EDUCAÇÃO ESCOLAR: DISCUTINDO A MEDICALIZAÇÃO BRUTAL EM UMA SOCIEDADE HIPERATIVA.

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1. Resumo

Este artigo analisa criticamente o processo crescente de medicalização da vida cotidiana e suas expressões contemporâneas no campo da educação escolar à luz dos pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural, buscando desvelar o processo de produção dos fenômenos do não aprender e não se comportar na escola, bem como os fatores que determinam sua identificação por profissionais da saúde e da educação como sintomas de doenças e transtornos. Dentre os transtornos comumente associados ao desempenho escolar de crianças na atualidade, são destacados e analisados o TDAH e o comportamento na aprendizagem. Portanto, vale destacar a relevância do tema no contexto educacional, visto que o estudo do comportamento humano, e a aplicabilidade dos estímulos dentro do ambiente escolar, se configuram como uma ferramenta imprescindível para facilitar a aprendizagem, pois diante da fundamentação teórica, percebe-se a enorme contribuição que o estudo do tema em foco tem proporcionado ao setor educacional.

Palavras-Chave: Medicalização, Problemas de aprendizagem, Psicologia Histórico-Cultural.

2. Introdução

Este artigo analisa criticamente o processo crescente de medicalização da vida cotidiana e suas expressões contemporâneas no campo da educação escolar à luz dos pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural.

O presente estudo integra as pesquisas relacionadas à problemática do Transtorno do Déficit de Atenção Hiperatividade, TDAH. Com isso, há necessidade dos profissionais dos mais diversos segmentos prepararem-se para as novas demandas existentes na sala de aula.

Inicialmente, precisa-se definir de fato, o que é hiperatividade, pois esse termo tem sido amplamente confundido com indisciplina, sendo comum a qualquer criança ser ativa, às vezes, até em excesso. Transtorno do Déficit de Atenção Hiperatividade é uma das grandes dificuldades no processo de ensino-aprendizagem enfrentadas pelas escolas, tendo em vista que nem sempre ocorrem revisões de conceitos e aperfeiçoamentos por parte dos docentes.

O objetivo geral da pesquisa é reconhecer a hiperatividade, a desatenção e a impulsividade como sintomas de um transtorno, sendo que o professor obtenha conhecimentos básicos através dos profissionais de saúde mental acerca do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Neste contexto, esta pesquisa tem como enfoque apresentar o conceito de Tdah; verificar como a escola trabalha a hiperatividade? e Esclarecer as características comportamentais dos estudantes tidos como hiperativos? E que esse material sirva de apoio e aproveitamento para professores que tenham estudantes hiperativos inclusos em suas classes.

O embasamento metodológico deste trabalho se deu através de referencial bibliográfico e de uma pesquisa exploratória, analisando os vários fatores que podem influir nas dificuldades de aprendizagem dos alunos com TDAH. Os métodos utilizados para a realização da pesquisa serão uma pesquisa bibliográfica e uma entrevista estruturada com embasamento teórico. Pretende-se desenvolver a pesquisa tendo como público alvo, cinco professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

3. Referencial Teórico

Segundo o artigo analisa criticamente o processo crescente de medicalização da vida cotidiana e suas expressões contemporâneas no campo da educação escolar à luz dos pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural.

Como indicam Eidt e Tuleski (2007, p. 222), já no final do século XIX há registros de pesquisas sobre crianças agressivas com dificuldades de controlar seus impulsos. Mas, apenas a partir da década de 1970, o interesse dos pesquisadores pelo TDHA aumenta. Na década de 1990 ele se transforma em um dos principais motivos de encaminhamento para tratamento médico e psicológico.

Vejamos a definição de TDAH e algumas considerações gerais sobre sintomas, apresentadas no Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais - IV Edição (DSM-IV) da Associação Americana de Psiquiatria:

A característica essencial do TDAH é um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade, mais frequente e severo do que aquele tipicamente observado em indivíduos em nível equivalente de desenvolvimento. [...] Os indivíduos com esse transtorno podem não prestar muita atenção a detalhes ou podem cometer erros por falta de cuidados nos trabalhos escolares ou outras tarefas. ( 2014, p. 18).

Tanto a descrição do transtorno quanto o tipo de sintomas que sustentam o seu diagnóstico revelam a falta de uma análise crítica sobre as relações entre os fenômenos que ocorrem na educação e o contexto histórico-social que a determina. Sem essa reflexão, o resultado é inevitável: muitas crianças absolutamente normais podem iniciar uma "carreira" de portadores de dificuldades de aprendizagem. A consequência lógica desse olhar patologizante é a indicação de tratamento das crianças com TDAH o mais cedo possível.

Do ponto de vista da Psicologia Histórico-Cultural, a atenção depende do desenvolvimento da capacidade humana de selecionar os estímulos e do controle voluntário do comportamento, sem os quais não seria possível aos homens desenvolver uma atividade coordenada com vistas a alcançar fins determinados (Luria 1991, p. 229).

O conceito de atividade tal como foi desenvolvido, especialmente por Leontiev (1978a, 1978b, p. 44), traz inúmeras repercussões para a reflexão crítica sobre as práticas educativas. Por ora, vamos nos deter apenas em uma questão que nos interessa mais diretamente nesse momento: o aluno deve manter-se ativo no processo educativo fundamentalmente porque essa é uma condição indispensável à apropriação dos conteúdos escolares.

Concordamos com Eidt (2007, p. 223) no sentido de que há muitas semelhanças nas descrições comportamentais de crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH e daqueles considerados indisciplinados. É evidente que não se pode realizar nenhum trabalho pedagógico sem disciplina. Entretanto, ela é importante apenas quando construída cotidianamente com a finalidade de se colocar a serviço da função social da escola: socializar conhecimentos e desenvolver pensamento crítico. Mas, infelizmente, estamos caminhando cada vez mais em direção ao recrudescimento da patologização.

3.1. Relação entre Aprendizagem e Comportamento

A aprendizagem no contexto educacional configura-se como um processo de suma importância para o desenvolvimento do indivíduo no âmbito físico, cognitivo, social e moral. É através da aprendizagem que o ser humano se posiciona como alguém capaz de pensar, se decidir, de questionar, além de capacitar o mesmo para sua inserção no meio social.

Nesse contexto, a perspectiva teórica comportamental possui uma relação estreita com a aprendizagem, visto que o comportamento humano pode ser entendido como ação recíproca entre aquilo que o indivíduo faz e o ambiente em que ele vive. Logo, a estimulação provocada pelo meio social reflete, segundo essa perspectiva, diretamente nas ações do sujeito, remetendo suas respostas.

Entende-se que o comportamento humano se apresenta a partir da relação existente entre o ambiente e as ações de um indivíduo. Nisto, nota-se que há uma relação estreita de interação, que realmente afeta o comportamento. É nessa perspectiva que esse tema será abordado no ambiente escolar no que tange a aprendizagem.

O processo que envolve a aprendizagem é norteado pelo “uso e desenvolvimento de todos os poderes, capacidades, potencialidades do homem, tanto físicas, quanto mentais e afetivas”. Campos (1986). Isso implica que a aprendizagem não se limita apenas a memorização ou a mente, e sim engloba o ser em sua totalidade, ou seja, todos os aspectos pertinentes ao indivíduo são essenciais.

Portanto, a aprendizagem no contexto educacional é capaz de produzir mudanças importantes no indivíduo que irão refletir positivamente futuramente com interações com o ambiente, ou seja, essa mudança é necessária, pois a vida exige novas formas de aprender para atender as novas demandas produzidas pelo ambiente por meio da cultura.

Sendo um tema de suma importância na conjuntura social, é interessante esse estudo, visto ser essencial compreender o comportamento humano e entender o quanto ele influencia o processo da aprendizagem.

4. Metodologia

A pesquisa foi desenvolvida na Escola Estadual de Ensino Fundamental Vasconcelos Brandão, localizada na Avenida Álvaro Gaudêncio, centro, na cidade de Serra Branca no Cariri Paraibano. Possui 400 alunos divididos em três turnos (manhã e tarde, o ensino regular; noite, a modalidade EJA). A escola tem prédio próprio, contem 1 diretoria, 1secretaria, 1 cantina, 8 salas de aula amplas e bem arejadas, banheiros (masculino e feminino, com acesso a deficientes), 1 biblioteca, pátio extenso e é de fácil acesso ao público.

Este tipo de pesquisa tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. A grande maioria dessas pesquisas envolve: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que estimulem a compreensão (GIL, 2007, p. 42). Neste sentido, a presente pesquisa classifica-se como “Pesquisa Exploratória” e também “Pesquisa Bibliográfica”. A Pesquisa Bibliográfica: é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Não recomenda-se trabalhos oriundos da internet. (GIL, 2008, p. 44).

Os participantes da pesquisa foram 05 professores do Ensino Fundamental, todos têm formação superior. O instrumento de pesquisa foi através da entrevista. As entrevistas constituem uma técnica alternativa para se coletar dados não documentados sobre um determinado tema (Pádua, 2000, p. 66).

5. Resultados e discussão

Nosso primeiro e segundo questionamentos, quando perguntados se na sala de aula tinham alunos com TDAH e se sabiam identificar uma criança hiperativa? Dos 05 professores, mais da metade respondeu que sim e o restante não sabiam responder. Mostrando que os professores sabem reconhecer uma criança com TDAH ou hiperativa.

Gráfico 1- Se na sala de aula tinham alunos com TDAH e se sabiam identificar uma criança hiperativa.

Fonte: Lócus da Pesquisa.

De acordo com o gráfico acima, mostra que os professores sabem identificar uma criança com Tdah, mas ainda tem suas dúvidas.

Segundo afirma Eidt (2009, p. 22), o quadro que aparece com maior frequência nos encaminhamentos para os centros de referência em diagnóstico infantil são crianças supostamente portadoras de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

Sendo assim, sua definição é subjetiva e imprecisa, passível a interpretações distintas, assim como o que ocorre com os critérios para seu diagnóstico.

No terceiro e quarto questionamentos, verificou se os professores ajudavam os alunos com sua medicação e qual a opinião deles sobre o uso de medicação em crianças tidas como hiperativas? Dentre os 05 professores, todos responderam que não medicam seus alunos e afirmaram que só é feita em casa.

Gráfico 2- Se os professores ajudavam os alunos com sua medicação e qual a opinião deles sobre o uso de medicação em crianças tidas como hiperativas?

Fonte: Lócus da Pesquisa.

Sendo assim, os professores preferem que os pais apliquem a medicação por que na maioria das vezes não é passado pelos médicos.

De acordo com (RODRIGUES, 2003) alerta para a constante ampliação da psiquiatria biológica, de modo que o que anteriormente era considerado uma característica de personalidade, hoje é transformado em doença. Verifica-se uma “progressiva compreensão bioquímica dos fenômenos psíquicos” (p. 15), o surgimento de diversas patologias e a administração de novos medicamentos. Este fenômeno é tão expressivo que tem sido chamado de “medicalização da vida cotidiana”.

Então, a medicalização está ligada a personalidade dos indivíduos e também ao surgimento de diversas patologias, onde se caracteriza um Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

No quinto questionamento foi abordado como os professores observavam os alunos tidos como indisciplinados? Dos 05 professores, todos responderam que seus alunos eram inquietos, jogavam papel nos outros colegas e as vezes eram agressivos.

Gráfico 3- Como os professores observam os apaís de seus alunos hiperativos?

Fonte: Lócus da Pesquisa.

Assim, os professores afirmam que o comportamento das crianças é de acordo com o mero em que estão inseridos.

Segundo (AQUINO, 1998, p. 237), ressalta que a indisciplina revela algo sobre as relações institucionais escolares na atualidade não se constituindo como um pré - requisito para ação pedagógica, mas sim como um dos produtos ou efeitos do trabalho em sala de aula.

Enfim, a escola não está cumprindo com sua função que é de socializar o indivíduo. Pois o aluno é tido como indisciplinado as situações que ocorrem em sala de aula.

6. Considerações finais

Conforme a pesquisa feita na Escola Estadual de Ensino Fundamental Vasconcelos Brandão, demonstrou que o uso da medicação em alunos diagnosticados com TDAH é muito alto. Segundo mencionado na entrevista que foi feita com cinco professores e partindo das suas falas realizamos as análises necessárias.

Concluímos que, a escola não cumpre sua função social de socialização do saber e produz problemas que serão tratados como demandas para a saúde em diferentes espaços sociais (escolas, serviços públicos de saúde, saúde mental e assistência social, consultórios etc.).

No caso da Psicologia, em sua relação com a área educacional, entendemos que se torna necessário assumir um compromisso em defesa da Educação, com base na compreensão que a escola se configura como um local privilegiado para apropriação do conhecimento e desenvolvimento do homem em direção às objetivações humano genéricas. Compromisso esse que por vezes pode ficar de lado quando o profissional tem em mãos um caso de queixa escolar.

A partir da reflexão teórica exposta nesta pesquisa, podemos entender que o papel de uma Psicologia crítica é o de compreender o homem como produto de seu tempo e que, por consequência, contribua para a diminuição de práticas medicalizantes e patologizantes, estendendo seu olhar para além do indivíduo particular. Defendo a ideia que psicólogos e educadores podem atuar na direção de uma educação verdadeiramente inclusiva em que todos os sujeitos sejam de fato respeitados em suas diferenças. Uma educação que compreenda as diferenças não como patologias ou desvios, mas como expressão da diversidade humana.

7. Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais. 5 ed. Porto Alegre: ARTMED Editora, 2014.

CAMPOS, Dinah Martins de Souza, Psicologia da aprendizagem, VOZES, Petrópolis,1986.

EIDT, N. M; TULESKI, S. C. Discutindo a medicalização brutal em uma sociedade hiperativa. In: MEIRA, M. E. M.; FACCI, M.G. Psicologia Histórico-Cultural – contribuições para o encontro entre subjetividade e a educação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007, p. 221-248.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. São Paulo: Editora Moraes, 1978.

LURIA, A. R. Curso de psicologia geral: atenção e memória (Vol.VIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991.

PÁDUA, Elisabete M.M. de. Metodologia da Pesquisa: abordagem teórico prática.6 ed. Campinas: papiros, 2000,120p. 


Publicado por: Taysa Sharleny Alves de Amorim

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