem tendo aulas em matérias diferentes tem como objetivo principal a busca pelo saber:

O professor desempenha um papel fundamental neste processo, porém muitas vezes sua iniciativa é barrada pelo desinteresse de educadores de outras áreas do conhecimento e até mesmo da falta de apoio do corpo docente da escola (gestor administrativo).
Para que se aplique um ensino interdisciplinar, deve haver uma cooperação entre o corpo docente da escola, com trocas de conhecimento e metodologias de ensino buscando inter-relações entre as diferentes ciências.
Porém, esta troca de conhecimento não deve se restringir apenas ao momento do intervalo ou nas horas atividades, o corpo docente da escola (gestor administrativo) deve abrir espaços para ampliar o contato entre as disciplinas, promovendo grupos de estudos voltados à elaboração de projetos a serem realizados durante o ano letivo. (Marcelino, Andréa Rabelo & Silva, Marcos Pereira da. Disponível em: http://enalic2014.com.br/anais/anexos/6251.pdf p.3)

Os conhecimentos linguísticos são primordiais para saber se determinado retrato descritivo vai além da arte da escrita e se revela como uma fonte tanto histórica quanto geográfica:

II. “Construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico geográficos, da produção tecnológica e das manifestações artísticas.” É o desenvolvimento da linguagem que possibilita o raciocínio hipotético-dedutivo, indispensável à compreensão de fenômenos. Ler, nesse sentido, é um modo de compreender, isto é, de assimilar experiências ou conteúdos disciplinares (e modos de sua produção); escreveré expressar sua construção ou reconstrução com sentido, aluno por aluno.(SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo, 2008. p. 20).

Através da interdisciplinaridade poderemos entender o país em que vivemos, que é um Brasil marcado pela diversidade, principalmente étnica e cultural e qual a sua verdadeira face social, de acordo com as análises feitas pelos pesquisadores MARCELINO, Andréa Rabelo &SILVA, Marcos Pereira da, que mostram uma aplicação prática dos métodos em sala de aula:

As pinturas representam algumas situações cotidianas, problemas sociais e econômicos, paisagens, e etc., que podem ser explorados no ensino da Geografia. O professor deve apresentar a obra a ser estudada, instigando a leitura desta, perguntando, qual a finalidade, os elementos representados, em que época foi produzida, logo fazendo a relação com o seu conteúdo. Segue abaixo algumas obras que podem ser utilizadas no ensino da geografia:


Obra de Bob Dylan


Os operários, obra de Tarsila do Amaral, 1933.


Disponível em: http://obatente.jor.br/blog/jornal/?m=200709&paged=2. (Marcelino, Andréa Rabelo & Silva, Marcos Pereira da. Http://enalic2014.com.br/anais/anexos/6251.pdf p.5-7)

Métodos mais eficazes de ensino interdisciplinar vem sendo procurados, mas fica difícil fazê-lo se o professor não tiver apoio e recursos por parte da administração escolar, cabendo a eles desenvolverem atividades conjuntas com professores de diferentes áreas do saber e disponibilizar salas com recursos tecnológicos que ajudem nas reflexões propostas durante as aulas:

A falta de recursos materiais ou espaço físico adequado, como sala de informática, biblioteca ou laboratório, apontada por 59% das professoras-alunas e professores-alunos entrevistados (categoria 15), é, sem dúvida, um elemento dificultador para o trabalho docente com atividades interdisciplinares. Contudo, entende-se que na ausência de tais recursos, o professor ou professora pode planejar atividades que necessitem de materiais mais simples ou dos que lhe estejam disponíveis. A categoria 23 traz um problema comum a 81,8% dos docentes entrevistados: dificuldades de relacionamento com a direção e/ou coordenação escolar. Os professores e professoras se sentem intimidados pela administração. Essa, muitas vezes, os proíbe ou dificulta o uso de materiais, como videocassetes e laboratório de informática. Além disso, atividades que possam causar uma certa “indisciplina” por parte dos alunos e alunas não são bem aceitas pelos administradores e administradoras escolares, de acordo com os docentes entrevistados. (Augusto, Thaís Gimenez da Silva & Caldeira, Ana Maria de Andrade. Investigações em Ensino de Ciências – V12(1), p.139-154,2007. Disponível em: http://www.if.ufrgs.br/ienci/artigos/Artigo_ID165/v12_n1_a2007.pdf p.7)

Todo conteúdo tem por finalidade ser ensinado claramente para que haja uma compreensão mais fácil deste. Os grupos de alunos de diferentes faixas etárias que têm assuntos que se relacionam de forma intrínseca permitem que os professores das ciências humanas possam planejar aulas conjuntas. Todos poderiam aprender se houvesse os mesmos recursos disponíveis em sala de aula, ou seja, todos os professores criariam um roteiro que permitiria que as matérias se comunicassem. Um exemplo seria professores de História, Português e Geografia falando sobre Gilberto Freire, Casa Grande e Senzala, mostrando as adversidades que o Brasil sofreu com o uso da mão de obra negra como escrava:

Os primeiros portugueses que procederam à montagem do sistema escravista no Brasil estavam cientes da diversidade africana, e, portanto, das possibilidades de afirmação de diferenças a partir desta diversidade. Mas eram diferenças que, no caso, não lhes interessavam. Motivar as rivalidades étnicas no próprio continente africano, como veremos mais adiante, era extremamente interessante para os traficantes negreiros, já que era da massa de vencidos nas guerras e conflitos intertribais que os traficantes negreiros obtinham os indivíduos que seriam transformados em escravos. Mas permitir que estas identidades étnicas se fortalecessem já nas colônias onde os africanos seriam submetidos à escravidão, isso já era particularmente perigoso. Por isto os compradores de escravos para a empresa agrícola ou para as atividades urbanas costumavam separar estrategicamente os indivíduos provenientes de uma mesma etnia e região cultural, misturando escravos de diferentes procedências e etnias – tudo para evitar que fossem revividos certos padrões de identidades locais africanas que não estavam assim tão distantes (e, conseqüentemente, prevenir potenciais revoltas). Construir a idéia do “negro”, da realidade que transcende todas as etnias, que as supera ou mesmo as cancela, era o procedimento-chave. Por outro lado, se para fins de censo e controle era preciso classificar os negros despejados pelo tráfico no Brasil, também se procedia à construção de novas diferenças, muito pouco coincidentes com as realidades étnicas originais. Incorporava-se à identidade do negro uma procedência geográfica que, via de regra, relacionava-se aos portos africanos de tráfico que os haviam exportado para o Brasil, independente de sua verdadeira origem. Cabindas, minase congos, por exemplo, eram designações que tinham origem em portos ou circuitos de tráfico específicos, como veremos oportunamente. Angolanos, congolesese benguelaseram referências a circuitos geográficos em que apareciam embaralhadas muitas etnias. (BARROS, José D’Assunção. A construção social da cor. Desigualdade Escrava e Diferença Negra no processo de formação e superação do escravismo colonial. Disponível em: http://www.plataformademocratica.org/Publicacoes/6893_Cached.pdfp.48)

Muitas vezes por falta de entendimento nas áreas das ciências humanas, onde não é feita uma abordagem que trabalhe as competências e habilidades, os educandos não poderão entender o que se passa no Brasil e não poderão ligar essas informações aos vários conceitos da literatura entendo o contexto histórico em que se passa a obra. Saindo da História e indo para a Literatura (L. Portuguesa) o professor poderá abordar as obras do aclamado escritor Jorge Amado, que descreve com riqueza de detalhes as comunidades descendentes dos escravos (africanos) no Brasil, em especial a região nortista:

Na “Cidade de Bahia” maneira como popularmente a Capital Salvador era designada no século XIX e também XX, sobretudo pelas pessoas do interior do Estado, sejam nos espaços “oficiais” ou na sua periferia economicamente pobre, mas socialmente rica de referências culturais africanas, como: a arquitetura da casa, da rua e do bairro; o espaço do terreiro de candomblé; a mandinga da capoeira na Área do Cais do Porto; a sedução do Samba de Roda; dentre outras expressões territorializadas, a obra de Jorge Amado, possibilitou no Brasil, um conhecimento desses “universos” pelas oligarquias, sobretudo e, difundir, pelo menos em 25 outras línguas (espanhol, francês, italiano, alemão, coreano, dinamarquês, grego, holandês, italiano, polonês, russo, theco, húngaro, basco, chinês, inglês, norueguês, romeno, hebarico, islandês, sueco, turco, árabe, croata, libanês, ucraniano, dentre outras), um “Brasil Africano” que teria dificuldades de ser mostrado se não houvesse um autor identificado com as referências africanas no Brasil, marcadamente representados nos seus personagens e cenários geográficos. (ANJOS, Rafael Sanzio Araújo dos. 2013, p.11).

Portanto podemos dizer que todos esses contextos explicados em conjunto ajudam o aluno a visualizar melhor o todo, levando em conta sua raiz histórica ao longo da História do Brasil, descobrindo as culturas que existem ali e revelando também suas adversidades atuais. O professor de Geografia pode mostrar através das obras do autor Jorge Amado, a vida dos personagens que representam a resistência da cultura dos afro-brasileiros, uma classe desfavorecida e também seus costumes que são vividos na cidade Salvador cenário escolhido pelo autor:

Verificamos que sem a “Geografia Africana da Cidade da Bahia” a literatura de Jorge Amado jamais seria a mesma, ou seja, o território da cidade de Salvador, marcado fortemente na primeira metade do século XX, por uma identidade africana bem definida no cotidiano urbano, mesmo no contexto de exclusão sócio espacial e o preconceito secular do sistema escravocrata. Seja nos espaços “oficiais” ou na sua periferia economicamente pobre, mas socialmente rica de referências culturais africanas, como: a arquitetura da casa, da rua e do bairro; o espaço do terreiro de candomblé; a mandinga da capoeira na Área do Cais do Porto; a sedução do Samba de Roda; dentre outras expressões territorializadas, a obra de Jorge Amado, possibilitou no Brasil e no exterior, um conhecimento desses “universos” pelas oligarquia se intelectuais, sobretudo e, difundir um “Brasil Africano” que teria dificuldades de ser mostrado se não houvesse um autor identificado com as referências africanas no Brasil, marcadamente representados nos seus personagens e cenários geográficos. Mesmo com os riscos dos estereótipos criados pelos “imaginários” provocados pelas obras do autor ao longo do século XX e neste início do século XXI, não se verifica nenhum (a) autor (a) que trate das matrizes africanas sobreviventes e resistentes no Brasil com a amplitude geográfica realizada por Jorge Amado. Nesse sentido, como Carybé e Pierre Verger, ambos “mensageiros” vindos de terras distantes (Argentina e França), o Jorge Amado foi o nosso “mensageiro dacasa”. (ANJOS, Rafael Sanzio Araújo dos. 2013, p.21)

Esse contexto histórico pós-escravidão levou a migração de povos e o surgimento de favelas e isso se caracteriza como geografia já que é ela que estuda a formação do espaço em quevivemos. Eis aí um exemplo a ser dado em uma aula interdisciplinar.

Há falta de recursos e materiais que auxiliem os educadores no momento de explicar tais conceitos e ainda há falta de trabalhos conjuntos entre professores de diferentes matérias, como no caso do exemplo acima :Língua Portuguesa, Geografia e História. Seria necessário um plano de aula conjunto. A falta de estrutura educacional, com recursos tecnológicos que permitam uma aula mais dinâmica, em nada contribuem no desenvolvimento de uma aula interdisciplinar. O que vemos hoje é um sistema falho repetindo formas antigas de educar que já demostram falhas em desenvolver o aluno na sala de aula:

Os caminhos mais recentes da Geografia Humana também convergiram para considerar o espaço como “campo de forças”. É de um “espaço social” que Milton Santos está falando quando propõe associar a noção de campo a uma GeografiaNova5. Abordando a questão do ponto de vista do materialismo dialético, ele chama atenção para o fato de que o espaço humano é, em qualquer período histórico,resultado de uma produção. “O ato de produzir é igualmente o ato de produzir espaço”. O homem, que devido à sua própria materialidade física é ele mesmo espaço preenchido com o próprio corpo, além de ser espaço também está no espaço e produz espaço. (BARROS, José D’Assunção, 2011. p. 16)

O professor agora tem um norte para seguir, mas fica claro a falta de recursos e materiais didáticos para se estabelecer uma aula mais dinâmica e interligada. São necessários cronogramas mais flexíveis para a elaboração das atividades conjuntas entre as disciplinas, principalmente a História e a Geografia, criando assim práticas interdisciplinares mais constantes.

Currículo do Estado de São Paulo História
6a- série/7o- ano do Ensino Fundamental
4º- bimestre
Conteúdos

Tráfico negreiro e escravismo africano no Brasil
Ocupação holandesa no Brasil
Mineração e vida urbana
Crise do Sistema Colonial
• Reconhecer a importância do trabalho humano, identificando e interpretando registros sobre as formas de sua organização em diferentes contextos históricos
• Identificar as principais características do trabalho escravo no engenho açucareiro e nas minas
• Identificar processos históricos relativos às atividades econômicas responsáveis pela formação e ocupação territorial
• Identificar as formas de resistência dos africanos e afrodescendentes visando à extinção do trabalho escravo, com ênfase para os quilombos
• Reconhecer que a formação das sociedades contemporâneas é resultado de interações e conflitos de caráter econômico, político e cultural
• Identificar as principais revoltas e rebeliões do período regencial, suas características,objetivos e resultados
• Identificar os principais fatores que levaram à crise do Sistema Colonial no Brasil
• Analisar os processos sócio históricos de formação das instituições políticas e sociais. (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo, 2010. p. 47).

A presente pesquisa usou a História do Brasil como formação dos valores culturais e do espaço atuais, mas a História Mundial também teve sua contribuição para o cenário que vivemos neste início do século XXI.

Currículo do Estado de São Paulo Geografia
6a- série/7o- ano do Ensino Fundamental
4º- bimestre
Conteúdos

Brasil: população e economia
A população e os fluxos migratórios
A revolução da informação e a rede de cidades
O espaço industrial
• Concentração e descentralização. O espaço agrário e a questão da terra
• Identificar geograficamente características e dinâmicas dos fluxos populacionais,relacionando-os com a constituição do espaço
• Interpretar, por meio de diferentes linguagens, o processo de ocupação territorial e aformação da sociedade brasileira
• Descrever e aplicar o conceito de densidade demográfica
• Descrever e aplicar o conceito de fluxos populacionais (processos migratórios) emassociação com a produção do espaço contemporâneo e do Brasil
• Identificar, por meio de mapa, a distribuição da população brasileira segundo asdiferentes regiões
• Associar o processo de concentração demográfica ao processo de urbanização
• Identificar e discutir as transformações que ocorreram nas formas de uso e apropriaçãodo espaço agrário e industrial ao longo da história brasileira. (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo, 2010. p. 90).

Ao longo do ano letivo, o professor de Geografia fará um diálogo entre espaço e tempo, desenvolvendo novas hipóteses sobre como o Brasil foi colonizado e de que modo esses acontecimentos influenciam a nossa sociedade até hoje e isso deverá ser feito por meio do estudo do espaço urbano e de suas migrações, sendo isso essencial para um aluno que aprende no Ciclo do Ensino Fundamental II e Ensino Médio. Portanto cabe ao professor ajudar seu aluno a compreender fatores históricos que contribuíram para a formação de nosso país. Tanto professor quanto aluno, são agentes presentes no seu mundo em que vivem e são resultado desta história, ou seja, são um retrato desta realidade social geográfica em muitos aspectos.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Interdisciplinaridades são ações que visam ajudar o aluno a entender como as diferentes matérias estão interligadas por assuntos que se complementam. Seria muito mais fácil se tivéssemos professores preparados para escolher, elaborar e até reelaborar, se necessário, materiais para estas aulas dirigidas em conjunto. Em publicações da FDT, e de outras editoras educacionais podemos ver tais abordagens. Até mesmo em materiais criados pelas escolas públicas como o Caderno do Aluno teremos abordagens interdisciplinares. Mas ainda é pouco.

Ainda vemos que não existe uma forma de integralização entre os professores, tão pouco uma proposta preestabelecida para que as escolas criem cronogramas especiais visando encaixar turmas com as mesmas metodologias e assuntos temáticos com os horários já estabelecidos para as matérias de História e Geografia. O professor é obrigado a ir por rumo sem saber quais foram as explicações dadas pelos seus colegas professores para alicerçar sua aula interdisciplinar.

Todos os educandos ficam expostos a diferentes abordagens sem nenhum planejamento adequado, já que cada professor fica limitado a sua aula com seu horário estabelecido e não tem tempo de discutir com seus outros colegas professores como estão as aulas e o que está dando certo ou não.

Portanto é necessário mudarmos esta realidade; é preciso que os professores tenham uma programação para fazerem estas abordagens e cabe aos administradores escolares: Diretores e Coordenadores, deliberar novas organizações que visem atender esta necessidade que tanto ajuda na formação dos educandos.

É preciso direcionamento de recursos, tempo e entendimento entre os educadores e isso exige uma formação mais ampla. Seria essencial que o professor de Geografia fosse também Historiador e que o Historiador fosse professor de Geografia, porque senão os professores serão obrigados a atuarem com vários recursos sem entendê-los. Os conteúdos devem ser trabalhados ao mesmo tempo pelas áreas do saber. Podemos pensar em trabalhos como Era dos Extremos de ERIC HOBS BAWM e comparar os sistemas de geopolítica que construíram a Historiografia como na obra do WANDERLEY MESSIAS DA COSTA, Geografia Política e Geopolítica, sobre este aspecto temos uma linha de raciocínio que desenha para o educando as mudanças e quais as razões para tais modificações.

Um exemplo destas atividades seria um professor de História que ministra aula e a planeja levando em consideração o que os professores de Geografia e Ciências usaram em aula. Pegando o tema: A História da terra e os recursos minerais, poderíamos falar dos recursos nas aulas de Geografia, em Ciências sobre meio ambiente e sua estrutura até os primórdios da nossa civilização (Pré-História).

As Propostas Curriculares do Estado de São Paulo em suas múltiplas ciências (EXATA, HUMANAS E LINGUÍSTICAS) permitem a reelaboração temática das disciplinas levando em consideração uma fórmula comum resultando em uma aprendizagem mais fácil para o educando em sala de aula. Tudo isso será possível se houver solicitude entre os professores nas suas diferentes áreas e que a administração pedagógica desenvolva métodos de estímulo para facilitar a comunicação e elaboração das aulas interdisciplinares, desta forma elas deixam de ser aulas esporádicas e se tornam constantes.O aluno será o grande favorecido neste caso, fazendo um método quase impossível de ser aplicado, se tornar algo essencial em sala de aula.

7. REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 2ª Edição – São Paulo: Editora Moderna, 1996.

BOULOS, Júnior Alfredo. História sociedade & cidadania, 7º ano. 3ª Edição, São Paulo: FTD, 2015.

COSTA, Wanderley Messias da. Geografia Política e Geopolítica: Discurso sobre o Território e o Poder. 2 ª Edição, São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2010.

FREIRE, Paulo.(Org.) SOUZA, Ana Inês. Vida e Obra.In: ALBURQUERQUE, Targélia de Souza. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários. São Paulo: Expressão Popular, 2001.

_____.Vida e Obra.In:SCHNORR, Giselle Moura. Pedagogia do Oprimido.São Paulo: Expressão Popular, 2001.

FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: Formação da Família Brasileira sob o Regime da Economia Patriarcal. Edição 51ª, São Paulo: Global, 2006.

GALLO, Silvio. Pedagogia Libertária: Anarquistas, Anarquismo e Educação. São Paulo: Imaginário: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2007.

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O Breve Século XX, 1914-1991. 2ª edição, 9ª reimpressão, Companhia das Letras. Disponível em: https://cesarmangolin.files.wordpress.com/2010/02/hobsbawm-a-era-dos-extremos.pdf.

NISKIER, Arnaldo. Filosofia da Educação: Uma visão crítica. Rio de Janeiro: Consultor, 1992.

SANTOS, Milton; SOUZA, Maria Adélia A. de. O Espaço Interdisciplinar. São Paulo: Nobel. 1986.

SECRETARIA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo: Geografia /Coord. Maria Inês Fini. – São Paulo: SEE, 2008.

_____.Proposta Curricular do Estado de São Paulo: Ciências /Coord. Maria Inês Fini. – São Paulo: SEE, 2008.

SÃO PAULO (ESTADO) SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Currículo do Estado de São Paulo: Ciências Humanas e suas tecnologias /Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; coordenação de área,Paulo Miceli. – São Paulo: SEE, 2010.

TAMDJIAN, James Onnig & MENDES, Ivan Lazari. Estudos de geografia: o espaço geográfico do Brasil, 7º Ano. São Paulo: FTD, 2012.

ANJOS, Rafael Sanzio Araújo dos. Tempo –Técnica – Território. O Brasil africano de Jorge Amado: Territórios, Cartografias & Fotografias. v.4, n.1, Revista Eletrônica:2013.

AUGUSTO, Thaís Gimenez da Silva & CALDEIRA, Ana Maria de Andrade. Investigações em Ensino de Ciências. V12(1), pp.139-154,2007 http://www.if.ufrgs.br/ienci/artigos/Artigo_ID165/v12_n1_a2007.pdf

BARROS, José D’AssunçãoA construção social da cor. Desigualdade Escrava e Diferença Negra no processo de formação e superação do escravismo colonial. 2011. Disponível em: http://www.plataformademocratica.org/Publicacoes/6893_Cached.pdf

_____.Geografia e História: uma interdisciplinaridade mediada pelo espaço.In:Geografia - Revista da Universidade Estadual de Londrina. vol.19, n°3, 2010.

MARCELINO, Andréa Rabelo & SILVA, Marcos Pereira da.Interdisciplinaridade no Ensino da Geografia.Http://enalic2014.com.br/anais/anexos/6251.pdf

PÁDUA, José Augusto. Um sopro de destruição: pensamento políticoe crítica ambiental no Brasil escravista (1786-1888). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

MAPA I: http://teen.ibge.gov.br/images/teen/brasil_populacao.gif

MAPA II: http://www.sohistoria.com.br/mapas/mapashistoricos/p1.php

MAPA III: http://www.plataformademocratica.org/Publicacoes/6893_Cached.pdf p.48


Publicado por: Andrei Rissuto

icone de alerta

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.