Educar nas Ondas da Comunicação
índice
- 1. RESUMO
- 2. INTRODUÇÃO
- 3. A educação nos seus primórdios
- 4. Na Grécia e Roma antiga, a educação e os principais filósofos
- 5. Na Idade média, entre a patrística e a escolástica, mais avanços ou retrocessos na educação
- 6. A transição do humanismo para o renascimento
- 7. A educação no Brasil e pelo mundo, a partir do descobrimento até o Império
- 8. Educação no Brasil durante a Primeira República
- 9. De Paulo Freire aos dias atuais
- 10. A comunicação, o indivíduo e o contexto social
- 11. Globalização e regional, um anula o outro ou se complementam?
- 12. O que está por trás do consumismo?
- 13. Uma nova comunicação impulsionadora do desenvolvimento local e pessoal
- 14. O ensino e a aprendizagem nos dias atuais
- 15. Se a evolução não pára por que tanta resistência?
- 16. Um olhar mais atento sobre a educomunicação
- 17. As bases necessárias para se praticar a educomunicação
- 18. A implantação da rádio em nossa escola
- 19. A criação do site Greinernet
- 20. Exemplos de atividades propostas aos alunos
- 21. Utilizando pedagogicamente a rádio na escola
- 22. Projetos especiais que se utilizaram da educomunicação
- 23. A solidariedade no projeto educomunicativo
- 24. Analisando a pesquisa de opinião e os dados coletados
- 25. CONCLUSÃO
- 26. REFERÊNCIAS
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1. RESUMO
Esta monografia tem o objetivo de identificar as possíveis causas das dificuldades dos professores e alunos em aplicar e receber uma metodologia de ensino que junte a comunicação e a educação. Demonstrar os benefícios e as dificuldades na aplicação dessa prática pedagógica, para, com tais informações, facilitar o trabalho do educador no que se refere ao desenvolvimento e aprimoramento das potencialidades do educando para sua efetiva aprendizagem e para que ele se torne um agente crítico-transformador.
Para tanto, analisaremos como foi a implantação na Escola Estadual Pe. João Greiner de uma rádio-escola, a criação de um site, seu jornal on-line e como professores e alunos utilizaram-se destes meios pedagogicamente. Para finalizar, feitas as pesquisas de opinião, averiguaremos como os jovens da escola repassaram o que aprenderam a colegas de outra escola, a Estadual São Francisco.
Momento em que apresentaremos a prática educomunicativa no ambiente escolar, o conceito de educomunicação e analisaremos o papel do protagonismo juvenil no ecossistema comunicativo.
Feitas as observações, concluímos que é necessário a reformulação do currículo e da prática educativa, para que todos os envolvidos com a educação conheçam as múltiplas inteligências, a fim de se potencializar as vocações para, com elas, buscar a melhora do desempenho individual, naquilo que seria o dom natural, além de, com o conhecimento de nossas qualidades e falhas, buscar o aperfeiçoamento na área em que o desempenho é dificultoso.
Palavras-chaves: Educomunicação, educação, protagonismo juvenil, múltiplas inteligências.
2. INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta uma abordagem qualitativa com caráter de pesquisa exploratória e delineamento de estudo de caso. Pretende analisar a educação e verificar como professores e alunos interagem com a mídia e como esta pode ser uma aliada eficiente no processo de ensino-aprendizagem. Quanto à educação, procuramos fazer um retrospecto histórico, um passeio pelos tempos, analisando várias correntes, até chegar nos dias atuais.
Buscamos também fazer um estudo sobre a comunicação, em seus diversos aspectos, para que fiquem mais claro como os poderosos, empresários e países, utilizam-se, hoje, num mundo globalizado, das novas tecnologias e da comunicação de massa para aumentarem seus lucros.
Para contrapor essa realidade, propõe-se que deva fortalecer o local, para que os membros de uma comunidade e/ou de uma escola promovam o desenvolvimento local a partir de redes sociais que serão formadas, utilizando-se de uma comunicação de base que produza sua própria mídia, a fim de se alcançar uma sociedade mais justa e o progresso educacional.
Além do mais, hoje, o educando recebe muitas informações fora do ambiente escolar; mais, às vezes, do que aquelas apreendidas nas horas de estudo na escola. Tais informações são oferecidas pelos meios de comunicação em massa de uma maneira bem mais sedutora; portanto, o ambiente escolar deve se apropriar da técnica comunicativa para tornar o ensino mais eficiente e, ao mesmo tempo, transformar o educando em um ser mais crítico em relação à própria mídia. Visto que, ao produzi-la, o aluno passa a conhecê-la por dentro, tornando-se inclusive íntimo dela; conhecedor do seu lado negativo, manipulatório e, ao mesmo tempo, capacitado para ser um agente crítico-transformador.
A educomunicação foi estudada e chegamos a propor a sua prática para melhorar no ambiente escolar a comunicação e o aprendizado como um todo. Porém, para compreender a prática educomunicativa, do ponto de vista pedagógico, recorremos os estudos teóricos de Vygotsky e, principalmente, de Gardner, descobridor das múltiplas inteligências. Através destes dois, e muitos outros, podemos perceber que a educação se faz durante o processo de aprendizagem, no convívio social, através da potencialização no aprendiz das diversas inteligências que possui.
Para tanto, o educando tem que ser um agente ativo, não uma mera tábua rasa depositária do conhecimento, postura pedagógica criticada por Paulo Freire, no que ele denominava ensino bancário. Autor que, inclusive, será estudado por nós.
Por outro lado, o professor também necessita conhecer a tecnologia e o potencial pedagógico da utilização da mídia. Portanto, concluímos que, de forma continuada, os profissionais da área devem ter acesso a cursos de capacitação para reformular e aprimorar sua prática educacional.
Durante as explanações, serão verificados, num primeiro momento, como alunos do Ensino Médio da Escola Estadual Pe. João Greiner darão continuidade à implementação de uma rádio-escola e de um site.
O próprio jornal Boca do Greiner on-line, criado e produzido pelos educomunicadores da escola, será objeto de pesquisa e instrumento de divulgação dos trabalhos realizados. Através dele, do site e da rádio recordaremos algumas práticas pedagógicas que se utilizaram da educomunicação.
Formaremos um grupo de alunos (aproximadamente 30) que, durante o ano de 2006, se reunirá duas vezes por semana, nas aulas de oficina, a fim de trocar experiência e ser capacitado a gerenciar a Rádio Greineração que transmitirá programas diários. Aproveitaremos os recursos tecnológicos que possuímos e o conhecimento teórico da educomunicação para produzir, alunos e poeta, um CD de declamações, com poemas de escritores regionais.
Num segundo momento, durante os meses de setembro a novembro, um grupo conhecedor da teoria educomunicativa, composto por cinco colaboradores, entre alunos (faixa etária variando dos 14 aos 19 anos) e professor da Escola Estadual Pe. João Greiner, repassará sua experiência, como multiplicador do conhecimento, a dez estudantes (faixa etária variando dos 11 aos 14 anos) do Ensino Fundamental da Escola Estadual São Francisco. Estes últimos, por sua vez, terão também a responsabilidade de repassarem o que aprenderam aos demais colegas de sua escola.
Esta pesquisa pretende verificar o processo de ensino, o envolvimento dos educandos, a prática pedagógica a eles proposta, sua eficácia e possíveis deficiências. Ao surgirem os problemas, analisaremos como serão enfrentados por esses alunos e seus professores; verificando, também como eles superam as dificuldades e como os educandos se portam quando lhes são oferecido o protagonismo juvenil, um veículo de comunicação e a oportunidade de repassarem o conhecimento aos seus colegas.
3. A educação nos seus primórdios
A visão mais comum de educação é a de que ela é um processo “de integração da criança com a sociedade. Ou seja, é sinônimo de socialização.” (INCONTRI, 2003, p. 43) Assim sendo, são transmitidos aos educandos os conhecimentos e a cultura a fim de os mesmos inteirarem-se do comportamento social. No entanto, não se pode pensar que educação seja só isso. “Educar é pois elevar, estimular a busca da perfeição, despertar a consciência, facilitar o progresso integral do ser” (Ibid., 2003) [grifo da autora]. Portanto, ao ver a educação com uma visão apenas socializadora perde-se muito ao não aproveitar todo o potencial criativo das pessoas. A educação com essa visão restrita assume dois aspectos: o “conservador – mantendo o ‘status quo’, e entravando a evolução humana – e um aspecto autoritário, desrespeitando a individualidade do educando e deixando de desenvolvê-la como um ser humano, rico de promessas de transformação.” (Ibid., 2003)
Nos primórdios da história e, ainda hoje, nas culturas primitivas a educação representa “um processo de enculturação, ou seja, a transmissão do conjunto de mecanismos que servem para introduzir e assimilar o indivíduo em determinada sociedade, na sua cultura, a fim de torná-lo membro efetivo da ordem social” (GILES, 1987, p. 3).
Aranha[1], por sua vez, complementa que:
[...] A educação não é um fenômeno neutro, mas sofre os efeitos da ideologia, por estar de fato envolvida na política. [...] Nas comunidades tribais as crianças aprendem imitando os gestos dos adultos nas atividades diárias e nas cerimônias dos rituais. As crianças aprendem ‘para a vida e por meio da vida’, sem que alguém esteja especialmente destinado à tarefa de ensinar.
Como vimos, educação e cultura estão intimamente ligadas; e ambas estão relacionadas com a comunicação. Giles (1987, p. 3) nos esclarece que “cultura é ao mesmo tempo produto de ação humana e elemento condicionante que estimula uma ação. Trata-se de um processo dialético em que o homem cria a cultura e a cultura, por sua vez, amolda o homem.” Ter essa noção é importante para evitar que se perpetuem os velhos erros da sociedade. Afinal, caso limite a criatividade do homem e lhe retire a liberdade o mesmo torna-se “apenas o produto acabado de uma dada cultura e de todas as suas mazelas sociais” (INCONTRI, 2003, p. 43).
No site da Miniweb, em artigo voltado a educadores, encontramos o resumo da Barsa[2], onde se verifica que:
A aprendizagem elementar é oferecida pela família. A instituição familiar pode apresentar formas muito diversas, de acordo com a sociedade em que esteja inserida, e a educação no seio familiar também é encaminhada de formas muito distintas. É possível dizer, porém, que, em quantas sociedades humanas existam ou tenham existido, o núcleo familiar sempre foi o primeiro passo, de incalculável importância em direção à socialização da criança, ou seja, na transformação de um ser que ao nascer é regulado pelos instintos em membro participante de uma comunidade.
Antigamente, com o surgimento da escrita, como no caso da Mesopotâmia, primeira civilização a produzi-la, existia a tendência de venerar as formas escritas, atribuindo-lhes, inclusive, origens divinas (GILES, 1987, p. 6).
Segundo o autor:
À casta sacerdotal deve-se o primeiro sistema de ensino formal, motivado pela necessidade de formar o sacerdote escriba, guardião da ordem religiosa e encarregado da administração da sociedade. [...] Consequentemente, o novo sistema escolar será reservado aos filhos das classes que detêm o poder, portanto, não sendo nem universal, tampouco compulsório. [...] O conteúdo do ensino será diretamente vocacional, moral e didático. [...] Considerando os fins do ensino nesta sociedade, a reflexão criativa, ou especulação, é desencorajada. Portanto, a base do processo educativo será a obediência, e o castigo físico será instrumento fundamental para inculcá-la, pois que é considerada virtude fundamental e caminho para o êxito social e econômico (Ibid., p. 7, 8).
Gennari (2003) em seu artigo Um breve passeio pela História da Educação, publicado na Revista Espaço Acadêmico[3], referindo-se ao antigo Egito, cerca de 2.600 a. C, esclarece-nos que “existem quatro grupos de pessoas que recebem um ensino diferenciado: o faraó e os senhores da corte, os escribas e todos aqueles que se dedicam às funções administrativas, os artesãos e, por último, os escravos.”
O autor continua informando que a educação, nessa sociedade, é utilizada pelos grupos dominantes como:
[...] um meio para moldar as várias camadas da população. Assim como o oleiro dá forma ao barro para que ele se transforme num determinado objeto, as elites se preocupam em formar cada setor da sociedade de acordo com a necessidade de garantir a exploração e a ordem que proporciona a concretização de seus interesses. Em outras palavras, na civilização egípcia já podemos visualizar uma característica que vai se manter constante ao longo da história: há sempre uma relação direta entre o tipo de educação e a posição que o indivíduo ocupa na pirâmide social (Ibid., 2003).
Do seio familiar aos amigos no convívio social, a educação foi se especializando até se tornar formal; mas sempre a serviço de uma ideologia, sempre para suprir uma necessidade social. O que se verificou na antiguidade egípcia foi que a grande maioria do povo não tinha acesso às escolas. Esta importante instituição servia a poucos e trazia consigo um forte apelo mitológico e sagrado.
4. Na Grécia e Roma antiga, a educação e os principais filósofos
Aranha[4] em seu texto nos informa que a Grécia foi o país em que se pode dizer que nasceu a pedagogia. “A palavra paidagogos significa aquele que conduz a criança, no caso o escravo que acompanha a criança à escola. Com o tempo, o sentido se amplia para designar toda a teoria da educação”.
Ocorreu um avanço em relação aos outros povos do passado. Os gregos davam muita importância à razão, sendo que a mesma estava a serviço do próprio homem, não mais dos deuses. Giles (1987, p. 11) afirma que já na época pré-homérica o homem antigo valorizava a si como sendo o mais importante do cosmo. “Os deuses são seres humanos cujas virtudes e faltas assumem força divina ”(ibid., p. 12).
Na época homérica, duas cidades se destacavam, com dois propósitos diferentes no processo educativo. Em Esparta as crianças eram consideradas um bem a serviço do Estado.
Poucos dias após o nascimento, o filho é inspecionado por um conselho de anciãos. Estes decidem se o menino deve viver ou morrer. A decisão depende de o menino ser sadio e forte ou doentio e frágil. [...] Ao ingressar na escola, o menino recebe uma cama de palha, sem cobertor, e uma camisola curta. Deve andar descalço. Para acostumar-se a passar fome em tempo de guerra, só recebe um mínimo de comida. O resto, ele deve conseguir como pode. Deve, pois, aprender a roubar. É meio de desenvolver a astúcia. Só que, se for apanhado em flagrante, será severamente castigado por falta de habilidade (Ibid., p. 13).
Já em Atenas, eram os pais e não o conselho de anciãos que escolhiam a sorte dos filhos, que só sobreviviam se saudáveis e robustos (GILES, 1987).
A educação com o surgimento dos sofistas modificou-se, principalmente porque a sociedade pedia transformações. A democracia em Atenas favorecia um ensino que prometia aprimorar a “capacidade de persuadir e manipular as massas”. Portanto, a serviço das classes dominantes. “Exige-se um ensino relevante que leve ao aluno poder pessoal. A nova forma de educação deve garantir a vantagem política e o êxito nos assuntos públicos” (Ibid., p. 15).
A fim de alcançar êxito em seus propósitos, os sofistas criaram a Retórica que, com o seu uso eficaz, facilitava aos que pretendiam subir socialmente; portanto não se valorizava a virtude moral. Sócrates, grande filósofo da época, criticava a concepção dos sofistas e defendia que:
A formação do aluno depende do desenvolvimento da virtude moral, virtude que pode ser ensinada, pois resulta da reflexão e cuidadosa análise das diversas alternativas. É este o processo que leva o aluno a perceber os verdadeiros interesses do homem, bem como onde encontrá-los. Nisto Sócrates se opõe terminantemente aos sofistas. [...] A própria sociedade estará condenada à extinção, se seus membros só perseguirem interesses pessoais e valores particulares. O resultado será inevitavelmente fragmentação da ordem social e, afinal, de tudo o que vale a pena conservar. [Além do que] [...] O processo educativo consiste numa contínua dialética de questionamento em que o mestre, por via de implacável interrogação, leva o aluno a reconhecer que as primeiras impressões, baseadas em superficial percepção da realidade, são insuficientes e não lhe proporcionam o conhecimento dos valores eternos, conhecimento indispensável para orientar as ações. Trata-se da maiêutica, ou seja, a arte da parteira, a arte de ajudar a alma à dar a luz, ou seja, a produzir ideias, bases da verdade e da virtude (Ibid., p. 17).
Para Incontri (2003, p. 88-89), Sócrates foi o pai da Ética ocidental, sábio virtuosíssimo.[...] Mostrava que todo processo pedagógico nasce da interação humana, através do diálogo, exercendo o mestre a função de parteiro da luz espiritual do discípulo” .
Platão, que fora discípulo de Sócrates, também criticava os sofistas ao excluir “[...] a Retórica do processo educativo, pois que ofusca a visão e a procura do bem. Ademais, enaltece o êxito social e político a qualquer preço, utilizando como meio o falatório, o que resulta inevitavelmente na derrota da justiça.” (GILES,1987, p. 20) Também Aristóteles, contemporâneo de Platão, com o colega compartilhava:
[...] a ideia deste conforme a qual a Cidade só pode ser virtuosa quando os cidadãos que a compõem são virtuosos, e o meio de formar o cidadão virtuoso é processo educativo. [...] Para Aristóteles, o homem nasce para a cidadania e o Estado existe para a realização do bem dos cidadãos. Uma vez que o homem é animal político por natureza, ele só pode realizar seu fim ultimo – a felicidade – dentro de uma coletividade social. Segue-se, portanto, que o processo educativo é o caminho que leva à realização desse fim, e é esta a função do Estado (GILES, 1987, p. 22).
Em Roma, que se apropriou muito da cultura Grega, a situação mudou pouco. “Lá, o primeiro educador é o ‘pater familiae’. Desde a fundação da cidade, a autonomia da educação paterna é uma lei do Estado pela qual o pai é dono e artífice de seus filhos” (GENNARI, 2003)[5] .
A antiga monarquia romana, de fato, é uma república constituída pelos proprietários das terras e dos núcleos rurais (familiae), dos quais fazem parte as mulheres, os filhos, os escravos, os animais e qualquer outro bem. [...] A educação no seio dessa família visa, basicamente, o ensino das letras, do direito, o domínio da retórica e das condições para desempenhar as atividades políticas, típicas das classes dominantes. Ainda que o desenvolvimento histórico imponha mudanças nos costumes e nas instituições que se dedicam à educação dos jovens, a organização do Estado romano impede o livre acesso do povo simples à arte da palavra. As poucas escolas existentes tornam-se cada vez mais um meio para a capacitação de um grupo restrito de indivíduos, como burocratas, no poder do Estado.
5. Na Idade média, entre a patrística e a escolástica, mais avanços ou retrocessos na educação
Após a vinda de Jesus Cristo e a pregação de Seus ensinamentos, passados alguns anos, o governo de Roma começa a perder seu enorme poder. A sociedade se reestrutura num novo modelo, onde o próprio conceito de educação se altera.
A pedagogia utilizada por Cristo é irretocável, eficaz em qualquer época, devido sua adaptabilidade e eficiência ao transmitir os conhecimentos, muitos deles quase incompreensíveis devido ao elevado grau de mistério e o baixo nível intelectual e de evolução do povo da época, porém multidões compreenderam.
A fim de entender o método eficaz de aprendizado praticado por Jesus, Giles analisa, a partir dos relatos dos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João, como que o Mestre aplicava tal pedagogia:
Jesus é uma figura carismática e um pedagogo exímio. Ensina com a simplicidade proporcional à audiência, à plateia, pois recorre a imagens vivas, a uma linguagem direta, acessível, adaptada às necessidades do povo. [...] Em vez de recorrer à argumentação arrazoada, recorre a símiles, a metáforas e aforismos para transmitir a mensagem. Recorre também a analogias e parábolas (1987, p. 55).
Na idade média, no entanto, os cristãos se apegaram a um conceito teocêntrico de educação que Aranha[6] define da seguinte maneira:
Os parâmetros da educação na idade média se fundam na concepção do homem como criatura divina, de passagem pela Terra e que deve cuidar, em primeiro lugar, da salvação da alma e da vida eterna. Tendo em vista as possíveis contradições entre fé e razão, recomenda-se respeitar sempre o princípio da autoridade, que exige humildade para consultar os grandes sábios e intérpretes, autorizados pela igreja, sobre a leitura dos clássicos e dos textos sagrados. Evita-se, assim, a pluralidade de interpretações e se mantém a coesão da igreja. Predomina a visão teocêntrica, a de Deus como fundamento de toda a ação pedagógica e finalidade da formação do cristão. Quanto às técnicas de ensinar, a maneira de pensar rigorosa e formal cada vez mais determina os passos do trabalho escolar.
Toda a cultura de a. C. praticamente desapareceu, tornou-se desconhecida para a grande maioria do povo; este aspecto representou um retrocesso na educação da época. No resumo da Barsa[7], verificamos que somente a igreja, por meio das ordens monásticas, conseguiam resguardar a cultura greco-romana, embora de maneira distorcida e fragmentada.
Segundo, ainda, o mesmo texto:
Na Idade Média europeia, o ensino foi ministrado praticamente na clandestinidade. Em todo esse período existiu um restrito número de escolas, em mosteiros e sedes episcopais, e nelas se educavam pouquíssimos alunos, dentro de um sistema de pensamento muito fechado, estático e dominado pela religião. Isso deu origem a uma casta letrada, que transmitia o saber quase que como segredo, conforme ocorria nas antigas civilizações do Oriente Médio. Raramente os alunos pertenciam à nobreza guerreira, para a qual as artes e as letras constituíam, na verdade, um adorno inútil. Em contrapartida, as escolas se destinavam a preparar sacerdotes para a igreja ou a instruir indivíduos para o reduzido corpo de funcionários imperial, que recebeu considerável impulso quando Carlos Magno tentou restabelecer a unidade política europeia.
O estudo dos clássicos, felizmente, não foi abandonado; apenas ocorreu um acesso limitado, como já vimos. O grande nome do início da Patrística[8] para a filosofia ocidental, e, consequentemente, para a educação foi Santo Agostinho, que retomou as ideias de Platão criando o que se poderia chamar de neoplatonismo.
Para o filósofo, segundo Giles (1987, p. 61): “A tensão entre fé e razão, entre a aceitação e a rejeição da cultura clássica tem reflexos na incipiente teoria de educação cristã. A solução de Agostinho consiste em seguir os modelos da Gramática e da Retórica quanto à forma. Porém, o conteúdo deve haurir-se de fontes cristãs”.
O autor, ainda nos esclarece o que seria a meta do processo educativo na concepção de Agostinho: Conhecimento e fé.
No próprio ato da criação, Deus implantou na alma de cada um os meios de chegar a tal conhecimento. A consciência desse desejo vem das operações internas da alma, pois estas produzem dentro do homem o sentimento de incompletude e de nostalgia.
O mais alto ideal do homem consiste na união completa com Deus. A vocação do cristão consiste em alcançar aquela união, tarefa que ocupa uma vida inteira. Nessa procura, por si só, a fé é apenas o ponto de partida da caminhada, a inteligência sendo auxiliadora, a serviço da alma, no cumprimento dessa tarefa (Ibid., p. 61-62).
Depois de Santo Agostinho, com o neoplatonismo, foi a vez de outro grande filósofo, Tomás de Aquino, no século XIII, trazer novamente para reflexão as ideias de Aristóteles, promovendo já na fase da Escolástica[9] o que se pode chamar de filosofia metafísica cristã.
Toda essa efervescência cultural, embora praticada por poucos, fez com que a evolução do homem continuasse. Ocorreu nos últimos séculos um maior desenvolvimento social, inclusive com o aumento no número de universidades medievais. Instituições de ensino que eram voltadas para a formação de religiosos, portanto traziam um ensino rígido e tradicional. No entanto é inegável que, apesar da linha teológica predominar, “[...] levava em si o germe de uma incontrolável expansão do saber. Quando o pensamento aristotélico foi incorporado ao acervo cultural dominante, após uma ausência de muitos séculos, a semente do racionalismo ficou firmemente implantada na instituição medieval de ensino” (BARSA)[10]
Quanto ao período da Idade Média, embora traga em seu bojo a marca do retrocesso, inclusive ganhou, por parte de alguns, a denominação de idade das trevas (injusta em muitos aspectos, principalmente se levarmos em conta as descobertas científicas e filosóficas); diríamos que, tirados os exageros praticados pela igreja e pelos nobres, houve avanços graças à intelectualidade dos poucos que tiveram acesso à educação.
6. A transição do humanismo para o renascimento
No final da Idade Média, século XV, com Marsílio Ficino, o humanismo ganha força. Giles (1987, p. 103) destaca que o filósofo italiano também retomou os ideais platônicos, mas diferente de Agostinho que de Platão aproveitava somente o que harmoniza com a fé cristã, Ficino sugeria que o “cristianismo que deve de entrar de acordo com a Filosofia. Ele insiste na primazia do homem e, de modo especial, na importância capital do intelecto humano.”
Para o filósofo, o homem, o ser inteligente, deve “procurar Deus através do conhecimento. O intelecto é uma espécie de olhar voltado em direção à luz intelectual que é Deus [...] É no amor que se encontra o significado da existência, pois Deus criou e sustenta o mundo por amor.” (Ibid., p. 103). A valorização do intelecto, também, levou o homem a valorizar as artes, promovendo o que viria depois, com o ideal clássico renascentista.
Com o fortalecimento dos ideais humanistas, buscou-se uma reformulação pedagógica. “desde os primórdios, o humanismo orienta-se pela renovação do processo educativo. Os maiores humanistas consideravam seu dever e necessidade premente dedicar maior atenção aos problemas da organização escolar, ao programa de estudos, aos métodos de ensino e ao comportamento dos alunos.” (Ibid., p. 113)
Os avanços tecnológicos, como a invenção de Gutenberg (a tipografia), facilitaram o ensino graças ao surgimento dos jornais e uma maior facilidade em se produzir livros. Em 1500, Erasmo, um educador que merece destaque, já valorizava a imprensa como veículo importante, instrumento valioso para a educação. No século XV, aconselhava ao professor que na leitura de clássicos devia “situar o autor no tempo e no espaço e só então abordar o texto, analisando-o cuidadosamente” (GILES, 1987, p. 116)
Analisando a obra de Erasmo, tratado Sobre a Educação dos Meninos, Giles (Ibid., p. 117-118) apresenta-nos os conselhos do educador renascentista, dados aos mestres:
O bom mestre estará alerta para aptidões, reconhecendo a personalidade de cada aluno e sua individualidade. Portanto, deve formular um estudo de acordo, pois nem todos os estudos favorecem todos os alunos de modo igual. O mestre deve saber temperar os esforços pedagógicos. [...] A capacidade de aprender é a principal aptidão com que a humanidade foi dotada. A razão leva o homem a procurar o cultivo do intelecto. Portanto, este deve esforçar-se ao máximo para realizar as potencialidades da sua capacidade intelectual. Trata-se de um dever diante de Deus e do Estado. [...] Entretanto, o cultivo da razão exige tempo e uma sequencia adequada de atividades. A educação da criança deve iniciar-se aos três anos de idade e de maneira alguma depois do sétimo, como era costume na época e mesmo nos tempos clássicos. [...] O correlato necessário da racionalidade é a virtude. Esta deve ser inculcada no aluno desde a primeira oportunidade, pois se tal processo é postergado para depois do sétimo ano de idade, os maus hábitos provavelmente já terão deitado nele raízes profundas.
Passados mais de cinco séculos, muitos educadores ainda não assimilaram tão sábios conselhos e utilizam-se ainda de uma pedagogia que não leva em conta a condição de o aluno ser único, portador de talentos que deveriam ser valorizados. Ao se praticar um ensino padronizado à massa, que, em vez de valorizar a criatividade, engessa o aprendiz, por não levar em consideração suas potencialidades buscando apenas moldá-lo, segundo as exigências curriculares (impostas pela classe dominante), faz com que a qualidade do ensino deixe a desejar. Atualmente, valoriza-se muito a memorização dos conteúdos que são diversos e descontextualizados; consequentemente, não são assimilados pelo cérebro. Justamente porque informação inútil não se internaliza. Nossas crianças e jovens têm recebido tanto conteúdo descontextualizado e fragmentado que vão direto à lixeira cognitiva, consequentemente, o aprendizado efetivamente não acontece.
Os profissionais da educação, que sempre buscaram meios para atingir uma boa meta de eficiência pedagógica, muitas vezes não entendem que, às vezes, embora com o recurso financeiro e com tanto avanço tecnológico, mesmo assim, seus alunos continuam a demonstrar desinteresse e falta de motivação para realmente aprenderem. Tentar entender este processo é nosso grande objetivo. Por isso, buscamos nas experiências do passado e do presente alguma luz a fim de alcançar sucesso na nossa pesquisa. Prosseguiremos com uma breve análise da educação renascentista europeia, passando por alguns nomes importantes até chegar ao Brasil, nos dias atuais.
A humanidade vivia um clima de euforia, pois acabara de redescobrir o gosto pelo estudo. O texto da Barsa[11], apropriadamente, informa:
As novas correntes de pensamento, criadas pelos humanistas, impregnaram uma Europa otimista e plena de vitalidade, disposta a substituir o rigor técnico medieval por outra forma de cultura. A educação retomou os antigos ideais clássicos que defendiam a conjunção harmoniosa do homem com a natureza. Os grandes pensadores eram também, em sua maior parte, mestres solicitados, e percorriam incansavelmente a Europa, difundindo ideias. O continente parecia viver em estado de debate constante, como se as distâncias tivessem sido infinitamente encurtadas.
Sem dúvida, iniciou-se um progresso que impulsionou a economia e propiciou o bem-estar de muitos. Para a educação, foi muito importante a tomada de consciência a favor do estudo e da ciência. O clima renascentista beneficiava a tomada de opinião por parte do povo favorável a mudanças no comportamento humano e, consequentemente, da sociedade como um todo. Os setores mais tradicionais e conservadores da igreja católica, por exemplo, não apoiavam tais mudanças; por isso lutaram para impedir o processo.
A própria igreja se dividiu com a Reforma religiosa, em 1517, Martinho Lutero contesta a doutrina eclesiástica das indulgências. Com o espírito impregnado de ideias humanistas, o próprio Lutero traduziu a bíblia para o alemão e defendeu a ideia de que o indivíduo deve estudar o texto sagrado, lendo-o na fonte. Portanto, era necessário investir na educação dos fiéis. Diferente da postura tradicional, onde se procurava oferecer ao fiel o conhecimento a partir de uma autoridade que detinha o saber. No caso, a igreja que, através do padre, oferecia trechos da bíblia, lidos em latim, durante as missas, sempre com o sacerdote de costas para o público.
A esperada reação da igreja católica foi a Contrarreforma. Primeiro, tentou-se retomar o velho estilo teocêntrico; porém, o povo estava mais conscientizado, encantado mesmo com o progresso, e por mais que a igreja chamava-o para um lado ele queria caminhar em direção ao antropocentrismo[12].
Os protestantes investiam cada vez mais na educação e a igreja católica com a Contrarreforma também passou a se interessar pela educação. Foi quando os jesuítas, como percebe-se através de Aranha[13], no século XVI, começaram a abrir colégios, instituições criadas para promoverem a educação; porém, “[...] a meta da escola não se restringe à transmissão de conhecimentos, mas a formação moral. Essa sociedade, embora rejeite a autoridade dogmática da cultura eclesiástica medieval, mantém-se ainda fortemente hierarquizada”
7. A educação no Brasil e pelo mundo, a partir do descobrimento até o Império
Como o descobrimento do Brasil aconteceu na época em que os jesuítas cuidavam da educação católica, em nosso país, logo no início da colonização, foram eles, portanto, que aqui vieram para catequizar os índios e instruir os filhos dos primeiros colonizadores. Vale destacar as figuras de Padre Manuel da Nóbrega, que chefiou a primeira missão dos jesuítas no Brasil e José de Anchieta que, como se lê nas palavras de Maia (2003, p. 156-157) “colaborou com Manuel da Nóbrega na fundação de um colégio em Piratininga, vilarejo que daria origem à cidade de São Paulo. [...] Com o objetivo de catequizar os índios escreveu vários textos em língua tupi”.
Comenius, no século XVII, filósofo e sábio, como percebemos através de Incontri (2003, p. 89) “foi iniciador da Pedagogia moderna. Educação para todos, homens e mulheres, pobres e ricos, normais e deficientes; abolição de castigos; escola humanista e ativa; aprendizagem global e estimulante, partindo do interesse e da observação”.
A pedagogia de Comenius valoriza a razão humana, “convocando-a a assumir uma atitude de pesquisa diante do universo e de visão integrada das coisas” (ibid., p. 90).
Maia (2003, p. 184-185) expõe-nos que:
O século XVIII é conhecido como o Século das Luzes, graças às novas ideias de cientistas e filósofos que provocaram uma verdadeira revolução na história do pensamento moderno. [...] Entra em cena o iluminismo, sustentado ideologicamente pelos iluministas, filósofos, cientistas, economistas e escritores que o difundem, entre eles Rousseau, Montesquieu, Voltaire e outros.
Os iluministas acreditavam que a ciência, o progresso e a liberdade eram os meios de trazer a felicidade aos homens.
Este espírito moderno e revolucionário só podia propiciar o que passou a denominar de Revolução Industrial, com o fortalecimento do capitalismo e a consequente queda do poder da monarquia. A educação, neste cenário, claro, foi beneficiada, porém, segundo Gennari (2003)[14], os próprios defensores da Revolução Francesa, que pregavam uma educação pública e universal “ fazem questão de reafirmar que o esforço de estender a instrução escolar a todos os cidadãos não significa que ela tenha que ser igual para todos”.
Pelo o exposto, verifica-se, infelizmente, que a classe dominante, mesmo aquela que está em ascensão, no caso aqui, a dos burgueses, ainda propunham educação que era diferente para os filhos da elite, que seriam educados para mandar na sociedade e nas indústrias, de uma educação voltada aos filhos das classes menos favorecidas, que seriam formados para trabalharem nas indústrias.
Outro nome que merece destaque é o de Pestalozzi. Bueno (1995, p. 26), informa-nos em sua obra que o educador propunha uma educação voltada ao desenvolvimento harmonioso do educando, através de atividades práticas da vida e do fortalecimento do intelecto, sempre levando em conta à educação moral, a fim de se alcançar a felicidade e a paz interior.
A autora nos apresenta a visão sobre o ensino de um dos alunos de Pestalozzi, que estudou em Yverdun, explica-nos Ackermann que ” [...] o ensino ali era essencialmente heurístico, isto é, o aluno é conduzido a descobrir por si mesmo, tanto quanto possível por seu esforço pessoal, as coisas que estão ao alcance de sua inteligência, em vez de elas lhe serem ministradas dogmaticamente pelo método catequético” (1995, p. 119).
Incontri (2003, p. 49), por sua vez, referindo-se ao educador suíço diz-nos:
Pestalozzi, que se preocupava bastante com o aspecto global e equilibrado que deve ter a Educação, resumiu a questão na famosa tríade: educar o coração, a cabeça e as mãos. Por educar o coração, entendia fazer brotar o amor a Deus e ao próximo; com educar a cabeça, referia-se a formação da inteligência, não no sentido de entupir a memória de informações, mas de desenvolver o ímpeto de observar, analisar, deduzir e pensar; e, afinal, educar as mãos era para ele tanto estimular atividades manuais e o trabalho em geral, quanto cultivar a agilidade, a saúde e a harmonia do corpo.
Dom Bosco, outro nome importante para a educação, iniciou o trabalho pedagógico, conforme nos informa Bosco (1997, p. 282-283), através de oficinas, no século XIX. Primeiramente proporcionava para seus jovens parcerias, onde um profissional de determinada área faria o papel de mestre ao ensinar o ofício ao aprendiz. Não era nenhuma novidade na época, o que Dom Bosco fez de importante foi firmar contrato de aprendizagem com os interessados, exigindo em suas cláusulas um tratamento justo, com remuneração, correção, quando necessário, sem agressões e com amor.
Depois, o próprio Dom Bosco passou a ensinar nas oficinas, em um pequeno espaço, os cursos de sapataria e alfaiataria. Conseguiu auxiliares, mais alunos e outros mestres, novas oficinas: encadernação de livros, marcenaria e, finalmente, a tipografia. (Ibid., p. 285-286)
Não tardou, montou um internato para seus artesãos e estudantes que vinham geralmente de classe social baixa, muitos inclusive órfãos. Todos habitavam num lar onde, na fala do P. Lemoyne, “Dom Bosco governou e dirigiu o oratório como um pai regula a própria família. Os jovens não sentiam grande diferença entre o oratório e a casa paterna. Não havia filas ordenadas para se ir de um lugar a outro, nem assistência rigorosa e regulamento minucioso (Ibid., p. 295).
Entender a proposta pedagógica salesiana através de uma crítica do próprio criador nos é possível graças a uma carta escrita pelo padre, onde ele relata que o ambiente simples e acolhedor do início do fazer pedagógico salesiano foi se transformando conforme crescia e, infelizmente, perdeu muito do convívio salutar e amoroso dos velhos tempos.
O inspiradíssimo homem de fé e educador mesmo dormindo trabalhava em benefício dos irmãos. Acostumado a ter sonhos reveladores, relatou em carta um deles que fora publicada na obra de Bosco (1997, p.325-326) e que passo a resumir:
Parecia-me estar no antigo oratório na hora do recreio. Era uma cena cheia de vida, movimento, alegria. Quem corria, quem pulava, quem fazia outros pular [...] Cantava-se, ria-se por todos os cantos e em toda parte encontrava-se padres e clérigos, e, ao redor deles, jovens brincando e gritando alegremente. Via-se que entre jovens e superiores reinava a maior cordialidade e confiança.” [No sonho Dom Bosco foi orientado pelo seu guia que disse:] – Veja, a familiaridade gera o afeto e o afeto produz confiança. É isto que abre os corações, e os jovens manifestam tudo sem temor aos mestres, assistentes e superiores.[...] [Aproxima-se um antigo aluno e mostra como os jovens estavam no intervalo dos dias atuais (1884), com olhares desconfiados, sós e com enfado e exclama:] “ – Como são diferentes do que éramos nós outrora! [...] – Falta o melhor [...]. Que os jovens não só sejam amados, mais saibam, vejam que são amados. [...] Que, sentindo-se amados naquelas coisas que lhe agradam, aprendam [...] a ver o amor também nas coisas que, naturalmente, pouco lhes agradam como a disciplina, o estudo, a mortificação de si mesmos.
Em sua carta, o diálogo com o ex-aluno continua e este passa a lhe mostra os atuais salesianos agindo diferentemente do mestre que, já idoso, lamenta e cobra uma atitude mais afetiva e responsável dos educadores que vão sucedê-lo. Atitude esta que passa por uma maior familiaridade com os educandos, inclusive no momento do intervalo.
Sabiamente o educador finaliza:
Quem sabe que é amado, ama. E quem é amado tudo obtém, especialmente dos meninos. A confiança estabelece uma corrente elétrica entre os jovens e os superiores. Esse amor faz os superiores suportarem canseiras, aborrecimentos, ingratidões, desordens, faltas, negligencias dos meninos (Ibid., p. 327).
Azzi (2000, p. 222) relata-nos que no Brasil os salesianos chegaram em “1883, estando ainda vivo o padre João Bosco, o Fundador da obra educacional”. Além do aspecto religioso e moral sua pedagogia buscava “transformar os meninos que vagavam pelas ruas em honestos cidadãos e operários competentes” ( Ibid., p. 222).
Quanto ao comportamento dos salesianos, na época de sua chegada ao Brasil, Azzi destaca: “cordialidade e jovialidade. Destinados a serem os educadores da juventude, não deviam identificar-se, segundo Dom Bosco, com o clero tradicional, tido em geral como sério e circunspecto, mas deveriam cultivar modos comunicativos no trato com as pessoas” (ibid., p. 142).
8. Educação no Brasil durante a Primeira República
O Brasil República e sua consequente urbanização acentuaram nas famílias a necessidade de se buscar nas escolas a capacitação necessária, principalmente, aos jovens da classe privilegiada, para que eles pudessem preencher os novos cargos que surgiam nas carreiras burocráticas e intelectuais (GUIRALDELLI JUNIOR, 1994, p. 16).
O autor acrescenta-nos:
Basicamente três correntes pedagógicas distintas formaram o cenário das lutas político-pedagógicas da Primeira República: a Pedagogia Tradicional, a Pedagogia Nova e a Pedagogia Libertária. [...] a Pedagogia Tradicional associava-se às aspirações dos intelectuais ligados às oligarquias dirigentes e à Igreja. A Pedagogia Nova emergiu no interior de movimentos da burguesia e das classes médias que buscavam a modernização do Estado e da sociedade no Brasil. A Pedagogia Libertária, ao contrário das duas primeiras, não teve origem nas classes dominantes; vinculou-se aos intelectuais ligados aos projetos dos movimentos sociais populares, principalmente aos desejos de transformação social contidos nas propostas do movimento operário de linha anarquista e anarco-sindicalista.[...] A pedagogia de cunho religioso-católico reproduzia, ainda, em muitos aspectos, os preceitos educacionais dos jesuítas, que foram os responsáveis pelo ensino no Brasil por mais de duzentos anos (Ibid., p. 19- 20).
Piletti (1996, p. 76) informa-nos que a Revolução de 30 “propiciou um clima de muita discussão e de agitação de ideias em todos os campos. O próprio governo [...] convidou os educadores a auxiliá-lo na formulação de uma política nacional de educação”.
Fernando de Azevedo redigiu o manifesto que fora assinado por mais de 25 intelectuais das áreas de educação e literatura. O título do texto que marcou época e influenciou muitos educadores é: A reconstrução educacional do Brasil – Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.
Observemos com atenção o resumo das propostas do manifesto:
1 - A educação é vista como instrumento essencial de reconstrução da democracia no Brasil, com a integração de todos os grupos sociais.
2 - A educação deve ser essencialmente pública, obrigatória, gratuita, leiga e sem qualquer segregação de cor, sexo ou tipo de estudos, e desenvolver-se em estreita vinculação com as comunidades.
3 - A educação deve ser ‘uma só’, com os vários graus articulados para atender às diversas fases do crescimento humano. Mas, unidade não quer dizer uniformidade; antes, pressupõe multiplicidade. Daí, embora única sobre as bases e os princípios estabelecidos pelo Governo Federal, a escola deve adaptar-se às características regionais.
4 - A educação deve ser funcional e ativa e os currículos devem adaptar-se aos interesses naturais dos alunos, que são o eixo da escola e o centro de gravidade do problema da educação.
5 - Todos os professores, mesmo os do ensino primário, devem ter formação universitária (Ibid., p. 77).
A pedagogia escolanovista, segundo Guiraldelli Junior (1994, p. 25), aplicou “‘métodos ativos’ de ensino-aprendizagem, deu importância substancial à liberdade da criança e ao interesse do educando, adotou métodos de trabalho em grupo e incentivou a prática de trabalhos manuais nas escolas”; consequentemente, a hierarquia no ambiente escolar deve mudar, afinal, essa postura pedagógica coloca “a criança (e não mais o professor) no centro do processo educacional” (Idem).
O professor explica-nos que a Pedagogia Tradicional deriva-se das teorias pedagógicas modernas e que os dois principais educadores utilizaram-se das descobertas na área da psicologia para melhorar o processo de ensino-aprendizagem.
Tanto o educador suíço Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) como Herbart incentivaram a tendência de ‘psicologizar a educação’. Em Herbart, esta psicologização da educação aparecia como uma das condições para tornar a pedagogia uma ciência. E, de fato, é Herbart o autor da ideia da ‘pedagogia como ciência da educação’, propondo uma teoria da aprendizagem consubstanciada nos ‘cincos passos formais de instrução’. [Sendo estes:] [...] o ‘método expositivo’. Os ‘cinco passos’ – preparação, apresentação, associação, generalização e aplicação – [...] Assim, a lição do dia deveria começar pela recordação dos tópicos anteriormente estudados (preparação); em seguida o professor poderia apresentar o conteúdo da nova lição (apresentação); o terceiro passo do processo se daria pela comparação entre os conteúdos novos e velhos (associação) a partir das percepções, sensações e associações iniciais; o penúltimo passo consistia na formação de conceitos abstratos e gerais (generalização); por fim, caberia ao professor propor alguns exercícios para verificação de aprendizagem e treinamento (aplicação) (Ibid., p. 21-22).
A Pedagogia Libertária, trazida ao Brasil pelos imigrantes europeus, criticava as instituições capitalistas porque “impedia as crianças de poderem pensar de maneira diferente às conveniências” da classe dominante. Valorizava, portanto, um ensino mais voltado para as classes populares com uma “educação ‘de base cientifica e racional’ [...] sendo que a educação deveria compreender, de um lado, a ‘formação da inteligência’ e, de outro, a preparação de um ser ‘moral e fisicamente equilibrado’ [...]; ‘adaptação do ensino ao nível psicológico das crianças’” (Ibid., p. 23).
A Pedagogia Libertária não deve ser confundida com a Pedagogia Libertadora, de Paulo Freire, um educador tão especial que merece um estudo mais aprofundado.
9. De Paulo Freire aos dias atuais
Guiraldelli Junior (1994, p. 122) referindo-se à Pedagogia Libertadora, também denominada pelo próprio Freire como pedagogia problematizadora, esclarece-nos que ela surgiu de “[...] três ideários [...]. De um lado o nacionalista-desenvolvimentista [...]. De outro, o novo pensamento social da esquerda católica (solidarismo cristão). Por fim, a vertente propriamente pedagógica, o escolanovismo, que praticamente dominou a intelectualidade liberal no final dos anos 50.”
O próprio Freire em uma de suas obras destaca-nos que as pessoas devem procurar fazer leitura crítica do mundo e delas mesmas, para que, assim procedendo, obtenham a consciência de que somos “sujeitos da história, ainda que não consigamos deixar totalmente de ser objetos da história [...]. Como participantes ativos e verdadeiros sujeitos, podemos fazer a história apenas se continuamente formos críticos de nossas próprias vidas” (FREIRE & MACEDO, 1990, p. 138).
O sujeito deve, portanto, ser ativo, ter consciência dos problemas sociais e sempre buscar meios para solucioná-los. E a Pedagogia Libertadora, segundo Guiraldelli Junior, tem esse compromisso com a “comunidade, o local onde se efetivava a vida do povo. A comunidade permaneceu, então, como ponto de partida e ponto de chegada. Daí as teses do ensino regionalizado, comunitário, ligado aos costumes e à cultura do local de vida da população a ser educada” (1994, p. 122).
Freire, ainda, nos recomenda que:
Não há educadores neutros. O que nós, educadores, precisamos saber é o tipo de política a que aderimos e em favor do interesse de quem estamos trabalhando. Felizmente, minhas ideias políticas não beneficiavam e continuam não beneficiando os interesses da classe dominante. [Aconselha-nos que o sujeito] esteja todo dia aberto para o mundo, esteja pronto para pensar; esteja todo dia pronto a não aceitar o que se diz, simplesmente por ser dito; esteja predisposto a reler o que foi lido; dia após dia, investigue, questione e duvide.” (FREIRE & MACEDO, 1990, p. 115-116)
Sendo a educação um ato político, deve-se propor “a ‘desalienação do povo’, através da instauração de uma ‘pedagogia do diálogo’, que deveria basear na horizontalidade entre educador e educando. Deveria ser o ‘diálogo amoroso’ – que é o encontro de ‘homens que se amam e que desejam transformar o mundo’”(GUIRALDELLI JUNIOR, 1994, p. 123).
Piletti (1996, p. 157) reforçando os ideais de Freire propõe que os alunos e seus mestres devem trabalhar “juntos, cooperativamente, na concretização de um objetivo comum: conhecer e transformar o mundo” (Idem). Insiste-nos o pesquisador que, quando no processo educacional se pressupõe que alunos e professores atuem como sujeitos da educação se faz necessário “superar a situação que coloca o professor como sujeito ativo – que tudo decide e determina – e o aluno como objeto passivo – que se limita a sofrer a ação educativa” (Idem). Para tanto, a fim de que realmente se horizontalize o processo de ensino-aprendizagem e, enfim, ocorra uma educação efetiva, o caminho sugerido é o do diálogo, onde “ao invés de adversários que procuram prejudicar-se mutuamente, professores e alunos passem a ser aliados, caminhando juntos numa mesma direção: a construção de um mundo melhor” (Idem).
Esta preocupação de transformar o mundo é antiga nos educadores que têm consciência crítica e reconhecem a importância da atuação do docente na formação das pessoas e sabem, evidentemente, que detêm um poder em suas mãos; portanto pode e deve ser utilizado para promover as reformas necessárias na sociedade. Reformas estas que devem iniciar a partir de cada indivíduo; no caso, em cada professor realmente comprometido com o ensino dos seus alunos e, principalmente com o seu contínuo aprender.
Piletti (1996, p. 166) cita como epígrafe, em um de seus textos, sábias palavras de Guimarães Rosa, um dos grandes escritores brasileiro, que deixou registrado: “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”.
Mais adiante em seu texto, Piletti (1996, p. 176) analisa a formação e atuação do professor e relaciona dez “verdades provisórias” com as quais nós compactuamos:
- aprendizagem constante como pedra angular do trabalho pedagógico;
- que se funda na modificabilidade do ser humano;
- que muda em convivência com outros seres humanos;
- num processo em que não há verdades absolutas e eternas;
- e no qual ao dizer corresponde o fazer e vice-versa;
- num clima de compreensão, em que valoriza o essencial;
- e não se fazem julgamentos definitivos e prejudiciais ao crescimento do aluno;
- estimulando-se o desenvolvimento da autonomia intelectual;
- e de uma visão global da realidade, que inclui, necessariamente, o ponto de vista do outro;
- sabendo-se que é educando que se aprende a educar.
Esta postura do profissional da educação em relação aos alunos e a si próprio, listada por Piletti condiz perfeitamente com o ponto de vista da Pedagogia Libertadora que critica a educação convencional, denominada por Freire de educação bancária. Guiraldelli Junior (1994, p. 123) explica-nos como seria esse processo pedagógico que alguns professores, ainda, infelizmente, depositam sua fé: “uma educação calcada numa ‘ideologia de opressão’ que considerava o aluno como alguém despossuído de qualquer saber e, por isso mesmo, destinado a se tornar depósito de dogmas do professor.”
Compare a diferença do proceder pedagógico relacionado anteriormente com este que Guiraldelli Junior traz sobre o posicionamento do fazer pedagógico criticado por Paulo Freire:
- O professor ensina, os alunos são ensinados.
- O professor sabe tudo, os estudantes nada sabem.
- O professor pensa, e pensa pelos estudantes.
- O professor fala e os estudantes escutam.
- O professor estabelece a disciplina e os alunos são disciplinados.
- O professor escolhe, impõe sua opção, os alunos se submetem.
- O professor trabalha e os alunos têm a ilusão de trabalhar graças à ação do professor.
- O professor escolhe o conteúdo do programa e os alunos – que não são consultados – se adaptam.
- O professor confunde a autoridade do conhecimento com sua própria autoridade profissional, que ele opõe à liberdade dos alunos.
- O professor é sujeito do processo de formação, os alunos são simples objetos (1994, p. 123).
Conscientes de que o ato educacional também é político e transformador, Giroux, na introdução da obra Alfabetização: leitura do mundo leitura da palavra, de Freire & Macedo (1990, p. 22), afirma-nos que os educadores críticos estão sempre se renovando, estão sempre aprendendo. “[...] Não se trata meramente de aprender a respeito do que os alunos devem saber; trata-se, muito mais, de aprender a como renovar uma forma de autoconhecimento mediante uma compreensão da comunidade e da cultura que constitui ativamente as vidas de seus alunos.”
No prefácio desta mesma obra, Berthoff esclarece-nos que, segundo Freire, a pedagogia crítica “significa sempre interpretar a própria interpretação, repensar os contextos, desenvolver múltiplas definições e tolerar ambigüidades, de modo que se possa aprender a partir da tentativa de resolvê-las.” (FREIRE & MACEDO, 1990, p. XXII)
A fim de se entender mais a Pedagogia Libertadora, vamos compará-la, em cinco passos, com outras duas que a precederam. Para tanto, Guiraldelli Junior (1994, p. 124) apresenta-nos em sua obra essa tabela e explica-nos:
Pedagogia Tradicional (Herbart) |
Pedagogia Nova (Dewey) |
Pedagogia Libertadora (Freire) |
Preparação |
Atividade |
Pesquisa |
Apresentação |
Problema |
Temas geradores |
Associação |
Dados do problema |
Problematização (diálogo) |
Generalização |
Hipótese |
Conscientização |
Aplicação |
Experimentação |
Ação social |
O momento da pesquisa seria aquele para o “[...] educador viver em conjunto com os educandos, tomando contato com sua vida comunitária. [...]; o que existe é o ‘educador-educando’, que convive e aprende a vida e os problemas da comunidade do ‘educando-educador’” (Idem). Da pesquisa obtém-se os temas geradores, num segundo momento, através da formação dos ‘círculos de cultura’ o grupo promoveria o ‘diálogo amoroso’. Pois o método da Pedagogia Libertadora é ‘dialógico’. Depois no terceiro momento deve-se promover a problematização, levando em conta que “[...] ‘ninguém educa ninguém’, e também ninguém se educa a si mesmo; os homens se educam ‘em comunhão’, ‘mediatizados pelo mundo’” (Idem).
Já no quarto momento, continua Guiraldelli Junior, teríamos a conscientização:
Num primeiro instante, caberia ao educador-educando problematizar a visão do mundo dos educandos-educadores que, simplesmente, poderiam não estar aptos a entender sua realidade criticamente. A conscientização exigiria, portanto, o ‘pensar crítico’, capaz de procurar a ‘causalidade profunda’ dos acontecimentos. O ‘pensar crítico’, capaz de promover num primeiro momento a conscientização, se resumiria num processo de ‘desvelamento da realidade’ (1994, p. 125).
O quinto e último momento seria o da ação social, pois não bastaria obter simplesmente a conscientização e não fazer nada para mudar, portanto “[...] conscientização implicaria a ação social transformadora [...]. O ato de desvelamento da realidade só se efetivaria por completo quando educador-educando e educandos-educadores, juntos, conseguissem se engajar num processo de transformação social” (Idem).
Durante o Regime Militar, no Brasil, é obvio que os militares opunham à Pedagogia Libertadora. Propunham uma pedagogia para o ensino médio voltada à ideia de profissionalização obrigatória para todos; enquanto que o ensino universitário caberia aos filhos da elite. Observa-se, ainda hoje, infelizmente, que esta situação mudou pouco, e que os bancos das universidades continuam a não acomodar a maioria dos estudantes das classes menos favorecidas.
Guiraldelli Junior (1994, p. 200) informa-nos que, apesar da oposição do Regime Militar, o escalanovismo popular no Brasil durante os anos 60, 70, 80 persistiu com duas correntes originárias da Pedagogia Nova; sendo elas: a Pedagogia Libertadora, do nosso Paulo Freire e a Pedagogia de Freinet, professor francês, criador de uma pedagogia crítica ao tradicionalismo pedagógico “e a favor dos métodos ativos, introduzindo técnicas pedagógicas originais [...] como o texto livre e a imprensa escolar. [...] [sua pedagogia] insere no âmbito das teorias educacionais que adotam o trabalho como princípio educativo fundamental”.
Aranha[15], referindo à década de 70, informa-nos sobre a pedagogia histórico-crítica que buscou desfazer a ilusão de que a educação é democrática e de qualidade para todos.
A autora falando-nos dos críticos-reprodutivistas, esclarece-nos:
A tarefa da pedagogia histórico-crítica se insere na tentativa de reverter o quadro de desorganização que torna uma escola excludente, com altos índices de analfabetismo, evasão, repetência e, portanto, de seletividade. Para Saviani, tanto as pedagogias tradicionais como a escola nova e a pedagogia tecnicista são, portanto, não-críticas, no sentido de não perceberem o comprometimento político e ideológico que a escola sempre teve com a classe dominante. Já a partir de 70, começam a ser discutidos os determinantes sociais, isto é, a maneira pela qual a estrutura sócio-econômica condiciona a educação. O trunfo de se tornar um dos países mais ricos contrasta com o fato de ser um triste recordista em concentração de renda, com efeitos sociais perversos: conflitos com os sem-terra, os sem-teto, infância abandonada, morticínio nas prisões, nos campos, nos grandes centros. Persiste na educação uma grande defasagem entre o Brasil e os países desenvolvidos, porque a população não recebeu até agora um ensino fundamental de qualidade.
Guiraldelli Junior (1994, p. 202) referindo-se também aos críticos-reprodutivistas resume. “[...] grosso modo e em que pese suas diferenças, concluíram que à escola formal restava o papel de reprodutora da sociedade de classes, reforçadora do modo de produção capitalista e, por isso mesmo, repressora, autoritária e inculcadora do ideal dominante.”
A fim de provarmos que nossa preocupação com a educação é antiga, recordamo-nos que, ainda na época do Regime Militar, embora jovem estudante da Escola Técnica Federal de Santa Catarina, escrevemos um poema que tratava desse tema e que se encontra na obra Fantasia Viva:
Educação – Bandeira de Luta
Num País como o nosso
Educar é preciso.
Viver logrado e escondido
É desejo imposto, sacrifício
A um povo pacífico e amigo.
É o quadro do Brasil:
“O seu verde, ainda verde, enfeita,
Seu ouro amarelo e branco
Enriquece uns tantos...
O azul, meio fosco, poluído
Contracena com a esperança
De um povo iludível”.
Educar é preciso,
Mas faltam-nos escolas,
Instruções adequadas, reais,
Valorizar nossos mestres.
Somos criaturas humanas, meu Deus!
Não animais!
Não adianta concordar com a discrepância
De ser um País subdesenvolvido,
Aceitar o título e, sorridente, conformar
Com o marasmo calmo e ignorante:
Mulas das classes dominantes?
Educar é preciso,
Todos nós sabemos; a maioria,
Alguns “vivos cegos” também...
De quem é o maior interesse
Em usar e abusar dos nossos defeitos?
Dão-nos a pena e dizem: Amém.
Para sempre continuarmos no erro
E nunca percebermos a maior conquista
Pela qual mais deveríamos lutar:
Educação... A todos ansiar.
O ancião educado anseia o saber...
E os que o impedem?
– Dão ânsia!
(DURVAL FILHO, 2006, p. 50)
Preocupar-se com educação é óbvio que é também se preocupar com o professor e, como percebemos pelos teóricos estudados, não dá para ser um bom educador vivendo alienado; no poema Novo Dom Quixote, aconselhamos:
NOVO DOM QUIXOTE
O professor
Deve ser um Dom Quixote
Dos tempos modernos
Que arremessa a lança do saber
Contra os velhos e os mesmos
Moinhos de hipocrisia
Dos que lucram com o não saber
Da massa que sobrevive inconsciente,
Apesar da aparente consciência
Artificial vendida nos canudos
Pelo curso educacional
Que, verdadeiramente, não informa,
Apenas forma o estereótipo
Do cidadão que é fantoche
E não reage ante a opressão.
O professor
Deve ser esse Dom Quixote
Que luta contra as mazelas.
E, apesar da aparente dificuldade,
Continua a cavalgar com sua lança.
Não fere mortalmente os “tubarões”,
Mas pode espetá-los, irritando-os,
Até vencê-los pela persistência
De um “louco” professor
Que não desistiu simplesmente,
Sempre lutou pelo saber
E com certeza vai mudar esse mundo.
(Ibid., p. 51)
Com o fim do Regime Militar, a partir da abertura política, Demerval Saviani, com a Pedagogia Histórico-crítica, “provocou uma verdadeira reviravolta no pensamento pedagógico nacional. [...] Explicitando as insuficiências das teorias pedagógicas liberais, que chamou de não-críticas, Saviani superou também os críticos-reprodutivistas. [...] (GUIRALDELLI JUNIOR, 1994 , p. 205)
Ijuim (2005, p. 33) parafraseando Saviani explica-nos que o educador dava grande importância ao homem e o seu poder de transformação social. "[Humanização associada] à liberdade e à transformação do meio. [...] transformando-a no sentido de uma ampliação da liberdade, da comunicação e colaboração entre os homens.”
Ijuim (2005, p. 33) apresenta-nos um quadro elaborado pela pesquisadora Maria Tereza de Assunção Freitas[16], onde ela traça um panorama do processo de ensino-aprendizagem em várias perspectivas:
Perspectiva Objetividade |
Perspectiva Subjetividade |
Perspectiva Cognitividade |
Perspectiva Sócio-histórica |
Sujeito ← Objeto |
Sujeito → Objeto |
Sujeito ↔ Objeto |
Sujeito Objeto ↘ ↙ Outro |
Sujeito – mero receptor que adquire conhecimento, moldado pelo exterior |
Redução do Objeto ao próprio sujeito; Sujeito ativo; atividade de conhecimento exclusiva do sujeito |
Conhecimento a partir das ações do Sujeito sobre o Objeto; processo constitutivo do conhecimento através de trocas/ação entre sujeito e objeto. Assimilação e acomodação. |
Sujeito e Objeto são construtores do conhecimento; relação entre sujeitos (social); relação mediada entre sujeito e objeto. Conhecimento pela atividade do indivíduo em interação com elementos do meio. |
Realismo, Empirismo; Lock – tábua rasa; tudo passa pelos sentidos |
Idealismo, Racionalismo Kant; Objetos são pensados; conhecimentos pertencem ao sujeito antes de se relacionar com mundo externo; - Ênfase em processos internos, consciência. |
Racionalismo, Estruturalismo; conhecimento não está no objeto; nem nos processos internos, mas na ação entre sujeito e objeto. Ênfase na ação do sujeito. Sujeito ativo, individual e cognitivo. |
Materialismo dialético; ruptura – conhecimento = relação dialética; Sujeito x meio historicamente construído. Meio – historicamente construído, no meio inclusive o indivíduo; Indivíduo – ser social, mediado pela cultura. Rel. c/ Meio – condição necessária para que indivíduo se construa como sujeito. |
Escola tecnicista tradicional |
Psicologia Humanista (Rogers) Educação – Escola Nova |
Psicologia Piagetiana Educação construtivista |
Educação progressista |
Pedagogia centrada no professor |
Pedagogia centrada no aluno |
Pedagogia centrada no aluno |
Pedagogia centrada na atividade dos indivíduos em interação |
Relações hierárquicas |
Relações de Igualdade |
Relações de Igualdade |
Sujeito inter-ativo, ser social construtor da própria individualidade; interações mediadas pela cultura. |
Transmissão, reprodução do conhecimento |
Conhecimento – atualização de potencialidades |
Aluno construtor do conhecimento |
Conhecimento – construção social |
ENSINAR |
APRENDER |
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO |
ENSINAR E APRENDER |
Piaget, com suas teorias, foi o pai do Construtivismo; e Vygotsky, embora não tenha sido citado por Freitas no quadro, com suas pesquisas, apresenta-nos um ponto de vista que estaria mais relacionado com a perspectiva sócio-histórica.
Reforçando nossa opinião, encontramos no texto de Aranha[17] estas palavras a nos informar que Vygotsky ao pesquisar linguagem e pensamento busca compreender o processo como sendo sócio-histórico, onde ocorre a “[...] ‘internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas’. Portanto, a relação entre o sujeito que conhece e o mundo conhecido não é direta, mas se faz por mediação dos sistemas simbólicos”.
Apresentaremos agora os cinco passos da Pedagogia Histórico-crítica, oportunidade, inclusive, em que sugerimos a comparação com as cinco etapas das pedagogias Tradicional, Nova e Libertadora, anteriormente apresentadas por nós. Guiraldelli Junior (1994, p. 206) diz-nos que para Saviani os cinco passos são: “prática social, problematização, instrumentalização, catarse, prática social”. Além do mais, o educador, com sua Pedagogia Revolucionária, via a “[...] escola como um campo de batalhas políticas e político-pedagógicas” (Idem) e o trabalho dos educadores seria sempre “ um saber/fazer político pedagógico inserido na ‘luta pela socialização da cultura sob hegemonia burguesa versus hegemonia operária’” (Idem).
Aranha[18], referindo-se à atualidade, sobre a educação, acrescenta-nos ainda mais:
A explosão dos negócios mundiais, acompanhada pelo avanço tecnológico da crescente robotização e automação das empresas, nos faz antever profundas modificações no trabalho e, consequentemente, na educação. Na tentativa de incorporar os novos recursos, no entanto, a escola nem sempre tem obtido sucesso porque, muitas vezes, apenas adquire as novas máquinas sem, no entanto, conseguir alterar a tradição das aulas acadêmicas. Diante das transformações vertiginosas da alta tecnologia, que muda em pouco tempo os produtos e a maneira de produzi-los, criando umas profissões e extinguindo outras. Daí a necessidade de uma educação permanente, que permita a continuidade dos estudos, e portanto de acesso às informações, mediante uma autoformação controlada.
Durante o próximo capítulo, falaremos sobre a comunicação em seus vários aspectos. Retomaremos o tema sobre educação e pedagogia nos demais capítulos, quando analisaremos o fazer pedagógico de alguns educadores contemporâneos. Abordaremos principalmente a educomunicação e a prática educomunicativa. Oportunidade em que apresentaremos nossas experiências vivenciadas na área de educação.
10. A comunicação, o indivíduo e o contexto social
O que distingui o ser humano dos demais seres é que nós utilizamos a linguagem associada ao pensamento, assim sendo nos comunicamos efetivamente conosco e com a sociedade através das diversas interações que ocorrem a todo momento. Os nossos antepassados comunicavam-se ainda de uma maneira rudimentar, no entanto, para garantir a sobrevivência, foram paulatinamente aprimorando a linguagem que, a princípio, era formada predominantemente por sons e gestos, tornou-se, com o passar do tempo, simbólica e foi evoluindo até se transformar nos diversos alfabetos.
Com o aperfeiçoamento da linguagem e o surgimento da escrita desenvolveu-se ainda mais a educação, a ciência, a cultura e a filosofia. Toda a experiência adquirida, através dos séculos, não seria repassada somente de forma oral; pois, através dos sinais, ampliaram-se a velocidade e a capacidade de transmissão do conhecimento. A evolução da sociedade e do indivíduo acontece, efetivamente, pelo modo como são registrados os saberes e como cada um faz a leitura crítica e analítica desse conteúdo. Portanto, a escrita ocasionou uma grande evolução na humanidade, aprimorou a comunicação e melhorou a transmissão do conhecimento de gerações a gerações.
A comunicação torna-se fundamental na sociedade de hoje; visto que a informação é, segundo Rodrigues (2002)[19], uma nova forma de poder. Portanto, num mundo globalizado, onde interagimos com um “novo contexto sócio-econômico-cultural, a informação passa a ter um papel central, constituindo-se atualmente no maior poder de inter-relação existente, tendo inclusive, suplantado o poder econômico e tecnológico.”
Schiller apud Moraes (1998, p. 51), apresenta-nos um fragmento do pronunciamento de Bill Clinton, na American University, feito em 1993, onde o ex-presidente americano expõe que "a informação se tornou global [...]. Antigamente, a riqueza era medida em terras, em ouro, em petróleo, em máquinas. Hoje, a principal medida de nossa riqueza é a informação: sua qualidade, sua quantidade, sua velocidade e adaptação às necessidades." Portanto, dominar a capacidade de rapidamente buscar informações, selecioná-las e adequadamente interpretá-las é uma garantia de sucesso profissional e pessoal; visto que fazer a leitura de mundo, interpretando os acontecimentos sociais, aprimora o nosso juízo a fim de entender o que nos envolve e, também, compreender a nós mesmos.
Potencializar nossa capacidade de adquirir e transmitir informações são aspectos fundamentais para se alcançar sucesso profissional e promover uma boa comunicação entre as pessoas. O professor José Manuel Moran, em artigo publicado em sua página, na página da ECA-USP[20], esclarece-nos:
O mundo que vemos é em parte orientado pela cultura, pela educação, pela religião e, em parte, pela nossa experiência pessoal, pelas nossas formas de interagir com o mundo, de comunicar-nos de forma aberta ou fechada, confiante ou desconfiada. Estamos sempre dentro de um contexto maior, que nos envolve como a peixes na água e que nos parece “natural”. É tão natural que não o percebemos ou o damos por pressuposto. E, ao mesmo tempo, o contexto está em nós. Queiramo-lo ou não, a sociedade está o tempo todo interagindo, comunicando-se conosco, orientando-nos, balizando a nossa percepção e a ação.
Segundo Ruas (2004, p. 27) quando nós estamos “dialogando, escutando rádio, vendo televisão, lendo jornal ou revista, recebemos não somente informações, mas uma bagagem formativa que contribui para nossa construção como indivíduos, seres livres e atuantes na sociedade.” Parece óbvio a exposição destes argumentos, mas, como na metáfora dos peixes, apresentada acima, muitos dos falantes não prestam atenção; consequentemente: passam alheios aos acontecimentos sociais, não compreendem e não enxergam as manipulações de alguns políticos, de poderosos de plantão, manipulação, inclusive, praticada pela própria mídia.
Para superar esta cegueira parcial, falha que prejudica o ato comunicacional, é importante que se leve às escolas instrumentos modernos de comunicação e, ao mesmo tempo, aperfeiçoamento profissional para transformar os alunos e seus familiares, os professores e a comunidade escolar em agentes crítico-sociais. Além de se promover uma prática pedagógica mais atrativa, contextualizada e dinâmica, a fim de melhorar o ato de comunicação dos docentes e discentes em razão de que:
Comunicar-se é uma das maiores prerrogativas do homem, porque implica em pensar, ter ideias, emitir juízos de valor. Ao transmitir ou partilhar estas ideias, o homem as codifica através de símbolos, palavra escrita e/ou falada. A outra pessoa que ouve e/ou vê a mensagem a decodifica. Esta troca de informações entre as pessoas é que chamamos de comunicação. [...] Todo processo de comunicação, independente do veículo usado, deve ser entendido como um momento pedagógico que afirma ou nega a perspectiva da construção de uma nova sociedade (NEUMANN, apud RUAS, 2004, p.27).
Moran[21] acrescenta que é através da comunicação que se organiza “o caos pessoal - as incertezas de cada um, as nossas contradições.” O professor cita o que seria o ponto de partida de Freud: “a comunicação cura. Falar com o outro revela o que estava escondido até de nós mesmos.”
A comunicação passa, portanto, por nós, mas não pára aí. “Procuramos também estruturar, organizar o caos grupal, as incertezas nas relações interpessoais, nas múltiplas interações” entre os diversos atores sociais.
Sendo a comunicação tão importante para o ser humano, ela deve ser estudada e praticada em sua plenitude, para que com ela se promovam mudanças tanto no âmbito pessoal como social; tanto no universo local como global.
Cavalcanti, estudiosa das teorias de Vygotsky, mostra-nos que para o psicólogo russo, o caráter histórico social é importante para a formação do indivíduo:
A ideia a se ressaltar aqui é a de que as funções mentais superiores do homem (percepção, memória, pensamento) desenvolvem-se na sua relação com o meio sociocultural, relação essa que é mediada por signos. Assim, o pensamento, o desenvolvimento mental, a capacidade de conhecer o mundo e de nele atuar é uma construção social que depende das relações que o homem estabelece com o meio (2005, p. 189).
Ressaltamos que tal relação, como vimos, é mediada por signos. Estes evoluem a todo instante, assim como a sociedade e os indivíduos. Portanto, as pessoas como Vygotsky teoriza estão sempre em constante construção. Entender como se processa o ato comunicacional é fundamental para o reconhecimento do mundo. Por exemplo, os sujeitos, que nele habitam, o exploram a todo instante estando imersos no mesmo; esta vivência permite uma constante construção e reconstrução do mundo que, dentro do indivíduo, é concebido. Portanto, o mundo é particular, nunca é o mesmo para todos; embora pareça. Assim sendo:
O mundo, na perspectiva aqui trabalhada, só pode ser conhecido como objeto de representação que dele se faz. E esse mundo só pode ser um mundo para si, para o sujeito que o internaliza, depois que ele foi um mundo para os outros, ou seja, o conhecer é um processo social e histórico, não um fenômeno individual e natural (CAVALCANTI, 2005, p. 190).
O conhecimento do mundo só é possível através da linguagem porque “se é pelas atividades de linguagem que o homem se constitui sujeito, só por intermédio delas é que tem condições de refletir sobre si mesmo” (BRASIL, 2006, p. 23)
[...] por ser uma atividade de natureza ao mesmo tempo social e cognitiva, pode-se dizer que toda e qualquer situação de interação é co-construída entre os sujeitos. Pode-se ainda complementar dizendo que, como somos sujeitos cujas experiências se constroem num espaço social e num tempo histórico, as nossas atividades de uso da língua e da linguagem, que assumem propósitos distintos e, consequentemente, diferentes configurações, são sempre marcadas pelo contexto social e histórico. Mas o fato de que tais atividades recebam seu significado e seus sentidos singulares em relação aos contextos mais imediatos em que ocorrem e ao contexto social e histórico mais amplo não elimina a nossa condição para agir e transformar essa história, para ressignificá-la, enfim (Idem, p. 24).
11. Globalização e regional, um anula o outro ou se complementam?
O que se percebe atualmente é que existem na sociedade muitas correntes de pensamento, cada qual defendendo o seu ponto de vista. Parece-nos que o mundo separa sempre em lados opostos as classes sociais, os países ricos e pobres, os bons e os maus, homens e mulheres, torcedores de diversos times de futebol, partidos políticos e religiões. Assim também aconteceu com os que defendem a globalização e os que intercedem pelo regional; estando, quase sempre, cada um lutando por seus interesses.
Primeiramente observemos essa delimitação, compreendendo cada aspecto. Se por um lado o mundo é particular, o que vemos com a globalização é a tentativa de homogeneizar os gostos, modas e costumes, não como uma tentativa de trazer um bem-estar para todos, mas como maneira de incentivar o consumo e, consequentemente, aumentar o lucro de uma minoria privilegiada que usa e abusa do poder da mídia global.
É importante esclarecer as pessoas para que elas não se tornem refém da lógica perversa do capital que se utiliza da globalização e, consequentemente, da comunicação e das mídias para dominar cada vez mais e, assim procedendo, facilitar a venda de seus produtos. Moraes (2004, p. 186) mostra-nos que “a retórica da globalização intenta incutir a convicção de que a fonte primeira de expressão cultural se mede pelo nível de consumo dos indivíduos."
Logo, é essencial que se conheça profundamente o que está por trás das práticas monopolistas de grupos empresariais e até de países para não sermos engolidos pela globalização. Entretanto, ter conhecimento das práticas manipulatórias não nos impele a ser partidários e simplesmente escolher um lado; devemos, pelo contrário, procurar esclarecer a maioria para que perceba a armadilha e fuja do aspecto negativo que o mundo globalizado impõe; porém, sabendo aproveitar o seu lado positivo. Por exemplo, aproveitar-se das tecnologias que nos são oferecidas; como a Internet que representa uma verdadeira revolução na forma de comunicação entre as pessoas. Braga (2004, p. 144) sugere que estamos vivendo uma transformação: “assim como a era Gutenberg alcançou seu maior impacto no contexto da revolução industrial, a era da comunicação online está vinculada a uma nova revolução, que é centrada no controle da informação, do conhecimento e das redes de comunicação.” Além disso, Lévy (2004, p. 376-377) referindo-se a Internet, argumenta: “é o primeiro sistema de comunicação multimídia interativo intrinsecamente transfronteira. Tem vocação para transcender todas as barreiras nacionais, lingüísticas, institucionais, disciplinares e outras.”
Não podemos permitir que a consciência crítica nos faça esquecer o potencial que a mídia representa para a sociedade, quando utilizada de maneira democrática e praticada pela comunidade nos bairros e nas escolas, ou seja, em seu âmbito regional. Quando assim praticada, a mídia torna-se uma promotora da cidadania. Não é à-toa que igrejas e universidades, partidos políticos e ONGs querem cada vez mais espaços na mídia, desejando, na maioria dos casos, inclusive, abrir novas rádios e canais de TV. No entanto, o monopólio do setor faz de tudo para impedir tal expansão. Os grandes empresários contam atualmente com apoio da legislação que no Brasil restringe a abertura de novas emissoras de rádio e canais de TV, mesmo àquelas consideradas comunitárias.
Para esclarecer a pergunta inicial, aprofundemos um pouco os conceitos de globalização e regional. Compreendamos os dois lados da questão: global e local. O Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação Básica, apresenta-nos em suas Orientações curriculares para o Ensino Médio as definições de global, como sendo o: “[...] universal, exterior, de um grupo de países desenvolvidos, que, por sua força, político-econômica, se apresentam como modelos sociais”. Do outro lado, reafirmamos o conceito de local, retirado do mesmo documento: “[...] regional, interior, de uma comunidade ou de grupos com características próprias”. (BRASIL, 2006, p. 96)
Procuremos agora entender com mais profundidade o que é a globalização ou mundialização: “[...] é o crescimento da interdependência de todos os povos e países da superfície da terra. Na era da globalização houve um grande desenvolvimento nos transportes, na comunicação e, principalmente, nas trocas comerciais entre países (SENAI, 2002, p. 4).
A globalização busca padronizar, unificar, no entanto, sua lógica atual é perversa; visto que tal unificação, segundo Martín-Barbero, promove um desequilíbrio onde o global “não é uma vontade de liberdade, mas sim de domínio, não é o desejo de cooperação, mas o de competitividade" (2004, p. 58).
Visto por este ângulo, a globalização apenas favorece os mais poderosos, incentiva o consumismo e alarga ainda mais a distância que separa ricos e pobres. Por conta disso, os contrários à globalização criticam o modelo atual que favorece amplamente a classe dominante, permitindo aumentar ainda mais seus lucros. No entanto, “os nacionalistas defendem que o processo de globalização não é um processo irreversível, pois o homem é o sujeito da história e caberá a ele conduzir esse mesmo processo em favor de uma grande maioria – e não apenas de alguns” (SENAI, 2002, p. 4).
Esta noção de que o homem é o sujeito da história permite-nos a dedução de que mais benéfica e eficiente que pegar em armas e promover a revolução através de lutas sangrentas como ocorriam antigamente e, infelizmente, ainda ocorrem hoje em alguns locais. O mais inteligente seria promover essa revolução através da utilização eficaz da comunicação em suas diversas modalidades, inclusive através da mídia; porém, uma mídia produzida de maneira eficiente pelos diversos agentes sociais, a partir do regional; diferentemente do que acontece atualmente:
A situação atual, no século XXI, é bem complexa: se por um lado o avanço das tecnologias e a multiplicação dos meios de informação amplia as possibilidades daqueles que já se encontram mais profissionalizados, por outro lado, a rapidez com que tais mudanças acontecem faz com que se tornem cada vez mais comuns os altos e baixos (SENAI, 2002, p. 9).
Para minimizar tal discrepância, que em nada favorece aos consumidores de uma economia globalizada, devemos nos conscientizar que: “quanto mais global for o problema, mais locais devem ser as soluções!” (Ibid, p. 9)
Através do regional, utilizando-se das tecnologias e das mídias alternativas, deve-se alertar a sociedade que com a “mundialização, os problemas sociais são também redimensionados, pois se por um lado ela aproxima grupos distanciados entre si geograficamente, por outro acentua as distâncias sociais” (Ibid., p. 9).
Se mais locais devem ser as soluções para enfrentarmos os problemas, propomos, então, uma maior participação das pessoas nos movimentos democráticos; uma elevada consciência crítica e um desejo constante em sermos protagonistas, sujeitos ativos, verdadeiros cidadãos com noção de seus direitos e deveres. Com esta disposição, exigir que todos, realmente, tenham vozes, sejam ouvidos e proponham soluções para enfrentar os problemas sociais.
Entendemos que só a partir do local, podemos e devemos iniciar o diálogo para, juntos, construirmos uma sociedade mais justa; sem, no entanto, nos afastarmos do global, visto que as novas tecnologias e os meios de comunicação são peças importantes que podem ser utilizadas em benefício da maioria.
Concluímos que o papel de simples espectador (principalmente aquele que é reservado à classe social mais baixa, sem acesso a TV a cabo, TV por assinatura ou via satélite e sem computador) deve ser substituído pelo papel de agentes ativos no processo de comunicação:
Dado esse conceito, podemos concluir que comunicação é um processo social ativo e não passivo. Ativo, pois é um processo que cria laços, envolve, amarra, influencia, dirige, manipula, oprime, reprime, liberta. Todo processo de comunicação, independente do veículo usado, deve ser entendido como uma transmissão de ideias, quer seja por meio de processos convencionais, quer pela linguagem falada ou escrita, de aparelhamento técnico sonoro/visual, que afirma ou nega a perspectiva da construção de uma nova sociedade (RUAS, 2004, p.28).
Cabe assumir o protagonismo nesse processo de comunicação, tanto para exigir uma programação que realmente lhe interesse quanto para dominar a técnica de produção nas diversas áreas da mídia, fortalecendo a competência comunicativa das comunidades, para que todos se tornem comunicadores e percebam que:
Comunicação significará colocação em comum da experiência criativa, reconhecimento das diferenças e abertura para o outro. O comunicador deixa, portanto, de figurar como intermediário [...] para assumir o papel de mediador: aquele que torna explícita a relação entre diferença cultural e desigualdade social, entre diferença e ocasião de domínio e a partir daí trabalha para fazer possível uma comunicação que diminua o espaço das exclusões ao aumentar mais o número de emissores e criadores do que o dos meros consumidores (MARTÍN-BARBERO, 2004, p. 69).
Para que isso realmente aconteça é necessário que as escolas e associações de bairro, entre outras instâncias comunitárias, estejam preparadas para orientar e gerenciar os seus estudantes e a comunidade a fim de que todos adquiram a consciência crítica fomentadora no povo de um comportamento favorável para que se promovam, enfim, as mudanças necessárias. Entre elas: imunidade a um mal contemporâneo, o consumismo.
12. O que está por trás do consumismo?
Hoje em dia, procura-se vender de tudo, felicidade, coragem, saúde física e mental, amor, mulheres e anticoncepcional. Tem-se que industrializar e vender em larga escala, agregar preço, diminuir custos, investir em marcas através dos anúncios em jornal, rádio e TV.
A partir dos reclames, em todos os espaços, vão-se construindo um mundo que internalizado nos faz achar normal e necessárias muitas bobagens que nos são oferecidas. Então, queremos consumir; consumimos, e a cada dia, com mais dificuldade, transferimos o nosso sofrido salário para os agentes comunicadores de excelência e empresários que se utilizam da comunicação em massa para quase fazer uma lavagem cerebral na maioria das pessoas que se sentem refém do consumismo e pagam alto preço, sem ao menos refletirem.
A mercantilização respalda-se no poder das máquinas persuasivas de ordenar a existência sob a predominância de um valor idêntico: a excitação artificial ao consumismo. A operação ideológica consiste em enquadrar o consumo como valor universal, capaz de converter necessidades, desejos e fantasias em bens integrados à ordem da produção (MORAES, 1998, p. 20).
Tal persuasão promovida pela mídia de massa cria na sociedade expectativas e incentiva necessidades que são impossíveis de realização para uma grande maioria; com isso, cria-se um clima onde as pessoas nunca estão plenamente satisfeitas, necessitando dos bens de consumo para preencher um vazio que nem elas mesmas reconhecem. Apropriadamente o professor (Ibid., p. 10) mostra-nos que essa “[…] exacerbação consumista interfere na cotidianidade e nas relações humanas, formulando marcas distintivas entre pessoas e grupos, na mesma proporção em que conclama ao individualismo e ao descompromisso ideológico."
Tentando poeticamente demonstrar esta situação, apresentamos trechos do poema Sob Pressão, publicados em nossa obra Fantasia Viva:
[...]
O existir não tem valor;
Dizem que é uma merda.
Então para se sentir melhor
Compra-se lá na Mesbla,
Riachuelo, Pernambucanas.
Cito essas para não dizer as dezenas
De lojas da moda.
Moda que muda e que molda
Os gostos dos ingênuos compradores
De prazeres que não existem de fato.
São artificiais, artífices para lhe iludir.
A vida é feita de escolhas.
E para se viver melhor
Basta dar os devidos valores positivos
Ao que realmente importa.
Não se compra o amor,
A felicidade de um filho,
A alegria numa garrafa,
A ilusão de que o problema acabou.
Faça as escolhas certas
Sabendo que se o mundo não vai bem
É porque esse modelo consumista
Esgotou-se...
Dê descarga e mande para o esgoto
Todo esse infeliz comportamento
Do século passado.
Não é para deixar de ter prazeres
E de lutar por uma vida melhor;
Compra-se o que necessita
Sabendo que se compra matéria
Utensílios, comida, diversão,
Mas não se compra o contentamento
Pelo simples fato de a felicidade
Ser algo lapidado na alma,
Ser resultado de pequenos gestos
E conquistas que somados
Representam muito no balanço final
De nossas vidas.
[...]
(DURVAL FILHO, 2006. p. 72-73)
No poema Consumismo, da mesma obra, aparece o eu lírico vivendo uma alienação, que o faz pensar poder comprar de tudo, até:
Compra meio quilo de amizade.
– Ah! Não esqueça de pechinchar,
Se eu pudesse mesmo
Mandava comprar o amor.
Compra também um sorriso pro meu filho,
Ele está com saudades de mim.
– Olha! Compra um sorriso bem bonito,
Daquele que eu já não sei fazer.
Veja nos classificados
Liquidação de mulheres,
Preciso arranjar uma de brilho leve...
– Viu! Procura nos folhetos impressos
Uma que aceite ficar...
E, por fim,
Traga o nosso jantar.
(Ibid., p. 49)
Acreditamos que através da educação é possível promover a tomada de consciência necessária a fim de que as pessoas não sofram tanto a influência negativa da mídia. Ramonet esclarece-nos que atualmente o critério de circulação da informação de massa é bem diferente daquele do passado, quando “podíamos dizer que uma empresa jornalística vendia informações aos cidadãos. Era a sua forma normal, enquanto hoje uma empresa midiática vende consumidores a seus anunciantes" (2004, p. 248).
Para modificar essa lógica perversa que favorece o consumismo, somente obtendo a informação isenta de subterfúgios, não esta que nos é oferecida pela mídia como sendo uma mercadoria, apresentada, portanto, numa perspectiva comercial (RAMONET, 2004).
Portanto, o caminho passa pela educação de qualidade e pelo desenvolvimento local. Isso porque quanto mais globalizado torna-se o mundo, mais fortalecido terá que ser o regional para que o primeiro não engula o segundo.
13. Uma nova comunicação impulsionadora do desenvolvimento local e pessoal
Muitas portas se abrem a um indivíduo quando ele resolve potencializar sua maneira de se expressar. Portanto, não basta o contato, apenas, superficial com a comunicação; isso porque, assim procedendo, não se alcança uma aprendizagem significativa. A aprendizagem deve-se fazer efetivamente (além do simples ato de dar e receber informação) com um aprendizado que, “por sua vez, não se limita a ter acesso a informações; consiste na aquisição e construção de diferentes tipos de conhecimentos, competências e habilidades” (ALBAGLI & MACIEL, 2004)[22] e que também desenvolva no aprendiz a criatividade e o senso crítico-social. Assim sendo, esse sujeito estará apto a resolver com mais facilidade os seus problemas e os da comunidade.
Segundo Ruas (2004, p. 56):
A comunicação, por meio dos veículos de comunicação, deve entender que colocar esforços para investigar ou alterar a realidade social brasileira não é mais uma questão de opção, mas um imperativo para a sobrevivência do país. Para que ao Brasil seja possível competir economicamente com os países avançados, os indivíduos devem aprender a aprender: condição indispensável para acompanhar as mudanças e avanços cada vez mais rápidos.
Por tudo o que foi exposto, verifica-se quão importante é a comunicação para o desenvolvimento regional ou o de uma pessoa. O seu poder é por muitos reconhecido; falta, porém, que se mudem as atitudes, e de simples espectadores, tornemo-nos produtores de uma comunicação mais ampla, além daquela normalmente utilizada nas conversas familiares e profissionais.
Sobreviver neste planeta requer cada vez mais o domínio das técnicas comunicacionais, uma tomada de consciência por parte das pessoas que as levem a buscar, cada vez mais, qualificação profissional e uma educação eficiente.
A capacidade de gerar, de adaptar/recontextualizar e de aplicar conhecimentos, de acordo com as necessidades e especificidades de cada organização, país e localidade, é, portanto, central. Desse modo, tão importante quanto a capacidade de produzir novo conhecimento é a capacidade de processar e recriar conhecimento, por meio de processos de aprendizado; e, mais ainda, a capacidade de converter esse conhecimento em ação, ou, mais especificamente, em inovação. Isso é particularmente relevante no caso de países em desenvolvimento (ALBAGLI & MACIEL, 2004).
Esta postura inevitavelmente leva ao desenvolvimento pessoal que, por sua vez, aliada ao engajamento das pessoas, propicia também o desenvolvimento local, que como Fragoso esclarece: “seus objectivos mais óbvios seriam promover a melhoria da qualidade de vida das pessoas, bem como aumentar os seus níveis de auto-confiança e organização” (2005, p. 64).
Defendemos a postura de se promover uma união das pessoas para que, a partir do local, busquem soluções para seus problemas. A aprendizagem é peça chave para que se chegue ao progresso pessoal e regional; portanto, deve ocorrer a aquisição do saber através de uma educação que parta do local para o mundo. “Sabemos, assim, que as pessoas aprendem com mais facilidade se partirem de seu próprio universo cultural, se forem levadas a observar e analisar o seu próprio contexto: as características naturais, físicas, arquitectónicas, as suas manifestações culturais, etc” (Idem, p. 68). Posicionamento, inclusive, que é defendido por Paulo Freire, autor estudado no capítulo anterior.
Conhecendo os principais perigos e benefícios que a era da comunicação e do conhecimento representa devemos assumir a postura de, neste mundo globalizado, sermos sujeitos ativos que se apropria do conhecimento e, de forma coletiva e organizada, constrói o progresso pessoal, através do regional, chegando enfim nas instâncias maiores, fechando o ciclo de aprendizado.
Para Ruas:
A comunicação é o meio pelo qual os indivíduos exercem influência uns sobre os outros, é o transportador do processo social, que torna possível e compreensível a interação individual. É a base em que nos apoiamos para considerar o homem um ser social, capaz de cooperar com os outros e empenhar-se em uma atividade socialmente útil (2004, p. 28-29).
Uma maior aproximação da comunicação com a educação deve ser consolidada para que os indivíduos busquem o progresso e, através dele, transformem a realidade em que vivem. A professora Ruas (2004, p. 56), referindo-se à mídia, cita Pascoal, quando este afirma: “O papel da mídia é informar, ajudando a sociedade a saber, conhecer, pensar e agir. A educação, portanto, é, diretamente, uma característica da mídia. Um povo somente pode ser grande se sua educação for boa e, a mídia, livre, plural e responsável”.
Como vimos anteriormente, grupos poderosos estão controlando a mídia de massa, adquirindo o monopólio nas áreas de tecnologia e da comunicação, entre outras. Para tanto, eles se fortalecem no contexto da sociedade da informação formando o que se poderia chamar de “sociedade em rede”, conceito de Manuel Castells que Klaus Frey[23] (2003) expõe em seu artigo:
Um ponto de partida importante para a nossa reflexão é a concepção da sociedade em rede de Manuel Castells, segundo a qual a sociedade moderna é caracterizada pela predominância da forma organizacional da rede em todos os campos da vida social (CASTELLS, 1999; 2000; 2001). Conforme a interpretação de Castells, os grupos sociais mais poderosos adaptam-se de maneira cada vez melhor às novas condições da sociedade da informação, utilizando as novas potencialidades abertas pela globalização e pelo acesso às novas tecnologias da informação e comunicação (TICs) em prol da consolidação de suas identidades grupais e do fortalecimento de sua capacidade de agir em um mundo cada vez mais interdependente. Essa situação, no entanto, contrasta fortemente com os processos de fragmentação e segmentação que se observa entre os setores sociais mais fragilizados da sociedade, particularmente no nível comunitário dos países em desenvolvimento. No contexto brasileiro, em que os novos processos e dinâmicas da sociedade em rede – mais nítidos e vigorosos nos países econômica e tecnologicamente mais desenvolvidos – convivem com padrões tradicionais da vida social e econômica e em que prevalecem fortes tendências de exclusão social e digital, o surgimento da sociedade em rede parece reforçar ainda mais a exclusão social, política e econômica, afrouxando os laços sociais no nível comunitário e colocando em risco a própria democracia.
A fim de se fazer frente ao que nos foi exposto por Frey, somente fortalecendo as relações dos menos favorecidos com a criação, pelos agentes comunitários e educativos, de redes sociais que venham fortalecer a cidadania e ampliar o nível de aquisição de conhecimento e aprendizado da maioria da população, para, assim procedendo, alcançar um maior equilíbrio com a classe social dominante.
Para criar-se tais redes sociais se faz necessário conscientizar o indivíduo que, embora a sociedade contemporânea busque a fragmentação (talvez como artifício para enfraquecê-lo), as ações participativas dos membros de uma comunidade ou de grupos de alunos (dentro do ambiente escolar) favorece, e muito, a inclusão social e o desenvolvimento, tão necessários nos dias de hoje.
Portanto, as pessoas devem ter a consciência que elas “vivem em redes de dependência, difíceis de serem rompidas.” Assim como cada pessoa é diferente, cada sociedade também, entretanto: [...] O modo como o indivíduo se comporta é determinado por suas relações passadas ou atuais com as outras pessoas. E a interdependência das funções humanas sujeita e molda, de forma profunda, o indivíduo” (MARTELETO & SILVA, 2004)[24].
Para os autores:
A construção de redes sociais e a consequente aquisição de capital social estão condicionadas por fatores culturais, políticos e sociais. Entender sua constituição pode levar à sua utilização, como mais um recurso, em favor do desenvolvimento e da inclusão social, especialmente das comunidades. Para isso, deve-se ter em conta que as redes se constituem em canais pelos quais passam informação e conhecimento. [e o modo como um indivíduo age][...] inserido em uma rede social está sujeita à distribuição de poder, à estrutura de interdependência e de tensões no interior do grupo. É a ocupação de determinadas posições na rede da comunidade, de especial acesso a informações, que determina o sucesso das ações dos indivíduos e seus grupos. (Ibid.)
Entendendo a comunicação em seus mais diversos aspectos e de uma maneira profunda, com maior engajamento político e social, a fim de se obter uma “[...] compreensão dos fluxos de informação, de conhecimento e de poder que percorrem as redes, e o papel dos diferentes atores envolvidos pode permitir a
elaboração de políticas públicas de inclusão e geração de bem-estar,” (Ibid., 2004), além de que, segundo Ruas(2002, p. 159), a:
[...] somatória do aprimoramento constante das técnicas de comunicação com o avanço tecnológico vem ampliando e consolidando as possibilidades de desenvolvimento, que também podem ser entendidas como conforto, lazer, estreitamento do mundo, aproximação dos povos, intercâmbio de culturas, enfim, melhoria do ser humano e da sua qualidade de vida.
Finalizando este tópico reforçamos que a educação, de acordo com o exposto no primeiro capítulo e reforçado neste, é o caminho e o meio pelo qual se processam as transformações da sociedade; porém a comunicação não deve ficar fora deste processo. Para tanto, propomos que se junte a educação e a comunicação para que ambas promovam uma verdadeira revolução pacífica e intelectual a favor do indivíduo e da sociedade.
14. O ensino e a aprendizagem nos dias atuais
Antes de entrarmos no tema da educomunicação, propriamente dito, analisaremos a educação atual. Como alunos e professores se sentem em relação ao processo ensino-aprendizagem? Quais os resultados alcançados pela maioria dos alunos brasileiros? Tem-se alcançado sucesso com o método de ensino mais utilizado atualmente?
Estas perguntas os educadores e pais não param de fazer, no entanto as respostas não são fáceis. A sociedade pós-moderna é complexa, querer resolver os problemas com fórmulas simples é perda de tempo. Portanto, antes de tentar responder algumas delas, procuremos entender como a educação chegou a este modelo atual, disciplinar que segundo Moran[25] “está condenado ao fracasso a longo prazo. Dividir o conhecimento em fatias, sem interligação, favorece a organização administrativa, não a aprendizagem, que é vista cada vez como mais interdisciplinar.”
De onde veio a ideia, ou melhor, a necessidade histórica para se educar dividindo o conhecimento em várias disciplinas e educando não mais por intermédio do mestre e sim através do especialista.
Os mestres da Antiguidade ensinavam a seus discípulos (alunos) de tudo um pouco; tinham, portanto, um conhecimento abrangente, eram altamente qualificados. Seus alunos seguiam seus passos com interesse, eram adolescentes ou adultos. Com a evolução da sociedade, mais pessoas se interessaram pelo estudo, porém eram poucos os mestres. Com a industrialização da sociedade, necessitou-se instruir ainda mais as pessoas, apesar da enorme carência de mestres como aqueles da antiguidade. Resolveu-se então industrializar a educação, criaram o que se poderia chamar de linha de montagem fordiana no processo educacional. Era mais fácil encontrar um especialista, em um determinado assunto, do que o mestre que conhecia vários. Dividiu-se, então, o ensino em séries e aplicava-o de acordo com a faixa etária do educando, método amplamente praticado, ainda hoje. Este modelo surgiu numa época em que o saber era escasso, existiam poucas fontes de estudo, como livros e universidades, existia a necessidade de democratizar a educação. Séculos depois da criação deste modelo, infelizmente, ele ainda é repetido nas escolas. Modelo este que na opinião de Caine e Caine, apud Demo (2000), é:
[...] inapropriado, pois não corresponde ao novo milênio. Acabou a era do que era predizível e estável. Agora tudo é visto como fluido e dinâmico.” [...] parece cada dia mais claro que a velha geração não dá conta das expectativas das novas gerações. Um ponto importante é a instrumentação eletrônica, desde que tais meios permitam que os estudantes participem da ‘arena intelectual/pensante’ (p. 35).
Incontri critica a postura pedagógica que levam os alunos permanecerem "4, 5 ou 6 horas seguidas na mesma posição, na mesma sala, ouvindo uma pessoa falar [afirma a professora] é de entediar qualquer um. A inteligência do educando fica condicionada a receber passivamente e a devolver somente o recebido. Não é solicitada a pesquisar, indagar por si mesma” (2001, p. 43). Deve-se, portanto, substituir os métodos “[...] em que o aluno apenas ouve, apenas copia, apenas repete. Em seu lugar é preciso utilizar métodos ativos, que levam o aluno a questionar, a procurar respostas para problemas, a ser estimulado a oferecer soluções para situações concretas, vividas no dia-a-dia” (PILETTI, 1996, p. 158).
Hoje em dia, este mestre que conhece quase de tudo não existe mais, nem poderia; afinal, o mundo evoluiu tanto que é impossível uma pessoa estar a par de tudo. Portanto, é claro que não propomos a volta da pedagogia que centraliza tudo na figura do mestre sabe tudo, também não achamos que esse modelo atual, que fraciona o saber, seja benéfico para a educação. Propomos, então, uma maior integração dos especialistas, professores e disciplinas para que, enfim, a educação seja interdisciplinar.
Para que ocorram essas mudanças é necessário que as escolas promovam uma “revolução mais profunda. Deve passar a educar e não mais apenas a instruir. [...] A escola deve aplicar a Educação integral” (INCONTRI, 2003, p. 188). Os educadores devem ter uma firmeza moral e uma visão global e séria do ato de lecionar; quanto à metodologia, o pedagógico deve sofrer transformação para que se dê um passo além, não ficar se preocupando somente com a aquisição de conteúdos e sim privilegiar o desenvolvimento das potencialidades dos educandos; os próprios conteúdos têm que ser flexíveis e propostos por professores e alunos; proporcionando, assim um ensino mais ágil, com trabalhos, pesquisas, aulas práticas que promovam a interdisciplinaridade e aulas criativas, longe de ser um ensino passivo; por fim, promover uma avaliação também diferenciada para abolir de vez as tão temidas provas, as notas que na verdade não aferem corretamente o saber individual, causando distorções sérias, tanto no reprovar como no aprovar indevidamente os aprendizes que são submetidos a uma seriação rígida que nivela todos, não observando a diversidade cultural e intelectual dos aprendizes.
Greco, citado por Ijuim (2005), mostra-nos que se deve:
[...] ultrapassar a visão mecânica do universo para entendê-lo como sistema aberto (Greco, 94:68-69), em que o todo não se reduz à soma das partes, mas leva-se em conta todas as relações: todo + partes + relações entre as partes + relações do todo com as partes + relações das partes com o todo. A ligação de tudo com tudo conduz à visão ecológica decorrente da cadeia mente-corpo-outro-grupo-social-humanidade-ecossistema-planeta... Acatando essa visão integradora, a interdisciplinaridade é a metodologia que supõe a integração do conhecimento e propicia uma nova atitude mental, de outro nível de complexificação cerebral e de alternativa de expressão educacional.” (2005, pág.35)
Esta visão interdisciplinar se aproxima com a prática pedagógica dos antigos mestres que tinham um conhecimento amplo e, por isso, ensinavam de maneira mais eficiente, diferente da maneira praticada por muitas escolas, quando dividem o conhecimento em variados aspectos e buscam ensinar cada vez mais conteúdo, porém, de maneira descontextualizada, fazendo com que o aluno, consequentemente, não entenda o porquê de estar aprendendo aquilo, não se motiva em aprender e efetivamente não aprende.
Morin apud Moran[26] esclarece-nos:
O ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Esta unidade complexa da natureza humana é totalmente desintegrada na educação por meio das disciplinas, tendo-se tornado impossível aprender o que significa ser humano. É preciso que cada um, onde quer que se encontre, tome conhecimento e consciência de sua identidade complexa e de sua identidade comum a todos os outros humanos.
A condição humana deveria ser o objeto essencial de todo o ensino. Conhecer o humano é, antes de mais nada, situá-lo no universo, e não separá-lo dele. Todo conhecimento deve contextualizar seu objeto, para ser pertinente. ‘Quem somos?’ é inseparável de ‘Onde estamos’, ‘De onde viemos’ e, ‘Para onde vamos?’
Concluímos que as disciplinas e os professores podem permanecer especialistas em suas áreas, porém a escola deve promover, através de sua direção colegiada e pedagógica, uma postura que a personalize; fazendo com que o aluno entenda o verdadeiro significado do que é ser humano. Quando a escola apresenta esta personalidade, a instituição escolar passa a assumir o papel do antigo mestre e, consequentemente, o ensino torna-se interdisciplinar, visto que, através de seu Projeto Político Pedagógico (elaborado por todos da comunidade escolar: dirigentes, professores, pais e alunos) o estabelecimento de ensino oferece uma educação mais personalizada, por um lado, e, por outro, o conhecimento é apreendido em sua totalidade, visto que os conteúdos das diferentes disciplinas estão ligados entre si por meio dos projetos oferecidos pela escola como um todo.
A teoria que está por trás desta concepção que privilegia a interdisciplinaridade é o holismo, que prega que o ser humano é um todo indivisível. Existindo “tendência à interação dos elementos do universo e em especial dos seres vivos, e não uma soma dessas partes” (FERREIRA, 2002, p.366).
Soluções para as perguntas feitas no início deste capítulo, certamente, exigiriam mais reflexões que as apresentadas até o momento, bem ao estilo holístico procuraremos nos utilizar da obra toda para chegarmos ao final com algumas conclusões que, certamente, não serão definitivas; pois o constante transformar é característica do ser humano na sua busca de sempre evoluir.
15. Se a evolução não pára por que tanta resistência?
Um dos obstáculos de se promover as reformas necessárias na educação seria a enorme resistência das pessoas às mudanças, sejam elas quais forem.
O homem aprende durante toda a sua vida uma série de conceitos que lhe são passados, geração após geração, como imutáveis. De repente, depara-se com mudanças naquilo que lhe haviam ensinado como eterno. Essas mudanças, ocorridas às vezes depois de séculos de estabilização, provocam insegurança e resistência naqueles que as tinham como verdades absolutas e que se deparam com as novas verdades. A resistência é mais forte quando se questiona de maneira radical a crença no que dá sentido a própria existência e muitos pensadores do século passado foram condenados à morte por tais questionamentos (SENAI, 2002, p. 4).
Óbvio que para a educação mudar é preciso que os educadores iniciem o processo, como Piletti (1996, p. 167) explica-nos: “[...] é necessário que o professor, ele mesmo, esteja não só disposto e aberto a mudanças, mas trabalhe efetivamente para isso, especialmente mediante um constante processo de atualização e de aperfeiçoamento, orientado por uma permanente e autêntica autocrítica.”
A concepção mais usual do ato de educar é aquela que oferece ao aluno o conhecimento, através do livro didático ou da aula por intermédio do professor, de forma que o aprendiz recebe o saber e busca guardar para si, isso quando ele consegue gravar na memória, para depois devolver ao educador, em forma de testes, como prova de ter memorizado o conteúdo lecionado. Infelizmente, se dar bem nestes testes, não é garantia de aprendizado.
Incontri (2001, p. 48), referindo-se à famigerada nota na relação entre professor e aluno, conclui. “Da nota, depende o destino do aluno na escola. [...] A nota, além de ser um número frio e impessoal, que nuca poderá medir o valor real de uma inteligência, usada abusivamente, torna-se centro de toda a vida escolar."
A pedagogia do século XXI não valoriza a prática educacional favorável apenas à memorização. Piletti (1996, p.10) reforça: “a superioridade do processo [...]. Isto é: para que a educação seja eficaz, produza resultados duradouros, é necessário que o aluno aprenda a auto-educar-se e não a receber a educação e o conhecimento como produtos prontos e acabados, que deve absorver e reproduzir da mesma forma.”
A postura dos professores, a fim de que se promovam as reformas no ensino, deve sofrer uma mudança radical:
Eles terão a função de motivar, encorajar e direcionar os alunos para que, com a ajuda dos computadores [e outros recursos tecnológicos], aprendam sozinhos. As escolas serão a força motivadora para mostrar aos alunos (sem limites de idade) que devem aprender por toda a sua vida e que o conhecimento é um processo contínuo. Nos modelos conservadores de aprendizado, existiam os pensadores e aqueles que executavam, porém, hoje esta divisão tornou-se obsoleta, pois os processos de trabalho tornaram-se complexos e todos necessitam pensar. (SENAI, 2002, p. 8).
No entanto, muitos profissionais não querem renovar-se, “[...] as reformas não conseguem mudar a postura do professor, porque este não se concebe vulnerável à mudança. Tudo pode estar errado, e assim pensa, menos ele. É visível a contradição performativa: quer inovar, sem se inovar.” (DEMO, 2000, p. 27)
E os alunos, será que precisam também sofrer transformações? Claro que sim. Moran[27] aconselha-nos:
As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professor-educador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudá-los melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Nosso desafio maior é caminhar para um ensino e educação de qualidade, que integre todas as dimensões do ser humano. Para isso precisamos de pessoas que façam essa integração em si mesmas do sensorial, intelectual, emocional, ético e tecnológico, que transitem de forma fácil entre o pessoal e o social, que expressem nas suas palavras e ações que estão sempre evoluindo, mudando, avançando.
Demo (2000, p. 36) informa-nos o motivo da enorme crise da educação atual: ”os estudantes não pensam e nem raciocinam. Não sabem aprender, porque são levados a vezos reprodutivos”. [Grifo do autor] Caine e Caine apud Demo (Ibid., p. 21) afirmam que os professores “não podem estacionar no negócio da memorização. Uma consequência, acreditamos, será a de, em última instancia, substituir muitos deles pelo computador.” Demo conclui que não se deve insistir na metodologia de ensino tradicional, visto que causará, na visão dos autores, desconforto do professor. Porque para somente transmitir o conhecimento a máquina o fará de forma mais atraente e sedutora. Cabe ao professor, então desempenhar o papel de facilitador, “não no sentido de tornar as coisas fáceis, mas no de sustentar a aprendizagem complexa, crítica e criativa do aluno, tendo este como centro de referência” (Ibid., p. 36).
Gardner (1994, p. 112), pesquisador norte-americano, criador da teoria das Múltiplas Inteligências aconselha aos educadores que trabalhem mais com projetos, visto que eles proporcionam “aos alunos a oportunidade de estudar um tópico em profundidade, fazer perguntas e explorar respostas e determinar a melhor forma de demonstrar o conhecimento recentemente adquirido”. Porém um trabalho neste nível implica necessariamente em orientar os alunos para que eles possam desenvolver as atividades com eficiência. Para tanto, é necessário que se promovam as capacitações dos envolvidos.
Para Gardner é muito importante que se promova e incentive nos alunos a responsabilidade ativa por sua própria aprendizagem, onde "auto-monitoramento é explicitamente encorajado [...], antes, durante e depois das atividades. Não é suficiente aprender as capacidades da inteligência prática; os alunos também precisam supervisionar e monitorar seu uso, passando a não depender tanto do professor" (1994, p. 114).
Oferecer ao educando o protagonismo juvenil no uso das tecnologias e da comunicação, aliada a uma educação mais dialógica propicia ao aluno um papel mais ativo. Porém, necessário que se aprimorem no educando as suas vocações, como explica Piletti (1996): “Que a educação promova realmente o desenvolvimento das potencialidades, para auto-realização e o exercício consciente da cidadania.” (p. 161)
Estes procedimentos são a base da educomunicação, que trataremos a seguir.
16. Um olhar mais atento sobre a educomunicação
Há anos, desde quando iniciamos o nosso trabalho com a educação, já trabalhávamos utilizando uma pedagogia que privilegiava a criatividade e a participação ativa dos alunos, através de teatros, declamações de poemas, produções de vídeo, etc. Foi justamente a produção de um institucional e uma revista eletrônica, gravados pelos jovens de nossa escola, que nos credenciou, junto à Secretaria de Educação de nosso estado, a participar nos anos de 2004 e 2005 de um projeto oferecido pela Universidade de São Paulo, denominado “Educomunicação pelo rádio em escolas do ensino médio da Região Centro-Oeste”, o educonrádio.centro-oeste.
O projeto somente foi possível implementar por meio de um convênio entre os estados do Centro-Oeste, o Ministério da Educação (MEC), por intermédio da SEED – Secretaria de Educação a Distancia, e da SEMT – Secretaria de Educação Média e Tecnológica; juntamente com a FUSP – Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo; e o NCE-ECA/USP – Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, responsável pela execução do projeto que teve a supervisão do Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares.
O próprio Soares referindo-se ao projeto analisa:
Em relação ao projeto no Centro-Oeste, ganha força a necessidade de se pensar a educomunicação como valorização do intenso convívio com a diversidade cultural própria da região. Como veremos adiante, o conceito e as práticas educomunicativas, ao tomarem como primordial o resgate do indivíduo e suas relações sociais e a valorização de sua cultura, podem ser importantes ferramentas para ajudar a construir uma escola em que o conceito de cidadania esteja intimamente relacionado à inclusão de todos os grupos sociais, respeitadas e valorizadas as diferenças (2004, p. 5).
Participaram deste programa um grupo de educadores de 70 escolas que receberam um treinamento semipresencial sobre a teoria educomunicativa. Em 2005, com o final dos estudos, cada escola participante recebeu, com o auxílio da UNESCO, o equipamento analógico para montar uma rádio-escola.
Na definição de Soares (Ibid., p.2), educomunicação seria “um campo de intervenção social que tem como objetivo criar ecossistemas comunicativos regidos pelo princípio da colaboração entre todos os pólos do processo educativo, rico em manifestações culturais, aberto à expressão comunicativa de seus membros [...]”.
Referindo-se ao encanto que a prática pedagógica educomunicativa causa nos professores e alunos e apontando o motivo do sucesso da mesma, Soares explica: “a educomunicação coloca a liberdade e a criatividade de expressão no centro das relações educativas, como um eixo transversal e garante a quebra das hierarquias e dos monopólios das falas. Esse é o segredo!” (Ibid., p. 7). O professor ainda responde a seguinte indagação: por que educomunicação, se o ato de educar é também um ato de comunicação?
A resposta de Soares:
[...] as práticas educativas, desde as identificadas como ‘bancárias’, por Paulo Freire, até os mais sofisticados planos educativos embalados no marketing das tecnologias educativas, têm-se revelado como um discurso de mão única, em que o encanto da descoberta da expressão como possibilidade prazerosa e eficaz tem sido sistematicamente negado (Idem).
A educomunicação procura democratizar a comunicação entre os membros da comunidade escolar, desde o zelador até o diretor, passando pelos pais e alunos; fortalecendo o diálogo, a tomada de consciência crítica e criativa, a fim de aprimorar as inteligências para que se possam solucionar os problemas fortalecendo o ecossistema comunicativo com soluções criativas e ousadas, por intermédio de uma postura didática que visa melhorar a comunicação de todos. Promovendo um melhor convívio e desenvolvendo habilidades de relacionamento para que todos estejam aptos a utilizarem-se dos recursos tecnológicos da comunicação; melhorando, consequentemente, a expressão de cada um para todos terem, enfim, voz na escola e na comunidade a que pertençam.
Acabamos de introduzir o conceito de ecossistema comunicativo; julgamos importante aprofundarmos mais um pouco em relação ao tema. Em artigo publicado no site da USP, descobrimos, através de Soares, que Jesús Martín-Barbero foi quem iniciou o debate sobre ecossistema comunicativo. Relata-nos o professor, na página do Educomrádio[28]:
Afirma Martín-Barbero que para enfrentar o desafio tecnológico devemos estar conscientes de dois tipos de dinâmicas que movem as mudanças na sociedade: a incidência dos meios tradicionais e o impacto das novas tecnologias na vida em sociedade. Contudo, ele garante que ‘num primeiro movimento, o que aparece como estratégico, mais que a intervenção dos meios, é a aparição de um ecossistema comunicativo que se está convertendo em algo tão vital como o ecossistema verde, ambiental’. Para o autor, a primeira manifestação e materialização do ecossistema comunicativo é a relação das novas pessoas com as tecnologias – ‘desde o cartão magnético que substitui ou dá acesso ao dinheiro até as grandes rodovias da Internet – gerando sensibilidades novas, muito mais claramente visíveis entre os jovens’.
Schoeps[29], por sua vez referindo-se ao assunto nos diz: “A comunidade educativa cria seus próprios ecossistemas comunicativos. Em conseqüência, educadoras(es) e instituição podem desenvolver, simultaneamente, diversos ecossistemas comunicativos, exercendo, também, influência uns sobre os outros.” [Grifo da autora]
E não pára por aí, Soares ainda complementa:
[...] a educomunicação preocupa-se essencialmente com a criação e fortalecimento de ecossistemas comunicativos abertos e criativos, privilegiando as ações voltadas para a ampliação das competências dos membros das comunidades no campo da expressão comunicativa. Para tanto, admite que as relações educativas devam ser pensadas no contexto de uma gestão democrática dos recursos da informação e da comunicação, privilegiando-se a fala dos atores sociais comprometidos com a prática da cidadania, entre os quais há que se buscar possíveis parceiros e aliados (2004, p. 15).
Demo chama a atenção para que o professor não permita que façam dele um “mero porta-voz, instrutor instruído. [Produzindo um discurso que não é dele]. Não é sua própria voz. É fundamental entender o quanto isto é comprometedor para a cidadania emancipatória, pois trava a capacidade de intervenção crítica e criativa.” (2000, p. 24).
As irmãs salesianas na Inspetoria Santa Catarina de Sena, dando continuidade ao trabalho pedagógico de Dom Bosco, que valorizava a comunicação na sua prática educativa, promoveram em 2002, lideradas por Irmã Iracema Schoeps, cursos com a finalidade de melhorar o processo educativo através da utilização da educomunicação. Da mesma forma que Soares, as salesianas procuraram utilizar-se da comunicação e da educação. No portal salesianas[30] as educadoras explicam a prática educomunicativa que elas defendem: “explorando os vários tipos de linguagens que possam promover a reflexão e a integração do aluno não como um pseudojornalista ou aprendiz-apresentador, mas como uma maneira de ensiná-lo a analisar as situações, as produções de mensagens”.
As educadoras, durante o treinamento, também se utilizaram dos programas de rádio para potencializar nas cursistas a prática comunicativa e social. Em outra página, ainda no mesmo portal, referindo-se ao educomunicador, elas traçam o seguinte perfil[31]:
1- Tem consciência de que a educação multicultural e de massa situa-se para além da aquisição restrita do saber escolar.
2- Não despreza a cultura midiática que os jovens trazem, mas parte dela...
3- Compreende a riqueza das mídias como portadoras de informação e de representações do mundo a serem analisadas, comparadas e reconstruídas.
4- Compreende que assisti a TV não é uma atitude passiva e o educador pode auxiliar a articular e conferir sentido.
5- Sabe introduzir as mídias de maneira a possibilitar analisá-las do triplo ponto de vista:
- do ponto de vista econômico e ético de quem as produz;
- da maneira como são construídas as mensagens;
- do ponto de vista da audiência que lhes dá sentido.
6- Aceita novas relações no contexto escolar.
7- Aceita a inserção de outras modalidades de apropriação da realidade como as emoções provocadas pelas mídias, através da observação do real e da construção do pensamento rigoroso ou científico.
8- Aceita não ter mais o monopólio da transmissão do saber e da verdade: não é ‘expert’, não dispõe de um corpo de conhecimentos; a informação pertence igualmente a todos, sendo o educando (a) o centro de atenção.
9- Aceita que o que se aprende na escola se prolonga e se articula com o cotidiano
Não podemos nos esquecer o que analisamos no capítulo anterior, quando propomos uma leitura crítica das mídias, referindo-se à manipulação e a influência negativa que a mídia de massa, às vezes, promove em seus consumidores. A educomunicação visa fomentar a crítica dos envolvidos a fim de que reconheçam tais ardilezas, portanto, fujam da má influência e pratiquem uma mídia regionalizada e virtuosa, na medida do possível. Soares[32] relata-nos que a “UNESCO vem patrocinando pesquisas, publicações e eventos sobre o tema, defendendo uma postura construtivista que leve as crianças e os jovens a promoverem uma análise crítica dos meios de comunicação a partir especialmente de seu manuseio [...]”.
O que muitos educadores e pais criticam em relação à mídia é por Incontri analisado, porém ela nos apresenta dois aspectos :
A televisão e a internet invadiram os lares e as crianças despertam sedo para a realidade. São logo arrancadas do seu universo de fantasia, estimuladas pela violência e pelos apelos precoces do sexo. Os meios de comunicação mudaram a infância. E se por um lado, chocaram-na contra a rudeza de um mundo conturbado, deram-lhe maior perspicácia e agudeza de espírito. As informações que uma criança tem hoje, nossos avós demoravam uma vida toda para adquirir. E esse grau de conhecimentos a torna mais curiosa e aberta a outras conquistas (2001, p. 38).
A consciência crítica é fundamental no processo educacional, comportamento este que os novos produtores de mídia, no caso, nossas crianças, jovens e adultos devem adquirir desde o início da prática. Vejamos como a comunicação e a tecnologia podem facilitar o ensino no século XXI.
17. As bases necessárias para se praticar a educomunicação
O protagonismo juvenil movimenta a educomunicação, isso porque é oferecido ao educando uma efetiva participação no processo de ensino-aprendizagem, promovendo a potencialização de seus talentos e o aperfeiçoamento de suas capacidades.
Gardner aconselha as escolas a não se fixarem tanto no ensino e na avaliação que privilegia somente poucos aspectos da inteligência, como comumente a escola tem trabalhado: aferindo somente as habilidades de pensamento, leitura crítica e cálculo. O pesquisador americano, criador da teoria das múltiplas inteligências, mostra uma visão alternativa a essa educação tradicional que predominantemente avalia limitadas competências. Informa-nos ainda que os vestibulares e os testes de QI, por exemplo, medem tais habilidades, porém, selecionam somente levando em considerações poucas habilidades. E as outras tantas? Somente um bom QI é garantia de sucesso profissional? – Certamente que não. Por isso, conheçamos as outras inteligências que precisam ser levadas em conta para, com o aprimoramento de todas, alcançarem o sucesso profissional e pessoal que todos nós almejamos.
Inteligência, de um modo geral, segundo Gardner (1994, p. 21) "implica na capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos que são importantes num determinado ambiente ou comunidade cultural.” Porém, as múltiplas inteligências foram a grande descoberta do pesquisador, que até o momento identificou oito principais, sendo:
a) lingüística-verbal é “para a sobrevivência do homem moderno. Para trabalhar, deslocar-se, divertir-se, relacionar-se com os outros, a linguagem constitui o elemento mais importante e, algumas vezes, o único da comunicação. Mas nem todos usam plenamente esse potencial” (ANTUNES, 1998, p. 44). Ser hábil nesta inteligência é ter um bom entendimento das palavras e saber expressar-se bem;
b) lógico-matemática, “comumente associada com o que chamamos de raciocínio científico. [...] envolve a capacidade de reconhecer padrões, de trabalhar com símbolos abstratos [...] raciocínio indutivo e dedutivo, discernimento de relações e conexões, soluções de cálculos complexos” (SENAI, 2002, p. 4).
c) visual-espacial, “que se apóia no senso de visão e na capacidade de visualização espacial de um objeto, inclui a habilidade de criar imagens mentais.[...] Percepção acurada de diferentes ângulos, [...] representação gráfica, manipulações de imagens, descoberta de caminhos no espaço”(Idem).
d) musical-rítmica é aquela que apresenta grande “sensibilidade para ritmos e batidas, bem como capacidade para o manuseio avançado de instrumentos musicais. [...] Reconhecimento da estrutura musical [...] criação de melodias e ritmos” (Idem)
e) corporal, “relaciona-se com o movimento físico e com a sabedoria do corpo. É a habilidade de usar o corpo para expressar uma emoção (dança e linguagem corporal), jogar um jogo (esport e criar um novo produto (invenções).”(Idem)
f) interpessoal, com ela percebe-se “distinções entre os outros; em especial, contrastes em seus estados de ânimo, temperamentos, motivações e intenções [...] essa inteligência permite que um adulto experiente perceba as intenções e desejos de outras pessoas, mesmo que elas os escondam” (GARDNER, 1994, p. 27).
g) intrapessoal é aquela que permite ao indivíduo ter maior conhecimento do seu interior, por exemplo, "o acesso ao sentimento da própria vida, à gama das próprias emoções, à capacidade de discriminar essas emoções e eventualmente rotulá-las e utilizá-las como uma maneira de entender e orientar o próprio comportamento” (Ibid., p. 28).
h) naturalista é aquela que faz com que as pessoas possuam “em intensidade maior do que a maioria das outras; uma atração pelo mundo natural, extrema sensibilidade para identificar e entender a paisagem nativa e, até mesmo, um certo sentimento de êxtase diante do espetáculo não construído pelo homem” (ANTUNES, 1998, p. 61-62).
Gardner (1994, p.29) referindo-se às duas inteligências envolvidas no relacionamento humano (pessoal e social); chega a seguinte conclusão: "A inteligência interpessoal nos permite compreender os outros e trabalhar com eles; a inteligência intrapessoal nos permite compreender a nós mesmos e trabalhar conosco".
A prática educomunicativa é enriquecedora, no sentido de possibilitar aos aprendizes um amplo leque de atividades que aprimoram suas inteligências; sendo fundamental, no entanto, uma educação que ofereça o diálogo, incentive a pesquisa e um convívio harmonioso.
Sem dúvida, o ensino preocupado com a paz, aberto a novas descobertas, mais criativo, tem que ser dialógico. Ir. Iracema Schoeps[33] aconselha-nos a investir na educomunicaçao, a fim de “[...] descobrir a plenitude da vida, favorecendo o protagonismo juvenil; [e também] para que cada um possa se realizar na plena construção de si, em diálogo com o mundo e com os outros”.
O diálogo é, desde Sócrates, passando por muitos educadores, inclusive o nosso Paulo Freire, o procedimento pedagógico defendido pelos progressistas. Afinal, o discurso de um só é dominador, “[...] entediante e pobre. O diálogo enriquece [...]. Ensinar dialogando requer humildade [...] para se colocar ao lado e não acima do aluno, paciência para ouvi-lo e criatividade para inventar sempre novas e diferentes maneiras de buscar o fio condutor do diálogo" (INCONTRI, 2001, p. 44).
Quando se pratica uma aula dialógica, o docente deve superar a postura instrucionista que muitos professores ainda defendem. Demo tenta dar uma explicação sobre os motivos que levam alguns educadores a não desejam a mudança:
[...] porque é ela que lhes garante poder: poder reprovar, decidir o currículo, exigir desempenho, impor disciplina, posar de autoridade e mandar na escola. Quando se critica a aula meramente expositiva, que continua sendo a didática típica de nossa escola, o professor defende-a com todas as forças; em parte, porque não saberia o que fazer da vida sem aula, mas em parte também porque se sente impotente sem tal instrumento. Por trás disso está a expectativa clássica da autoridade indiscutível: aparece com fórmulas prontas (que copia dos outros), restando ao aluno a tarefa de escutar com atenção, copiar e reproduzir na prova.” (2000, p. 10-11)
Além de a educação incorporar a comunicação e a tecnologia ela deve ser socializadora e mais afetiva, conforme Moran[34] registra em sua página na Internet:
A aprendizagem precisa cada vez mais incorporar o humano, a afetividade, a ética, mas também as tecnologias de pesquisa e comunicação em tempo real. Mesmo compreendendo as dificuldades brasileiras, a escola que hoje não tem acesso à Internet está deixando de oferecer oportunidades importantes na preparação do aluno para o seu futuro e o do país.
Uma escola que prepara os professores para um ensino focado na aprendizagem viva, criativa, experimentadora, presencial-virtual, com professores menos ‘falantes’, mais orientadores, ajudando a aprender fazendo; com menos aulas informativas e mais atividades de pesquisa, experimentação, projetos; com professores que desenvolvem situações instigantes, desafios, solução de problemas, jogos.
Referindo-se aos jovens que ingressam na escola média, onde a “pluralidade e as circunstâncias que tencionam a vida juvenil exigem que incorporemos a diversidade e as múltiplas possibilidades do sentido de ser jovem”, encontramos no texto do MEC (Ministério da Educação) a seguinte orientação:
Os jovens que chegam às escolas de ensino médio são portadores de saberes e praticantes de determinadas experiências construídas em outros espaços e tempos sociais. Na participação de grupos de sociabilidade extra-escolares, os jovens ampliam suas possibilidades de atuar como protagonistas de suas ações e se constituírem sujeitos sociais autônomos. A vivência dos jovens na igreja, nas associações de bairro, em grupos musicais e de danças, rodas de capoeira, times e torcidas de futebol, etc. acaba por tornar-se espaço de construção de identidades coletivas (BRASIL, 2006, p. 222).
Portanto, se vivemos a maior parte do nosso tempo no ambiente social, o trabalho em grupo é uma forma eficiente de se promover a socialização dos jovens; é justamente este o conselho que Piletti nos deixa: fazer com que ocorra na escola “[...] uma harmoniosa convivência social. Para tanto, trabalhos em grupo são eficientes; no entanto, o professor deve conduzir os educandos para que percebam que a competição e o individualismo devem ser substituídos pela cooperação e solidariedade (1996, p. 158).
Incontri (2001, p. 66) chama-nos a atenção para que o “povo se organize para sobreviver, e nessa sobrevivência, haja projetos pedagógicos para crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos, todos integrados numa só proposta de cooperação mútua e progresso coletivo." Proposta, inclusive, que combina com a defendida por Delors que observa: “a modificação profunda dos quadros tradicionais da existência humana, coloca-nos perante o dever de compreender melhor o outro, de compreender melhor o mundo. [...] [Necessidade] de entreajuda pacífica e, por que não, de harmonia são, precisamente, os valores de que o mundo mais carece” (2000, p. 19).
Demo, por sua vez, defende uma aula voltada para a pesquisa, com uma postura corajosa perante a vida fazendo com que a escola se torne um laboratório para capacitar mais o aluno frente aos desafios que certamente eles encontrarão no dia a dia. O pesquisador critica as “aulas meramente reprodutivas” e defende que se pesquise “a partir do que está disponível”. E alfineta, dizendo que a “aula reprodutiva continua defendida pelo professor e pelo aluno que não querem estudar ou aprender” (2000, p. 11).
O autor continua, com seu texto, informando-nos:
É fundamental aprendermos a conviver com os limites, para transformá-los em desafios, e enfrentarmos os desafios, para podermos superar os limites, como apontam epistemologias mais recentes. É preciso aprendermos a viver perigosamente, porque este é o preço da autonomia. A inovação provém de quem sabe valorizar as incertezas, superar-se nos erros, saltar barreiras para recomeçar tudo de novo (Ibid., p. 12).
Promover tais mudanças na prática educativa, é óbvio, não depende da atitude de uma só pessoa, depende da conscientização de um grande número de educadores que, além de dispostos a mudarem, estejam realmente aptos a promoverem as reformas que se façam necessário. Então, a auto-educação que pregamos para nossos alunos, deveriam partir, como exemplo, dos próprios professores que passariam a estudar mais, por meio de leituras e pesquisas; além de exigir cursos de capacitação e aperfeiçoamento a quem de direito: governantes ou patrões.
Mesmo capacitados, com alunos interessados e dispostos, utilizando-se de uma pedagogia revolucionária e criativa, por melhor que seja, é preciso que se promovam mudanças curriculares; sempre com o objetivo de melhorar a qualidade da educação brasileira. Felizmente, acaba de ser publicado pelo MEC um documento que trata, justamente, deste tema: Orientações curriculares para o ensino médio. Do volume 1: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias traremos ao conhecimento dos leitores os excertos que seguem, justamente porque combinam com a abordagem sugerida no nosso trabalho e que foi apresentada até o momento:
[...] organização curricular com os seguintes componentes: [...]
. planejamento e desenvolvimento orgânico do currículo, superando a organização por disciplinas estanques;
. integração e articulação dos conhecimentos em processo permanente de interdisciplinaridade e contextualização; [...]
. participação dos docentes na elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino.
O grande avanço determinado por tais diretrizes consiste na possibilidade objetiva de pensar a escola a partir de sua própria realidade, privilegiando o trabalho coletivo. [...] Além disso, a política curricular deve ser entendida como expressão de uma política cultural, na medida em que seleciona conteúdos e práticas de uma dada cultura para serem trabalhados no interior da instituição escolar.
Trata-se de uma ação de fôlego: envolve crenças, valores e, às vezes, o rompimento com práticas arraigadas. (BRASIL, 2006, p. 7-8).
Uma educação pela liberdade, pela ação e pelo amor tem tudo para dar certo, com o devido apoio da sociedade e do governo, passando pelo empenho do educador e do educando, sempre com o objetivo máximo de transformar a vida neste planeta, fazendo com que todos melhorem a cada dia; num eterno progredir.
A mudança como vimos não é fácil. É mais seguro continuar pelo caminho que conhecemos bem; porém o progresso exige novos passos, como o navegar pelos mares de outrora e o viajar pelo espaço, hoje. Coragem é o conselho que deixamos para prosseguir nesta caminhada. Também a sabedoria e a humildade, porque com ambas sempre progrediremos. Humildade para aprender com o erro e não maldizê-lo. Sabedoria para superarmos as falhas vencendo os obstáculos.
A prática educomunicativa modifica profundamente o ensino; não faltam críticos ferrenhos dentro e fora da educação. Pessoas, inclusive, com bons ideais e profissionais responsáveis que vêem tal proposta como utópica ou, na melhor das hipóteses, muito difícil de implementar. Temos também uma forte resistência social e política visto que “[...] viria a formar consciências críticas, não manipuláveis, ativas no progresso humano. Isso evidentemente perturba todas as tendências tirânicas que ainda encontram guarida no homem, desde o pai autoritário até o político totalitário... A quebra dos poderes, numa Educação baseada na liberdade e no amor, choca os que ainda querem dominar e encontra neles opositores ferrenhos. E esse desejo de dominação pode estar dentro de cada um de nós” (INCONTRI, p.191).
Moran[35] falando-nos sobre a necessidade de mudança nos currículos, acrescenta:
O currículo será muito mais flexível. Teremos, em geral, menos disciplinas obrigatórias e alguns eixos temáticos principais, sem um único modelo, imposto da mesma forma e simultaneamente para todos. Algumas áreas serão privilegiadas – como saber ler, interpretar, escrever, contar, raciocinar – e depois serão oferecidas alternativas diferentes de avançar na formação. Haverá atividades individuais e atividades colaborativas, em que os alunos pesquisem e desenvolvam projetos em grupo e aprendam através de interação, da participação e da produção conjunta. Os alunos terão mais liberdade para a escolha de atividades artísticas, cuja importância será muito maior do que hoje. Cada aluno irá construindo um percurso em grande parte comum, mas adaptado a si mesmo, personalizado, a partir de um diálogo permanente com seu professor-orientador.
Com as bases consolidadas, será que é possível a prática educomunicativa e será que ela beneficia a aprendizagem do aluno? Esperamos que, a partir de agora, com nossa pesquisa, possamos analisar algumas experiências com a educomunicação. Para tanto, conheçamos como foi a implantação da rádio em nossa escola.
18. A implantação da rádio em nossa escola
Como dissemos antes, pertencemos ao projeto educomrádio.centro-oeste, que em 2004 iniciou a capacitação de um grupo de profissionais para trabalhar pedagogicamente com a educomunicação, mais precisamente, a mídia radiofônica, no nosso caso. Com o início dos estudos, reunimos um grupo de alunos que se mostraram interessados a participar do projeto. Interessante relatar que tínhamos trinta vagas e uma procura muito grande, passamos uma lista e sorteamos os que formariam o primeiro de muitos grupos de educomunicadores estudantes.
Como o diálogo e a democracia são fundamentais para nossa prática pedagógica, ao criarmos o nome de nossa rádio, primeiro relacionamos no quadro diversas sugestões, que logo foram à votação. Venceu o nome: Rádio Greineração.
Durante o ano de 2004, os equipamentos definitivos não chegaram. Obtivemos a autorização do diretor para utilizar a cabine de som do teatro da escola. Iniciamos então as programações durante os intervalos, no período matutino, e em dias especiais, como, entre outros, Dia Internacional da Mulher, Dia do Estudante.
Em 2005, chegaram os aparelhos: uma mesa de som, microfones, toca CD, toca fita e gravador, transmissor, antena e caixas de som amplificadas com receptores. Devido a problemas de agenda, não pudemos receber a visita dos técnicos que montariam os equipamentos com a urgência que nossa expectativa requeria. Obtivemos autorização para montar os equipamentos, com a ajuda dos estudantes. Interessante frisar que foram os alunos do vespertino, com o auxílio do professor, que fizeram a montagem dos equipamentos. A garotada do ensino fundamental, não havia ainda recebido capacitação, no entanto, engajou-se também na luta pela educomunicação; inclusive fazendo a produção de programas musicais, de reportagem e até trechos de uma rádio-novela.
Matutino e vespertino com suas aulas e programas, utilizando-se da Rádio Greineração, fez com que, rapidamente, o noturno também se interessasse em participar. Três turnos com a rádio funcionando, embora não às 24 horas no ar, porém agitava bastante o ambiente escolar, favorecendo o convívio, incentivando a oralidade e aprimorando o gosto musical.
Publicamos no jornal Boca do Greiner on-line[36] uma série de notícias que ora passamos a reproduzir:
Nome : Durval Filho
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Nome : alunos dos 2ºs anos |
Agitação e bom humor são necessários para uma rádio fazer sucesso, e isso a Greineração provou que tem. Parabéns! |
No turno matutino, o grupo de 30 alunos estava pequeno, então decidimos ampliar a participação, oferecendo o projeto para os três segundos e os dois terceiros anos do ensino médio. Dividimos as salas em três ou quatro grupos para primeiramente fazer a reunião de pauta, onde se decidia que gênero radiofônico cada grupo produziria, depois, cada um criava o nome do programa e gravava a vinheta de abertura. Escolhiam-se as músicas, as notícias, faziam-se as entrevistas e gravava-se todo o processo. No final, todos ouviam a produção dos colegas e promoviam o que chamamos de avaliação crítica. O que importa aqui não é o resultado final, mas sim a criatividade, a garra em superar os obstáculos e a oportunidade de se aprender com o erro.
Um exemplo dessas reuniões de pauta, oportunidade de se buscar uma solução criativa para produção de programas, foi quando um de nossos alunos sugeriu que entrevistássemos, no ar, ao vivo, uma repórter que viria nos visitar. Observem o resultado, na notícia que publicamos:
Nome : Durval Filho |
A rádio no dia de hoje teve uma programação especial, nossos alunos receberam a repórter Vivian que veio fazer uma reportagem sobre o projeto Educomrádio.centro-oeste. Foi muito divertido recebê-la em nossa escola para mostrar nosso trabalho. Um exemplo interessante foi a surpresa que preparamos para ela, na hora do programa, ao vivo, nossos educomunicadores fizeram uma entrevista com a repórter, invertemos um pouquinho os papéis, afinal, estamos todos no mesmo barco, não é: a comunicação. Agradecemos pelas respostas criativas e interessantes que ela nos deixou. Já estamos com saudades. Volte sempre! |
A matéria escrita por Vivian de Castro Alves, que reproduziremos trechos, repercutiu bem. Fora publicada inicialmente nos sites governamentais de Mato Grosso do Sul: www.sed.ms.gov.br e www.agenciapopular.com.br. Logo depois, o próprio site do Educomrádio[37] reproduziu a matéria: Rádio em escola estadual mobiliza alunos do ensino médio.
Na escola estadual Padre João Greiner, a iniciativa veio somar à proposta de desenvolver a comunicação dos alunos, com trabalhos coletivos. Há uma semana a rádio Greineraçao FM entrou no ar, com uma programação jovem e variada. Reportagens, debates, humor e promoções educativas também estão entre os formatos que serão utilizados. [...] Os alunos foram divididos em três grupos que se alternam nas atividades. A princípio, os estudantes recebem conhecimentos teóricos sobre educomunicação e discutem as propostas de programação. Depois fazem treinamento com o gravador, elaboram roteiros, para, finalmente, usar os estúdios da rádio. (ALVES, 2005)
Alves (Idem) que registrou o comentário de alguns jovens passa a nos relatar. Dayane Persi disse: “Existe muita propaganda nas rádios comerciais. O que queremos é criar algo com a nossa cara”. Já Pâmela Paz, uma das locutoras, afirmou: “Nós fazemos de tudo para não imitar ninguém, ter nossa própria identidade”.
A autora ainda acrescenta:
Apesar dos treinamentos, a criatividade dos alunos tem sido exercitada quando é necessário fugir do programa pré-definido. ‘O improviso para nosso grupo fica mais fácil porque todos são amigos e a comunicação entre nós é boa’, destaca a estudante Joyce de Souza Almeida. O professor responsável Durval dá liberdade para os alunos criarem da maneira que julgarem melhor, embora tenham a orientação permanente dele. ‘No educomrádio, o educador é um mediador no processo de ensino e aprendizagem e oferece ao aluno o papel de protagonista’, aponta. ‘Eu explico que o erro faz parte do processo e deixo os alunos à vontade’. [...] ‘A escola é aberta, então dá oportunidade para todos’, opina o aluno Jonhys Santo Teles (Idem).
Laura (2005, p. 12) em matéria publicada no Jornal Em Foco, da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), registrou que o projeto Educomrádio. Centro-Oeste “vem diminuindo o índice de evasão escolar e melhorando o relacionamento entre alunos e professores”. Braga, apud Laura (Idem), que é gestora do ensino médio em MS, afirma: “O Educomrádio é um projeto de cultura à não-violência, que ajuda o aluno a criar uma visão crítica sobre o que está acontecendo na sociedade.”
Sobre a nossa rádio, a repórter expõe:
A Greineração FM está no ar há quase quatro meses e cerca de 100 alunos participam ativamente da rádio que conta com uma programação bastante variada, com reportagens e debates que falam sobre assuntos relacionados à comunidade escolar, do bairro e da cidade (Idem).
Referindo-se às nossas palavras, Laura registra: “O projeto veio trazer uma nova visão para a escola, veio para quebrar aquela hierarquia entre professor e aluno [...] Os alunos ficam mais próximos da mídia e, sendo assim, fica mais fácil entendê-la e mais difícil de ser manipulado pela mesma”. Dando voz a um aluno da escola, a matéria de Laura (Idem), reproduz as palavras de Wefferson Borges da Cruz, de 18 anos: “Participar da rádio é uma das coisas que mais gosto de fazer na vida. [...] às vezes eu pego meu violão e faço um som ao vivo na rádio”.
Wefferson tornou-se, inclusive, um parceiro, visto que em dia de programação especial, com músicas ao vivo, musicou uma letra de nossa autoria e cantou-a para toda a escola. Interação entre professor e alunos e entre alunos-alunos que faz com que a postura educomunicativa se aproxime muito da pedagogia defendida por Paulo Freire, autor amplamente estudado no capítulo primeiro.
O depoimento de Wefferson ficou também registrado no site da USP, na página do Educomrádio[38], então, a fim de provar o quanto foi benéfico ao aluno a interação com o professor e com os seus colegas, através da rádio no ambiente escolar, reproduzimos um trecho:
Wefferson Borges, aluno do 2º ano, é um dos beneficiados desse caráter coletivo do Educomrádio. Matriculado na Greiner desde o ano passado, informa que não era bem acolhido pelos colegas. ‘Ninguém gostava de mim na escola, diziam que eu era playboizinho’, explica o adolescente. Segundo Wefferson, o fato de os estudantes do Greiner – em sua maioria – proceder de famílias de baixo poder aquisitivo, era discriminado. ‘Depois eu fiz um show na escola e dediquei uma música ao professor Durval, do Educomrádio, que eles passaram a gostar de mim’, aponta o violonista, que é sonoplasta da rádio (EDUCOMRÁDIO, 2005).
Ainda, segundo a mesma matéria (Idem), registraremos vários comentários de estudantes para provar, mais uma vez, o nosso ponto de vista que vê na prática educomunicativa muitos benefícios aos educandos. “Jonhys Santo Teles, aluno do segundo ano do ensino médio, diz que sua participação no Educonrádio fez com que melhorasse a gramática. ‘A gente tem que fazer jingles, vinhetas, produção’”.
Na continuidade do mesmo texto:
Já Paulo Sérgio Carniate Paes, estudante integrado no projeto desde o início e que faz a sonoplastia e produção na rádio Greineração, diz que, como pretende prestar vestibular para engenharia mecatrônica, os conhecimentos adquiridos com o projeto deram-lhe uma noção básica (Idem).
A USP, na página do Educomrádio, trouxe também uma notícia, com o título: O sucesso[39] da Rádio Greineração:
O Prof. Durval de Mato Grosso do Sul, cursista do Projeto Educomradio.centro-oeste, dá testemunho do que a proposta da educomunicação tem propiciado em sua escola: ‘Com certeza os nossos intervalos não são mais os mesmos, estão muito mais dinâmicos e divertidos. Os alunos que participam na produção dos programas sentem-se importantes porque eles se comunicam com o restante da escola (são os artistas da rádio, em suas várias funções). Aqueles que são mais tímidos, já estão mais falantes e os ‘ativos’ demais estão aprendendo a organizar melhor seus discursos e a respeitar mais os colegas. Quanto aos professores, a maior parte dá a maior força ao projeto e participa colaborando sempre que podem. A comunidade e demais funcionários da escola já se acostumaram e curtem também conosco esta nova realidade da nossa escola, a Rádio Greineração’.
Aquela consciência política tão necessária para se consolidar uma sociedade melhor deve acompanhar todos no ambiente escolar, desde professores, administradores, coordenadores, diretores, pais e, principalmente, alunos. Exemplo importante a relatar é sobre um convite que um grupo de alunos de nossa escola recebeu a propósito de se discutir o futuro do jovem na elaboração de um projeto de lei. No Boca do Greiner on-line[40], Dias (2005), um de nossos alunos, escreveu:
Nome : Luiz Henrique C. Dias |
Neste encontro, que reuniu estudantes e autoridades de todo o estado, foram discutidos diversos temas, todos buscando melhorias a favor dos jovens. Após abertura do evento, nos reunimos em vários grupos de estudo, a fim de debater questões relacionadas aos jovens. O nosso grupo debateu sobre comunicação e tecnologia. Momento ao qual revisamos e ampliamos o texto da lei que será votada em Brasília. A Escola Estadual Pe. João Greiner mostrou aos demais do grupo um pouco da experiência nesta área, inclusive apresentando a gravação de um programa de rádio feito pelos estudantes. Propomos também a valorização do protagonismo juvenil na utilização da mídia através da educomunicação e a capacitação dos professores na utilização dos recursos tecnológicos, sem esquecer de cobrar recursos para a manutenção dos equipamentos. Fizemos a nossa parte, agora vamos exigir das autoridades mais atenção aos jovens estudantes. |
No final do ano de 2005, fizemos em nossa rádio um concurso a fim de motivar a audiência e a participação de toda a escola num concurso. Publicamos então Resultado parcial do primeiro concurso de rádio, onde se lê:
Os programas de rádio dos alunos da Escola Estadual Pe. João Greiner, participantes do concurso da Rádio Greineração, foram um sucesso de público e muito pedagógicos também. Claro que alguns grupos tiveram dificuldades em dominar a tecnologia, mas justamente por procurarem enfrentar os obstáculos e superá-los aprendeu-se muito. Os jovens, neste primeiro momento, competiram para escolher o melhor programa de cada série. Os resultados foram os seguintes: de um total de 123 votos, os 1º C/D obtiveram 60,1 %. O 2º A foi o ganhador da sua categoria numa eleição que compareceram 126 eleitores. Com 131 votantes, a disputa dos 3º anos foi a mais disputada, com o placar sempre próximo do empate, onde cada uma das turmas revezava na liderança. O resultado final da categoria foi 51,9% para o 3º B contra 48% para o 3º A (DURVAL FILHO, 2005)[41].
Na competição final, a grande vencedora foi a turma do 2º A, seguida pelo 3º B. tendo como terceiro lugar, 1º C/D. A prática educomunicativa demonstrada neste exemplo juntou a rádio e a Internet, visto que a votação foi feita utilizando-se dos computadores, por intermédio de uma enquete, através do site da escola.
Como pudemos observar pelas notícias publicadas, nossos jovens estudantes agitaram a área de comunicação da escola. Experiência enriquecedora que continuaremos a expor adiante, oportunidade em que analisaremos a criação do nosso site.
19. A criação do site Greinernet
Através da implementação da rádio e com o conhecimento da teoria educomunicativa, sentimos a necessidade de ampliar o alcance da nossa comunicação. Foi quando resolvemos formar um grupo de interessados para iniciar a criação de um site. Coube aos terceiros anos a tarefa de dar continuidade ao site que acabara de nascer. A ideia, desde o primeiro momento, fora incentivada pela coordenação e pela direção escolar, formada por Klinger Moura e Zulmira Gonçalves Miranda, pessoas que, aliás, sempre apoiaram os diversos projetos desenvolvidos pela escola.
Nosso site está afinado com os objetivos de se promoverem as transformações que são necessárias para o progresso da educação e do indivíduo. Pensamento este retratado no poema, criado em 2004, e que está na página principal, cujo endereço é: http://greinernet.vilabol.uol.com.br.
RODA PIÃO dei- ra... A vida ra- jo- sos...
Rodar, Girar, Agir E promover |
Almeida & Almeida (1998), referindo-se à informática na educação, aconselham-nos a assumir esta postura:
Enfrentar essa nova realidade significa ter como perspectiva cidadãos abertos e conscientes, que saibam tomar decisões e trabalhar em equipe. Cidadãos que tenham capacidade de aprender a aprender e de utilizar a tecnologia para a busca, a seleção, a análise e a articulação entre informações e, dessa forma, construir e reconstruir continuamente os conhecimentos, utilizando-se de todos os meios disponíveis, em especial dos recursos do computador (p. 50).
Em outro artigo, publicado na mesma obra, falando-nos sobre a formação de professores, Almeida (1998, p. 66) aconselha-nos que ao professor cabe mediar as: “interações professor-aluno-computador de modo que o aluno possa construir o seu conhecimento em um ambiente desafiador, em que o computador auxilia o professor a promover o desenvolvimento da autonomia, da criatividade, da criticidade e da auto-estima do aluno”.
Fróes (1998, p. 61), afirma-nos ainda que: “Cabe ao professor não mais o lugar de dono da verdade absoluta, mas o de interlocutor privilegiado que incita, questiona e provoca reflexões...” No entanto, para o autor, assumir esta postura implica em mudar:
[...] da ênfase no objeto à ênfase no projeto; o trato e a valorização da inteligência coletiva; a necessidade da construção gradativa da competência específica de professores e alunos no uso dos novos recursos; mudança do eixo da relação professor-aluno e [...] o problematizar, sugerem naturalmente a adoção da pesquisa como instrumento fundamental do processo educacional (Ibid., p. 63).
Com estes propósitos, solicitamos aos alunos dos terceiros anos para construírem páginas na Internet, que passariam a pertencer ao site da escola. Seguindo o modelo anteriormente explicado de criação do nome da rádio, cada sala escolheu um nome para sua página. O 3º A escolheu O seu que é mais azul, e o 3º B: Os empurra com a barriga. Nessas páginas, publicaram poemas e reportagem de autores que, de acordo com o currículo, necessitavam estudar naquele ano.
O que foi feito com os alunos, é parecido com o que Moran[42] nos sugere:
Uma das formas mais interessantes de trabalhar hoje colaborativamente é criar uma página dos alunos, como um espaço virtual de referência, onde vamos construindo e colocando o que acontece de mais importante no curso, os textos, os endereços, as análises, as pesquisas. Pode ser um site provisório, interno, sem divulgação, que eventualmente poderá ser colocado a disposição do público externo. Pode ser também um conjunto de sites individuais ou de pequenos grupos que se visibilizam quando os alunos acharem conveniente. Não deve ser obrigatória a criação da página, mas incentivar a que todos participem e a construam. O formato, colocação e atualização pode ficar a cargo de um pequeno grupo de alunos.
[...]
É importante neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe: integrar as dinâmicas tradicionais com as inovadoras, a escrita com o audiovisual, o texto seqüencial com o hipertexto, o encontro presencial com o virtual.
Por intermédio do site criamos vários links com endereços de bibliotecas virtuais, testes vocacionais, simulados de vestibulares entre outros; oportunidade em que puderam pesquisar vários assuntos de interesse pessoal e do professor, referentes à matéria que leciona ou ao projeto que desenvolve na escola.
No jornal eletrônico Caminhos da UFMS, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Queiroz & Souza (2006)[43] informam-nos sobre a criação do site:
[...] a experiência com a internet é um desdobramento do Projeto Educomradio, iniciativa da USP (Universidade de São Paulo) e dos governos dos estados da região Centro-Oeste. Depois da criação de uma emissora de rádio de transmissão restrita, houve a necessidade de ampliar o espaço da educomunicação. Com o apoio dos alunos dos terceiros anos e da coordenação criaram o site em operação desde 2005, quando foi inaugurado.[...] O site divulga os projetos da escola, poemas e textos relacionados à disciplina de literatura, além de um jornal on-line com o nome de Boca do Greiner que veicula matérias produzidas por alunos, professores e coordenadores.
A proposta do site é privilegiar o processo de aprendizagem por intermédio de sua constante recriação e manutenção, onde o aluno e o professor publicam desde notícias, como as demonstradas nesta obra, fotos e informações sobre os trabalhos e projetos desenvolvidos pela escola. Quando o jovem é motivado a produzir, ele deixa de assumir o papel de mero receptor para “tornar-se o responsável pela construção de seu conhecimento, usando o computador para buscar, selecionar e inter-relacionar informações significativas na exploração, reflexão, representação e depuração de suas próprias ideias” (ALMEIDA, 1998, p. 66).
Xavier (2004, p. 172), referindo-se ao hipertexto, explica-nos:
O hipertexto reúne condições físicas de materializar a proposta paulofreiriana até as últimas consequências. Se para ler/entender a palavra é necessário saber ler antes o mundo, conforme apregoava o educador, o hipertexto vem consolidar esse processo, uma vez que viabiliza mundidimensionalmente a compreensão do leitor pela exploração superlativa de informações, muitas delas inacessíveis sem os recursos da hipermídia.
Almeida (1998) também reforça a proposta de Paulo Freire quanto à postura que o educador deve assumir em relação ao educando:
Na perspectiva transformadora de uso do computador em Educação, a atuação do professor não se limita a fornecer informações aos alunos. O computador pode ser um transmissor de informações muito mais eficiente do que o professor. Cabe ao professor assumir a mediação das interações professor-aluno-computador de modo que o aluno possa construir o seu conhecimento em um ambiente desafiador, em que o computador auxilia o professor a promover o desenvolvimento da autonomia, da criatividade, da criticidade e da auto-estima do aluno (p. 66).
20. Exemplos de atividades propostas aos alunos
Como já pode ser percebido, o site e o jornal on-line da Escola Estadual Pe. João Greiner tornou-se fonte de pesquisa e material pesquisado. As nossas publicações e as dos alunos representam a prova de que o trabalho educomunicativo foi executado e, inclusive, objeto de estudo de nossa pesquisa.
Com o intuito de fazer uma reflexão crítica, apresentaremos algumas atividades propostas pelos professores e executadas pelos alunos. Durante o horário de aula, reservado para o educador utilizar a Sala de Tecnologia Educacional, uma das atividades propostas foi a que pedia aos alunos que publicassem notícias no jornal Boca do Greiner on-line. Em alguns momentos, as notícias eram livres, o aluno publicava o assunto de seu interesse, em outros, porém, o professor direcionava. Por exemplo, no mês de março, temos duas datas comemorativas importantes, o Dia Internacional da Mulher e o Dia Nacional da Poesia. Na disciplina de Literatura, conteúdo curricular do segundo ano do ensino médio, Romantismo é a Escola Literária estudada. O professor pede a seus alunos que pesquisem sobre as duas datas e criem uma notícia a ser publicada no jornal da escola. Todos da sala, em dupla, publicam seu texto numa página que é gerenciada pelo professor. Este, por sua vez, depois de avaliar as notícias, escolhe uma ou duas para ficar definitivamente publicada.
Como nestes exemplos publicados no jornal[44]:
Nome : Brayner Aime |
Praticamente dez anos depois, em 08 de março de 1857, aconteceu uma tragédia e por isso foi criado o Dia Internacional da Mulher em homenagem às operárias de uma fábrica de tecidos em Nova Iorque, essas mulheres reivindicavam algo bastante simples, elas decidiram por uma greve, então, os donos da fábrica, agindo em conjunto com a polícia, trancaram as portas do galpão das máquinas e atearam fogo, querendo mostrar a sua superioridade. O resultado foi a morte de 129 mulheres.
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Nome : Lindayane e wellington |
Neste mês além do “Dia Nacional da Poesia”, há também o “Dia Internacional da Mulher”, 8 de março, Castro Alves foi um poeta que muito ressaltou o encanto e o amor pela mulher. Em sua poesia “Adeus Tereza”, fala de uma paixão que ele teve de abandonar temporariamente, quando volta ela está com outro, e o adeus torna-se definitivo; na obra “Os Três Amores”, ele cita três nomes de mulheres, Eleonora, Julieta e Julia, trata-se da mesma mulher, em circunstâncias diferentes, mesmo assim o autor deixa claro seu interesse e paixão pela mesma. O “Dia Internacional da Mulher”, foi escolhido em homenagem a um grupo de 129 mulheres, que morreram queimadas em um massacre, após uma manifestação em uma fábrica de tecidos, elas reivindicavam por carga horária de trabalho menor e melhores salários. Isso aconteceu dia 8 de março de 1857, em Nova Iorque, Estados Unidos. Março, mulher e Castro é um bom conjunto, em março estão reunidos a luta das mulheres e o talento de Castro de Alves. |
Podemos perceber por estes exemplos que os jovens foram levados a pesquisar, aprenderam a produzir notícia, obtiveram um conhecimento mais amplo e construíram o seu próprio saber; com o auxílio do professor, porém de uma forma em que se tornaram protagonistas. Convém ressaltar que não é nenhuma novidade esta prática pedagógica, visto que desde Dom Bosco, com suas oficinas de tipografia e Freinet com a imprensa escolar, já se trabalhavam a notícia como instrumento de auxílio do aprendizado dos alunos.
Nós educadores sabemos da importância de se trabalhar com os jovens aprimorando suas competências e promovendo a melhora da sua autoestima; fica-nos, às vezes, a dúvida. Será que realmente os jovens reconhecem tais esforços? Será que este método de ensino ensina? Como resposta a estas perguntas, traremos o comentário de Bruna Figueiredo, aluna do professor Mauro Cabral, do ensino fundamental vespertino, que participou de um trabalho de conclusão de curso de quatro[45] acadêmicos de jornalismo da Universidade Católica Dom Bosco. Após alguns meses sendo capacitados e produzindo um jornal mural, finalmente publicaram, no ano do centenário de Santos Dumont, o jornal 14 bis. No editorial (2006, p.2), explicando o projeto, encontramos que o jornal 14 bis : "[...] busca apresentar uma concepção do jornalismo não como uma prática técnica de narrar os fatos, mas como um compromisso de contribuir na educação para o desenvolvimento e exercício da cidadania".
Conheçamos, enfim, o comentário de Figueiredo (2006)[46], publicado no livro de visitas do site:
Nome : Bruna Figueiredo |
Comentário: Uma coisa legal que descobri nessa escola é que alguns professores ensinam algo mais do que sua matéria, eles contribuem um pouco para nosso caráter!!!!!!!!!!! é só lembrar que o jornal 14 bis está ai :) |
Além da Bruna, uma outra aluna, SILVA (2006)[47] comentou o trabalho da professora Valdirene Oliveira, do matutino e noturno, que dois anos antes, sem o auxílio dos acadêmicos, também implementou na escola um jornal impresso: o Boca do Greiner, produzido pelos alunos.
Nome : Annielly Lays M. da Silva (ani Cobain) |
|
Reforçamos ainda que, no trabalho com a rádio, o professor pede ao educando que produza notícias e crie diversos programas, obtendo excelentes resultados na aprendizagem, que se assemelham a estes apresentados acima.
21. Utilizando pedagogicamente a rádio na escola
Ressaltamos que estes exemplos podem ser aproveitados em qualquer disciplina. Utilizaremos a nossa, Literatura, visto que foi objeto de estudo da pesquisa as aulas por nós dadas. A partir do estudo em sala, pesquisa em livros e bibliotecas, o professor divide a sala em grupos e pede que cada um crie um programa de rádio que aborde o tema proposto. Como exemplo, sempre partindo da ementa curricular, após os grupos divididos, cada um estuda um poeta da segunda fase do modernismo: características, vida e obra. Num primeiro momento, os programas são produzidos, grava-se cada etapa, desde a vinheta de abertura, passando pelas notícias, entrevistas, músicas da época, declamações de poemas, etc. até a conclusão da gravação. Depois da edição, todos da sala ouvem cada um dos programas, oportunidade em que o professor avalia o empenho do grupo, sem se preocupar muito com o produto final, em termos de qualidade técnica, visto que a preocupação deve recair em relação ao conteúdo que a classe deveria aprender. Caso o professor ache necessidade, ele, neste momento, complementa o conteúdo com informações não abordadas pelos alunos. Não é raro de acontecer nesta etapa de o professor aprender com os alunos.
O que pudemos observar é que a aprendizagem, por estes moldes, realmente acontece. Porém, leva-se tempo para concluir o trabalho e um currículo extenso, voltado a macetes a serem decorados, não favorece esta prática de ensino. Deve-se, portanto, enxugar o currículo para se trabalhar eficientemente a educomunicação como pedagogia crítica e socializadora.
Neste ano de 2006, fora pedido a alguns alunos que publicassem no nosso jornal relatos sobre a experiência dessa aula por intermédio de programas de rádio. Observemos alguns comentários.
Ana Graciele H. Montovani, aluna do terceiro ano do ensino médio, relatou-nos:
Ao longo da realização do trabalho senti que não só eu mais o grupo inteiro se envolveu de corpo e alma. Isto nos trouxe também um grande aprendizado, confesso que para mim ele [Vinícius de Moraes] era um desconhecido, ao longo das gravações aconteceram muitas descobertas, dentre elas uma curiosidade: Vinícius casou-se nove vezes, mas há controvérsia. Outros livros trazem a informação de que ele se casou dez vezes [...] Com certeza essas aulas que saíram da rotina foram mais descontraídas. Após esse trabalho percebi que me interessei em saber mais sobre a vida deste poeta. (MONTOVANI, 2006)[48]
Da nossa parte, como professor, aprendemos com os nossos alunos que Vinícius casou-se nove ou dez vezes. Continuaremos, então, a pesquisar, visto que este e outros fatos sobre a vida e obra do autor necessita, ainda mais, de esclarecimento, para que possamos fortalecer em todos (alunos e professor) o conhecimento que está sempre em constate construção.
Ainda referente a esta aula, Claudinei da Silva nos conta que fora divertido a maneira com que o grupo: "[...] participou da gravação do programa [...] aprendemos muito sobre a vida de Vinícius de Moraes, que ele teve nove casamentos, que freqüentava muitos cabarés, que foi um aglomerador de talentos porque abria as portas de sua casa para roda de viola, onde era o espelho para os que ali estavam" (SILVA, 2006).[49]
Em outras oportunidades, os educandos trabalharam a passagem de um gênero textual para outro, como quando de um conto de Alcântara Machado, que trata de um jogo de futebol, eles narraram, em linguagem radiofônica, a partida de futebol da história do conto, acrescentando reportagens com os jogadores, técnicos e torcedores. Não faltaram nem os anúncios publicitários nem o som da torcida.
Pelo exposto, percebemos que a rádio-escola mais que alegrar os intervalos e sociabilizar os educandos, promovendo um ambiente pacífico e colaborativo, também é muito útil para ser utilizada como um instrumento pedagógico a serviço do professor.
Além das programações nos intervalos e durante as aulas, elas acontecem também em dias especiais, como em datas comemorativas:
Nesta notícia do Boca do Greiner on-line[50], um exemplo de programa que obteve sucesso, durante as duas horas que ficou no ar:
Nome : Durval Filho |
Contamos com a presença e a participação de todos. Aliás, coordenação e professores prometeram desfilar, no final do evento, de uma maneira inusitada. Vocês não podem perder. |
22. Projetos especiais que se utilizaram da educomunicação
Estes projetos também foram nosso objeto de estudo, portanto, passamos a relatá-los. O primeiro deles denominou-se Poesia em movimento: do texto à oralidade, visava promover a interação escritor leitor, no caso poetas e alunos.
Valorizar o regional é fundamental na prática educomunicativa, através da Rádio Greineração, em parceria com o projeto Ondas na educação, criado pelo acadêmico de Rádio e TV, da UCDB, ativista cultural, músico e compositor, Idemar Luiz Sprandel, já promovíamos visitas de músicos e compositores regionais a nossa escola com o objetivo de se criar platéia e incentivar as composições da terra. A partir desta experiência, que fora gratificante, resolvemos promover, através da rádio, um contato mais estreito com nossos escritores regionais. Convidamos, então, a poetisa Dolores Guimarães, que tem três livros lançados e é uma declamadora talentosíssima. O produto final deste trabalho seria a confecção de um CD com gravações dos poemas da autora, interpretados pelos alunos e por ela mesma. Vale relembrar, não nos preocupamos excessivamente com o produto final porque julgamos que a educação ocorre no processo, no durante.
Embora não exista esta preocupação, é claro que sempre vamos buscar fazer o melhor possível, e foi, justamente por isso, surpreendente o resultado deste trabalho.
Publicamos a notícia[51], cujo título é A poesia movimentando o ambiente escolar, nela conhecemos o início do processo:
O projeto Poesia em movimento: do texto à oralidade com Dolores Guimarães, Durval Filho e alunos da escola será o primeiro de muitos que virão. A ideia inicial era trabalhar com um poeta regional para que alunos e escritor interagissem no ambiente escolar, onde ambos, após o contato inicial, gravariam declamações da obra do mesmo. Convidamos à inspiradíssima Dolores Guimarães de quem o autor dessa notícia é fã número um. Alunos e poetisa, com o início das gravações, sugeriram que gravássemos poemas da obra recém-lançada de nossa autoria, Fantasia Viva; enfim, aceitamos [...]. Com essa eu não contava, mas já que o professor tem que dar o exemplo, vencerei a timidez e seja o que Deus quiser. [...] Ao longo das próximas semanas, iniciaremos as gravações e a interação, com certeza, aumentará ainda mais; tudo por uma educação mais criativa e prazerosa, onde o aluno participa do processo fazendo o papel do protagonista, não simples coadjuvante.
Como não podia faltar pedimos à Guimarães (2006)[52] que nos relatasse, por meio do nosso jornal, como foi a experiência por ela vivida, do ponto de vista de uma escritora, em relação ao projeto:
Quanto à experiência que colhi, o seu resultado me foi surpreendente. Fiquei muito feliz, senti-me uma privilegiada em ter tido esta oportunidade de aproximação corpo a corpo com os jovens estudantes. Alguns, inclusive, inseguros, um tanto desmotivados. Ouvi deles, por exemplo: ‘não sou inteligente, não gosto de ler, não entendo nada’. Percebi que necessitava resgatar em alguns desses jovens a dignidade, recuperar a auto-estima, apresentar-lhes o potencial que possuíam e que desconheciam. Precisava resgatar nos jovens o interesse pela Literatura. Em cinco visitas apenas, foram crescendo o interesse e a satisfação dos mesmos para com a poesia e a leitura.
A poetisa trabalhou com aproximadamente vinte estudantes selecionados pelo professor que, desde o início do ano, vinha observando entre seus alunos aqueles que tinham mais potencial ou interesse em participar do projeto. Foram feitas uma série de gravações, depois de ouvidas, outra série e mais outras, e assim, conforme observação de Dolores, trocava-se os poemas até coincidir o texto com o estilo de cada um.
Moura (2006)[53], aluna do primeiro ano do ensino médio, relatou-nos: “[...] foi muito legal, gostei dos poemas que recitei, são bem criativos e bem formados. De todos as poesias que li a que eu mais gostei foi ‘Perdoa-me’, uma poesia muito linda.”
Severo (Idem), por sua vez, informou-nos:
Esse foi o meu primeiro contato com a área da literatura que me rendeu elogios. Foi muito gratificante declamar um poema na presença do autor. A interação com o autor, no caso a autora, foi uma experiência, digamos nervosa, mas com as palavras de quem entende do assunto, fica mais fácil de dar o melhor de si.
Na primeira vez que declamei o nervosismo tomou conta, mas com intensa atenção e paciência da autora conseguimos fazer um bom trabalho. Na segunda vez, já sabia o que tinha que fazer, ficou muito fácil. Mas o melhor de tudo é que declamei um poema na presença de sua própria criadora.
Da aluna Lindayane, registramos:
A iniciativa de desenvolver um projeto integrando o poeta e o aluno me surpreendeu e me deixou muito satisfeita. Eu já conhecia o trabalho do professor Durval Filho, mas, daí até gravar uma de suas poesias o envolvimento é maior e a literatura torna-se mais prazerosa.
Tive a oportunidade de conhecer a escritora Dolores Guimarães, uma grande mulher, que além de educada é inteligente e muito carismática. Suas poesias fazem com que as mulheres se identifiquem. Ela trabalha as palavras de tal forma que o leitor sempre sente algo ao chegar no término de sua poesia.
A experiência de trabalhar uma poesia juntamente com o escritor é maravilhosa, há uma troca muito grande de informações, esse método de integração rende bons resultados (SÁ, 2006).
Jéssica, por sua vez, disse que: “Essa experiência de declamar poemas fez com que eu descobrisse em mim talentos que eu não conhecia; o de falar bem, ler bem e de ter uma ‘voz bonita’”(VELASQUES, 2006). Angélica Pereira confessa ter vencido os medos de errar e gaguejar. Diz-nos que foi divertido e por fim resume: “obtive um pouco mais de experiência que os outros, pois tive que gravar quatro vezes porque não dava certo” (PEREIRA, 2006).
Por estes depoimentos, concluímos que o aprendizado foi eficiente, ambos os escritores e os alunos saíram ganhando e a educação mais ainda. Enquanto concluímos a nossa pesquisa, as gravações terminaram. Acontecia, no momento, a escolha dos poemas e se fazia a edição dos sons para a confecção do CD que, dependendo do patrocínio, seria artesanal ou, quem sabe, o mais profissional possível. Quanto à qualidade das performances, realmente, ela surpreendeu a todos os envolvidos. Vale a pena conferir.
23. A solidariedade no projeto educomunicativo
O trabalho coletivo é uma prática que propicia aos envolvidos momentos em que todos podem colaborar um com o outro, dar e receber ajuda, sugestões, enfim, partilhar o que cada um sabe para que o grupo, com a troca de informação, poça solucionar problemas ou realizar satisfatoriamente uma tarefa.
A educomunicação privilegia esta postura na sua rotina de trabalho, portanto, é forte seu lado socializador. A busca de parceria, nesta troca de experiência, não se restringe a alunos e professores. Outros parceiros vindos da comunidade e de instituições de ensino superior são muito bem-vindos. O projeto Ondas na educação, citado anteriormente, é um rico exemplo de parceria que deu certo. Com este projeto Idemar Luiz Sprandel buscou resgatar nos alunos de nossa escola o gosto pela música regional. Como a experiência profissional e técnica fora-nos repassada, com o auxílio de muitos colaboradores que, em torno de um trabalho social e educativo, fizeram com que adquiríssemos a capacidade e confiança necessárias para formar o nosso próprio grupo de educomunicadores a fim de oferecer a nossa experiência, como multiplicadores de conhecimento, para a criação de rádios em outras escolas.
Para tanto, criamos o projeto Multiplicando os falares: implementando rádios em ambiente escolar, busca potencializar a comunicação dos envolvidos e desenvolver práticas pedagógicas colaborativas, tendo em vista que será oferecido aos jovens o protagonismo no processo de ensino-aprendizagem. Momento que serão desenvolvidas as competências comunicacionais e solidárias, entre outras, pois eles farão o papel de multiplicadores do conhecimento, tanto dentro da escola, quanto na comunidade e nas escolas irmãs. O projeto-piloto aconteceu na Escola Estadual São Francisco, oportunidade em que, aproximadamente, dez alunos deste estabelecimento de ensino receberam a nossa visita; composta de quatro alunos da Escola Estadual Pe. João Greiner, um ex-aluno (em uma oportunidade) e do parceiro Sprandel (em dois momentos).
Em nossa escola aproximadamente 30 alunos participam da oficina de rádio, estes também fizeram parte do processo educomunicativo por nós pesquisado e de onde, inclusive, buscávamos voluntários para atuarem como multiplicadores.
Como não podia faltar, publicamos no jornal, com o título A Rádio Greineração dando frutos, a seguinte notícia[54]:
Aconteceu no último sábado o primeiro encontro dos jovens educomunicadores da Escola Estadual Pe. João Greiner com os seus colegas da Escola Estadual São Francisco. O objetivo desses encontros é a criação de uma rádio na segunda escola, visto que a rádio Grineração é uma feliz realidade no Greiner.
Os alunos da Escola São Francisco participaram efetivamente promovendo uma verdadeira interação com os colegas educomunicadores visitantes. Vale a pena ressaltar a participação da professora Milaine Gerin e do compositor e radialista Idemar, acompanhados pelo ex-aluno e radialista Kelson, que também somaram conosco para que fosse possível a concretização desse ideal por uma educação mais criativa e de qualidade.
E por falar em criatividade, a galera já produziu uma lista de nomes para batizarem a nova rádio. Durante a semana, colocarão em votação para que todos possam escolher o nome que mais agrada. E tem mais, gravaram as vinhetas destacando cada denominação. Todos estão de parabéns, que vença o melhor (DURVAL FILHO, 2006).
Este nosso projeto, claro, foi muito embasado no da USP, porém se difere do mesmo porque, como sabemos da dificuldade financeira em se instalar uma rádio por transmissão por ondas sonoras, e mesmo reconhecendo que o ideal seria o modelo do educomrádio, resolvemos, num primeiro momento, instalar uma rádio digital nas escolas interessadas em conhecer a educomunicação, tendo em vista o seu custo ser baixo, necessitando apenas de um computador e caixas de som a ele ligadas. Além, é claro, dos programas a serem instalados. Em relação a eles, contamos com o auxílio do Idemar que, com o Ondas na educação, nos proporcionou a instalação de programa ZaraRadio, que profissionaliza a seleção de música e o roteiro. E do nosso aluno Paulo, que disponibilizou o programa Audacity, de gravação e edição de som. Ambos os programas são livres e podem ser facilmente baixados pela Internet para sua posterior instalação.
Os nossos mais recentes educomunicadores publicaram estas notícias:[55]
Nome : Macister e Matheus R. |
-Mega Amém -Mega São Francisco -Rádio Mega Toca Tudo. Felizmente, a rádio e a consequente vinheta escolhida foi a da rádio Mega São Francisco, que teve uma porcentagem de 90% sobre a rival Mega Amém, que teve uma porcentagem de 9%. O 1% restante foi de alunos que não votaram. Todos estão convidados a vim ouvir a nossa Mega... |
Escolhido o nome da nova rádio, a Mega São Francisco, os alunos refletiram sobre a importância da prática democrática, como vemos:
Nome : Isadora e Matheus |
Estamos esperando que com esse projeto o nosso conhecimento se torne mais amplo e que os outros alunos também gostem, para que a nossa rádio continue por vários anos. |
Com o devido apoio da direção, o auxílio da professora e de um profissional da secretaria da escola, iniciamos nosso trabalho, como já relatado, através das notícias. Tínhamos em mente fazer cinco visitas e pôr no ar, ainda este ano, a rádio Mega São Francisco.
Era o que todos esperávamos, porém não tivemos acesso a um computador exclusivo para a rádio; passamos a utilizar a máquina da Sala de Tecnologia Educacional e continuamos o treinamento, apesar de afirmarmos da necessidade de se ter um computador e uma sala exclusiva para a rádio funcionar a contento.
Com o nome escolhido, os alunos motivados, um funcionário entra em férias, ficamos sem acesso à sala de tecnologia, e, consequentemente, sem o computador. A direção se prontificou em comprar um e abrigar a rádio na biblioteca, porém só para o próximo ano.
Os problemas sempre surgem, então corremos atrás das soluções. Novas conversas, reuniões e, enfim, uma proposta: já que a rádio havia sido batizada e os alunos capacitados, iríamos fazer um pré-lançamento, com a gravação de um programa completo, pelos alunos da Escola São Francisco.
Um alento para concluirmos parcialmente o trabalho iniciado, mas gravar como, sem computador? Durante os treinamentos, era comum utilizarmos um rádio portátil e um gravador de mão. Que seja assim, então. Tudo resolvido? Infelizmente, não! Aos sábados, com a escola fechada e o funcionário em férias, não pudemos continuar com a capacitação. Justamente o único dia disponível em nossa agenda para executarmos o projeto. Mais reuniões, ideias que surgem, e um novo replanejar. Já que a prática educomunicativa privilegia o protagonismo juvenil, iríamos convidar os alunos da Rádio Greineração a irem, sem o professor, até os colegas da Mega São Francisco a fim de gravarem um programa que seria o pré-lançamento da rádio deles. Convite feito, felizmente, aceitaram. Passaram por certa insegurança, quase desistiram, mas foram. Gravaram e todos ficaram contentes, inclusive nós.
24. Analisando a pesquisa de opinião e os dados coletados
Durante todo o processo, além das notícias do jornal que foram amplamente analisadas, fizemos algumas pesquisas[56] com os alunos e chegamos a estes resultados. Num primeiro momento, de um universo de 20 entrevistados, fizemos as seguintes perguntas. Primeiro: qual a mídia que você mais gosta? Depois, qual a que ele mais tem contato e, por fim, quanto tempo diário ele entrava em contato com esta mídia, a que ele tinha mais acesso. Observemos os resultados:
A grande campeã, em termos de preferência foi a Internet, seguida da TV, pouco atrás e tendo o rádio em terceiro lugar. A mídia revista impressa ficou com a quarta colocação e o jornal impresso sem nenhum voto, embora o jornal on-line tenha sido citado e incluído na mídia Internet.
Quando perguntamos qual mídia eles tinham mais acesso, obtivemos uma inversão em relação à Internet. Esta mídia passou a ser a última colocada, enquanto a revista e o jornal nem foram votados. A TV passou a ser a primeira colocada, com a rádio logo atrás.
Na soma da audiência (quando se verificou o tempo gasto em contato com a mídia), a rádio passou à frente da TV, mesmo levando em conta serem sete o número de entrevistados que priorizaram a rádio, três a menos que a TV, a rádio atingiu um total de 41 horas diária de ouvintes ligados a ela, com média individual de 5,8. Mesmo com um número maior de entrevistados (dez) dizerem ter mais acesso a TV, na soma de horas no ar (38) ela perdeu para o rádio, com uma média individual de 3,8. A Internet ficou na lanterna nas três variáveis deste gráfico: os três pesquisados que disseram ter tido mais acesso a este meio, somaram um total de 7 horas conectados, alcançando a média individual de 2,3. Logo, a Internet que fora a campeã de preferência deles, obteve o menor índice de acesso. Certamente, devido ao nível salarial das famílias e ao alto custo desta mídia. A TV manteve-se na segunda colocação, tanto na preferência quanto no acesso. Já o rádio, terceiro colocado na preferência inicial, foi o campeão de audiência desses jovens pesquisados. Por isso o grande sucesso da utilização deste meio como recurso pedagógico.
Numa outra oportunidade, perguntamos a 23 jovens estudantes se eles concordavam em privilegiar música e poesia regionais na grade de programação da rádio-escola. Obtivemos 83% dizendo que concordam, isso porque a pesquisa foi feita no final da capacitação, onde desde o início incentivamos a arte regional:
Nesta mesma pesquisa, investigamos qual seria o ritmo musical mais apreciado:
A campeã em preferência foi o sertanejo, com seis votos; pagode com quatro e Funk com três, situam-se num segundo patamar. Quatro estilos empataram com dois votos: Rock, Pop, Hip Hop e eletrônica. Não faltaram, ainda, com um voto cada, o Rap e o gospel, como sendo o estilo preferido dos estudantes. Bem ao estilo pós-moderno, este resultado reflete o ecletismo que vivemos hoje em dia em relação ao gosto musical e artístico. Também reforça a visão holística e a teoria das múltiplas inteligências, visto que o múltiplo é característica do homem pós-moderno que, neste mundo globalizado, necessita compreender o universo como um todo, não separando as partes e estudando-as isoladamente, mas sim buscando a compreensão delas para como num enorme quebra-cabeça encaixar as peças do conhecimento a fim de se alcançar a totalidade da compreensão. Enfim, do regional para o global potencializando as vocações.
Concluindo esta etapa, perguntamos a oito alunos da Escola São Francisco, se os colegas estudantes da Escola Estadual Pe. João Greiner estavam repassando o conhecimento tão bem quanto os professores. Tinham a opção de dizer sim ou não. O resultado foi:
Este resultado veio fortalecer nossa convicção de que o protagonismo juvenil é indicado para a educação dos jovens. Pois, além de funcionar pedagogicamente, aumenta a auto-estima dos multiplicadores do conhecimento, quando eles percebem que podem ensinar o que aprenderam.
A estes mesmos alunos foram perguntados: Vocês também gostariam de ser multiplicadores do conhecimento? Todos responderam que sim, inclusive os três que na pergunta anterior julgavam que seus colegas não explicavam tão bem quanto os professores. Concluímos que, a partir desta resposta, onde todos desejam colaborar, eles aprenderam a ser solidários; reforçando, mais uma vez, nossa opinião de que se deve promover uma educação a partir do processo e inserida no social, a fim de valoriza a participação coletiva na prática pedagógica. Além de que, ao fazerem o papel de multiplicadores, os educandos tomam consciência da importância de um conviver pacífico e solidário na sociedade em que eles vivem.
25. CONCLUSÃO
Após uma visão geral da educação e o reconhecimento de que a comunicação pode ser uma aliada poderosa na educação dos jovens. Analisamos, portanto, a educomunicação e o fazer pedagógico educomunicativo que, na nossa compreensão, tem que ser dialógico, solidário, socializador e progressista, no sentido de se praticar um ensino de maneira a oferecer o protagonismo juvenil ao educando.
São várias as maneiras de se promover este protagonismo, algumas delas foram por nós relatadas, mas certamente este assusto não se esgota aqui.
Observamos também, ao longo da pesquisa, que dificuldades não faltaram, obstáculos são muitos, desde o comodismo dos próprios alunos que querem receber a educação sem ter (perceba o absurdo?) que pensar; alguns professores acostumados com a prática tradicional e que têm medo ou não desejam promover as mudanças porque elas exigem uma constante capacitação, a fim de aprimorarem-se; alguns diretores e coordenadores não querem aceitar uma prática democrática que quebra a hierarquia no ambiente escolar. Não aceitam dividir responsabilidades, para não perderem o poder.
Porém, ao analisar o resultado das últimas pesquisas internacionais e nacionais que medem o desempenho de nossa educação ficamos preocupados. Preocupados não só porque o nosso desempenho tem sido ruim, mais ainda, pelo motivo de o nosso ensino, hoje, ser muito fragmentado e conteudista; portanto muito voltado à prática tradicional que privilegia a memorização com o intuito de levar o educando a se sair bem nos diversos testes que, aliás, são por demais seletivos e, infelizmente, pouco classificatórios.
Pelos resultados destes mesmos testes, quase sempre uma média baixa, observamos que, mesmo com a utilização da pedagogia do decoreba, nossos alunos não têm alcançado bons resultados. Portanto, temos nos utilizado de uma pedagogia ineficiente, pelo menos em relação à maioria. Sua ineficácia provavelmente deve-se ao fato de não conseguirmos fazer com que uma grande quantidade de educandos realmente aprendam o conteúdo.
Convém ressaltar que, do nosso ponto de vista, esses testes não medem a totalidade do conhecimento e a real capacidade de uma pessoa, por isso não nos importamos muito com eles. No momento, eles servem para que façamos a crítica aos seus próprios defensores. Pois, se ao ensinar cada vez mais conteúdo, de maneira descontextualizada e sem a devida interdisciplinaridade, fez com que nossos jovens não aprendessem de fato e, consequentemente, não conseguissem bons resultados nos próprios testes e na vida; então perguntamos: vale a pena insistir nessa pedagogia conteudista e fragmentária do saber? Acreditamos que não!
Propomos um modelo interdisciplinar, dialógico e democrático, mais socializador e moderno. A educomunicação favorece esta prática pedagógica. Uma educação que potencializa nos sujeitos aquilo que seria sua vocação, além de favorecer que se superem as deficiências, aprendendo com o erro. Uma prática educativa que transfere cada vez mais a responsabilidade do aprender ao próprio aprendiz. Isto, não porque queremos nos omitir de ensinar, mas sim, porque sabemos que a aprendizagem efetiva somente acontece quando praticamos uma ação. Por isso a defesa do protagonismo juvenil no processo educativo e o reconhecimento da necessidade de os profissionais da educação sempre buscarem um constante aperfeiçoamento.
Defendemos também a utilização cada vez mais de projetos interdisciplinares a fim de se promover um ensino que faça sentido ao aluno que se utiliza, cada vez mais, de aulas em forma de oficina.
No decorrer do nosso estudo observamos que a comunicação pode vir a ser grande aliada da educação na árdua tarefa de elevar o nível de aprendizagem dos nossos alunos, desde que se utilize uma prática pedagógica favorável ao protagonismo juvenil. No entanto, verificamos que só é possível sua implementação quando se leva em consideração o ecossistema comunicativo de cada escola para, bem aos moldes freireano, junto à comunidade, construir de maneira dialógica e socializadora o processo de ensino-aprendizagem.
Nossos jovens, como verificado no trabalho, enfrentaram os obstáculos com coragem. Tiveram que sempre replanejar os passos para que, durante a execução das tarefas, obtivessem o resultado positivo. Para tanto, necessitaram da compreensão dos professores e dos coordenadores para realizarem a contento o trabalho de aprender que, por alguns momentos, foi até prazeroso.
Dessa forma, chegamos ao fim demonstrando que é possível, com poucos recursos e muita parceria, realizar um projeto educomunicativo que leve ao aluno o saber, fazendo-o compreender a importância de se trabalhar em grupo e, ao mesmo tempo, valorizar a criatividade individual, a fim de juntos vencerem as dificuldades que surgirem pelo caminho.
A aprendizagem é um processo contínuo, nunca acaba, portanto o que temos aqui é apenas o início de um percurso a procura melhores caminhos para a educação brasileira. Terminamos a obra satisfeitos e agradecidos pelo muito que aprendemos com os nossos alunos e parceiros. Resta-nos desejar novos voos no futuro e, por agora, agradecer: Obrigado!
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[1] Publicado no site da Suigeneris. História da educação. Autoria de Maria Lúcia A. Aranha. Disponível em: Acesso em 23 set. 2006.
[2] Resumo publicado na Miniweb. Cuja fonte citada é Pesquisas Barsa de Editorial Barsa Planeta, Inc. Disponível em: Acesso em: 23 set. 2006.
[3] Artigo publicado na Revista Espaço Acadêmico, n. 29, out. 2003 (mensal). Disponível em: Acesso em: 23 set. 2006.
[4] Publicado no site da Suigeneris. História da educação. Autoria de Maria Lúcia A. Aranha. < http://www.suigeneris.pro.br/edvariedade_historia_edu.htm > Acesso em: 23 set. 2006.
[5] Artigo publicado na Revista Espaço Acadêmico, n. 29, Out. 2003 (mensal). Disponível em: Acesso em: Acesso em: 23 set. 2006.
[6] Publicado no site da Suigeneris. História da educação. Autoria de Maria Lúcia A. Aranha. Disponível em: < http://www.suigeneris.pro.br/edvariedade_historia_edu.htm > Acesso em: 23 set. 2006.
[7] Resumo publicado na Miniweb. Cuja fonte citada é Pesquisas Barsa de Editorial Barsa Planeta, Inc. Disponível em: < http://www.miniweb.com.br/Educadores/Artigos/resumo_educacao.html > Acesso em: 23 set. 2006.
[8] Período que compreendeu entre os séculos II e VIII d. C. Representa o ponto de vista dos Padres da Igreja Católica na sua formação inicial.
[9] Corresponde a fase que compreende do século IX até o fim do século XVI. A filosofia da época da segunda metade da Idade Média que era ensinada nas escolas. Por isso, Escolástica.
[10] Resumo publicado na Miniweb. Cuja fonte citada é Pesquisas Barsa de Editorial Barsa Planeta, Inc. Disponível em: Acesso em: 23 set. 2006.
[11] Resumo publicado na Miniweb. Cuja fonte citada é Pesquisas Barsa de Editorial Barsa Planeta, Inc. Disponível em: Acesso em: 23 set. 2006.
[12] Homem no centro das atenções, ideais do humanismo que embalaram os renascentistas.
[13] Publicado no site da Suigeneris. História da educação. Autoria de Maria Lúcia A. Aranha. Disponível em: < http://www.suigeneris.pro.br/edvariedade_historia_edu.htm > Acesso em: 23 set. 2006.
[14] Artigo publicado na Revista Espaço Acadêmico, n. 29, out. 2003 (mensal). Disponível em: Acesso em: Acesso em: 23 set. 2006.
[15] Publicado no site da Suigeneris. História da educação. Autoria de Maria Lúcia A. Aranha. Disponível em: Acesso em: 23 set. 2006.
[16] Segundo informação de Ijuim, professora da Universidade Federal de Juiz de Fora, em palestra proferida na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, em 19/11/1999.
[17] Publicado no site da Suigeneris. História da educação. Autoria de Maria Lúcia A. Aranha. Disponível em: Acesso em: 23 set. 2006.
[18] Idem.
[19] Publicado na página on-line da Revista de Psicologia Catharsis. Disponível em: < http://www.revistapsicologia.com.br/materias/estadoAlerta/pensandoGlobalizacao.htm> Acesso em: 29 jun. 2006.
[20] Artigo intitulado: Informação, percepção e comunicação. MORAN, J. M. Disponível em: < http://www.eca.usp.br/prof/moran/percep.htm > Acesso em: 12 jul. 2006.
[21] Artigo intitulado: Informação, percepção e comunicação. MORAN, J. M. Disponível em: (grifos do autor). Acesso em: 12 jul. 2006.
[22] Artigo publicado na Revista Ciência da Informação, vol. 33, n. 3 Brasília, Set./Dez. 2004. Através da SciELO. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-19652004000300002 > Acesso em: 8/9/2006.
[23] Artigo publicado na Revista de Sociologia e Política, n. 21, Curitiba, nov. 2003. Através da SciELO. Disponível em: > Acesso em: 8 set. 2006.
[24] Artigo publicado na Revista Ciência da Informação, vol.33, n. 3, Brasília Set./Dez. 2004. Através da SciELO. Disponível em: Acesso em: 8 set. 2006.
[25] Artigo publicado no site da USP. A educação está mudando radicalmente. Autoria de José Manuel Moran. Disponível em: < http://www.eca.usp.br/prof/moran/mudando.htm> Acesso em 28 ago. 2006.
[26] Artigo publicado no site da USP. Bases para uma educação inovadora. Autoria de José Manuel Moran. Disponível em: < http://www.eca.usp.br/prof/moran/bases.htm> Acesso em 28 ago. 2006.
[27] Artigo publicado no site da USP. A educação está mudando radicalmente. Autoria de José Manuel Moran. Disponível em: < http://www.eca.usp.br/prof/moran/mudando.htm> Acesso em 28 ago. 2006.
[28] Artigo publicado no site da USP. Gestão comunicativa e educação: caminhos da educomunicação. Autoria de Ismar de Oliveira Soares. Disponível em: Acesso em 30 out. 2006.
[29] Texto de autoria de Iracema Schoeps publicado no endereço eletrônico: Acesso em: 28 ago. 2006.
[30] Texto publicado no endereço eletrônico: Acesso em: 28 ago. 2006.
[31] Texto publicado no endereço eletrônico: Acesso em: 28 ago. 2006.
[32] Artigo publicado no site da USP. Gestão comunicativa e educação: caminhos da educomunicação. Autoria de Ismar de Oliveira Soares. Disponível em: Acesso em 30 out. 2006.
[33] Texto publicado no endereço eletrônico: Acesso em 28 ago. 2006.
[34] Artigo publicado no site da USP. A educação está mudando radicalmente. Autoria de José Manuel Moran. Disponível em: < http://www.eca.usp.br/prof/moran/mudando.htm> Acesso em 28 ago. 2006.
[35] Artigo publicado no site da USP. Por onde caminha a educação básica. Autoria de José Manuel Moran. Disponível em: < http://www.eca.usp.br/prof/moran/caminha.htm> Acesso em 28 ago. 2006.
[36] Publicado no jornal Boca on-line. Disponível em: Acesso em: 6 nov. 2006.
[37] Disponível em: Acesso em: 30 out. 2006.
[38] Disponível em: http://www.usp.br/educomradio/centro-oeste/noticias/noticia2.asp?cod_not=492> Acesso em: 30 out. 2006.
[39] Site da USP. Disponível em: http://www.usp.br/educomradio/noticias/noticia2.asp?cod_not=1542> Acesso em: 30 out. 2006.
[40] Publicado no jornal Boca do Greiner on-line. Disponível em: Acesso em: 30 out. 2006.
[41] Publicado por nós no jornal Boca on-line. Disponível em: Acesso em: 30 out. 2006.
[42] Artigo publicado no site da USP. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias. Autoria de José Manuel Moran. Disponível em: Acesso em 28 ago. 2006.
[43] Publicado no site Caminhos da UFMS. Escola promove protagonismo juvenil utilizando a internet. Autoria de Lynara Souza e Tatiane de Queiroz. Disponível em: Acesso em: 30 out. 2006.
[44] Boca do Greiner on-line. Disponível em: Acesso em: 30 out. 2006.
[45] Ângelo Smaniotto, Daniele Tomadon, Maria Eunice Cardoso e Thaís Bett.
[46] Site da Escola Estadual Pe. João Greiner. Disponível em: < http://greinernet.vilabol.uol.com.br > Acesso em: 30 out. 2006.
[47] Publicado por nós no jornal Boca do Greiner on-line. Disponível em: Acesso em: 30 out. 2006.
[48] Publicado por nós no jornal Boca do Greiner on-line. Disponível em: Acesso em: 6 nov. 2006.
[49] Publicado no jornal Boca on-line. Disponível em: Acesso em: 6 nov. 2006.
[50] Idem.
[51] Publicado no jornal Boca do Greiner on-line. Disponível em: Acesso em: 6 nov. 2006.
[52] Boca on-line. Disponível em: Acesso em: 6 nov. 2006.
[53] Idem.
[54] Publicado no jornal Boca on-line. Disponível em: http://bocadogreiner.vilabol.uol.com.br/arquivo-bocaon-line-2006.html> Acesso em: 6 nov. 2006.
[55] Boca on-line. Disponível em: Acesso em: 6 nov. 2006.
[56] Fonte: Todos os gráficos foram resultado de uma pesquisa de campo realizada pelo autor, Campo Grande, 2006.
Publicado por: DURVAL RABELO GUIMARÃES FILHO
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