Gêneros digitais e ensino: uma análise da linguagem escrita na sala de aula
índice
- 1. RESUMO
- 2. INTRODUÇÃO
- 3. I CAPÍTULO
- 4. II CAPÍTULO
- 4.1 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
- 4.1.1 Contexto da pesquisa
- 4.1.2 Pesquisa com os alunos
- 4.1.3 Pesquisa com os professores
- 4.1.4 Análise do Corpus
- 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
- 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1. RESUMO
O objetivo desta pesquisa foi investigar se a linguagem utilizada na internet está influenciando na escrita em sala de aula. Realizamos nossa investigação com as turmas do Ensino Médio da Escola Estadual “José Bejo”, localizada no município de Glória D’Oeste/MT. Para tanto propomos questionários aos professores e aos alunos que nos proporcionassem verificar se estes tinham conhecimento de como e onde poderiam usar o internetês, e se os professores têm alertado os alunos em que situações são permitidas utilizar esta nova modalidade da escrita. Também coletamos textos escritos pelos alunos e alguns cadernos para verificar ou não a influência dessa nova linguagem. Contudo, parece-nos que mesmo com todas as inovações, ainda não há razões para se preocupar com ocorrências de abreviações na escrita dos alunos em sala de aula, pois até o momento podemos constatar que os alunos utilizam mais esta nova modalidade da língua quando escrevem recados ou bilhetes para os colegas, assim como no MSN (Messenger) um programa que exige do usuário habilidade e agilidade na escrita devido às conversas realizarem-se em um tempo quase real. Após nossa investigação, podemos afirmar que os jovens têm noção de que para cada situação de comunicação há um tipo de linguagem específica, conforme o gênero discursivo empregado.
Palavras-chave: Gêneros Digitais, Internetês, Ensino
2. INTRODUÇÃO
O grande número de jovens que têm acesso à rede mundial de computadores interligados através da internet tem possibilitado o surgimento de novos gêneros digitais, e conseqüentemente, de uma linguagem especial, o internetês, uma nova modalidade da língua escrita utilizada no meio virtual, principalmente em conversas no MSN (Messenger), um programa onde pessoas se comunicam por meio de uma escrita que tem características da oralidade, repleta de gírias e abreviações.
O fácil acesso às Lan Houses tem possibilitado aos jovens aderirem a esses novos gêneros, e é pensando nesse freqüente contato com uma nova modalidade da escrita que surge uma preocupação: Os jovens podem estar aderindo a essa escrita utilizada na internet a ponto desta influenciar na escrita em sala de aula?
É devido a esse questionamento que nos propomos em nosso projeto investigar se a linguagem utilizada na internet tem influenciado na escrita em sala de aula dos alunos do Ensino Médio da Escola Estadual “José Bejo”, e de que forma os professores tem trabalhado com os alunos o surgimento do internetês, visto a necessidade de levar os alunos a compreenderem que para cada situação de comunicação há uma forma de comunicação específica, conforme o gênero discursivo empregado.
Uma das razões que nos levou a escolher os jovens para desenvolver nossa pesquisa foi justamente o fato de eles sempre buscarem inovar, e a internet ser um meio de comunicação que possibilita aos usuários transcrever e apresentar a língua oral de maneira totalmente inovadora, com criatividade é possível produzir desenhos que transmite as emoções dos interlocutores. Não esquecendo também que os jovens são grandes usuários do e-mail, que atualmente parece ser uma das formas de comunicação mais utilizada hoje, visto que os equipamentos informáticos e as novas tecnologias de comunicação têm feito parte de nossas vidas de forma intensa.
Nossa investigação se realizou por meio de um questionário aplicado aos alunos e aos professores, em que nosso objetivo foi descobrir se os alunos tinham ou não acesso a internet, com que freqüência e de que forma se dava o contato com este meio de comunicação, quais as razões que mais os levavam a entrar na internet e se eles percebiam diferenças entre a escrita da sala de aula e a utilizada na internet. Com os professores também procuramos saber com que freqüência estes tinha acesso à internet, para que eles mais a utilizavam e principalmente se eles haviam notado alguma influência do internetês na escrita dos alunos na sala de aula.
Após a aplicação dos questionários recolhemos cadernos e produções de textos dos alunos para que assim pudéssemos confrontar as respostas que obtivemos nos questionários com o que de fato ocorre na escrita dos alunos na sala de aula.
Nosso trabalho está estruturado em dois capítulos. O primeiro capítulo está dividido em duas etapas, a primeira, fornece a fundamentação teórica para esta pesquisa, e em um segundo momento faz-se a exposição dos gêneros digitais e a linguagem utilizada na internet. Já o segundo capítulo fornece as descrições das pesquisas realizadas com os alunos e com os professores e na seqüência expõe-se o desenvolvimento da análise dos dados colhidos e das conclusões que alcançamos.
3. I CAPÍTULO
3.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste primeiro capítulo apresentamos a fundamentação teórica que subsidiou nossa pesquisa. Iniciamos com uma abordagem a respeito da teoria dos gêneros discursivos proposta por Bakhtin e desenvolvida por autores como Bronckart, Faraco, Marcuschi e outros. Na seqüência refletimos sobre o surgimento de diversos gêneros digitais e a utilização de uma nova linguagem escrita que tem se difundido entre internautas, o chamado internetês.
3.1.1. Os gêneros discursivos
Segundo Bakhtin (2003), os gêneros do discurso1 são tipos de enunciados, relativamente estáveis e normativos, que estão sempre vinculados a situações típicas de comunicação social. Para o autor aprender a falar significa aprender a construir enunciados, isto porque falamos por enunciados e não por orações isoladas, ou palavras isoladas, ou seja, a comunicação só se concretiza na enunciação, a partir da integração entre dois indivíduos socialmente organizados.
Neste caso, podemos dizer que os gêneros se constituem historicamente a partir de novas situações de interação verbal da vida social que vão se estabilizando no interior das diferentes esferas sociais, nas quais se houver qualquer mudança, esta acabará por gerar mudanças no gênero. Visto que cada gênero está vinculado a uma situação social de interação típica, dentro de uma esfera social que tem finalidade discursiva, e sua própria concepção de autor e destinatário.
Segundo Bakhtin (2003, p. 293) “o enunciado é a unidade real da comunicação verbal”, ou seja, a fala só existe, na realidade, na forma concreta dos enunciados de um indivíduo: do sujeito de um discurso-fala. O discurso se molda sempre à forma do enunciado que pertence a um sujeito falante e não pode existir fora dessa forma.
Cada enunciado constitui-se em um novo acontecimento, um evento único da comunicação discursiva, por esta razão é que ele não pode ser repetido, mas pode ser citado, constituindo-se assim como um novo acontecimento.
Importante ressaltar a distinção que Bakhtin (2003) faz dos gêneros, definindo-os como primários e secundários. Os gêneros primários (simples) se constituem na comunicação discursiva imediata, faz parte de nosso cotidiano, não tem nenhum compromisso formal, alguns exemplos deste tipo de gênero são: as conversas de salão, as conversas sobre os temas cotidianos ou estéticos, a carta, o diário íntimo, o bilhete, etc. Já os gêneros secundários (complexos) surgem em situações formais, na qual a comunicação cultural é mais evoluída e complexa, como as mediações em interações sociais nas esferas artística, religiosa, científica e jornalística, são exemplos de gêneros secundários: o romance, o editorial, a tese, a palestra, o anúncio, o livro didático, a encíclica, etc.
Todo enunciado constitui-se a partir de outros enunciados, já-ditos e previstos um exemplo desta alegação é a obra literária, ao criar um romance, por exemplo, cria-se um enunciado integral e único, mas este foi elaborado a partir de outros enunciados, os heterogêneos. Os gêneros secundários são exemplos de enunciados que se constitui a partir de outros enunciados, ou seja, este absorve e reelabora diversos gêneros primários em seu processo de formação.
Cada gênero tem seu campo predominante de existência, onde se torna insubstituível, o surgimento de novos gêneros não gera a extinção daqueles já existentes. O comentário e o artigo são exemplos, pois o seu surgimento não fez com que o editorial desaparece, assim como o telefonema não eliminou a conversa face a face, nem mesmo o e-mail pessoal fez com que a carta extinguisse. Na realidade cada gênero aumenta e influência os gêneros de determinadas esferas, e o seu desaparecimento se dá pela ausência de condições sociais e comunicativas que os produzem, isto é, a cada situação social de interação, cada enunciado individual contribui para renovação, existência e continuidade dos gêneros. Bakhtin (2003, p. 106) a esse respeito diz: “O gênero sempre é e não é ao mesmo tempo, sempre é novo e velho ao mesmo tempo”.
Essa observação a respeito da vida dos gêneros que Bakhtin traz, diz respeito a sua atualização e, em outras palavras, ao seu movimento contínuo entre a unidade e a continuidade. Neste ponto faremos uma simples observação histórica quanto ao surgimento dos gêneros. Em uma primeira fase, povos de cultura essencialmente oral desenvolveram um número limitado de gêneros, que após a invenção da escrita alfabética por volta do século VII A. C., multiplicaram-se, surgindo os gêneros da escrita, que logo depois se expandiram ainda mais com o crescimento da imprensa, e hoje em plena fase da globalização podemos presenciar através do telefone, do gravador, da televisão, do rádio e do computador juntamente com a era da internet, a exploração de novos gêneros e novas formas de comunicação tanto oral como escrita.
É certo que não é propriamente as tecnologias responsáveis por originar esses novos gêneros, mas sim a intensidade do uso dessas tecnologias e suas interferências nas atividades comunicativas diárias. Neste caso, podemos citar o e-mail (correio eletrônico) que tem contribuído no cotidiano de seus usuários, como documentos extremamente importantes que antes demoravam dias para chegar ao seu destino, através do correio, hoje podem chegar a poucos minutos, bastando apenas um clique, contribuindo assim na agilidade de muitos trabalhos.
Podemos dizer que esses novos gêneros da era digital não são absolutamente novos, mas sim têm formas inovadas de serem utilizados. O e-mail, por exemplo, é um gênero relativamente novo que vem ganhando cada vez mais espaço, principalmente devido à rapidez de comunicação, na qual as pessoas têm possibilidade de interagir independente de onde quer que estejam em um tempo quase real, e em muitos casos utiliza-se no e-mail as mesmas mensagens que são escritas em cartas e bilhetes. Marcuschi (2005, p. 31) traz um quadro com os gêneros textuais emergentes e suas contrapartes em gêneros já existentes:
Gêneros emergentes |
Gêneros já existentes |
|
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 |
Chat em aberto Chat reservado Chat ICQ (agendado) Chat em salas privadas Entrevista com convidado E-mail educacional (aula por e-mail) Aula Chat (aulas virtuais) Vídeo-conferência interativa Lista de discussão Endereço eletrônico Blog |
Carta Pessoal// bilhete// correio Conversações (em grupos abertos?) Conversações duais (casuais) Encontros pessoais (agendados) Conversações (fechadas) Entrevista com pessoa convidada Aulas por correspondência Aulas presenciais Reunião de grupo / conferência / debate Circulares / séries de circulares (???) Endereço postal Diário pessoal, anotações, agendadas |
Neste quadro Marcuschi (2005) sugere uma semelhança formal e funcional entre os gêneros novos e antigos, porém nem sempre há uma contraparte clara, pois esses gêneros têm características próprias que devem ser analisadas individualmente.
Segundo Faraco (2003), os gêneros englobam a forma histórica, são antes de tudo uma atividade social da linguagem, é através dos gêneros que se apresentam as visões do mundo. É como os atos sociais, regulam, organizam e significam a interação, todo gênero tem seu próprio conteúdo temático, seu próprio objeto de discurso, no qual é necessário obedecer à situação de comunicação nos diversos gêneros, por exemplo, ao dialogar como um amigo não deve chamá-lo de vossa excelência ou meritíssimo. Nem muito menos iremos contar piadas em encontros sociais de grande formalidade, ou sequer escrever em uma correspondência padronizada, ou em um documento palavras abreviadas como: você (vc), beleza (blz), tudo (td), beijos (bjs). Há gêneros para todos os tipos de comunicação, cabe a nós sabermos onde e quando usá-los. A este respeito Bakhtin (2003) traz que em todas as esferas da comunicação verbal, nós fazemos uso dos gêneros, e é por esta razão que todos os enunciados que proferimos dispõe de uma forma padrão de estruturação, que segundo o autor nos apropriamos dessas formas desde que aprendemos a língua materna, visto que as assimilamos por enunciados, o que torna possível a comunicação humana.
Em cada época de seu desenvolvimento, a língua escrita é marcada pelos gêneros do discurso, afinal a língua é uma constituição viva presente em cada um de nós, em constante transformação, pois ao mesmo tempo em que adquire novos elementos, coloca outros em desuso, sendo este um processo totalmente normal, processo de evolução que acompanha as transformações sociais, econômicas e culturais dos povos.
Em termos bakhtinianos, os gêneros podem ser caracterizados da seguinte forma:
-
São tipos relativamente estáveis de enunciados presentes em cada esfera de troca: os gêneros possuem uma forma de composição, isto é, um plano composicional;
-
Além do plano composicional, distinguem-se pelo conteúdo temático e pelo estilo;
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Trata-se de entidades escolhidas tendo em vista as esferas de necessidade temática, o conjunto dos participantes e a vontade enunciativa ou intenção do locutor.
Nessa concepção, encontramos elementos centrais da atividade humana, que são sujeito, ação e ferramenta. Notemos que a ferramenta seria o gênero que o enunciador (sujeito) utilizaria em uma situação (ação), porém é a situação que vai definir a escolha de gênero a ser utilizado, ou seja, cada gênero comporta uma forma de comunicação.
Dessa forma, podemos dizer que o surgimento de novos gêneros não extingue os gêneros já existentes, a linguagem não exclui, e muito menos prejudica outra. Quando se trata de comunicação podemos dizer que as tecnologias mais colaboram do que competem, a respeito disso temos a televisão que não suplantou o rádio.
Nos últimos anos as tecnologias ligadas à área de comunicação propiciaram para o surgimento de novos gêneros, no entanto, podemos dizer que não foram as tecnologias em si que deram origem a esses gêneros, mas sim a intensidade de uso dessas tecnologias e suas interferências nas atividades comunicativas diárias. Contudo, essas inovações não foram absolutas, o surgimento de novos gêneros teve ancoragem em outros, como no caso do e-mail, que é um gênero relativamente novo, com sua própria identidade, mas suas mensagens são as mesmas trocadas através de cartas e bilhetes. A esse respeito, Bakhtin (1997) já falava em transmutação, isto é, o surgimento de um novo gênero, pois as tecnologias favorecem as inovações na comunicação, mas este gênero não seria absolutamente novo. Na intenção de seguir o caminho bakhtiniano da transmutação, Pagano (2001) assim como Marcuschi (2000) também assegura que:
Um exemplo de novo gênero, surgido a partir de transformações de gêneros existentes, é também o e-mail ou comunicação via correio eletrônico. Híbrido de carta, telefonema, telegrama e de outros gêneros, o e-mail tem hoje uma identidade genérica própria, vinculada às condições tecnológicas de sua produção e a uma comunidade discursiva que faz uso dele. (Apud MARCUSCHI, 2005, p. 95)
A variedade dos gêneros do discurso pode revelar a variedade dos aspectos da personalidade individual, e o estilo individual pode relacionar-se de diferentes maneiras com a língua comum, os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia. Visto que estamos na fase da cultura eletrônica, na qual o computador com internet tem favorecido novas formas de comunicação oral e escrita, os quais se situam e se integram na sociedade.
Quando dominamos um gênero discursivo, aprendemos a realizar lingüisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares. A partir desta perspectiva Bronckart (1999, p.103) afirma que “a apropriação dos gêneros é um mecanismo fundamental de socialização, e de inserção prática nas atividades comunicativas humanas”.
3.1.2. Gêneros digitais e a linguagem na internet
O crescente acesso de pessoas à rede mundial de computadores e o surgimento de vários gêneros digitais têm possibilitado a criação de uma maneira diferente de lidar com a escrita e suas normas gráficas. Visto que as novas gerações têm pleno acesso à internet, devido às Lan houses (rede locais onde há vários computadores conectados) que permitem a interação de dezenas de pessoas pelo baixo custo do serviço e uso dos equipamentos. Tal fato possibilita que todas as classes possam ter acesso a este meio de comunicação e informação.
A internet veio inaugurar uma forma de comunicação e de uso da linguagem através do surgimento dos gêneros digitais, nome dado às novas modalidades de gêneros discursivos surgidos com o advento da internet, os quais possibilitam a comunicação entre duas ou mais pessoas mediadas pelo computador. As línguas estão em constante transformação e, principalmente pelo fato de o homem estar exposto a inúmeros meios eletrônicos, é que seu modo de viver vem sofrendo diversas transformações, entre elas citamos o uso do internetês, que é uma nova modalidade de expressão e linguagem que faz uso de abreviaturas, estrangeirismos, neologismos, siglas, desenhos, ícones, gírias, símbolos, tudo com o objetivo de transmitir as emoções de quem fala. Geralmente os períodos das orações são curtos com fortes marcas da oralidade, devido à necessidade de agilidade na escrita, visto que a conversa online ocorre quase em tempo real. Esta nova tendência tem sido notada através das conversas, principalmente de adolescentes, em programas como o MSN (Messenger) e o Orkut. Assim, descreveremos a seguir alguns dos gêneros digitais mais conhecidos, em que a linguagem que se utiliza na maioria das vezes é o internetês.
O e-mail, por exemplo, permite produzir, enviar e receber mensagens através de sistemas eletrônicos de comunicação, muitas vezes as mensagens trocadas são semelhantes aos bilhetes e às cartas, que podem ser formais ou informais, dependendo do objetivo a que se destinam. As trocas de informações ocorrem de forma muito rápida, pessoas de diferentes continentes podem se comunicar em segundos, fato este que popularizou o e-mail também em locais de trabalho, no qual se tornou um grande fator de produtividade, atualmente grandes empresas utilizam o correio eletrônico para desempenhar papéis decisivos em negociações.
O MSN (Messenger) é um programa de mensagens instantâneas criado pela Microsoft Corporation, integrado ao serviço de e-mail, atualmente este serviço passou a ser chamado de Windows Live Messenger. Este programa permite que os usuários se comuniquem em tempo quase real independente da distância existente entre os interlocutores desde que possuam um computador com internet. Há uma lista de amigos e que torna possível acompanhar quem entra e sai da rede, é possível também comunicar-se offline, isto é, basta selecionar este status e a comunicação ocorre como se a pessoa fosse invisível, apenas quem faz parte da conversa sabe que a outra pessoa está online. Devido à necessidade de agilidade na escrita, visto que a comunicação muitas vezes se dá em tempo quase real, a linguagem utilizada neste programa, na maioria das vezes, é repleta de gírias, abreviações e desenhos que transmitem emoções dos interlocutores, tornando a comunicação mais rápida.
Os chats ou salas de bate-papos são centrados basicamente na escrita entre duas ou mais pessoas, ao participar das salas de bate-papo os indivíduos criam um apelido que será utilizado durante a conversa virtual e então escolhe uma sala para começar o bate-papo. A linguagem utilizada também possui muitas abreviações, os enunciados são curtos e a linguagem é bastante informal, próxima da oralidade. Os principais tipos de chats são: chat aberto, chat reservado, chat agendado, chat privado, aula chat e entrevista com convidado.
O Orkut é um site que permite ao usuário relacionar e fazer novos amigos, interagir com pessoas com quem tem afinidade e participar de comunidades sobre os mais diversos assuntos. Cada usuário tem a descrição de seu perfil que vai desde informações básicas que são obrigatórias até informações secundárias que são de opção do usuário. Há também uma pasta para fotos, depoimentos que são escritos para amigos na página de perfil deles, scrap que são recados deixados por outros usuários. Geralmente, os comentários e recados também são escritos numa linguagem menos formal, abreviada, etc. Para alguns usuários que preferem manter-se anônimos é possível utilizar fotos de celebridades ou desenhos no perfil ao invés das próprias. Ainda há um painel com a relação dos amigos e outro painel com a relação das comunidades que os usuários participam.
O freqüente contato com as diversas formas de textos em múltiplas semioses, têm possibilitado que os próprios usuários inovem no uso da linguagem, testando novas formas de transcrever e apresentar a língua oral no meio virtual, dissolvendo as fronteiras que há entre a linguagem escrita e a oral. A comunicação por escrito através de e-mails tornou-se mais ágil e veloz, aproximando-se da fala e, a necessidade de diminuir o tempo de escrita tem levado os usuários da internet a serem objetivos e compactos, tornando a escrita cada vez mais próxima da oralidade.
Embora para muitas pessoas a linguagem esteja sofrendo “deformações” nestes campos, podemos dizer que a palavra escrita nunca foi tão utilizada. O fato de a internet estar levando as pessoas a lerem e a usarem mais a escrita tem desenvolvido nos internautas uma habilidade no manuseio e na criação de formas específicas de lidar com a língua. Comparado com as gerações passadas, o advento da internet tem possibilitado aos adolescentes o contato com os mais variados gêneros discursivos e manifestações de linguagem, visto que são mais de cinco milhões de usuários brasileiros navegando, em alta velocidade, durante vinte e quatro horas por dia.
Além disso, a internet oferece livros na rede, downloads de músicas, permite baixar obras clássicas da literatura e a troca de experiências entre as pessoas, independente da distância em que se encontram. Essa interação proporciona o aprendizado e o desenvolvimento cultural, social e cognitivo. É a comunicação entre os homens que lhes permitem tornar cidadãos, através das várias formas de linguagem o homem consegue se organizar na sociedade.
Pierre Lévy (1999), em sua obra Cibercultura, afirma que a rede de computadores é um universo que permite às pessoas conectadas construir e partilhar a inteligência coletiva sem submeter-se a qualquer tipo de restrição político-ideológica, ou seja, a internet é um agente humanizador porque democratiza a informação e humanitário porque permite a valorização das competências individuais e a defesa dos interesses das minorias.
Segundo Xavier (2005), as novas gerações de jovens têm adquirido o letramento digital2 antes mesmo de ter se apropriado completamente do letramento alfabético ensinado na escola. Esta intensa utilização do computador para a interação entre pessoas à distância, tem possibilitado que crianças e jovens se aperfeiçoem em práticas de leitura e de escrita diferentes das formas tradicionais de letramentos e alfabetizações. Essas inúmeras modificações nas formas e possibilidades de utilização da linguagem em geral são reflexos incontestáveis das mudanças tecnológicas que vem ocorrendo no mundo desde que os equipamentos informáticos e as novas tecnologias de comunicação começaram a fazer parte intensamente do cotidiano das pessoas.
A necessidade de agilidade na escrita virtual é um dos fatos desta linguagem se aproximar da oralidade, sem esquecer que uma das características de quem utiliza o MSN é fugir das normas rígidas da língua escrita e das normas gramaticais, não sendo necessário que o usuário tenha o total domínio da escrita ensinada na escola. Um dos componentes interessantes dessa nova linguagem são os emoticons, símbolos que representam desenhos capazes de expressar o que o internauta sente ou quer passar, são símbolos gramaticais usados de forma reconfigurada, ou seja, além de lidar com estes símbolos, os usuários também são capazes de os reconfigurar, com o objetivo de resignificá-los, muitas vezes transformando-os em feições humanas. Como por exemplo: estou alegre, estou triste, chorando, mostrando a língua, :-{ bigode, :-0 estou impressionada, :-/ estou perplexa, :-x mandando beijo, ;) piscando, :-I macaco. Estes são os emoticons mais conhecidos, que através de símbolos como parênteses, dois pontos, hífen, barra, ponto e vírgula é possível criar inúmeros desenhos que transmitam as emoções dos interlocutores.
Por mais incrível que pareça, essas inovações lingüísticas não parecem causar nenhum tipo de estranhamento nos usuários, muito pelo contrário, geralmente as inovações são vistas como manifestações de criatividade e de descontração no uso da língua, fazendo com que os símbolos sejam adotados por outros internautas e acabem por se espalhar por toda a rede.
Os jovens têm uma maior necessidade de expressar suas emoções e inovar, tornando-se natural que os internautas criem recursos que possibilitem expressar suas emoções, assim como as abreviações, os emoticons, e o uso excessivo de pontuação, os internautas utilizam também muitas palavras emprestadas do inglês. Para os jovens essas palavras estrangeiras são classificadas como ‘legais’, como ‘bacanas’, no entanto, algumas gerações mais velhas não concordam e repelem esse uso, talvez, justamente por perceberem isso, é que os jovens usem com maior intensidade palavras do inglês, visto que em uma determinada fase da vida é constante a necessidade de ser “diferente”.
Marcuschi (2004) traz ainda que essa nova forma de comunicação tenha a escrita totalmente marcada por traços da oralidade, devido a grafia das palavras que muitas vezes aparecem de acordo com o som da fala, como por exemplo: “aki” (aqui); “kero” (quero); “tow” (estou). Outra inovação são as abreviações, que é um método de acelerar a comunicação, visto que essa se dá quase em tempo real, vejamos alguns exemplos de palavras abreviadas pelos usuários: “blz” (beleza); “td” (tudo); “vc” (você); “mto” (muito); “hj” (hoje); “bjo” (beijo).
Nos dias atuais o e-mail parece ser uma das formas de comunicação mais utilizada no mundo moderno. Segundo Gannon-Leary (1989:2) o e-mail ou mensagem eletrônica:
É um meio de comunicação cada vez mais poderoso e eficiente com o potencial de tornar-se um dos principais meios de comunicação para a maioria das pessoas. É pessoal e informal e tem o poder de transformar alguém de receptor passivo em um participante ativo de discussões on-line.
Numa sociedade em transformação, a internet, juntamente com as demais tecnologias de comunicação, pode estar contribuindo para que o aluno aprenda a conviver com a diversidade.
Além disso, podemos dizer que o internetês não é utilizado somente em computadores, mas também em telefone celulares quando enviamos “torpedos”, mensagens que visam à comunicação. Fazer uso de abreviações nessas mensagens, muitas vezes significa economizar dinheiro, pois o espaço em que se escreve é pequeno e limitado o número de caracteres. Não podemos esquecer também das famosas promoções das empresas de telefonia, nas quais geralmente os usuários devem enviar um torpedo para ganhar vários, o que proporciona que os usuários utilizem essa forma de comunicação com maior intensidade.
As diferentes formas de comunicação realizam em condições e finalidades específicas, nesta perspectiva temos Bakhtin (2003, p. 278) que afirma:
A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa.
Navegar na internet como ferramenta de ensino pode ser um processo de busca de informações que dependendo da situação pode transformar-se em conhecimento, gerando um ambiente interativo de aprendizagem ou pode ser um inútil coletor de dados sem a menor relevância que não proporciona nenhuma contribuição ao aluno.
Atualmente não se trata mais de apenas fazer redações escolares com começo, meio e fim. Com a era digital, as crianças estão se tornando especialistas em lidar com o hipertexto3, o sistema de informação que inclui textos, fotos, áudio e vídeo, com infinitas possibilidades de navegação. No que se refere ao hipertexto é preciso que o internauta desenvolva habilidades de avaliar criticamente as informações encontradas e saiba identificar quais são as fontes mais confiáveis entre as inúmeras apresentadas. Por essa razão, é importante que o professor tenha conhecimento sobre o hipertexto e a linguagem utilizada na internet, para poder assim melhor orientar seus alunos.
É na internet que meninos e meninas se sentem reis, têm habilidade para escrever e interagir em uma velocidade inédita, tudo está ao alcance de um simples clique.
Segundo Rony Rodrigues, fundador da consultoria Box 1824, uma empresa especializada em tendências de comportamento de jovens, é um desafio para escola mostrar que na escrita tradicional também existe um mundo inspirador, reforçar as diferenças entre os dois gêneros da escrita e as situações em que cada um deles deve ser utilizado. Fazer o aluno entender essas diferenças é extremamente importante, haja vista a internet tratar-se de uma grande quantidade de informações e de oportunidade de comunicação, sem as quais fica difícil formar um cidadão contemporâneo.
Sob esta perspectiva, Ferreiro (2000) afirma que o laboratório de computação na escola possibilita aos jovens o ato de escrever e publicar. Muitas vezes a escrita na escola pode se tornar algo maçante, visto que na maioria das vezes o único a ler e ter contato com os textos escritos pelos alunos é o professor. O fato de se escrever apenas por encomenda na escola, onde o professor solicita aos alunos a produção de uma redação, este a faz e aquele a corrige isto é algo que se torna para o aluno muito sofrido, afinal escrever para quê? Ou melhor, para quem? Notemos que falta ao aluno motivação para se fazer um bom texto, fazer só porque o professor solicitou torna a atividade de escrita desagradável e descontextualizada.
Afinal é extremamente importante à interação do sujeito com as pessoas e com o meio, desde o momento do nascimento passamos a interagir com o meio e com as pessoas, sendo esta uma relação de aprendizado.
4. II CAPÍTULO
4.1. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Neste capítulo iremos descrever os dados que colhemos através de dois questionários, que foram propostos aos alunos do Ensino Médio e aos professores da Escola Estadual “José Bejo”. Após realizarmos a descrição das questões e das respostas que obtivemos dos alunos e dos professores, partiremos então para análise dos dados, na qual visamos verificar se a linguagem utilizada na internet tem influenciado na escrita em sala de aula dos alunos Ensino Médio da Escola Estadual “José Bejo”. Para tanto, na busca de obtermos um bom resultado, iremos contrapor os dados colhidos na pesquisa com os cadernos e produções de textos que recolhemos dos alunos.
Nosso projeto visa uma pequena análise quantitativa dos dados, mas principalmente uma análise qualitativa.
4.1.1. Contexto da pesquisa
Nossa pesquisa foi realizada na Escola Estadual “José Bejo”, localizada no município de Glória D’Oeste/MT, Centro, na Rua Maria Cecília Dela Costa, n°2606. A escola está em funcionamento há vinte e três anos, atualmente conta coma presença de quatrocentos e setenta alunos nos períodos matutino, vespertino e noturno.
Vale destacar que no período em que realizamos a investigação, a escola passava por uma reforma e os alunos foram remanejados para um outro local, um salão de festas alugado. Devido a este fato, o laboratório de informática foi desativado temporariamente e a técnica contratada desempenhava sua função conforme era possível, auxiliando em outras atividades, principalmente na secretaria que funcionou nas dependências da Câmara Municipal, junto à Assessoria Pedagógica, o que tornou impossível acompanhar os alunos em aulas no laboratório de informática, assim, tivemos que desenvolver nosso projeto através somente de questionários propostos aos alunos do Ensino Médio e aos professores da referida escola.
4.1.2. Pesquisa com os alunos
O questionário que aplicamos aos alunos do Ensino Médio da Escola Estadual “José Bejo” é de extrema importância para nossa pesquisa, pois através deste visamos chegar às respostas das indagações deste projeto de pesquisa, que foi descobrir se há influência da linguagem utilizada na internet em programas como o MSN (Messenger) e Orkut na escrita em sala de aula e se os alunos são orientados pelos professores de quando e onde devem utilizar determinadas formas de linguagens.
Esse questionário é composto primeiramente por dados do aluno, como: sexo e faixa etária. Logo após há três questões objetivas, nas quais pretendemos descobrir até que ponto os alunos têm contato com o computador e com a internet. E por fim, temos mais três questões subjetivas, as quais nos possibilitarão saber como o aluno vê o uso da escrita utilizada na internet.
Responderam às questões 71 (setenta e um) dos alunos do que estudam no período vespertino. Esse total de alunos corresponde a 90% das turmas. Nosso questionário foi respondido por um público composto por estudantes tanto do sexo masculino e feminino. Quanto à faixa etária podemos dizer que 80% dos alunos têm entre 15 e 20 anos de idade, 15% têm a idade entre13 e 15 anos e 5% entre 20 e 25 anos de idade.
Partindo para a descrição das questões objetivas, nossa primeira questão foi: Com que freqüência você utiliza o computador? Nessa questão os alunos tinham que decidir entre quatro alternativas, que foram: diariamente, semanalmente, mensalmente ou raramente. No total geral, 25 (vinte e cinco) alegaram utilizar o computador raramente, 23 (vinte e três) afirmaram fazer uso do computador diariamente, 15 (quinze) utilizam o computador semanalmente, e apenas 08 (oito) afirmaram fazer uso do computador mensalmente.
Na segunda questão nosso objetivo foi saber em que local os alunos faziam uso do computador, propomos também para esta questão quatro alternativas, que foram: em casa, na escola, na Lan House ou outro. Nessa questão podemos constatar que os alunos que afirmaram utilizar o computador nas Lan Houses são os mesmos que afirmaram fazer uso do computador raramente. É interessante pensarmos nesta perspectiva, visto que apesar de hoje o acesso às Lan Houses ser bem mais fácil, pois este comércio cresce cada vez mais na sociedade, ainda há um custo a ser pago pela utilização destes, e esta razão leva os adolescentes a organizar melhor seu tempo, dividindo-o em suas prioridades, já que neste caso eles se deparam com uma situação econômica.
Após questionarmos quanto ao uso dos computadores, prosseguimos o questionário quanto ao uso da internet, e nosso primeiro intuito foi saber se os alunos têm acesso a este meio de comunicação. Nessa questão, 35 (trinta e cinco) alunos afirmaram que às vezes eles têm acesso à internet e 06 (seis) alunos afirmaram não ter contato com a internet, estes particularmente residem em zona rural, o que torna mais difícil o contato com este meios de comunicação devido à distância.
Perguntamos então, para que os alunos mais acessam a internet e propomos seis alternativas: conversar com amigos, fazer pesquisa, ler notícias do mundo, entrar no Orkut, realizar serviços online e jogos. Eles foram orientados a escolher mais de uma opção se fosse o caso. Assim, 69 (sessenta e nove) alunos disseram utilizar a internet para fazer pesquisas, 35 (trinta e cinco) alunos também responderam acessar a internet para conversar com amigos e entrar no Orkut, apenas 06 (seis) responderam que utilizam a internet para jogar, 02 (dois) afirmaram utilizar a internet na realização de serviços online e 09 (nove) utilizam para ler notícias do mundo. Cabe relatar que foi surpreendente a maioria dos alunos ter respondido fazer uso da internet para pesquisar.
Fizemos uma última questão objetiva, a qual indagava aos alunos qual teria sido a atividade que eles mais passaram a fazer depois de conhecer a internet. Entre as alternativas havia as seguintes opções: ler mais, escrever mais, conversar virtualmente, nada mudou ou outro. Mais uma vez os alunos nos surpreenderam, pois dentre as alternativas propostas, obtivemos 22 (vinte e dois) alunos que alegaram ter passado a ler mais com acesso a internet, 15 (quinze) alunos alegaram ter passado a escrever mais, 17 (dezessete) alunos afirmaram que nada mudou em sua vida com a utilização da internet, 15 (quinze) alunos afirmaram estar conversando mais virtualmente, o que para nós é intrigante, pois estávamos certas de que os alunos em sua maioria iriam responder que utilizavam a internet para conversar com amigos, haja vista hoje termos um grande número de pessoas utilizando o MSN para conversar com amigos.
O fato de os alunos ter respondido que passaram a ler mais depois que conheceram a rede, ocorre devido pela razão de que o que mais se faz ao acessar a rede realmente são leituras, ou seja, para se realizar qualquer atividade conectado a internet é necessário no mínimo saber ler.
Através das questões objetivas podemos constatar que aqueles alunos que disseram fazer uso da internet através de Lan Houses, ou seja, nem sempre podem estar utilizando essas tecnologias, é também a maioria dos alunos que afirmaram utilizar internet para fazer pesquisas, pois como falamos anteriormente mesmo o acesso ás Lan Houses serem mais fácil, devido agora à maioria das cidades terem este comércio, ainda há certo custo a se pagar, o qual varia de cidade para cidade o valor da hora de acesso à internet. No município que aplicamos a pesquisa, por exemplo, há três Lan Houses nas quais o valor a ser pago pela hora de acesso a internet é de R$ 2,00 (dois reais). Assim é necessário que os alunos dêem prioridade a pesquisas de trabalhos escolares, ao invés de ficar na rede conversando com amigos.
É interessante pensarmos que a maioria dos alunos que alegaram fazer uso da internet também para entrar no Orkut, para conversar com os amigos, são aqueles que na maioria têm computador em casa, tornando-se assim possível estar online em qualquer hora do dia ou da noite.
Para chegarmos ao nosso objetivo que se trata da escrita, especificamente saber se a linguagem utilizada na internet tem influenciado os alunos na escrita em sala de aula, elaboramos três questões subjetivas. A primeira buscava saber quais eram os sites que os alunos mais acessavam e que tipos de assuntos estes mais pesquisavam. Quanto aos sites foram citados inúmeros, como o Google, que é um site de pesquisas muito utilizado para se fazer trabalhos escolares, UOL, Cadê, You Tube, Vagalume, Globo, Cultura brasileira, o Orkut, onde os alunos deixam recados para amigos e sites pornográficos. Podemos notar que a maioria dos sites citados, com exceção dos pornográficos e do Orkut, possibilita aos alunos fazer pesquisas escolares, fato este constatado, pois eles disseram entrar nestes sites para fazer pesquisas escolares.
Na segunda questão subjetiva, podemos nos aproximar bem de nosso objetivo, pois procuramos saber o que os alunos achavam da linguagem da internet, tivemos neste momento uma grande variedade nas respostas, como alguns alunos que aceitam essa nova modalidade da escrita e outros que a ignoram.
Podemos destacar entre as respostas, alunos que afirmaram gostar da linguagem da internet porque na opinião deles é: “diferente: adorulll, amuhl, sempri,”, neste caso, além do aluno falar o que ele pensa a respeito dessa linguagem, ele ainda citou exemplos de palavras que obviamente deve fazer uso em suas conversas com amigos pelo MSN.
Notemos que a internet visa não só a comunicação, mas também a rapidez desta, visto que a conversa virtual dá–se quase em tempo real, que uma conversa face a face. Muitos alunos relataram ser esta uma linguagem moderna, devido às abreviações. Outros disseram: “acho muito “SHOW”, “LEGAL” pois as tornam-se mais fácil para escrever”, como podemos ver na opinião de alguns deles não há necessidade de se preocupar com as regras do português.
Outra resposta interessante foi: “Bom, ensina a gente ficar mais esperto e ajuda de mais.” Neste caso, o aluno demonstra acreditar que a comunicação através da internet o ajuda a ficar mais esperto, ou seja, o aluno desenvolve uma habilidade de raciocínio, a qual lhe permite interagir com seus colegas em um tempo veloz, quase real.
Obtivemos também a seguinte resposta: “Acho mais fácil para escrever ocupa menos tempo é mais resumido, FLW, VLW, VC”.
As abreviações parecem facilitar a escrita dos internautas, tornando-a também muito criativa e interessante como os exemplos que o aluno relatou VLW (valeu), FLW (falou) e VC (você). Essas abreviações possibilitam a despreocupação em escrever corretamente ou não, no entanto, pressupõe que o usuário saiba lidar com essa nova linguagem.
Além das respostas já citadas obtivemos alunos que demonstraram ter opiniões diferentes quanto ao uso do internetês como aqueles que afirmaram: achar “meio difícil de entender, fds, vc, bjaum, naum.”. Provavelmente esses alunos têm pleno acesso à internet, o que torna difícil que eles compreendam tais abreviaturas. Obtivemos também respostas como: “uma linguagem imprópria, que urgentemente deveria ser regularizada”.
Muitos alunos demonstram ter noção de que a linguagem da internet não deve ser utilizada em qualquer situação de escrita. Obtivemos também a seguinte resposta: “É interessante, mas de acordo com o nosso aprendizado não é utilizada em textos, pois não escrevemos vc, pc, axo, ki, blz, bjim, valew, falow, ñ, naum, tbm, entre outros.” É neste ponto que começamos a notar que os alunos têm noção de que as abreviaturas utilizadas em conversas online não devem ser utilizadas em textos escritos na sala de aula, os quais são lidos por professores e outras pessoas que podem ter dificuldades em saber o significado das abreviaturas.
Para Araújo (2003, p. 93), as esferas de comunicação são espaços próprios para as práticas de comunicação humanas, isto é, os discursos são produzidos de acordo com as diferentes esferas de atividades do homem. Por exemplo, o modo como escrevemos em sala de aula numa produção escrita é diferente do modo como escrevemos no MSN ao conversamos com amigos, portanto uma situação informal distingue exatamente por constituir duas esferas diferentes da atividade humana. E cada esfera apresenta exigências específicas quanto ao uso da linguagem a ser utilizada. Trata-se, portanto de gêneros diferentes para cada situação discursiva.
Um aluno alegou que a linguagem da internet é totalmente errada, justificando “a internet atrapalha a escrita por permitir-se escrever de forma totalmente errada”. Este aluno deixa de lado a variação lingüística e parte do pressuposto de que somente a escrita dentro das normas gramaticais está certa, e que qualquer outra variação é sinônimo de “erro”.
Quando perguntamos qual a diferença que os alunos percebiam entre a linguagem da internet e a linguagem usada na sala de aula, muitos deles fizeram menção quanto às abreviações que são utilizadas na conversas online e descreveram que não podem ser utilizadas em sala de aula. Um dos alunos, por exemplo, disse que há “uma grande diferença, que está atrapalhando muito na língua portuguesa estudada na escola”. Outro aluno respondeu: “Abreviações na linguagem usada na internet é muito legal e a escrita na sala de aula além de chata é muito ruim de escrever”.
Com todas as inovações da linguagem da internet, muitas vezes os alunos acham difícil escrever corretamente em sala de aula, pois uma palavra digitada errada em uma conversa com amigos pode significar uma nova forma de escrever esta palavra no meio virtual, enquanto que na escola uma palavra escrita errada, pode levar o professor a diminuir a nota do aluno.
4.1.3. Pesquisa com os professores
Após a pesquisa realizada com os alunos, para obtermos um bom resultado em nosso projeto, aplicamos também um questionário aos professores do Ensino Médio da Escola Estadual “José Bejo”. Elaboramos um questionário composto, por dados pessoais, onde perguntamos qual era o grau de formação e a disciplina que o professor lecionava. Em seguida o questionário era composto por quatro questões objetivas e quatro subjetivas.
A respeito dos dados profissionais vale destacar que 08 (oito) dos professores informaram já ter feito Pós-Graduação. Apenas 01 (um) entre os 09 (nove) professores entrevistados não tem especialização, isso porque faz um ano que ela terminou o curso de História.
Quanto à área de formação, nosso questionário foi respondido por 02 (dois) professores de Língua Portuguesa e Literatura, 02 (dois) de Matemática, 01 (um) de História, 01 (um) de Geografia, 02 (dois) de Ciências Biológicas e 01 (um) professor de Química e Física.
A primeira questão objetiva era: Com que freqüência você utiliza o Computador? Esta questão era composta por quatro alternativas: diariamente, semanalmente, mensalmente e raramente. Todos os professores responderam que fazem uso do computador diariamente.
Na segunda questão, buscávamos saber em que local o professor faz uso do computador e também propomos quatro alternativas: em casa, na escola, Lan House e outros. Nessa questão, a maioria dos professores afirmou utilizar o computador em casa. De 09 (nove) professores que responderam o questionário, 07 (sete) afirmaram ter em sua casa esse aparelho eletrônico e os 02 (dois) que não têm, normalmente, fazem uso do computador na escola ou no local de trabalho, neste caso, quando se trata de pessoas que tem outro trabalho além de lecionar.
Procuramos saber também através da terceira questão, com que freqüência os professores tinham acesso à internet. Esta questão também com quatro alternativas, que foram: diariamente, semanalmente, mensalmente ou raramente. Foram 08 (oito) professores que afirmaram fazer uso da internet diariamente e apenas 01 (um) professor afirmou utilizar a internet semanalmente. Vale destacar que este professor que afirmou utilizar o computador semanalmente foi um dos que afirmou fazer uso do computador na escola.
Já os que fazem uso da internet diariamente são aqueles que afirmaram utilizar o computador em casa, o que proporciona o contato direto com o mundo globalizado. É fácil o acesso também para o professor que afirmou utilizar a internet no serviço extra, ou seja, em outro local que ele trabalha além da escola, o acesso se torna fácil devido ao fato de seu computador ser ligado à internet 24 (vinte quatro) horas por dia.
A quarta questão objetiva tratava de nos informar para qual motivo o professor mais utilizava a internet? Foram seis as alternativas propostas, podendo os professores escolher mais de uma alternativa, a saber: pesquisar, ler notícias do mundo, realizar serviços online, conversar com amigos, entrar no Orkut e jogar. Todos os professores afirmaram utilizar a internet para fazer pesquisas, e que na maioria das vezes as pesquisas são relacionadas a conteúdos trabalhados na escola. Como nessa questão poderia ser escolhida mais de uma alternativa, todos também afirmaram fazer o uso da internet para ler notícias do mundo, isto é, manter–se informado sobre o mundo todo. Todos afirmaram também realizar serviços online, como fazer compras pela internet e apenas 04 (quatro) disseram utilizar a internet para entrar no Orkut, programa que permite ao usuário colocar seus dados pessoais, a quantidade de fotos que desejar e deixar recados para os amigos. Já quanto ao MSN, um programa que permite as pessoas se comunicar umas com as outras quase que em tempo real, tivemos a confirmação de que 07 (sete) professores utilizam a internet para entrar em contato com os amigos. Quanto à alternativa jogar nenhum dos professores marcou.
Após as questões objetivas, o questionário tinha mais quatro questões subjetivas, estas eram com relação ao ensino. A primeira questão era: Como você orienta os alunos a fazer um bom uso do computador?
Alguns professores disseram pedir para os alunos fazerem as pesquisas escolares, sempre procurando saber se a fonte é segura, e que esta pesquisa seja apenas utilizada como base para fazer os trabalhos escolares e que não façam cópias, pois por muitas vezes eles nem ao menos lêem o que imprimem para entregar ao professor. Além de orientar os alunos como eles devem fazer com as pesquisas, também orientam os sites que são mais seguros e de que forma deve ser realizada a pesquisa, pois nem todas as informações da internet são de fontes seguras e estão corretas. Eles afirmaram também que durante as atividades realizadas no laboratório de informática, há um rigoroso acompanhamento, pois se deixarem os alunos sozinhos, estes partem para outros assuntos que não tem nada haver com o conteúdo escolar. É daí que surge a necessidade de acompanhar e sempre orientar os alunos no uso da internet.
A segunda questão foi: Quais os sites que você orienta seus alunos a pesquisar na internet?
Nessa questão os professores disseram indicar os sites de busca, como, o Google, o Terra, Cadê, sites como o CPDOC que é direto da biblioteca, site indicado em livros didáticos.
Ao verificar as respostas dos professores, houve uma que me chamou atenção, foi de uma professora de Língua Portuguesa e Literatura, pois ela afirma indicar vários sites para os alunos, aliás, sites muito bons, como: www.linguaportuguesa.com.br, www.literatura.com.br, www.lobato.globo.com.br, www.novaescola.com.br, www.lingua.com.br, www.to.gov.br/seduc, www.veja.com.br, www.cartacapita.com.br, www.folha.uol.com.br, www.gazetadigital.com.br, www.oestadão.com.br, esses sites além de ajudarem muito na área da disciplina de Língua Portuguesa e Literatura, ainda oferecem ao aluno informações do mundo inteiro e textos muito bons para leitura.
A terceira questão é extremamente importante para o desenvolvimento de nossa pesquisa, visto que nosso objetivo é verificar se a linguagem que os alunos utilizam na internet para se comunicar com os amigos tem influenciado na escrita em sala de aula dos alunos do Ensino Médio. A questão três foi: Você tem notado algum tipo de influência da linguagem utilizada na internet na escrita em sala de aula?
Por incrível que pareça, tivemos por unanimidade a resposta sim, que os alunos têm feito uso da linguagem utilizada na internet em sala de aula. Muitos afirmaram que geralmente nos cadernos os alunos têm escrito de forma abreviada, e que muitas vezes há casos de aparecer nos textos abreviaturas, como pq (porque), + (mais), td (tudo), tb (também), c/ (com) q (que). Na opinião dos professores isso tem acontecido devido ao costume de sempre utilizar na internet as abreviações. Segundo os professores houve um aumento de linguagem popular, gírias, vícios na escrita, sem esquecer do inglês que também é muito utilizado na internet e agora em sala de aula pelos alunos. É interessante que não só os professores de Língua Portuguesa notaram a utilização dessas formas de linguagem mais popular, mas também os professores de outras áreas, como o de Matemática que afirmou ter visto abreviaturas nos cadernos dos alunos. Os professores de áreas como Geografia, História, Biologia, afirmaram que quando pedem textos aos alunos muitas vezes encontram o uso de abreviaturas e de uma linguagem mais popular, próxima da oralidade.
A quarta questão subjetiva foi: Como você trabalha com seus alunos a questão do uso do internetês?
Os professores disseram orientar os alunos a ter cuidado ao escrever, para não trazer para a escrita a fala informal, como os vícios de linguagem adquiridos no dia a dia devido ao uso constante do MSN, Orkut, e outros blogs. Os professores de Língua Portuguesa vêm através dos Gêneros textuais orientando os alunos em que situações são permitidas utilizarem uma linguagem formal e informal, procurando sempre ressaltar principalmente o fato de se ter um cuidado ainda maior quando for escrever para outras pessoas lerem. A este respeito Orlandi (2000, p.101) afirma que “não é só quem escreve que significa; quem lê também produz sentidos”, ou seja, é fundamental que se tenha uma maior preocupação na escrita quando esta for dirigida a um determinado público, para que a mensagem chegue ao interlocutor causando os efeitos desejados pelo locutor.
Os professores alegaram ainda solicitar que os alunos refizessem textos e exercícios que apresentam abreviaturas, gírias, características do internetês, que muitas vezes são visto como vícios de linguagem, deixando sempre claro que a internet é muito importante na formação do indivíduo na sociedade, que inclusão digital é a democratização do acesso às tecnologias de informação, de forma a permitir a inserção de todos na sociedade da informação. Diante disso, a quinta e última questão foi: Em sua opinião, a inclusão digital na educação é importante? Cite algumas vantagens e ou desvantagens do uso da informática na escola.
Em geral, os professores afirmaram que sim, que a inclusão digital é importante, pois as mudanças tecnológicas não devem ser ignoradas pela educação, é impossível a escola ficar alheia a tais mudanças, uma vez que os alunos têm acesso à internet em seu cotidiano. É necessário que os profissionais da educação tenham conhecimento desse meio eletrônico e assim possam auxiliar os alunos a fazerem um bom uso, pois cabe ao professor o desafio de trazer para a sala de aula as novas linguagens que vão surgindo na sociedade, pois estas permitem aos cidadãos a realização da comunicação verbal.
Alguns professores disseram que: “a grande vantagem da inclusão digital é o fato do cidadão estar sempre em contato com o mundo através de notícias, além de ser possível ter acesso a bibliotecas digitais e assim ler bons livros, adquirindo um bom vocabulário, haja vista que quem lê sempre esta em contato com novas palavras e também através de leituras e reflexões é possível ampliar a visão de mundo”.
Já quanto à desvantagem da inclusão digital os professores falaram da falta de técnicos no laboratório de informática, pois mesmo a SEDUC oferecendo recursos para a contratação de técnicos e disponibilizando através da CEFAPRO e via online cursos informáticos, no momento da pesquisa, conforme já mencionamos, o laboratório encontrava-se desativado a mais de seis meses, devido a reforma que a escola estava passando e o técnico no momento desempenhava outras funções. Alguns professores citaram também o fato de os alunos fazerem cópias, isto é, muitas vezes por preguiça de ler, escrever, refletir e organizar idéias, eles usam a internet para copiar trabalhos prontos e muitas vezes nem sequer se dão o trabalho de lê-los. Isto acaba se tornando um grande problema para escola e professores, daí a necessidade de sempre orientar e acompanhar os alunos nas pesquisas, levando-os a utilizar à internet de forma correta e em seu beneficio, utilizando os textos da internet como embasamento para seus trabalhos e elaborações de novas idéias e não apenas como cópias.
4.1.4. Análise do Corpus
Após o levantamento dos dados através de pesquisas com os alunos e com os professores, chegamos à constatação de que os alunos fazem sim o uso do internetês na escola, visto que tanto os professores como os próprios alunos confirmaram este fato nos questionários propostos. Porém, para que tivéssemos a certeza de que a linguagem empregada na internet poderia realmente estar influenciando na escrita em sala de aula, solicitamos aos alunos algumas produções de textos e cadernos para que assim pudéssemos verificar se havia algum tipo de influência desta nova linguagem digital na escrita dos alunos do Ensino Médio da Escola Estadual “José Bejo”.
Após verificarmos os cadernos e as produções de textos, constatamos que são poucas as manifestações do internetês, principalmente nas produções de textos, nos cadernos encontramos com um pouco mais de freqüência grafias próprias do internetês, como: abreviaturas, gírias e até algumas caricaturas que lembram os emoticons.
Essas abreviações e gírias, no entanto, na maioria das vezes apareceram em recados escritos nas capas dos cadernos e em bilhetes, que os alunos têm costume de escrever uns para os outros, para que assim fiquem recordações dos momentos que juntos passaram naquele ano na escola.
Podemos dizer que no caso dos recados e dos bilhetes essas abreviações parecem não constituir nenhum tipo de preocupação, pois a escrita desse gênero permite que seja mais descontraída: um bilhete para um colega ou mesmo um recado na capa do caderno podem ser escritos de forma informal, com uma linguagem mais próxima da oralidade (coloquial), as palavras geralmente são reduzidas, tudo isso ocorre porque há uma proximidade entre os interlocutores.
Ainda no caderno encontramos no meio dos conteúdos algumas abreviações, aliás, foram poucos os casos ocorridos, geralmente quando isto ocorre o objetivo é acelerar o processo de copiar conteúdos tanto do quadro-negro como do livro didático, os casos mais comuns de abreviações que verificamos foram: q (que), pq (porque), tb (também), ex (exemplo), td (tudo), + (mais), obs (observação). Assim como na internet, o uso de abreviações parece ocorrer em razão de uma intenção de acelerar a escrita e muitas vezes para diminuir o trabalho de copiar todo o conteúdo.
Já nas produções de textos as ocorrências de abreviações foram praticamente raras, as poucas que encontramos na realidade devem ter ocorrido por costume de estar sempre na internet e geralmente escrever aquela palavra usando a abreviação. Acreditamos que isso não seja de fato algo que gere preocupação, pois nesses casos, basta um pouco mais de atenção para evitar que isto ocorra. O mais interessante é que os alunos demonstraram ter noção de que esse processo de abreviação não deve ocorrer principalmente em produções escritas em sala de aula, pois nessa situação é necessário utilizar a língua padrão.
Não podemos nos esquecer dos alunos que moram na zona rural, que muitas vezes não têm acesso à internet ou tem um acesso mais limitado, na maioria das vezes, o pouco que estes conhecem a respeito de abreviações é aquilo que seus colegas que têm contato com internet passam, ou conhece algumas abreviações mais comuns, utilizadas com freqüência, nos livros didáticos, como: ex.: (exemplo), obs. (observação), etc.
Após analisarmos todos os materiais colhidos e principalmente através do questionário aplicado podemos notar que a maioria dos alunos tem algum acesso à internet e tem conhecimento da linguagem utilizada em MSN, o que permite que eles saibam que esta inovação na maneira de lidar com a escrita não deve ser utilizada em textos escritos na sala de aula, mas sim em interações menos formais, como em sala de bate-papo com amigos ou mensagens enviadas via e-mail ou celular.
A conclusão a que chegamos é de que ainda não há motivos para preocupações com uma possível substituição da escrita alfabética/ortográfica por outra usada na internet. Constatamos que até o momento essa comunicação digital ainda não afetou a essência da língua, ou seja, esta nova modalidade da língua escrita utilizada pelos jovens na internet ocorre mais freqüentemente em conversas com amigos, através de recados deixados nos cadernos, até porque todo aluno tem um espaço particular no seu caderno e esses recados tem o objetivo de chamar atenção da pessoa a quem se refere.
Em razão do uso do internetês para suprir a necessidade de uma escrita rápida e inovadora, neste processo, ocorrem técnicas de abreviações, geralmente desaparecem as vogais e ficam somente as consoantes, como por exemplo: cabeça (cbç), tudo (td), porque (pq), observação (obs), etc. Nesses casos, podemos afirmar que há uma interferência na grafia das palavras e não na língua, e até o momento constatamos que parece estar muito longe de haver qualquer influência da linguagem empregada na internet na escrita em sala de aula, a ponto de afetar a gramática, visto que a escrita digital apesar de ser utilizada em muitos gêneros que fazem parte de nosso cotidiano, acaba não sendo empregada em outras situações, especialmente na sala de sala.
Assim, é papel da escola e do professor fazer com que os alunos entendam que para cada situação há um tipo de gênero específico, principalmente porque condenar essas inovações que vem tomando conta do cotidiano das pessoas, é totalmente impossível, seria o mesmo que condenar as variedades lingüísticas. Vivemos em uma sociedade democrática, a qual prega a valorização e o direito de expressão, hoje além de valorizar o que se diz, valoriza-se principalmente o direito de dizê-las, independente de ter sido de maneira convencional ou não.
Cabe ao professor proporcionar aos alunos, de acordo com as séries que eles se encontram, o conhecimento dos mais diversos gêneros do discurso que circulam na sociedade, inclusive os gêneros digitais como o e-mail. A esse respeito, os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL/MEC, 1998, p. 19) propõem que a escola deve se constituir como um espaço de formações de leitores, onde “cada aluno se torne capaz de interpretar diferentes textos que circulam socialmente, de assumir a palavra e, como cidadão, de produzir textos eficazes nas mais variadas situações”. Em uma sociedade em que os meios de comunicação exercem forte influência sobre a população, em especial sobre os jovens, é fundamental refletir sobre o trabalho com os gêneros digitais, e proporcionar aos alunos oportunidade de escrita nas mais diversas situações, no caso do e-mail, por exemplo, no qual o professor deve acompanhar os alunos até o laboratório de informática e lhes auxiliar no desenvolvimento produção escrita típica deste meio de comunicação.
A internet deve ser utilizada como uma ferramenta de auxílio na aquisição da leitura e da escrita, ferramenta esta que a escola e o professor devem introduzir na vida escolar do aluno, visto que faz parte do cotidiano da maioria dos alunos, e que é impossível ignorar este fato, é função do professor e da escola orientar os alunos no uso da internet de modo a conduzi-los ao processo de construção do conhecimento, possibilitando ao professor ser mediador, isto é, acompanhar e sugerir atividades, ajudar a solucionar dúvidas e estimular a busca de um novo saber.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O grande acesso de jovens às Lan Houses tem possibilitado a inovação na comunicação, uma escrita mais rápida realizada em tempo quase real tem interferido na grafia de algumas palavras, porém, isto não é algo preocupante. Com base nos dados que levantamos pudemos notar que na maioria das vezes os jovens fazem uso do internetês em duas situações: quando conversam com colegas no MSN, onde é necessário habilidade com a escrita para que a comunicação seja ágil, visto que quando a conversa ocorre na Lan House, tempo custa dinheiro, ou quando escrevem bilhetes escritos em capas de cadernos para seus colegas, em que se utilizam uma escrita menos informal, na busca de escrever uma mensagem mais criativa, diferente ou mais descontraída.
No entanto, vale ressaltar que constatamos através do questionário aplicados aos alunos, que eles estão conscientes de que não devem utilizar o internetês na escrita em sala de aula, quer dizer nos momentos de produções textuais quando os professores solicitam o uso da norma padrão. Além disso, os alunos demonstraram ter noção de que há momentos em que se torna difícil utilizar a escrita da internet que é repleta de abreviações, gírias, neologismos, estrangeirismos e emoticons, principalmente quando a situação é mais formal e necessita da língua escrita padrão.
Os professores também afirmaram nos questionários que estão sempre alertando na escola em quais momentos e situações podem utilizar uma ou outra linguagem, ou seja, reforçam a diferença existente entre a linguagem utilizada nos diversos gêneros digitais e a linguagem padrão que apesar de ambas serem escritas cada uma tem suas peculiaridades, assim como ocorre com as outras modalidades da língua.
Constatamos também através de nossa pesquisa que os professores têm procurado introduzir na vida dos alunos os mais diversos meios de comunicação, visto que segundo Lévy (1999) as redes de computadores permitiram as pessoas construírem e partilhar conhecimentos, tornando-os seres democráticos que aprendem a valorizar as competências individuais. Daí a importância de se trabalhar com os alunos a produção escrita nas mais variadas situações de comunicação, sempre ressaltando a importância de um gênero e outro no desenvolvimento do indivíduo na sociedade.
Diante disso, podemos afirmar à necessidade do professor possibilitar aos alunos atividades como produção de texto variadas, tanto nas modalidades escolarizadas como no meio digital, mostrando a importância do uso da norma culta em determinadas situações de escrita, como numa situação em que ele queira publicar um texto num jornal virtual, por exemplo. É papel da escola e do professor integrar o aluno nas diversas situações de comunicação, proporcionando assim o conhecimento das diversas formas de comunicação.
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1 Optamos, assim como Bakhtin (2003), pela expressão gênero do discurso/discursivo, por considerarmos os aspectos sócio-históricos na constituição dos sentidos do discurso. Apesar de Marcuschi e outros autores utilizarem a expressão gênero textual.
2 Utilizamos o termo letramento digital assim como Soares (2002, p.151) para definir “um certo estado ou condição que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e exercem práticas de leitura e de escrita na tela, diferente do estado ou condição do letramento dos que exercem práticas de leitura e escrita no papel.”
3 O termo hipertexto é definido por Marcuschi (2005, p.171) como “uma forma híbrida, dinâmica e flexível de linguagem que dialoga com outras interfaces semióticas, adiciona e acondiciona a sua superfície formas outras de textualidade”.
Publicado por: PATRÍCIA EDÍ RAMOS
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