Acompanhamento mais do que escolar: palavras e vivências singulares

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1. RESUMO

O presente trabalho monográfico trata do reforço escolar, que aqui usaremos como acompanhamento escolar. Um ambiente fora da escola de origem da criança frequentadora, que tem como objetivo dar conta dos conteúdos estudados na escola, fixar os conteúdos que não foram bem compreendidos, realizar tarefas de casa ou fazer tarefas extras e tudo isso de acordo com a necessidade da criança em questão. Ao longo deste estudo foram abordadas questões e conceitos, como, por exemplo, o que é a escola e como ela é representada nos dias atuais, isto é, entende-se que hoje a escola aproxima mais a infância do tempo cronológico, não se dedicando muito às experiências da infância, frisando mais em conteúdos a serem aprendidos; como ocorre a relação família-escola e a importância de uma escola democrática para a criança. Além disso, definiu-se o acompanhamento escolar, do que se trata e a relação família-acompanhamento escolar. Análises que fundamentam a compreensão das percepções de alunos, que hoje são adolescentes, que frequentaram a sala de acompanhamento escolar durante sua infância. Com base nas memórias de 4 adolescentes, utilizou as técnicas de entrevista semi-estruturadas, conversas informais e aplicação de um questionário, para que fossem rememoradas suas infâncias e experiências nesse espaço. Sendo assim, o objetivo da pesquisa foi saber quais foram os impactos ocorridos na vida escolar desse grupo de alunas, sendo possível concluir que o ato de estudar também é aprendido e, para essas adolescentes, a ida para o acompanhamento escolar foi relevante para este aprendizado.

Palavras-chave: acompanhamento escolar, reforço escolar, reforço pedagógico.

2. INTRODUÇÃO

O reforço escolar, reforço pedagógico ou acompanhamento escolar são diferentes nomenclaturas que tem como objetivo intensificar o que foi estudado em sala de aula durante o período de letivo, dando-se sua realização sempre no contra-turno. No presente trabalho monográfico, será utilizada a expressão acompanhamento escolar para tratar dos resultados obtidos no desempenho escolar por um grupo de estudantes que frequentaram uma sala de acompanhamento escolar, localizada na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, na qual atuei durante os anos de 2015 e 2016. Uma das propostas é traçar o perfil desses estudantes que, junto com suas famílias, procuraram por esse serviço, a fim de analisar os resultados positivos e negativos no desempenho do processo de aprendizagem deles.

O tema surgiu a partir da minha experiência em uma sala de acompanhamento escolar, no qual os atendimentos ocorriam todas as tardes da semana no decorrer do ano letivo. Com esta experiência, surgiu a vontade de entender a motivação das famílias na procura deste serviço privado, uma vez que a procura é iniciada pelos responsáveis. No entanto, aqui busco entender quais foram os impactos ocorridos na vida escolar das crianças que frequentaram o acompanhamento escolar, dando importância às impressões delas. Mas validando também, a atuação da família pois, ela é imprescindível nesse processo para o desenvolvimento escolar. A participação da família desperta um sentimento de confiança nos educandos, não só no momento da aprendizagem, mas em todas atividades dentro e fora da escola.

Minha proposta de trabalho com as crianças era tanto em grupo como individualmente, de modo que sempre fosse possível ocorrer a interação entre eles que eram de diferentes instituições e séries do ensino. Visto que, de acordo com Vygotsky (Fino, 2001), o indivíduo aprende com o outro, pois a aprendizagem se dá primeiro de forma coletiva e depois, individual. Segundo o autor, a aprendizagem é um processo social e o conhecimento é algo socialmente construído, por conta disso o educador precisa possibilitar que o educando seja capaz de compreender conhecimentos, habilidades e valores que foram interiorizados. Em vista disso, era estimulada sempre a relação estudante-estudante e professora-estudante, para que fosse possível ocorrer uma troca de experiências e saberes. Além disso, outro intento era possibilitar a participação dos familiares nas atividades pedagógicas na sala de acompanhamento escolar. Pois acredito que, para a compreensão do comportamento e aprendizagem da criança, é importante saber como ela percebe a realidade (Moreira, 1999).

Seguindo também, a teoria de aprendizagem de Carl Rogers (Moreira, 1999), é necessário possibilitar momentos em que o estudante possa contar e recontar suas experiências, concentrando-se naquilo que é interessante para ele, acreditando no seu potencial e criando condições favoráveis para sua aprendizagem, além de favorecer seu crescimento e autoconhecimento. E o trabalho em uma sala de acompanhamento escolar possibilita que o professor tenha esse olhar mais voltado para o como o estudante aprende e não aprende, e não para quando ele aprende e não aprende. De modo que seja possível buscar diferentes estratégias para melhorar o seu desempenho escolar.

Em muitas situações o educando não é estimulado ao hábito de estudo contínuo, o qual pode ser aprendido na família, escola ou no acompanhamento escolar. Às vezes as famílias não sabem como fazê-lo ou não têm instrução da escola para buscar medidas além da sala de aula, como, por exemplo, com a explicadora, para estudo de conteúdos específicos ou a realização da tarefa de casa, ou busca pelo acompanhamento escolar para o estabelecimento desse hábito de estudar diariamente.

O propósito da instituição que encaminha o estudante para o reforço é que ele busque auxílio para suas dificuldades e dúvida a respeito dos conteúdos escolares. Mas, conforme é feita essa proposta, o estudante pode acabar sendo taxado como aquele que tem dificuldade de aprendizagem, o que afeta a sua autoestima. Para isso, é primordial fazer um trabalho voltado para a aprendizagem significativa (Moreira, 1997), para que o mesmo reconheça a importância da troca de saberes com outros, para além da sua sala de aula e da aprendizagem daquele conteúdo e enxergue nele sentido nesse conhecimento.

Nesta perspectiva também é necessário, que o educador possibilite que o educando entenda que ele é ativo no processo educativo, pois ele tem modos próprios de elaboração cognitiva e maneiras de compreender o mundo, portanto é preciso que o espaço de acompanhamento escolar “deixe-o-falar” e o “faça-falar”. Em outras palavras, o sujeito precisa de ferramentas para a construção do seu conhecimento e para isso é necessário fazer junto. Uma vez que a aprendizagem com o auxílio de outrem mais experiente é necessariamente mais produtiva que a aprendizagem solo, é preciso a cooperação educador-educando-educandos (Fino, 2001). Mas sempre respeitando o processo e desenvolvimento de cada indivíduo, pois existem aqueles que se sentirão mais confortáveis trabalhando em grupo e outros individualmente. É importante compreender os processos de aprendizagem de cada estudante.

O olhar atencioso do professor regente para o estudante é necessário para ser encaminhado para o acompanhamento escolar. É preciso perceber quais são as dificuldades, realizar um trabalho junto ao educando e à família, e criar um diálogo entre a classe de acompanhamento escolar, classe do aluno no ensino regular e família.

O acompanhamento escolar, nesse sentido não é posto de forma para recuperar conteúdos ou aprendizagem que deveriam ter ocorrido no processo formal da escola, e sim de conduzir, complementar, observar e auxiliar o estudante no seu processo, criando mecanismos para que sua aprendizagem e formação sejam efetivadas. Essa metodologia, não foca na realização do trabalho de casa, que é tradicionalmente considerada uma estratégia de ensino para a fixação, revisão, reforço e preparação para aulas e provas. Entende-se que o trabalho de casa é parte importante do processo de ensino-aprendizagem, porém o acompanhamento escolar é voltado para o processo de aprendizagem e compreensão de conteúdos e saberes do estudante, focado em buscar diferentes estratégias para diversos processos do aprender.

Para tratar dessa questão, será realizada uma pesquisa de campo com crianças que frequentaram uma sala de acompanhamento escolar entre os anos de 2015-16 a fim de analisar que resultados elas perceberam sobre desempenho escolar delas. Também será analisado como foi a experiência para esse grupo, de modo que seja possível compreender os pontos positivos e negativos nesse processo verificando, por exemplo, alterações nas notas, organização do material escolar e aprendizagem entre pares. Minha proposta é verificar as mudanças indicadas pelas crianças no antes e depois – comportamentos e aprendizagem – ao frequentarem a sala de acompanhamento. Sendo o objetivo principal com esse estudo analisar os resultados obtidos por elas na escola a partir do seu ingresso na sala de acompanhamento escolar.

Diante dessas questões e a fim de respondê-las, essa monografia está dividida da seguinte forma. No primeiro capítulo será explicado o que é a escola, qual a sua função, como ocorre a relação escola-família e a importância de uma escola democrática. No segundo capítulo, será desenvolvido o que se entende por acompanhamento escolar, como ele surge e qual a sua relação com a escola, as crianças e famílias. E no terceiro e último capítulo, a proposta é apresentar o grupo de estudantes frequentadores da sala de acompanhamento escolar, como e quando os conheci, como era o espaço, como foi essa experiência para os estudantes e, como foi para mim a vivência de trabalhar com essa proposta de educação. Dessa forma, acredita-se ser possível dar conta dessa temática, assim como, responder a questão norteadora aqui exposta, a saber, os impactos ocorridos na vida escolar do aluno frequentador de um acompanhamento escolar.

3. ESCOLA, O QUE HÁ ALÉM DESSA INSTITUIÇÃO?

Escola é…

o lugar que se faz amigos.

Não se trata só de prédios, salas, quadros,

Programas, horários, conceitos…

Escola é sobretudo, gente.

Gente que trabalha, que estuda

Que alegra, se conhece, se estima (...).

Paulo Freire

No meu entender, falar de escola é trazer os pensamentos e estudos de Paulo Freire, pois tenho em mente que ela seja democrática e que possibilite que o estudante se posicione dentro dela a respeito do mundo. A escola deve ser um espaço e tempo de crescimento, não só intelectual, mas deve desenvolver o cidadão, politicamente ativo na sociedade na qual está inserido. Foi assim que a escola se apresentou para mim e é assim que eu espero que ela se apresente e que eu possa apresentar para as crianças que passarão e já passaram por mim, durante a minha trajetória como professora.

Diante dos percalços que perpassam a escola nos dias de hoje, neste capítulo buscarei abordar qual é o papel dela na sociedade atual, ou seja, sua função e sua posição. Entender a instituição escolar é importante para conhecer porque uma parcela das crianças é encaminhada para uma sala de acompanhamento escolar. Aqui irei me focar na escola pública, sua complexidade e entender o porquê dessa busca extraescolar pelas famílias.

Para isso, o primeiro capítulo será dividido em três subcapítulos, sendo que no primeiro pretendo compreender a função e posição social da escola de massa, ou seja, como ela atende aos interesses das classe popular. Posteriormente, como ocorre a relação escola-família e, por fim, essa análise me levará aos conceitos de escola pública e popular onde tratarei da importância de uma escola democrática.

3.1. O que representa a escola nos dias atuais

A palavra escola vem do termo grego Schole, que significa tempo livre. A escola, na cultura grega, foi fundada a princípio para viver um tempo livre, um tempo no qual pudesse ser usado para se pensar de maneira livre, um tempo que se pudesse perder. Hoje, ela se organiza de uma maneira diferente, que retira a criança do tempo Aiòn – tempo da imaginação, da experiência e qualidade, mas não da quantidade (Kohan, 2004) –, que é uma temporalidade não numerável, para o tempo Chrónos de continuidade do tempo sucessivo. A escola, atualmente, demanda que a criança saia do tempo Aiòn e que entre no tempo cronológico, este que é distante da infância (Dário e Silva, 2018). Esse é meu ponto de partida para compreender a estrutura dessa escola e a formação de um sujeito cognoscente, isto é, sujeito consciente, que possui vontade de aprender, este que é capaz de adquirir e processar conhecimentos, buscando sempre a sua autonomia. Mas a atual estrutura de escola não basta para formação desse sujeito contemporâneo, já que é necessário também para a sua construção o tempo livre, tempo de brincadeira, no qual as crianças possam criar as suas próprias regras e combinados, sem a necessidade da intervenção de um adulto. A escola hoje, em geral, busca cumprir metas, atingir médias, preparar o aluno para um futuro por meio de futuros testes, que ele possa vir a prestar e ele deve dar conta de adquirir o entendimento sobre esse determinado conteúdo. A escola tende a dedicar pouco do seu tempo e espaço para o desenvolvimento do sujeito cognoscente, no sentido aionico, pois esta dedica-se em demasia em alcançar resultados, boas médias e notas – no sentido de Chronos.

Para entender a realidade da escola brasileira nos dias de hoje, é necessário entender a sua história, que se configurou numa longa trajetória, que, segundo Saviani (2008) se divide da seguinte forma:

O primeiro período (1549-1759) é dominado pelos colégios jesuítas; o segundo (1759-1827) está representado pelas “aulas régias” instituídas pela reforma pombalina como uma primeira tentativa de instaurar uma escola pública estatal inspirada nas idéias iluministas segundo a estratégia do despotismo esclarecido; o terceiro período (1827-1890) consiste nas primeiras tentativas, descontínuas e intermitentes, de organizar a educação como responsabilidade do poder público representado pelo governo imperial e pelos governos das províncias; o quarto (1890-1931) é marcado pela criação das escolas primárias nos estados, na forma de grupos escolares, impulsionada pelo ideário do iluminismo republicano; o quinto (1931-1961) se define pela regulamentação, em âmbito nacional, das escolas superiores, secundárias e primárias, incorporando crescentemente o ideário pedagógico renovador; finalmente, no sexto período, que se estende de 1961 aos nossos dias, dá-se a unificação da regulamentação da educação nacional, abrangendo a rede pública (municipal, estadual e federal) e a rede privada, as quais, direta ou indiretamente, foram sendo moldadas segundo uma concepção produtivista de escola (Saviani1, 2005, p. 12, apud Saviani, 2008, p. 150).

Como se vê, o aspecto escolar foi estabelecido ao longo de um processo histórico, econômico e cultural, de modo que fosse possível construir formas de relações sociais e de socialização. Segundo Thin (2006), a construção de uma escola para todos não se deu de forma completamente homogênea, mas compartilhada a partir de algumas similaridades. Entretanto, de maneira predominante, determina uma forma padronizada de socializar, geralmente imposta nas variadas sociedades modernas. Neste sentido, socializar, que significa o mesmo que educar, para Thin, é a interiorização das normas sociais dominantes; em outras palavras, a produção de pessoas capazes de cumprir com as leis sociais pré-estabelecidas.

O processo de escolarização consiste, em buscar padronizar os comportamentos dos indivíduos, pois acredita-se que começando nos anos iniciais se torne mais fácil educar. Para tanto o Estado se torna responsável pelo controle das condutas dos cidadãos e a educação, enquanto produção do humano, uma maneira de padronizar os comportamentos e instruir as pessoas (Boto, 2017).

A forma escolar também é caracterizada por um tempo e um espaço específico, no qual, geralmente, as crianças e toda a comunidade escolar adequam-se àquela estrutura, muitas vezes organizada pelos adultos sem elas serem consultadas. Ou seja, usam o tempo e o espaço de maneira bem estruturada, não criando – e até mesmo não permitindo – lugar para improviso e tempo livre, sendo um espaço tão-somente de rotina.

De acordo com Simons e Masschelein (2014), a escola é uma fonte de conhecimento e experiência oferecida como um bem comum – o investimento que a sociedade faz em uma geração –, e portanto não cabe a ela oferecer tempo livre, isso se torna temido – como no sentido indicado no início deste capítulo. Por isso surge a necessidade de padronizá-la e torná-la o mais centralizada e conteudista, isto é, o processo de escolarização focado somente no ensino-aprendizagem de determinados conteúdos. Além disto, em termos de senso comum, ela está restrita a um espaço, onde é valorizada e demandada a aprendizagem. Sendo assim, existe uma visão de que a escola poderia ser dispensável – até que ela prove o contrário; principalmente nos tempos atuais com as tecnologias muito presente, por se conjecturar que elas permitem que o aluno seja direcionado para aquilo que ele deseja aprender sem necessariamente a intervenção de um/a professor/a.

Todavia, a escola é ampla e complexa tendo como princípios a autonomia, a liberdade, a proposta pedagógica, a capacidade de julgar para o bem comum, gerando assim oportunidades iguais, mas, por conta disto, ela também se torna um local hostil e que precisa ser controlado, padronizado e de atendimento das demandas relacionadas ao desenvolvimento cognitivo. Contudo, conforme o texto de Simons e Masschelein (2014), em “A demanda de reforma e a posição de redundância”, a escola deve se tornar cada vez mais centrada na criança, motivar o seu bem-estar, oferecer uma educação baseada em evidências e conhecimento, podendo assim contribuir para a igualdade de oportunidades.

Também há linhas de estudos que indicam que a escola deve ser a extensão da família, fornecendo assim um segundo ambiente de educação, auxiliando a família, como é o caso para o segmento da educação infantil. E há a tendência liberal tecnicista que considera que ela deve formar e preparar para o mercado de trabalho, formando bons cidadãos-trabalhadores. Como se vê a intenção é sempre que a escola forme, socialize os indivíduos para que se adequem à sociedade, se a escola não vai ao encontro à essa ideia, ela é atacada. Segundo Durkheim (1978, p. 28) “(...) cada sociedade considera em momento determinado de seu desenvolvimento, possui um sistema de educação que se impõe aos indivíduos de modo geralmente irresistível. É uma ilusão acreditar que podemos educar nossos filhos como queremos”.

Já que a escola não tem o seu tempo e espaço dedicado ao interesses da criança, ela acaba por não fornecer uma aprendizagem de maneira lúdica, não proporcionando, assim, uma aprendizagem mais significativa e aplicada ao dia-a-dia da comunidade escolar. Menos mecanizada, o conteúdo ensinado na escola deve ser trabalhado para além da avaliação, do teste ou prova. A escola deve procurar proporcionar mais tempo livre, para que as crianças possam interagir com seus pares e adultos e buscar soluções para as problemáticas do seu cotidiano, aos seus questionamentos e pensamentos, para que assim os conteúdos ensinados ganhem significado.

Então, a escola não traria nenhum benefício à quem a frequenta? Claro que traz, é uma resposta simples e direta. A escola é de suma importância para a formação do indivíduo, logo, o espaço e o tempo escolar não deveriam ser utilizados somente para o aprendizado cognitivo, mas também para a formação da racionalidade, da consciência moral, capacidade imaginativa, criatividade, ética, reciprocidade, solidariedade e aperfeiçoamento das potencialidades individuais, pois esta não se resume apenas a aprendizagem de conteúdos. A escola desempenha diversos papéis na sociedade.

A escola também possui reconhecimento social. Ou seja, é a instituição reconhecida para o trabalho com o conhecimento e que influencia as crianças e famílias nas suas vidas contemporâneas. No caso das classes populares e pobres além dos elementos elencados anteriormente, a escola também dá acesso às condições básicas, como, por exemplo, alimentação e assistência material escolar. Além disso, a escola é capaz de auxiliar e proteger as crianças que estão expostas a situações de risco que afetam sua integridade física e psicológica. A escola é de grande importância para denunciar essa condição. É, por fim, serve de acesso ao conhecimento valorizado pela e na sociedade que proporciona ascensão socioeconômica.

Visto que a escola é uma invenção moderna histórica, assim como o seu surgimento dentro de um contexto onde foi pertinente ao seu desenvolvimento, ela é uma instância mutante, ainda que as transformações ocorram de modo lento e tampouco sigam os fluxos tecnológicos. O texto de Simons e Masschelein me ajuda a compreender que a escola pode sempre ser reinventada, e este é o nosso maior desafio na atualidade enquanto classe de professores, principalmente diante de tantas reformas, mudanças na sociedade, na política, cultura, economia, as novas tecnologias e ataques à docência.

A escola precisa ser constantemente repensada e discutida para que possibilite acesso a processos de apropriação e articulação de conhecimentos e também tempo livre – imaginativo e de liberdade –, de acordo com as demandas atuais e das novas gerações, que já não tanto se encantam com o lápis e o papel, ou seja, com a tradicional tecnologia escolar, e que mergulha nas novas tecnologias – smartphones e tablets com tamanha intensidade e vontade; em uma terra que para se conhecer também é preciso ser educado. Logo, hoje é preciso repensar a escola de modo que ela se distancie do tempo Chronos e se aproxime do tempo Aion. Isto é, aproximando essa infância, que está muito atrelada ao tempo cronológico de Chronos, para o tempo Aion. Para a infância que a todo tempo se tenta capturar, mas que não pode ser capturada, pois a infância é algo que atravessa, não tem relação com a idade, e sim com a experiência vivida – segundo as análise de Kohan (2004).

3.2. Como ocorre a relação escola-família nos dias atuais

Para pensar escola, aqui irei analisar duas perspectivas, a da criança e da família. Esta última visa um ambiente seguro, limpo, organizado, que forneça condições propícias para o aprendizado da criança. E sobre a expectativa da criança? Ainda pouco se conhece, geralmente, não é perguntado sobre o que ela espera, o que ela deseja sobre esse lugar onde ela passará boa parte do seu dia. Visto que, se a criança não se identifica com o ambiente no qual está inserida, ela não se sente confortável e a chance posterior evasão pode ser maior. Já que é na escola que a criança entra em contato com outras realidades, com diferentes crianças, de diferentes idades, é onde ela também aprende com seus pares (Barbosa, Delgado, Tomás, 2016). O campo dos Estudos da Infância tem tentado modificar essa visão através de pesquisas que pretendem conhecer os mundos das crianças, suas infâncias e considerando-as como interlocutores importantes e necessárias nesse processo de compreensão.

Existem diversas discussões sobre o papel da escola dentro da sociedade atual. Aqui, busco analisar como ela se posiciona na sociedade, como se estabelece a relação escola-família, já que esta está cada vez mais presente no cotidiano escolar. Para analisar os conteúdos escolares, faz-se necessário compreender também, a realidade da escola na qual a criança está inserida e sua realidade fora do ambiente escolar, para que assim se compreenda o seu processo de aprendizagem.

Em virtude da família contemporânea ser diversa e complexa, não ser mais tão autoritária e se estruturar à base do diálogo, da comunicação, do respeito às individualidades e da promoção da autonomia, os valores educacionais também sofrem mudanças e com isso surge a tentativa de aproximar, ainda mais, a família da escola. Entretanto, a relação escola-família sempre existiu, porém ela não se dava de forma tão estreita como atualmente (Silva, 2003, p. 292 apud Nogueira, 2006). Por exemplo, em busca de trazer a família para ainda mais perto do cotidiano escolar, o Ministério da Educação (MEC) cria, em 2001, o “Dia Nacional da Família na Escola”, para que ela se tornasse participante ativa e presente na escola. Essa ação está atrelada a estratégia de redução do fracasso escolar, já que o envolvimento parental nas práticas escolares gera uma influência positiva, contribuindo assim para a redução das taxas de evasão e de repetência (Id., 2006). Sendo assim, a família passa a se sentir mais responsável pelo sucesso escolar da criança. De acordo com o sociólogo da família, Francis Godard (19923 apud Nogueira, 2006), os bons resultados dos filhos passam a ser os bons resultados dos pais. Ou seja, os pais se realizam no e com o sucesso escolar e nas conquistas dos seus filhos. E por consequência, se sentem responsabilizados também por seus fracassos. Sabendo que é necessário entender a realidade do aluno – questões estruturais de suas vidas, questões emotivas, cognitiva e físicas, por exemplo – para que assim seja possível entender seu processo de aprendizagem, a escola entende que é preciso entender e observar a família do aluno para que seja possível entender a criança. E, assim, estabelecer uma relação de parceria entre as duas instituições para o benefício da criança.

A tentativa de aproximar a família da escola está relacionada à influência positiva quando do envolvimento parental e é uma estratégia de promoção do sucesso escolar. Além disso, a escola busca integrar ao sistema escolar serviços de especialistas como o de psicólogos, psicopedagogos, orientadores educacionais, etc.. De acordo com a autora Maria Alice Nogueira (2006), essas ações buscam auxiliar de maneira mais adequada às famílias. Em muitos casos, a partir da mediação desses outros especialistas, a criança é encaminhada para o acompanhamento escolar, como forma de auxiliar nos estudos, reforçar e dar conta de conteúdos que não foram compreendidos e aprendidos durante o período letivo.

3.3. A importância de uma escola democrática para a criança

A escola é um espaço educacional, de reconhecimento social, mas hoje passa por muitos percalços. Logo, é importante buscar entender como isso afeta o pedagógico e o desenvolvimento cognitivo e afetivo das crianças. Visto que, segundo Paulo Freire (1993), educar é um ato político, pensar em educação é também pensar na formação de um cidadão ativo politicamente no meio onde vive.

De acordo com o texto, “A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura”, Bourdieu (2003) analisa o sucesso escolar como um processo que está atrelado não somente à escola na qual o aluno está inserido, mas também com o meio que ele faz parte. Isto é, sua realidade, seu cotidiano, a classe social a qual faz parte, às questões de gênero, racial, localização geográfica, por exemplo, elementos que também estão atrelados ao seu sucesso escolar.

Tendo em vista que a cultura é transmitida de maneira livre, sem esforço metódico como na escolarização, o que o aluno consome, os lugares dos quais ele frequenta, o que lê e se lê fora da escola, influem no seu processo de aprendizagem. E sua posição social determina onde os seus estudos serão realizados.

Todavia, é importante frisar que a escola não transmite “a” cultura, mas algo da cultura, uma ínfima parte da experiência humana acumulada ao longo do tempo. O que perdura é aquilo que as gerações produzem de mais forte, e a escola e a universidade fazem essa identificação, consagração e transmissão. A cultura é decantada, cristalizada e consagrada, e toda seleção tem um certo grau de arbitrariedade (Forquin, 1992). Portanto, a educação transmitida pela escola “realiza” de alguma forma a cultura de uma sociedade e de um determinado tempo e a variedade das interpretações práticas da cultura, por meio da seleção de conteúdos educativos, abre um campo de possibilidade de ensino (Robert, 2012).

Mas considerando que, pensar autenticamente é perigoso (Freire, 1974) para uma escola democrática, é necessário se desprender da concepção "bancária" da educação. A prática bancária inibe o poder criador das crianças, pois os alunos receberiam tudo pronto, os conteúdos a serem trabalhados são pensados sem os alunos. Quando pensados, são trabalhados a partir de uma proposta que coloca as crianças como realizadoras de atividades, com o objetivo de verificar os conteúdos em uma avaliação futura. Nesta concepção, pouco se é ouvida a opinião dos alunos. O processo de aprendizagem não é entendido como um processo de busca, de construção e compreensão do conhecimento (Freire, 1974). Quando ao aluno não lhe é permitido o experimentar, sua aprendizagem ganha outra roupagem em relação à experiência. Ele apenas decora ou entende partes de algo. Para que o processo de aprendizagem ocorra de modo significativo para a criança, ele precisa ser significativo. Logo, quando a criança não é estimulada a pensar o seu processo de conhecer, a tendência é que ela transfira essa ação para outrem mais experiente nesse processo.

Uma educação significativa solicita uma escola de caráter democrático, ou seja, uma educação libertadora, problematizadora. Nesta concepção, a criança é participante ativa do seu processo de aprendizagem e o professor já não faz depósitos. Ele instiga o seu aluno a falar, a pensar e a participar. Nesta perspectiva, o processo de aprendizagem não está centrado no professor que deposita ou transfere os seus conhecimentos. A educação problematizadora é um processo contínuo, um esforço permanente, segundo Freire (1974). Com ela, o aluno percebe criticamente a sua posição no mundo. A educação problematizadora é comprometida com a liberdade, desmistificando os conceitos pré estabelecidos e reforçando a mudança. Pensar em educação problematizadora não é somente pensar nos conteúdos que serão trabalhados, é pensar também, no formação cidadã daquele sujeito. Sem isso, não é possível ter uma escola democrática. Para Maria Victória Benevides (1996, p. 226-227), três elementos são indispensáveis e interdependentes para a compreensão da EPD4:

1. A formação intelectual e a informação – da antiguidade clássica aos nossos dias trata-se do desenvolvimento da capacidade de conhecer para melhor escolher. Para formar o cidadão é preciso começar por informá-lo e introduzi-lo às diferentes áreas do conhecimento, inclusive através da literatura e das artes em geral. A falta, ou insuficiência de informações reforça as desigualdades, fomenta injustiças e pode levar a uma verdadeira segregação. No Brasil, aqueles que não têm acesso ao ensino, à informação e às diversas expressões da cultura lato sensu, são, justamente, os mais marginalizados e “excluídos”.

2. A educação moral, vinculada a uma didática de valores que não se aprendem intelectualmente apenas, mas sobretudo pela consciência ética, que é formada tanto de sentimentos quanto de razão; é a conquista de corações e mentes.

3. A educação do comportamento, desde a escola primária, no sentido de enraizar hábitos de tolerância diante do diferente ou divergente, assim como o aprendizado da cooperação ativa e da subordinação do interesse pessoal ou de grupo ao interesse geral, ao bem comum. Sem participação dos interessados no estabelecimento de metas e em sua execução, como já afirmava Dewey, não existe possibilidade alguma de bem comum. É preciso tempo para sacudir a apatia e a inércia, para despertar o interesses positivo e a energia ativa (Dewey). Ora, é evidente que essa é uma tarefa para a educação para a democracia.

Pensando em uma escola democrática, seu currículo deve priorizar a iniciação das crianças ao mundo do conhecimento produzido pela humanidade. Segundo Beane (2003), a abordagem curricular por disciplinas, é redutora das experiências democráticas. O currículo quando organizado desta forma são menos acessíveis e, por consequência os conteúdos abordados nessa perspectiva tornam-se menos significativos para as crianças. Uma abordagem curricular democrática possibilita que a criança compreenda melhor a sua realidade.

Beane (2003) indica estudos que apontam que alunos que estudam em escolas com abordagem curricular integrada, na qual os conteúdos das disciplinas são trabalhados de modo transdisciplinar, apresentam desempenho igual ou superior àqueles que estudam em escolas com abordagem disciplinar. Para as escolas democráticas, devemos abordar um currículo que integre as disciplinas, integrando assim os saberes. Isto é, para uma abordagem democrática, é preciso pensar para além da compartimentalização das disciplinas acadêmicas tradicionais. É necessário pensar em temáticas centradas na realidade dos alunos, aproximar os assuntos abordados ao seu cotidiano, que o autor denomina como aprendizagem integradora, a partir das quais o aluno se envolve com as experiências que permitam novas aprendizagens e saberes, e também para além do seu mundo real, tornando assim a aprendizagem inesquecível, pois ela teve significado para ele, teve sentido. Para tanto, é importante planejar junto com a comunidade escolar para assim realizar um trabalho democrático dentro de sala de aula.

Em concordância com Freire e Beane, insisto que para a aprendizagem acontecer de modo efetivo, ela precisa ser significativa. Insisto pois, em minha experiência como professora de um acompanhamento escolar, percebi que as crianças precisavam deste recurso, quando passaram a frequentar essa sala de acompanhamento por não se identificaram com a estrutura escolar, com os assuntos abordados, com os textos e livros que não foram escolhidos por ou com elas. Não se “adequavam” às regras e combinados feitos em sala de aula, pois exigiam delas que apresentassem interesses e comportamentos dos quais elas não estavam prontas para ter ou até mesmo não entendiam porque era necessário tê-los. Nesses exemplos próximos, a escola considerava que essas crianças não se adequavam à escola, que tinham mal comportamento ou até mesmo algum déficit de aprendizagem. Mas na realidade elas não tiveram seus interesses ouvidos, não foram perguntadas, não tiveram a experiência de uma abordagem democrática e uma participação ativa.

Assim, no próximo capítulo irei abordar os conceitos de acompanhamento escolar, em vista de esclarecer do que se trata, como ele surge e qual sua função. Também busco analisar a relação que é estabelecida entre a escola e o acompanhamento escolar, já que muitas vezes o aluno que é direcionado para o acompanhamento escolar, procura suprir alguma falta no processo da escola ou é a escola que o direciona para esse serviço.

4. ACOMPANHAMENTO ESCOLAR

E, já que a educação modela as almas e recria os corações, ela é a alavanca das mudanças sociais.

Paulo Freire

Durante a minha experiência no acompanhamento escolar, refleti bastante sobre os porquês daquelas crianças necessitarem deste serviço. As razões eram das mais diversas, muitas vezes seus responsáveis buscavam desesperados pois seus filhos e filhas estavam com notas baixas na escola ou não apresentavam o comportamento que a escola esperava como, por exemplo, realizar as tarefas de aula ou de casa, não ficavam sentados quando solicitados ou até mesmo não estabeleciam relações com seus pares e/ou professores. Algumas das famílias buscavam o acompanhamento para seus filhos ou filhas que ficaram de recuperação em muitas disciplinas e precisavam de um estudo direcionado para recuperar as notas.

Algo que passava muito pela minha cabeça naquela época era se aquelas pessoas sabiam como funcionava de fato um acompanhamento escolar e, principalmente, o porquê da escola não proporcionar o auxílio à este aluno que está com dificuldade.

Em vista destes questionamentos ocorridos no período em que trabalhei em um acompanhamento escolar, busco neste capítulo caracterizá-lo, apontar seu modo de funcionamento, como ele surge e como se posiciona. Posteriormente, a partir da minha experiência, busco relatar como o mesmo se relaciona com a família, isto é, como a família vê esse serviço terceirizado.

4.1. Do que se trata o acompanhamento escolar

Reforço pedagógico ou reforço escolar, de acordo com Silva (2010), são termos encontrados nas produções acadêmicas que retratam um aspecto do cotidiano escolar. No presente trabalho, irei abordar o assunto como acompanhamento escolar, que tem também como objetivo auxiliar a criança em seu processo de aprendizagem. Porém o acompanhamento escolar ocorre fora da instituição escolar. E, como dito anteriormente, diferentemente do reforço pedagógico ou reforço escolar, o acompanhamento escolar não é posto de forma para recuperar conteúdos ou aprendizagem que deveriam ter ocorrido no processo formal da escola, e sim de conduzir, complementar, observar e auxiliar o estudante no seu processo de educação escolar, criando mecanismos para que sua aprendizagem e formação sejam efetivadas. O reforço escolar e reforço pedagógico, fundam-se em práticas pedagógicas desassociadas da sala de aula, a fim de auxiliar o aluno, quase que individualmente, que está com baixo rendimento escolar, sendo agrupado em turmas e em horários específicos na escola (Silva, 2010).

O reforço e recuperação, dentre outras ações aprovadas pelo poder público, surgem como soluções para melhoria da qualidade do ensino e da minimização do fracasso escolar (Silva, 2010). A Lei nº 5.692 de 11 de agosto de 1971 – Diretrizes e Bases para o ensino dos 1º e 2º graus nos artigos 11 e 14 (Brasil, 1971) –, estabelece obrigatoriedade para as escolas oferecerem estudos de recuperação para alunos que apresentaram aproveitamento insuficiente. A partir de 1996, é implementada a Lei De Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394 de 20 de dezembro (Brasil, 1996), com a progressão continuada de modo generalizado pelas redes públicas, ampliando a jornada escolar, realizando recuperação paralela e contínua com alunos com baixo rendimento. A recuperação estabelece-se como uma maneira de auxiliar o aluno com dificuldade a recuperar os conteúdos não compreendidos durante o período letivo, buscando também sanar suas dificuldades a respeito das habilidades e competências.

O acompanhamento escolar acontece fora do ambiente escolar, é um serviço terceirizado sem ligação com a instituição de origem da criança. Geralmente, é procurada pelo responsável da criança que busca melhoria no desempenho da mesma, seja por conta de uma sugestão do/a professor/a da criança ou pela família não ter tempo disponível para realizar os estudos com a mesma. Entretanto, essa metodologia/proposta não se concentra apenas no rendimento escolar da criança, na realização das tarefas de casa, revisão, reforço ou preparação para as provas. O acompanhamento escolar busca entender o processo de aprendizagem da criança e as estratégias para os diversos processos do aprender, para que assim sejam elaboradas atividades para serem realizadas com o aluno em questão.

O olhar atencioso do professor regente é imprescindível para que seja sugerido ao estudante o acompanhamento escolar. É preciso perceber quais são as dificuldades, realizar um trabalho junto ao educando e à família, criando assim um diálogo entre a classe de acompanhamento escolar, classe do aluno no ensino regular e a família. É importante também restabelecer a autoestima dessa criança que chega ao acompanhamento escolar, pois, muitas vezes, se dizem burras, conforme expressão muito usada por elas, acreditam que são incapazes de aprender uma matéria mais complexa ou que não conseguiriam aprovação no final do ano. Essas insatisfações delas, mesmo que não reforçadas pelos responsáveis ou pela escola, estavam incutidas no imaginário das crianças, que muitas vezes entendiam a sua ida para o acompanhamento escolar como uma afirmativa a esses pensamentos e não como algo que iria auxiliá-las a melhorar o seu desempenho na escola. Por conta disso, meu trabalho no acompanhamento escolar foi também sempre restabelecer essa autoestima da criança. Nunca reforçando o fracasso do aluno na escola, mas sempre propondo um novo método de ensino-aprendizagem (Silva, 2010), que o auxiliasse a superar suas dificuldades.

4.2. Relação família-acompanhamento escolar

Com o passar dos anos, as famílias5 vêm tendo cada vez menos tempo para realizar as tarefas propostas pela escola com os filhos, seja por conta do trabalho, das tarefas diárias ou até mesmo por não ter domínio da forma como os conteúdos são estudados na escola. Com isso, surge o acompanhamento escolar como opção viável para atender essas crianças com dificuldade de aprendizagem no conteúdo estudado na escola ou que na sua família não possuam tempo hábil para estudar juntos. Aqui busco analisar a relação família-acompanhamento escolar tendo em vista que o acompanhamento escolar pouco se relaciona com a escola, as informações referentes à instituição de origem da criança chegam através da família e da própria criança. E as relaciono com a minha experiência durante o período em que trabalhei em uma sala de acompanhamento escolar.

Para refletir sobre a relação família-acompanhamento escolar é preciso primeiramente considerar a relação da família com a escola, pois ao pensarmos sobre o critério de escolha da instituição escolar conseguimos também entender o critério de escolha da unidade de acompanhamento escolar. De um modo geral, a escolha se dá por conta das razões de proximidade de localização – casa, escola e sala de acompanhamento escolar –, somados à qualidade do ensino, resultados, segurança e conforto para as crianças. Essa relação pode muitas vezes ser conflituosa, pois nela incluem três instituições: a família, a escola e a sala de acompanhamento escolar. Em muitas vezes a parte principal atingida, que é a criança, não é consultada sobre o seu querer ou não de estar naquela escola escolhida ou sala de acompanhamento escolar.

A pesquisa de Fevorini (2009), realizada na cidade de São Paulo com famílias de adolescentes que estão no ensino médio, buscou analisar o envolvimento dos pais na educação dos filhos. Os pais, participantes da pesquisa, tendem a escolher a escola de acordo com a localização, projeto pedagógico que conversa com seus ideais de educação e, até mesmo, buscam por escolas da qual o público usuário tenha o mesmo poder aquisitivo. De acordo com essa pesquisa, os pais preferem escolas que estão abertas ao diálogo e que sejam claras sobre as necessidades do aluno, para que assim possam buscar por um especialista, conforme a necessidade da criança em questão.

Se o processo de escolha da escola inclui, ouvir opiniões, indicações, visitar a escola e conversar com a coordenação para avaliar a proposta pedagógica da instituição. O processo de escolha do acompanhamento escolar é semelhante, porém têm suas particularidades. Uma delas é a indicação oral, ou seja, o popular “boca-boca”, muito importante nesse processo de escolha. Outro elemento são os resultados trocados entre pais que têm seus filhos na sala de acompanhamento escolar que estão em busca desse serviço. O fator preço também é algo que colabora para a adesão ou não do serviço e, por se tratar de ser um serviço fora da escola, os pais levam em consideração a quantia que vão investir.

De acordo com minha experiência, os pais nem sempre estão dispostos a pagar um valor alto, pois já têm os custos da escola e por considerarem que são aulas particulares, portanto, entendem como um “luxo”. Essa postura se modifica quando o aluno passa a apresentar notas abaixo da média da escola e a existir o receio dele ficar retido. Esse tipo de procura ocorre geralmente no último bimestre do ano letivo e tem como meta principal aprender de maneira rápida e eficientes o conteúdo que será abordados nas provas. Lidar com as expectativas dos pais que procuram pelo serviço é o mais complicado, pois eles investem em algo que não têm certeza se vai ou não surtir efeito. E também por terem que lidar com a possível frustração do filho, caso não tenha um bom desempenho nas provas finais. Geralmente, quando percebem como é feito o trabalho e os resultados são positivos, tendem a renovar a matrícula para o ano seguinte, para manter o hábito de estudar diariamente.

Em uma das minhas experiências, um dos alunos viveu exatamente essa situação exemplificada anteriormente, isto é, ele obteve os resultados esperados nos exames finais da escola e sua mãe considerou que esse espaço de estudo foi benéfico para seu desempenho, no ano seguinte ele retornou para estudar regularmente6.

No acompanhamento escolar os pais dão preferência a turmas e horários que não tenham amigos da escola. Eles considerarem que a criança precisa de concentração nos estudos, portanto matriculam os filhos em horários diferentes dos amigos deles. E, assim, quando ocorre de optarem pela sala de acompanhamentos escolar por indicação, escolhem um horário diferente da pessoa que indicou, pois acreditam que o contato da criança com um amigo da escola poderá vir a atrapalhar o seu momento de estudo.

De acordo Fevorini (2009), os pais sentem confiança na escola quando tem acesso constante a ela. Segundo os responsáveis que recebemos no acompanhamento escolar, em sua maioria queixavam-se da falta de clareza por parte da escola sobre a necessidade ou não de procurar um especialista e qual a questão problema do filho. Os pais esperavam da sala de acompanhamento além de uma melhora no desempenho escolar também um retorno sobre a necessidade de buscar ou não por outro especialista, como por exemplo, se a falta de concentração para os estudos era oriundo de um distúrbio de aprendizagem, se era necessário procurar por uma psicopedagoga e/ou psicóloga. Nos casos em que eu trabalhei, as crianças só precisavam de um momento específico de estudo, um estudo direcionado, usando outras ferramentas, um material mais concreto, como, por exemplo material dourado para estudo de matemática.

A escola muitas vezes não relaciona os problemas de aprendizagem de seus alunos ao seu método de ensino. Tendem a considerar a questão da dificuldade de aprendizagem como um fator para além da escola, talvez como uma maneira de não se responsabilizar totalmente pelas falhas pedagógicas.

Em concordância com Fevorini (2009, p. 81),

Assim, as escolas terceirizam o problema, fazendo com que os pais recorram a um arsenal de especialistas, sem considerar que as dificuldades podem estar relacionadas ao seu método de ensino e/ou a sua sistemática de avaliação e/ou à resistência em mudar alguns de seus procedimentos padrões.

Quando esses alunos são encaminhados para uma sala de acompanhamento escolar, é possível observar que muitas vezes a questão que fazia com que a criança não tivesse um bom desempenho era na verdade a maneira como a escola abordava o conteúdo. Muitas vezes o rendimento escolar da criança cai, pois não ela conseguia lidar com as muitas informações tratadas na escola, como, por exemplo, os novos conteúdos, passá-los de modo apressado, não retomar aquilo que foi ensinado ou ainda falta de momentos livres para a fruição e interação entre crianças. O acompanhamento escolar é de suma importância para observar e analisar esses fatores e, assim, dar um feedback mais assertivo às crianças e aos pais sobre as dificuldades e preferências delas em relação aos estudos.

No próximo capítulo irei analisar as entrevistas com as crianças que participaram da sala de acompanhamento escolar, com o intuito de saber quais foram os impactos ocorridos em suas vidas escolares na época e o que ficou para elas nos dias de hoje.

5. ACOMPANHAMENTO MAIS DO QUE ESCOLAR: PALAVRAS E VIVÊNCIAS SINGULARES

Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender.

Paulo Freire

No presente capítulo, irei apresentar a visão das crianças que frequentaram o acompanhamento escolar nos períodos entre 2015 e 2016, suas lembranças sobre o período, suas dificuldades em relação aos estudos e, sobretudo, saber se o acompanhamento escolar contribuiu ou não no seu modo de estudar nos dias de hoje. Aqui busco responder a pergunta geradora da pesquisa: quais os impactos ocorridos na vida escolar de alunos frequentadores de um acompanhamento escolar.

A pesquisa de campo se estrutura da seguinte maneira: questões da pesquisa, na qual explano o que me levou a realizar este trabalho; a elucidação dos objetivos e da metodologia do estudo, que me auxiliam a responder o problema desta pesquisa; e por fim, as análises teórica-empírica, a partir das conversas com os adolescentes.

5.1. Questões da pesquisa

Como já mencionado, durante o anos de 2015 e 2016 trabalhei em uma sala de acompanhamento escolar juntamente com a minha mãe, que também é professora. Esse trabalho me deu a oportunidade de ver o funcionamento de um estabelecimento voltado para educação, lidar com as crianças, elaborar atividades para e com elas, me relacionar com seus responsáveis, entre outras experiências, e foi isso o que me fez escolher a pedagogia como curso de graduação.

Desenvolvi, junto com a minha mãe, uma página na mídia e rede social Facebook, com um logotipo e também o nome do espaço, que nomeamos de Acompanhamento Escolar Singular. O termo “singular” foi escolhido pois o nosso trabalho era desenvolvido de acordo com a necessidade de cada criança, o que nos permitia realizar um trabalho empírico-analítico, ou seja, baseado naquilo que a criança nos relatava, o que ela entendia que não estava claro para ela, usando métodos que auxiliassem o entendimento do conteúdo, mesmo que não fosse semelhante ao que a escola tinha como proposta. O nosso objetivo era que a criança enchesse de significado o conteúdo estudado, para que assim aprendesse verdadeiramente.

A sala foi inaugurada em 2013, onde apenas minha mãe trabalhava, trabalhei no Acompanhamento Escolar Singular nos anos de 2015 e 2016, como dito anteriormente. E infelizmente, por questões financeiras, demos como encerrado seu funcionamento em 2017.

O que me levou a escrever sobre acompanhamento escolar, foi o grande envolvimento que tive com esse projeto na época e como o mesmo marcou a maneira como leciono até hoje. Os trabalhos eram realizados de uma maneira muito livre, os horários para a realização das atividades não eram rígidos, então se a criança sentisse fome, por exemplo, ela podia tirar um tempo do seu momento de estudo e lanchar. Também organizamos momentos para a brincadeira, da qual participávamos junto com elas, muitas vezes seguindo as orientações dadas pelas crianças. Propusemos momentos de música que eram bastante alegres, por exemplo, elas escolhiam as músicas que queriam ouvir nas aulas de inglês e que aconteciam todas as sextas-feiras, isso nos aproximava e tornava as aulas mais interativas. Tendo em vista que as experiências que os indivíduos vivenciam contribuem para o processo de socialização (Arantes, 2011), essa dinâmica era importante para fortalecer as relações entre os pares, já que eles precisavam entrar em um acordo sobre a música da próxima semana. Quando a escolha não ocorria em comum consenso, era feita uma votação, na qual apenas os alunos participavam.

Outra proposta estimada eram as festas que realizávamos em datas comemorativas para ter a participação das famílias. As crianças ficavam bastante alegres com esse momento, pois tinham seus responsáveis presentes naquele ambiente, o qual não era obrigatório estar ali. Elas gostavam, pois aproveitavam para mostrar o que faziam, os trabalhos que ficavam expostos e como era a rotina.

O que percebi e o que me motivou a escrever sobre o Acompanhamento Escolar Singular foi como esse grupo de crianças ressignificou a aula de reforço, pois eu notava que elas não percebiam esse trabalho como algo pesado, difícil ou obrigatório. Após o primeiro contato e compreensão do que e como era esse trabalho, elas nos demonstravam satisfação em ir e eram muito francas quando se aborreciam com alguma atividade. Também eram abertas para contar os motivos das faltas, que geralmente era por preguiça ou quando não tinham trabalho ou conteúdo novo da escola, assim não viam um porquê ir. Era um trabalho que se baseava na sinceridade entre nós e elas. E, por conta disto, hoje eu sinto a necessidade de saber o que eles guardam sobre esse período, agora que já estão mais velhas, o que ficou e como isso influenciou na sua vida e em outros momentos da sua trajetória escolar.

Assim, considero que esse estudo tem como objetivo auxiliar outros trabalhos e reforçar a necessidade de realizar um planejamento para a escuta da criança, que se atente para seus questionamentos e pedidos, podendo vir a ser atendidos ou debatidos, em busca de uma educação democrática e libertadora.

5.2. Objetivo e a metodologia do estudo7

Como já afirmado ao longo do texto, a presente pesquisa busca entender quais foram os impactos ocorridos na vida escolar das crianças que frequentaram o acompanhamento escolar, dando importância às impressões tidas por elas. Considerando que é na infância que desenvolvem-se as estruturas cognitivas e emocionais (Arantes, 2011), aqui serão ouvidas as opiniões de um grupo crianças que vivem agora a adolescência. Assim, irei me valer das memórias da infância, daquelas que estudaram na sala de acompanhamento escolar e que hoje têm entre 14 e 16 anos. Não descartando também os aspectos sociais desta experiência e levando em consideração que todas as experiências vividas por cada indivíduo refletem em seu processo de socialização, também irei questioná-los sobre a vivência, o dia-a-dia na sala de acompanhamento escolar, portanto, para além das questões relacionadas ao ensino-aprendizagem. Se era um ambiente do qual eles se sentiam confortáveis, se gostavam de ir, se gostavam das atividades propostas, etc.. Saber como esse período também marcou de maneira afetiva, parafraseando Rogers (Moreira, 1999), pois a aprendizagem precisa ser significativa para que seja realizada de maneira efetiva. Os laços afetivos são muito importantes, considero que estes contribuem para o desenvolvimento da aprendizagem.

Sabendo que a atuação da família é imprescindível para que o desenvolvimento escolar da criança se concretize, é fundamental também validar a participação dela, isto é, saber se a escolha por um acompanhamento escolar foi feito junto com a criança ou se a mesma foi consultada. Aqui, quero saber sobre a percepção do aluno entrevistado sobre este período, se o mesmo considera que foi ou não consultado sobre a ida para a sala de acompanhamento escolar.

Durante os 4 anos de funcionamento da sala de Acompanhamento Escolar Singular passaram por ali 18 crianças de diferentes escolas, idades e com diferentes áreas de conhecimento a serem trabalhadas. Assim, foram convidadas 5 dessas crianças, sendo 4 meninas e 1 menino8, entre 14 e 16 anos, mas apenas as meninas participaram. Atualmente, quatro desses participantes estão no ensino médio e, uma no ensino fundamental II. A escolha desses alunos se deu porque são com as quais ainda tenho contato, por morarem próximo a minha casa e porque ainda me procuram quando precisam tirar alguma dúvida em relação a algum conteúdo.

No decorrer das conversas virtuais, soube que uma das alunas selecionadas, ainda mantém contato com outras ex-alunas que também frequentaram o acompanhamento escolar no mesmo período, isso fez com que outras meninas entrassem em contato comigo, me pedindo para participar. Porém, optei por dar continuidade apenas com o grupo previamente selecionado, pois viemos conversando ao longo desses 02 meses, realizamos muitas trocas que foram importantes para a pesquisa e as informações coletadas nessas conversas me auxiliaram a responder aos questionamentos trazidos neste presente trabalho.

Como técnicas de pesquisa propus uma entrevista semi-estruturada e conversas informais9 – via Whatsapp10 – e questionário – aplicado pelo Google Forms11 –, que aconteceram entre os meses de maio e junho de 2020. Busquei recolher dados para analisar como esse trabalho de acompanhamento ajudou em sua rotina de estudos. Através desses instrumentos, elas me contaram sobre suas experiências e impressões do acompanhamento escolar, por exemplo, como se sentiam, como se sentiam em relação a escola que estudavam, o que achavam bacana, como aprenderam a estudar, etc..

Optou-se pela ferramenta Google Forms para que assim, as suas respostas ficassem reunidas em um só local, o que facilita a dinâmica de transcrever o que foi dito e, pelo fato da segunda conversa ter sido realizada em grupo, para que não houvesse confusões nos registros. E também, para que ao responderem ao formulário se sentissem verdadeiramente em uma pesquisa. Após nossas conversas, elas atenderam prontamente à minha solicitação de responder ao questionário e escreveram de forma detalhada, surpreendendo o meu pré-conceito formado sobre interações com adolescentes. Presumia que apenas se comunicavam por áudios e temia respostas monossilábicas, e, felizmente, tive uma feliz surpresa. Por fim, para garantir a privacidade das crianças, que agora já são adolescentes, cada uma escolheu um nome fictício, e assim as apresento no quadro 1, indicado a seguir:

Quadro 1: Apresentação das crianças participantes da pesquisa

Nome:

Gabriela

Júlia

Kaylane

Mayara

Idade quando começou a frequentar:

9 anos

9 anos

8 anos

10 anos

Idade atual:

15 anos

16 anos

14 anos

16 anos

Frequentava escola pública ou privada:

Privada

Privada

Privada

Pública

Área de conhecimento a ser trabalhado no acompanhamento:

Realização de tarefa de casa e reforço

Realização da tarefa

Realização da tarefa

Alfabetização

Quem buscou o atendimento:

Mãe

Pai

Mãe e Pai

Mãe

Tempo que frequentou a sala:

3 anos

1 ano e 6 meses

2 anos

2 anos

Atualmente, estuda em escola privada ou

pública:

Pública

Privada, mesma escola da época

Pública

Pública

Ainda precisa de acompanhamento escolar:

Sim

Não soube responder

Não precisa

Não precisa

Fonte: Pesquisa direta com as adolescentes participantes, ano de 2020.

5.3. ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

No presente tópico irei primeiramente, apresentar cada criança para que se possa conhecê-las de modo mais significativo e detalhado. As entrevistas foram realizadas com uma dupla e outra de modo individual. De todo modo, aqui serão apresentadas de modo individual para que assim eu possa explanar o que cada participante respondeu sobre o que foi perguntado. Como se trata de um trabalho de recordação, utilizaremos as memórias da infância para compreender o presente (Breda, 2010), para que possamos entender o que cada adolescente se recorda a respeito do acompanhamento escolar, o que foi importante para cada uma delas e, como isso se reflete atualmente.

5.3.1. Gabriela

Gabriela nasceu em 2004, mora na cidade do Rio de Janeiro e durante o período da entrevista estava com 15 anos. Na época em que frequentou o acompanhamento escolar, estudava em uma escola privada tradicional de aproximadamente 120 anos, localizada na zona norte do Rio de Janeiro. A escola veio a fechar em 2013 e por, conta disto, ela teve que mudar de instituição. Sua mãe procurou o acompanhamento escolar, pois seus pais trabalhavam o dia todo e não podiam ajudá-la nas tarefas de casa. Assim, como sua irmã, que estudava na mesma escola, porém, em período integral. Gabriela estudou no acompanhamento por 3 anos, realizávamos as tarefas de casa passadas pela escola e fazíamos um reforço nos conteúdos estudados.

Fizemos a entrevista de modo individual, via Whatsapp, e começamos recordando das nossas aulas por meio de algumas fotos, do meu acervo pessoal. A aluna disse não se recordar daquelas fotos, mas depois lembrou da ocasião, que se tratava de uma festa ocorrida na sala de acompanhamento.

Gabriela relembra da escola com afeição, disse que amava estudar lá e, se pudesse, continuaria estudando lá até hoje. Quando perguntada porque gostava da escola, me disse que se sentia bem lá, gostava das festas e das amizades. Segundo ela, sua mãe também gostava da escola, por conta da frequência das provas e da metodologia de ensino. A aluna por sua vez, também achava que aprendia muito nessa escola, porque eram passados muitos exercícios e, para ela, isso a ajudava a aprender melhor os conteúdos ensinados. Sua disciplina favorita na época era ensino de ciências da natureza. Hoje tem preferência por estudar o componente curricular língua portuguesa.

Como a escola fechou, não foi possível continuar seus estudos lá. Depois dessa escola, Gabriela, frequentou três escolas diferentes, sendo que atualmente está matriculada em uma pública. Hoje ela está no 1º ano do ensino médio, gosta da sua escola atual, principalmente por conta dos seus amigos.

Antes de frequentar a sala de acompanhamento escolar, Gabriela e a irmã tinham aulas com uma explicadora. Segundo a entrevistada, a explicadora não a cativou, pois era antipática, outras crianças eram atendidas no mesmo horário que ela ia, mas não podiam brincar e conversar com frequência. Ela tinha dificuldade com os componentes língua portuguesa e matemática, e a explicadora apenas mandava – segundo palavras dela – fazer os exercícios passados pela escola, não explicando muito a respeito das matérias que tinha dúvidas. Esse também foi um dos motivos da mãe da Gabriela ter optado em colocá-la no nosso acompanhamento escolar

Ainda diz que continua com dificuldade o componente matemática. Quando não compreende algum assunto da disciplina, sua irmã mais velha, que agora faz licenciatura em matemática, a ajuda com os conteúdos. Porém, o que acontece muitas vezes é de a irmã não ter paciência para ensiná-la, tendo que explicar a matéria para a mãe delas, para que possa ajudá-la. Já com o componente curricular língua portuguesa, a aluna relata que não precisa de ajuda para estudar, se sai bem. Sua mãe é muito atenta aos estudos e atividades da escola, de acordo com a Gabriela, a mãe está sempre de olho.

Começou a frequentar o Acompanhamento Escolar Singular pois, seus pais não tinham tempo para estudar com ela em casa. Sobre esse acompanhamento escolar, a aluna diz se lembrar das festas e brincadeiras. Gostava de jogar no computador, achava divertido e que aprendia mais desse jeito. Não tinha o costume de comentar e falar sobre a sala de acompanhamento escolar com os amigos de sua escola e não especificou o motivo de não o fazê-lo.

Considera que frequentar o acompanhamento escolar não fez com que mudasse o seu modo de estudar. Contou-me que gostava de estudar por questionários para decorar as respostas. Mas, ao mesmo tempo, também gostava do jeito que estudava no acompanhamento, mesmo não tendo questionários, pois ela se sentia responsável por ter que ir todos os dias fazer os trabalhos de casa. Para ela, o acompanhamento a auxiliou a desenvolver o interesse por pesquisar sobre o que estava estudando.

5.3.2. Júlia

Júlia atualmente tem 16 anos, frequentou a sala quando ainda tinha 9 anos e por 1 ano e 6 meses. Estuda até hoje na mesma escola privada daquela época do acompanhamento escolar. Foi seu pai quem nos procurou, pois ela precisava de auxílio para realizar as tarefas de casa. Além disso, o pai acreditava que a filha tinha muita dificuldade para compreender as matérias estudadas na escola. Entretanto, me recordo que, naquela época, ela não relatava ter dificuldades para entender o que era estudado na escola, apenas tinha vergonha de perguntar em aula, ou seja, levava suas dúvidas para casa. Ao ir para o acompanhamento, começou a tirar suas dúvidas conosco.

Durante a entrevista, Júlia foi a única que não conseguiu acompanhar as conversas em tempo real. A maioria das suas respostas foram feitas pelo formulário da plataforma do Google. Segundo ela, as falhas no sinal da sua internet e a falta de aparelho telefônico próprio dificultaram a sua interação com as demais meninas em nosso grupo de Whatsapp. Nesse momento de pandemia e isolamento social que foi realizada a pesquisa, essa fala da aluna me fez pensar em tantos outros estudantes que estão tendo aulas remotas e que talvez tenham as mesmas dificuldades relatadas por Julia ou até mesmo o não acesso às plataformas indicadas pelo governo. A escola da Júlia, está mantendo as atividades online porém, ela não me detalhou como está sendo.

Quando perguntada se já havia frequentado outra sala de acompanhamento escolar, a aluna disse: Sim, foi mais ou menos. Só que nesse [explicadora] eu não consegui me adaptar e não melhorou minhas notas e por conta disso sai. Depois desse acompanhamento ainda houve a necessidade de frequentar um outro acompanhamento escolar, por não conseguir se organizar sozinha para estudar. Júlia acredita que a matéria que a escola passava na época não era difícil, mas não conseguia se organizar para estudar sozinha.

Depois de frequentar nossa sala de acompanhamento escolar, aluna aprendeu a estudar sem a ajuda de terceiros. Na época gostava de estudar o componente curricular história e hoje sua preferência é por ciências da natureza. Suas maiores dificuldades quando frequentou a salinha12 – como gosta de chamar o acompanhamento escolar – eram com os componentes matemática e língua portuguesa. As demais disciplinas conseguia aprender com facilidade. Contou-me que gostava de estudar na salinha, pois tinha atenção só para ela e aquela vergonha que sentia para perguntar na escola, ficava de lado. Gostava também da cobrança, mas não especificou se essa cobrança vinha de casa, da escola ou da sala.

Na escola comentava com seus amigos sobre o acompanhamento escolar e se recorda das atividades realizadas nesse período, em especial, as festas.

Sobre sua experiência antes e depois de frequentar o acompanhamento escolar, Júlia diz que: – Apenas lia e fazia os exercícios, agora faço resumos de todas as matérias. Se o acompanhamento escolar interferiu ou não em seu modo de estudar, Júlia acredita que: – Sim, [pois] eu não conseguia fazer resumos eficazes, por isso só lia a matéria. O acompanhamento me ensinou a fazer ótimos resumos que se tornaram uma forma muito melhor de aprender [e estudar]. Assim, ela me confirma que estudar tendo um momento de estudo e atenção voltada para ela foi benéfico para o desempenho no seu processo educacional. Por fim, quando perguntada se o acompanhamento escolar foi importante para o seu desempenho escolar, afirmou que sim: – Porque melhorou minhas notas e me fez aprender a estudar de uma forma eficaz.

Júlia acrescentou que gostava das interações com os amigos na sala, em especial da hora do lanche, e das festas, das quais participou de todas. Porém, nesse momento não pode contar com a participação dos seus pais, pois essa atividade era no mesmo horário de trabalho deles. Não gostava muito de usar o computador, assim como das aulas de inglês, mas não especificou o motivo. Realizava as tarefas de casa na salina sempre que necessário, mas não era a sua atividade predileta.

5.3.3. Kaylane

Kaylane começou a frequentar o acompanhamento quando ainda tinha 8 anos. Atualmente, Kaylane tem 14 anos. Na época, ela estudava em uma escola privada. Em razão da escola atender apenas até o 5º ano do ensino fundamental, ela precisou trocar de estabelecimento e fez três trocas desde então. Agora, por motivos financeiros da família, ela estuda em escola pública. Lembro-me que os pais da aluna nos procuraram por 02 motivos: ela não fazia as tarefas de casa e consideravam que precisava ficar um tempo junto de outras crianças, para conversar e brincar. Para a aluna, a sua ida para o acompanhamento escolar foi por ela ter achado interessante e querer fazer parte daquele projeto. Não especificou sua relação com os pais. No atual momento, ela me contou não precisar mais de acompanhamento escolar e quando precisa de auxílio para realizar alguma atividade ou estudar algum assunto específico, recorre a sua tia que também é professora.

A aluna achava a sua antiga escola maravilhosa, gostava dos amigos, do ambiente e, principalmente, das aulas de natação. Como afirmou: – Em dia de natação era a primeira a chegar. Sua disciplina favorita na época era língua portuguesa, a qual continua sendo. Tinha dificuldade com o componente curricular matemática, e hoje continua sendo a disciplina de que mais precisa de auxílio para estudar. Mas em geral, agora consegue estudar sozinha e pede auxílio casualmente.

Quando questionada se continuaria na mesma escola da época em que frequentou na época do acompanhamento escolar, disse que: – Logo depois que eu mudei de escola, ainda não estava acostumada com a nova, então naquela época minha resposta seria sim. [Mas] Hoje não, [pois] eu gosto de mudar de escola.

Kaylane gostava muito de frequentar a salinha tanto que comentava com seus amigos da escola e, na época, nos indicou para outras crianças. Por exemplo, as duas meninas mencionadas anteriormente neste capítulo e que pediram para participar da pesquisa, foram estudar no Acompanhamento Escolar Singular por indicação da Kaylane. A aluna se recorda de vários momentos da sala, em especial o amigo oculto, quando as crianças levaram chocolate para trocar e de uma festa de encerramento do ano letivo. A aluna era muito participativa nas atividades sugeridas, raramente faltava e se lembra com muito carinho dessa época, como podemos perceber em sua fala: – Tudo que lembro é muito especial, foi uma época muito boa, as aulas eram maravilhosas, as festas, tudo era bom.

Sobre a sua experiência no acompanhamento escolar, Kaylane disse que frequentar a salinha foi muito importante por interferir positivamente no seu modo de estudar e no seu desempenho escolar. Como me contou: – Com o acompanhamento tudo melhorou, era bem mais fácil, ter alguém pra te ajudar com as dificuldades e te auxiliar sempre. Estudar para provas era bem melhor, fazer trabalhos, me ajudava muito. Portanto, para ela era muito bom estudar na companhia de outras pessoas.

5.3.4. Mayara

Mayara estudou no acompanhamento escolar por 2 anos, entrou com 10 anos. Atualmente, tem 16 anos. Mayara foi adotada aos 10 anos e por isso não frequentou a escola por um bom tempo. Não sabia ler e nem escrever. Por conta disso, a mãe enfrentou dificuldade para matriculá-la em uma escola. Ela foi matriculada no CIEP, do bairro onde morava, e o interesse por frequentar o acompanhamento escolar partiu da mãe e também dela, para a auxiliarmos no seu processo de alfabetização. Sua trajetória no acompanhamento escolar foi muito proveitosa. Além de atingir seus objetivos, que era aprender a ler a escrever, Mayara fez amigos, e, segundo ela, a amizade se manteve e eles se falam até os dias de hoje. No momento presente, Mayara estuda em escola pública, no turno da noite e trabalha como jovem aprendiz. Diz não mais precisar de acompanhamento escolar, mas lembra com saudosismo da época que frequentou. Foi surpreendente a sua animação para participar da pesquisa.

Mayara gostava de estudar os componentes curriculares de história, ciências da natureza e inglês. Inglês era trabalhada apenas na sala, na escola não tinha essa disciplina. Hoje continua gostando de estudar história e, agora, biologia. Nunca havia frequentado outro acompanhamento escolar, o Acompanhamento Escolar Singular foi a sua primeira experiência de aula particular. Para ela, o que foi mais significou nessa experiência, foi por ter aprendido a ler e a escrever. Hoje sua maior dificuldade na escola é a disciplina de matemática, e tenta sempre achar um jeito de aprender mais fácil e sozinha. Gostaria que a salinha voltasse a funcionar, para que pudesse tirar as dúvidas que ficam da escola. De acordo com a aluna, se sente envergonhada em pedir ajuda quando precisa, mas quando é algo é muito difícil recorre a sua mãe, que a ajuda sem problemas.

Sobre as aulas de inglês, em uma das nossas conversas me disse que ainda escuta as músicas que foram estudadas naquele período. Que gosta muito e que escuta com frequência.

Atualmente, ela estuda em uma escola estadual no turno da noite e observei que a aluna parece não gostar tanto da escola atual quanto gostava da anterior, pois segundo me contou: – Assim, não é que não gostei, mais é porque tem muita gente na minha sala imatura e alguns professores. Achei curiosa a fala dela e perguntei sobre os amigos desta escola, se ela não havia se identificado com eles, ela então respondeu: – Tem umas duas meninas, que já eram minhas amigas na escola anterior, que estão estudando comigo agora, só falo com elas mesmo. A aluna acredita que ocorra essa falta de afinidade por já estar trabalhando. Ela não falou sobre a idade dos demais alunos da classe em questão.

Sobre as atividades realizadas na sala, Mayara se recorda com um carinho especial das festas e das conversas com os amigos que eram permitidas durante as aulas.

Em relação aos estudos na escola e na sala de acompanhamento escolar, Mayara diz que a metodologia usada na sala era mais fácil para entender as matérias e, por conta disso, levava isso para o jeito que estudava na escola. Diz que antes do acompanhamento escolar sentia muita dificuldade e depois estudar se tornou mais fácil.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa apresentou como objetivo geral, buscar saber como frequentar uma sala de acompanhamento escolar influenciou e influencia na sua vida escolar de um grupo de alunas. Foram feitas entrevistas com as estudantes, hoje adolescentes, sobre suas vivências e experiências, buscando reconstruir suas vivências na escola atual e a maneira de estudar. As perguntas foram formuladas buscando entender esses aspectos da vida educacional dessas jovens. Foram ouvidas 4 jovens, com a intenção de escutar e validar a essa outra experiência de estudo.

O que me motivou a realizar a pesquisa foi o quanto esse projeto influenciou na minha escolha acadêmica, um fator importante na escolha do curso de pedagogia e na maneira como leciono nos dias de hoje. Entretanto, no decorrer da pesquisa e conversando com as adolescentes que frequentaram a sala de acompanhamento escolar, percebi o quão é relevante e necessário para uma educação democrática e libertadora, ouvi-los. O quão é importante saber a real opinião sobre o método de ensino que está sendo utilizado com os alunos, para o seu aprendizado. Saber por eles sobre o que funciona e o que não funciona. Se buscamos uma escola democrática e, sobretudo libertadora, devemos escutar aqueles que estão no centro do trabalho pedagógico. Por conta disso, essa pesquisa foi realizada com as estudantes e não com os seus respectivos responsáveis. Para validar a sua vivência.

Em concordância com Freire e Beane, como venho frisando ao longo deste trabalho, acredito que para a aprendizagem acontecer de modo efetivo ela precisa ser significativa. E podemos ver isso a partir das falas das entrevistadas, com 3 delas revelando a importância das interações sociais e de saberes entre os pares e professoras, que se refletem no seu modo de estudar de hoje. O acompanhamento escolar não teve como objetivo somente ensinar conteúdos que foram aprendidos na unidade escolar de origem da criança, e sim, fazer com que a criança descubra a melhor maneira do seu aprender, isto é, aprender a estudar. Para isso, é necessário diálogo, interesse naquele que está falando e buscando por aprender o que está sendo estudado. De acordo com as falas das adolescentes entrevistadas, estar em uma sala de acompanhamento escolar, auxiliou não só para a melhora nas notas na escola, mas também no método utilizado hoje em dia para estudar. Também foi evidenciado que ter atenção para si foi uma ação importante para a melhora no seu desempenho.

No decorrer de nossas conversas, foi muito comentado sobre poder conversar no horário da aula, poder brincar e foram lembradas as festas. No ambiente escolar, em geral, o tempo de estudo é tido como algo individual e silencioso, sem possibilidade de interação entre os pares, o tempo de socialização – para o lazer –, igualmente. Apoiada nas falas das entrevistadas, poderia ser interessante para o desenvolvimento da aprendizagem das crianças pensar em uma sala de aula na qual seja permitido ao aluno desfrutar mais da interação com adultos e crianças em seu momento de estudo. É fundamental garantir que as crianças se expressem, falem, tirem suas dúvidas, com os professores ou colegas. Experimentando uma escola mais próxima do tempo Aion e se distanciando do tempo Chronos.

A principal e talvez única dificuldade para realizar esta pesquisa foi reunir o grupo de alunos para realizar as entrevistas. Pelo atual contexto de pandemia, não foi possível reuni-los pessoalmente e por isso as entrevistas foram online, utilizando um aplicativo de ligações e trocas mensagens por provedores gratuitos. Mesmo que estejam estudando de maneira remota, foi difícil encontrar um horário que todas pudessem conversar ao mesmo tempo. O acesso a internet também foi um fator de dificuldade na pesquisa, vale relembrar que uma das entrevistadas estava com a internet com conectividade oscilando e não conseguiu acompanhar a conversa.

Os resultados obtidos com esta pesquisa foram importantes para reafirmar a importância de uma escola democrática, para uma educação libertadora. Pensar na perspectiva da sala de acompanhamento escolar, que se trata de uma ambiente fora do ambiente escolar, e que não tem relação com a escola de origem da criança, nos faz refletir sobre quais mudanças a escola precisa realizar para que não seja necessário o aluno e seus responsáveis sentirem necessidade de buscar um serviço terceirizado. Ou ainda pensar nessa estrutura de estudo para dentro da escola e possibilitar um ambiente e espaço para diálogo entre crianças de diferentes idades e adultos, para que possam decidir sobre aspectos da escola, seus estudos, tirar suas dúvidas entre seus pares e com professores, dentre outras sugestões.

Podendo assim, pensar em uma possível evolução para esta pesquisa, pensar neste contexto de acompanhamento escolar, dentro da unidade escolar, abrindo mais o diálogo dentro da escola, isto é, fora do momento de lazer, do momento que a criança é perguntada. E, principalmente, dando possibilidade da criança ser participante ativa do seu processo de aprendizagem, permitindo que ela fale, se expresse, coloque suas impressões e opiniões. Pensar em uma espaço para além da sala de aula. Não que a escola não possibilite isso hoje, esse ambiente de interação e troca, mas a pesquisa e fala das entrevistadas reafirma a importância desse espaço de contraturno, para que as crianças sejam mais participantes.

Sendo assim, a pesquisa tem como objetivo saber quais foram os impactos na vida escolar dos alunos frequentadores de uma sala de acompanhamento escolar e, acredito que, de acordo com as perguntas formuladas, as respostas contemplaram o objetivo principal do trabalho. A maioria das participantes responderam de maneira positiva quando perguntadas sobre a interferência do acompanhamento escolar em sua maneira de estudar. Inspirada pelo provérbio africano que diz que "se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo", conclui-se que é de suma importância que o trabalho seja voltado para a aprendizagem significativa, conforme as elucidações de Moreira (1999). O aluno deve reconhecer a importância da troca de saberes com seus pares também para além da sala de aula, para que assim veja sentido na aprendizagem. Ao educador, é necessário permitir que o educando participe ativamente do seu processo educativo, "deixando-o-falar" e o "fazendo-falar" e possibilitando ferramentas para a construção de seu conhecimento, uma das formas de a aprendizagem torna-se significativa e efetiva. Portanto, o trabalho educativo é trabalhar juntos, buscando uma escola democrática e uma educação libertadora.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANTES, P. Para uma teoria da socialização. Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, vol. XXI, 2011, p. 121-139.

BARBOSA, M. C. S.; DELGADO, A. C. C.; TOMÁS, C. A. Estudos da infância, estudos da criança: quais campos? Quais teorias? Quais questões? Inter-Ação, Goiânia, v. 41, n. 1, jan./abr. 2016, p. 103-122.

BEANE, J. A. Integração curricular: a essência de uma escola democrática. Currículo sem Fronteiras, v.3, n.2, jul./dez., 2003, p. 91-110.

BENEVIDES, M. V. Educação para a democracia. Lua Nova, nº. 38, dez., 1996, p. 223-237.

BOTO, C. O processo civilizador de uma cultura por escolas. A liturgia escolar na Idade Moderna. São Paulo: Papirus Editora, 2017, p. 71-122.

BOURDIEU, Pierre. A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura. In: BOURDIEU, Pierre. Escritos de educação, Petrópolis: Vozes, 2003, p. 41-64.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências. 1971.

BREDA, Bruna. Infância: imagens e memórias de adultos. Dissertação (Mestrado–Programa de Pós-Graduação em Educação). Faculdade de Educação. Universidade de São Paulo, SP, 2010.

DÁRIO Júnior, I. R.; SILVA, L. F. da. A escola como experiência: entrevista com Walter Omar Kohan. Revista Eletrônica de Educação, vol. 12, nº. 01, jan./abr., 2018, p. 298-304.

DURKHEIM, E. Educação e sociologia. São Paulo: Edições Melhoramento, 1978.

FEVORINI, L. B. O envolvimento dos pais na educação escolar dos filhos: um estudo exploratório. Tese (doutorado) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, 2009.

FINO, C. N. Vygotsky e a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP): três implicações pedagógicas. Revista Portuguesa de Educação, vol. 14, nº 2, pp. 273-291, 2001.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra: Rio de Janeiro, 2016.

FREIRE, P. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho D’água, 1997.

FORQUIN, J.-C. Saberes escolares, imperativos didáticos e dinâmicas sociais. Teoria & Educação. n. 05, 1992, p. 28-49.

KOHAN, W. O. Lugares da infância: filosofia, Rio de Janeiro, DP&A, 2004.

MOREIRA, M. A. Teorias de Aprendizagem. São Paulo: EPU, 1999.

NOGUEIRA, M. A. Família e a escola na contemporaneidade: meandros de uma relação. Educação & Realidade, jul./dez., 2006, p. 155-170.

ROBERT, A. Um olhar sobre a obra de Jean-Claude Forquin: a Filosofia e a Sociologia da Educação. Revista Lusófona de Educação, 20, 2012, p. 157-171.

SAVIANI, D. História da história da educação no Brasil: um balanço prévio e necessário. EccoS – Revista Científica. São Paulo, vol. 10, nº. Especial, p. 147-167, 2008.

SILVA, J. M. T. Reforço pedagógico. In: OLIVEIRA, D. A.; DUARTE, A.M.C.; VIEIRA, L.M.F. Dicionário: trabalho, profissão e condição docente. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2010.

SIMONS, J.; MASSCHELEIN, M.. Em defesa da escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.

THIN, D. Para uma análise das relações entre famílias populares e escola: confrontação entre lógicas socializadoras. Revista Brasileira de Educação, vol. 11, nº 32, maio/agosto, 2006, p. 211-370.

8. ANEXO

Roteiro da entrevista realizada com as crianças a respeito dos impactos ocorridos na vida escolar dos alunos frequentadores de uma sala de acompanhamento escolar:

1. Qual era a sua idade quando frequentou o acompanhamento escolar?

2. Estudava em escola pública ou privada?

3. Continua nesta escola?

4. Por que continuou?/Por que saiu?

5. O que achava da escola?

6. Qual disciplina gostava de estudar na época?

7. Qual disciplina gosta de estudar hoje em dia?

8. Você já tinha frequentado um acompanhamento escolar antes? Como foi essa experiência?

9. Quem quis que você frequentasse o acompanhamento escolar?

10. Qual era a sua maior dificuldade na escola naquela época?

11. O que lembra de significativo do Acompanhamento escolar Singular?

12. Recorda-se de alguma atividade em especial?

13. Você comentava com os amigos da sua sobre o acompanhamento escolar?

14. De que modo você estudava antes do acompanhamento? De que modo estuda agora para a escola?

15. O acompanhamento interferiu na sua forma de estudar? Como?

16. Considera que ter esse acompanhamento escolar foi importante para o seu desempenho escolar? Por quê?

1 SAVIANI, D. História da escola pública no Brasil: questões para pesquisa. In: LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D.; NASCIMENTO, M. I. M. (Org.). A escola pública no Brasil: história e historiografia. Campinas: Autores Associados, 2005.

2 SILVA, Gisele F. A relação família-escola na legislação educacional brasileira (1988- 2005). Monografia de Graduação. Belo Horizonte: Faculdade de Educação/UFMG, 2006.

3 GODARD, Francis. La famille – affaire de générations. Paris: PUF, 1992.

4 EPD: Educação para democracia.

5 Aqui é importante lembrar que não cabem generalizações, cada família tem suas configurações, estou fazendo um recorte dos casos que surgiram durante minha experiência no acompanhamento escolar.

6 Este aluno citado não participou da pesquisa pois infelizmente perdemos seu contato.

7 A pesquisa foi realizada através de encontros virtuais, via telefone celular, por conta a pandemia do novo Coronavírus.

8 Inicialmente o menino aceitou participar da pesquisa, mas declinou conforme foram ocorrendo as conversas em grupo de aplicativo de mensagem, informando-me que se sentiu desconfortável com as perguntas e interação com as demais meninas. Sua decisão foi respeitada.

9 Cf. Anexos

10 Aplicativo de mensagens instantâneas e chamadas de voz para telefones celulares.

11 Ferramenta gratuita e online, utilizada para criação de formulários e/ou questionários.

12 Foi comum as adolescentes referirem-se à sala de Acompanhamento Escolar Singular como salinha. O uso da expressão no diminutivo pode indicar uma afeição e também uma conotação negativa de não valorização.   

 

LEITE, Andressa Barbosa. Acompanhamento mais do que escolar: palavras e vivências singulares, 2020, 45 p. Monografia (Graduação em Pedagogia) – Faculdade de Educação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2020


Publicado por: Andressa Barbosa Leite

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