EDUCAÇÃO NA MODERNIDADE LÍQUIDA: O DESAFIO EM EDUCAR

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1. RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo identificar as crises na educação, estudar e analisar as mudanças socioculturais, principalmente no final do século XX e no século XXI, as quais implicam diretamente no campo educacional. Constituindo-se em um trabalho de investigação qualitativa, por meio de revisão de literatura, considerando a aproximação que se estabelece com o objeto de pesquisa de modo descritivo e interpretativo, como aponta o autor Bauman (1999; 2001; 2003; 2007; 2010; 2013), e alguns outros autores. Além de analisar essas mudanças, buscamos instigar o leitor a confrontar essa realidade e que possam propor novos métodos de ensino que possuam eficácia em tempos tão remotos com constantes mudanças. A problemática e a complexidade da modernidade líquida, principalmente no campo educacional, nos remetem a repensar as práticas educacionais, e acima de tudo despertar o pensamento crítico no aluno, para que o mesmo possa além do campo escolar, saber viver em sociedade.

Palavras-chave: mudanças, modernidade líquida, educação, tecnologias, desafios

2. INTRODUÇÃO

A crise na educação contemporânea, tem ligações diretas com as mudanças na sociedade, segundo Bauman (2001), as pessoas modificaram a forma de interpretar o mundo e, consequentemente, o consumo. O homem da modernidade líquida passa a ser marcado pelo fim dos padrões, da segurança, da estabilidade e das certezas. Surgindo o relativismo, a indefinição, o medo e a insegurança.

Esse relativismo acaba afetando diretamente a educação, pois deixa de lado um modelo universal, para aderir um modelo totalmente sem forma e que se modifica rapidamente.

Reflete-se a necessidade de pesquisar sobre esse tema desenvolvido por Bauman sobre a modernidade líquida e, sobre tudo o que ela reflete no campo da educação. As transformações e desestruturações de modelos tradicionais, tema qual é abordado diariamente entre educadores do mundo todo. Foi abordado juntamente no curso de licenciatura de filosofia, visando um repensar diante de novas tecnologias.

Diante de tais aspectos, este trabalho analisa as transformações sociais, buscando a compreensão das intensas crises que se multiplicam no campo da educação e propondo novos modelos educativos, rompendo com a estrutura educacional tradicional e implantado um novo meio de ensino prático que surta efeitos em uma sociedade pós-moderna.

O mundo do lado de fora das escolas, cresceu de uma maneira diferente daquele para o qual elas estavam preparadas a educar nossos alunos. Em tais circunstâncias, preparar para toda a vida vai adquirir um novo significado diante das atuais circunstâncias sociais. Ou, no mínimo, certa descrença em relação ao seu potencial aplicativo.

Em todas as épocas, o conhecimento foi avaliado com base em sua capacidade de representar fielmente o mundo. Mas como fazer quando o mundo muda de uma forma que desafia constantemente a verdade do saber existente, pegando de surpresa até os mais “bem-informados”? (BAUMAN, 2010, p. 43).

Metodologicamente, constitui-se em um trabalho de investigação qualitativa, por meio de revisão de literatura, considerando a aproximação que se estabelece com o objeto de pesquisa de modo descritivo e interpretativo.

Para isso o aporte teórico baseia-se no sociólogo Zygmunt Bauman, dentre outros autores, para melhor compreender essas transformações no cenário pós-moderno, ou modernidade liquida como prefere o sociólogo, por considerar “pós-modernidade” um conceito ideológico.

Bauman escolhe o “líquido” como metáfora para ilustrar o estado dessas mudanças: facilmente adaptáveis, fáceis de serem moldadas e capazes de manter suas propriedades originais.

3. Entre Mudanças e Desafios

3.1. Características Históricas de Transformação Social

Mudanças e transformações nos aspectos sociais sempre existiram e ocorreram de tempos em tempos. “O século XVIII finaliza os processos de profundas mudanças: no campo econômico, político, social e científico. Iniciados desde o século XVI” (Silva, 2018, p. 01), essas mudanças foram ocasionadas por dois movimentos: A Revolução Industrial e o Iluminismo[3]. Os quais transformaram radicalmente a sociedade, de um modelo totalmente artesanal e dogmático, para uma sociedade industrializada e com o pensamento liberto.

Com a implantação da indústria nas cidades, houve um grande êxodo rural, fazendo com que essas pessoas migrassem para esses polos em busca de trabalho e melhores condições de vida, resultando assim no crescimento exponencial das mesmas. Para Hobsbawm (1977 p.44 apud SILVA, 2018, p.07),

[...] pela primeira vez na história da humanidade, foram retirados os grilhões do poder produtivo das sociedades humanas, que daí em diante se tornaram capazes da multiplicação rápida, constante, e até o presente ilimitada, de homens, mercadorias e serviços. Este fato é hoje tecnicamente conhecido pelos economistas como a “partida para o crescimento auto-sustentável”. Nenhuma sociedade anterior tinha sido capaz de transpor o teto que uma estrutura social pré-industrial, uma tecnologia e uma ciência deficientes, e consequentemente o colapso, a fome e a morte periódicas, impunham a produção.

Além das mudanças socioeconômicas acontecendo nesse período, o pensamento também passou a ser modificado, principalmente com o Iluminismo. Os “Iluministas acreditavam que a humanidade estava emergindo de uma era de obscurantismo e de ignorância para um novo tempo, iluminado pela razão, pela ciência e pelo respeito à humanidade” (STRENGER, 1998 apud SILVA 2018, p.5).

O movimento cultural Iluminista foi que destronou o dogmatismo Cristão, que perdurara por mais de mil anos na Europa, dando espaço para a racionalidade, a física, matemática e as artes, iniciando-se assim a modernidade.

No século XX tivemos a revolução digital, com início entre o final dos anos 1950 e 1970. Iniciando com a invenção do transistor[4], e não muito tempo depois com o computador. Entremeio a pesquisa, eventualmente, esbarraram numa tecnologia conhecida como Internet (JOVANA, 2017).

Hoje em pleno século XXI a sociedade continua a se modificar. Essas mudanças atuais, são frutos de mudanças que ocorreram no século passado, após a revolução digital, com avanços principalmente na área tecnológica.

3.2. Modernidade Líquida

Segundo Bauman (2001), falando sobre a sociedade, o mesmo utiliza o termo “sociedade líquida”[5], para fazer uma analogia ao estado da matéria que se transforma. Para Bauman, “‘Líquido-moderna’ é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas, das formas de agir” (BAUMAN, 2007, p.7).

O que Bauman demonstra como modernidade líquida, é uma fase que se defronta à modernidade sólida, a época em que se desenhou e consagrou-se com a Revolução Industrial, o Iluminismo e incontáveis eventos e teorias que formularam um mundo por uma racionalidade que definiu um saber fazer, baseado na soberania da ciência, no cálculo, na lógica, na efetividade do planejamento, na indústria, na continuidade e na fidelidade aos compromissos.

[...] “Derreter os sólidos” significava, antes e acima de tudo, eliminar as obrigações “irrelevantes” que impediam a via de cálculo racional dos efeitos; [...] Por isso mesmo essa forma de “derreter os sólidos” deixava toda a complexa rede de relações sociais no ar – nua, desprotegida, desarmada e exposta, impotente para resistir às regras de ação e aos critérios de racionalidade inspirados pelos negócios, quanto mais para competir efetivamente com eles (BAUMAN, 2001, p.10).

 Para Bauman (2001), é nesse estado de liquidez, em que toda a estrutura social sólida se desestrutura, descontruindo todos os moldes tradicionais e valores presentes, volatilizando a ação do indivíduo que abandona suas referências.

São esses padrões, códigos e regras a que podíamos nos conformar, que podíamos selecionar como pontos estáveis de orientação e pelos quais podíamos nos deixar depois guiar, que estão cada vez mais em falta. Isso não quer dizer que nossos contemporâneos sejam livres para construir seu modo de vida a partir do zero e segundo sua vontade, ou que não sejam mais dependentes da sociedade para obter as plantas e os materiais de construção. Mas quer dizer que estamos passando de uma era de 'grupos de referência' predeterminados a uma outra de 'comparação universal', em que o destino dos trabalhos de autoconstrução individual […] não está dado de antemão, e tende a sofrer numerosa e profundas mudanças antes que esses trabalhos alcancem seu único fim genuíno: o fim da vida do indivíduo (BAUMAN, 2001 p. 14).

Essas mudanças são uma repetição da quais aconteceram em outras épocas, onde houve segundo Bauman (2001), um “derretimento” dos parâmetros sociais e a desconstrução dos paradigmas das sociedades, os quais se permanecem no estado “líquido” até que se torne sólidos novamente por ações dos indivíduos de determinado momento.

É um processo de destruição para a construção, uma substituição de determinados valores e a criação de um novo ordenamento, com valores próprios para a compatibilidade das relações humanas, aonde a vida não para e nem pode parar, pois assinala-se como uma busca incessante por modernização, porque se não fizerem isso, acabam sendo excluídos.

Se a vida pré-moderna era uma encenação diária da infinita duração de todas as coisas, exceto a vida mortal, a vida líquido-moderna é uma encenação diária de transitoriedade universal. O que os cidadãos do mundo líquido-moderno descobrem é que nada nesse mundo se destina a durar, que dirá para sempre (BAUMAN 2013, p.22).

Essa sociedade líquido-moderna acabou com a durabilidade das coisas que nela existe, tudo passou a ser descartável. Vivemos em um cenário projetado a alterações e substruções, volatilizando as ações dos indivíduos.

3.3. O Impacto da Internet na Sociedade

Percebemos profundas mudanças na sociedade pós-modernidade, contudo, “na década de 1990, a grande inovação foi a internet. Ela provocou grandes mudanças, interferindo na estrutura dos diferentes sistemas e transformando as relações e as comunicações globais” (BRITO; PURIFICAÇÃO, 2017, p.63).

Podemos dizer que a humanidade está quase que inteiramente conectada, a comodidade que a internet provoca permite que a informação venha até você, diferentemente de outras épocas, a informação se tornou instantânea.

Zygmunt Bauman no evento, Educação 360, explicou que a educação é vítima da Modernidade Líquida, o pensamento está sendo influenciado pela tecnologia, nós estamos seduzidos pelos recursos das mídias digitais por causa do nosso medo de sermos abandonados. Mas uma vez imerso na rede de relações on-line, que tem uma falsa ideia de ser facilmente manuseada, nós perdemos ou não adquirimos habilidades sociais, que poderiam nos ajudar a extirpar as causas dos medos que vêm do mundo off-line. Assim, as redes sociais são, simultaneamente, produto da modernidade líquida e a sua válvula de escape. (ALAFNO, 2015)

Em pleno século XXI, com todo esse avanço tecnológico e o acesso à internet por uma grande parte da população mundial, criou-se uma novo espaço de comunicação chamado de ciberespaço[6], Fileno (2007 apud BRITO; PURIFICAÇÃO, 2017, p. 104), considera o ciberespaço um mundo mágico, o qual não possui fronteiras, limites e barreiras. Quando se adentra a esse mundo, por meio de aparelhos tecnológicos, o leitor da internet torna-se o próprio autor e construtor de informações.

Nestes tempos de desintegração social e ambiental, os prosélitos atuais do ciberespaço proferem seu domínio como um ideal “acima” e “além” dos problemas do mundo material [...] os campeões do ciberespaço saúdam-no como um lugar onde o eu será libertado das limitações da encarnação física. (BAUMAN, 1999, p.26)

O grande problema decorrente desta inserção massiva de jovens ao ciberespaço nos aponta Bauman (2001), pois os mesmos estão munidos com confessionários eletrônicos portáteis, sendo apenas aprendizes treinando e treinados na forma de viver numa sociedade confessional, uma sociedade explicita por afastar a fronteira que antes separava o privado e o público, por transformar o ato de expor publicamente o privado numa grandiosidade virtuosa e uma obrigatoriedade pública.

Não há como contestar que a internet nos trouxe grandes vantagens, explicou Bauman, mas assim como sugiram vantagens também surgiram as desvantagens, principalmente no aspecto pessoal, a praticidade no modo de se obter informações, transformou o ser humano em um ser imediatista, sem paciência e com dificuldades de concentração. (ALFANO, 2015)

A individualização é outra das desvantagens provocadas pela internet, “a fragilidade e transitoriedade dos laços pode ser um preço inevitável do direito de os indivíduos perseguirem seus objetivos individuais” (Bauman 2001, p.96), pois a mesma provoca o isolamento de seus usuários, um afastamento da realidade física, fazendo assim com que se perca a capacidade de interação com os outros indivíduos, isso é muito comum em sala de aula. Essa carência de interação de pessoa para pessoa, provoca a degradação da classe e o desinteresse de estar no ambiente escolar.

A vida virtual está se tornando cada dia mais presente, o número de usuários da internet por meio de aparelhos tecnológicos, indiferente da faixa etária, cada dia se torna maior, nesta sociedade líquida, a necessidade de estar conectado é iminente, pois podemos através das redes sociais escolher nosso grupos de afinidade.

A diferença entre a rede social e a comunidade, nos explica Bauman, é que a rede pertence a você, podendo adicionar e deletar pessoas, e controlar com quem você se relaciona. Esse poderio faz com que o sujeito se sinta melhor e seguro, sem temer a solidão, grande ameaça em tempos individuais. As redes sociais se tornaram um lugar seguro e acolhedor, local onde as relações se dão por proximidades intelectivas e não mais pelas proximidades físico locais.

Essa praticidade na vivência virtual, de contato com os que possuem pensamentos e gostos semelhantes, e o bloqueio dos contrários, faz com que cada dia mais pessoas se tornem adeptas dessa atividade virtual. De acordo com Bauman, “[...] a combinação extraordinária e assustadora do etéreo com a onipotência, do não-físico com o poder conformador da realidade” (1999, p. 26).

O advento internet é o principal responsável pelas mudanças comportamentais e de relações humanas, servindo com um acelerador de processos e facilitador das relações. A necessidade de se estar conectado tornou-se tão forte que as pessoas acordam, caminham, alimentam e muitas vezes, acabam não dormindo, fazendo uso das redes sociais e outros aplicativos.

3.4. Desafios da Educação na Modernidade Líquida

Podemos perceber notáveis mudanças no cenário educacional na modernidade liquida, na forma de produção, distribuição, aquisição, assimilação e utilização, pois o aluno deixou de ser alguém passivo, para se tornar parte da construção do conhecimento. Em entrevista Zygmunt Bauman fala que não há como voltar à situação em que o professor é o único conhecedor, a única fonte, o único guia. Neste sentido precisamos não apenas alimentar os alunos com conteúdo, mas sim com o pensamento crítico, capaz de reverter modelos hoje inábeis de dar conta de dialogar com o cenário atual. (ALFANO, 2015)

Esse novo cenário traz grandes desafio ao decente onde explica Moran (2015 apud BRITO; PURIFICAÇÃO, 2017, p. 105),

Com a chegada da internet nos defrontamos com as nova possibilidades, desafios e incertezas no processo de ensino-aprendizagem. Não podemos esperar das redes eletrônicas a solução mágica para modificar profundamente a relação pedagógica, mas [elas] vão facilitar como nunca antes a pesquisa individual e grupal, o intercâmbio de professores com professores, de alunos com alunos, de professores com alunos.

Nesse sentido ocorre a necessidade do docente inovar, compreender e falar a mesma linguagem do aluno, essa proximidade de ambas as partes é fundamental, as relações afetivas como sendo importantes, visto que a construção e transmissão de conhecimentos proposta pela escola acaba gerando uma relação interpessoal, uma troca de experiências entre os indivíduos.

Ainda considerando a questão da inovação dentro da sala de aula, uma porcentagem muito alta de professores não conseguem inovar, utilizar das tecnologias educacionais disponíveis no ambiente, como nos aponta Brito e Prificação, (2017, p. 51),

[...]temos percebido que há uma grande tendência de profissionais da educação, de diversos níveis, pensarem apenas na ferramenta computador, da qual já admitiram abertamente sentir “medo”. Entretanto, no momento em que se desenvolve uma atividade na qual esse profissional se depara com o manuseio de outro recurso tecnológico, como retroprojetor, esse medo não é explicitado. Alguns demonstram até certo desdém por esse recurso, ao mesmo tempo em não conseguem manuseá-los (ligar/desligar/ajustar o foco) e explora-lo de forma criativa na sala de aula.

A falta de domínio dessas ferramentas tecnológicas, principalmente do computador pelo professor, acaba causando um certo afastamento do aluno, pois o mesmo detém domínio quase por completo da máquina, além de que “com frequência, o aluno domina muito mais essa tecnologia que o seu professor” (BRITO; PURIFICAÇÃO, 2017, p.79).

Um grande percentual de professores atuantes são da geração passada, o quais não tiveram acesso a essa tecnologia em sua formação, e por isso acabam não tendo um bom relacionamento com aparatos tecnológicos, além do receio em mudar; mudar sempre foi o maior dilema da humanidade, o novo sempre promoveu espanto, ainda mais para quem não teve um formação tecnológica.

Na escola, esse sentimento de ambivalência entre professores permanece entre querer mudar ou não mudar, desejar o novo e teme-lo, sitiando-os sempre às voltas com esses conflitos, quase nunca explícitos, mas passíveis de serem percebidos nas mais diferentes situações no dia a dia das escolas (BRITO; PURIFICAÇÃO, 2017, P.83).

Para esses professores a única saída aponta Brito e Purificação (2017, p. 47), é a formação continua para que esses docentes consigam melhor manuseá-las e entender a tecnologia como uma aliada na educação.

É necessário fazer com que o professor saiba atuar diante a esse modelo de sociedade tecnológico, com “o uso dos recursos tecnológicos que possam apoia-lo em sua atuação em sala de aula e na dinâmica de investigações de suas próprias práticas” (BRITO; PURIFICAÇÃO, 2017 p.18), pois a tecnologia tanto na sociedade quanto em sala de aula é uma realidade, perante a isso nos aconselha Bauman: - Não há como conceber a sociedade do futuro sem tecnologia. Então, se não pode vencê-la, una-se a ela” (ALFANO, 2015).

Outro grande problema que encontramos na educação é a questão da desatenção do aluno, como comentou Bauman no encontro, Educação 360, que os jovens não conseguem mais deter a concentração por muito tempo, a tecnologia trouxe consigo essa praticidade, o que antes era preciso ler dezenas de livros para encontrar um fragmento desejado, hoje com uma simples pesquisa no Google[7] o jovem encontra milhões de respostas para o que precisa, essa imediaticidade faz com que cada vez se torne mais difícil para o professor manter o controle em sala de aula, principalmente quando é preciso que seja feito leituras (ALFANO, 2015).

Um dos grandes desafio que encontramos, está em manter o jovem em contato com professor em sua forma física, no ambiente escolar pois “esse novo cidadão do mundo se insere cada vez mais na sociedade das tecnologias”, (BRITO; PURIFICAÇÃO, 2017, p.24). A figura professor perdeu o encantamento e deixou ser sinônimo de conhecimento, pois o mesmo eles adquirem através de aparelhos tecnológicos ao acessarem a internet. O celular é o equipamento mais utilizado, sendo de fácil acesso e portabilidade, está presente no cotidiano dos jovens.

A desigualdade social é outro fator que acaba comprometendo não somente a educação, mas ao acesso a ela, o modelo de sociedade capitalista, acaba por limitar o acesso, segundo Bauman, o “[...] capitalismo se destaca por criar problemas, e não por solucioná-los” (BAUMAN, 2010, p. 7).

Bauman nos lembra que, nos EUA, quase 70% dos alunos na universidade vêm das classes mais altas da sociedade, enquanto apenas 3% são das camadas de baixa renda, já na Grã-Bretanha, ocorre uma inversão, quando se deveria diminuir os preços para as pessoas com menos dinheiro, cada vez sobem mais esse valor, impossibilitando uma economia necessária que possibilite que seus filhos cursem a universidade, uma reafirmação da desigualdade social (ALFANO, 2015).

A educação está calcada pela política e comprometida pelos interesses corporativos, reproduzindo privilégios as classes mais altas da sociedade e deixando de lado as camadas fragilizadas pelo sistema capitalista de consumo.

“Embora os poderes do atual sistema educacional pareçam limitados, e ele próprio seja cada vez mais submetido ao jogo consumista” (BAUMAN 2013, p.13), se instaurou uma cultura, de modo que toda uma nova geração está circundada por uma cultura da “contra-economia”[8], promovendo uma adoração à novidade, ao consumo incansável e, ao mesmo tempo insaciável.

O consumismo dos dias atuais consiste em acumular objetos, com uma descartabilidade muito forte. A educação na modernidade liquida, assim como qualquer outro produto, também passa a ser considerada um “produto”, um produto como qualquer outro que possa ser consumido e descartado.

Despertar o pensamento crítico no aluno é fundamental para que a escola e a educação façam sentido na modernidade líquida, a mera recepção não é mais cabível a esse novo aluno, pois o número de informação é muito grande e em uma velocidade muito alta. Esse número elevado de informações acaba destruindo algumas capacidades psicológicas, como atenção, concentração, consistência e o pensamento linear[9].

Para confrontar sua condição existencial e enfrentar seus desafios, a humanidade precisa se colocar acima dos dados da experiência a que tem acesso enquanto indivíduos. Ou seja, a percepção individual, para ser ampliada, necessita da assistência de intérpretes munidos com dados não amplamente disponíveis à experiência individual. E a sociologia, enquanto parte integrante desse processo interpretativo -um processo em andamento e permanentemente inconclusivo-, constitui um empenho constante para ampliar os horizontes cognitivos dos indivíduos e uma voz potencialmente poderosa nesse diálogo sem fim com a condição humana (BAUMAN, 2003, p. 31).

A problemática e a complexidade da modernidade líquida, principalmente no campo educacional, nos remetem a repensar as práticas educacionais, e acima de tudo despertar o pensamento crítico no aluno, para que o mesmo possa além do campo escolar, saber viver em sociedade.

3.5. METODOLOGIA

A metodologia utilizada no presente artigo constitui-se de investigação qualitativa, tendo como base revisão bibliográfica, que visa alcançar os objetivos que foram propostos.

Segundo Gil (2010, p.29) a pesquisa bibliográfica é “elaborada com base em material já publicado”, ou seja, através de consulta a matérias de outros autores.

Inicialmente, foi feita uma revisão bibliográfica por meio da leitura e interpretação principalmente dos livros de Zygmunt Bauman, para melhor aprofundar e descrever as transformações sociais as quais interferem diretamente no sistema educacional, também foram utilizados diversos livros de outros autores.

A revisão bibliográfica foi feita mediante leitura sistemática, com fichamento de cada obra, de modo a ressaltar os pontos pertinente ao assunto em estudo abordados pelos autores em seus livros e fontes eletrônicas que abordam o tema proposto, as fontes de pesquisa foram feitas na Biblioteca Municipal de Tapejara, livros adquiridos e pela internet. 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nossa sociedade sempre foi palco de grandes mudanças ao longo dos anos, mudando não somente o espaço físico, mas também o modo de se relacionar dos indivíduos, a primeira mudança significativa aconteceu na Revolução Industrial, considerada um divisor de águas, pois influenciou de alguma forma a vida cotidiana da época. A particularidade dessa revolução foi a substituição do trabalho artesanal pela utilização de máquinas. Esse momento é considerado pelos economistas com a partida para o crescimento autossustentável.

O Iluminismo contribui com mudanças políticas, econômicas e sociais, baseadas nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Esse movimento promoveu principalmente o modo de pensar e agir dos cidadãos, libertando os cidadãos do dogmatismo da Igreja Católica.

A Revolução Digital do século passado é a que mais influenciou a nossa sociedade, com a implantação de aparelhos tecnológicos, e principalmente a internet. Sem dúvida, a Revolução Digital resultou em ilimitados impactos sociais e mudanças difundidas no estilo de vida das pessoas, aumentando e melhorando a capacidade de comunicação e de obter informações.

Hoje vivemos em um pós-modernismo, ou Modernidade Líquida como prefere mencionar o sociólogo Zygmunt Bauman, pois considera o termo pós-moderno um conceito ideológico. O indivíduo da Modernidade Líquida traz consigo o intencionalíssimo de modificar todos os aspectos dos movimentados mencionados, pois considera algo ultrapassado e que precisa ser superado. Esse processo de superação dos modelos anteriores acaba tornando o indivíduo da Modernidade Líquida sem identidade, pois o mesmo precisa romper com os moldes sólidos da sociedade. Essa ruptura acabou tornando esse “novo ser”, em alguém fragilizado por não saber ao certo qual norte tomar. Relatividade, velocidade e medo são os principais fatores dos indivíduos.

O modelos de relação entre os indivíduos também foram afetados, sendo a internet a principal ocasionadora desse fato, a praticidade e velocidade no modo de trocar informações fez com que todos migrassem para este recurso. Hoje contamos com o ciberespaço e as redes sociais, locais onde o indivíduo pode representar ser quem ele deseja ser e com quem ele quiser. Essas mudanças nos modos das relações, fez com que as pessoas dessa sociedade perdessem a capacidade de se relacionar e o contato pessoal

Todo esse processo de fortes transformações socioculturais e pessoais, acabou atingindo também a educação, promovendo mudanças no senário educacional. Com a chegada da internet nos defrontamos com as nova possibilidades, desafios e incertezas no processo de ensino aprendizagem. O número de informações e a praticidade de obtê-las, faz com que o aluno não seja mais apenas mero receptor passivo de conhecimento, o colocando em uma posição ativa, onde por muitas vezes o aluno confronta a explicação do professor utilizando a pesquisa pela celular. Esse aspecto exige um processo inovador por parte do docente, pois o mesmo passou a ser o mediador do conhecimento ao aluno.

A inserção da tecnologia e principalmente a internet no campo educacional trouxe consigo muitos dilemas: o primeiro deles é, a falta de domínio por parte de uma grande maioria de professores, outros ficam na velha indecisão, continuar com o modelo tradicional de ensino, ou inovar, utilizando da tecnologia em sala de aula.

Pode-se notar muitos avanços provenientes da inserção da tecnologia no campo educacional, mas da mesma forma que surgiram pontos positivos, aconteceram os negativos. Manter a concentração do jovem em sala de aula está cada vez mais difícil, a facilidade ao acesso a informação tornou esse jovem impaciente e imediatista. Despertar o pensamento crítico do alunos, fazer com que ele pense sem influência da internet, é outro aspecto negativo que acaba acontecendo.

A desigualdade é o único problema que continua presente no cenário educacional, pois mesmo com todas essas mudanças, com políticas sociais e acesso a informações, uma pequena minoria de jovens humildes conseguem adentrar no ensino privado, sendo assim, uma reafirmação da desigualdade social.

A problemática e a complexidade da modernidade líquida, principalmente no campo educacional, nos remetem a repensar as práticas educacionais, e acima de tudo despertar o pensamento crítico no aluno, para que o mesmo possa além do campo escolar, saber viver em sociedade

5. REFERÊNCIAS

ALFANO, B. ‘A educação deve ser pensada durante a vida inteira’, diz Zygmunt Bauman. 2015. Disponível em o globo: . Acesso em 29 de out. de 2019.

             . Há uma crise de atenção’. 2015. Disponível em oglobo:. Acesso em 29 de out. de 2019.

BAUMAN, Zygmunt. A sociedade líquida: entrevistado por Maria Lúcia Garcia Palhares-Burke. São Paulo: Folha de São Paulo, 2003. Disponível em: . Acesso em:01 de nov. 2019.

             . Globalização: as consequências humanas, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.

             . Legisladores e intérpretes: Sobre a modernidade, a pós-modernidade e os intelectuais, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010.

             . Modernidade e ambivalência. Rio de Janeiro: Zahar, 1999

             . Modernidade líquida, Rio de janeiro: Jorge Zahar, 2001

             . Sobre educação e juventude: conversas com Ricardo Mazzeo. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

             . Sobre educação e juventude: conversas com Ricardo Mazzeo. Rio de Janeiro: Zahar, PDF, 2013. Disponível: < https://docero.com.br/doc/vn5s>. Acesso em 29 de out. de 2019.

             . Vida líquida. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007

BRITO, G. d., & PURIFICAÇÃO, I. d. Educação e novas tecnologias: um repensar. Curitiba: intersaberes, 2017.

GIL, Antonio Carlos, Como elaborar projetos de pesquisa, São Paulo: Atlas, 1991

JOVANA, S. Como a revolução digital impacta a produção de conteúdo online?, 2017. Disponível em Rock Content: . Acesso em 09 de 11 de 2019.

LINS, M. "Estamos num estado de interregno. Vivemos na modernidade líquida", 2016 disponível em Revista Consultor Jurídico: . Acesso em 07 de 11 de 2019.

QUEROL, R. D. Zygmunt Bauman: “As redes sociais são uma armadilha”, 2016. Disponível em EL PAÍS: . Acesso em 05 de 11 de 2019.

SILVA, O. V. AS GRANDES REVOLUÇÕES DO SÉCULO XVIII E O ILUMINISMO, 2018. Disponível em REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DA PEDAGOGIA -:. Acesso em 03 de 10 de 2019.

TESSARO, Augusto[1]

RU 1792798

BONFIM, Lucília[2]


[1] Aluno do Centro Universitário Internacional UNINTER. Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso: Licenciatura em filosofia – 2019.

[2] Professora Orientadora no Centro Universitário Internacional UNINTER.

[3] O iluminismo, também conhecido como século das luzes e ilustração, foi um movimento intelectual e filosófico que dominou o mundo das ideias na Europa durante o século XVIII, "O Século da Filosofia"

[4] Transístor ou transistor é um dispositivo semicondutor usado para amplificar ou trocar sinais eletrônicos e potência elétrica.

[5] É o termo cunhado pelo filósofo polonês Zygmunt Bauman para definir a atual sociedade. Ele analisa e define as relações e comportamentos rápidos e fluidos do mundo contemporâneo, impactados pelo capitalismo globalizado

[6] Ciberespaço é um espaço existente no mundo de comunicação em que não é necessária a presença física do homem para constituir a comunicação como fonte de relacionamento, dando ênfase ao ato da imaginação, necessária para a criação de uma imagem anônima, que terá comunhão com os demais.

[7] Google LLC é uma empresa multinacional de serviços online e software dos Estados Unidos.

[8] Contra-Economia é um termo originalmente utilizado por Samuel Edward Konkin III e Neil J. Schulman, ativistas teóricos libertários. Konkin definiu a contra-economia como "o estudo e/ou prática de toda ação humana pacífica que é proibida pelo Estado." A contra-economia foi integrada por Schulman na doutrina agorista de Konkin, para formar o que eles chamam de uma variante revolucionária do anarquismo de mercado

[9] O pensamento linear, ou raciocínio linear, é a forma de pensar e conseguir expor seus pensamentos de forma constante e regular.


Publicado por: Augusto Tessaro

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